INFORMANDO Por Lucas Rocha

25 gangues apavoram gays e negros nas ruas da cidade Polícia Civil de São Paulo identifica 200 integrantes de grupos extremistas Skinheads entre 16 e 28 anos são investigados por "crimes de ódio" que deram origem a 130 inquéritos policiais LAURA CAPRIGLIONE - DE SÃO PAULO - Folha de São Paulo, abril de 2011

Eles são jovens, com idades entre 16 e 28 anos. Têm ensino fundamental e médio. Pertencem, em sua maioria, às classes C e D. Usam coturnos com biqueiras de aço ou tênis de cano alto, jeans e camisetas. São brancos e pardos - negros, não. Cultuam Hitler, suásticas e o número 88. A oitava letra do alfabeto é o H; HH dá "Heil, Hitler", a saudação dos nazistas. Consomem baldes de álcool. As outras drogas têm apenas uso marginal. Ostentam tatuagens enormes em que se leem "Ódio", "Hate", ou "Ame odiar". A propósito, odeiam gays e negros. São de direita. Gostam de bater, bater e bater. E de brigar. O perfil dessa turma, auto-denominada skinheads por influência do movimento surgido na Inglaterra durante os anos 1960, quem traçou foi a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), da Polícia Civil do Estado de São Paulo. No total, a Decradi já identificou 200 membros de 25 gangues com nomes como Combate RAC (Rock Against Communism- rock contra o comunismo, em português) e Front 88 (sempre o 88). São integrantes desses grupos que aparecem com mais frequência como agressores de negros, gays e em pancadarias entre torcidas organizadas, quando encarnam a faceta "hooligan". Também a exemplo do que ocorre na Europa, skinheads são especialistas em quebra-quebra entre torcedores.

“FAIXA DE GAZA" A delegada Margarette Correia Barreto, titular da Decradi, é quem lidera o esforço de identificação dessas gangues. Atualmente, na delegacia, há 130 inquéritos envolvendo os "crimes de ódio"- motivados por preconceito contra um grupo social. "O alcance e a repercussão desses ataques, entretanto, é muito maior do que em um crime comum. Se um homossexual é atingido, todo o grupo sente-se atingido", exemplifica a delegada do Decradi. "É uma comoção."Pelo levantamento da polícia, o foco dos "crimes de ódio" é a região da avenida Paulista e da rua Augusta, na região central da cidade. Segundo a delegada, ali é "a nossa faixa de Gaza". O motivo é que a área tem a maior concentração de bares frequentados por gays e por skinheads - cada turma no seu reduto, mas todos muito perto uns dos outros. "Eles acabam se encontrando pela rua", diz a delegada. Coturno de ferro usado por grupo de agressores de homossexuais investigado pela polícia

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Foto de grupo neonazista investigado pela polícia de São Paulo

Material neonazista apreendido pela polícia de São Paulo

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Tatuagem inspirada no filme "Laranja Mecânica", de Stanley Kubrick

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Tatuagens com motivos neonazistas registradas pela polícia de São Paulo

"Fazer" uma doença (CONTARDO CALLIGARIS) VÁRIOS LEITORES pediram que eu insistisse no mesmo tema da semana passada: por que a culpa é um de nossos jeitos preferidos para dar sentido ao mundo? Como é possível que, diante de uma desgraça, o fato de sentirmo-nos culpados constitua, para nós, uma espécie de conforto? Todos conhecemos as expressões usuais pelas quais, por exemplo, Fulano ou Fulana podem eles mesmos admitir que "fizeram um câncer" -e não foi porque fumaram dois maços de cigarros por dia durante a vida inteira, nem porque, verão após verão, deitaram no sol para bronzear a pele, sem protetor algum. Nada disso: a expressão "fazer uma doença", em geral, indica outro tipo de responsabilidade. Mas vamos devagar. Não é raro que a primeira reação de quem recebe um diagnóstico maligno consista em procurar uma intenção escusa da qual ele poderia ser a vítima. Envenenaram a água da cidade; o ar é repleto de resíduos daquela fábrica cuja chaminé solta fumaça a cada noite; há um dentista que tem consultório acima do meu, ninguém sabe quantos raios-x ele faz por dia, será que ele isolou sua sala do jeito certo ou será que a radiação chega até aqui? Na mesma linha, Deus ou o diabo podem ser os mandantes de minha desgraça. Deus, porque ele quer colocar à prova minha fé, como ele já fez com Jó. O diabo, porque ele é príncipe aqui na terra e todo o mal vem dele. Essas reações parecem ter o mesmo propósito dos delírios paranoicos: elas acusam um agente externo (Deus, o diabo ou os vizinhos) para que o mundo ganhe sentido, ou seja, no caso, para que o mal Prof. Lucas Rocha

que se abate sobre a gente tenha uma explicação. "Adoeci porque alguém me quis mal": graças a essa crença, não sofro por acidente nem por acaso, mas sou vítima de uma vontade que me castiga ou me testa. O que se ganha com isso? Antes de responder, mais uma observação. Em geral, quando temos intenções que preferimos esconder de nós mesmos, uma boa solução é atribui-las a outros. Portanto, não seria de todo estranho que a gente acusasse Deus e todo mundo por males que nós mesmos causamos. Desse ponto de vista, reconhecer que nós somos os primeiros culpados de nossa desventura seria um progresso. Algo assim: até que, enfim, o cara se tocou, não foi Deus, não foi o demônio, nem a usina química no morro atrás da casa, foi ele mesmo que "fabricou" sua doença. Geralmente, a explicação deste "fabricar sua doença" passa quer seja por uma poética do estouro (emoções contidas e silenciadas tiveram que se expressar e explodiram numa neoplasia), quer seja por uma poética da erosão (as mesmas emoções reprimidas foram atacando o corpo como a famosa gota que cava a pedra, não pela força, mas caindo repetidamente). Tanto faz: o que me importa dizer é que entre acusar a Deus e todo mundo e acusar a nós mesmos não há progresso algum. A posição de vítima (Deus, o diabo e os vizinhos me querem mal) e a posição de culpado (eu fabriquei minha doença porque meu inconsciente é meu verdadeiro inimigo), ambas são chamadas a "explicar" o mal que nos assola, porque, aparentemente, preferimos sofrer de um mal explicado a sofrer de um mal aleatório. Por que isso? Simples: tanto se eu for a vítima escolhida por Deus e pelo mundo quanto se eu for a vítima de mim mesmo, apesar de doente, eu me manterei nas luzes da ribalta. Em suma, agimos e pensamos como se nosso sofrimento pudesse ser aliviado por uma compensação narcisista: a desventura é terrível, mas, ao menos, como vítima ou como culpado, sairei na foto. Não é uma consolação? Talvez. Mas é uma consolação custosa, porque, nessa foto em que sou vítima ou culpado, a desventura é o que me define, o que me resume. De fato, qualquer sofrimento seria um fardo mais leve se ele pudesse aparecer como quase sempre é: um mal sem sentido, que não faz parte de nenhum plano e não é fruto de nenhuma vontade escusa, nem da nossa. Teste de boa saúde: estamos bem quando podemos ser atropelados sem ter que considerar que alguém tentou nos matar ou que nós mesmos nos jogamos nas rodas do caminhão, empurrados por impulsos inconfessáveis. Um amigo querido morreu de um câncer que ele não fabricou e que não lhe foi imposto nem por Deus nem pelo diabo nem pelos vizinhos. Ele dizia: os males reais são suficientemente graves para que a gente não se esforce para lhes acrescentar mil sentidos imaginários. [email protected] - Folha de São Paulo, abril de 2011

O Congresso e a reforma política (ROSE DE FREITAS) A REFORMA POLÍTICA é uma grande oportunidade para aproximar o Congresso Nacional do povo, bem como para permitir a construção de partidos sólidos e representativos. Hoje, o Parlamento encontra-se defasado e sem sintonia com a agenda política da nação. Nossas instituições políticas precisam, portanto, de uma reforma profunda e abrangente. A experiência mundial demonstra que existem vários arranjos institucionais dos quais podemos colher ensinamentos. Quanto aos sistemas eleitorais, existem três grandes famílias de práticas institucionais: os sistemas majoritários (também chamados de distritais), os sistemas proporcionais e os sistemas também chamados de mistos. Os sistemas majoritários prevalecem nos países anglo-saxões, especialmente nos EUA, na Inglaterra, na Austrália e em várias das ex-colônias britânicas no Caribe. Na Europa continental, a expansão do eleitorado esteve associada à introdução de sistemas proporcionais. Tais sistemas se subdividiram em sistemas de lista fechada e de lista aberta. É na América Latina que o sistema de lista fechada é prevalente, como atestam os sistemas da Argentina, do Peru, da Colômbia e da Nicarágua. Os sistemas mistos começaram a ser implantados depois da experiência bem-sucedida do sistema alemão do pós-guerra, que atribui dois votos ao eleitor, um para o candidato no distrito e outro para a lista de um dos partidos. É de suma importância refletirmos sobre a necessidade de aprimorar as instituições eleitorais, mas é igualmente relevante lembrarmos da importância do Legislativo na consolidação da democracia e da necessidade de recuperar sua agilidade e representatividade. No Brasil, o sistema proporcional de lista aberta foi introduzido em 1932. Depois do Estado Novo, a Constituição de 1946 manteve o sistema proporcional. Mesmo o regime militar não conseguiu mudá-lo. A Constituição de 1988 restaurou ao Congresso o Poder Legislativo, mantendo o sistema eleitoral de 1932. Tal sistema se encontra agora sob pressão por mudança. As alternativas que se apresentam são o sistema de lista fechada e o sistema distrital plurinominal, o chamado "distritão". Discute-se também o financiamento público exclusivo, com vistas a reduzir o poder de influência do financiamento privado nas eleições. Nossa reforma política está na direção certa ao tentar Prof. Lucas Rocha

fortalecer os partidos perante a opinião pública, mas ela deve também criar mecanismos que permitam aos representantes da nação exercer de forma efetiva seu papel. Precisamos, portanto, de uma reforma que dê à representação sua veracidade e poder político aos representantes, para implementar as medidas em favor da população. E isso será alcançado com o fortalecimento não só dos partidos, mas também do Parlamento. ROSE DE FREITAS é deputada federal pelo PMDB-ES e vice-presidente da Câmara dos Deputados. Folha de São Paulo, abril de 2011

Bolsonaro diz "se lixar" para críticas de gays Deputado, porém, nega ser racista; Câmara abre processo para investigar declarações dadas em programa de TV Para tentar mostrar que não tem preconceito em relação aos negros, ele afirma que sua mulher é "afro" e o sogro, "negão" CRISTINA MORENO DE CASTRO - DE SÃO PAULO

IRRITADO COM A REPERCUSSÃO de suas declarações a um programa de TV, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) voltou à carga ontem ao ser questionado se é homofóbico. "Estou me lixando para esse pessoal aí", disse, após acompanhar o velório do ex-vice-presidente José Alencar. "Agora criaram a Frente Gay [na Câmara]. O que esse pessoal tem para oferecer? Casamento gay? Adoção de filhos? Dizer pra vocês, jovens, que se tiverem um filho gay é legal, vai ser o orgulho da família? Esse pessoal não tem nada a oferecer." Na segunda-feira, a cantora Preta Gil perguntou no programa "CQC", da TV Bandeirantes, como o deputado reagiria se seu filho se apaixonasse por uma negra. "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu", respondeu Bolsonaro. O deputado, porém, diz que entendeu errado a pergunta. Afirmou que, na realidade, pensou que a cantora se referia a um relacionamento homossexual. A lei brasileira pune crimes de racismo com penas de até cinco anos de reclusão. Não versa, porém, sobre homofobia -nesse caso, ofensas podem ser enquadradas no crime de injúria, com pena de até seis meses de detenção. Bolsonaro afirma que não é racista. "Minha mulher é afro e meu sogro é negão." A Câmara já abriu processo para investigá-lo. O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), enviou à Corregedoria-Geral cinco representações por quebra de decoro. Após ser notificado, Bolsonaro terá cinco dias para se defender. A decisão da Corregedoria será depois enviada à Mesa Diretora da Câmara, que poderá encaminhar o caso ao Conselho de Ética, podendo iniciar um processo de cassação do mandato. Folha de São Paulo, abril de 2011

Congresso, gays e negros reagem contra declarações de deputado Bolsonaro associa namoro com negra a promiscuidade; depois, diz que se referia a homossexuais Preta Gil, que fez na TV pergunta a deputado, afirma que vai à Justiça; câmara já abriu mais de 20 processos contra ele CRISTINA MORENO DE CASTRO DE SÃO PAULO Declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) num programa de TV provocaram uma avalanche de reações no Congresso e entre ativistas do movimento negro e gay. No quadro "O Povo Quer Saber", do programa CQC, da TV Bandeirantes, a cantora Preta Gil perguntou como ele reagiria se seu filho se apaixonasse por uma negra. O parlamentar, que tem um extenso histórico de polêmicas relacionado a direitos civis e humanos, respondeu: "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu." Após o programa ir ao ar na noite de anteontem, Bolsonaro tentou se justificar. Disse que, na realidade, pensou que a pergunta se referisse a um relacionamento gay. "Essa se encaixa na resposta que eu dei. Para mim, ser gay é promíscuo, sim".

"ATÉ O FIM" Prof. Lucas Rocha

A resposta provocou mais polêmica. Preta Gil ameaça processá-lo. Diz que vai entrar com uma ação de indenização por danos morais. "Sou uma mulher negra, forte e irei até o fim contra esse deputado racista, homofóbico, nojento", escreveu, irada, a cantora no Twitter. Colegas de Câmara dos Deputados afirmam que vão encaminhar ao Ministério Público Federal e à Procuradoria Geral da República um pedido de investigação sobre o parlamentar eleito pelo Rio. O deputado Edson Santos (PT-RJ) já pediu abertura de processo por quebra de decoro contra o parlamentar. A presidente da Comissão de Direitos Humanos, Manuela D'Ávila (PC do B-RS), apresentará moção de repúdio. Manuela D'Ávila ressalta que o racismo aconteceu, independentemente de quem tenha sido o alvo do colega. Ideraldo Beltrame, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, afirmou que o movimento também vai mobilizar parlamentares para que seja aberto um processo no Congresso contra Bolsonaro. A OAB do Rio de Janeiro informou que também vai pedir a abertura de um processo por quebra de decoro. A Câmara já abriu mais de 20 procedimentos contra Bolsonaro por suas declarações polêmicas, mas nenhum deles resultou em punição. Na entrevista, o deputado também disse que não iria a desfiles gays porque não promove "maus costumes", que daria "porrada" se pegasse um filho fumando maconha e que sente saudade dos generais que presidiram o país durante a ditadura militar. Bolsonaro informou ontem que vai protocolar um ofício no Conselho de Ética pedindo para ser ouvido. "Ele [o deputado] mudou o foco [ao dizer que não se referia aos negros], mas está fazendo a mesma coisa, discriminando pessoas", afirmou José Vicente, presidente da Afrobras (Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural). Folha de São Paulo, abril de 2011

As obras para a Copa de 2014 no Brasil estão atrasadas? SIM

É hora de a presidente entrar em campo (JOSÉ ROBERTO BERNASCONI) O BRASIL FOI ESCOLHIDO PELA FIFA como sede da Copa do Mundo de futebol de 2014, decisão anunciada em outubro de 2007, em Zurique, em cerimônia da qual participaram o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 12 governadores de Estado, representantes de ministérios e do Senado e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Desde essa data, já decorreu longo tempo -quase três anos e seis meses. Estamos na metade do prazo, mas longe de termos concluído a metade das obras necessárias à realização da Copa e para deixar legado positivo para a sociedade. Não é boa a radiografia atual das obras da Copa de 2014. Boa parte das obras de infraestrutura geral ainda não deslanchou; quanto aos estádios, há situações muito preocupantes, como as de Natal e São Paulo. A maior cidade do país é a única que hoje reúne os requisitos e está predefinida para sediar o jogo de abertura da Copa, mas patina na construção do estádio com capacidade e condições para essa abertura. Lembramos que o compromisso de realizar bem a Copa de 2014 foi assumido, em nome do país, pela autoridade máxima brasileira, o ex-presidente Lula. É, assim, compromisso de Estado para com a Fifa, com o Brasil e os demais países. Ao assumir a Presidência da República, Dilma tornou-se a fiadora desse compromisso firmado pelo seu antecessor em nome do país. Presidente Dilma: a senhora é a única pessoa com poder decisório e de mobilizar recursos, legitimidade e autoridade em relação aos demais ocupantes de cargos públicos envolvidos com a preparação do Brasil para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. É, por isso, quem pode cobrar celeridade no desenvolvimento de bons projetos executivos de arquitetura e engenharia, que contemplam as melhores opções técnico-econômicas e definem, entre outros, os cronogramas e os custos das obras. Os projetos executivos permitem aos administradores o total controle do andamento das obras, afastando improvisações e sobrepreços comuns em empreendimentos públicos. Sem essa cobrança dos responsáveis por parte da Presidência da República, corremos cada vez mais o risco de os eventos de 2014 e de 2016 repetirem o de 2007. Não pode ser esquecida a lição dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro - quando obras orçadas inicialmente em R$ 400 milhões transformaram-se em fantásticos R$ 3,7 bilhões e, pior, gerando só alguns ""elefantes brancos" e nenhuma melhoria na infraestrutura. Isso porque faltaram planejamento, projetos executivos e gestão eficiente das obras do Pan-2007. Estamos na metade do prazo para a Copa de 2014, e restam cinco anos para a Olimpíada de 2016. Ainda podemos ter obras de qualidade, a custos adequados e no prazo exigido, desde que a senhora, Prof. Lucas Rocha

presidente Dilma, exercite a sua liderança para que sejam desenvolvidos bons projetos e obras para estádios, aeroportos, portos, saneamento e mobilidade urbana, entre outros, e para que o país tenha um legado pós-eventos. JOSÉ ROBERTO BERNASCONI, engenheiro civil formado pela USP, é presidente da regional São Paulo e coordenador dos assuntos da Copa do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e Engenharia). Folha de São Paulo, abril de 2011

As obras para a Copa de 2014 no Brasil estão atrasadas? NÃO

Faremos a melhor Copa da história (ORLANDO SILVA) A COPA DO MUNDO DA FIFA 2014 é muito mais que a disputa de 64 partidas de futebol por seleções de 32 países. É um evento que produz oportunidades e que serve como catalisador para o desenvolvimento de quem a realiza. A Copa é excelente plataforma para a promoção de nosso país em âmbito global. O mundo verá uma nação moderna e inovadora. Uma democracia forte. Um lugar marcado pela diversidade, pela tolerância e pela cultura de paz. Uma nação com economia complexa, estável, que permite desenvolvimento sustentado e forte política de inclusão social e distribuição de renda. A Copa é compromisso de governos. As garantias governamentais oferecidas pelo país à Fifa têm sido cumpridas, inclusive com ajustes na legislação nacional. A governança pública do processo de preparação do evento se funda num pacto firmado entre os entes federativos e fixado em uma matriz de responsabilidades. Essa matriz estabelece as atribuições de União, Estado, Distrito Federal e municípios, define orçamentos e cronogramas e é um documento público, o que permite transparência e acompanhamento por toda a sociedade. A Copa tem ciclos de planejamento e trabalho. Já cumprimos o primeiro, selecionamos os projetos e viabilizamos o financiamento de ações de infraestrutura. São projetos para estádios, mobilidade urbana, aeroportos e portos que ora são executados. O segundo ciclo incorpora outros temas fundamentais, como segurança, turismo, telecomunicações, energia, saúde e sustentabilidade ambiental. O terceiro ciclo tratará de temas operacionais do evento. A Copa gera empregos. Estudo contratado pelo Ministério do Esporte estima que serão criados 330 mil empregos permanentes até 2014 e que o evento produzirá outros 380 mil empregos temporários. A Copa tem dia e hora marcados para começar, e esse cronograma antecipa mudanças e investimentos que mais cedo ou mais tarde o país teria que fazer. Aeroportos são um exemplo: além de disponibilizar todo o recurso necessário para a Infraero ampliar a capacidade do sistema aeroportuário, o governo faz ajustes institucionais e de gestão, o que significa reestruturar o comando da área, inclusive absorvendo maior participação do setor privado. Há expectativa, com tais mudanças, de acelerar o ritmo da atividade nessa área e de requalificar 13 aeroportos. A Copa estimula a melhoria do transporte coletivo nas nossas principais cidades. São 54 projetos para aperfeiçoar a mobilidade urbana. Aqui, o desafio do cronograma é urgente, pois 70% das obras começam neste ano. O governo federal garantiu o financiamento, e a execução está nas mãos de prefeituras e de governos estaduais. A Copa deixará no Brasil estádios mais confortáveis e seguros. Os governos locais escolheram as arenas e o BNDES ofereceu uma linha de crédito para atender aos padrões da Fifa. Em dez cidades-sede, as obras estão em execução. Natal finaliza a contratação da empresa que fará o seu estádio, enquanto São Paulo terá empreendimento vinculado a um clube local. Prefeito e governador dão garantias de que o estádio paulista estará pronto no prazo acordado. Os preparativos para a organização do mundial de futebol aumentam o ritmo a cada dia. Trabalhamos para organizar a melhor Copa da história, um evento que deixe um legado que orgulhe os brasileiros. O país pode confiar. ORLANDO SILVA é ministro do Esporte e coordenador do Comitê Gestor de Ações do governo brasileiro para a Copa do Mundo da Fifa 2014. Folha de São Paulo, abril de 2011

A escolha de Sofia (RODOLFO LANDIM) VIVEMOS HOJE em um mundo onde a cada dia aumenta a consciência dos povos sobre o ambiente e onde são debatidas ações globais para a redução dos impactos causados pela presença humana no planeta. Assim, inúmeros estudos têm sido elaborados sobre a poluição dos mananciais de água potável, a destruição de florestas e a redução da biodiversidade. Mas talvez a ameaça vista isoladamente com mais apreensão esteja ligada ao processo de aquecimento global, em que boa parte da responsabilidade é atribuída aos gases de efeito estufa. Prof. Lucas Rocha

O principal vilão é considerado o grande volume de CO2 (gás carbônico) que resulta do consumo de enormes quantidades de lenha e combustíveis fósseis (carvão, derivados de petróleo e gás natural) em processos industriais e na geração de energia em todo o mundo. Ocorre que será necessário modificar drasticamente a matriz energética atual para que a humanidade continue a ter níveis de conforto crescentes, consumindo mais energia e ao mesmo tempo atendendo à redução dos níveis de emissão de CO2 conforme estabelecido no Protocolo de Kioto. Parece que somos e ainda seremos dependentes da utilização de derivados de petróleo em meios de transporte por muitos anos. No caso da geração de energia elétrica, a mudança também não é fácil. Já existe um enorme parque gerador baseado em combustíveis fósseis nos países que são grandes consumidores de energia, cuja lógica de implantação buscou não só os menores custos de geração, mas também as disponibilidades locais de combustíveis, conceito ligado à segurança estratégica da nação. Assim, Estados Unidos e China, que possuem a primeira e a terceira maiores reservas de carvão, são muito dependentes desse combustível, que responde por quase metade da geração da energia elétrica no primeiro e cerca de dois terços no segundo. A Rússia, que detém a segunda maior reserva do mundo, só não tem a maior parte de sua eletricidade baseada em carvão porque também possui as maiores reservas de gás natural do planeta, combustível no qual é mais centrado seu parque de geração. Uma alternativa para solucionar o problema seria o uso mais intensivo de energias renováveis, dentre as quais estão as hidrelétricas, hoje responsáveis por 17% da energia elétrica consumida no mundo. Mas seu potencial de expansão é limitado e são poucos os países como o Brasil, que têm a privilegiada posição de ter mais de 80% de sua geração de origem hídrica e ainda possuir um enorme potencial dessa natureza a desenvolver. Fala-se muito de outras energias renováveis, dentre as quais são destacadas a eólica, a solar e os biocombustíveis. Infelizmente, elas não parecem ser soluções abrangentes. A primeira, apesar de seu alto custo de implantação vir sendo reduzido, tem um potencial de geração pouco significativo em relação ao consumo mundial. O uso de energia solar só faz sentido para pequenos consumos em locais não atendidos por redes de transmissão, pois, além de cara, tem a desvantagem de consumir grande quantidade de energia na produção dos painéis fotovoltaicos. Já os biocombustíveis têm um potencial importante, mas não podemos esquecer que, para produzilos em grande escala, será necessária a ocupação de vastas áreas agricultáveis do planeta, o que impactaria ainda mais o preço das commodities agrícolas e o consumo de água. A principal alternativa para a geração de energia elétrica em grande escala e sem a emissão de gases de efeito estufa, apesar de cara, é a nuclear. Essa importante fonte responde hoje por cerca de 13% da energia elétrica gerada no planeta. No entanto, o recente acidente ocorrido em Fukushima, no Japão, colocou o mundo novamente em dúvida quanto à eficácia dos sistemas de segurança das usinas nucleares. Cada vez mais a sociedade questiona se o risco das aterrorizantes consequências de um acidente nuclear não é um preço muito alto pelo uso dessa fonte de energia. Não existe solução ampla sem grandes custos, riscos ou efeitos colaterais. O difícil é escolher o "menos ruim". RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, nesta coluna. Folha de São Paulo, abril de 2011

O que é meu é seu (GILBERTO DIMENSTEIN) O SUSHIMAN RECLAMA de dor nas costas, gostaria de fazer sessões de acupuntura, mas está sem dinheiro. Resolve seus problemas ao descobrir um acupunturista que adora sushi e também está com o orçamento apertado. Nada mais antigo do que esse tipo de troca, comum quando não existia dinheiro. Está prosperando um movimento que aposta que esse tipo de acerto está entre os negócios do futuro -segundo a revista "Time", já é uma das dez mais importantes tendências. A tendência a trocar ou alugar em vez de comprar foi batizada de consumo colaborativo. Isso tem feito cada vez mais gente ganhar ou economizar dinheiro. Em certos casos, muito dinheiro. Estão se disseminando até bancos para administrar a troca de serviços, num complexo sistema de crédito e débito de tempo. A troca do sushi pelas agulhas de acupuntura foi possível por causa do TimeBank (Banco do Tempo), em Nova York. "Nossas trocas não param de crescer", me diz Mashi Blech, que gerencia um sistema de compensação de créditos e débitos de permutas. Exemplo: uma pessoa que ajudou a consertar um computador durante duas horas vai ao banco e requisita duas horas de um baby-sitter para cuidar de seu Prof. Lucas Rocha

filho."O efeito mais interessante é a revitalização da comunidade, afinal as pessoas, na maioria das vezes, têm de se encontrar", conta Mashi. Prosperam milionários e diferentes tipos de negócio na onda do consumo colaborativo. Um deles eu testei aqui em Cambridge e funciona muito bem. É o Zipcar, que se espalhou pelo país. O carro é alugado por apenas algumas horas e deixado em pontos estratégicos da cidade. Serve para rápidos trajetos, como uma ida ao supermercado. É muito mais barato que comprar e manter um carro. Essa é, em suma, a ideia provocativa do consumo colaborativo. Graças a empresas como o NetFlix, não é necessário colecionar DVDs. Basta ter uma assinatura mensal e assistir a filmes 24 horas por dia, pagando por mês menos do que o preço de um DVD. Está crescendo o número de usuários que trocam livros pela internet. No Brasil, foi criado um projeto para promover esse tipo de acerto. Em São Paulo, desenvolveram um projeto para, além de compartilhar o carro, pegar táxi em conjunto. Até um mercado para trocas de livros eletrônicos começa a ser desenvolvido. Se você precisa de uma máquina de filmar para uma viagem com a família, basta alugá-la por uma semana. É um dinheiro a mais para quem oferece o aluguel e menos custo para quem aluga em vez de comprar. Cresce 700% ao ano o número de sites de ofertas de quartos para alugar em casas, segundo estimativa feita por Rachel Botsman, a maior especialista do país em consumo colaborativo, autora do provocativo livro "O que é meu é seu", a ser lançado neste mês no Brasil. Ela me pergunta: "Por que é necessário comprar um CD se é possível baixar uma música?". Segundo ela, a tendência vai crescer ainda mais quando as crianças que nasceram na era das redes sociais se tornarem consumidoras. Para fugir do custo da intermediação de bancos, há programas que apresentam pela internet quem tem dinheiro para emprestar e quem precisa do empréstimo. Assim como aquela troca do sushi é velha e levava o antiquado nome de escambo, o empréstimo pessoal do dinheiro também pode ser chamado de agiotagem. Conseguir descontos nas lojas é a conhecida pechincha, mas, agora, com a internet, chama-se compra coletiva e atrai centenas de milhões de pessoas. A aposta no consumo colaborativo deve-se a três fatores: a crise econômica que afetou o Bolsa dos países desenvolvidos (agora as pessoas pensam mais antes de gastar), a disseminação da banda larga e o surgimento das redes sociais. Além disso, o tempero ecológico: consumir menos coisas novas seria forçar menos os recursos do planeta. Daí coisas curiosas podem ocorrer: virando parte da internet, até mesmo empoeirados sebos e brechós ganham um toque de modernidade. Igualmente, a camaradagem de vizinhança, tão antiga e perdida nos grandes centros urbanos, se revitaliza com projetos como o Banco do Tempo. PS- Fiz uma seleção de alguns desses projetos citados na coluna para você testar o consumo colaborativo (www.catracalivre.com.br) Em primeiro mão, trechos em português do livro '"O que É Meu É Seu"' [email protected] Folha de São Paulo, abril de 2011

Em terras de Macunaíma (FERREIRA GULLAR) COMO TODOS sabem, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, eleito pelo DEM, decidiu de uma hora para outra fundar um novo partido que apoiará o governo de Dilma Rousseff, do PT, inimigo figadal dos democratas. Kassab ganhou expressão na vida política de São Paulo graças a José Serra, do PSDB, o adversário político número 1 do PT. Como se vê, a nova performance do prefeito paulistano, aparentemente, não guarda nenhuma coerência com coisa alguma que o eleitorado pensava que ele fosse. Não obstante, tudo isso está sendo feito como a coisa mais natural do mundo. Por que ele está deixando seu partido, ninguém sabe, mas o fato de criar um outro partido para si tem explicação: ele, assim, não perderá o mandato que, conforme decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), não pertence ao eleito, mas ao partido. E você, como eu, perguntará: se o mandato pertence ao partido, Kassab, pela lógica, ao deixá-lo, perderia o mandato, não? Isso é o que você pensa! O mesmo STF, que decidiu que pertencem aos partidos os mandatos de seus integrantes, admite que, se o eleito deixar o partido para fundar outro, não o perde. Diante disso, Kassab decidiu fundar um novo partido e seu mandato está salvo. Simples assim. Eu não sou ninguém para questionar uma decisão do STF. Não obstante, data vênia, não consigo calar minha perplexidade: se o mandato é do partido, significa que o eleitor, ao votar em Kassab, o fez por ser ele do DEM, isto é, de determinado partido. Mas, se ao deixar o DEM, para fundar outro partido, levará o mandato consigo, então o mandato é dele, Kassab? Ou levará o que não lhe pertence? Nesse caso, para não dizer que é roubo, digamos que seja apropriação indébita. Mas com o aval do Supremo? Devo estar equivocado, não pode ser considerado roubo o que se faz dentro da lei. Seria, na pior das hipóteses, um roubo legal (nos dois sentidos). Uma coisa temos que admitir: o Brasil é único no mundo. Só mesmo em terras de Macunaíma, um político de projeção nacional, prefeito da maior cidade do país, resolve criar um partido apenas para Prof. Lucas Rocha

aproveitar a brecha que a Justiça lhe oferece, ou seja, por puro oportunismo político. Esperteza feita às claras, como se criar um partido fosse a mesma coisa que trocar de camisa. E vai ver que é. Eu é que estou fora de moda, sem ter ainda me dado conta de que partido político não tem nada a ver com sonho de como deveria ser a sociedade, mobilização da opinião pública para promover mudanças importantes que venham torná-la melhor e mais justa. Nada disso. Estou por fora. Não é à toa que, no Brasil, há dezenas de partidos, sem conteúdo ideológico, sem nenhum programa ou projeto que justifique sua existência. Partido político, hoje em dia, existe apenas para cumprir uma exigência da lei eleitoral. Como a maioria deles não tem eleitores, sobrevive como siglas de aluguel, juntando-se a outros partidos, em coligações que são mais um modo de enganar o eleitor desavisado. Mas não vamos jogar tudo nas costas do Kassab. O partido que ele pretende fundar tem a mesma sigla -PSD- de um dos partidos que Vargas criou, nos anos 1940, para dar aparência democrática ao Estado Novo; o outro foi o PTB. Aquele era o partido dos patrões; esse, o dos trabalhadores. As duas classes fundamentais da sociedade estavam neles representadas, harmoniosamente, sem luta de classes, como convinha ao regime. Os generais de 64 fizeram coisa parecida, criando a Arena, governista, e o MDB, oposicionista. Tudo bem comportado, claro, para não atrapalhar o sonho do Brasil grande. Mas eis que jovens políticos, que sonhavam com uma sociedade melhor, fundaram dois partidos de verdade: o PT, que reunia a esquerda radical, e o PSDB, de linha social-democrata. Essas foram as duas forças que, findo o regime militar, passaram a disputar o poder. Em 1994, o PSDB chegou à Presidência com FHC e, em 2002, o PT venceu as eleições com Lula, apropriando-se do programa do adversário e imprimindo-lhe um cunho tipicamente populista. Cumpriram seu papel e se esvaziaram. Chegou a vez dos Kassab e companhia. PS: Conheço Maria Bethânia há 45 anos. É um exemplo de talento e integridade profissional. Folha de São Paulo, abril de 2011

Laços de família - SOCIOLOGIA - Folha de São Paulo, abril de 2011 Por que não somos racistas (CARLOS ALBERTO DÓRIA) ENTRE OS BRASILEIROS de hoje, o racismo mais se assemelha a um delito de opinião do que propriamente à tipificação de situações de opressão baseada na cor. Esta forma tênue de esconder contradições mostra o seu viés elitista. Um antidiscurso sobre o negro começa pela etiqueta, na qual figuram como "pessoas de cor". Entre o povão não é assim. No ano passado, sem muito alarde, o IBGE anunciou que a população negra e "parda" (sic) já era superior a 50% da população total do país. Considerando que o dado é autodeclaratório, isso quer dizer que a maioria da população é ou quer ser negra. Não é pouca coisa, pois enterra a tese de intelectuais sobre o "branqueamento" progressivo da nação, via miscigenação. Em comparação com os norte-americanos, nem a elite se sente racista, apesar de que, quando a polícia atira, do outro lado caem mortos mais jovens negros do que brancos. Paradoxalmente, mais foi feito pelos negros nos EUA, já no século 19, por meio das emendas à Constituição de número 13 (abolição), 14 (proteção dos direitos civis dos negros) e 15 (direito de voto dos negros) do que entre nós -visto que a abolição não foi além de uma espécie de "emenda 13", deixando o negro à própria sorte. Liberais como Joaquim Nabuco se preocupavam com a questão: o que "faremos" dos negros após a abolição? Suas ideias tacanhas sobre reforma agrária eram um ensaio de resposta à tragédia anunciada. Desigualdades de educação e fortuna se perpetuaram em desigualdades de oportunidades, salários etc. Assim, as discussões sobre raças que ocuparam o último quartel do século 19 e as duas primeiras décadas do 20 visavam, basicamente, esclarecer as elites, pelo recurso à pseudociência, sobre quais as chances que teríamos como nação, tendo levado tão longe o fardo da escravidão.

DARWINISMO Por várias razões, o autor que liderou as discussões sobre raça no mundo ocidental de fins do século 19 foi o alemão Ernst Haeckel (1934-1919), um divulgador sui generis do evolucionismo em geral e do darwinismo em particular. Ele, na Alemanha, e Herbert Spencer, na Inglaterra, ocuparam o vazio que ser formou depois da morte de Darwin (1882), período que os historiadores chamam de "eclipse do darwinismo" e que se estende até 1910, quando se dá a popularização da genética de Mendel. Em parte, o "eclipse do darwinismo" buscou responder às questões que Darwin não resolvera, como a hereditariedade, revisitando teses antigas de Lamarck e conferindo papel primordial à adaptação. Para essa teoria, chamada "neolamarckismo", as espécies ou raças se desenvolvem reagindo ao meio num processo Prof. Lucas Rocha

bem mais rápido do que aquele que Darwin havia pensado. Haeckel, em particular, acreditava que umas se desenvolviam mais do que outras e criou uma concepção hierárquica do mundo vivo, inclusive para a espécie humana e suas várias "raças".

NOVA NAÇÃO Nos moldes do "neolamarckismo" ou "haeckelianismo" lido pelos brasileiros, os negros e mestiços logo poderiam se adaptar ao meio brasileiro, constituindo, ao cabo de certo tempo, um tipo humano "melhorado" no qual se apoiaria a nova nação. Ao menos esse era o entendimento de Silvio Romero, Euclides da Cunha e tantos outros intelectuais cujas divergências entre si giravam em torno da ideia combinatória de caracteres brancos, negros e índios. Os haeckelianos pessimistas acreditavam que a miscigenação "piorava" o caráter do povo; outros, otimistas, imaginavam que melhorava pela subtração de caracteres. São ecos dessa discussão o que captamos em "Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter" (o que queria dizer, rigorosamente, sem caracteres próprios). Depois do início da década de 1910, o debate muda de figura: a genética esclarece como se dá a hereditariedade, e se passa a acreditar que o próprio ambiente (a falta de nutrição e as doenças) é que rebaixava os negros. A nova teoria culpava a omissão das elites, libertando o negro de atavismos. Da ótica "melhorista", as pesquisas nacionais sobre saúde, que tomaram impulso a partir da experiência bem-sucedida de Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, revelaram um mundo rural que mais se assemelhava a um "imenso hospital" cuja personificação dramática foi o Jeca Tatu de Monteiro Lobato. Para os sanitaristas e higienistas, males como o alcoolismo contribuíam "poderosamente para a decadência do povo, para a desmoralização da política e para a degeneração da raça". Contrario sensu, o antropólogo Franz Boas havia feito, nos EUA, estudos para o Congresso norteamericano, entre 1908 e 1910, sobre a assimilação dos imigrantes. Tais estudos mostraram, naquele novo meio, o maior desenvolvimento físico dos filhos de imigrantes em relação aos seus pais. Portanto, tratava-se de melhorar o meio em que viviam negros e pobres.

LOBATO Como trincheira para a nova luta, Monteiro Lobato lançou a sua "Revista do Brasil", onde reuniu em torno de si, durante a década de 1910, uma série de médicos sanitaristas. A sua visão sobre o problema era muito clara, conforme escreveu em 1918: "A higiene é a defesa artificial que o civilizado criou em substituição da defesa natural que perdeu. Ela permite ao inglês na Índia uma vida próspera, exuberante de saúde, no meio de nativos derreados de lezeira [...]. O nosso estado profundo de degenerescência física e decadência moral provém exclusivamente disso: desaparelhamento de defesa higiênica. O nosso povo, transplante europeu [...] foi invadido pela microvida tropical, e verminado intensamente, sem que nunca percebesse a extensão da mazela. Só agora se faz o diagnóstico seguro da doença, e surge uma orientação científica para a solução do problema da nossa nacionalidade, ameaçada de desbaratamento pelo acúmulo excessivo de males curáveis [...]. Sanear o país deve ser a nossa obsessão de todos os momentos. É a grande fórmula do patriotismo". Ainda que alguns analistas entendam que o "higienismo" foi uma forma disfarçada de racismo, este é um problema apenas intelectual. O fato é que ele, na crença de que o homem expressa o meio, colocou o Estado como principal agente a promover a adaptação do homem ao ambiente. As teorias raciais caíram em total descrédito e o racismo perdeu qualquer substrato intelectual para se alimentar.

OLIVEIRA VIANNA É curioso ver como ecos distantes e isolados das velhas teorias - como o livro tardio de Oliveira Vianna, intitulado "Raça e Assimilação" (1932), no qual afirma que "a raça é, em última análise, um fator determinante das atividades e dos destinos dos grupos humanos"- foram violentamente rechaçadas por intelectuais e por servidores públicos. Na crítica de Manoel Bomfim a Oliveira Vianna, esse é apresentado como "etnólogo oficial" -afinal era um funcionário público, do Tribunal de Contas- e, portanto, não poderia expor suas ideias como se fossem meramente pessoais, visto que o Estado tem que promover a convergência da população, não a sua divisão. Na mesma época, Bomfim dirá em "O Brasil na América" (1929) que "nas sociedades misturadas, muita gente conservará as suas repugnâncias carnais. Nada há que discutir, ou condenar. Serão esses, como muitos outros aspectos, que só dizem com a sensibilidade pessoal". Em outras palavras, enquanto os valores envolvidos nas relações interraciais forem privados nada há a objetar publicamente.

FAMÍLIA A ideia de democracia racial, que se difunde especialmente a partir dos anos 1930, é fruto desse tipo de concepção em que as relações raciais não foram transpostas para a esfera pública e em que a desigualdade permanece encapsulada na família ou na casa-grande, sem assomar como fator precípuo de Prof. Lucas Rocha

dominação de classe. Estabelecem-se laços de família entre negros e brancos nos moldes expressos no poema de Carlos Drummond de Andrade ("Retrato de família"): "Já não distingo os que se foram dos que restaram. Percebo apenas a estranha ideia de família viajando através da carne." Talvez por essa familiaridade entre negros e brancos -que responde pelo crescimento da população que quer ser negra- se tenha produzido uma legislação antirracista tão tímida entre nós. A tão celebrada Lei Afonso Arinos, de 1951 (que tipifica como crime a "recusa, por parte de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de hospedar, servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça ou de cor"), trata o negro basicamente como consumidor. Seria essa a velha esperança de Joaquim Nabuco quanto à integração do negro na nação? Quando o "higienismo" colocou o Estado como principal agente a promover a adaptação do homem ao ambiente, as teorias raciais caíram em descrédito A democracia racial é fruto de uma concepção em que as relações raciais não foram para a esfera pública e em que a desigualdade permanece encapsulada na família

À meia-noite cortarei suas unhas (ALEXANDRE SCHWARTSMAN ) "DESPESA corrente é vida: ou você proíbe o povo de nascer, de morrer, de comer, ou de adoecer, ou vai ter despesas correntes" ("O Estado de S. Paulo", 9/11/2005). Com essas palavras, a então ministra da Casa Civil fulminou o projeto de ajuste fiscal de longo prazo patrocinado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, gestado por técnicos do Ipea, de saudosa memória. A proposta não era particularmente agressiva (muito menos "rudimentar"). Sugeria tão somente limitar o crescimento dos gastos públicos correntes pouco abaixo da expansão do PIB nominal. Como esse saiu de R$ 2,37 trilhões em 2006 para R$ 3,67 trilhões em 2010 (ao redor de 11,5% ao ano, em média), o programa propunha que os gastos correntes crescessem a uma velocidade menor, de modo a fazer com que seu valor caísse ao ritmo de 0,3 ponto do PIB a cada ano. Não foi o que observamos. Entre 2006 e 2010, o gasto corrente federal cresceu a um ritmo pouco superior a 12% ao ano, levando a um aumento da sua razão relativamente ao produto, de 16,2% para 16,5% do PIB. Isso pode não parecer muito à primeira vista, mas, como tenho argumentado frequentemente neste espaço, uma política econômica não pode ser analisada pelo que produziu, mas sim em face do que teria ocorrido caso políticas alternativas tivessem sido adotadas. Imagine, portanto, o que teria ocorrido se o ajuste fiscal de longo prazo tivesse sido posto em prática, contra a opinião da ministra. Nesse caso, o gasto corrente teria caído 0,3 ponto do PIB a cada ano, atingindo 15% do PIB no ano passado. Isto é, em vez de os gastos correntes terem chegado a R$ 608 bilhões em 2010, teriam ficado em R$ 551 bilhões, uma diferença de R$ 56 bilhões apenas no ano passado (R$ 116 bilhões entre 2007 e 2010, medidos a preços de 2010). Ainda assim, corrigido pelo IPCA, o gasto corrente teria se expandido em torno de 4,5% ao ano, mais do que a população, sem impedir, portanto, a expansão da oferta de serviços públicos. Caso esse valor tivesse sido integralmente poupado, levando em consideração o custo observado da dívida doméstica, implicaria redução da dívida pública da ordem de R$ 125 bilhões (3,5% do PIB) em comparação aos valores efetivamente observados. E, é bom notar, trata-se, na verdade, de uma estimativa conservadora do ganho, pois supõe que a taxa de juros teria permanecido inalterada, mesmo em face de um ajuste fiscal de magnitude razoável. Provavelmente a taxa de juros teria sido menor, adicionando-se ao efeito de um superavit primário mais alto no sentido de reduzir a dívida. Alternativamente, os R$ 116 bilhões poupados poderiam ter se transformado em investimento adicional. O investimento federal realizado entre 2007 e 2010, medido a preços do ano passado, acumulou R$ 140 bilhões. Assim, o investimento público poderia ter sido, em média, cerca de 80% maior que o observado, atingindo nos últimos quatro anos 1,9% do PIB, ante um valor observado de somente 1% do PIB. Apenas em 2010 o investimento poderia ter atingido 1,5% do PIB acima do que o observado, o que elevaria, conservadoramente, o crescimento potencial da economia ao redor de 0,4% ao ano. Obviamente, qualquer combinação das alternativas acima também poderia ter ocorrido, já descartando, por absoluto ceticismo, a possibilidade de os recursos poupados serem devolvidos ao setor privado sob a forma de impostos mais baixos. Em qualquer caso, teríamos resultados superiores aos observados, tanto em termos de redução de dívida como do desempenho dos investimentos em infraestrutura. Isso dito, se o controle de gastos correntes "(...) é como cortar as unhas, pois, se você não olhar para Prof. Lucas Rocha

alguns gastos, eles explodem, (...) tem que cortar as unhas sempre" ("Valor Econômico", 17/3/2011), é triste que se anuncie a intenção de fazê-lo apenas quando as unhas do governo federal já fazem inveja ao próprio Zé do Caixão. ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 48, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC. Internet: www.maovisivel.blogspot.com

Cadê meu celular? (ROBERTA MEDEIROS) Pessoas que sofrem de nomofobia deixam o celular ligado 24 horas por dia, sentem-se rejeitadas quando ninguém lhes telefona e enfrentam síndrome de abstinência quando estão sem o aparelho. O problema pode estar ligado a outros transtornos, como ansiedade e depressão Há pessoas que não conseguem ficar sem o celular nem por um instante. Essas pessoas entram num estado de profunda ansiedade e angústia quando se veem sem o aparelho, quando ficam sem créditos ou com a bateria no fim. A necessidade de estar conectado ultrapassa todos os limites. Uma pesquisa feita no The Royal Post, na Inglaterra, mostrou que 58% dos britânicos e 48% das britânicas sofrem de nomofobia. O nome vem do inglês no + mobile + fobia, ou seja, "fobia de permanecer sem conexão móvel", que inclui internet e celular. Essas pessoas não saem de casa sem o celular, mantêm o telefone ligado 24 horas por dia e sentem ansiedade quando o esquecem em casa. Antes de dormir, programam o telefone com o número do médico, do psicólogo e dos hospitais registrados em ordem por uma numeração específica, para o caso de ser necessário. Elas apenas precisariam apertar a tecla correspondente ao atendimento e logo encontrariam a providência desejada. Elas ainda se sentem rejeitadas quando ninguém lhes telefona ou quando percebem que os amigos recebem mais ligações do que elas. Quando ficam sem bateria ou fora da área de cobertura, se sentem ansiosas, angustiadas e inseguras.

Para saber mais Nomofobia no Brasil A empresa francesa de pesquisa Ipsos publicou um estudo sobre o impacto do celular na vida cotidiana e mostrou como esse aparelho mudou a vida dos usuários. A empresa realizou as mil entrevistas com pessoas de ambos os sexos, de todas as classes sociais e com mais de 16 anos de idade, em 70 cidades e 9 regiões metropolitanas. Os resultados revelaram que 18% dos brasileiros admitiram ter dependência dos seus aparelhos. "Com esta nova liberdade, novas regras de coexistência têm influenciado e ditado pela comunicação e interação entre os indivíduos. Esta mobilidade leva a uma sensação de liberdade e a uma percepção de que podemos ter o mundo em nossas mãos. Essa sensação pode gerar um comportamento ambíguo de poder e medo", diz a pesquisadora Anna Lúcia Spear King. Para a psicóloga Sylvia van Enck, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso, da USP, a nomofobia é um transtorno do controle dos impulsos com um forte componente de ansiedade generalizada. Alguém que apresenta algum transtorno no controle dos impulsos tem dificuldade para resistir à tentação de executar um ato que possa vir a ser prejudicial para si ou para os outros e obtém alívio e diminuição da tensão emocional e física quando a ação é executada. "O transtorno de ansiedade faz parte da caracterização dos transtornos no controle dos impulsos e, neste caso, a pessoa é acometida por uma apreensão negativa em relação aos eventos futuros, provocando sensações de inquietação psíquica e sintomas físicos desagradáveis", diz a psicóloga. Prof. Lucas Rocha

Não é fácil se "desplugar" do celular, uma vez que, na sociedade tecnológica, o aparelho é sinônimo de status e inclusão social. "Podemos entender que o uso do aparelho celular, mesmo que não excessivo, especialmente em relação à população jovem, esteja relacionado aos aspectos de inclusão social e conectividade entre os amigos. Por outro lado, com o avanço dos recursos tecnológicos, adquirir um aparelho cada vez mais sofisticado confere status econômico e social, o que pode estar relacionado à busca de reafirmação da identidade psicológica dos adolescentes nesta fase da vida", analisa Sylvia. O mercado oferece uma infinidade de aparelhos, e é difícil resistir à tentação de adquirir o mais novo modelo. Cada vez mais a população jovem, incluindo crianças, está cedendo às pressões do mercado com a ajuda dos pais. Mas a psicóloga alerta: "Há um risco no desenvolvimento da insegurança pessoal que pode ser também o reflexo da insegurança dos pais, que precisam estar sempre tendo notícias do paradeiro dos filhos. Outro aspecto a ser considerado é a diminuição na resistência à frustração diante da espera de um contato ou do silêncio do outro, gerando ansiedade, angústia... que se não controlados, podem desencadear comportamentos agressivos, reflexos da intolerância gerada pela nomofobia", diz Sylvia.

A nomofobia é um transtorno do controle dos impulsos com um forte componente de ansiedade generalizada Transtorno de ansiedade Autora de uma tese de doutorado sobre o tema, a psicóloga Anna Llúcia Spear King, do Instituto de Psiquiatria da UFRrJ, comparou pacientes com um transtorno de ansiedade, conhecido como síndrome do pânico, com pessoas completamente saudáveis, para saber o que elas sentiam quando ficavam sem o aparelho celular. Entre os pacientes com pânico, a maioria demonstrou ter também a dependência do celular. Mesmo entre os considerados saudáveis, 34% confessaram sentir ansiedade e 54% disseram ter medo de passar mal na rua se ficassem longe do aparelho. Anna Llúcia lembra que nomofóbicos são pessoas que apresentam um perfil ansioso, dependente, inseguro e com uma predisposição característica dos transtornos de ansiedade que podem ser, por exemplo: transtorno de pânico, fobia social,fobia específica, transtorno de estresse pós-traumático; e costumam ficar dependentes da internet por medo de estabelecerem relacionamentos sociais ou afetivos pessoalmente. "Com o telefone celular em mãos, essas pessoas têm a sensação de estarem acompanhadas e se sentem mais independentes. Quando não existia o telefone celular, estes O uso do celular, mesmo quando não indivíduos não tinham a mesma liberdade de locomoção e autonomia que é excessivo, está relacionado aos aspectos de reafirmação da têm na posse do aparelho", explica. identidade psicológica, status e Muitas pessoas nomofóbicas, porém, não aceitam que são portadoras desse inclusão social tipo de fobia e atribuem a sua angústia a várias causas. Colocam a culpa no trabalho ou na necessidade de se comunicar com a família ou com amigos, no caso de alguma emergência. "É comum os dependentes alegarem que não podem ficar sem celular devido ao medo de precisarem do aparelho no caso de uma emergência, quando estão fora de casa, por exemplo", comenta a psicóloga Juliana Bizeto, do Programa de Orientação e Atendimento ao Dependente (Proad) da Unifesp.

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Reunidos em grupo Interessante constatar que, em comunidades virtuais, pessoas que se sentem nomofóbicas reúnem-se para debater sintomas e interesses em comum. Há diversas ocorrências, caso digite "nomofobia" no campo de pesquisa do Facebook e do Orkut. Neste último, por exemplo, há uma comunidade de quase 350 membros ativos, debatendo sobre o caso. Vale lembrar que gostar muito de celular não significa ter a nomofobia. Para este diagnóstico de uma patologia mais grave, a falta do aparelho acarreta sintomas como taquicardia, suores frios, dor de cabeça e sensação de nudez. Nestes casos é aconselhável a procura de ajuda psicológica.

Crianças que utilizam celulares o fazem muitas vezes por influência dos pais, que se sentem inseguros e, por isso, precisam ter notícias frequentes do paradeiro dos filhos

Segundo Juliana, a dependência gera um impacto severo na qualidade de vida. "A pessoa não tem outras fontes de prazer, passa a se desinteressar por atividades sociais, afetivas e de lazer que anteriormente gostava. Ela tem uma relação exclusiva com o objeto de sua dependência e passaa gastar cada vez mais horas do seu dia a determinada situação". A psicóloga lembra que, no caso da dependência por celular ou internet, o problema pode ser camuflado, já que a sociedade aceita o uso abusivo dessas tecnologias. "A nomofobia pode acometer pessoas bem-adaptadas, que trabalham, estudam ou são casadas. Por isso, o problema não chama a atenção, são poucos sinais visíveis que denunciam a dependência", alerta.

A mobilidade leva a uma sensação de liberdade e a uma percepção de que podemos ter o mundo em nossas mãos Para saber mais

Uso excessivo do celular Os critérios que orientam a identificação do uso excessivo de celular são: Manter o celular sempre à mão, 24 horas por dia - mesmo quando dormindo -, para não perder qualquer possibilidade de contato; Abandonar as atividades para atender a qualquer chamada do celular (muitas vezes interferindo em situações de trabalho, estudo, reuniões sociais e familiares); Manter invariavelmente a bateria do celular carregada; Quando esquecer o celular em algum lugar, voltar para buscá-lo, pois, do contrário, este fato pode gerar extrema ansiedade (como se faltasse algo essencial). Em casos mais graves, as pessoas podem apresentar alterações de humor, da respiração, taquicardia, ansiedade.

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"O dependente pode até reconhecer que sua relação com a tecnologia não é saudável. Mas racionalizar é mais fácil do que ter a plena consciência de que está adoecido, numa condição de sofrimento que exige cuidado", diz o psicólogo Júlio D'Amato, da Universidade Federal Fluminense e professor da Unilasalle. Segundo ele, o uso abusivo da conexão móvel pode ser só a ponta do iceberg. Muitas vezes camuflam outros distúrbios. Os mais frequentes: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), fobia social, transtorno de ansiedade, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). "As sensações desagradáveis experimentadas pelo nomofóbico quando está sem o seu celular, comuns num ataque de pânico, muitas vezes não estão sozinhas, mas acompanhadas de um processo depressivo encoberto. Esses processos não são puros, há uma articulação entre os transtornos", explica. Numa sociedade que oferta um sem-número de tecnologias e que exige que estejamos conectados permanentemente, como diferenciar um nomofóbico de um usuário habitual? Para D'Amato, o nomofóbico é aquele que não resiste ficar sem conexão à rede, porque precisa dar vazão ao seu impulso. Trata-se de uma neurose obsessiva. Falar ao telefone é uma forma de prazer que encobre a dor. "O caráter obsessivo é atendido na atuação desmedida do sujeito que se submete a demandas incontroláveis. Vale lembrar que essas exigências inconscientes, quando atendidas, logo se manifestam outra vez, levando o sujeito a reeditar comportamentos diante dos quais não consegue se São tantas as opções de aparelhos que o insurgir ou mudar. É nessa perspectiva que podemos pensar, por mercado oferece que é difícil, para a exemplo, o vínculo do sujeito com atividades como se conectar, maioria, resistir à tentação de adquirir novos modelos periodicamente comprar, jogar ou comer", analisa D'Amato. "Vamos supor que alguém fale muito ao telefone devido às contingências do seu trabalho, mas que no fim de semana essa pessoa decide se desligar para se dedicar a outras atividades. É um caso diferente se a pessoa vai ao cinema e, no meio do filme, não resiste à tentação de fazer uma ligação ou de checar suas mensagens. Ou se a pessoa resolve falar com alguém no meio de um jantar, ainda que o telefonema seja adiável", exemplifica.

Imposição tecnológica O psicólogo lembra que a pessoa tem de ficar atenta sempre que passar a se desinteressar por atividades sociais, afetivas e de lazer que anteriormente ela gostava. Esse processo vai minando lentamente a pessoa, que passa a despender cada vez mais horas do seu dia a determinada situação. Para a pesquisadora Josyane Llannes Florenzano de Souza, o transtorno ocorre devido ao fato de que em nossa sociedade o ser humano não vive mais num meio natural, e sim num meio técnico, que interpõe entre o homem e a natureza uma rede de máquinas e técnicas apuradas. "Em decorrência da expansão dos recursos técnicos, a estrutura da sociedade tecnológica resulta muito mais complexa do que a da sociedade tradicional", explica. Em consequência da ruptura entre as funções de produtor e consumidor, desempenhadas no passado pelos mesmos indivíduos, e da multiplicação artificial das necessidades de consumo, a organização social desdobrou os papéis sociais atribuídos a uma mesma pessoa. "Um indivíduo é ao mesmo tempo pai de família, empregado de uma fábrica e membro de um clube, de um partido político, de um sindicato, de uma igreja, etc. Por isso, os conflitos entre os papéis são muito maiores do que na sociedade tradicional. Essa complexa estrutura da sociedade acaba também demandando uma grande necessidade de comunicação entre os indivíduos. Porém, quando as pessoas se tornam dependentes dessa comunicação ativa, podem se tornar nomofóbicas", acrescenta.

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Estresse: o mal do século (FÁTIMA BITTENCOURT) Sete em cada dez brasileiros reclamam de estresse no trabalho. Destes, pelo menos três sofrem da chamada síndrome de Burnout - esgotamento mental e físico intenso causado por pressões no ambiente profissional Muito se fala sobre o estresse, que vem sendo caracterizado como a doença do século XXI. Um levantamento realizado pela Associação Internacional do Controle do Estresse, ISMA (International Stress Management Association), revelou que o Brasil é o segundo país do mundo com níveis de estresse altíssimos. Pelo menos três em cada sete trabalhadores sofrem a síndrome de Burnout e não sabem. Resultado da soma de algumas respostas mentais e físicas, o estresse fisiológico, sem sobrecargas, pode contribuir de forma saudável para o crescimento e o desenvolvimento dos nossos ossos, músculos, cérebro e demais partes do corpo. Sua causa como doença, porém, está relacionada aos estímulos externos e à pressão a qual é submetida uma determinada pessoa e ao desgaste que ela pode sofrer sob esta pressão. Para atender a essa demanda de cura, normalmente os tratamentos são associados à medicação e atividade física relaxante. O termo “estresse” designa desgaste e tensão, tendo sua origem na física. Sua rápida propagação no mundo pode estar associada ao fato de que, por milhões de anos, o ser humano foi se adaptando biologicamente a um estilo de vida diurno e não sedentário, além de um ritmo de mudanças muito mais lento do que encontramos nos dias atuais, especialmente nas grandes cidades. O excesso de ruídos, as luzes artificiais que nos mantêm acordados à noite, a falta de exercício, a poluição, os engarrafamentos, o excesso de informações e de preocupações são exemplos de fontes de estresse no mundo moderno para os quais o nosso corpo não se adaptou. Muito embora estejam intimamente ligados, estresse, ansiedade e transtornos de ansiedade são conceitos diferentes. Ansiedade é um estado de alerta especial que desenvolvemos quando estamos em situações de estresse, com o objetivo de aumentar a nossa capacidade de adaptação a situações novas e potencialmente perigosas. O nosso corpo desenvolveu complexos mecanismos que integram funções cerebrais e hormonais para regular quando ativar e desativar uma resposta de ansiedade e qual o tipo e a intensidade de resposta será a mais adequada às situações que vivenciamos. Quando estes mecanismos não estão funcionando adequadamente, dizemos que há, então, um transtorno de ansiedade.

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O excesso de informações e de preocupações são exemplos de fontes de estresse no mundo moderno Os transtornos de ansiedade podem ter diferentes tipos de estresse em sua origem, tendo muitas das vezes como sintomas o transtorno de ansiedade generalizada, quando o indivíduo tem dificuldade de desativar o estado de ansiedade e passa a maior parte do tempo tenso e ansioso na expectativa de que algo ruim possa acontecer; além do transtorno obsessivo-compulsivo, quando a mente é invadida por pensamentos desagradáveis associados aos medos do indivíduo e muita ansiedade. Há, ainda, as fobias, que são fortes reações de ansiedade, e o medo paralisante, que pode impedir o indivíduo de lidar com a situação temida; a síndrome do pânico, caracterizada por ataques repetidos de ansiedade súbita com sintomas corporais fortes, como sudorese, falta de ar e medo de morrer ou de enlouquecer; e o transtorno de estresse pós-traumático, quando a pessoa revive repetidas vezes em sua mente situações traumáticas pelas quais passou. Observamos, porém, que toda resposta fisiológica de ansiedade ao estresse é autolimitada e feita para durar pouco tempo. É por isso que o excesso de estresse pode levar a tantos problemas de saúde, como pressão alta, gastrite, cólon irritável, depressão, pânico, alcoolismo e muitas outras doenças. O excesso de estresse também já foi associado a um maior risco de se desenvolver câncer, doenças autoimunes, asma, fibromialgia, fadiga crônica, doenças cardíacas, dermatológicas e baixa imunidade; podendo estimular, ainda, o desenvolvimento da síndrome de Burnout, distúrbio psíquicos de caráter depressivo, ainda pouco conhecido pela população. De acordo com Herbert J. Freudenberger, a síndrome de Burnout é “um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”.

Os efeitos A síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento físico, é uma doença gerada pelo grau mais elevado do estresse, caracterizada pelo esgotamento mental intenso causado por pressões no ambiente profissional, que leva ao esgotamento total do paciente e atinge três em cada dez trabalhadores do País. O portador dessa doença muitas vezes não sabe que a possui e passa a medir sua autoestima pela capacidade de realização e sucesso profissional. Ssendo assim, sente a necessidade de se afirmar, transformando em obstinação e compulsão o desejo de realização profissional. Este fenômeno pode estar ligado à ideia de que ser um workaholic – pessoas que vivem para o trabalho – se tornou status para a maioria das pessoas que vivem nas grandes cidades, nas quais o número de estressados é maior, e como consequência, a probabilidade do surgimento da síndrome é aumentada. Embora a doença esteja diretamente ligada ao campo profissional, o seu desenvolvimento não se restringe apenas à profissão. Um indivíduo pode trabalhar muito, mas ter uma relação saudável com o trabalho. Os profissionais de alto rendimento, alta responsabilidade e competitividade, como médicos, professores, corretores, enfermeiros, estão mais propensos a desenvolver a síndrome de Burnout e o mercado de trabalho das grandes metrópoles, extremamente competitivo, é cenário perfeito para que muitos profissionais acabem sucumbindo à doença. Dados sugerem que o Burnout atinge um número significativo de indiví- duos, variando de aproximadamente 4% a 85,7%, conforme a população estudada. Pode apresentar comodidade com alguns transtornos psiquiátricos, como a depressão. Sseus efeitos podem prejudicar o profissional em três níveis: individual (físico, mental, profissional e social), profissional (atendimento negligente e lento ao cliente, contato impessoal com colegas de trabalho e/ou pacientes/clientes) e organizacional (conflito com os membros da equipe, rotatividade, absenteísmo, diminuição da qualidade dos serviços). Mais pesquisas devem ser realizadas para que mudanças positivas nas organizações de trabalho sejam baseadas em evidências científicas. Como o Burnout é consequente a um processo crônico de estresse, cabe relatar que, na Europa, o estresse aparece como um dos fatores mais importantes em relação à diminuição da qualidade da saúde na década de 1990 (European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 1995/6).]

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Segundo matéria do jornal O Globo, cresce o número de empresas que criam programas para encorajar workaholics a equilibrarem suas vidas profissional e privada. Uma pesquisa do International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) mostra que hoje, executivos de empresas privadas e profissionais liberais trabalham de 50 a 52 horas semanais, apesar de a Constituição limitar a carga a 44 horas. Uma das dificuldades para instaurar uma mudança de comportamento, diz a presidente da ISMA-BR, Ana Maria Rossi, é que muitas companhias querem que esses funcionários desacelerem, mas seus líderes não mudam o hábito de permanecer muitas horas na empresa, trabalhando. Nos Estados Unidos, o estresse e problemas relacionados, como o Burnout, provocam um custo calculado de mais de US$ 150 bilhões anualmente para as organizações (Donatelle e Hawkins, 1989). As implicações financeiras específicas do Burnout merecem ser avaliadas diante da insatisfação, absenteísmo, rotatividade e aposentadoria precoce causados pela síndrome (World Health Organization, 2003). Em estudo de equipe pertencente à Organização Mundial da Saúde (OMS), considerou-se o Burnout como uma das principais doenças dos europeus e americanos, ao lado do diabetes e das doenças cardiovasculares (Akerstedt, 2004; Weber e Jaekel-Rreinhard, 2000). A OMS convocou um grupo internacional de conhecedores no assunto como Cherniss (EUA), Cooper (Rreino Unido), entre outros, a fim de elaborar medidas para a sua prevenção (World Health Organization, 1998). Em relação à população geral, pouco se sabe sobre a prevalência do Burnout. Um levantamento alemão estimou que 4,2% de sua população de trabalhadores era acometida pela síndrome (Houtman et al., 1998).3 Sendo assim, no combate a essa doença, que quando não cuidada pode até levar à morte, pequenas mudanças no cotidiano podem ser fortes aliadas, tais como: alimentação balanceada, praticar atividades físicas, ter um hobby, manter relações sociais e integração familiar. Apesar da simplicidade dessas recomendações, poucos são os trabalhadores de hoje que podem segui-las. O principal sintoma da síndrome de Burnout é a sensação de ter sido consumido pelo estresse, de estar esgotado e sem energia. Vários outros sintomas são comuns,

As principais fontes do estresse são o excesso de ruídos, os engarrafamentos, o exagero de informações e de preocupações aliados à pouca qualidade de vida.

o Com sono ruim, cansaço, dores no corpo; lapsos de memória; dificuldade de concentração; irritabilidade; desesperança; tristeza e transtorno de humor; esgotamento profissional que corresponde ao colapso físico e mental; avaliação negativa de si mesmo; depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos; descaso com as necessidades pessoais (comer, dormir e sair com os amigos); recalque de conflitos, em que o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema; discriminação pelos colegas de trabalho. Cinismo e agressão também são bastante evidentes. A prevalência do Burnout nos vários países ainda é incerta, mas dados apontam acometimento significativo que justifica mais estudos a respeito dessa patologia com fatores de risco multifatoriais (indivíduo, trabalho, organização). Pode-se apresentar em conjunto com algumas doenças psiquiátricas ou até desencadeá-las, como Burnout seguido por transtorno depressivo. Entretanto, não se encontraram estudos que avaliassem, por entrevistas estruturadas, essas taxas entre as duas condições e possíveis relações causais. Prof. Lucas Rocha

Políticas Públicas As pressões na saúde mental mundial estão se intensificando. De acordo com as Nações Unidas, o mundo será mais velho, mais populoso e mais pobre aproximadamente em 2050. Como essas condições ao seu redor, entre outras, criam tensão (estresse) e ansiedade, mais pessoas serão suscetíveis a transtornos mentais Segundo a OMS, “nossa saúde mental tem um impacto opressivo em nossas habilidades para funcionar e participar na sociedade. Temos de começar a colocar mais de nossos recursos a favor da saúde mental”. Para mudanças positivas, as decisões nas instituições têm de ser baseadas em evidências científicas sobre a abordagem e o tratamento que mantenham a saúde mental para, só assim, alterarem as políticas de benefícios e os recursos humanos direcionados (Moreno-Jimenez, 2000). Mais pesquisas sobre a síndrome de Burnout devem ser realizadas.

Você sabia que: Existem dois diferentes níveis de estresse que podem ser caracterizados como: 1. Eustress: estresse positivo, necessário para corresponder suas demandas do dia a dia. 2. Destress: estresse negativo com efeito prejudicial ao desempenho. Ultrapassa o que necessitamos. Existem três fases do estresse: 1. Alarme: mobiliza a energia, as forças não têm prejuízo. Estresse positivo é necessário para ação. Estado de alerta. 2. Resistência: a fase dos sintomas, o corpo dá sinal. Às vezes não se dá conta disto. Fase da intervenção. 3. Esgotamento: acabou a energia (Burnout). É necessário tratamento multidisciplinar para restabelecimento físico e emocional do paciente.

O tratamento para quem sofre de estresse excessivo, entre eles a síndrome de Burnout, geralmente associa medicação à atividade física relaxante

As consequências do Burnout têm efeitos negativos para a organização, para o indivíduo e sua profissão Prof. Lucas Rocha

(Goetzel et al., 2002; Moreno-Jimenez, 2000; Murofuse et al., 2005; Sschaufeli, 1999b). Estresse x Memória De um ponto de vista evolucionário, Bruce McEwen, da Universidade Rrockefeller, afirma ser fácil entender por que a memória e o estresse estão inter-relacionados. Os eventos estressantes, percebidos como ameaçadores à homeostase ou à sobrevivência do organismo, são os mais importantes a serem lembrados. As memórias associadas a esses eventos podem se formar instantaneamente e serem recobradas com a mesma rapidez para garantir a sobrevivência em uma situação de ameaça posterior. Essas memórias são formadas por uma parte do cérebro que se chama amígdala cerebelar (região do cérebro responsável pela resposta em situações emocionais e de emergência) e trabalham em associação íntima com o hipocampo, que é o “guardião da cidadela da memória”. Para garantir que os eventos estressantes fiquem gravados com força na memória, o hipocampo possui alguns receptores destinados ao cortisol, principal hormônio do estresse que auxilia a formação de memórias. No entanto, em níveis altos e crônicos, pode acarretar déficits de memória e de funções cognitivas. Isso acontece porque, de acordo com Rrobert Ssapolsky, da Universidade Sstanford, os glicocorticoides, a classe de hormônios que reabastece o combustível ao qual pertence o cortisol, tem, nessas situações, efeito tóxico sobre as células cerebrais do hipocampo, matando-as. O hipocampo também participa do desligamento da reação hormonal ao estresse, mandando sinais inibitórios ao hipotálamo, em que a reação hormonal ao estresse é controlada, pelo eixo HPA.

Características da personalidade Fatores Individuais podem associar o surgimento da Síndrome de Burnout. Padrão de personalidade: pessoas competitivas, esforçadas, impacientes, com excesso de necessidade em ter o controle da situação, dificuldade de tolerância das frustrações. Envolvimento: pessoas empáticas e agradáveis, sensíveis e humanas, com alta dedicação profissional, altruístas, obsessivas, entusiasmadas. Pessimismo: costumam destacar aspectos negativos, suspeitam sempre do insucesso, sofrem por antecipação. Perfeccionismo: pessoas muito exigentes consigo próprias e com os outros, intolerância aos erros, insatisfeitas com os resultados. Grande expectativa profissional: pessoas com grande chance de se decepcionarem. Centralizadores: pessoas com dificuldade em delegar tarefas ou para trabalhar em grupo. Passividade: pessoas sempre defensivas, que tendem à evitação diante das dificuldades. Nível educacional: são mais propensas as pessoas com maior nível educacional. Estado civil: as pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas são mais propensas ao Burnout.

Sintomas do Estresse Físicos: • Indigestão; • Dores de cabeça; • Alergias; • Insônia; • Mudança de apetite; • Esgotamento físico; • Gastrite; • Taquicardia e outros. Psicológicos: • Memória fraca; • Desmotivação; • Autoritarismo; • Introspecção; • Isolamento; • “Tiques Nervosos” e outros.

Índices da Síndrome de Burnout Fatores organizacionais associados a índices superiores da Síndrome de Brunout e suas possíveis consequências: Prof. Lucas Rocha

Durante o estresse, cérebros com lesões no hipocampo levam mais tempo e/ou não conseguem desligar sua reação ao estresse e relaxar, além de apresentarem níveis mais altos de cortisol, o que leva a níveis ainda mais altos de hormônios do estresse, danificando cada vez mais o hipocampo em um círculo vicioso. Deste modo, o mesmo processo cerebral que auxilia a sobrevivência, protegendo o organismo em momentos de estresse agudo, contribui para o seu adoecimento em momentos de estresse crônico. Em contrapartida, os momentos de relaxamento mostram que os níveis de hormônios e neurotransmissores se revertem, o que representa uma pausa em alguns dos processos por meio dos quais o cérebro A síndrome de Burnout é caracterizada pelo esgotamento físico e mental recupera-se dos danos causados pelo intenso causado por pressões no ambiente profissional, por exemplo estresse e renova-se. Esses processos são a plasticidade – pela qual o cérebro se reconfigura em reação a estímulos do mundo externo – e a neurogênese – o nascimento de novos neurônios.

Embora a doença esteja diretamente ligada ao campo profissional, o seu desenvolvimento não se restringe apenas à profissão Nos momentos de estresse, o cérebro detém tanto a plasticidade quanto a neurogênese, como uma medida de proteção, e isso pode explicar o encolhimento do hipocampo, uma vez que os hormônios do estresse contribuem para a morte das células no hipocampo, que não desligam adequadamente a reação hormonal ao estresse e também não nascem novos neurônios. A boa notícia é que todos esses danos são reversíveis. Fátima Bittencourt é psicóloga (USU), pós-graduada em psicossomática (Imepsi) e método e pesquisa (FGV-RJ), formação holística, terapia sistêmica (Núcleo e Pesquisa), abordagem transpessoal (Unipaz),membro do ISMA-BRInternational Stress Management Association, mentora do STRESS CHECK-UP e Diretora do Grupo Sanare Saúde Integrada – www.gruposanare.com REFERÊNCIAS Código Internacional de Doenças 10ª edição, OMS. Medicina net. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/cid10/e.htm. Acessado em 23 nov. 2010. Epocates, enciclopédia médica eletrônica, 2010 Medscape, enciclopédia médica eletrônica, 2010.

Prof. Lucas Rocha

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