KEYWORDS. Organic Milk production, biological control, horn fly, stable fly

Dipterofauna com ênfase em Muscidae associada às massas fecais de bovinos em sistema orgânico de produção de leite, na região tropical, Brasil. Aline ...
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Dipterofauna com ênfase em Muscidae associada às massas fecais de bovinos em sistema orgânico de produção de leite, na região tropical, Brasil. Aline Quintanilha de Freitas¹+, Mônica Mateus Florião², Elizabete Captivo Lourenço³, Gonzalo Efraín Moya Borja4, Marcia Souto Couri5, Katia Maria Famadas6. ABSTRACT. Freitas A.Q., Florião M.M., Lourenço E.C., Moya-Borja G.E., Couri M.S. & Famadas K.M. [Dipterofauna with enphasis in Muscidae associated to cattle manure in a tropical organic dairy system from Brazil.] Dipterofauna com ênfase em Muscidae associada às massas fecais de bovinos em sistema orgânico de produção de leite, na região tropical, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 38(supl. 3):218 - 228, 2016.. Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. BR 465 km 7. Campus Seropédica, Rio de Janeiro, RJ 23.897-970, Brasil. E-mail: [email protected]. Dipterans are important members of the decomposition fauna of cattle dung and they influence the incidence of parasitic diseases in the herd. Thus, the present study aimed to make an inventory of the members of the dipterofauna associated with manure in an organic system of dairy cattle in Seropédica, State of Rio de Janeiro. Four litres of manure were collected dairy during one month in each season and immediately taken to the laboratory where we extracted the pupas of the dipterans by flotation method, and then we individualized each pupa in an Eppendorf for the emergence of the adults. After that, we identified the dipterans and tabulated the results. The Diptera families reported belonged to the families Muscidae, Sepsidae, Sarcophagidae, Stradiomyidae and Tachinidae. About the muscids, we collected the following species: Gymnodia normata, Gymnodia quadristigma, Musca domestica and Biopyrellia bipuncta. KEYWORDS. Organic Milk production, biological control, horn fly, stable fly. ____________________________ *Recebido em 21 de Julho de 2016. Aceito para publicação em 17 de Novembro de 2016. 1 Médica Veterinária. Doutoranda, Curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Instituto de Veterinária (IV), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. BR 465 km 7. Campus Seropédica, Rio de Janeiro 23897-970. +Autora para correspondência, E-mail: [email protected] – bolsista CAPES 2 Médica-veterinária. M.Cs.Vs. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Inovação em Agropecuária (PPGCTIA), UFRRJ, BR 465, Km 7, Campus Seropédica, Rio de Janeiro 23897-970. E-mail: [email protected] 3 Bióloga, Programa de Apoio ao Pós-Doutorado do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ/CAPES), Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha 220, Maracanã, Rio de Janeiro, RJ 20550-900. Email: [email protected]. 4 Agrônomo, PhD, Professor Adjunto, Departamento de Parasitologia Animal, IV, UFRRJ, BR 465, Km 7, Campus Seropédica, RJ 23897-970. E-mail: [email protected] 5 Bióloga, PhD, Professora Titular, Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Departamento de Entomologia. Museu Nacional, Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, Rio de Janeiro, 20940-040. E-mail: [email protected] 6Zootecnista, PhD, Professora Titular, Departamento de Parasitologia Animal, IV, UFRRJ, BR 465, Km 7, Campus Seropédica, RJ 23897-970. E-mail: [email protected]

240 Rev. Bras. Med. Vet., 38(Supl.3):240-248, dezembro 2016

RESUMO. Dípteros são importantes membros da coprofauna decompositora do esterco bovino e influenciam na incidência de parasitoses nos rebanhos bovinos. Neste sentido, o estudo teve como objetivo inventariar e quantificar os integrantes da dipterofauna associada a massas fecais de bovinos leiteiros orgânicos em Seropédica, Estado do -Rio de Janeiro. Massas fecais bovinas foram coletadas em um sistema de produção de leite orgânico, e as pupas foram extraídas através do método de flotação. Após a emergência, os dípteros adultos foram identificados e os resultados tabulados. As famílias de dípteros coletados foram Muscidae, Sepsidae, Sarcophagidae, Stratiomyidae e Tachinidae. Quanto aos muscideos, foram coletados Gymnodia normata, Gymnodia quadristigma, Musca domestica e Biopyrellia bipuncta. PALAVRAS-CHAVE. Bovinocultura leiteira orgânica, controle biológico, Mosca-doschifres, Mosca-dos-estábulos. INTRODUÇÃO A degradação do esterco bovino é fundamental para produtividade da bovinocultura leiteira à pasto, uma vez que os bovinos não pastejam sobre ou nas adjacências de seus excrementos. Assim sendo, quanto mais rapidamente se dá a decomposição do esterco sobre as gramíneas, mais velozmente esta área se tornará novamente útil para o pastoreio (Flechtmann et al. 1995, Helden et al. 2010, Floate, 2011). O tempo de decomposição do esterco varia de acordo com inúmeros fatores abióticos e bióticos. Os bióticos são, em grande parte, desenvolvidos por uma diversa comunidade de artrópodes que encontram no esterco bovino condições ideais para o seu desenvolvimento. Os atrópodes que habitam esterco exercem entre si complexas inter-relações que resultam no controle do número de indivíduos e na biociclagem de nutrientes (Mohr 1943, Barth et al. 1994, Flechtmann et al. 1995, Floate 2011). Dentre os integrantes da coprofauna bovina estão os dípteros ditos pragas na agropecuária como Haematobia irritans (Linneaus 1758) e Stomoxys calcitrans (Linneaus 1758) (Muscomorpha: Muscidae) que se desenvolvem, enquanto imaturos, estrita ou facultativamente, nesse meio. Estes dípteros são grandes causadores de perdas econômicas no setor, uma vez que sua presença sobre o corpo dos animais, para exercer a hematofagia, é capaz de causar irritação, consequente perda de peso e redução na produção de leite; ainda são incriminadas pela transmissão de patógenos e ovos de Dermatobia hominis (Linnaeus Jr. 1781) (mosca do berne) (Grisi et al. 2014). Em sistemas orgânicos de produção de leite, o controle dos parasitos é ainda mais desafiador, uma vez que segundo a Instrução Normativa nº 46 do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de 6 de outubro de 2011, é vedado o uso de fármacos quimioterápicos (Brasil 2011). Ainda que haja grande importância econômica e sanitária da dipterofauna do esterco bovino, estudos sobre o assunto no Brasil não estão esgotados. Portanto, o presente estudo teve por objetivo inventariar as famílias de Diptera e espécies de Muscidae, presentes no esterco de bovinos leiteiros criados em sistemas orgânicos de produção de leite, e em adição avaliar composição desta fauna nas diferentes estações do ano. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no setor de bovinocultura do Sistema Integrado de Produção Agroecológico – SIPA (Fazendinha Agroecológica km 47), localizado no município de 241 Rev. Bras. Med. Vet., 38(Supl.3):240-248, dezembro 2016

Seropédica, região metropolitana do estado do Rio de Janeiro (22° 45' 21.303"S 43° 40' 36.206"W). Quarenta animais mestiços (Holandês x Gir Leiteiro) compunham o rebanho que era mantido em regime de pasto. No rebanho, para prevenção e tratamento emergencial de enfermidades era utilizada a terapêutica homeopática desde o ano de 2009, como descrito por Florião (2013). As coletas das fezes e as etapas experimentais foram realizadas nos meses de outubro de 2013 (primavera), janeiro (verão), maio (outono) e julho de 2014 (inverno). Para a composição das amostras fecais, no curral, pela manhã, o esterco fresco foi coletado com o auxílio de uma pá e depositado em um carrinho de mão onde foi homogeneizado. Em seguida, com uma garrafa pet de dois litros com o gargalo cortado, foram depositadas numa área de 9 m2 (3X3 m) 60 massas fecais artificiais (2 litros) (Marchiori et al. 2002) com espaçamento de cinco centímetros entre elas. A área utilizada situava-se adjacente ao curral, possuía cobertura de gramíneas nativas e possuía sombreamento parcial. Após 24 horas de deposição das massas fecais artificiais, e subsequentemente a cada 24 horas por 30 dias, duas massas fecais com aproximadamente cinco centímetros do solo imediatamente subjacente foram recolhidas com auxílio de uma pá e acondicionadas em potes plásticos de 20x40x40 centímetros de largura, altura e comprimento, cobertos por organza para o transporte até o laboratório (1,3 km). No Laboratório Internacional de Miíases Tropicais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro foi realizado o método de flotação para a obtenção das pupas (Marchiori & Linhares 1999). As pupas foram separadas do meio líquido com o auxílio de peneira (fio 0,22mm e abertura entre fios de 1,18mm), secas em papel toalha, alocadas individualmente em tubos tipo Eppendorf® com tampa furada para a entrada de ar e mantidas no laboratório em temperatura ambiente até a emergência dos adultos (Mendes & Linhares 2002). Os adultos foram triados em nível de família utilizando a chave de identificação de Brown et al. (2009). Os exemplares de Muscidae foram identificados com base na chave dicotômica específica de Carvalho (2002). Todos os espécimes, adultos e pupas que não emergiram, foram preservados em coleção úmida em etanol 70%. Os dados meteorológicos foram fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), coletados na estação meteorológica de observação de superfície automática localizada na própria Fazendinha Agroecológica Km 47. Foi realizado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis, com posterior análise de MannWhitney, para comparação das abundâncias entre as famílias e das espécies de Muscidae entre e dentro de cada estação do ano. RESULTADOS Das 240 massas fecais bovinas analisadas (480 litros) foram obtidos 2.050 pupários dos quais emergiram 559 (27,27%) adultos que foram classificados como pertencentes às famílias Muscidae, Sepsidae, Sarcophagidae, Stratiomyidae e Tachinidae. Foram observadas diferenças nas abundâncias das famílias no que concerne às estações do ano (tabela 1). Na primavera (H=12,52, p=0,00013) houve predominância de Muscidae sobre Sarcophagidae (U=262, p=0,000368), Stratiomyidae (U=257, p=0,000255) e Tachinidae (U=257, p=0,000255); no verão (H=5,877, p=0,000403), com predominância de Muscidae sobre Sarcophagidae (U=344,5, p=0,02142), Stratiomyidae e Tachinidae (U=315, p=0,001369); Outono (H=9,245, p=0,000637), com predominância de Muscidae sobre Sarcophagidae (U=323, p =0,01624), Stratiomyidae (U=300,5, p=0,003753) e Tachinidae (U=279,5, p=0,000486); e inverno (H=20,56, p=0,0000), com Muscidae se diferenciando das 242 Rev. Bras. Med. Vet., 38(Supl.3):240-248, dezembro 2016

demais famílias (p