O PAPEL DA COMUNIDADE ESCOLAR FRENTE AO (DES)INTERESSE DOS ALUNOS AO LONGO DO ENSINO FUNDAMENTAL

O PAPEL DA COMUNIDADE ESCOLAR FRENTE AO (DES)INTERESSE DOS ALUNOS AO LONGO DO ENSINO FUNDAMENTAL Professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental...
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O PAPEL DA COMUNIDADE ESCOLAR FRENTE AO (DES)INTERESSE DOS ALUNOS AO LONGO DO ENSINO FUNDAMENTAL Professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Beck Filho1 Bianca Chiaradia - Orientadora Bruna Conrado - Orientadora

Resumo

O presente artigo foi elaborado a partir de vivências e reflexões dos docentes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Beck Filho, situada no interior da cidade de Nova Petrópolis/RS diante da construção de um projeto de pesquisa oportunizado pelo curso “Escola e pesquisa: um encontro possível” (NEPSO), realizado pela Universidade de Caxias do Sul em parceria com a Prefeitura Municipal de Nova Petrópolis. O projeto de pesquisa foi construído diante da realidade vivenciada na escola, a qual gerava indagações a respeito do (des)interesse dos educandos frente o processo de ensino e aprendizagem, sendo que a mesma é denominada escola do campo e possui seu corpo discente formado por 102 alunos. Ao final da pesquisa quantitativa a escola percebeu que em parceria com a prefeitura do município precisaria repensar sua prática e afirmar-se como escola do campo, para assim, aproximar-se da realidade dos alunos e combater a falta/perda de interesse.

Palavras-chave: Comunidade escolar, (des) interesse, escola do campo

INTRODUÇÃO A Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Beck Filho localiza-se na, Linha Temerária, zona rural do município de Nova Petrópolis, distante 18 quilômetros do centro da cidade. Completará 38 anos de existência, e é composta por 18 professores auxiliados pela direção, supervisão e três funcionárias, contando com a missão de formar pessoas intelectual e eticamente autônomas, que sejam livres para refletir, questionar, criticar e transformar a realidade em que vivem, contribuindo responsavelmente para que ela se torne melhor. Esta pesquisa visou colaborar com o trabalho diário a fim de olhar para a prática pedagógica da escola, portanto, o tema escolhido pela equipe de

1

Alanna Raquel Silva Nunes, Ana Lisete Santa Catarina, Carina Cristiane Schildt, Denise Frozi, Gabriela Casali Spiger, João Luiz Schneider Júnior, Jóice Schwantes, Jonas Daniel Seibt, Jussara Maria Schneider Pellenz, Luciana Freitas Almeida Fernandes, Maria Augusta Spier Kohl, Marta Lucia Weber Pellenz, Rejane Maria Bortoluz, Scheila Tatiane Schenkel, Stefanny Karen Braun Garcia Bartel.

2 profissionais da escola se remete a dificuldade hoje encontrada frente a alunos apáticos e pouco argumentativos. Questionando a partir dessa problemática: o papel da comunidade escolar frente ao (des)interesse dos alunos ao longo do ensino fundamental. No decorrer dos anos, foi possível perceber que os alunos da Escola Pedro Beck Filho vinham perdendo o interesse pelos estudos. Notou-se a falta de entusiasmo na realização das atividades, pouco envolvimento nas produções, resultando em certa apatia em relação ao que era proposto. A partir desta percepção, a equipe de professores, passou a refletir sobre quais fatores poderiam ser responsáveis por esta situação. De acordo com Pozo (2002), “sem motivação não há aprendizagem” (p. 146). Tendo isso em vista, a pesquisa visou compreender os motivos ou influências que levam à falta de motivação, fatores e possíveis causas que geram esse cenário, o porquê dos alunos agirem dessa forma. Em outras palavras, almejou-se através dessa pesquisa, compreender o que motivou essa falta de interesse e encontrar caminhos para construir estratégias de mudanças. Questionou-a priori: o que leva o aluno a ser apático diante de certas propostas? Por que há falta/perda de interesse dos alunos ao longo do ensino fundamental? Os professores da escola tinham como hipóteses iniciais que poderiam estar influenciando e ou reforçando esse sintoma: (1) famílias com pouco acesso à educação, que por vezes priorizam o trabalho aos estudos; (2) o fato de a escola estar inserida numa comunidade localizada no interior da cidade, que possui características de priorização no trabalho; (3) pouco acesso cultural e tecnológico e assim os alunos não vislumbram um futuro em função de uma possível falta de opções e oportunidades que lhes permitam desenvolver novas perspectivas e, portanto isso acarreta a falta de autonomia dos alunos, tornando-os acomodados e passivos diante de diversas situações; (4) a perda de interesse pode estar ligada a fase de desenvolvimento humano em que se encontram; (5) a escola e seus docentes não estão proporcionando suficientemente atividades motivadoras e próximas da realidade do aluno para que este possa desenvolver sua autonomia. A partir do problema de pesquisa definido, e do primeiro levantamento de hipóteses, a escola pesquisou e levantou a opinião da comunidade escolar a fim de compreender o papel da comunidade no combate ao (des)interesse dos alunos de uma Escola do Campo ao longo do Ensino Fundamental.

3 A pesquisa foi desenvolvida com base na pesquisa de opinião através de questionários para todos os componentes da comunidade escolar: família, alunos, professores e funcionários. Para os alunos dos anos iniciais, até o 5º ano, foram questionários realizados no formato de entrevista, aos demais componentes o questionário foi autoaplicado e continham questões abertas e fechadas. É importante ressaltarmos que a construção dos questionários teve o cuidado de situar a sociografia dos entrevistados e ao mesmo tempo envolveu tema e delimitação do tema num crescente de profundidades de modo a captar as compreensões que se encontram com os interlocutores representados nos segmentos que fizeram parte da população e amostra do estudo. As questões foram elaboradas a partir do tema escolhido pelo grupo docente, que inicialmente haviam sido organizadas em três segmentos, sendo eles: Funcionários/professores, pais e alunos, porém no pré-teste percebeu-se a necessidade de criar um quarto segmento, ou seja, dividir o segmento alunos em dois: anos iniciais e anos finais, para facilitar a compreensão das questões por parte dos anos iniciais. Aos alunos dos anos iniciais foi realizada uma entrevista individual por um professor, já os anos finais receberam orientações iniciais e após responderam individualmente em sala de aula. Pais, funcionários e professores também responderam individualmente. Após a aplicação e retorno dos questionários iniciou-se o processo de tabulação, construção de gráficos e interpretação dos dados, os quais foram analisados e transcritos pelo grupo de professores. Como culminância deste trabalho, realizou-se a apresentação para a rede municipal de ensino de Nova Petrópolis. As

reflexões

construídas

ao

longo

deste

processo

encontram-se

sistematizadas na escrita deste artigo. Inicialmente apresenta-se o aluno como protagonista do des(interesse) escolar ao longo do ensino fundamental. Na sequência o papel da família e da comunidade escolar como participantes deste processo. Por fim reflexões sobre as influências e responsabilidades do corpo docente diante da realidade pesquisada, em especial o reconhecimento da escola como portadora de uma identidade de Escola do Campo e a necessidade da mesma em diferenciar-se das demais escolas do município. O conceito de Escola do Campo será aprofundado no terceiro tópico a luz das reflexões e estudos de Martins (2009).

4 1 O aluno como protagonista do (des)interesse escolar "Espero que algo que o que eu escrevi mude algo na escola" (Aluno, 13 anos). "Foi legal pois pude responder algumas questões que nunca ninguém havia perguntado” (Aluno, 14 anos).

Atualmente percebe-se um grande interesse pelos avanços tecnológicos por parte da maioria das crianças e adolescentes, apresentando grandes atrativos que muitas vezes não estão disponíveis no espaço escolar. Isso tem gerado um grande desafio para a escola, a qual precisa estar constantemente inovando suas práticas, levando em consideração as especificidades da mesma, bem como de seus discentes. Discentes esses que muitas vezes demonstram desinteresse e falta de autonomia diante de determinadas situações que ocorrem no espaço escolar. Sabe-se que quando ocorre participação do aluno no processo de ensinoaprendizagem de forma motivadora, este apresentará resultados positivos. Conforme Bonalume (2013), o pensamento, ancorado no desejo, vislumbra o possível e o impossível, permitindo ao sujeito eleger e decidir. Complementando com Fernández (2001) a autoria de pensamento é condição para a autonomia da pessoa e, por sua vez, a autonomia favorece a autoria de pensar. Portanto, é necessário que o sujeito acredite em suas próprias potencialidades de pensar, pois ainda de acordo com a autora, a autoria de pensamento nada mais é que o processo e o ato de produção de sentidos e de reconhecimento de si mesmo como protagonista ou participante de tal produção (FERNÀNDEZ, 2001). Analisando o tema em questão, acreditava-se que nem todos os alunos possuíam acesso às ferramentas tecnológicas, porém percebeu-se que esta hipótese não condiz à nossa realidade, pois a maioria dos alunos possui acesso a tecnologia em suas residências. Outra hipótese elencada era de que os alunos não vislumbravam um futuro em função de uma possível falta de opções e oportunidades que lhes permitam desenvolver novas perspectivas, tomando por vezes uma postura cômoda e passiva. Desse modo, estudar não estava sendo visto como um processo que abriria novas oportunidades, tornando-se, para eles, um processo indiferente em suas vidas. Constatou-se através da pesquisa que muitos educandos (34%) ainda não fizeram planos para o futuro no que se refere ao campo profissional. Alguns (27%) querem sair da zona rural e não pretendem trabalhar na agricultura. Outros (23%)

5 gostariam de permanecer morando na região, mas trabalhar em centros urbanos próximos. Em virtude da faixa etária que se encontram os alunos entrevistados, acredita-se que talvez não possuam ainda uma opinião formada quanto a suas escolhas para o futuro, possivelmente pela pouca idade assim como também por uma possível falta de autonomia e participação nas pequenas decisões do dia-a-dia. Essas características parecem surgir no contexto familiar no qual estão inseridos, pois as famílias são, em sua grande maioria, pequenas e residentes na área rural tendo uma rotina diferenciada na qual os responsáveis acabam realizando todas as tarefas, uma vez que é necessário deslocar-se para centros urbanos para a maioria dos afazeres. Isso pode estar implicando em pouco envolvimento e autonomia por parte dos educandos, pois não vivenciam diariamente estas pequenas situações que exigem esta autonomia. Apesar de verificarmos o desinteresse em relação aos estudos, observamos que o principal motivo de frequentar a escola para a maioria dos entrevistados, é aquisição de conhecimentos. As atividades esportivas e lúdicas, segundo os entrevistados, são as mais atraentes no espaço escolar, estas considerações nos fazem refletir sobre a ação e o importante papel que a escola desempenha frente ao interesse dos educandos. Segundo Zenti (2000), os especialistas no assunto afirmam que os professores devem mostrar aos seus alunos que estudar pode ser divertido. Segundo os resultados da pesquisa realizada, a maioria dos alunos frequenta a escola para adquirir e aperfeiçoar seus conhecimentos, esta constatação se contrapõe à hipótese inicial de que grande parte dos discentes, frequentavam à escola por obrigação ou então para concluir o ensino fundamental.

2 A família e a comunidade como coadjuvantes no desenvolvimento do sintoma “Uma segunda casa, acho que é um complemento da casa e de um modo geral vem tirando muitas crianças do crime e da ociosidade. Essencial para a vida do meu filho” (Familiar, sobre função da escola). “Preparar pessoas de boa índole para o futuro” (Familiar, sobre função da escola).

6 Diante da aprendizagem escolar a família possui um importante papel como coadjuvante deste processo. Segundo Marujo (1998) “ o envolvimento dos pais na educação dos filhos é um direito, tanto como uma responsabilidade e um valor” (p.11). Frente a nossa realidade, acreditávamos que os pais, pela história e cultura local, não incentivavam seus filhos em relação aos estudos. No entanto, nossa pesquisa demonstrou que 80% dos pais incentivam seus filhos auxiliando na realização das tarefas escolares, não confirmando nossa hipótese inicial. Ainda em relação aos pais, 33% possuem o ensino médio completo, 6% superior incompleto e 41% ensino fundamental incompleto. Constatou-se então que o nível de instrução dos pais pode ser considerado baixo dificultando assim o auxílio nas tarefas escolares e não podendo dar o devido incentivo, porém percebe-se que a maioria considera o estudo importante e procura auxiliar da forma como pode. Acreditava-se que, pelo fato da escola estar situada na zona rural, a comunidade era predominantemente rural, esta realidade foi comprovada em relação aos pais dos alunos dos anos finais. Porém 62% dos pais dos anos iniciais exercem atividades não relacionadas à agricultura, estes continuam residindo na região, mas procuram empregos em diversos setores fora do âmbito agrícola. Pela pesquisa comprovamos que 70% das famílias possuem computador e 30% desses, acesso à internet. Também têm acesso a jornais, TV por assinatura, além de várias outras fontes. Assim não confirmamos a hipótese de que nossos alunos tem pouco acesso cultural e tecnológico. Durante a pesquisa pode se observar que há uma grande preocupação da família em relação aos estudos de seus filhos, que estes tenham uma educação de qualidade e que esta realidade eles encontrem no espaço escolar. A família procura dar sua contribuição, dentro de suas possibilidades, porém, às vezes, não é o suficiente para alcançar êxito no processo de ensino aprendizagem.

3 O papel da escola frente ao (des)interesse: influências e responsabilidades “TODAS as escolas devem ter propostas diferentes uma das outras, sempre de acordo com a realidade da comunidade em que estão inseridas” (Professor sobre desinteresse). “Devemos orientar para o mundo de maneira geral, é importante pensarmos nas peculiaridades do local em que os alunos estão inseridos. Cada escola tem uma realidade, portanto todas devem ter uma proposta diferente, independente se é Escola do Campo ou Urbana” (Professor sobre desinteresse).

7 A escola possui grandes influências e responsabilidades diante do processo de ensino-aprendizagem bem como propiciar momentos interativos, lúdicos que auxiliem neste processo. Diante das inquietações do grupo docente da Escola Pedro Beck Filho surge uma grande reflexão sobre qual a real situação dessa instituição e quais suas contribuições para que de fato ocorra uma aprendizagem significativa e que envolva todos os discentes de forma motivadora. Surgiram inúmeros questionamentos em relação ao papel da escola e qual sua verdadeira identidade, uma vez que esta situa-se em meio a zona rural, portanto considerada Escola do Campo. Reflexões realizadas proporcionaram interações, surgindo assim posicionamentos em relação às atividades que a escola propõe ou poderia propor para inserir o educando neste meio. A escola não pode ser um mundo estanque, isolado da comunidade, pois os alunos são a própria comunidade dentro dela. De fato, já não se pode dizer que o ensino é um processo que decorre isoladamente dentro de quatro paredes, sem ter algum contato com os contextos sociais envolventes. A escola, por ser uma instituição educativa formal ao serviço da comunidade deverá ser o núcleo fundamental da mudança para estabelecer um fio condutor, dar significatividade ao que ocorre na comunidade e ser potenciadora da integração global dos elementos humanos e físicos da coletividade, promovendo a formação integral de todos os seus elementos (ANTUNES, 2009, p.47).

É necessário reconstruir socialmente o espaço escolar pelos seus sujeitos para assim definir nossos pressupostos e intenções educacionais, aliando assim, escola e vida, os pressupostos do cotidiano rural e os processos de educação formal. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (BRASIL, 2001, p.22).

Nesta hipótese, colocamos o corpo docente da escola como um fator responsável pela falta do des(interesse) dos alunos. Sabendo que a educação do campo está amparada nos artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

os

conteúdos

devem

ser

ligados

ao

mundo

do

trabalho,

ao

8 desenvolvimento do campo. Assim, teremos conteúdos gerais das áreas do conhecimento: português, matemática, geografia, história, ciências, que todos os estudantes aprendem em qualquer lugar do Brasil e conteúdos específicos de acordo com as características regionais, locais, econômicas e culturais da comunidade, onde a escola esta inserida. Porém, isso não quer dizer, que o ensino tem que ser limitado, mas, sim abrangente em suas possibilidades. Assim, a prática pedagógica deve ser inovadora, utilizando diferentes procedimentos, recursos e espaços que resgatem a riqueza das experiências vivenciadas no campo, pois o professor é fundamental na aprendizagem e só depende do “como ele ensina” para o desenvolvimento das crianças e jovens do campo. Seguindo essa perspectiva, o professor oferece opções para os seus alunos irem à busca da qualidade de vida que julgam serem merecedores ou simplesmente viver no campo com qualidade. Seguem as indagações: como instigar nossas crianças e adolescentes se não sabemos a identidade da escola? Como colaborar eficaz e satisfatoriamente sem saber os caminhos que podemos seguir? É preciso um estudo crítico em busca da transformação entre a escola NO campo que temos hoje para construirmos a escola DO campo que queremos. A discussão sobre as características de ambas as escolas, do e no campo, foram necessárias para que se compreendesse o movimento identificado na escola através da pesquisa e das reflexões, porém, é preciso salientar, que o tema não se esgota nessa pesquisa, apresentando-se como uma possibilidade de continuidade de estudos, a partir dessa primeira sistematização, para pesquisas e estudos futuros que venhamos a realizar. Suscita-se então a necessidade de aprofundamento nas continuidades do estudo e discussão a partir dessa primeira sistematização. Segundo Meneses (2010) “Não há apatia nas escolas em que quem aprende é continuamente mobilizado para a ação e exposto a tarefas e desafios reais”(s.p.). Em discussões no âmbito escolar, umas das queixas apresentadas pelos professores dos anos finais, é a árdua rotina que muitos precisam enfrentar, por trabalharem em mais de uma escola e até mesmo em três, desta forma torna-se difícil sempre inovar e trazer algo diferente para a sala de aula respeitando as especificidades da educação do campo e desta maneira, motivar e manter esta motivação em todos os alunos, pois é fundamental a articulação entre escola e vida, escola e realidade, escola e prática social.

9 Necessita-se de uma parceria forte do poder público, para acompanhar de perto a rotina dos professores, e assim, estudar uma maneira eficaz para que o professor sinta-se inserido e envolvido no projeto político pedagógico da escola e desta maneira o mesmo criará e adotará uma metodologia que privilegie a participação efetiva de todos os alunos na busca constante de aprender e ensinar. O trabalho coletivo, que se vincula ao sentimento de pertença ao empreendimento educativo, é um dos fatores constituintes do êxito das atividades educativas da educação do campo e também, pode-se dizer, de sua atividade singular enquanto movimento social (Martins, s.d.,

s/p).

O professor deve saber que ensinar é criar possibilidades para construção do conhecimento, para isso, o diálogo entre educador e educando se faz necessário, estando o professor aberto aos questionamentos dos alunos e, devendo, também, respeitar seus conhecimentos e experiências anteriores. Como diz Rubem Alves: “Conhecimentos que não são nascidos do desejo são como uma maravilhosa cozinha na casa de um homem que sofre de anorexia. Homem sem fome: o fogão nunca será aceso. O banquete nunca será servido”. O aluno, assim como professor, também é movido pela curiosidade, ela é a mola propulsora do aprendizado e do ensino do educando, da construção e produção de conhecimento. Dessa forma, o educador deve despertar no educando a fome do desejo de saber, de conhecer. Proporcionando um diálogo entre o professor e o aluno, diálogo este que não deve ser tratado como apenas um vaivém de perguntas e respostas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da pesquisa realizada foi possível perceber que os pais incentivam seus filhos para o estudo auxiliando-os e oferecendo as condições necessárias para a realização das tarefas. Esta percepção é um incentivo para que professores e gestores procurem encontrar meios para tornar a aprendizagem mais significativa para os educandos. Comprovamos que cada vez menos jovens se dedicam a atividade agrícola e que a escola, sendo escola do campo, não tem um projeto político pedagógico adaptado a esta realidade. Diante desta constatação tornam-se necessárias mudanças no projeto pedagógico de modo que a prática cotidiana da escola possa contribuir para que os alunos compreendam a importância da atividade agrícola, formas de produção sustentável e a qualidade de vida que poderão obter permanecendo neste meio, desenvolvendo esta atividade.

10 A partir do estudo realizado, o grupo de professores percebeu a necessidade de uma mobilização da comunidade escolar em parceria com o poder público para resgatar/fortalecer a identidade local em relação ao setor agrícola, assim como a nossa identidade como escola do campo. Indicar como recente a Educação do campo, é de saída, delimitar as diferenças entre esta e a educação rural, o processo de escolarização existente na zona rural brasileira. Pode-se caracterizar educação do campo como um movimento, constituído pelos sujeitos sociais que integram as realidades camponesas, e que, almeja vincular o processo de vida no campo com os pressupostos educacionais, aliando assim escola e vida, os pressupostos da cotidianidade rural e os processos educativos formais (MARTINS, 2008, p.01).

O estudo nos fez crescer enquanto educadores desta comunidade, rever nossa prática diária, perceber que ensinar exige a formação na pesquisa. O ato de ensinar não se esgota do oferecimento superficial do conteúdo, mas, só é realizado quando cria condições para aprendizagens críticas. Essas condições exigem professores e alunos, curiosos, inquietos, instigadores, criadores, humildes e persistentes. A dinâmica ensino-aprendizagem exige um exercício para que aprendamos a ensinar a pensar. Portanto, toda relação ensino-aprendizagem exige pesquisa. A atividade de pesquisa foi fundamental para a promoção de importantes discussões no grupo sobre mudanças urgentes que deverão ocorrer à nível de escola.

REFERÊNCIAS ANTUNES, Lara Carmélia de Sousa, A Família e a Escola – Dissertação de Mestrado em Sociologia da Infância, Braga, Universidade do Minho, 2009, pág. 47.

ALVES, Rubem. Começando pela cozinha: O processo de aprendizagem se inicia com a formulação de perguntas. Ed. 181 Mai. 2012. Disponível em: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/181/artigo257878-1.asp

Acesso

22/07/2015.

BRASIL. MEC/CNE. Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo. Parecer CNE/CEB nº 36/2001, aprovado em 4 de dezembro de 2001.

11 BONALUME, Cíntia R., Constituição do Sujeito Aprendente: Identidade, Autoria de Pensamento e Modalidade de Aprendizagem. Mar. 2013. Disponível em: https://psicologado.com/atuacao/psicologia-escolar/constituicao-do-sujeitoaprendente-identidade-autoria-de-pensamento-e-modalidade-de-aprendizagem Acesso em: 23/07/2015.

FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001.

MARTINS, Fernando José. Educação do Campo: processo de ocupação social e escolar. In Proceedings of the 2nd II Congresso Internacional de Pedagogia Social, 2008, São Paulo (SP) [online]. 2009 [cited 22 July 2015]. Available from: .

MARUJO, Helena Águeda, NETO, Luís Miguel e PERLOIRO, Maria de Fátima, A Família e o Sucesso Escolar, Lisboa, Editorial Presença, 1998, pág. 11.

MENESES, Luis Carlos de, Alunos apáticos, escolas idem. Nova Escola, ed. 232, mai. 2010.

POZO, J. I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.

ZENTI, L. Motivação e desmotivação: desafio para as professoras....Disponível em: https://www.ufpe.br/ce/images/Graduacao_pedagogia/pdf/2007.2/a%20desmotivao% 20da%20aprendizagem%20de%20alunos%20de%20escola. Acesso em: 21 jul 2015.