16 teologia puritana. Veja Richard Barcellos, The family tree of Reformed biblical theology (Palmdale: Reformed Baptist Academic Press, 2010)

Prefácio As mil e tantas páginas e mais de meio milhão de palavras que você tem em mãos agora constituem a maior e mais abrangente exposição feita at...
29 downloads 0 Views 200KB Size
Prefácio

As mil e tantas páginas e mais de meio milhão de palavras que você tem em mãos agora constituem a maior e mais abrangente exposição feita até hoje da teologia dos puritanos ingleses. É uma façanha notável, fruto de muitas décadas de leitura, pesquisa e reflexão por seus autores. O doutor Joel R. Beeke e o doutor Mark Jones são ambos especialistas em teologia puritana, tendo publicado inúmeros textos sobre o assunto. Aqui uniram suas respectivas bagagens para produzir uma obra com exposição e análise de tanta envergadura que, com certeza, levará muitos anos até que se tente algo semelhante de novo. Nesta obra há algo para todos. Teologia puritana é uma verdadeira obra biográfica sobre os principais pensadores da era puritana. Aqui o leitor do século 21 pode se imaginar voltando às cidades de Londres, Cambridge e Oxford do século 17 para estar em contato com uma das mais surpreendentes irmandades espirituais da história do cristianismo de fala inglesa. Encontra­ mos William Perkins, cuja pregação causou um impacto tão grande na cidade e na universidade de Cambridge que quando, dez anos depois da morte de Perkins, Thomas Goodwin, ainda jovem, se matriculou na universidade, “a cidade ainda estava tomada pela pregação [de Perkins]”. E isso é apenas o início, pois logo encontramos os dois gigantes do congregacionalismo, Thomas Goodwin e John Owen, bem como o mestre da exposição da lei de Deus, Anthony Burgess; o expositor textual sistemático e capelão do rei, Thomas Manton; o “doce encorajador”, Richard Sibbes; o homem imerso em Deus, Stephen Charnock; o comentarista Matthew Henry; e muitos outros. Quando voltamos ao mundo da igreja do século 21, é impossível deixar de sentir que naqueles dias havia gigantes na terra. São demasiados os aspectos de destaque neste livro para relacioná-los adequadamente. A vasta gama da teologia abrangida — cada tópico do saber teológico é abordado — é de tirar o fôlego. A atenção dedicada a alguns dos mais importantes pensadores, pregadores e escritores (homens que em nível

Teologia_puritana.indb 15

8/22/16 9:20 AM

16

teologia puritana

surpreendente eram as três coisas ao mesmo tempo) deixa marcas profundas. Mas neste amplo contexto, certos destaques estão destinados a causar impacto até mesmo no leitor apressado destes sessenta capítulos. O primeiro é a profundidade com que esses homens — que passaram a maior parte da vida no ministério pastoral — estudavam e conheciam as Escrituras. Com frequência, fica a sensação de passagens e textos estarem sendo expostos contra a luz tal como um diamante recém cortado que é vira­ do lentamente a fim de que cada faceta reflita a luz. Eram teólogos bíblicos nos dois sentidos do termo: tanto no sentido de que extraíam sua teologia da Bíblia quanto no sentido mais moderno de compreender e estar interessados em expor o fluxo unificado da história da salvação, vendo cada um de seus elementos em seu devido lugar na história. Para muitos que nunca leram os puritanos detalhadamente, pode parecer incompreensível a afirmação recente de um estudioso de que como teólogo bíblico, John Owen está no mesmo nível (se não superior!) de Geerhardus Vos;1 mas quem leu detalhadamente as obras desses homens jamais imaginaria que eram meros “catadores de tex­ tos-prova” interessados apenas numa declaração aqui e numa expressão ali. Seu entendimento de que as Escrituras estão basicamente interconectadas é de fato impressionante. Por esse motivo, neste livro a análise da teologia da aliança ocupa cerca de cem páginas. Em segundo, no entanto, embora fossem biblistas no melhor sentido da palavra (afinal, acreditavam que as Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos são a Palavra de Deus), também tinham profunda consciência de que foram chamados a compreender junto “com todos os santos” a largura, o compri­ mento, a altura e a profundidade do amor de Deus (Ef 3.18). Assim, embora com frequência se pensasse neles como apenas “calvinistas”, eles mesmos tinham profunda consciência de que pertenciam a uma tradição mais antiga e mais ampla do que apenas aquela de Genebra. Aliás, um exemplo disso é que é bem mais provável encontrá-los citando Agostinho do que Calvino. Tinham consciência, assim como Bernard de Chartres, de que eram “anões sentados nos ombros de gigantes para que pudessem enxergar mais longe do que estes”.2 Além disso, fica claro, no entanto, que a “irmandade puritana” era forma­ da por homens que pensavam de forma teológica, profunda e com devoção à oração. Ler suas obras — seja sobre a Trindade, sobre a pessoa de Cristo, ou sobre a santidade do cristão — é entrar numa atmosfera diferente e mais rarefeita do que aquela a que, em geral, estamos acostumados. Quando, por 1 Veja Richard Barcellos, The family tree of Reformed biblical theology (Palmdale: Reformed Baptist Academic Press, 2010). 2 John of Salisbury, The metalogicon of John of Salisbury: a twelfth-century defense of the verbal and logical arts of the trivium, tradução para o inglês, introdução e notas de Daniel E. McGarry (Berkeley: University of California Press, 1955), p. 167.

Teologia_puritana.indb 16

8/22/16 9:20 AM

Prefácio

17

exemplo, descobrimos que a origem de On the mortification of sin [Sobre a mortificação do pecado],3 um dos mais famosos estudos de John Owen, são sermões pregados a uma congregação formada em grande parte por jovens estudantes da Universidade de Oxford, com menos de vinte anos de idade, é provável que fiquemos pasmos. Mas então, ao considerarmos o assunto, começamos a entender que Owen e seus companheiros agiram corretamente: deve-se ensinar aos crentes em Cristo sobre como lidar com o pecado antes de sermos engolidos pelo pecado em virtude de nossa ingenuidade acerca da nossa própria força espiritual e de nossa ignorância por falta de ensino bíblico. Estas páginas não estão repletas de complexidades e obscuridades, tampou­ co são leitura fácil. Somos lembrados, mais uma vez, de algumas palavras do jovem John Owen (um tanto ferino aos trinta anos de idade) quando introduz sua obra The death of death in the death of Christ [A morte da morte na morte de Cristo] com alguns comentários para o leitor: Se pretendes ir além, suplico-te que permaneças um pouco aqui. Se és, como muitos desta era dissimulada, um admirador de títulos acadêmicos, e vens aos livros como Cato vai ao teatro, para logo ir de novo embora — tiveste tua diversão; adeus!4

Contudo, se você partilha do interesse dos puritanos em pensar biblicamente a fim de viver para a glória de Deus, estas páginas se revelarão uma mina de ouro e um exemplo daquilo que Paulo chamou de “pleno conhecimento da verdade, que leva à [i.e., está de conformidade com a] piedade” (Tt 1.1). Aqui há, então, um raro achado: um tesouro de riqueza teológica, inte­ lectual, espiritual e prática. Tornamo-nos devedores ao doutor Beeke e ao doutor Jones, e somos gratos por isso. De maneira que, visto que no fundo os puritanos se consideravam seguidores de Agostinho, tudo que resta a ser dito pode ser expresso nas palavras que levaram à grande mudança na vida dele: Tolle lege — apanhe o livro e leia-o! Sinclair B. Ferguson First Presbyterian Church Columbia, South Carolina, EUA

3 Esse estudo pode ser encontrado em William H. Goold, org., The works of John Owen (Edin­ burgh: Johnstone and Johnstone, 1850-1853), 6:1-86 [edição em português: A mortificação do pecado, tradução de Gordon Chown (São Paulo: Vida, 2005)]. 4 In: William H. Goold, org., The works of John Owen (Edinburgh: Johnstone and Johnstone, 1850-1853), 10:149.

Teologia_puritana.indb 17

8/22/16 9:20 AM

Teologia_puritana.indb 18

8/22/16 9:20 AM

Agradecimentos

Em qualquer livro deste tamanho seus autores precisam agradecer profun­ damente a um bom número de pessoas. Eu, Joel Beeke, quero agradecer ao Mark Jones, meu coautor, sua notável cooperação na redação deste livro. Há bem poucos estudiosos reformados no mundo com quem é tão fácil trabalhar como Mark Jones! Originalmente, ele me enviou vários capítulos sobre a ideia puritana das alianças das obras e da graça, pedindo que eu as considerasse para publicação. Quando compartilhei com ele minha visão de escrever uma espécie de “teologia sistemática puritana”, a qual pensava fazer depois de me aposentar de lecionar, ele demonstrou entusiasmo em escrever o livro comigo. Esbocei uma proposta de setenta e poucos capítulos, o que o deixou atônito (e também a mim!). Reduzimos para trinta capítulos, mas, depois, o projeto cresceu para sessenta. Em todo o processo, Mark foi diligente e prestativo. Mark, sem você, dez ou vinte anos mais teriam sido necessários para que este livro visse a luz do dia, e ele não teria saído tão bom. Também tenho profunda gratidão ao meu professor assistente, Paul Smalley, por sua ajuda na redação de vários capítulos, além de ser coautor comigo de quatro capítulos (6, 11, 12 e 28). Sou grato em particular pelos nossos momen­ tos diários de oração juntos, que incluíram muitas súplicas de bênção divina sobre esta obra. Paul, seu coração de servo, seu amor pela teologia puritana e seu crescente conhecimento dos puritanos têm sido para mim uma fonte de grande alegria e força. Agradeço também a meus outros amigos coautores: Jan Van Vliet (capítu­ lo 3), Sinclair B. Ferguson (capítulo 10), James A. La Belle (capítulos 26 e 56), Tim Worrell (capítulo 37) e Matthew Westerholm (capítulo 44). Também agra­ deço ao Sinclair seu excelente prefácio. Todos vocês têm sido uma enorme fonte de encorajamento. Esses capítulos foram lidos, revisados e/ou editados (todos ou em parte) por Kate DeVries, Tammy Ditmore, Annette Gysen, Ray B. Lanning, Phyllis

Teologia_puritana.indb 19

8/22/16 9:20 AM

20

teologia puritana

Ten Elshof e Irene VandenBerg. Agradeço de coração a cada um de vocês o excelente trabalho. Vocês foram persistentes e brilhantes em sua dedicação. Tanto Mark quanto eu queremos agradecer à equipe da editora Reformation Heritage Books a ajuda inestimável que nos prestou. Steve Renkema, a empolga­ ção que, como gerente da editora, você demonstrou com a publicação deste livro evitou que fôssemos atrás de outra casa publicadora. Jay Collier, sua lealdade e atenção com os detalhes nos ajudaram a tornar este livro melhor. Agradecemos à Laura Mustafa por levantar informações bibliográficas de algumas notas de rodapé “rebeldes” e ao Jonathon Beeke por compilar a bibliografia. Também agradeço ao Gary e à Linda den Hollander, minha fiel equipe de conferência de texto e de composição tipográfica, e à Amy Zevenbergen a arte da capa. Os livros antigos que aparecem na capa são amostras de obras bastante usadas, que pertencem ao nosso Puritan Resource Center, sediado no Puritan Reformed Theological Seminary. Às minhas equipes no Puritan Reformed Theological Seminary (PRTS) e na Reformation Heritage Books e à Heritage Netherlands Reformed Congregation de Grand Rapids, onde sirvo como pastor, agradeço o encorajamento e a paciência durante o perío­ do em que estou escrevendo algum livro. Um agradecimento em particular vai para meus colegas de seminário Gerald Bilkes, David Murray e William VanDoodewaard, e para meus colegas de ministério Foppe VanderZwaag e Maarten Kuivenhoven. Eu não poderia ter melhores colegas como companheiros de trabalho, nem uma equipe melhor. Também agradeço a todos os nossos alunos e ex-alunos do PRTS, junto com alunos de outros seminários ao redor do mundo, bem como a participantes de conferências, aos quais lecionei teologia puritana. Vários destes capítulos se desenvolveram a partir de aulas de seminário em minha disciplina de Teologia Puritana ou a partir de palestras sobre aspectos do pensamento puritano dadas em conferências em vários países. Mary, minha querida e fiel esposa, é fonte constante de inspiração. Agradeço-lhe sua notável devoção a mim e a meu trabalho. Sem ela, eu não conseguiria fazer metade daquilo que tenho o privilégio de realizar. Sou grato a meus amorosos filhos, Calvin, Esther e Lydia, cuja bondade para comigo me causa profunda humildade. Acima de tudo, sou grato a meu Deus (triúno) e Salvador, que, à medida que envelheço, se faz cada vez mais amável para comigo. Com certeza, posso concordar com Samuel Rutherford (1600-1661) que não sei qual pessoa divina amo mais — o Pai, o Filho ou o Espírito Santo — mas sei que amo cada um deles e preciso de todos eles. Algo que me atraiu para os puritanos, sobre os quais comecei a ler cinquenta anos atrás aos nove anos de idade, é a obsessão deles pelo Deus triúno. Cada vez mais cobiço seu centrismo trinitário, tanto como teólogos quanto como crentes em Cristo.

Teologia_puritana.indb 20

8/22/16 9:20 AM

Agradecimentos

21

Quanto às influências passadas que despertaram em mim o amor pela leitura dos puritanos, minha maior dívida é para com meu pai, John Beeke, e as conversas práticas que tivemos em minha adolescência. Tais conversas reforçaram o ensino dos livros com as obras dos puritanos na estante dele, as quais devorei. Também agradeço a Iain Murray e ao Banner of Truth Trust pelos livros aos quais tive acesso, a Sinclair B. Ferguson e sua paixão por John Owen e a D. Clair Davis e seu incentivo enquanto eu estudava a ideia puritana da certeza da salvação para minha tese de doutorado no Westminster Seminary.

••• Eu, Mark Jones, quero agradecer a várias pessoas que direta ou indiretamente tornaram possível esta obra. Estudiosos que têm tido grande influência sobre mim incluem os professores Ernestine van der Wall, Michael A. G. Haykin, Richard A. Muller, Willem J. van Asselt e Crawford Gribben. Quero reconhecer minha dívida intelectual para com todos eles. Os seguintes amigos se destacam como os que de alguma maneira ajudaram neste projeto: Ruben (e Heidi) Zartman, D. Patrick Ramsey, Rowland Ward, Benjamin Swinburnson, Ryan Kelly, Jed Schoepp, Paul Walker, Jonathan Bos, Michael Dewalt e Cornelius Ellebogius. Alguns dos capítulos meus neste livro foram escritos em coautoria. Tive o privilégio de escrever dois capítulos com meus mentores: Mark Herzer (29) e Bob McKelvey (51). Foram meus professores no seminário e, nesta vida, sempre estarão acima de mim na doutrina e na vida. Michael Haykin (27), Danny Hyde (41), Ryan Kelly (39), Gert van den Brink (8) e Ted van Raalte (45) também foram coautores de capítulos comigo. Não é nenhum exagero dizer que os capítulos em coautoria estão muito melhores do que estariam caso eu os tivesse escrito sozinho. Leitores tirarão proveito do alto valor acadêmico deles, assim como eu. Agradeço igualmente ao Hunter Powell toda sua ajuda. Devo muito a meu coautor, Joel Beeke. Anos atrás, eu jamais teria sonhado em escrever com ele uma obra tão importante sobre a teologia puritana. Por meio de vários acontecimentos providenciais, porém, recebi este privilégio maravilhoso, e só espero que meu trabalho não esteja fora de lugar ao lado do dele. Ele é um puritano contemporâneo tanto no conhecimento quanto na piedade. Não foi pouco o tempo despendido na escrita deste livro. Sou profunda­ mente grato aos membros de minha igreja, a Faith Vancouver Presbyterian Church. Parte do tempo que dediquei a este livro poderia talvez ter sido gasto com eles. De coração, agradeço o sacrifício que fizeram em tornar realidade este projeto.

Teologia_puritana.indb 21

8/22/16 9:20 AM

22

teologia puritana

Com o nascimento de nossos gêmeos, Thomas e Matthew, em julho de 2010, tive minhas dúvidas se este livro chegaria a ser publicado. Junto com as responsabilidades já importantes de criar meus outros dois filhos da aliança, Katie e Josh, reconheço com alegria a ajuda de minha esposa, Barbara, cujo amor, paciência e encorajamento são, humanamente falando, as principais razões de este livro estar agora concluído. Ao Deus triúno, que me amou com amor eterno e que continuará me amando para sempre por causa de Jesus Cristo, uno-me ao apóstolo Paulo na doxologia: “Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A ele seja a glória eternamente! Amém” (Rm 11.36). Joel R. Beeke e Mark Jones

Teologia_puritana.indb 22

8/22/16 9:20 AM

Introdução

A palavra “puritano” teve origem na década de 1560 de forma um tanto pe­ jorativa, aplicada a pessoas que desejavam uma reforma mais abrangente e profunda na Igreja da Inglaterra. Embora alguns historiadores sociais enten­ dam que se deva abandonar o termo por causa das várias formas como foi empregado durante os séculos 16 e 17, outros que se identificam como refor­ mados ou calvinistas defendem que se continue a usar os termos “puritano” e “puritanismo”. Este livro trata de teologia puritana. Seus capítulos examinam várias áreas da teologia sistemática do puritanismo. Já existem excelentes estudos sobre a teologia puritana. Alguns tratam dos puritanos em geral,1 outros se concentram na obra de um determinado teólogo puritano.2 Mas até a presente data não há nenhuma obra específica que apresente uma visão panorâmica, tanto histórica quanto sistemática, do pensamento puritano sobre as principais doutrinas das Escrituras. Esperamos que este livro preencha essa lacuna. Iniciaremos dizendo o que cobriremos e o que não cobriremos — e as razões para isso.

Os puritanos e o puritanismo Uma das tarefas mais difíceis para o historiador da igreja é definir puritanismo.3 Não é exagero afirmar que uma definição exaustiva dobraria o tamanho desta introdução. Assim mesmo, cabem algumas observações. 1 Veja, p. ex., Geoffrey Nuttall, The Holy Spirit in Puritan faith and experience (Chicago: University of Chicago Press, 1992); Ernest Kevan, The grace of law: a study in Puritan theology (1964; reimpr., Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2011). 2 Veja, p. ex., J. I. Packer, The redemption and restoration of man in the thought of Richard Baxter: a study in Puritan theology (Vancouver: Regent College, 2000). 3 Sobre essa questão, veja Joel R. Beeke, The quest for full assurance: the legacy of Calvin and his successors (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1999), p. 82, n. 1; Joel R. Beeke; Randall J. Pederson, Meet the Puritans: with a guide to modern reprints (Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2006), p. xiii-xix [edição em português: Paixão pela pureza: conheça os puritanos; tradução de Odayr Olivetti (São Paulo: PES, 2010)] ; Ralph Bronkema, The essence of Puritanism (Goes: Oosterbaan and

Teologia_puritana.indb 23

8/22/16 9:20 AM

24

teologia puritana

De acordo com John Coffey e Paul C. H. Lim, “O puritanismo foi um tipo de protestantismo reformado alinhado com as igrejas calvinistas da Europa continental e não com as luteranas”.4 Afirmam que o puritanismo foi uma “forma especial e bastante vigorosa do início do protestantismo reformado moderno, tendo se originado na Igreja da Inglaterra, como produto daque­ le ambiente peculiar e suas tensões. No reinado de Elizabeth I, a Igreja da Inglaterra era amplamente considerada uma Igreja Reformada”.5 Sem dúvida, teólogos puritanos eram em sua maioria reformados ou calvinistas. Assim mesmo, não insistimos que os puritanos eram exclusivamente reformados. Definir ortodoxia reformada é algo complexo, mas documentos confessionais — tais como As Três Formas de Unidade6 e as Normas de Westminster7, estas últimas sendo mais relevantes para este livro — nos fornecem um resumo preciso da teologia reformada. Richard Baxter (1615-1691) era, com certeza, puritano, mas não reformado à maneira de William Perkins (1558-1602), Thomas Goodwin (1600-1680) e John Owen (1616-1683). Debates teológicos vigorosos entre Baxter e Owen revelam que suas diferenças iam bem além de questões semânticas. Baxter achava que podia aceitar os Cânones de Dort, mas não nutria semelhante simpatia pelos documentos de Westminster, que excluíam várias de suas ideias, em especial LeCointre, 1929); Jerald C. Brauer, “Reflections on the nature of English Puritanism”, Church History 23 (1954): 98-109; A. G. Dickens, The English Reformation (University Park: Penn State Press, 1991), p. 313-21; Basil Hall, “Puritanism: the problem of definition”, in: G. J. Cumming, org., Studies in church history (London: Nelson, 1965), 2:283-96; Charles H. George, “Puritanism as history and historiography”, Past and Present 41 (1968): 77-104; Richard Mitchell Hawkes, “The logic of assurance in English Puritan theology”, Westminster Theological Journal 52 (1990): 247; William Lamont, “Puritanism as history and historiography: some further thoughts”, Past and Present 42 (1969): 133-46; Richard Greaves, “The nature of the Puritan tradition”, in: R. Buick Knox, org., Reformation, conformity and dissent: essays in honour of Geoffrey Nuttall (London: Epworth, 1977), p. 255-73; John Morgan, Godly learning: Puritan attitudes towards reason, learning, and education, 1560-1640 (Cambridge: Cambridge University Press, 1986), p. 9-22; D. M. Lloyd-Jones, “Puritanism and its origins”, in: The Puritans: their origins and successors (Edinburgh: Banner of Truth, 1987), p. 237-59 [edição em português: Os puritanos: suas origens e seus sucessores (São Paulo: PES, 1993)]; J. I. Packer, A quest for godliness: the Puritan vision of the godly life (Wheaton: Crossway, 1990), p. 21-36; Tae-Hyeun Park, The sacred rhetoric of the Holy Spirit: a study of Puritan preaching in pneumatological perspective (Apeldoorn: Theologische Universiteit Apeldoorn, 2005), p. 73-5; Leonard J. Trinterud, “The origins of Puritanism”, Church History 20 (1951): 37-57. 4 John Coffey; Paul C. H. Lim, “Introduction”, The Cambridge companion to Puritanism (Cambridge: Cambridge University Press, 2008), p. 2. 5 Coffey; Lim, “Introduction”, The Cambridge companion, p. 3. 6 Normas doutrinárias das igrejas reformadas holandesas e as denominações-irmãs fora dos Países Baixos: a Confissão Belga, o Catecismo de Heidelberg e os Cânones de Dort. 7 Normas principais (Confissão de Fé, Catecismos Maior e Menor) e secundárias (Normas para o Culto Público a Deus, Forma de Governo Eclesiástico Presbiterial e The sum of saving knowledge [A essência do conhecimento salvífico]).

Teologia_puritana.indb 24

8/22/16 9:20 AM

Introdução

25

aquelas sobre a expiação e a justificação. E, conquanto tenha contribuído com outros pastores na redação de A new confession of faith, or the first principles of the Christian religion necessary to bee laid as a foundation by all such as desire to build on unto perfection (1654) [Uma nova confissão de fé, ou os primeiros princípios da religião cristã que devem ser lançados como alicerce por todos aqueles que desejam neles edificar rumo à perfeição], Baxter não aprovou sua forma final. E mais, acusou Owen, Goodwin e Thomas Manton (1620-1677) de não possuírem o discernimento exigido para tal empreitada. Considerado em retrospectiva, o puritanismo era mais diversificado do que podia parecer. É preciso entender com cuidado o emprego do vocábulo como termo teológico neste livro. Não é apenas Baxter que desafia uma classificação; isso também ocorre com John Goodwin (1594-1665), arminiano; John Milton (1608-1674), possivelmente ariano; John Bunyan (1628-1688), batista; e John Eaton (c. 1575-c. 1631), antinomiano — todos com frequência considerados puritanos. Coffey e Lim propõem que “batistas calvinistas eram, por exemplo, amplamente reconhecidos como ortodoxos e piedosos, e a igreja nacional puritana do período de Cromwell incorporou alguns batistas lado a lado com presbiterianos e congregacionais”.8 Entretanto, a imensa maioria dos puritanos fazia parte do movimento teológico mais amplo denominado ortodoxia reformada.9 É certo que o Parla­ mento inglês desejava que a fé da nação fosse entendida como reformada e protestante. O propósito maior da convocação da Assembleia de Westminster foi assegurar “uniformidade de religião” nos três reinos da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Mas isso não significou que os puritanos sempre concordaram em questões de teologia. Mantiveram debates acalorados sobre várias doutrinas (para não mencionar questões de liturgia e governo eclesiástico), conforme se verá nos capítulos seguintes.10 Mas estavam unidos no esforço de derrotar os erros do semipelagianismo católico-romano, do antitrinitarismo sociniano e do livre-arbítrio arminiano. Opuseram-se a católicos romanos tais como o pregador jesuíta Roberto Bellarmino (1542-1621). Rejeitaram o socinianismo, Coffey; Lim, “Introduction”, Cambridge companion, p. 5. Falando acerca do Estatuto da Uniformidade de 1662, pelo qual os puritanos foram expul­ sos da Igreja da Inglaterra, Carl Trueman observa que isso “assegurou que a teologia reformada defendida pela maioria deles deixaria de ser uma força importante nessas três esferas [política, educacional e eclesiástica]”. “Puritan theology as historical event: a linguistic approach to the ecumenical context”, in: Willem J. van Asselt e Eef Dekker, orgs., Reformation and Scholasticism: an ecumenical enterprise (Grand Rapids: Baker, 2001), p. 253. Para uma breve análise da ortodo­ xia reformada, veja Richard A. Muller, After Calvin: studies in the development of a theological tradition (New York: Oxford University Press, 2003), p. 33ss. 10 Sobre esse assunto, veja tb. Michael A. G. Haykin; Mark Jones, orgs., Drawn into controversie: Reformed theological diversity and debates within seventeenth-century British Puritanism (Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 2011). 8 9

Teologia_puritana.indb 25

8/22/16 9:20 AM