2

Revista Fui Sambar

EDITORIAL

Estamos chegando lá Hoje nasce mais um produto, a terceira edição da Revista Fui Sambar, que buscamos fazer com muita qualidade e novidades para nossos leitores. O lançamento acontece numa época que nós mineiros e brasileiros adoramos, o carnaval! Compartilhar mais uma vez com todos vocês mais uma edição, dividir as derrotas e conquistas é muito gratificante, ao lançarmos mais uma edição temos a sensação de dever cumprido. Esta terceira edição traz para nossos leitores entrevistas de dois artistas de grande destaque no cenário do nacional, Arlindo Cruz e Péricles. Foi uma satisfação e alegria para toda a equipe conquistar essa oportunidade que sempre buscamos. Nosso objetivo maior é dar destaque aos artistas e eventos mineiros, a revista traz também entrevistas com os grupos “Nascidos do Samba”, que está lançando o seu terceiro CD com o título, “Vamos Batucar”, e o grande vencedor da enquete do site Fui Sambar, eleito o melhor grupo de samba do ano de 2013, “Simplicidade do Samba” e fechando com chave de ouro entrevista com o grande sambista mineiro da nova geração, Fernando Bento. A grande motivação da revista é ser um veículo de comunicação que retrate a beleza e a versatilidade do samba. Nossa equipe é

composta por três jornalistas e um diretor de arte e diagramador, ambos amantes e frequentadores de grandes sambas e pagodes de Belo Horizonte. Resolvemos por meio da revista dividir com nossos “amigos” a nossa visão sobre esse ritmo que cresce e encanta cada dia mais a nossa cidade. Não é fácil conseguir a credibilidade de alguns produtores e do público mineiro, mas aos poucos estamos conseguindo conquistar o nosso espaço e mostrar que estamos trabalhando para a promoção de todos. Esse é um trabalho sério e feito por profissionais capacitados e que investiram nas suas formações para fazer um trabalho bem feito. Obrigado, a todos que estão recebendo com carinho mais uma edição. E voltamos a reafirmar que nosso principal objetivo é ter vocês como leitores, fortalecendo e nos ajudando a melhorar cada vez mais as próximas edições. Nossa missão é fornecer um novo olhar de informação para os adeptos desse ritmo que encanta o público mineiro.  Esperamos que gostem de mais esta edição da Revista Fui Sambar!

Por: Flávia Nunes

expediente Revista Fui Sambar é uma publicação informativa trimestral do site www.fuisambar.com.br Presidente: Junio Amaro Jornalista Responsável: Flávia Nunes - 13788mg Projeto Gráfico, Arte e Diagramação: Junio Amaro | Revisão: Nicibel Silva, Flávia Nunes, Efigênia Souza, Fernanda de Souza. Colaboradores: Ricardo Ricco, Tâmyris Tavares. Tiragem: 5.000 Contato / Publicidade: (31) 9481-9766 | 8556-8718

[email protected]

www.fuisambar.com.br

índice

6 e 7 | PÉRICLES E sua carreira solo

8 e 9 | Simplicidade DO SAMBA O batuque modesto de um grupo vencedor, o melhor do ano de 2013

14 | Fernando bento

O jovem especialista de um samba ancião.

Revista Fui Sambar

3

Fotos: Junio Amaro e Ricardo Ricco

Para coberturas ligue: (31) 8556-8718 4

Revista Fui Sambar

Revista Fui Sambar

5

ENTREVISTA

Compositor de belas canções, com uma voz linda e potente, emociona aqueles que curtem boa música. Nascido em Santo André, Péricles Aparecido Fonseca, carinhosamente chamado pelos fãs de Pericão, vem consolidando sua carreira solo dia após dia. “É tudo muito diferente, só sabemos o que é a carreira solo vivendo isso. É um momento bem legal e espero que todos se divirtam tanto quanto eu”, conta Péricles. Lançando o seu segundo trabalho, o DVD “Nos Arcos da Lapa”, com canções em homenagem aos grandes sucessos dos anos 90, Péricles admite que não foi fácil fazer a escolha do repertório, mas que procurou focar nos grandes sucessos que tiveram repercussão também fora do país. Segundo o cantor, esse é um trabalho que tem início, meio e fim; “Homenageamos os que vieram primeiro e depois tivemos

6

Revista Fui Sambar

a participação dos que vão levar isso para frente”, conta Péricles. Os amantes do samba vão encontrar nesse novo álbum músicas como “Viola em bandoleira”, “Sorriso aberto”, “No compasso do criador”, “Recado a minha amada”, “De bem com Deus”, “Seja mais você”, “Volta de vez pra mim”, “Quem é ela”, “Pra São Jorge”, “Minha fé”, além de algumas músicas inéditas. Com relação a expectativa para esse novo DVD, diz que espera ser tão legal quanto foi o último, que todos recebam com muito carinho. E carinho foi o que não faltou em sua apresentação em Belo Horizonte, as pessoas deliravam com cada música. Péricles disse que sempre é muito bem recebido em Minas e que gosta de cantar por aqui. Numa reportagem antiga disse que gostaria de gravar um DVD em cada capital, e Belo Horizonte também estava na lista. “O que precisamos na realidade é de tempo para realizar essa vontade”, contou Péricles. Silvânia Trindade foi ao show por admirar as canções e para ouvir algumas músicas que marcaram sua vida, segundo a fã, tudo que Péricles canta fica muito bom. Mostrando que é um cantor versátil, Péricles emocionou todos que estavam presentes em seu show, ao voltar de um pequeno intervalo declamando lindamente o “Soneto da Fidelidade” e cantando “Eu sei que vou te amar”, de Vinícius de Moraes. Silvânia lembra que esse foi o momento mais emocionante e surpreendente. Falando em Minas, não pude deixar de perguntar se ele conhece cantores, grupos em Belo Horizonte, Péricles foi rápido na resposta. “Conheço vários grandes grupos, vários grandes sambistas, tenho amigos aqui, o Evair, Nonato, grandes amigos. Eles estão fazendo um trabalho muito bom há um bom tempo”, lembra Péricles.

preconceito é algo que precisa acabar. “O “Esquenta” é uma festa em que aprendemos muito com as famílias brasileiras, então a importância do programa é muito grande neste momento, justamente por isso”. No decorrer do tempo, o preconceito contra o samba vem diminuindo, mas ainda não acabou. Hoje, podemos ver o samba como trilha sonora de novelas, como por exemplo, a música “Minha razão” do “Exaltasamba” que foi tema dos personagens Tufão e Nina em “Avenida Brasil”. Péricles acredita que o preconceito diminuiu um pouco, mas ainda é algo que precisa melhorar. O brasileiro precisa deixar de lado qualquer tipo de preconceito, porque assim vai melhorar para todo mundo. Por: Fernanda de Souza

Fotos: Junio Amaro

No século 19, o samba não era bem visto na sociedade, só depois da Abolição que começaram a olhar o ritmo de maneira diferente. A novela “Lado a Lado” da Rede Globo retratou bem esse preconceito existente no início. Esse envolvente ritmo existe há muito tempo, porém agora vem ganhando mais destaque na mídia. Péricles diz que há pelo menos cinco anos o samba vive o seu melhor momento, por que ele é mais bem divulgado em todas as mídias, existem vários festivais de samba que chegam a muitos lugares. “Hoje em dia, tem festivais de samba transmitidos pelos canais de TV aberta e fechada. Então, estamos conseguindo algo muito bonito e muito importante”, lembra o cantor. Não podemos deixar de lembrar do programa “Esquenta” que vem ajudando muito nesse processo de mostrar que o

Revista Fui Sambar

7

Fotos: Arquivo Pessoal

Entrevista

O batuque modesto de um grupo vencedor O chão batido, paredes sem rebocar e o teto era o céu... Uma roda de samba só no gogo, sem microfone, sem nada... Tudo começou assim, há sete anos, no bairro São Marcos, zona nordeste de Belo Horizonte. Uma casa simples, o cachorro quente caprichado de Dona Maria das Graças Santos de Oliveira, conhecida carinhosamente como tia gracinha, cerveja gelada e muita, mas muita vontade de cantar um bom samba ditava a harmonia do local. “Não tínhamos nada, mas tínhamos o samba, então, tínhamos tudo” conta Alan Gualberto, cavaquinista do grupo. O intuito na época era ajudar a tia de Alan a buscar uma renda extra e transformar o local em um estabelecimento comercial através de uma comidinha especial e muita saborosa ao som de uma boa música. Entre uma nova casa e outra, um novo trabalho e outro, componentes saíram e outros entraram e foram agregando talentos, sonhos e planos. “Além de componente, sou um fã do grupo, sempre o acompanhei primeiro na Tia Gracinha, depois na Jacuí. Lembro que em um desses sambas até me veio uma inspiração e compus uma música com Ricardo Barrão. Acredito no trabalho que fazermos. Um samba feito toda semana religiosamente, que quando não acontece faz uma falta... No final de ano estive na Lapa, um reduto de samba e senti saudade do batuque feito aqui no Cacá”, diz Ronan Oliveira. O músico ainda fala que no grupo a simplicidade realmente faz a diferença e a dinâmica de todos os componentes cantarem e abrirem espaço para artistas de fora também é um diferencial importante e característico do 8

Revista Fui Sambar

grupo. Como nem tudo são flores a reciprocidade e simpatia do grupo nem sempre é retribuída. “Muitos vem aqui no nosso samba, cantam, elogiam e chega lá fora finge que não nos conhecem, às vezes nem cumprimentam. Mas nossa postura é sempre respeitar, seja quem chegou agora ou quem chegou há 20 anos e nem sempre somos tratados assim ”, conta Edmar Silva. Meio do caminho sempre pode haver uma pedra, mas como diz o ditado “água mole, pedra dura... tanto bate até que fura” e a água desse grupo é a humildade. O batuque forte falou mais alto e o bairro São Paulo virou um verdadeiro oceano no quesito samba. Hoje Adriana Cândida no back vocal, Alan Gualberto no cavaco e banjo, Edmar Silva no tantan, Alexis Moreira no violão de sete cordas, Ronan Oliv eira no pandeiro, Evaldo Black no surdo e percussão e Adrianinho da cuíca na cuíca e percussão geral formam o Simplicidade Samba. “Já acompanhava o grupo desde o inicio e o vi se formando e se reformando. Como em todo e qualquer lugar cada um aqui tem um forma de agir, de falar, mas não somos um grupo, somos uma família”, afirma Adriana Cândida.

O berço, as conquistas e os sonhos O samba conhecido pelas animadas tardes de domingo no tradicional e místico bar do Cacá viu em 2013 o reconhecimento de um trabalho feito por amor. O grupo foi agraciado com titulo de melhor do samba e do pagode em votação popular pelo site Fui Sambar. Então, respeita o moço! Afinal, dentre tantos e outros artistas que vem se destacando no cenário mineiro, podemos dizer que não é muito fácil ser considerado um dos melhores tocando praticamente em um só local! “Ninguém acreditou no começo e não tínhamos noção da proporção que isso iria tomar. O samba era de 15 em 15 dias. Depois a pedido do público passou a ser semanal”, conta Evaldo Araújo. E as surpresas não pararam por ai, a casa enchia a cada domingo e foi se adaptando conforme as necessidades para atender a todos. Mas a superlotação continuou e nunca foi um problema ou novidade diante da sensação provocada pelo samba que foi ficando cada vez mais especial. “Não há satisfação maior que ver nosso samba lotado. Isso não tem preço, são aproximadamente 400 pessoas todos os domingos. Não há maior conquista”, completa Evaldo. E a receita do sucesso? Vou explicar agora! Pra começar ao chegar num samba do Simplicidade você será envolvido por um clima emblemático e sedutor, vai poder pedir sua música, vai sambar, vai cantar, se emocionar e se for artista... É só subir e da o ar de seu canto ou do seu instrumento. “Para o grupo o bar do Cacá é tudo, segunda casa mesmo. Se tem uma reunião é no Cacá, ensaio... É no Cacá! Festa particular também é no Cacá”, Completa Edmar. E acha que acabou? Tem mais! Entre sambas e sambas, convidados especiais podem surgir e transformar o que já é bom, em algo ainda melhor! “Lembro-me que Ubirani do grupo Fundo de Quintal nos fez duas visitas. E se sentiu emocionado ao ver o grupo tocar músicas que ele mesmo não cantava há dez anos”, destacamos também a presença do cantor e compositor Toninho Gerais, que nos emocionou e

ENTREVISTA também se supreendeu ao ver sua caricatura no bar, além de ter prestigiado a roda cantando várias músicas de sua autoria.” conta Ronan que ainda completa que é gratificante ver alguém pedir uma música e chorar ao ouvi-la. E nas voltas do mundo e nas peças que a vida pode pregar esses artistas nem poderiam imaginar que um dos seus trabalhos mais importantes seria a abertura do show do grupo inspirador de seu trabalho. Incrivelmente... O nome do grupo que é Simplicidade Samba surgiu através de Alan, cavaquinista do grupo, que se inspirou numa música do Fundo de Quintal e também, é claro, na história onde tudo começou a casa de Dona Maria das Graças. O show acontecido em 2013 no Music Hall ficou na memória da cada componente e para o sambista Edmar Silva esse foi umas das maiores conquistas do grupo “foi um prazer fazer este show, por que na verdade ganhamos o prazer de está ali. Sabemos que ainda muito a melhorar, mas foi uma oportunidade consolidar nosso trabalho e aparecer no mercado musical”, conta o músico que diz que os sonhos e planos não acabaram por aqui. “Nosso sonho é fechar um Chevrolet Hall só pro Simplicidade! Tocar vendo todo mundo cantar as nossas músicas. Se Deus quiser veremos isso”, afirma Adriana. A back vocal dona de uma voz poderosa ainda conta que viver da música é um dos maiores anseios dos músicos que também desejam gravar um CD com as composições do grupo em breve. A verdade é que além de reduto de samba com repertório muito elogiado, o grupo também é um poço de compositores, Adrianinho, Alex, Ronan e Alan, por exemplo, já estão com músicas prontinhas para cantar e nos encantar. Um grupo do povo ou um grupo para o povo? Bem, acho que as duas definições caracterizam perfeitamente o Simplicidade Samba. A começar pelo casamento perfeito entre o grupo e o bar do Cacá, quem for ao samba vai ter contato com qualquer um dos componentes do grupo que inclusive quando fizerem seu pequeno intervalo vão passar entre seu público abraçando e agradecendo um por um pela presença. Precisa dizer mais? Essa é a história real da simplicidade de um samba que conquistou Belo Horizonte!

Por: FifySouza

Revista Fui Sambar

9

Fotos: Arquivo Pessoal

Entrevista

Simpatia, entusiasmo e amor pela música esse é o sobrenome do “Nascidos do Samba”, um dos melhores grupos de samba de Belo Horizonte, que há 18 anos vem trabalhando para ser reconhecido dentro e fora de Minas Gerais. Conhecido pelo samba diversificado, o grupo contagia as pessoas que gostam e curtem um samba de qualidade. O músico Gugu de Souza que integra o grupo, desde a primeira formação, sempre acreditou na força do nome “Nascidos do Samba”. “Existem pessoas que fizeram parte da banda, no passado, que contribuíram muito para a concretização desse sonho”. O diferencial “Nascidos do Samba” é que eles têm facilidade em perceber o que o público quer ouvir. Em seus shows fazem um resgate das músicas que fizeram sucesso nos anos 90, como as do “Só pra contrariar”, “Negritude Junior”, entre outros. O grupo é formado por quatro músicos, Edmar Sorriso (vocal e cavaco), Gugu de Souza (voz e violão), Weslley (vocal e pandeiro) e Pilico (voz e tantan). Um grupo enxuto e homogêneo, no qual a paixão pela música vem em primeiro lugar. O “Nascidos do Samba” teve várias formações até chegar a atual. Encontraram algumas dificuldades para encontrar pessoas que tivessem o mesmo engajamento e objetivos em comum. “Porque os músicos bons não querem ficar em um grupo só, preferem fazer freelancer, e isso enfraquece as bandas e grupos”, conta Gugu de Souza, cantor e compositor. O samba entrou na vida de cada um deles quando ainda 10

Revista Fui Sambar

eram crianças. A grande influência para essa escolha musical foi a família e a velha guarda do samba mineiro, que sempre contribuíram para que o samba fosse nossa paixão. “Comecei muito novo e quando ia tocar com o ‘Nascidos do Samba’, o Gugu ia à minha casa pedir a meu pai para eu ir”, conta Edmar Sorriso, vocal e cavaco. O grupo está disposto a arriscar e agarrar as oportunidades que aparecerem. Não podemos ficar esperando as coisas acontecerem apenas aqui. Todos os integrantes do grupo têm a suas atividades paralelas, mas esperamos chegar um dia em que teremos que nos dedicar exclusivamente à música. Esse é o grande desejo do grupo, que com o lançamento desse terceiro CD veem a concretização de um sonho. Música para mim é um sonho e não pretendo desistir, destaca Pilico, vocal e tantan.

ENTREVISTA

O sonho CD “Vamos Batucar” O “Nascidos do Samba” anima festas em Belo Horizonte e na região metropolitana, carregando seu pandeiro, violão, cavaco e tantãs para todos os lados, fazendo aquela legítima roda de samba. A paixão pelo samba é antiga, e no começo tudo era só divertimento de bons amigos. Com o passar do tempo essa paixão cresceu, tomou corpo, e o que era apenas uma função de final de semana, foi ficando cada vez mais sério. Além disso, o grupo também se apresenta em festas e eventos variados e participa de rodas de samba, construindo aos poucos seu público fiel e apaixonado. Esse CD vem celebrar a importância e amadurecimento dos “Nascidos do Samba” sobre as gerações de músicos mineiros. A produção desse terceiro CD foi realizada em Belo Horizonte, com a participação de grandes músicos mineiros e com a produção musical do Jota P. “Graças a Deus esse CD está tendo grande repercussão entre as pessoas que estão escutando”, conta Gugu.

O grupo que já tem dois CDs gravados, todos com história e dedicação especial, tem como grande objetivo fazer com que as pessoas escutem esse novo trabalho. Esse novo trabalho traz composições de Gugu Souza, com grandes parceiros e amigos que abrilhantaram essa linda produção. “É uma delícia gravar, e esse sem dúvidas é um dos melhores CDs produzidos em Belo Horizonte e também minha estreia como compositor”, conta Weslley, vocal e pandeiro. O “Nascidos do Samba” dedica esse CD a todas as pessoas que deram oportunidade ao grupo como as antigas casas de shows Trash e Sabor e Sedução. “Ao Pizza Bar onde tocamos por muito tempo e ao Clube do Samba do bairro São Geraldo, hoje, nossa referência, nosso porto seguro. Lá, temos um público fiel e que aprecia nosso trabalho. Aos músicos que participaram da gravação, ao Sérgio Lima que acredita em nosso trabalho e pela força de sempre, às pessoas que contribuíram financeiramente e a todos os nossos familiares”.

Por: Flávia Nunes Revista Fui Sambar

11

entrevista

Fots: Junio Amaro

Mais uma vez Arlindo trouxe a Belo Horizonte o show “Batuques do meu lugar”. O nome escolhido para o CD remete às fontes da arte do cantor e compositor: batuques sagrados e profanos, afirmando fé na vida, no amor e na música. “Eu adoro toda vez que venho a Belo Horizonte, sinto que o povo me ama e tem um carinho com meu trabalho, é sempre bom ser bem recebido”, destaca. Arlindo Cruz é, com certeza, um dos maiores sambistas do Brasil. Herdeiro de uma linhagem musical originados do samba, na Casa da Tia Ciata com Donga, Pixinguinha e Joāo da Baiana, passando pelas rodas de samba promovidas por Candeia, chegando aos pagodes no Cacique de Ramos e o grupo Fundo de Quintal, ele traz o orgulho, o legado das religiões afrobrasileiras. Cantor, compositor e instrumentista, Arlindo Cruz começou a carreira de compositor disputando e ganhando festivais de música em Minas Gerais, onde estudou na escola preparatória de Cadetes do Ar. “Minas me fez poeta, aqui comecei a compor minhas primeiras canções”, revela Arlindo.

12

Revista Fui Sambar

Entrevista No Brasil inteiro e em Minas Gerais, as letras de Arlindo Cruz e parceiros animam as pessoas nas rodas de samba. São mais de 500 composições gravadas por diversos cantores no decorrer de sua carreira. Arlindo se considera um artista esclarecido, pois consegue com suas composições dialogar com Monarco e Thiaguinho. “Gosto muito de aprender com as pessoas e com meu filho, porque acredito que posso aprender muito com a nova geração”, destaca. E não é para menos, além de vencer a disputa de sambas para dar vida ao enredo da escola de samba Unidos de Vila Isabel, em 2014, o cantor também concorreu ao prêmio Grammy Latino de melhor canção, com o samba “Vai embora tristeza”. Já o Samba “Retratos de um Brasil Plural”, da GRES Unidos de Vila Isabel, composto por Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Professor Wladimir e Arthur das Ferragens foi o grande escolhido para 2014 e promete mais uma vez arrepiar a Sapucaí. “É maravilhoso e vem coroar a minha essência de trabalho”, disse Arlindo Cruz. Muitos sambistas de grande nome no cenário nacional vêm a Belo Horizonte e visitam algumas rodas de sambas que temos pela cidade. Como um bom sambista, Arlindo não é diferente, teve o prazer de conhecer alguns artistas e compositores mineiros. E destaca que em Minas Gerais temos grandes músicos e que também fazemos samba de qualidade. Segundo o cantor, temos grandes artistas mineiros como: Toninho Gerais, Aline Calixto, Fabinho do Terreiro e o grupo Só pra Contrariar, um ícone do samba dos anos 90, grupo que fez muito sucesso e está voltando

com força total. Na história do samba em Minas Gerais temos compositores de grande destaque e importância, como Ary Barroso e Ataulfo Alves. Não podíamos deixar de destacar a participação do cantor no Programa “Esquenta”, mais um desafio desse artista que inova comandando o programa ao lado de Regina Casé e outros sambistas de peso. “A Regina é a maior representante de todas as classes sociais, ela consegue transitar na zona sul e periferia com a maior dignidade. O “Esquenta” é um programa que todo mundo se identifica porque o Brasil é isso, uma mistura, e eu estou no meio desse ‘Esquenta’”, destaca Arlindo. Arlindo Cruz deixa um recado para todos os que querem trilhar o caminho de sucesso. “É preciso amar o samba, prestar atenção e ouvir bastante os antigos, e contemporâneos. Então, agradeço a todos os meus parceiros que me ajudam e contribuem bastante, nessa tarefa que é fazer o samba de raiz”.

Paixão pelo samba A paixão entre Arlindo Cruz e o samba começou quando ele nem conhecia as primeiras letras. Aos sete anos ganhou o seu primeiro instrumento – quem diria, um cavaquinho – e aos 12 anos já sabia tirar músicas de ouvido com uma habilidade que deixava as pessoas maravilhadas. Seu pai o incentivou a estudar teoria musical, solfejo e violão clássico. Nesse momento surgiu a primeira oportunidade de trabalhar como

músico com Candeia, sambista, cantor e compositor brasileiro falecido em 1978, que ele considera como padrinho e com quem gravou seus primeiros discos. Na época, gravou um compacto simples e um LP chamado “Roda de Samba”. Mas foi no Cacique de Ramos, um dos blocos mais tradicionais do Rio de Janeiro, berço de alguns talentos no samba, que Arlindo teve os primeiros contatos com alguns nomes que mais tarde, viriam a ter destaque no samba brasileiro como Jorge Aragão, Almir Guineto, Beth Carvalho, entre outros. Quando Jorge Aragão se afastou do grupo “Fundo de Quintal”, Arlindo foi convidado a fazer parte do grupo, no qual permaneceu por 12 anos. Arlindo Cruz saiu do “Fundo de Quintal” em 1993 e começou sua carreira solo se destacando nas composições de sambas enredo. Conquistou a primeira vitória para a sua escola de coração – Império Serrano – em 1996, quando compôs o hino imperiano, com um dos sambas mais bonitos daquele ano: “E verás que um filho teu não foge à luta”. Essa vitória trouxe outras para a sua biografia, repetindo em 1999, 2001 – samba que ganhou o Estandarte de Ouro do jornal O Globo -, 2003, 2006 e 2007. Em 2008 concorreu pela primeira vez na Grande Rio e venceu com o enredo “Do Verde de Coarí Vem Meu Gás, Sapucaí!”. Em 2013 conquistou a vitória com GRES Unidos de Vila Isabel com o enredo: “A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo”.

Por: Flávia Nunes Revista Fui Sambar

13

Fots: Junio Amaro

entrevista

Em plena era digital, o convidamos para fazer uma viagem pelo passado. Passado esse, que se reflete na cultura com resgate de costumes, lendas e mitos; na moda com os estilos vintage e retrô e por que não na música? Afinal, quem nunca se emocionou com uma canção e descobriu depois que a mesma já tinha sido ouvida há décadas! Para um passeio tão importante apresentamos um convidado à altura, a voz do momento, o músico Fernando Bento, que mesmo sendo tão jovem é um exímio conhecedor dos famosos “sambas das antigas”. Fui Sambar: Sua família tem influência no seu gosto musical? De onde vem seu interesse pelos “sambas das antigas”? Fernando Bento: A família é primordial em qualquer situação porque é o alicerce. E se tratando da minha família que é de músicos, compositores, chorões, sambistas e cantores; a cultura de berço fala mais alto! O interesse pelos “sambas das antigas” veio das sextas-feiras em que meu pai, seu Eustáquio, juntamente a seu Pedro do Cavaco, meu primeiro

14

Revista Fui Sambar

professor de música, organizavam saraus no quintal da minha casa onde se cantava Cartola, Moacir Luz, Wilson Batista, Mano Alvarenga, Manacéia, Candeia, Adoniran Barbosa, Ataulfo Alves, Ismael Silva, Mestre Aniceto, Dona Ivone Lara, Monarco, Alcides, Paulo da Portela, Silas de Oliveira, Mestre Conga, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho, Doriléu Vilela, Pixinguinha e muito mais. Cresci escutando esses belos e gloriosos sambas e choros. Era garotinho e já entrava na roda para tocar. Chegava sexta-feira e era só alegria; e como eu era criança, seu Pedro era quem me deixava entrar na roda e dizia: “Deixa os meninos tocar”, ele me ensinou os primeiros acordes. Fui Sambar: Há um estudo, uma pesquisa sua, em relação a essas canções antigas? Fernando Bento: Com certeza, esses compositores citados foram e sempre serão uma referência e escola para todos os sambistas contemporâneos. Quando se pesquisa o compositor, sua origem, se afirma sua identidade.

ENTREVISTA Fui Sambar: Falando em identidade, você sempre cita e exalta o Jongo, a Capoeira e o Congado, o que essas manifestações culturais representam na sua concepção? Fernando Bento: Nossa reza, nossa ginga, nossa dança, nossa afirmação. Enfim, nossa identidade! Fui Sambar: Quem são seus ídolos e o que eles têm de tão especial? Fernando Bento: Sou muito família, muito religioso e centrado nas coisas espirituais... Então, meu maior ídolo é Deus! Depois os meus santos de devoção, São Jorge, Santa Bárbara e Santo Expedito, meus pais, meus filhos e meus irmãos. Esses são os maiores ídolos que tenho! Já, na música, em se tratando de samba, tem grandes personalidades como: Roberto Ribeiro, Noel Rosa, Délcio Carvalho, Pixinguinha, Clara Nunes, Tantinho da Mangueira, Remédio da Viola, Fundo de Quintal, Erê do Samba, Arlindo Cruz, Almir Guineto, Sombrinha, Toninho Gerais, Serginho Beagá, Wilson das Neves, Ary Barroso, Zé Kéti, poucas pessoas conhecem, mas foi um grande compositor! E também Mestre Jonas, Mestre Afonso, Mauro Diniz, Tia Cecília, Silas de Oliveira, Luiz Carlos da Vila, que foi um grande incentivador da minha carreira, Wilson Moreira... São pessoas com quem aprendi muito! Cabral, Bira Favela, Fabinho do Terreiro, Arthur Carvalho, essa rapaziada toda! Das antigas... Candeia, Dona Ivone Lara, Paulinho da Viola, Mano Décio da Viola, Ataulfo Alves... E os mineiros: Noca da Portela, Zé Catimba, Zé do Monte e muitos outros. E para fechar meu avô, Arlindo Cachimbo, e meu tio, Waltinho Sete Cordas. Fui Sambar: Um artista mineiro da sua admiração e por quê. Fernando Bento: São vários, mas vou falar do meu parceiro, amigo de paixão, Wilson Moreira, por que embora more no Rio de janeiro, ele nunca deixou de ser mineiro. Compôs jongo com Ney Lopes e defende as raízes assim como o Xangô da Mangueira. É isso que me encanta nele: “Eu vou-me embora pra Minas Gerais agora, vou pela estrada afora cantando meu candongueiro oh”. Ele não perdeu as origens! É capoeirista e se brincar ainda dá umas pernadas. É o maior ídolo que tenho em Minas! Ele é o cara! Fui Sambar: Qual a importância e por que o artista deve pesquisar e estudar sobre sua arte? Fernando Bento: Um sambista que não pesquisa, jamais vai saber a história do samba, do jongo, do Maracatu, Coco, Lundu e não saberá que isso tudo se funde numa coisa só, que hoje circula pelo Brasil. O samba não tinha espaço por que era um

ritmo da senzala. Na casa da Tia Ciata, no Rio de Janeiro, tocava só chorinho, o samba demorou para ser tocado ali, porque o chorinho era um clássico; os frequentadores era gente da classe alta! Então, a “ralé”, o povo negro do samba não participava dessas festas. O samba era um instrumento de resistência, assim como o jongo em que se reza, se expressa sentimentos sejam eles dor ou alegria. O estudo vai mostrar quem foram os maiores compositores, quem corria com violão nas costas, por que senão era preso. Tem até uma música do Donga que conta: “O chefe da polícia pelo telefone mandou me avisar, que na carioca tem uma roleta para se jogar”; então, se não pesquisar não vai saber essas coisas, nunca... Não vai saber da luta, da resistência, da força... Tem que pesquisar! É a música que os nossos ancestrais fizeram, para hoje, estarmos desfrutando do melhor. Isso que é o mais grandioso, o mais valioso para mim! Fui Sambar: O que você busca naquilo que canta? Fernando Bento: Como dizia a canção dos mestres João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro: “Quando eu canto é pra aliviar meu pranto e o pranto de quem já tanto sofreu”. Contudo, me sinto mais perto de Deus por que Ele é o criador de tudo! Então a gente o louva, se aproxima dele e das boas vibrações que sabemos, que circundam todo o universo da música e do samba. Eu procuro saudar o meu povo zumbi e as pessoas que sofreram para que essa música estivesse viva hoje. Procuro resgatar e não deixar morrer essa raiz tão valiosa e pouco valorizada. Faço disso uma espada do meu santo guerreiro que é São Jorge, Ogum! É uma batalha! Eu me sinto um soldado que nunca vai abandonar a guerra e sempre estarei com a minha espada empunhada, que é a bandeira do samba! Fui Sambar: Deixe um recado para os seus fãs e para pessoas que acompanham seu trabalho. Fernando Bento: Primeiro, amo vocês! Sou um grande admirador de todo público, de quem vai aos shows, de quem conversa comigo pela internet ou ao vivo e a cores. Não deixem de pesquisar e nem de valorizar a nossa música. Vamos rezar pelos nossos sambistas que se foram e para o que estão aqui. Esses são nossos eternos professores e precisamos deles cada vez mais, para continuar nos ensinando e nos prestigiando, porque nós da jovem guarda tivemos muitas oportunidades que eles não tiveram. Que Deus dê a eles vida e saúde para que possam nos ver cantar um samba e dizerem: “Valeu a pena”! Jornalistas: Fify Souza

Revista Fui Sambar

15