Samuel Maciel/ Hiper

texto

hiper

Online: http://eusoufamecos.pucrs.br

Porto Alegre, maio 2011, Ano 13 – Nº 86 – Jornalismo 5 estrelas Felipe Dalla Valle/Editorial J

EDITORIAL J

Antigo teatro Leopoldina abandonado Prédio inacabado foi utilizado durante 44 anos. Ratos ocupam o palco onde estrelaram Paulo Autran, Bibi Ferreira, OSPA e espetáculos que enfrentaram os anos de chumbo da ditadura militar Estrutura na Independência cada vez mais deteriorada

Marc Gobé fala de espaços urbanos e pessoas apaixonadas

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Publicitário francês quer ver emoção nas cidades

Páginas 10 e 11

Página 3

Inter conquista campeonato Fernanda Becker/Hiper

Torcida colorada comemora no estádio Olímpico após a defesa de penâltis de Renan e o clube vencer o Campeonato Gaúcho

Páginas 6 e 7 Camila Cunha/Hiper

Carolina Witczak/Hiper

Internet contra ditaduras Página 4

Marcelo Camelo mais colorido

O talento jovem na Pixel Show

Página 8

Página 9

abertura

hipersider Por Camila Paier

Mariana Fontoura/ Hiper

Casamentos marcados por superproduções Noivos buscam diferencial na cerimônia e também na produção antecipada de ensaios fotográficos Por Juliane Guez

SET Universitário está de volta. Em 2010, foi um sucesso

Inscrição para mostra Sabe aquele trabalho da faculdade que te exigiu um monte e ficou bem legal? Pois é, dá para fazer do limão uma gostosa limonada ao inscrever esse trabalho na Mostra Competitiva do 24º SET Universitário que será em setembro na Famecos. Veja em qual categoria pode se inserir e inscreva o material até 30 de julho no site: www.pucrs.br/famecos/set

Nossa Porto Alegre A prefeitura de Porto Alegre lançou a campanha “Nossa Porto Alegre”, que mostra a cidade sob diversos ângulos e como cada um de nós ajuda na construção da história da Capital. A cada semana, um vídeo é lançado na internet para fortalecer o vínculo entre o cidadão e o local onde reside. Podem ser conferidos no site: www2.portoalegre. rs.gov.br/nossaportoalegre/

Destaque no cinema nacional A produtora Colateral Filmes, que tem entre seus fundadores o ex-aluno famequiano Eduardo Christofoli, terá cinco filmes de sua produção exibidos no projeto Curta Cinemateca Especial, da Cinemateca Brasileira. A Mostra, que começou com exibições na PUCRS e no Santander Cultural, pode ser conferida no Canal Brasil e chega à Cinemateca, em São Paulo, um dos principais pólos cinematográficos do país. Os filmes que estão em cartaz são: “Longe de casa”, de Alexandre Guterres; “O Curinga”, dos Irmãos Christofoli; “O Assassino do Beija-flor”, de Rafael Camargo; “Aurora” e “Napo: acha que sou masoquista?”, ambos de Felipe Valer – e o curta “Para estar em mim”, de Marina Mello, que foi incorporado ao programa pela Cinemateca.

O amor não sai de moda, mas a forma de demonstrar esse sentimento se renova a cada dia. Casar não é mais sinônimo de morar juntos. O namoro mudou e o casamento também. No mês das noivas, fica claro que os novos casais se adaptam ao mundo tecnológico atual, o encontro acontece via internet, telefone e redes sociais. Hoje a cerimônia de casamento tem preparativos e ensaios que começam meses antes e uma superprodução de fotografias, o “trash the dress” (vestido sujo). O“trash the dress” é uma nova tendência de fotografia para os apaixonados que chegou ao Brasil há cerca de seis anos. Essa nova forma de fotografar surgiu nos Estados Unidos. O objetivo é fazer fotos dos noivos em lugares que eles não imaginavam antes. Como o nome tenta descrever, a noiva pode sujar o vestido. A intenção é explorar a espontaneidade da vida a dois. Tentar deixar a foto com maior similaridade da realidade. Para manter a surpresa do vestido da noiva, os noivos usam roupas somente para as fotografias. A cerimônia já ganhou ares de show para os convidados. Temáticas e entradas triunfais com coreografias dos noivos, pais e padrinhos procuram sair do matrimônio tra-

dicional. Soma-se a isso, agora, a inovação na produção fotográfica, como indica o fotógrafo Leonardo Lenskij. Ele conta que cresce procura por esse serviço porque é algo novo. Com oito anos de atuação no mercado, Lenskij acredita que “o mais importante é você ter uma identidade, criar algo diferente do que está se fazendo. Os clientes não procuram só um fotógrafo bom, eles querem um fotógrafo com personalidade”. Para fazer uma boa produção, o fotógrafo afirma que é importante conhecer a história do casal, saber como eles se conheceram e o trabalho deles. Isso tudo ajuda na hora de fazer as fotos. Além disso, é interessante fazer o roteiro juntamente com o casal, mas nada impede de mudá-lo durante o dia. Juntos há oito anos, Mariana Bello, de 24 anos, e Matheus Tumelero, 26, explicam por que escolheram o “trash the dress”, após a sessão com o fotógrafo. Para eles, é uma forma descontraída de ter um registro desse momento que não deve se resumir somente ao dia do casamento em si, mas também registrar o que estão vivendo agora já que a cerimônia será dia 12 de novembro.

O dia para registrar Durante as fotos, eles foram abordados por muitas pessoas nas ruas de Porto Alegre. Enquanto estavam na Redenção, um grupo

de encontro de casais parou para registrar o momento juntamente com os noivos. Mariana e Matheus mostravam-se alegres por ganharem felicitações de pessoas desconhecidas. Eles demonstravam o seu amor com abraços, sorrisos e beijos. Havia flores pelo parque que fizeram parte das cenas. Para completar o cenário romântico, choveu durante o trajeto e foi improvisado um guarda-chuva que participou das fotos. Mesmo a noiva preocupada com o vestido, ainda foi possível capturar essas imagens. Após a ida ao parque, a Casa de Cultura Mário Quintana foi o segundo palco para a produção fotográfica. No local, a noiva utilizou a calda do vestido para rodar pela entrada da CCMQ e o seu buquê também foi usado. Foram até o último andar onde aproveitaram: as janelas, as arcadas e as sacadas. E, para fechar a manhã, passaram pela Praça da Matriz. Um champanhe foi aberto pelas escadarias para comemorar a união. Após a sessão de fotos na praça, ainda passaram por outros lugares: Catedral, DMAE do Moinhos de Vento, Museu do Iberê Camargo e em frente ao Guaíba. Depois de um dia inteiro tirando fotos, Matheus disse que “amamos o trash the dress porque é muito bom poder curtir momentos como esse com quem a gente ama”. E Mariana completou: “Sempre achamos que seria ótimo, mas foi perfeito”. Camila Cunha/Hiper

A Vida da Gente Tudo indica que a próxima novela das 18h da Rede Globo de Televisão se passará em Porto Alegre. A ideia teria partido do diretor Jayme Monjardim, que buscou, na Secretaria de Turismo, imagens da Capital e da cidade de Gramado, onde devem se concentrar a trama. O folhetim substituirá Cordel Encantado, e tem previsão para estrear em outubro de 2011. O título provisório é “A Vida da Gente”. É esperar a confirmação, e torcer para que o sotaque gaúcho seja respeitado.

E o diploma? Noticiou-se que a possível votação da PEC do diploma para jornalistas seria no início do mês. Nem mesmo com o mutirão realizado pela Fenaj alguma atitude foi tomada. Mesmo com a maioria esmagadora de senadores que se dizem favoráveis à PEC 33/9, nada de significativo tem mobilizado o eleitorado. Aliás, não é só a PEC do diploma que está nesse vai-não-vai, outras questões prioritárias passam pelo mesmo problema..

hiper 2 texto

Porto Alegre, maio 2011

Matheus e Mariana foram modelos e viveram “um dia perfeito” na produção das fotos

debate CONFERÊNCIA TEDX LAÇADOR

Ideias constroem o futuro da cidade

Eles pensam o desenvolvimento de Porto Alegre a partir de experiências sociais, tecnológicas, criativas e sustentáveis Samuel Maciel/ Hiper

Por Mariana de Ávila

Histórias pessoais, ideologias de vida, curiosidades. O importante é ter boas ideias e saber compartilhálas. O evento Tedx Laçador, realizado em Porto Alegre, em abril, demonstrou que uma das melhores formas de aprender é espalhar conhecimento. Com a meta de “preparar a cidade para o futuro”, 20 palestrantes participaram da maratona de trocas de ideias, tendo 18 minutos para sintetizar seus pensamentos em um púlpito. Nomes como o do designer francês Marc Gobé, o pesquisador americano Erick Baczuk, a comunicóloga carioca Ivana Bentes e o especialista gaúcho em gastronomia Diogo Carvalho colaboraram na reflexão coletiva. Não foram expressas respostas para os problemas estruturais específicos da cidade de Porto Alegre, mas sim, modelos e experiências globais e locais universais. O pesquisador Massachusetts Institute of Technology (MIT), especializado em design sustentável e desenvolvimento econômico, Eric Baczuk, esteve pela primeira vez em uma conferência Tedx. Ele desenvolve há um ano e meio, em parceria com a General Eletric, um projeto de mapeamento e identificação da qualidade das águas no Rio de Janeiro. Em diferentes praias da cidade, serão colocados no mar pequenos robôs chamados “Lula Project”, além do trocadilho, os objetos têm formato de polvo, para medir a poluição. O sistema será interligado aos órgãos públicos que fiscalizam os locais de banho e a população poderá enviar SMS e receber informações sobre as condições do mar em tempo real. O trabalho estará pronto na Copa de 2014. O sociólogo Omar Haddad, fundador da cooperativa de alimentos Semente da Paz, começou sua exposição com uma reivindicação. “Hoje vocês encheram meu saco, o saco que eu carrego cheio de sonhos.” O sociólogo defendeu a sustentabilidade: a necessidade de uma agricultura ecológica, feita por pequenos produtores, coordenados para produzir em grande escala e com transparência de custos

até o consumo. Além de alimento saudável, sem agrotóxicos, o Sementes trabalha na lacuna da figura do atravessador, integrando o transporte no processo para garantir a qualidade da produção. O mais jovem dos palestrantes, Haddad, de 27 anos, trabalha há 12 anos na formação de cooperativas agrícolas. Autoridades públicas também estiveram presentes, como ouvintes e palestrantes. O prefeito da Capital, José Fortunati, abriu o encontro e agradeceu a mobilização para repensar a cidade. Ele sugeriu que o debate continue na plataforma O francês Marc Gobé na capital digital e apresentou o programa Porto Alegre C.C, site onde o dora do encontro, explicou o nome cidadão pode publicar informações TEDx Laçador. “Em Porto Alegre, sobre sua região. O prefeito também se botasse TEDxParcão, as pessoas reforçou a importância do acesso que frequentam a Redenção não universal à web e a relevância das viriam. O contrário é verdadeiro ideias disseminadas neste espaço. também. Então, optamos por símNo encerramento das palestras, o bolos da cidade. TEDxPôr-do-Sol designer e fundador da empresa de não ia dar, né?”, brinca. inovação Emotional Branding LCC, Por mais de um ano, a orgaMarc Gobé, convidou a plateia a rei- nização selecionou palestrantes e vindicar os espaços públicos e não compôs o projeto, aprovado pela deixar que as empresas espalhem central TED. As inscrições gratuitas marcas involuntariamente. foram disputadas por mais de 300 pessoas, mas só havia 30 vagas desDebate independente tinadas ao público. A organização Este foi o segundo TEDx re- explica que o modelo de evento só alizado em Porto Alegre, modelo comporta 100 pessoas, incluindo de palestra criado nos Estados palestrantes e equipe técnica. Para Unidos e organizado de maneira não restringir a visibilidade, a conindependente. O primeiro TEDx ferência teve transmissão ao vivo Porto Alegre ocorreu em 2010. A por internet, inclusive com telões publicitária Ana Goelzer, idealiza- nas universidades.

ORIGEM DO TED TED (tecnologia, entretenimento e design) é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo “disseminar ideias que valem a pena”. Desde 1984, quando foi lançada na Califórnia, as conferências reúnem pessoas com conhecimento em Tecnologia, Entretenimento e Design (TED), além de outras áreas que integraram o projeto ao longo dos anos.

Os encontros TED Global e TEDConference tem frequência anual. Desde 2009, os TEDx são organizados por realizadores independente nos moldes da marca, somente no mês de março de 2011, mais de 120 eventos ocorreram em 37 países. Também contemplam a iniciativas encontros específicos de gênero, em comunidades, premiações e projetos de tradução de conteúdo.

Entrevista

Marc Gobé, um homem movido por sentimentos Marc Gobé nasceu em Mayenne, na França, e mora em Nova York. É designer, publicitário, cineasta e presidente do centro de pesquisa e consultoria (think-tank) sobre consumo Emotional Branding LLC. Lançou recentemente um documentário filmado em 14 países e com mais de 100 entrevistas sobre como as pessoas reagem à intervenção urbana das propagandas. Com o livro Emotional Branding (A emoção das marcas), traduzido para 17 línguas, disseminou a ideia do marketing moderno que o sentimento dos clientes pelas marcas é mais importante do que o conhecimento deles sobre a empresa. No evento de lançamento do TEDxLaçador, o pensador concedeu entrevista sobre seus projetos, ideias e sugeriu como o Brasil pode melhorar a sua imagem para o mundo com o advento da Copa de 2014. Ele concedeu entrevista ao Hipertexto. Confira: As emoções proporcionadas pelas marcas são mais relevantes do que a qualidade dos produtos? Quanto mais qualidade, mais emoção. É como em um relacionamento, você não se apaixona pelo pessoa que você acha que é, mas sim por aquela que tem qualidades. Por exemplo, se você compra um vestido bonito, você aspira que a peça te transforme, te deixe mais bonita e assim você ficará mais feliz. O estilo e a qualidade do vestido fazem parte do processo de te deixar mais feliz. Qualidade é uma das razões pelas quais as pessoas se emocionam. Você aplica a crença das ações movidas pelas emoções em outros setores da sua vida? Claro, eu sou uma pessoa muito instintiva, pela minha profissão, por ser criativo. Eu dependo das minhas emoções para ter ideias. Por exemplo, quando conhecemos pessoas novas, nós sabemos de cara com quem vamos nos dar bem. São as nossas emoções que dizem isso. Também são elas que nos dizem o que é certo e o que é errado. Como é possível inspirar e formular novas ideias? As melhores ideias sempre surgem quando você realmente acredita em si. Às vezes são parte da sua imaginação, aquelas que aparecem no meio da noite, que você tem que pegar um pedaço de papel para escrevê-las. Outras vezes elas aparecem em uma conversa, você diz algo e outra pessoa complementa e vocês constroem juntos algo reformulado. Eu realmente acredito no poder de inspirar ao compartilhar ideias. É por isso que as mídias sociais são tão incríveis, pois possuem identidades plurais, as pessoas dividem conversas e debates que podem se transformar em grandes ideias. Este é o primeiro TED ou TEDX que você participa? Sim. Eu gosto do formato do TED, você tem que ser preciso, conciso, expressar a essência da mensagem. O melhor é que divul-

gar suas ideias para todo o mundo. Estou honrado, vim para o Brasil algumas vezes, mas nunca em Porto Alegre. Conhecia Ana [Goelzer] em uma conferência e mantemos contato por Facebook. O convite surgiu pelas mídias sociais, senão fosse assim, nós teríamos nos esquecido. Eu fazia o documentário sobre poluição visual, viajava ao redor do mundo, entrevistando pessoas, e isso chamou atenção dela. O seu documentário começou por São Paulo, a partir da lei que baniu a colocação de outdoores na rua, certo? Sim, poluição visual é sobre a imagem das cidades. A decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, foi um pequeno exemplo de um movimento global de pessoas reivindicando seus espaços públicos. Se alguém bota um grande outdoor na frente da sua casa, você não tem o que fazer. As pessoas ao redor do mundo gostariam de decidir se aquele espaço poderia ser comercializado. As marcas não se enfraquecem com a perda dessa plataforma de exposição? Eu acredito que não. Existem as mídias sociais, jornais, outros veículos e, o mais importante, a repercussão de pessoa a pessoa sobre um produto. A publicidade tende a cada vez mais se fundir nos merchandising em filmes e seriados? A linha entre o que é publicidade e o que não é está tênue. Mas as pessoas estão mais atentas para que as propagandas não tomem conta de seus espaços. O que o Brasil pode fazer para reforçar sua imagem em termos globais aproveitando a Copa e as Olimpíadas no país? O Brasil tem uma ótima imagem mundial. Como nação, todo mundo sabe, é amiga, divertida, bonita e bem-sucedida. A imagem do Brasil precisa ser expressa pelo seu povo e sua cultura. Não são campanhas publicitárias comerciais, tradicionais, que vão mudar a imagem.

Porto Alegre, maio 2011

hiper texto

3

Opinião EDITORIAL

ARTIGOS Fernanda Becker/ Hiper

Em tempo de ativismo 2.0 Por Amanda Schnor

Hipertexto esteve presente na final do Campeonato Gaúcho

Bom exercício de jornalismo O

que define um campeão? Um chute a mais, a humildade ou a confiança? No último mês, torcedores do Rio Grande do Sul conviveram com a final do Campeonato Gaúcho, protagonizada por Grêmio e Internacional. A equipe do jornal Hipertexto, determinada a se aproximar do leitor, esteve no estádio Olímpico, nas beiradas do campo e também na torcida do clube tricolor. Uma mistura de sentimentos veio junto com a pauta discutida intensamente uma semana antes, após o placar de 3 a 2 marcado no BeiraRio pelo Grêmio. Alguns já pensavam na reportagem de capa e outros tentavam eliminar a sugestão, tudo ditado pela dicotomia de torcedores rivais. Mas, enfim, venceu o entendimento de que era um bom exercício de jornalismo. Com esse critério jornalístico, eu e a colega Juliane Guez, além da fotógrafa Fernanda Becker, marcamos presença no jogo e percebemos que tudo pode acontecer em um minuto da partida, exigindo adaptações a nosso planejamento de cobertura. Embora situadas longe uma da outra, coletávamos entrevistas e anotações da disputada em que o Internacional conquistou o título após a virada espetacular e, na sequência, o goleiro Renan realizou defesas incríveis na cobrança de pênaltis. O que pode ser encontrado aqui é um olhar jornalístico, a visão de uma torcida esperançosa que viu a vitória escorrer pelas mãos e também as posições de quem comandou os dois clubes em um jogo equilibrado e emocionante. E para quem não se contenta com o Campeonato Gaúcho e espera mais sobre esportes, a reportagem de Amanda Schnor relata que as mulheres avançam também nessa área e produzem o conteúdo sobre futebol. Não só isso, as meninas opinam e comentam as jogadas. Nessa edição, mostramos também a deterioração de um espaço que já foi muito importante para Porto Alegre. Os porto-alegrenses com 20 anos não sabem o significado do antigo Teatro Leopoldina na Avenida Independência que depois passou a ser chamado de Teatro da Ospa e hoje é um prédio abandonado, de destino ainda não muito certo. Por enquanto, o certo mesmo é de que essa é uma boa leitura.

Por Morgana Laux, editora

texto

hiper

Porto Alegre, maio 2011

“churrascão de gente diferenciada”, uma manifestação divertida no bairro com a reunião de aproximadamente 600 pessoas que tiveram direito a frango com farofa e pagode. Eles pretendiam mostrar que nós, diferenciados, somos pobres, contudo limpinhos e que uma cidade como São Paulo não pode se dar ao luxo de abrir mão de transporte público puramente por caprichos de uma minoria. Propagar informações ao vivo, no famoso boca-a-boca, implica em limitações logísticas. Afinal o alcance da interação real é menor, ou no mínimo mais lento, do que o alcance do mundo virtual. Divulgar ideias no twitter, por exemplo, possibilita chegar ao outro lado do mundo em apenas alguns instantes. Basta um reply de um amigo, que recebe de outro e outro e pronto, assim está feito o churrascão.

Os gênios também ignoram Por Pedro Henrique Tavares É simples abrir um espaço virtual para se expressar, principalmente quando se opta fazer igual aos internautas que reproduzem o material da internet. Criar um blog, muitas vezes, não leva mais do que dez minutos, quando não menos tempo. Dois tipos são peculiares, os produtores de conteúdo e os reprodutores. Ambos demonstram importância dentro de uma vertente chamada de “jornalismo participativo”. No entanto, se diferenciam acerca das informações que transmitem ou retransmitem. Aqueles que produzem conteúdo costumam elaborar o material – textos e imagens – com ideias pessoais, a partir de informações absorvidas de outros meios de comunicação. Na outra ponta, encontra-se a classe da reprodução

Versão online: http://eusoufamecos.pucrs.br

Jornal mensal dos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. Site: http:// www. pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index. php

hiper 4 texto

No começo do ano, assistimos ao desenrolar e a explosão da crise no Oriente Médio, onde populares foram às ruas para derrubar governos ditatoriais. Mas antes de irem protestar, ligaram os seus computadores, e se conectaram à Internet. É de conhecimento público e só não vê quem não quer, que a Internet, essa que interliga as pessoas por via das redes sociais e compartilhamento de conteúdo, tem um poder imenso. A revolta popular que eclodiu no Oriente Médio só foi possível graças a essas conexões. A partir disso, fica o questionamento, por que não acontece algo parecido no Brasil? Não que não houvesse tentativas, mas foram pífias, para não dizer vergonhosas. Somente para citar um exemplo, o movimento “#forasarney”, gerado

no Twitter, não deu em absolutamente nada. Onde mora a falha? Talvez no fato que seja fácil e cômodo apenas tuitar sobre o tema, o difícil é sair do ar condicionado, desligar o iPad e seguir para as ruas. Entretanto, no dia 14 de maio, tivemos um exemplo de que a mobilização também pode acontecer. No começo daquela semana, o Governo do Estado de São Paulo anunciou que deixaria de construir uma estação da Linha Amarela do Metrô no bairro nobre de Higienópolis. Segundo o governo, o problema era técnico, mas era sabido por todos que a associação de moradores do bairro havia feito um abaixo-assinado, pedindo a reconsideração da estação, pois esta traria “ocorrências indesejáveis” e “gente diferenciada” para a área. Bastou para que uma mobilização nas redes sociais provocasse o

Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenador de Jornalismo: Vitor Necchi Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia. Professores Responsáveis: Celso Schröder, Elson Sempé Pedroso, Ivone Cassol, Luiz Adolfo Lino de Souza e Tibério Vargas

informativa, que apenas retransmite dados existentes. Em linguagem virtual, o famoso Ctrl+C, Ctrl+V – copiar e colar. Quando cito os chamados reprodutores, não estou desmerecendo a classe. Pelo contrário, eles têm a importância de organizar, de acordo com os temas que mais lhes convém, o material que coletam, tornando-o mais fácil de ser encontrado. Uma espécie de arquivamento da gritante quantidade de informação que circunda na esfera virtual. Uma das coisas que desejo debater é a qualidade do que envolve a produção dos blogueiros. A maioria talvez não esteja atenta a temas de maior complexidade, principalmente os das esferas política, econômica e social. Não estou tentando enaltecer a qualidade do que escrevo em meu

blog. Faço esforço para selecionar assuntos mais importantes ao debate, apesar de ser impossível estar atento a tudo. Assim, acabo o manifesto ressaltando que todos convivemos com a ignorância. Ninguém tem a capacidade de saber tudo. Um tema sempre vai escapar, o conhecimento nunca será pleno. Mas, tenhamos a consciência de que necessitamos como produtores ou reprodutores, transmitir as informações mais relevantes, para tentar amenizar o vírus da ignorância, como o HIV, que não tem cura. Por enquanto. Não existe sabedoria plena, mas há um modo de absorver a relevância de um tema. Einstein teve dificuldades, Newton provavelmente não era nenhum especialista em ciências sociais. Até os gênios são ignorantes fora do assunto que dominam.

Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000 Ramos. Estagiários matriculados e voluntários Editoras: Morgana Laux (Texto e Diagramação), Lívia Stumpf e Mariana Fontoura (Fotografia) Repórteres: Amanda Schnor, Camila Paier, Daiane S. Pajares, Juliane Guez, Luna Pizzato, Mariana de Ávila, Morgana Laux e Sabrina Ribas.

Fotógrafos: Bolívar Abascal Oberto, Bruno Todeschini, Camila G. Cunha, Caroline Witczak da Silva, Felipe Dalla Valle, Fernanda Becker Ribeiro, Guilherme Santos, Jonathan Heckler, Júlia Merker, Lisiane Ledesma Dutra, Lívia Stumpf, Maria Helena Sponchiado, Mariana Fontoura, Mauricio Lopes Krahn, Nicole Pandolfo, Rodrigo Ourique Naumczyk, Samuel Maciel e Shariane Gaiatto Kozak .

mundo AFP PHOTO/FILES

Morte de Bin Laden faz crescer o alerta Como a ação americana descobre e mata o terrorista Por Sabrina Ribas

A ação que resultou na morte do líder Osama Bin Laden, do grupo fundamentalista islâmico Al Qaeda, em 2 de maio, no Paquistão, não significa a extinção do grupo. A tendência é de que as pequenas células se mantenham ativas, promovendo ações e alvos aleatórios, em continuidade ao uso do terrorismo como ferramenta de ação política. É o que pensam os estudiosos do terrorismo no mundo Jacques Wainberg, doutor em comunicação pela Universidade de São Paulo e professor da Famecos, e o diplomado pela Escola Superior de Guerra, André Luís Woloszyn. Quase dez anos depois do maior atentado terrorista da história mundial, com autoria assumida pelo grupo fundamentalista islâmico Al Qaeda, Bin Laden foi morto por ação de um comando militar americano. A operação foi realizada por um grupo de elite da Marinha dos Estados Unidos que teria localizado e matado o terrorista em uma casa usada como esconderijo no Paquistão. Após a euforia e as comemorações dos norte-americanos e o apoio manifestado por grande parte das lideranças mundiais, ficou a pergunta: e agora? Qual será o comportamento da principal rede terrorista da atualidade?

Logo após o fato em 11 de setembro de 2001, quando os Estados Unidos, nação símbolo do modo de vida ocidental, foram atacados, o mundo ficou por certo tempo mergulhado em incertezas e perplexidade. Como o país mais poderoso e influente do planeta, com as agências de segurança mais competentes, pode ter permitido que fossem vitimadas mais de 2.800 pessoas em pleno centro financeiro de Nova Iorque? A mesma sensação de incerteza surgiu após a morte de Bin Laden, devido à possibilidade de ação de vingança dos demais integrantes da Al Qaeda. Esse fato é reforçado pela ocorrência de grandes contradições nas declarações do governo americano. Informações surgem de todos os lados, e algumas decisões da Casa Branca causam certo temor pelo tipo de reação que podem causar nos fundamentalistas islâmicos. Uma delas é o fato de o presidente Barack Obama ter decidido não divulgar imagens do terrorista morto. O professor Jacques Wainberg, que escreveu três obras relacionadas ao terrorismo, explica que a opção pela não publicação das imagens é compreensível, já que poderia causar um “efeito bumerangue, ao invés de acalmar os ânimos, talvez incitasse ainda mais o espírito de revanche dos grupos terroristas”. Wainberg ressalta que o ideal islâmico, que mobiliza os grupos

fundamentalistas, não morreu com Bin Laden. “É muito pouco provável que atentados parem completamente de acontecer”, imagina. “As ações desse tipo têm sido utilizadas há muito tempo, e por diferentes grupos, pelo seu poder de causar um efeito cênico e dramático de alto impacto emocional na população”, completa. Outro fator controverso da ação foi o destino dado ao corpo do terrorista que, segundo o governo americano, teria sido jogado no mar após os atos fúnebres previstos pela religião muçulmana. André Luís Woloszyn, que se especializou em terrorismo nos Estados Unidos, acredita que o sepultamento poderia criar um local de peregrinação e aumentar a motivação para novos atentados, efeito que não era desejável. Sobre a possibilidade de atentados no Brasil, tendo em vista os grandes eventos que serão realizados, o especialista Woloszyn considera que “não é uma ideia absurda, pois nós não estamos fora da comunidade internacional, onde compartilhamos os valores contra os quais a jihad tanto se opõe”. Apesar disso, os fatores indicam que, com esse novo alerta pós Bin Laden, talvez fique mais difícil a articulação dos grupos que sempre consideram a segurança dos integrantes e o princípio da oportunidade ao desencadear uma ação.

Líder da Al Qaeda se manteve escondido durante nove anos

Primavera árabe libertária Outro fator que tem despertado o interesse mundial e é analisado com cautela pelos especialistas é o fenômeno conhecido como “primavera árabe”, movimento dos países islâmicos que lutam pela democracia e já apresenta resultados parcialmente positivos como na Tunísia e no Egito. As mobilizações também demonstram que a intervenção americana na resolução dos conflitos nessas áreas é dispensável. Os povos estão resolvendo seus problemas sem a “ajuda” dos Estados Unidos. Um fato relevante é que o movimento está relacionado com a popularização da informação através dos meios de comunicação, especialmente a internet. As promessas de vingança vindas de vários grupos podem di-

ficultar as ações preventivas das forças policiais, que permanecerão em alerta por certo tempo, como já aconteceu em outras situações semelhantes. O especialista em política internacional André Luís Woloszyn diz que “esta é exatamente a tônica do terrorismo, não necessariamente operacionalizar grandes atentados com milhares de vítimas, mas causar medo pela sensação de insegurança permanente e natureza indiscriminada”. O professor Jacques Wainberg concorda que, mesmo com uma nova linha hierárquica estabelecida na Al Qaeda, as pequenas células seguirão ativas com ações e alvos aleatórios, fazendo uso do terrorismo como ferramenta de ação política.

Energia nuclear: medo ressurge após vazamento no Japão Por Amanda Schnor

O terremoto em março no Japão, seguido de um tsunami de proporções gigantescas, reacendeu o debate sobre os programas nucleares desenvolvidos por vários países. Enquanto o mundo se pronunciava a favor de uma revisão em seus projetos com energia nuclear, o Brasil foi na contramão e garantiu que por aqui não há risco nenhum nas usinas. Com duas construções em Angra dos Reis, os planos são de aumentar para seis o número de usinas nucleares no País até 2030.

Com essa decisão, esquecem o que ocorreu recentemente. Depois do terremoto de magnitude 9 na costa do Japão, os reatores nucleares da usina de Fukushima automaticamente se desligaram, como era previsto acontecer. Entretanto, o sistema de resfriamento falhou repetidamente, fazendo os núcleos de alguns dos reatores superaquecer. Isso, indiretamente, levou a explosões, causando danos tanto à parte externa das construções, quanto ao sistema de contenção para prevenir que o material radioativo escapasse. Por causa das fendas abertas nas explosões, uma parte do material chegou à atmosfera.

Impossível resistir A professora de Física Nuclear da PUCRS, Maria Eulália Tarragó, explica que a Usina de Fukushima I foi construída para resistir a terremotos, porém não com a intensidade que ocorreu no dia 11 de março deste ano e, muito menos, não seguido de um tsunami. “O que ocorreu em Fukushima foi em parte por falta de segurança. Os geradores a diesel que deveriam permanecer em operação após o terremoto falharam após o tsunami, mas que sistema de geração de energia não falharia após aquele tsunami?”, contesta ela.

Dias após o terremoto e o vazamento de radiação na usina de Fukushima, países como a Alemanha e Suíça já anunciavam a suspensão temporária dos seus projetos nucleares, enquanto a Índia prometia uma revisão sobre as questões de segurança. O Brasil, tendo como porta-voz o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, se disse preparado para enfrentar qualquer tipo de acidentes nucleares e não iria retroceder nos planos de aumentar o seu parque nuclear por causa do desastre no Japão. Contudo, a professora Maria Eulália se mostra contra essa decisão. “Que necessidade temos nós bra-

sileiros de investir em uma fonte de energia tão controversa quanto a nuclear, se temos reservas suficientes de carvão e disponibilidade de obter energia elétrica a partir de recursos hídricos, eólico e solar?”, indaga ela. Independentemente dos perigos expostos peloo acidente no Japão, o programa nuclear no mundo não deve desacelerar. “O que se espera é que os países invistam no aprimoramento do sistema de segurança das mais de 400 usinas nucleares em operação no mundo e revejam a real necessidade de implantar novas usinas nucleares”, finaliza a professora.

Porto Alegre, maio 2011

hiper texto

5

Esporte

Campeonato gaúcho de 2011 terminou com uma virada inacreditável do Internacional

GRENAL DECISIVO

40 vezes Inter no Gauchão

A festa estava pronta para comemorar o bicampeonato gaúcho do Grêmio, no Olímpico, mas o Inter de Falcão venceu o campeonato no jogo e nas cobranças de pênaltis: 3 a 2 e 5 a 4 Fotos Fernanda Becker/ Hiper

Por Juliane Guez e Morgana Laux

Após a vitória de 3 a 2 no BeiraRio, no primeiro jogo da final, o Grêmio poderia perder com um gol de diferença ou empatar para o Internacional no jogo em casa para ser bicampeão. Se não bastasse essa vantagem, o Olímpico estava lotado de torcedores gremistas, mais de 38 mil, confiantes na vitória do tricolor. Faixas do bi tricolor já eram vendidas em volta do estádio. Estava tudo pronto para a festa que começou com todo o público cantando o Hino Rio-Grandense puxado pelo cantor nativista Luiz Marenco, mas no final, só a pequena torcida do Inter, apenas dois mil, comemoraram o campeonato e o 40° título estadual dos colorados . O técnico Renato Portaluppi escalou sua equipe com Victor, Mário Fernandes, Vilson, Rodolfo e Gilson; Rochemback, Adílson, Lúcio e Douglas; Leandro e Júnior Viçosa. Falcão surpreendeu deixando Oscar no banco e inovou com o seguinte grupo: Renan, Nei, Bolívar, Índio e Juan; Guiñazu, Bolatti, Andrezinho e D’Alessandro; Kléber e Damião. O Grêmio começou o jogo com superioridade. Aos 15 minutos, Lúcio marca o primeiro gol, mas o Inter dá a volta por cima. Falcão tirou o Juan para a entrada de Zé Roberto ao perceber o equívoco de colocar um zagueiro para adiantar o lateral Kléber no meio do campo. Mais uma surpresa, por que não colocar Oscar? Zé Roberto provou e mudou o rumo do jogo. Aos 31 minutos, Leandro Damião empata o jogo. Aos 46 minutos, Andrezinho, com uma perna só, uma fissura foi diagnosticada no dia seguinte, provocada por uma falta de Adílson, marca mais um gol para o Inter com o passe de escanteio de Zé Roberto. E, terminou o primeiro tempo, com 2 a 1. No segundo tempo, Andrezinho, não aguentando mais as dores, foi substituído por Oscar. Ele entrou e causou mais movimentação e velocidade. Quando Zé Roberto sofreu pênalti de Victor, D’ Alessandro ampliou para 3 a 1. O jogo se tornou equilibrado. Agora

hiper 6 texto

chegou a vez de Renato Gaúcho tentar acertar sua escalação, tirou Leandro, Junior Viçosa e Gilson para a entrada de Borges, Lins e Magrão. Poucos minutos depois de sua entrada, Borges aproveitou uma falha de Renan e deixou o placar 3 a 2, o mesmo do jogo do Beira-Rio. Duas vitórias iguais na casa do adversário, só havia uma alternativa para os dois: ganhar nos pênaltis. A luta ficou entre Renan e Victor e os escolhidos pelos técnicos para chutarem: Douglas, Rockembach, William Magrão, Lúcio, Adilson, Rodolfo e Lins; Damião, Oscar, Kléber, D’Alessandro, Bolatti, Nei e Zé Roberto. O goleiro da Seleção defendeu dois pênaltis (cobrados pelo goleador Damião e o batedor de faltas Kleber), mas Renan, que soltara a bola no segundo gol do Grêmio no tempo regulamentar, saiu como herói. No final, imitou o goleiro Kidiaba, do Mazembe, na frente da torcida do Grêmio, depois de defender três pênaltis, chutados por Adílson, William Magrão e Lúcio. Para completar a sua grande atuação, Zé Roberto marcou o gol da vitória por 5 a 4. Não somente como treinador do Grêmio, mas também como torcedor, Renato Gaúcho afirmou que “o sentimento do torcedor é o meu sentimento”. Demonstrou tristeza ao admitir que preparou o time para ser campeão, mas não foi suficiente para o clássico. O presidente Paulo Odone sublinhou que “não foi falta de pegada”, mas admitiu: “O Inter foi superior nas chances que teve na partida”. Para o vice Antônio Vicente Martins, o Grêmio vinha como favorito e perdeu o jogo no segundo tempo. “Isso mostra como os dois times estão equilibrados”, enfatizou. Ao ser questionado sobre o time rival, Falcão afirmou que “o Grêmio é apenas um adversário, não um inimigo”. Já pensando no Campeonato Brasileiro, ele comentou que o Gauchão, vencido quarenta vezes, é um título importante, “mas temos que pensar daqui pra frente”. O Inter venceu o Brasileiro pela última vez em 1979, 32 anos atrás, quando Falcão era a estrela do famoso tricampeonato invicto.

Porto Alegre, maio 2011

A comemoração colorada em pleno estádio Olímpico depois de 29 anos

O sofrimento gremista

Falcão, o maestro colorado

Renan: de vilão a herói em questão de minutos

Fernanda Becker

Menina também entende de futebol Fotos Júlia Merker/ Hiper

Por Amanda Schnor

Os gremistas não acreditam Os torcedores gremistas estavam longe de acreditar que era possível perder em casa e com vantagens que pareciam imensas. A comemoração já tinha sido quase anunciada durante toda a semana que antecipava o Grenal. Depois de inúmeras tentativas do público para comprar pela internet e a fila na madrugada, os ingressos se esgotaram rapidamente. Todos os gremistas estavam confiantes. Por outro lado, Falcão estava sendo pressionado e alguns colorados já não acreditavam mais. Em um domingo de tempo feio, às 14h as arquibancadas estavam tomadas por grupos de amigos, famílias, casais de namorados e velhos amantes do futebol. A chuva fazia os torcedores se reunirem na parte coberta para começar a ensaiar os cantos. O movimento era intenso. Para quem nunca tinha ido a um clássico, a emoção era ainda maior: “É o meu primeiro Grenal. Estou sentindo muita felicidade, mas também estou muito nervosa”, revelou Mayara Zinn, que viajou de Rio Grande a Porto Alegre. E nervosismo não faltou mesmo. Muitos lances espetaculares, muita rivalidade em campo. Há quem comentou que Grenal era um jogo normal. “É um jogo qualquer, não tem nada de diferente”, disse Ana Regina Mouro dos Santos, funcionária do Grêmio. Os torcedores vindos de Caxias seguiam embalados pelo ritmo da torcida e estavam confiantes. “Ansiedade é a palavra no momento. A emoção é muito grande. Vai ser 2 a 1 para o tricolor”, afirmou a torcedora Mauren Soltile. Outro caxiense completou: “Com certeza vamos ser campeão gaúcho. Quando eu venho o Grêmio não perde”, falou Hortêncio José Lucca. Depois das penalidades e a cobrança final de Zé Roberto, os torcedores gremistas se calaram. Não havia palavras para expressar o sentimento de decepção. Depois de toda a vantagem, o título escorreu das mãos, enquanto o Internacional comemorava a vitória. A festa tomou conta das ruas, da pequena torcida colorada no Beira-Rio para a Goethe e bares da cidade.

Elas estão com a bola toda. Garotas jornalistas formadas e estudantes de comunicação entraram de salto alto no clube do bolinha da cobertura esportiva em Porto Alegre, reduto que se mantinha quase exclusivamente masculino, com pequenas exceções para esconder o privilégio. Dois grupos fazem sucesso, um é o independente Salto Alto Futebol Clube e o outro é o Clube do Bolinha, da RBS. O Salto Alto é um grupo de meninas que ama futebol e acompanha o mundo da bola em todas as mídias possíveis. As meninas se viram como podem. Fazem cobertura ao vivo dos jogos pelo Twitter, têm um quadro em um programa de TV e analisam, no blog, todos os jogos da dupla Grenal.

Tudo começou em meados de 2008, quando a Quetelin Rodrigues teve ideia de produzir programas em vídeo junto com sua amiga Roberta Konzen sobre Grêmio e Inter. Era tudo caseiro. Sozinhas, as duas produziam, apresentavam, filmavam e editavam o programete. Aos poucos, a inciativa cresceu na internet e alcançou um alto índice de visualizações. Foi, então, que o nome Salto Alto FC avançou para outras mídias e, para isto, o time teve de ser reforçado. Raquel Saliba, Bárbara Natália, Luiza Barbosa e Laura Toscani entraram em Jéssica,Christiane,Débora e Tatiana participam do Clube doBolinha campo para vestir a camiseta rosa do Salto Alto. Em blog, Twitter, O blog é hobbie levado a sério por domínio. Facebook e Youtube, as meninas es- elas, que possuem escala de posPor ser um domínio pertencente tão sempre ligadas no que acontece tagem, assim mantendo-o sempre à RBS, desde sua criação, em 2006, no universo do futebol, em especial atualizado. já passaram por lá várias formações. Parece incrível, mesmo com a Atualmente, ele é representado por com as equipes da dupla Grenal. configuração rosinha e os jeitinhos Christiane Matos, Débora Pradella, descontraídos e meigos de falar, Jéssica Mello e Tatiana Lopes. As o público delas é, em sua maioria, meninas apostam na cobertura mais masculino. Elas fogem do estereó- descontraída e estão sempre inotipo “maria-chuteira” e falam sério vando. “Recentemente estreamos sobre o assunto. Roberta Konzen um novo quadro em vídeo do blog, explica: “A ideia é atingir quem o No Ângulo. Nele nós entrevistagosta de futebol. Tanto homens mos jogadores de uma forma bem quanto mulheres. Mas temos em descontraída. A tendência é buscar nossa filosofia a busca pelo interes- conteúdos e ideias ainda mais intese das mulheres nesse esporte tão ressantes e ser uma referência”, diz fascinante e apaixonante que é o fu- Débora Pradella. Frente ao preconceito, elas não tebol. Acredito que pela forma como escrevemos e produzimos todas as se intimidam e acreditam que a quamídias do Salto Alto, impondo uma lidade da cobertura de esportes não forma bem feminina, estamos con- tem nada a ver com a sexo. “A coquistando cada vez mais mulheres.” bertura jornalística de futebol pode O blog está sempre atualizado ter a mesma qualidade se for feita com os últimos jogos da dupla, no- por um homem ou uma mulher, tícias importantes e curiosidades. vai depender do profissionalismo”, No Twitter, elas interagem com seus enfatiza Débora. “A diferença é que seguidores e transmitem as partidas nós mulheres temos a possibilidade em tempo real. Apesar da recepti- de enxergar e falar sobre coisas vidade alcançada, as seis meninas extra-campo, como o penteado precisam ralar em outra atividade. A ou a roupa de algum jogador, por maioria delas combina trabalho com exemplo. Parece futilidade, mas dá a faculdade, mais o Salto Alto que um olhar diferente em cima de um nunca ficou de lado. Para nenhuma assunto que poderia ser tratado de delas o projeto não é considerado uma forma igual em todos os veícuum hobbie. Muito pelo contrário. los ou nem seria abordado”, conclui O blog ainda não gera renda, mas o a repórter. maior sonho de todas é crescer junto com o Salto Alto e, um dia, poder CONFIRA: viver só dele.

Salto Alto FC

Clube do Bolinha

Luíza, Roberta, Bárbara e Quetelin são do Salto Alto FC

Não é só o Salto Alto FC que faz sucesso na rede. O Clube da Bolinha, blog do ClicRBS, já ultrapassou em acessos os blogs de grandes profissionais do Grupo RBS como Wianey Carlet, Luiz Zini Pires e David Coimbra. Para se ter uma ideia, em um mês, foram 350 mil acessos no

Blog - www.saltoaltofc.com.br Programas em vídeo - www. videolog.tv/saltoaltofc

Clube do Bolinha Blog – www.clicrbs.com.br/ clubedabolinha

Porto Alegre, maio 2011

hiper 7 texto

Cultura

A irreverência da Matanza e o som romântico de Marcelo Camelo abrem as páginas de cultura

Matanza divulga novo álbum no Sul O grupo se apresentou em Porto Alegre para mais de 1.800 fãs no bar Opinião Foto Divulgação

Por Morgana Laux

A banda carioca Matanza fez seu show em Porto Alegre, no bar Opinião, na fria noite de 15 de maio. Mais de 1.800 fãs assistiram o grupo que fez um espetáculo mostrando muita energia em duas horas de hard core sem parar. A banda tocou músicas do novo álbum “Odiosa natureza humana”, sucessos antigos e fez homenagem ao cantor e compositor norte-americano Johnny Cash, conhecido pela forte influência sobre o grupo. No show que divulga o primeiro álbum de inéditas em quase cinco anos, o Matanza começou com “Remédios demais”. Apesar de nova, a letra dessa e de outras músicas produzidas recentemente foram acompanhadas por boa parte do público que repetia junto com o vocalista Jimmy London, conhecido por liderar o quarteto e pelo seu estilo mal humorado. Era o sinal de aprovação do público do novo repertório.

No embalo, os fãs puderam conferir “Meio Psicopata”, “Rio de Whisky”, “Bebe, Arrota e Peida”, além de “Home of the Blues” e “Straight as in Love”, ambas da lenda country Johnny Cash. A explosão aconteceu mesmo com “Bom é Quando Faz Mal”, sucesso popularmente conhecido por ter sido apresentado na MTV. Durante o show, Jimmy fez uma espécie de vestibular para o público, a fim de manter um contato mais próximo e chamar as músicas que a banda tocaria. Uma das perguntas era relacionada ao que mantinha os dentes no lugar e outra aos elementos que formam a pólvora. Após as tentativas do público, foram apresentadas “Em Respeito ao Vício” e “Carvão, Enxofre e Salitre”. Curiosamente, o quarteto também tocou músicas antigas, como “Ela roubou meu Caminhão” e “Eu Não Bebo Mais”. A clássica “Interceptor V6” fez o público delirar. Mas, o impressionante da noite é que todas as canções foram cantadas pelo público em massa. Para aqueles que não foram, Jimmy

Grupo carioca se apresentou no Opinião e deve voltar a Porto Alegre em dezembro afirmou que em dezembro a banda estará de volta em Porto Alegre, no bar Opinião. E da próxima vez,

Marcelo Camelo declama o amor

acredito que a dica é escolher melhor os grupos de abertura, porque estiveram longe de agradar ao púCaroline Witczak/ Hiper

BREVES g No cinema A música Faroeste Cabloco, da banda Legião Urbana, será adptada para as telas de cinema. A saga de João de Santo Cristo, contada em uma das maiores músicas do rock nacional, virou roteiro de cinema com Paulo Lins, conhecido pela autoria do livro “Cidade de Deus”. Os cenários para o filme serão os bairros de Brasília e o longa está com previsão para chegar aos cinemas brasileiros no segundo semestre de 2011.

Ex-vocalista da banda Los Hermanos apresentou repertório mais colorido Por Luna Pizzato

A mudança faz parte do percurso de qualquer artista, como resultado do amadurecimento. E para Marcelo Camelo, não haveria de ser diferente. Em seu segundo álbum solo, o ex-Los Hermanos se mostra mais colorido. Afinal, a ruptura e a busca da reinvenção não são mera iconoclastia, mas sim um grande elogio à liberdade criativa. Classificar “Toque Dela” como um álbum repleto de amor, talvez possa soar redundante, mas esse é, sem dúvida, o trabalho mais pessoal do cantor. “Uma fase mais ensolarada e pulsante”, como ele mesmo definiu. Sim, a nova realidade de

hiper 8 texto

Camelo é um pouco mais colorida, mas sempre com um toque da melancolia que lhe é tão costumeira. Gravado ao longo de 2010 no estúdio El Rocha, entre caminhadas no bairro de Pinheiros, em São Paulo, “Toque Dela” é um álbum tranquilo, como se produzido por ele próprio e gravado entre amigos e sem pressa. Quatro das dez músicas falam sobre o sol. Outras três sobre São Paulo. E a palavra amor surge inúmeras vezes, entre sussurros e sambas. Antes Camelo cantava, junto da namorada Mallu Magalhães, a possibilidade da eternidade ser cruel. Na faixa “Vermelho”, ele se assume, sem medo, filho da eternidade. Triste é viver só de solidão, já diria o cantor e compositor na canção de abertura “A Noite”. Frase

Porto Alegre, maio 2011

blico, que mostrava-se impaciente até o momento em que o quarteto subiu ao palco.

g Máfia em livro

O som intimista de Marcelo Camelo apaixonou o público que explicita, no entanto, uma temática inversa ao trabalho anterior, que exaltava a sua “Doce Solidão”. Em sua estética do espontâneo, desenhando um universo poético simples, o músico finalizou um álbum de amor tocante como afirmação artística. O “Toque Dela” revela o impacto que as mudanças

simples (ou não) que acontecem quando nos vemos deparados com o amor possuem. Em suma, é um disco de entrega emocional. E entre tons acústicos, costurados com assobios, cores, pores-do-sol, visões do mar, samambaias, solos e ruídos poéticos, um Opinião lotado se apaixonou junto com Marcelo Camelo.

Os Corleones, protagonistas da obra “O Poderoso Chefão”, de Mario Puzo, ressurgem no cenário literário no próximo ano com o lançamento da prequencia “The Family Corleone”, da editora Grand Central Publishing. O novo livro contará a história da família na cidade de Nova York dos anos 1930 e será baseado em um roteiro de Puzo nunca produzido.

cultura

Pixel Show, a diversão levada a sério

Fotos Camila Cunha/ Hiper

A criatividade abre as portas do mercado de trabalho aos jovens Por Mariana de Ávila

Três mil jovens ansiosos, os computadores e celulares a postos para reproduzir cada frase de impacto em um tweet com o #pixelshow, lotaram a Reitoria da UFRGS na esperança de transformar suas formas de expressão em emprego. Durante um final de semana, nos dias 7 e 8 de maio, 13 palestrantes especialistas em áreas como ilustração, games, concept art, design, moda, animação, cinema, intervenção urbana, fotografia, novas mídias, charges, cartoons, arte e tecnologia contaram como são valorizados por apostar em uma identidade própria em seus trabalhos.

Pelo segundo ano consecutivo em Porto Alegre, o Pixel Show, maior conferência de criatividade do país, abre espaço para o encontro de fãs das artes com um mercado de trabalho que leva a diversão a sério e gera lucros estratosféricos, além proporcionar ao profissional uma vida menos engravatada. No estúdio de criação e motion graphics Studio Nitro, do publicitário Rodrigo Angello, 32, os brancos criativos são tratados com partidas de vídeo-game na sala dos sócios. “A ideia vem quando ela tem que vir, é importante relaxar no processo”, reforça. Como consequência, a produção da abertura em 3D do filme Planeta Hulk, da Marvel Comics, vinhetas e identidade visual de programas da MTV, e a campa-

Obras do público foram empilhadas como tijolos coloridos

Os participantes do Pixel Show foram desafiados a criar e mostrar suas habilidades nha contra a poliomielite do Minis- portfólio online com uma rede de balhar em uma gráfica, os primeiros tério da Saúde em 2010. Baseado inscritos http://fama.zupi.com.br/ passos para mergulhar na carreira no desenho da Disney Toy Story, o fama. “Isso é legal no Pixel Show, de design mantida até os dias de Zé Gotinha foi reformulado pelos aqui é o momento de cada um sair hoje. “Tudo que aconteceu não foi artistas e, em 20 dias, todo o mate- de suas bolhas”, afirmou a cura- por acidente, foi por persistência”, rial publicitário estava pronto. “Nos dora do projeto em Porto Alegre, enfatiza. Com 25 anos de atuação fomos os primeiros a propor ao Camila Farina, da casa de criação no mercado, a GAD’ reformula a Governo uma campanha que fosse e comunicação Maria Cultura. O marca e identidade visual de granaprovada em etapas. Quando eles artista Flavio Samelo, 34, reforçou des empresas, e Monteiro busca ironicamente: profissionais multidisciplinares viram que havia “Não tem nada para integrar seu time, com renoapenas três dias d e t a l e n t o , é vação constante da equipe. “Nós para aprovação “Quadrinhos não tudo esquema”. entre uma fase dependemos de novas ideias para é faculdade nem E x p o e n t e evoluir”, conclui. e outra, pra trosalário base, é puro da fotografia no car um desenho Seja na lataria da kombi estaou ideia, se apaempreendedorismo” cenário urbano, cionada no pátio do evento, em Samelo come- cubos de papel, em espaços para voraram!”, no (Danilo Beyruth) çou a fotografar pintura ou por meio de grafite e final, poucas alskate por não estêncil, o público pode interagir e terações foram se dar tão bem deixar sua marca. A estudante de demandadas. O estudante de ciências sociais em cima do shape. Foi ganhando design de produto Priscila Peres, Marcus Rocha, 26, recebeu durante fama, participando de produções 26, foi pela segunda vez ao Pixel o evento o tradicional autógrafo em diversas revistas de skate e, Show e, no lounge do local, desepersonalizado do quadrinista Dani- entre um contato e outro, já fez de nhou em um cubo de papel. Quando lo Beyruth, 38. Na primeira página ilustração de garrafa de uísque ao finalizado, a obra se misturou a do gibi Bando de Dois, Beyruth primeiro tênis da Nike totalmente outras, empilhadas como tijolos desenhou um crânio em uma caixa, customizado no Brasil, além de coloridos, formando um mosaico símbolo da história. Fã de charges muitas exposições que misturam de desenhos. Os organizadores da e tiras, o estudante diz que admira colagem, pintura e fotografia em di- área foram Marco Escada, 32, e Ridesenho por traduzir o que aconte- versas partes do mundo. O segredo cardo Fonseca, 32, estúdio de arte, ce no mundo e, apesar de arriscar para permanecer design e arquiteuns traços como hobby, gostaria com visibilidade tura Canhotode tornar este prazer em profissão. no mercado é a rium. “O cubo é “Se você tá fazendo “A indústria brasileira está restrita renovação: “Se a origem da imaalgo e a galera acha ao Maurício de Souza”, reclama você tá fazendo gem, e ótimo ver que tá legal, tá na hora quantas ideias Beyruth. No exterior, desenhistas algo e a galera ganham por página conclusa en- acha que tá lede mudar. Tem que se diferentes se retregue à editora. No Brasil, apenas gal, tá na hora únem ali”. Até superar” 10% do valor do preço de capa de mudar. Tem mesmo na festa (Flávio Samelo) do gibi retorna ao autor. Depois que se superar”, em comemorade alguns anos trabalhando com reitera Samelo. ção ao sucesso direção de arte em publicidade, foi da conferência, Pregando a com o gibi nacional independente mesma filosofia de mudança, o na boate Madrigal, os criativos não Necronautas, projeto de vida, que diretor-executivo da empresa de abandonaram seus olhares atentos. Beyruth alcançou a popularidade. gestão de marca GAD’, Valpiro Proposto como desafio pelo Pixel “Quadrinhos não é faculdade nem Monteiro, 57, faz de si mesmo um Show, todos deveriam levar skesalário base, é puro empreendedo- exemplo de metamorfose. Nos anos tchbooks, bloquinhos de anotação, rismo”, disse. 60, foi músico e ativista político. para desenhar as cenas que viam A editora Zupi, organizadora Como antropólogo e técnico indige- durante a noite. Os melhores desedo evento em âmbito nacional, nista da FUNAI, residiu em tribos nhos foram premiados com brindes disponibilizou um diretório para do Alto Amazonas e Maranhão. e, as melhores experiências, fizeram que o público, sedento por contatos Estudou arquitetura, atuou com parte da série de aprendizados em e visibilidade, compartilhasse seu publicidade e, aos 28 anos, foi tra- busca da afirmação individual.

Porto Alegre, maio 2011

hiper texto

9

cultura/ reportagem No centro emocional de Porto Alegre, o antigo prédio que abrigou a OSPA está abandonado e deve dar lugar a um edifício residencial de 14 andares

RÉQUIEM PARA UM TEATRO Fotos Felipe Dalla Valle/ Editorial J

Por André Pasquali, Marcelo Sarkis e Natália Otto Em uma das regiões mais estimadas de Porto Alegre definha uma construção que marcou a história da Capital. O prédio do antigo Teatro Leopoldina – posteriormente Teatro da OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) –, na esquina da Avenida Independência com a Rua General João Telles, está com os dias contados. Desativado desde 2008 e com a estrutura comprometida, o local aos poucos perdeu seu encanto. As paredes que abrigaram desde os acordes de Ástor Piazolla ao reger intenso do maestro paulista Isaac Karabtchevsky, passando por outros diversos espetáculos musicais e teatrais, se desgastam lentamente. Hoje, ratos correm pelo piso que refletiu um tempo dourado da cultura porto-alegrense. O prédio, propriedade da família Satt – tradicional investidora no mercado imobiliário de Porto Alegre –, teria sido recentemente negociado com uma construtora da Capital especializada em grandes empreendimentos residenciais. Após a sala de espetáculos ter permanecido fechada por três anos, uma reforma deverá transformar

o antológico teatro em um edifício de 14 andares. Os proprietários do imóvel não querem se pronunciar sobre a transação. Apesar disso, a informação é confirmada por três pessoas ligadas ao local de formas diferentes e que preferem não se identificar. O teatro está abandonado desde julho de 2008, quando Karabtchevsky regeu a última apresentação da OSPA na Independência e a direção da orquestra resolveu encerrar o ciclo nesse endereço em decorrência dos riscos e da insalubridade.

Os 20 anos do Leopoldina A construção que abrigou o Leopoldina e a OSPA sempre foi curiosa: no térreo, o imponente teatro. Acima dele, o esqueleto de um prédio nunca finalizado. A arquiteta Juliana Pasquetti Conelli, que durante a faculdade pesquisou sobre o edifício, aponta que problemas com o Plano Diretor da cidade motivaram a não conclusão

das obras. Quando começou a ser erguido, em 1958, o imóvel atendia a todos os requisitos da prefeitura. Em 1963, a construção parou por alguns meses. Os proprietários resolveram retomá-la ainda no mesmo ano, mas uma mudança na legislação, que dizia respeito ao número de garagens necessárias no edifício, tornava o projeto ilegal. Seria necessário adaptar a concepção original, o que acabou não acontecendo. O que a princípio seria uma torre de 15 andares acabou virando uma carcaça de sete pavimentos. Depois desses entraves, Porto Alegre perdeu a chance de ganhar um ambiente que abrigaria mais do que espetáculos. “Existia a possibilidade de tornar o imóvel um apart-hotel que hospedaria, alguns lances de escada acima do palco, artistas e técnicos que fossem trabalhar no teatro, além de espectadores”, conta Juliana. Apesar dos percalços durante a construção, o Leopoldina prevaleceu. Inaugurado oficialmente em outubro de 1963, foi apenas em abril do ano seguinte, mês marcado pelo início da ditadura militar brasileira, que a casa teve seus 1.230 lugares ocupados pela primeira vez. A peça era My fair lady, texto do norteamericano de George Bernard Shaw e montagem de Moss Hart, que encantou o público porto-alegrense desacostumado com a extravagância musical importada da Broadway.

Prédio inacabado do antigo Teatro Leopoldina na sofisticada avenida Independência

hiper 10 texto

Porto Alegre, maio 2011

Última destinação: palco da orquestra sinfônica da cidade Em cima do tablado da Avenida Independência, Bibi Ferreira e Paulo Autran, falecido em 2007, deram vida aos personagens principais. Em 1968, foi encenado Roda Viva, texto adaptado da música de Chico Buarque. Na primeira noite da temporada, no dia 3 de outubro, militares à paisana distribuíram panfletos com o alerta: “Hoje preservaremos as instalações do teatro e a integridade física da plateia e dos atores. Amanhã, não!”. No dia seguinte à peça, as paredes do Leopoldina amanheceram pichadas com ameaças. Intimidado, o elenco decidiu sair de Porto Alegre. Na rodoviária, foi surpreendido por oficiais. Cerca de 30 homens espancaram os 28 artistas e sequestraram os atores Elizabeth Gasper e Zelão, liberados em uma clareira fora da cidade depois de horas de tortura psicológica. “Era um local e uma época de grande efervescência cultural”, garante Diônio Kotz, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro Independência (Amabi). Diônio, dono da Academia Mudan-

ça, mora e trabalha no bairro há mais de 30 anos. Vindo de Cerro Largo, na região norte do Estado, aprendeu a compreender e viver Porto Alegre através da agitada vida que a Independência proporcionava nos idos de 1970. Após uma década recebendo nomes expressivos da música, como a norte-americana Ella Fitzgerald e os brasileiros Elis Regina e Gilberto Gil, além de diversos espetáculos teatrais, nos anos 1980 o Leopoldina entrou em declínio. A família Satt teria perdido o interesse em explorar o local. “É preciso considerar a questão histórica e as mudanças culturais da época”, analisa Juliana. “A proliferação dos cinemas e dos shoppingcenters fez com que vários teatros entrassem em decadência naquela década.” Em 1981, as portas foram fechadas para reabrirem apenas em 1984, dessa vez com um novo nome: Teatro da OSPA. A esquina da Independência voltou a ser referência para os porto-alegrenses e assim permaneceu pelos 24 anos seguintes.

cultura/ reportagem Fotos Felipe Dalla Valle/ Editorial J

Fechado há três anos por apresentar falhas na estrutura, sistema elétrico e ar condicionado, o antigo Teatro da Ospa está cada vez mais deteriorado. A vizinhança reclama da sujeira

Depois, a decadência Falhas na rede elétrica, no encanamento e no sistema de ar condicionado não são exclusividade do prédio abandonado que é visto hoje na Independência. Presidente da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, o cardiologista Ivo Nesralla avalia que o teatro já apresentava falhas na estrutura desde que a orquestra se mudou para lá. “O sistema hidráulico e de energia já deixavam muito a desejar”, lembra. A refrigeração da sala sinfônica, que funcionava à base de gás amônia, era uma situação especialmente perigosa: a Brigada Militar chegou a alertar Nesralla a respeito de um possível vazamento do gás, que é altamente tóxico e poderia ser fatal aos espectadores presentes. “Entre ser o responsável pela morte de outras pessoas ou sair dali, a equipe da OSPA resolveu deixar o local”, esclarece. Antes de se retirar definitivamente da Independência, a OSPA fez algumas tentativas de desapropriar o prédio. Nesralla conta que chegou a acertar com o dono do imóvel a quantia necessária para a desapropriação. “Infelizmente, o dinheiro que vinha do Ministério da Cultura precisou passar pela Secretaria de Educação e nesse imbróglio governamental se perdeu a verba”, lamenta. Sem possibilidade de apropriar-se do edifício e tendo que lidar diariamente com os inúmeros defeitos da construção, no dia 1º de junho de 2008 a orquestra realizou seu derradeiro concerto no local, emocionando o público que lotou a casa ao som de Uma vida de herói, de Richard Strauss. A separação deixou ambos sem norte: a orquestra desabrigada e o teatro vazio. O abandono do prédio,

somado ao movimento das casas noturnas da Avenida Independência, fez com que lojas que ocupavam o andar térreo também saíssem à procura de novas locações. Os frequentadores dos estabelecimentos próximos depredavam a fachada das lojas, que tinham que ser constantemente limpadas e renovadas. Enquanto a poeira se acumulava sobre a antiga bilheteria, em apenas dois anos o edifício passou novamente a ser apenas uma carcaça, despertando um misto de revolta e nostalgia nos moradores da região. “É muito triste ver o prédio assim. Esses dias, chegou a entrar na minha casa um rato que saiu dali”, indigna-se Léa Quites, moradora do condomínio vizinho. “Tenho certeza que a maioria das pessoas do bairro gostaria que a OSPA tivesse permanecido aqui, mas a situação está crítica. Pelo menos vão fazer alguma coisa”, conclui, referindo-se à construção do novo empreendimento. Enquanto sua antiga casa definhava, a orquestra seguiu tocando em palcos emprestados, sem locação fixa. “Seguramente a relação da cidade com a OSPA se enfraqueceu pela falta de um espaço físico”, lastima Nesralla. “É muito simples: não existe time de futebol sem estádio, não existe orquestra sem sala sinfônica.” A OSPA aguarda recursos para a construção de seu novo teatro, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, orçado em R$ 32 milhões e sem previsão de início das obras. Se a OSPA luta pra reafirmar sua posição como ícone cultural de Porto Alegre, provavelmente o antigo teatro não terá a mesma sorte. A memória sucumbiu ao mercado imobiliário: palco, bilheteria e poltronas, assim como o esqueleto incompleto acima deles, deverão dar lugar a galerias de lojas e apartamentos residenciais.

Da cultura ao comércio A Avenida Independência é uma das mais importantes vias de Porto Alegre. Foi construída na segunda metade do século 18 com o objetivo de ligar a Capital e a Aldeia dos Anjos, hoje Gravataí. A elite porto-alegrense ocupou a avenida especialmente por ela estar localizada em um dos pontos mais altos da cidade. Ao longo dos anos, o local acabou perdendo sua condição estritamente residencial para se tornar mais comercial. Devido à sua antiga origem, a Independência mantém em sua extensão diversos prédios históricos. Vários abrigaram cinemas, teatros e casas de espetáculo. Essa tendência era um dos motivos que atraía as elites para a região. A professora de História da Arqui-

tetura da PUCRS, Raquel Lima, evidencia essa especulação imobiliária das classes mais favorecidas. “Morar em um apartamento já era super moderno, ainda mais com um cinema embaixo”, conta. A região ostentava uma vida noturna movimentada. Clubes de jazz e bares eram a preferência do público que transitava pelas calçadas da avenida. “As pessoas iam à Independência para verem e serem vistos. Era um ponto de paquera. Ali, as mulheres lançavam moda”, afirma Raquel. Hoje, os casarões históricos, em sua maioria, deram lugar a prédios comerciais e residenciais. “Em toda a cidade, as áreas nobres estão sendo ocupadas por prédios. A verticalização pode servir quando a infra-estrutura é planejada, mas também pode causar impactos negativos. Por isso, esses espaços têm que ser muito bem pensados”, avalia a professora.

A mudança da Av. Independência de pólo cultural para centro residencial e comercial é impulsionada também por outra tendência: “A lógica é que os estabelecimentos de lazer saiam da calçada e vão para os shoppings, que atraem o novo público ligado à cultura”, explica a arquiteta. Portanto, o movimento urbano que transformaria o Teatro da OSPA em um condomínio não é novidade. Mesmo com ações para revitalizar locais que costumavam servir como pontos de referência, é muito difícil que não se imponha a tendência de migração para ambientes fechados. “É um movimento muito complexo que envolve o desinteresse da sociedade pelo espaço urbano, por falta de segurança e por modismos. Há também uma influência norteamericana muito forte”, conclui Raquel.

“Entrou rato na minha casa vindo dali”, denuncia Léa Quites, apontando para o Leopoldina Porto Alegre, maio 2010

hiper11 texto

12 ponto final

Crônica

Porto Alegre, maio 2011

Ensaio

Morgana Laux

O homem e as contradições da liberdade À

palavra liberdade, o dicionário concede o significado de grau de independência legítimo que alguém conquista. Mas, o conceito é constantemente discutido na sociedade. Atualmente, as dúvidas que permanecem dizem respeito à ideia de que “será que somos realmente homens livres e nossas ações se dirigem à conquista dessa independência?” A resposta é não. O homem é inimigo do homem, já dizia uma letra de música. No seu comportamento ainda se percebe rastros de individualismo, de ambição, além de um sentimento de covardia. Recentemente, em 9 de maio, a notícia de que ocorriam expedições de caça a animais no Pantanal foi divulgada na web. Um vídeo mostra uma onça perseguida e morta, sem a mínima consciência. A responsável pelo safári ilegal, onde a onça foi caçada, era ligada ao setor de proteção ambiental do Estado e também presidiu a Sociedade para a Defesa do Pantanal, uma organização não governamental. Triste, não? Ela se rendeu às quantias de R$ 49 mil a R$ 64,8 mil, pagas cada vez que um turista brasileiro ou estrangeiro fosse “se entreter” na área. Ela simplesmente vendeu sua liberdade e a dos animais. A realidade, cometida há 15 anos, abre precedentes para outras questões como o homem só consegue apreciar a beleza dos bichos quando eles estão enjaulados? Se

não for dessa forma, ele vende e mata? Por isso, chega-se à conclusão de que o homem não é livre, enquanto não aprender que é preciso se desprender do dinheiro para conquistar independência. Em certo momento, os espetáculos circenses que ridicularizavam elefantes, macacos e outros animais atraíam público que achava graça do desempenho dos bichos. Para as crianças podia até ser divertido, mas aconteciam maus tratos que, na verdade, em alguns circos eram feitos para que os animais pudessem aprender os atos. E tudo não passava de hipocrisia, porque, enquanto os meninos e meninas riam, sem dúvida, havia momentos de tensão. Está no extinto do animal ser livre. Nenhum nasceu para se vestir de palhaço e empinar o corpo para trás ao escutar um comando ou fazer graças. Após a era dos circos, agora as pessoas frequentam os novos zoológicos, baseados em uma tentativa de criar um ambiente para se aproximar dos animais. Os pássaros ficam soltos em um viveiro grande, em torno do qual os espectadores observam e tiram várias fotos, como se tucanos e araras fossem seres estranhos a esse mundo. Apesar de poder observá-los sem os ferros por perto, as grades continuam lá, no fundo do terreno. Mas, talvez elas precisem estar, porque o sistema é complexo. Lugares, como o Gramado Zoo e o Parque das Aves, em Foz

do Iguaçu, já apresentam esse tipo de estrutura. Se o homem não prende os bichos, ele não consegue entender o sentido de liberdade fora do seu mundo e das suas projeções. Ele não respeita o outro. O homem só sabe admirar a beleza natural quando ela está presa. Mesmo que isso seja contraditório, é uma oportunidade para mostrar às crianças a importância da liberdade e o quanto os animais são importantes. Sua preservação depende da raça humana. E, se não for da forma feita pelos zoológicos, talvez nunca mais possamos apreciar a beleza de algumas espécies, a exemplo da arara azul, ameaçada de extinção pela destruição do ambiente.

hipertexto

Maria Helena Sponchiado