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Gerando autoestima no seu filho Tenho visto ao longo do tempo muitas definições, explicações e filosofias de pessoas que buscam um sentido para a vida, para a nossa existência. Na minha humilde opinião, e sem a pretensão de filosofar, o sentido da vida se encontra nas outras pessoas. O contato, a interação humana, o “viver pelos outros”. Já tentou se imaginar só no mundo? E para quem já vive a experiência de ser pai ou mãe, mesmo que por adoção, sabe que não existe um “outro” que mereça tanto sentido quanto um filho. Por isso, dedico esta parte do curso especialmente para orientar aos pais no desenvolvimento de autoestima nas crianças. E, paralelamente a este aprendizado, poderemos compreender melhor como a nossa autoestima foi desenvolvida.

Desaprove o comportamento, não o teu filho Como já foi visto no capítulo sobre autoconsciência, julgue o comportamento, não a criança. Ou seja, se você desaprovou alguma atitude do seu filho, deixe claro sua insatisfação com o comportamento dele e não com ele. É muito fácil para o nível de maturidade que a criança se encontra, confundir estas duas coisas. Principalmente, se o os pais não se comunicarem de uma forma eficaz ao demonstrar isso. Então, seja objetivo para que fique claro à criança que você não gostar da atitude dela não interfere em nada no amor que você sente por ela. Certa vez eu estava no parquinho de uma praça com o meu filho. Brincava com ele alegremente na gangorra. No banquinho ao lado estava uma mãe com o marido, um bebê e um garoto de aparentemente 7 anos. A mãe se esforçava em trocar a fralda do bebê, então pediu para que o garoto segurasse sua bolsa. O pai encontrava-se em pé, ao lado, com as mãos na cintura, observando a troca. Mas, facilmente percebi que a criança estava incomodada e ansiosa. Estava claro que ela queria brincar e estar ali parada, ajudando a mãe a trocar fraldas, não era a melhor opção numa praça lotada de meninos. Os olhos dela não paravam de acompanhar o corre-corre das outras crianças, os gritos de alegria, as bolas chutadas. Por várias vezes ele fez menção de que iria soltar a bolsa, mas a mãe o impedia. Até que num dado momento, o pai, que nada fazia a não ser observar a cena, não suportando mais a inquietação do filho, deu um berro dizendo “segura esta bolsa, menino inútiiiil!”. Não preciso aqui dizer o quanto aquelas palavras me doeram. A minha empatia com a criança foi automática. Mas, também não julguei a atitude do pai, pois a atitude dele foi a tradução da ignorância do que seria melhor a fazer em um momento desses, de como agir diante o comportamento de seu filho, algo comum entre muitos pais. O garoto, então com uma expressão mais decepcionada, teve que se contentar em ficar ali até que sua mãe terminasse a tão longa troca de fraldas. Muitos pais podem não observar, mas seja atento à forma como você está se comunicando com seu filho. O correto não é mudar a individualidade, mas ir regulando e adequando os comportamentos. Agindo assim, você permitirá que a criança também se aceite, consiga separar o que ela é da forma como ela age. Saber separar isso é a base para a autoestima.

2 Quando você foca no comportamento ao invés da individualidade, você dá oportunidade ao seu filho de compreender que, se ele agiu errado, também poderá agir de forma certa, deixando a autoestima intacta e promovendo a aprendizagem de novos comportamentos mais assertivos e mais positivos. E, mesmo quando você estiver corrigindo a atitude de seu filho, não deixe de validar o que motivou ela agir daquela maneira, passando a mensagem que ele é compreendido como uma pessoa digna. Ou seja, muitos pais gostam de desvalorizar a experiência dos filhos: Isso é coisa de criança! Isso é bobagem! A este pai está faltando empatia! Que é exatamente você entender os sentimentos da criança, se pôr no nível de compreensão dela. O problema ou dificuldade pode ser irrelevante para você, mas pode ser um dos dilemas mais graves que o seu filho tenha enfrentado até então, no ainda escasso mapa de mundo dele. Como um simples exemplo, o pai do garoto poderia ter dito ao filho que entende que ele está ansioso para brincar, mas que esta precisando da ajuda dele naquele momento, para trocar as fraldas.

Demonstre apreciação e admiração Tão importante quanto moldar e regular os comportamentos do seu filho é valorizar e demonstrar apreço por aquilo que ele faz. É fazê-lo se sentir especial mesmo quando erra, falha ou tem dificuldades, e não só quando sentimos orgulho de seus talentos. Os pais se mantêm ao lado dele nos erros e nos acertos, com amor, com carinho, com incentivo e suportando a sua frustração, mas sem tirar-lhes a responsabilidade pelo fracasso, como veremos mais a frente. “Quando eu brinco contigo eu não atendo o telefone, mesmo que ele toque”. O teu filho também pode sentir-se especial e admirado através das atividades lúdicas com você. Passe a mensagem para a criança que quando você está com ela, nada mais importa. Transmita essa mensagem, não de uma forma verbal, mas comportamental. É importante que o teu filho perceba que existem momentos que são destinados apenas a ele, que ele é o centro de todas as atenções nesse período. Durante estes momentos especiais, dedique-se às coisas que a criança gosta de fazer, dando-lhes a oportunidade de relaxar e exibir os seus pontos fortes, mas igualmente sentir-se apoiada e confiante para poder falhar. Pratique o que eu chamo de doação total (DT), que é a atenção total (visual, auditiva, cinestésica e pensamentos) e empatia, entrando no mundo da criança e não tentando trazê-la para o seu mundo. Ou seja, interesse-se pelo que ela quer fazer, não tente fazê-la se interessar pelos seus interesses.

Crie empatia com a criança se relacionando em DT Como dito anteriormente, muitos pais desvalorizam as experiências, as dificuldades e, sobretudo, como os resultados disso influenciam na forma como as crianças se sentem. Isso é pura falta de empatia (que, do grego empátheia, significa entrar no sentimento). Cabe ao pai ‘descer’ ao mundo da criança, se por no lugar dela, não o contrário. Diante de alguns cenários de dificuldades, como nas tarefas escolares, ou nas atividades do dia-a-dia da criança, quando o tempo é curto e a paciência acaba, os pais podem recorrer a verbalizações nocivas. Por vezes, embora bem-intencionado, podem dizer: “Você nunca me escuta!” ou “Porque não usa a cabeça?” ou “Não aguento mais te dizer como se faz” ou “Que burra!”.

3 Se teu filho está tendo dificuldades, seja empático! Quando eu era garoto, estava muito preocupado em estudar para uma prova da escola. Sentia receio de sair mal no teste e decepcionar minha mãe que, como muitos pais brasileiros, tanto se esforçava para garantir meus estudos. Estava tão preocupado que mal conseguia me concentrar nos livros. Minha mãe percebendo minha ansiedade, veio me perguntar por que eu estava assim. Resolvi contar-lhe a verdade. Ela olhou em meus olhos e disse: “Você pode escolher desistir ou se dedicar. Se esforce ao máximo. Se você não conseguir, pelo menos se dedicou. E na próxima oportunidade será mais fácil. Estou do seu lado.” Foi o que eu precisava ouvir para voltar a me concentrar nos estudos, resultando na minha aprovação. Se teu filho está tendo dificuldade com os estudos por exemplo, seja empático dizendo à ele que você compreende e valida os problemas dele. Aproveite a oportunidade para ajudá-lo calmamente a encontrar as soluções possíveis para o problema, ou outras formas de se comportar, como veremos a seguir.

Incentive a resolução de problemas e tomada de decisão A autoestima elevada está lado a lado com o sentimento de “eu posso” e a habilidade para resolver problemas. Com isso em mente, incentive teu filho a pensar sobre possíveis soluções quando confrontado com dificuldades. Se a criança colocar questões sobre o que deve fazer, se pode fazer, ou como pode fazer, diga que ela já tem capacidade para pensar sobre o assunto. Faça perguntas de qualidade, como: O que você quer ou pretende fazer? Porque quer fazer isso? Como acha que pode fazer isso? Agindo assim, onde você acha que pode chegar? Qual vai ser a consequência disso? Simule junto com o teu filho algumas possíveis situações para ajudar a direcioná-lo à solução e demonstrar as etapas envolvidas na resolução de problemas. É importante que a criança perceba que tem a confiança do adulto para poder tomar decisões, e que tem igualmente capacidade (dentro das suas experiências e respectiva idade) para pensar na solução dos seus problemas. Nesse processo, use palavras como “decisão” e “escolha” muitas vezes. Ressalte as consequências que estas escolhas podem trazer e explique que, se algo não sair como planejado, ela terá a chance de escolher de forma diferente na próxima vez, como sabiamente minha mãe agiu comigo. E se a criança não obtiver êxito, não omita a verdade. Sei que para alguns pais, vendo o esforço do filho, não é uma tarefa fácil dizer-lhe que ele errou, imaginando que pode causar ansiedade, decepção ou constrangimento. Mesmo assim, não cometa o erro de não dizer-lhe a verdade com a desculpa de proteger os sentimentos dele. Não transmita a ideia que ele não foi a responsável pelo fracasso. Distorcer a verdade, dizer que ele “deu o seu máximo” quando na verdade não o fez, protegê-lo da frustração e de gerir o seu próprio fracasso, pode fazê-lo acreditar que não pode melhorar. Errar é um processo de aprendizagem. Você pode ser sincero sem a necessidade de ser “duro”. Dê oportunidade ao teu filho de aprender com os próprios erros, dando-lhe um feedback honesto e baseado na ação e comportamento. Deixe a mensagem: Se desta forma não deu certo, de que outra forma você poderia agir para alcançar seu objetivo?

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Apresente alternativas Imagine a seguinte situação: você está na sala, assistindo teu programa favorito, quando teu filho entra, pega o controle da televisão e, sem pedir permissão, muda para um canal infantil. Qual a sua reação? Em muitos casos é uma reclamação, um grito ou até mesmo um puxão de orelha, não é mesmo? Pois, a minha sugestão é para que você peça-lhe para sair da sala e voltar a entrar, mas desta vez perguntando se pode mudar de canal, como se fosse um jogo de encenação,. O que eu quero dizer é que, se ele agiu de algum modo que você desaprova, indique uma alternativa ao comportamento e peça-lhe para fazê-lo imediatamente. As crianças adoram encenar e certamente irão aceitar esse jogo comportamental. E esta abordagem pode evitar muitas dores de cabeça e conflitos desnecessários. Assim você ensinará à criança o comportamento desejado de uma forma assertiva, sem aborrecimentos, reclamações, repreendas verbais ou atritos, indicandolhe como pretende que ela se comporte na próxima oportunidade.

Promova oportunidades para a criança expressar ajuda Envolva teu filho com pequenas situações do seu dia a dia onde ele possa prestar sua ajuda. Esta é uma ótima maneira de fazê-lo sentir-se bem consigo mesmo e com os outros e ainda contribuirá para aumentar a autoestima, pois as crianças gostam de ajudar os outros. Ao oferecer-lhes oportunidades para ajudar, fará com que sintam que tem algo a oferecer ao mundo. E como já foi dito antes, sempre que se considera autor de algo bem-sucedido, o córtex cerebral derrama uma dose do neurotransmissor dopamina no núcleo acumbente. Quanto mais dopamina, maior a sensação de bem-estar, que é a base de nossa autoestima e satisfação.

Evite críticas, seja positivo com teu filho É importante os pais sempre lembrarem que estão tratando com crianças ao fazerem críticas ou cobranças. Crianças fazem criancices! Algumas vezes, podem ser injustos ao não perceberem que a criança precisa passar por um processo de aprendizagem, até das tarefas que podem parecer simples aos olhos de uma pessoa adulta. Ao falar para teu filho: “Vamos lá, tu não está dando o máximo de si, te esforça um pouco mais!”, pode até parecer um incentivo, mas lembre-se que está lidando com uma criança. Uma coisa é explicar-lhe o valor do esforço e da dedicação para melhorar os resultados. Outra coisa é dizer-lhe para se esforçar mais como se ele não estivesse a se esforçar, pois isto poderá parecer mais uma acusação do que um incentivo. Pode até ser que teu filho se esforce mais, mas se mesmo assim não conseguir melhorar, abalará profundamente a autoestima dele. Provavelmente, pensará que o problema é com ele, que ele não tem capacidade, porque mesmo se dedicando ao máximo não alcançou o objetivo dele ou, o que pode ser pior, o objetivo dos pais. Se teu filho continuar com dificuldades, incentive-o para tentar de maneiras diferentes. Ajude-o na busca de alternativas, o que reforça a resolução de problemas e desenvolve as habilidades. A criança não se sentirá acusada e, assim, não ficará na defensiva.

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Elogie baseado em fatos O elogio é uma ferramenta transformadora e uma necessidade humana! Elogiar teu filho é uma forma de transmitir-lhe a mensagem que você o aprecia. Ele aprende a reconhecer e a valorizar os seus próprios esforços e talentos. Então, comece a focar as qualidades do teu filho, tendo em mente que o que ele faz bem, eu elogio; o que ele faz mal, eu o ajuda a melhorar. O que eu foco, expande! Mas, esta ferramenta deve ser usada com cautela e com sabedoria. Elogie apenas quando existir um motivo que justifique e que permita teu filho perceber qual foi este motivo. Dê preferência a elogiar o esforço, às atitudes, à disciplina, ao empenho e a alguns valores que ele possa expressar, como a amizade, solidariedade, empatia, simpatia, entre outros. E, atenção: não elogie de forma intensiva a inteligência da criança, não reforce o seu amor por ela ou o quanto ela é especial para você, associando isso ao seu desempenho ou talento. O amor é incondicional e associá-lo a resultados, a desempenhos ou a características do teu filho pode ser desastroso. Demonstre que, na verdade, o bom desempenho ou o aumento de suas habilidades foi consequência de seu empenho e comportamento. Estudos mostram que quando as crianças são elogiadas por terem algum talento ou capacidade acima da média, isso as deixa mais inseguras quando são confrontadas com novos desafios, querendo evitar a frustração ou a decepção dos adultos. Pode ocorrer também uma distorção da percepção do elogio. Ao elogiar a inteligência da criança, por exemplo, ela pode pensar: “Se eu sou inteligente, eu não preciso me esforçar” ou “Só se esforça quem não é inteligente”. (Repetição de parte do capitulo Elogio, de Autoconsciência)

Certa vez foi realizado um teste de QI com dois grupos de alunos. Terminado o teste, os pesquisadores davam as notas aos estudantes, e encerravam a conversa com um elogio. Um grupo ouvia "Você deve ser muito inteligente para conseguir esse resultado". O outro grupo ouvia: "Você deve ter se esforçado muito para conseguir esse resultado". As provas seguintes continham testes fáceis e difíceis. Os alunos elogiados pela inteligência, por se sentirem mais pressionados em dar bons resultados, acabavam escolhendo os testes mais fáceis ou não se saiam muito bem nas provas mais difíceis. Eles não se importavam mais em ser inteligentes, eles agora queriam “parecer inteligentes” para atender às expectativas dos adultos, e para isso, acabavam escolhendo os testes mais fáceis enquanto os esforçados escolhiam os testes mais difíceis. Na cabeça do aluno elogiado pelo esforço, o pensamento era outro: se passou por esse desafio, pode vencer o próximo - basta tentar. Por isso o elogio deve ser dirigido para o processo, e não para o resultado. Sempre para as atitudes, nunca para a pessoa. Agora, evite elogiar o esforço quando a criança falhar. Estudos mostram que ser elogiado pelo “esforço” depois de falhar não só faz as crianças sentirem-se estúpidas, como transmite a ideia de que elas não podem melhorar. Restrinja-se simplesmente a orientar ou informar à criança onde ocorreu o erro. Se o esforço não foi o problema,

6 ajude-a a descobrir o que foi e o que pode ser feito para melhorar o processo que a levou ao erro ou ao comportamento inadequado. Exemplos de quando o elogio não chega como deveria Pai diz: "Olha só que lindo gol você fez! Você tem talento, vai ser o próximo Romário!" Filho pensa: "Treinar para que, se eu já sei o que fazer?!" Forma correta: "Adorei como você jogou hoje. Seu treino e esforço tem dado resultado!" Professor diz: "Ótima prova! Você é muito inteligente!" Aluno pensa: "Vou estudar mais esta matéria e deixar as outras um pouco de lado para continuar me saindo bem..." Forma correta: "Você realmente se empenhou. Gosto muito quando você se esforça nos trabalhos."

Atitudes a serem evitadas Evite o sarcasmo Como disse o poeta americano James R. Lowell, “O sarcasmo é a arma dos fracos”. O uso de sarcasmo fere a sensibilidade tanto de adultos quanto de crianças. É uma barreira problemática para pais que estão tentando comunicar-se efetivamente com os seus filhos, por tratar-se de uma ferramenta de comunicação muito emocional, muito incisiva nos aspectos negativos da criança, transmitindo sentimentos de desmerecimento, intolerância e amargura por parte dos pais. São palavras dirigidas à autoestima e ao autoconceito da criança. São mensagens destrutivas sem qualquer intenção de orientação e assertividade. Evite transmitir culpa É comum a muitos pais e professores a estratégia de fazer a criança se sentir culpada pelo seu comportamento. Fazer a criança se por no lugar de outra pessoa numa determinada situação é bastante válido e ensina empatia. Mas, muitas vezes, os adultos tentam fazer seus filhos se sentirem culpados, levando esta questão até o limite, usando de “chantagens emocionais” com a criança. Os pais que usam o sentimento de culpa para controlar a criança correm o risco de lhes provocar alienação. Volto aqui a dizer: criança faz criancice! Entenda que uma criança ainda não sabe lidar com o sentimento de culpa exagerado. Alguns pais chegam ao extremo de transmitir a culpa de seus próprios fracassos aos filhos. Acusações do tipo “eu me mato de trabalhar para te sustentar” ou “não dormi a noite inteira por tua culpa” são judiações com a mente de uma criança despreparadas para se defender racional e emocionalmente de tais acusações.