UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA ³-Ò/,2'(0(648,7$),/+2´ INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

VANESSA APARECIDA CAMARGO

AGRICULTURA URBANA NO MUNICÍPIO DE CHARQUEADA, SP ± UM ENFOQUE ETNOBOTÂNICO

Rio Claro 2011

VANESSA APARECIDA CAMARGO

AGRICULTURA URBANA NO MUNICÍPIO DE CHARQUEADA, SP ± UM ENFOQUE ETNOBOTÂNICO

Orientadora: PROFª DRª MARIA CHRISTINA DE MELLO AMOROZO Co-orientador: PROF. DR. MARCOS APARECIDO PIZANO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto GH %LRFLrQFLDV GD 8QLYHUVLGDGH (VWDGXDO 3DXOLVWD ³-~OLR GH 0HVTXLWD )LOKR´ - Campus de Rio Claro, para obtenção do grau de Bacharelado e Licenciatura no Curso de Ciências Biológicas.

Rio Claro 2011

581.6 C172a

Camargo, Vanessa Aparecida Agricultura urbana no município de Charqueada, SP: um enfoque etnobotânico / Vanessa Aparecida Camargo. - Rio Claro : [s.n.], 2011 57 f. : il., figs., gráfs., tabs. Trabalho de conclusão de curso (licenciatura e bacharelado - Ciencias Biológicas) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro Orientador: Maria Christina de Mello Amorozo Co-Orientador: Marcos Aparecido Pizano 1. Botânica econômica. 2. Etnobotânica. 3. Raizes. 4. Tubérculos. 5. Plantas alimentares. I. Título. Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP

Dedico este trabalho àqueles que, todos os dias, trabalham duro em busca de sua fonte de alimento.

Agradecimentos É difícil pensar em quem agradecer... às pessoas, ao universo... Afinal, são nove anos, entre idas e vindas, nove anos de Rio Claro... vou começar! Agradeço em primeiro lugar por ter realizado este trabalho, e não outros... mas corri o risco! E só tenho hoje um TCC, por causa da paciência e boa vontade dos agricultores que participaram, agradeço imensamente todos eles, homens e mulheres, que me acolheram tão bem, me levaram em seus plantios e me ensinaram um pouquinho do tantão que sabem. Cultivadores de Charqueada e seus familiares... Muito obrigado, de coração!! À minha orientadora, Christina, pela paciência e orientação, de fato! Agradeço por ter me aceito com os prazos meio corridos, e estou muito feliz com o trabalho. Obrigada, Chris! Ao meu co-orientador, Pizano, pelas dicas agronômicas! Aos ajudantes de campo: Jhen, Jaca, Nat, Michele, Lora, sem vocês teria sido muito mais difícil, e um agradecimento especial aos que foram corajosos e encararam os meus primeiros dias de volante!! Valeu mesmo! À Tati que me apresentou o mundo da etnobotânica e me ensinou EDVWDQWHOiQRV³2XURV´$R3UHSVTXHPHGHXYiULDVGLFDVLPSRUWDQWHVHSDFLHQWHPHQWHDWHQGHX aos meus pedidos de socorro!! Brigadão! Ao Michel, que com seus super mapas enriqueceu o trabalho! Ao Olavinho, que emprestou o carro, e todo o trabalho de campo pôde ser realizado sem grandes dificuldades e eu pude perder o medo de dirigir... Não tenho nem palavras! Aos que leram os diversos fragmentos do trabalho e deram dicas valiosas!!! Obrigada!!! $JUDGHoR LPHQVDPHQWH DR $WXP ³7XQHV´ SRU WHU me cedido sua vaga de transferência para biologia!! Valeu mesmo, Tunes, eu nem sei onde eu estaria hoje!! Passa pra frente, né!! Aos meus pais por todos os ensinamentos de vida, apoio e por sempre acreditarem nos meus sonhos e ideais malucos! Minha mãe, miQKDViELD³PHVWUD´REULJDGDSRULPSRUOLPLWHVH PHGHL[DUDSUHQGHU³QDKRUDFHUWD´¬6DQGURFD&DVVDQGUDPLQKDLUPmWmRDPDGDTXHVHPSUH me defende (para os outros), mas que parece nunca me escutar!! Ao meu pai e seu jeitão fechado GHGL]HUTXHJRVWRX³pWiERP´$PRYRFrV Aos meus outros pais e mães, os tios e tias, e aos meus outros irmãos, os meus primos e primas, inclusive os tortos. Vocês são demais!! Muito além disso, carrego comigo ensinamentos de cada um, histórias que fazem chorar e rir, viagens, mil festas... eu virava até piada da república: ³PHX SULPR YDL FDVDU´ ³YRX QXP EDWL]DGR´ ³WHP XPD IHVWD GH  DQRV´ ³DK YDL VHU Vy XP FKXUUDVTXLQKR SUD XPDV  SHVVRDV´ H DVVLP HX SDVVHL HVVHV  DQRV VHPSUH MXQWR FRP vocês!!! Obrigada por fazerem parte da minha história!!! Às queridas amigas de sempre, as Pops (que brega, hein!) Karina, Lála, Nai, Az e Anidani, eternamente na minha vida, parte de uma fase deliciosa de aprendizados e descobertas, e é claro, algumas Big Lorotas!!!! Rsrsrs, espero visitas na Bahia!! E aos amigos de faz tempo, lá da Vila Guarani... vixi... Du, Jr, Marcella, Paula, Larissa, Fosco, Really, Badé..... E em Rio Claro, aqui sim, são tantos os que passaram, os que passam, os que estão e os que continuam... agora vai dar trabalho lembrar de todo esse povo, e sem chorar! $RV PHXV YHWHUDQRV GD (FRORJLD TXH PH DSHOLGDUDP WmR ³FDULQKRVDPHQWH´ H PH mostraram que existia uma família aqui em Rio Claro. Àquelas que me receberam muito bem no início da jornada, as japas Marina e Mariana, valeu pelos dias de hóspede! À Iara, cabelão; Bira; às Sambaquis ± Carol RA, Limps, Japa Sayuri, Ju, com quem morei por um breve período!! À Rep-Ada, onde de fato mergulhei de cabeça na vida de estudante e conheci amigas irmãs, que tiveram uma ENORME paciência com a bichete reclamona e pão-dura que eu fui!!

$LQGD EHP TXH D JHQWH PXGD Qp 9DOHX &DUROHV 6FDWFKD 0DWFKD 3ULQoD ³VH HX DQLPDU HX apareço... (ops, essa é de outra casa! Rsrs), Alanitcha, sempre com um funk ferrrvendo direto do verão FDULRFD$QD/XDPLVWHULRVDEUX[LQKDTXHULGDH0DQX³0DQRLD´QRERPVHQWLGRpFODUR Valeu Gatas, per tutti!!! À Sarinha, arara dos cabelos coloridos, sapinha das risadas e piadas mil, neguinha, quantos anos juntas, hein!! E pra terminar os viajantes da Rep-Ada, Frodolino, Copa e Tropa, firmes e fortes nove anos depois... só com um pouco de durepox! rsrsrs ¬ 5HS/HVD RQGH WLYH GXDV TXHULGDV HWHUQDV DPLJDV ³PmHV H HVSRVDV´ DILQDO HODV lavavam, cozinhavam, só não passavam para mim... Enfim, foi lá que chegaram a Luna e o Jambu, a Madhi já estava. Foi lá, que tive a convivência mais tranquila em república e mais baladeira em Rio Claro. Foi lá que tive de volta a convivência com as Carois: Caroles (de novo!) e Carol PT, minha grande amiga, irmã, companheira desde o início... que me deu mil puxões de orelha, que já me carregou pra casa mil vezes, que já me viu chorar, mas também já tivemos contrações de riso. Afe, Carol, é tão mais difícil a vida sem você perto! Valeu amiga, te amo muitão!! Às Moradas que se mudaram... vixe, ainda bem que tenho que escrever no computador, porque se fosse no papel, não ia dar conta de ficar uma folha seca. Quanta emoção!! À Anola, que mesmo sem nunca ter dividido o teto, tenho como uma presença forte, e ainda nos presenteou com a graciosa Ceci! Jheinóca, Jane, Djéni, Jeiní, Jhen, a irmã mais velha que dividiu comigo os momentos felizes e aflitivos de largar os empregos nos quais não estávamos felizes, conversas sinceras e intensas e que faz uma falta enorme nesta casinha; Tatá, a rosa com todas suas flores e livros, e ansiedades, e risadas, e mandalas, e cafés e o tempero com pimenta rosa... é nóis no TCC, flor! Ao Rafa e Blavod, o menino Google e seu gato gordinho, com quem aprendi a conviver e tornou-se um querido amigo. À Marina, ou Jéssica, uma metamorfose tão intensa que fugiu um pouco de nós... À Carol Purps, sempre um arraso, modernosa, voando lindíssima nos tecidos, RXYLQGR DV SODQWDV H YLYHQGR FRPR D GHXVD GL] ³PHX EHP´ H GH QRYR j 37 TXH FDUDPED estava em todo lugar nessa história de Rio Claro e me ensinou a ter cuidados com os bichos... Às atuais Moradas... Lora, a das pernas inquietas, pra lá e pra cá, no meio dos números PDOXFRVXPDFRPSDQKHLUDHWDQWR³QpPHX´¬'HEL%RZVHU2UFDDDDDDDVHPRUTXLFHV uma flor escondida no meio das rochas, ás vezes muuuito bem escondida, rsrs; Marcela, a adolescente rebelde (que vai se emputecer quando ler isto) que eu não podia deixar de encher o saco, vai ter que cantar Rita, hein! Às novíssimas, Izi e Martinha, bem-vindas nessa história, de coração aberto pra vocês! Nosso hóspede, coitado, tem que aguentar seis mulheres, vai que vai, Zép! Aos agregados: Anselmo, Jaca, Cacá, Tavão... valeu mesmo pelas companhias todas! Aos bichos queridos, companheiros de sempre, Luna Lelé, Lito guerreiro Palito, Jambu, Elis, Madhi, Mia, Blavod e agora Fumacinha, Bródi e Cacá! Ao Troçada... alguns ainda nos acompanham, outros já deixaram este mundo, mas convivendo com esses bichos aprendi a respeitar e amar muitas formas de vida!! Moradas, sem vocês, estes últimos momentos seriam muito mais difíceis! Valeu pelos almoços prontos nos dias de correria, pela paciência se fui estúpida porque estava preocupada em não conseguir!! Vocês são muito especiais, vou sentir muuuita falta!!! A todos esses Moradores e agregados, foram mais de quatro anos. Tão fortes, intensos, sinceros, confusos, malucos, que eu só tenho a agradecer pelo aprendizado, pelas festas imperdíveis e alucinantes, pelos almoços e cafés praticamente filosóficos, pelo gosto por plantar que aprendi aqui. Galera eu amo demais vocês! Vai ser difícil esse parto!! E pensando em agregados, foi em 2007, um ano muito maluco, que esse menino apareceu na minha vida, na Morada, meu amigo e companheiro, que me mostrou a beleza e simplicidade de

amar, que me faz ver que a vida é essa, e que a hora é agora, que só eu posso fazer algo para mudar... uma delicia de companhia para viajar, plantar, passear com os cachorros, ir ao cinema, conversar, chapar, dançar... enfim, Viver!!! Fo, te amo muitão! Agora é minha vez de sair da Terra do Nunca pra Chapada... na eterna busca de aprender a viver! Amo ti!!!!! Aos Caenga, que chegaram junto com o Rolha, trazendo uma piscina, (ai que delicia!), pra vida das Moradas!! Minero, Pets, Calango, Rodox, Cialis! Valeu meninos!!! Ao CBN 2006, do qual me sentia um pouco fora e dentro, ao mesmo tempo. À Nat, uma amiga querida e ótima companhia para se ficar simplesmente estando, conversando, filosofando, desabafando e bebendo um café...! À Gisele, a japinha tranquila. À Pamela, Manu, Ju, Carol, Cogu, Cazuza, Iéti, Monizze, Van, Bruna Yamagami... às companhias e conversas nos diversos momentos, campos, baladas, aulas. Valeu Galera!!!! E aos amigos que ainda estão aqui e àqueles que, a distância só apertou os laços, queria dizer uma frase pra cada um (mas se fizer isso vou ter um agradecimento mais longo que o TCC...), pois tenho certeza que vivi alguma história massa, ou bizarra, ou cotidiana, ou que seja, mas que vivi e aprendi com vocês, e se hoje sou assim, é tudo culpa de vocês!! Às Sôras e às Só se For Agora ± Aline, Tamie e Luiza, pelos momentos de desabafos, revoltas, crises existenciais, vocês são pessoas que me dão força pra fazer o que acredito!! À Nega (Chavero) e Xiles, altas idéias e agilizos, muitos momentos de levar uns puxões de orelha, e muitas, mas muitas festas malucas!! aos Pibids ± Ricota, Jó, Maria, Mari, Lu, Kendi, Michele, Aline e Tamie, um grupo onde aprendi a fazer coisas realmente coletivas. Aos amigos doidinhos: Ganso, Paul, Julia, Chats, Sidão, só risadas! Ao Tuniiiico e a Lia Chaer. A Lia Salomão e Ana (agora com a Alice e o João, eee), Pica, Pardal, Jeronimo, Tiago, Caru, Mayte, Camis, Driks, Luiza, Vivian, Francês, Pablo, os Degusta, Grilo, Pri, Metazoários, Jaboti, Fábio, Bolinha, Fiote, Careca, Elise, Juares... dos que já saíram da Neverland, parece mesmo que a distância só estreitou os laços. Valeu povo todo, por tantas coisas que já vivemos juntos!!! Reencontros?? kkkkkk Ao povo todo da Ecologia, meus antigos bichos: Santos, But, Biazinha, Chewbaquinha, Ivy, Pituxa... é tanta gente, boto fé que estou esquecendo uma galera!! À Sabrina, que neste momento está também numa fase importante de fechamento de FLFOR³*XHQWD´ILUPHDt$QGUpUV Aos amigos que o Rolha trouxe pra minha vida, Xotinha e Lua, é nóis no Nordeste!!! À Gabi, ao Cesinha e suas labradoras aquáticas! Às queridas mãezinhas, mulheres fortes e sábias que engravidaram numa fase tão maluca e corajosamente assumiram as tarefas! Re e Maira, admiro muito vocês!! O mundo agradece os presentes, Naiá e Maue!! Bom, com certeza estou esquecendo pessoas importantes, é muita gente, e muito tempo... foi mal aê! Agradeço ao universo, por fazer todas essas conexões e colocar essas pessoas no meu caminho. Agradeço por ser tão abençoada e poder fazer escolhas na vida!! Agradeço pelos que já se foram e marcaram muito minha história, minha vó Nina querida... 9DOHXPXQGmR³6HFKRUHLRXVHVRUULRLPSRUWDQWHpTXHHPRo}HVHXYLYL´ Vanessa Salms

“Não planto as metralhadoras nas trincheiras. Planto a rosa, o jasmineiro, o manacá, a flor do feijoeiro. Não planto a fome. Carpi-la é o meu ofício. Não toco a música dos violinos. Acompanho os acordes dos canarinhos-terra das amanhecenças. Não tenho os candelabros de ouro que iluminam os anfiteatros de veludo. O sol e a lua é que me enfeitam os salões verdes dos milharais, e riscam partituras no chão. Alimento todos os homens: santos, operários, reis, generais, heróis, eruditos, criminosos no fundo das prisões, prostitutas. E nunca pergunto a quem vou alimentar.” Euclides Neto – Suspiros de Uma Enxada

RESUMO A produção agrícola em áreas urbanas é um fenômeno presente no cenário mundial e tornou-se essencial para alimentação de famílias em diversas cidades de países em desenvolvimento. A agricultura urbana acarreta uma gama de benefícios aos locais que a praticam como garantia da segurança alimentar, geração de renda, aumento de áreas verdes usando lotes ociosos, entre outros. O atual modelo de desenvolvimento agrícola exerce pressão sobre as áreas rurais em diversos aspectos, seja reduzindo os espaços para pequenos produtores, como forçando-os a migrar para áreas urbanas. No Brasil o cénário não é diferente, e essa migração é crescente. As cidades de pequeno porte, que acolhem esses migrantes, ainda apresentam muitas características rurais, como a manutenção do hábito de plantar. O município de Charqueada, SP, se enquadra nessa categoria de cidade pequena e apresenta diversos terrenos cultivados na área urbana. O presente estudo tem como objetivo descrever a agricultura urbana em Charqueada, enfocando os cultivos em lotes vagos, bem como compreender sua dinâmica no local, registrar o conhecimento desses agricultores e fazer um levantamento das plantas alimentares cultivadas. A pesquisa se deu em três etapas de campo: a) mapeamento dos lotes cultivados na malha urbana; b) levantamento de dados socioeconômicos e sobre os cultivos em uma amostra geral; e (c) e em uma subamostra, com visitas aos lotes e coleta de material botânico. As amostras foram selecionadas aleatoriamente e os levantamentos foram realizados através de entrevistas estruturadas e semi-estruturadas, com métodos etnobotânicos. Os dados coletados foram analisados de maneira descritiva. Foram encontrados 97 lotes cultivados, destes, 77 participaram da amostragem geral e 30 da subamostra. Os agricultores são na grande maioria homens, de baixa renda, acima de 50 anos de idade; não há participação efetiva dos jovens. Levantaram-se 75 tipos de plantas alimentares cultivadas, sendo que a mandioca esteve presente em mais de 70% dos lotes em ambas amostragens. A preferência se deu por cultivos que exigem pouco investimento do agricultor, talvez pelo fato destes não possuírem qualquer tipo de auxílio externo. Os resultados obtidos permitem compreender a dinâmica da agricultura urbana local assim como mostram que se faz emergencial a criação de políticas públicas para a manutenção dessa atividade, a qual acarreta melhoria na qualidade de vida dos praticantes; pode aumentar a renda e gerar oportunidades de empregos; oferecer alimentos a baixo custo e de qualidade; favorecer condições ambientais urbanas mais saudáveis; além dos plantios tornarem-se locais para preservação e manutenção da agrobiodiversidade. PALAVRAS CHAVE: raízes e tubérculos, plantas alimentares, conhecimento local.

Lista de Ilustrações Figura 1: Localização do município de Charqueada, Estado de São Paulo, Brasil. Fonte: Adaptado de SÃO PAULO (2010). .......................................................................................... 15 Figura 2: Lotes cultivados na malha urbana de Charqueada. Foto: Jheynne Scalco, 2011. ..... 17 Figura 3: Malha urbana de Charqueada e a divisão dos 11 setores. Fonte: adaptado de Ortofoto, na escala 1:10.000, 2000. .......................................................................................... 18 Figura 4: Lote com preparo para cultivo em Outubro de 2010 (A) e plantio realizado em Abril de 2011 (B). Fotos: Maria Christina M. Amorozo, 2010 e Ana Carolina Bertho, 2011. ......... 24 Figura 5: Estrutura etária por sexo de toda população amostrada. ........................................... 28 Figura 6: Tipo de ocupação (a quem pertence o terreno) e área dos lotes. .............................. 29 Figura 7: Sistema artesanal para captação e armazenagem de água da chuva. Foto: da autora, 2011. ......................................................................................................................................... 33 Figura 8: Quantidade de itens citados pelos agricultores na amostragem geral e subamostra. 36 Figura 9: Raízes de algumas variedades de mandioca amostradas. Etnovariedades (da esquerda para direita): Vermelha, Pão e Pão amarela. Foto: da autora, 2011. ......................... 41

Lista de Tabelas Tabela 1: Produção agrícola de Charqueada para lavouras temporárias. T= toneladas; T/h= toneladas por hectare. ............................................................................................................... 13 Tabela 2: Divisão dos setores em bairros e número de lotes por setor. .................................... 18 Tabela 3: Caracterização socioeconômica dos agricultores entrevistados (amostra geral). ..... 21 Tabela 4: Informações sobre os lotes cultivados ...................................................................... 23 Tabela 5: Frequência de plantas alimentares citadas pelos agricultores da amostra geral. ...... 24 Tabela 6: Perfil socioeconômico dos agricultores da subamostra. ........................................... 26 Tabela 7: Ocupação dos filhos e filhas que moram no domicílio e dos que moram fora......... 29 Tabela 8: Aumento da população urbana e decréscimo da população rural em um período de 30 anos, no município de Charqueada, SP. .............................................................................. 30 Tabela 9: Frequência dos itens mais citados na subamostra (FSub) e amostragem geral (FAG). .................................................................................................................................................. 35 Tabela 10: Etnovariedades encontradas nos lotes da subamostra. Município de Charqueada, 2011. ......................................................................................................................................... 37 Tabela 11: Etnovariedades de raízes e tubérculos e frequência nos lotes. Os nomes entre parênteses representam sinônimos ou etnovariedades muito semelhantes............................... 39

1.

Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10

2.

OBJETIVOS ..................................................................................................................... 14

3.

4.

2.1

Objetivo geral ............................................................................................................ 14

2.2

Objetivos específicos ................................................................................................. 14

MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................. 14 3.1

Área de estudo ........................................................................................................... 14

3.2

Procedimentos metodológicos ................................................................................... 16

RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 20 4.1

Caracterização da amostra geral ................................................................................ 20

4.1.1 Cultivos.................................................................................................................... 24 4.2

Os agricultores e os conhecimentos etnobotânicos .................................................... 25

4.2.1 Perfil dos agricultores .............................................................................................. 25 4.2.2 Manejo dos plantios urbanos ................................................................................... 32 4.2.3 Plantas cultivadas .................................................................................................... 34 4.2.4 Raízes e Tubérculos ................................................................................................. 38 5.

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 42

6.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 44

APÊNDICES ............................................................................................................................ 49 APÊNDICE A ....................................................................................................................... 49 APÊNDICE B ....................................................................................................................... 50 APÊNDICE C ....................................................................................................................... 52 APÊNDICE D ....................................................................................................................... 54 ANEXOS .................................................................................................................................. 56 ANEXO A ................................................................................................................................ 56 ANEXO B ................................................................................................................................ 57

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1. INTRODUÇÃO

A produção agrícola em áreas urbanas não é um fenômeno recente em países em desenvolvimento. Essa é uma prática adotada por diversas famílias com intuito de aumentar a renda, promover a subsistência e garantir estratégias de sobrevivência (DEELSTRA e GIRARDET, 2000). Pesquisas na área iniciaram-se na década de 1960, por geógrafos e gestores urbanos, que buscavam entender as conexões entre a rápida urbanização, o êxodo rural e a agricultura urbana (DIALLO, 1993). Atualmente, em cidades africanas, o aumento das atividades agrícolas nas cidades é relevante. Em Kampala, capital da Uganda, o alimento básico provém das culturas de tubérculos e é cultivado em áreas urbanas, além de 70% das aves e ovos consumidos na cidade serem produzidos dentro de suas fronteiras. No Quênia, em suas seis maiores cidades, 25% das famílias urbanas alegam que não podem sobreviver sem produzir o próprio alimento (MOUGEOT, 1994). Essa prática leva à redução da porcentagem da despesa familiar gasta com alimentação, liberando parte desse valor para ser usado em outras necessidades básicas (BRYLD, 2003). Na América Latina, Bohrt (1993) observou que o sistema mais pesquisado, testado e com produção generalizada nas cidades são as hortas plantadas em escolas, lotes familiares ou comunidades. Atualmente os esforços nas pesquisas em agricultura urbana estão voltados à produção sustentável de alimento nas cidades (SMIT e NASR, 1992; LOSADA et al, 1998; SMITH, 2010). A agricultura urbana (AU) pode ser definida como: ...um sistema complexo que engloba um espectro de interesses a partir de atividades tradicionais associadas à produção, transformação, comercialização, distribuição e consumo (de alimentos), com uma multiplicidade de outros benefícios que são pouco reconhecidos e documentados. Estes incluem recreação e lazer, vitalidade econômica, empreendedorismo, saúde e bem-estar individual e comunitário, embelezamento da paisagem e recuperação e remediação ambiental. (CAST, 2002 apud BROWN e CARTER, 2003, p. 3).

Essa atividade tem despertado um elevado e crescente interesse, tanto dos urbanitas quanto dos pesquisadores e responsáveis por elaborações de políticas públicas. No Brasil, a

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capital mineira, Belo Horizonte, incluiu a AU em sua política pública com o apoio do programa global Cidades Cultivando para o Futuro – Cities Farming for the Future – (LARA e ALMEIDA, 2008); em Presidente Prudente, cidade do interior paulista, também há incentivos públicos para a produção agrícola urbana (MADALENO, 2001). Também, Monteiro e Monteiro (2006), constataram que em Teresina, capital do Piauí, existe o apoio público, porém, este é insuficiente para se desenvolver o que foi proposto pelo programa de hortas urbanas comunitárias. Outras cidades apresentam um panorama agrícola urbano apoiado por instâncias governamentais e ONGs, apesar de diversas vezes não haver incentivos externos (RESENDE e CLEPS JR, 2006). Quanto aos locais usados para agricultura urbana, estes são os mais diversificados. Consistem em áreas urbanas ociosas, beiras de rios, de estradas e ferrovias, áreas escolares e hospitalares, centros comunitários, assim como os quintais. Os agricultores são, em geral, parte da população menos favorecida social e economicamente. (MONTEIRO e MENDONÇA, 2004; RESENDE e CLEPS JR, 2006; FERREIRA e CASTILHO, 2007). A agricultura urbana acarreta inúmeros benefícios aos locais onde se estabelece e pode ter como função: ser fonte de subsistência e renda; garantir uma melhoria da dieta e prover a segurança alimentar, utilizando espaços ociosos ou não adequados à construção (BRYLD, 2003; ANGELO e AMOROZO, 2006). Outro fim para essa prática seria a conservação de biodiversidade (AKINNIFESI et al, 2010) e da agrobiodiversidade, uma vez que cultivar em áreas urbanas pode ser um meio de assegurar a manutenção do banco de germoplasma de certas culturas e de se criar novas propostas para programas de conservação in situ, através de políticas públicas. Por outro lado, independente dos órgãos públicos, os produtores fazem dos cultivos espaços para experimentação e testes de variedades ainda desconhecidas (AMOROZO, 2008a), e estabelecem redes de trocas de propágulos fortalecendo as relações sociais na comunidade em que vivem (ARAÚJO, 2008). Como observado por Brodt (2001), esta atividade proporciona a manutenção do conhecimento local. Esta mesma autora relata que quintais urbanos são lócus de resistência para manutenção e transmissão do conhecimento tradicional, garantindo que a cultura de um povo permaneça para futuras gerações. A etnobotânica possui ferramentas adequadas para estudar esse conhecimento, o que pode contribuir para seu resgate, valorização e incorporação ao desenvolvimento de novas propostas, mantendo a continuidade dos saberes.

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Os produtores urbanos apresentam-se dessa forma como atores fundamentais na construção do conhecimento agrícola nas cidades, e muitas vezes têm seu histórico de vida pautado nas relações com a terra, utilizando-se das experiências adquiridas ao longo de suas trajetórias para realizarem seus plantios. Além de toda esta contribuição na manutenção dos saberes, ao se abordar a questão ambiental, os espaços urbanos cultivados tornam-se ilhas de vegetação, que apresentarão umidade maior e consequentemente uma redução no calor de irradiação, tornando a temperatura mais agradável, além de serem zonas de infiltração de água pluvial. A matéria orgânica desperdiçada como lixo pode transformar-se em composto e adubar as plantações (BRYLD, 2003), contribuindo para uma melhora em todo ecossistema urbano. Para o bom desenvolvimento das práticas em agricultura urbana é importante considerar os possíveis riscos à saúde e ao ambiente. A má administração dos compostos ou da água reutilizada pode aumentar a incidência de doenças, como disenterias. As folhas têm capacidade de absorver poluentes e alguns metais pesados, como exemplo o chumbo, presente no solo e ar. Este metal pode se concentrar na folhagem de hortaliças sendo posteriormente ingerido pelo consumidor. Também o uso inadequado de fertilizantes sintéticos agravaria a situação dos solos e reservatórios de água, contaminando-os (BRYLD, 2003). Apesar da possibilidade de se quantificar alguns fatores positivos que permeiam a agricultura urbana, ainda é imensurável seu reflexo na melhoria da qualidade de vida das pessoas que a praticam, uma vez que jardins, quintais, áreas verdes e áreas cultivadas fornecem uma trégua na realidade da vida nas cidades (WINKLERPRINS, 2002). As áreas urbanas atraem pessoas de regiões rurais que vão em busca de melhores oportunidades educacionais, sociais e econômicas. Esta migração, somada à deterioração da situação econômica da população urbana, está atrelada ao crescimento contínuo da agricultura nas cidades. O aumento da urbanização observado em todo o globo não caracteriza as cidades como 100% urbanas. Winklerprins (2002) entre outros autores, lança o seguinte questionamento: há uma separação nítida entre os limites rurais-urbanos? A mesma autora discorre que pode se considerar um contínuo neste sentido, pois há uma transição ainda confusa entre o que é totalmente rural e totalmente urbano; as pessoas são rurais e urbanas ao mesmo tempo. Os pressupostos de uma divisão setorial, em que as populações rurais são vistas primordialmente como produtores agrícolas, enquanto os moradores urbanos são pensados para se envolver na indústria e serviços, são cada vez mais enganosos (TACOLI, 1998).

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No caso do Brasil, segundo o IBGE (2002), 80% da população seria considerada urbana. Isso acontece porque há uma convenção de que toda sede de município é necessariamente espaço urbano, seja qual for sua situação, função ou dimensão, sendo que, segundo Veiga, (2003) somente 60% dessa população estaria efetivamente na rede urbana. O estado de São Paulo, localizado na região mais populosa do país, apresenta dentre seus 645 municípios, 68% com população até 20.000 habitantes. Do restante, somente 16% têm uma população maior que 100.000 (IBGE, 2010a). Assim, a grande maioria das cidades é de pequeno porte, como é o caso de Charqueada, com uma população de 15.086 habitantes, sendo que 91% desta é considerada urbana (IBGE, 2010b). As cidades pequenas tendem a apresentar características rurais, como a manutenção do hábito de plantar, talvez devido a abrigarem uma população que ainda tem um forte vínculo com a terra ou por exibirem mais áreas livres edificáveis. Também oferecem espaços maiores para conservação de quintais, diferente do que ocorre em grandes aglomerações urbanas. Carniello et al, (2010), relatou que comunidades agrícolas ao se transferirem para o meio urbano, passam a reproduzir práticas rurais em espaço territorial reduzido O atual modelo de desenvolvimento agrícola exerce pressão sobre as áreas rurais em diversos aspectos, inclusive no uso da terra, reduzindo os espaços para pequenos produtores e trocando cultivos variados por monocultura e pastos. O município de Charqueada, por exemplo, apresenta dados que confirmam a soberania da produção do agronegócio em grande escala sobre outros tipos de culturas. Observa-se isto claramente, segundo dados do IBGE (2010c) para a produção agrícola municipal considerando as lavouras temporárias, conforme apresenta a tabela 1. Tabela 1: Produção agrícola de Charqueada para lavouras temporárias. T= toneladas; T/h= toneladas por hectare.

Cultura

Produção (T)

Rendimento (T/h)

Valor da produção (em reais)

Cana de açúcar

870.000

78

32 milhões

Milho

244

3,3

82 mil

Melancia

180

18

50 mil

Mandioca

154

22

90 mil

Batata doce

60

20

28 mil

Arroz

16

2,2

7 mil Fonte: Adaptado de IBGE, (2010c).

A cana-de-açúcar supera em quantidades absurdas a produção de cultivos mais ligados à alimentação. O uso da terra para esta produção ocupa extensas áreas, reduzindo os espaços

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destinados ao cultivo de alimentos. Dessa forma a população vê-se obrigada a comprar os gêneros alimentícios, os quais chegam ao consumidor com alto custo por serem provenientes de locais distantes. É neste sentido que a agricultura urbana torna-se uma ferramenta essencial ao desenvolvimento sustentável das cidades e à manutenção da agrobiodiversidade local. Conhecer e entender a agricultura urbana presente no município de Charqueada pode auxiliar na garantia da segurança alimentar, complementação da renda familiar, manutenção e transmissão do conhecimento local e uma melhoria na qualidade de vida. Além de fornecer alimentos, visto que as áreas rurais estão preenchidas pela monocultura canavieira, os terrenos cultivados podem servir como sítios de manutenção e resistência de cultivos variados através do apoio de programas de conservação da agrobiodiversidade em áreas urbanas.

2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Neste trabalho objetivou-se descrever a agricultura urbana, enfocando os cultivos em lotes vagos, bem como compreender sua dinâmica no município de Charqueda – SP e registrar o conhecimento desses agricultores. O objeto de estudo foi todo o processo, o qual envolve: os atores – responsáveis pelos cultivos, os espaços utilizados e as plantas.

2.2 Objetivos específicos - mapeamento dos espaços de cultivo em lotes vagos presentes na malha urbana. - caracterização socioeconômica dos responsáveis pelos cultivos. - caracterização dos espaços de cultivo. - levantamento de plantas alimentares, considerando como planta alimentar as amiláceas, frutas, leguminosas e hortaliças, bem como condimentos. Foi dada ênfase às etnovariedades de raízes e tubérculos.

3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Área de estudo O município de Charqueada (figura 1), situado a 22º30'35" sul e 47º46'41" oeste, ocupa uma área de 176km2 e está a uma altitude de 610 metros, distante cerca de 195 km da capital do estado, São Paulo. Os biomas presentes são resíduos de Cerrado e Mata Atlântica, o

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clima apresenta duas estações bem definidas e a unidade morfológica onde está inserido é a Depressão Periférica Paulista. A população é de 15.086 habitantes, sendo 91% na área urbana e 9% na área rural (IBGE 2010b). O povoamento das terras situadas entre os rios Piracicaba e Corumbataí, onde se encontra hoje o município de Charqueada, iniciou-se provavelmente, em torno de 1859 por bandeirantes em busca de caça, água potável e terra fértil. Famílias de imigrantes alemães, italianos e suíços contribuíram para o povoamento local, estabelecendo-se e desenvolvendo atividades na agricultura, comércio e indústria. Em 1886, com a chegada da Estrada de Ferro Sorocabana, antiga Ituana, foram construídos armazém e hospedaria junto à estação de parada, e após alguns anos chegaram olaria, máquina para beneficiamento de café e arroz, serraria, hotel e farmácia, criando a infra-estrutura necessária para a vinda de novos moradores (IBGE 2010b).

Figura 1: Localização do município de Charqueada, Estado de São Paulo, Brasil. Fonte: Adaptado de SÃO PAULO (2010).

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Em 1970 a base econômica era proveniente da produção de seda, sendo a principal produtora a empresa Rivaben, mas a partir de 1975, com a criação do Programa Nacional do Álcool (Pró-álcool), tornou-se mais vantajoso para os agricultores destinar seus esforços ao cultivo de cana-de-açúcar, que consiste na principal atividade econômica do município (MOLINARI et al, 2000). A monocultura de cana fixou grande parte da população na zona urbana, atraindo migrantes que se estabeleceram na cidade. No entanto, a migração com retorno na entressafra ainda é recorrente. Devido a problemas econômicos que a entressafra acarretava, outras atividades surgiram e ocorreu um incentivo para instalação de indústrias de pequeno e médio porte, com o consequente aumento do número de estabelecimentos comerciais (MOLINARI et al, 2000).

3.2 Procedimentos metodológicos A coleta de dados desenvolveu-se entre Outubro de 2010 e Maio de 2011, dividida em três etapas de campo. Entre Outubro e Janeiro foi feito reconhecimento da área de estudo, com levantamento dos terrenos vagos encontrados dentro da malha urbana, nos quais se observava algum tipo de manejo agrícola recente e visível por quem caminhasse pela circumvizinhança. Foram encontrados 97 terrenos, definidos para este estudo como lotes vagos e sem habitação, e no caso de estarem adjacentes aos quintais, foram considerados apenas os que tinham separação física. A figura 2 ilustra alguns dos referidos terrenos.

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Figura 2: Lotes cultivados na malha urbana de Charqueada. Foto: Jheynne Scalco, 2011.

Os bairros mais afastados do aglomerado urbano não participaram do levantamento, sendo considerados para efeito deste trabalho somente os que tinham perfil residencial e não para uso em temporada ou finais de semana, como chácaras e casas de campo, comumente encontradas na região. Após o reconhecimento e mapeamento dos locais de cultivo, com georreferenciamento destes pelo GPS Garmin® (todos os lotes estão plotados no anexo A), realizaram-se as duas outras etapas, entre Fevereiro e Maio (totalizando 24 viagens a campo) que consistiram no reconhecimento de uma amostra mais abrangente e posteriormente, realizou-se um estudo mais aprofundado, o qual consistiu na aplicação de questionários mais detalhados, visitas aos lotes e coletas botânicas. Através de um mapa do município cedido pela Prefeitura Municipal de Charqueada, a malha urbana foi dividida em 11 setores para facilitar e otimizar a locomoção entre os bairros e as visitas aos lotes. A figura 3 apresenta todos os setores com seus limites, e as cores correspondem aos diferentes setores. A divisão dos setores foi estruturada de forma que a totalidade de um bairro fizesse parte de uma unidade de setor. Já em bairros mais centrais, a separação das diferentes unidades baseou-se em limites de ruas e avenidas.

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Figura 3: Malha urbana de Charqueada e a divisão dos 11 setores. Fonte: adaptado de Ortofoto, na escala 1:10.000, 2000.

A amostra submetida ao questionário preliminar foi escolhida através do método de amostra aleatória simples (ALBUQUERQUE et al, 2010a) o qual permite que cada membro da população tenha a mesma chance de ser incluído na amostra. Para se estabelecer o tamanho dessa amostra aplicou-se a fórmula: χ² NP(1- P)/ C²(N-1) + χ² P(1-P) (KREJCIE e MORGAN, 1970 apud BERNARD, 1988), onde χ² é o valor para um grau de liberdade, N é o tamanho da população, P é o parâmetro populacional de uma variável considerando uma população heterogênea, e C corresponde ao intervalo de confiança. Para este estudo considerou-se N=97; P= 0,5; C= 0,05. Esta fórmula foi utilizada com a finalidade de se obter uma amostra mais fiel em relação a todo universo amostral e para posterior uso desta metodologia em estudos comparativos. Os lotes foram numerados e sorteados, mas sete agricultores cultivavam em mais de um terreno do universo total, podendo, dessa forma, participar de mais de uma entrevista. Cada setor teve pelo menos um lote sorteado, com exceção do setor 11, que por estar localizado na região mais central, não apresentou lotes cultivados. A distribuição dos terrenos sorteados pode ser vista na tabela 2. Tabela 2: Divisão dos setores em bairros e número de lotes por setor.

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Setores Setor 1 Setor 2 Setor 3 Setor 4 Setor 5 Setor 6 Setor 7 Setor 8 Setor 9 Setor 10 Setor 11

Número de lotes Bairros e/ou Avenidas Totais (n=97) Sorteados (n=77) 14 10 Jd. Vista Alegre; Jd. Gelsomina Jd. Bandeirantes, Jd. Fegadolli, Distrito 8 5 Industrial II 9 6 São Benedito Pq. Res. Alvorada I; Pq. Res. Alvorada II e 18 13 Av. Carlos Gomes 4 3 Jd. Silvana; Jd Bela Vista 11 10 Jd. Paris, Santa Helena 8 7 Jd. Marussig; Jd. Samambaia; Jd. Solar 12 11 Parque das Nações; Estância de Charqueada Jd. do Bosque; até Ruas São Pedro, Gov. 2 1 Pedro de Toledo e Av. Liberdade Centro (até R. Princesa Isabel e Av. Italo 11 11 Lorandi) 0 0 Região mais central

Dessa forma, dos 97 lotes totais, foram sorteados 77. Destes, sete foram substituídos, pois os agricultores responsáveis não foram encontrados, e oito estavam inativos. No entanto, os lotes sem manejo agrícola recente foram mantidos na amostra, por contribuírem para a caracterização da dinâmica desse estilo de agricultura na região. A partir desse diagnóstico preliminar (amostra geral), foi realizada uma abordagem mais detalhada em 30 terrenos (subamostra), com uso do método de amostra aleatória estratificada. Dessa forma estratificou-se a amostra em migrantes nordestinos e migrantes de outras regiões ou provenientes do próprio município. Esta escolha de estratificação amostral (ALBUQUERQUE et al, 2010a) foi realizada por ter-se constatado que um quarto dos lotes (26%) era cultivado por migrantes nordestinos que moram em Charqueada, o que representa um dado interessante na análise. Com o objetivo de constatar e padronizar os termos adequados para o melhor entendimento por parte dos entrevistados, foram realizadas entrevistas teste na cidade de Rio Claro, em lotes nas mesmas condições que os descritos para Charqueada, que forneceram subsídios para a definição das questões mais apropriadas para o encaminhamento da pesquisa. Através de entrevistas estruturadas e semi-estruturadas (ALBUQUERQUE et al, 2010b) foram coletados dados: preliminares da amostra geral (apêndice A); socioeconômicos da subamostra (apêndice B); além de dados acerca das plantas alimentícias cultivadas, com questões ligadas à agricultura, formas de cultivo, controle de pragas e as vantagens e desvantagens da manutenção do plantio (apêndice C). Os informantes entrevistados foram homens e/ou mulheres indicados como agricultores responsáveis pelo plantio e a área cultivada foi visitada. Na subamostra, foram

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realizadas coletas de material botânico das etnovariedades1 de raízes e tubérculos, nos locais de cultivo, sempre que possível. O material foi tratado segundo os métodos usuais para coleções botânicas (FIDALGO e BONONI, 1984; MING, 1996). Os dados foram analisados de forma qualitativa utilizando-se estatística descritiva (VIERTLER, 2002; MINAYO et al, 2003; AMOROZO e VIERTLER, 2010).

O presente estudo teve seu projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Biociências da UNESP- Rio Claro e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE, anexo A) foi assinado por todos os participantes deste estudo, visando à autorização dos moradores para entrevistas e coletas, e a transferência do devido esclarecimento sobre a pesquisa, conforme exigência do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196/96).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente será apresentado um panorama geral do total de agricultores entrevistados, independente da atual condição do lote (ativo ou inativo) e uma análise mais minuciosa será feita com os dados levantados através da subamostra do estudo.

4.1 Caracterização da amostra geral Dos 77 lotes sorteados, constatou-se que não havia mais manejo agrícola em oito. Quatro destes lotes inativos apresentavam construção em andamento e nos outros quatro, o plantio simplesmente não existia mais. Dos 69 lotes restantes, os quais foram avaliados através de entrevistas, sete agricultores alegaram não cultivar mais, o que resultou num total de 62 lotes ativos. Já o número total de agricultores participantes foi 60 (entre responsáveis por plantios ativos e inativos), pois sete destes cultivavam em mais de um lote. Dessa forma, praticamente 20% dos lotes sorteados apresentavam cultivos desativados. A tabela 3 retrata a caracterização socioeconômica dos agricultores. Constatou-se que a agricultura urbana (AU) em Charqueada é uma atividade predominantemente masculina (83% dos entrevistados). Em contrapartida, Madaleno (2000) observou que em Belém do Pará, 69% dos produtores urbanos eram mulheres. Isso vincula-se ao fato dos quintais serem o sistema mais associado a produção de alimento na pesquisa em Belém, e que as mulheres naturalmente cuidariam destes como uma extensão da casa. Já em Charqueada, o cultivo dos 1

Neste estudo consideraram-se como etnovariedades as plantas que tiveram algum tipo de classificação de variedade segundo critérios do agricultor.

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lotes assemelha-se aos cuidados da roça, um tipo de agricultura mais rústica, comumente realizada por homens. Cultrera (2008) observou que em quintais mato-grossenses, tanto os homens quanto as mulheres são responsáveis pelos cultivos, mas a força de trabalho masculina se dedica mais a culturas também encontradas em roças e terrenos, como a mandioca, batata-doce, abóbora, e que estes dois últimos locais de cultivo são manejados em sua maioria, por homens. Tabela 3: Caracterização socioeconômica dos agricultores entrevistados (amostra geral).

Características socioeconômicas Sexo

Feminino Masculino

Agricultores (n=60)

%

10 50 Homens 4 1 6 16 15 7 1

16,7 83,3 Mulheres 2 2 1 2 3 -

20 a 29 30 a 39 40 a 49 Faixa etária 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 a 89 Charqueada Nordeste (Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí) Interior de SP (até 80km de Charqueada) Interior de SP (mais de 200 km de Charqueada) Origem Minas Gerais Paraná Dado ausente N= 60 17 Até 20 anos Tempo de moradia em Zona rural 21 a 30 anos 11 zona rural / cidade + de 30 anos 23 Cidade 7 Dado ausente 2 46 Lavouras diversas, gado 7 Cana (corte e usina) 2 Ocupações anteriores Pedreiro/ servente 3 Nunca trabalhou na lavoura 2 Dado ausente

25 13 11 2 4 3 2 % 28 18 38 13 3

A faixa etária predominante está entre 50 e 69 anos, e ao incluir a faixa entre 70 e 79, essas idades correspondem a 73% dos entrevistados. Isso caracteriza um envelhecimento da população mais ligada à agricultura, fenômeno que há alguns anos é observado em todo o país. A população ativa na agricultura, pecuária e silvicultura em 1940, representava 32,6% da

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população ocupada e em 2000 declinou para praticamente a metade, 17,9% (IBGE, 2002). A situação da agricultura urbana de Charqueada reflete o que está acontecendo com a população rural, que além de declinar em número de pessoas, aumenta em proporção de idosos, a partir do momento em que os mais jovens vão procurar melhores oportunidades e diferentes formas de vida nas cidades (PEREIRA et al, 2003). Segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE, 2011), em 1980, no município de Charqueada, existiam 20 pessoas com 60 anos ou mais, para cada 100 indivíduos de 0 a 14 anos; em 2010, a proporção era 50 para 100, revelando a dinâmica do envelhecimento populacional. Neste sentido, se os mais jovens não derem continuidade aos serviços agrícolas, pode-se questionar – qual será o destino desta agricultura urbana? Constatou-se que 42% dos entrevistados são originários do próprio município e 33% são migrantes de outros estados, sendo 22% provenientes da região Nordeste. No estado de São Paulo, o cultivo de cana-de-açúcar a partir da década de 1970 foi um forte atrativo para migração sazonal, a qual se tornou uma migração permanente, pois a região fornece melhores condições de vida e possibilidades de aquisição de moradia própria, quando comparada aos locais de origem (OLIVEIRA e JANUZZI, 2004). É muito comum um membro da família migrar e assim que este começa a se estabelecer no local ele convida os outros membros, parentes e amigos. Observa-se que a grande maioria dos agricultores, cerca de 84%, nasceram e foram criados em ambientes rurais e exerciam atividades associadas à agricultura. Os poucos 13% que alegaram viver em cidades pertencem às faixas etárias menores. É possível associar o desenvolvimento da AU na região ao que foi observado por Carniello et al (2010), onde a reprodução de práticas rurais por sociedades agrícolas ocorre em espaços territoriais reduzidos, quando estas se estabelecem em meios urbanos. A agricultura praticada na cidade de Charqueada é espontânea e voluntária, não havendo programas da administração do município que a regulamentem. Em relação à concessão de uso dos terrenos, a qual acontece informalmente, observa-se na tabela 4 que 58% dos lotes ativos pertencem a outras pessoas que não o agricultor; 10% são áreas da prefeitura e 17,5% são de proprietários. Somando-se estes últimos aos 14,5% dos terrenos pertencentes a familiares dos agricultores, tem-se que 32% dos lotes cultivados em Charqueada garantem certa segurança à manutenção do plantio, ou que o agricultor terá algum aviso caso o dono decida utilizar o lote para outros fins. Isso também pode ser tomado como um estímulo à continuidade da atividade, uma vez que é mais fácil comunicar-se com

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um familiar para solicitar o espaço, do que com uma pessoa não muito próxima, além de estreitar laços afetivos. Mesmo assim, os 68% restantes, são cultivados por informantes que encontram-se numa zona de risco, na qual o plantio pode ser perdido se eventualmente o proprietário do lote resolver utilizá-lo, e entre esses, há os que nem conhecem o dono do terreno, aumentando assim a insegurança da manutenção do cultivo. Isso caracteriza a informalidade dessa atividade, e também pode ser uma mostra do quão forte é o desejo de plantar, presente nessas pessoas. Tabela 4: Informações sobre os lotes cultivados

Lotes ativos N= 62 %

Proprietário do lote

Há quanto tempo cultiva no local

Outra pessoa de Charqueada Não Parente Parente Outra pessoa de outros locais Próprio Prefeitura (área verde) Não sabe Paga pelo uso Dado ausente Menos de 1 ano 1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 20 anos ou mais Não planta mais Dado ausente

Lotes inativos N=7

19 30,5 14,5 9 6 10 11 17,5 6 10 9 14,5 2 3 Número de Lotes (n=69) 6 36 5 5 7 7 3

2 1 1 2 1

Mais de 50% dos terrenos com cultivo ativo apresentam um período de plantio entre um e cinco anos (tabela 4), o que talvez seja indicativo da dinâmica desse tipo de agricultura, seja pela rotatividade de lotes ociosos ou por iniciativas pessoais em começar novos cultivos. A figura 4 ilustra um lote sendo preparado para o cultivo, e o plantio já desenvolvido, 6 meses depois. Dos 17,4% que plantam no mesmo local há mais de 10 anos, mais da metade não é o proprietário e nem familiar, ou seja, o plantio é realizado há mais de 10 anos, numa terra de outra pessoa ou área pública, o que pode significar certa estabilidade deste ofício.

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Figura 4: Lote com preparo para cultivo em Outubro de 2010 (A) e plantio realizado em Abril de 2011 (B). Fotos: Maria Christina M. Amorozo, 2010 e Ana Carolina Bertho, 2011.

A

4.1.1 Cultivos

B

Na primeira abordagem, obteve-se um total de 46 tipos de plantas alimentares citadas pelos informantes. As culturas mais frequentes foram mandioca e milho (tabela 5), representando 75 e 54% da preferência dos agricultores. A batata-doce e a banana vêm em seguida, junto com outras plantas alimentares que são de fácil manejo, exigem pouco investimento em mão de obra e apresentam um baixo custo de manutenção do cultivo. Tabela 5: Frequência de plantas alimentares citadas pelos agricultores da amostra geral.

Planta alimentar Mandioca Milho Batata-doce Banana Quiabo Feijão Cebolinha Cana-de-açúcar

Frequência em % (n=69) 75 54 29 26 24,5 20 17 14

Essas plantas são bastante encontradas em roças e geralmente precisam de áreas com maior incidência de sol e maiores que quintais. Neste sentido, os lotes ociosos urbanos são bons locais para tais culturas; além do que foi mencionado sobre a facilidade em cultivá-las, são do grupo das amiláceas, ricas em carboidratos, a base da alimentação brasileira. Todo esse contexto reflete na escolha de alguns agricultores em não manter cultivos mais duradouros, com plantas de ciclos mais longos como as árvores frutíferas. Houve informantes que comentaram sobre o fato de não saber o que iria acontecer com o lote no futuro e por isso não diversificavam o cultivo.

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4.2 Os agricultores e os conhecimentos etnobotânicos 4.2.1 Perfil dos agricultores A estratificação da subamostra resultou em 21 entrevistas aplicadas nos lotes de agricultores provenientes do próprio município ou migrantes de outras regiões e nove lotes de migrantes nordestinos. A tabela 6 apresenta os dados de 30 lotes, porém de 29 agricultores, pois um desses cultivava em mais de um terreno. A faixa etária mais representativa está entre 50 e 69 anos (62%), seguida da faixa entre 70 e 79 anos. Isso corresponde ao observado na amostragem geral, onde as pessoas mais idosas são as que mantém hábitos agrícolas. O agricultor mais velho, o qual cuida sozinho do lote, tem 87 anos e o mais novo, tem 22. A maioria dos responsáveis são os homens, porém em dois lotes as esposas ajudam, e em outros três o informante tem auxílio de vizinho (a). Em relação a participação dos filhos, somente um agricultor disse que o filho, o qual mora no mesmo terreno que o pai, às vezes ajuda. Semelhante ao que acontece na amostragem geral deste estudo, a migração estimulada pelo trabalho no corte da cana, inicialmente um tipo de migração sazonal, tornou-se uma migração onde as pessoas começaram a estabelecer moradia na região, levando consigo familiares e amigos. Segundo o informante MJL86 (53 anos) “só aqui no bairro deve ter umas 400 pessoas da minha família, todo mundo veio de Alagoas”. Outro nordestino, (ABS29, 46 anos) originário do interior de Pernambuco, disse que resolveu se estabelecer em Charqueada e só volta para a terra natal a passeio. O que há em comum entre esses migrantes é a busca por trabalho e melhores condições de vida. A maioria já morou em pelo menos três estados brasileiros, quando não, mantinham-se no fluxo: terra natal - cidade do Sudeste - terra natal - cidade do Sudeste, fixando moradia nesta última. Estão acostumados a todo tipo de trabalho bruto, desde trabalhar em lavouras grandes, roças familiares, corte de cana, desmatamento de florestas até o garimpo. Segundo alguns, há, sim, trabalho na região deles, mas aqui (em SP) é bem mais fácil, portanto, hoje são peças importantes da configuração dessa produção urbana que ocorre no município estudado.

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Tabela 6: Perfil socioeconômico dos agricultores da subamostra.

Características socioeconômicas Feminino Sexo Masculino

Faixa etária

Origem

Escolaridade

Ocupação

Desde quando lida com a terra Responsável pelo cultivo

Amostra (n= 29) % 3 10 26 90 Homens Mulheres 20 a 29 1 30 a 39 40 a 49 3 1 50 a 59 9 60 a 69 8 1 70 a 79 4 1 80 a 89 1 10 Charqueada 8 Interior de SP Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, 9 Pernambuco, Piauí) 2 Minas Gerais Até o 4⁰ ano do Ensino Fundamental (EF) 18 5⁰ ano (EF) 1 Analfabeto/ assina o nome 7 Mobral / supletivo até 8ª série 2 (EF) Aprendeu a ler sozinho 1 Lavoura 7 Usina (motorista) 4 Aposentado (n=15) Invalidez 3 Indústria 1 Serviços (motorista, pedreiro, 5 porteiro, servente, carpinteiro) Usina (corte de cana, operador 4 de máquinas, motorista) 2 Horticultura 2 Desempregado 1 Do lar Entre 6 e 10 anos de idade

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Entre 11 e 15 anos de idade

4

Somente o informante Vizinho auxilia Esposa auxilia Genro auxilia

24 3 2 1

Os agricultores são, em geral, de famílias simples, e por diversas fases da vida tiveram contato com a lavoura, com exceção de um único, que se aposentou na indústria e se interessou por aprender a plantar depois. Quanto à ocupação de gerações anteriores, todos os entrevistados disseram que seus pais sempre trabalharam com a terra, e dois somaram a essa ocupação a produção de bicho da seda e profissões militares.

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Em relação às atuais fontes de renda, 50% dos agricultores são aposentados e como mostra a tabela 6, metade destes se aposentou pelo trabalho na lavoura; somente 6,7% fazem da atividade exercida no lote sua ocupação principal, mas a receita que realmente sustenta essa minoria é proveniente do aluguel de alguma propriedade que possuem. Soma-se a esta pequena parcela 10% que cultivam com intuito de comercializar, e ainda há os que vendem ocasionalmente (13%), no caso de sobrar algum excedente após os familiares e vizinhos receberem suas doações. Vale enfatizar que a maior parte da produção é destinada ao consumo próprio e de familiares. Pode-se dizer que a agricultura urbana ocorre mesmo pelo prazer em cultivar e para consumo próprio, já que 73% dos agricultores não têm renda proveniente deste trabalho na lavoura. A maioria dos informantes alegou que o principal motivo é o gosto por plantar, pois sempre fizeram isso e, quando estão no lote o tempo passa e eles nem percebem; outros acrescentaram a necessidade de manter o terreno limpo por causa de “bichos”, uma vez que grande parte dos lotes se localiza muito próximo às moradias dos cultivadores. Ainda há aqueles que prezam por colher o alimento puro, e por fim, produzir seu próprio alimento pode resultar em alguma economia no fim do mês. Essa importância dada ao cultivo da terra ilustra-se na fala de Eu4/87 (43 anos) “Meu pai dizia: quem planta, alguma coisa tem. Quem não planta, não tem nada." Analisando os dados sobre escolaridade, verifica-se que 60% cursaram entre um e quatro anos do ensino básico e 23% são analfabetos. Nenhum dos informantes completou o primeiro ou segundo grau em idade regular para tal. Muitos relataram que na época em que estudaram, o ensino não era obrigatório ou havia muitas dificuldades em frequentar a escola, por morarem na zona rural. A realidade escolar em que estes informantes se encontram, é semelhante à relatada por Cultrera (2008) no estado do Mato Grosso, onde os entrevistados com até quatro anos de estudo e os analfabetos correspondiam a 62,2 e 27,5% da população estudada. Madaleno (2001) encontrou em Presidente Prudente - SP, cidade distante 450km de Charqueada, graus de escolaridade que atingiam níveis superiores (12,5%) e o ensino secundário (18,6%), mas a taxa de analfabetismo manteve-se próxima à do presente estudo, atingindo os 19% dos inquiridos. Em geral as atividades agrícolas mantêm-se entre as faixas menos escolarizadas, o que pode estar associado ao envelhecimento dessa população mais ligada à agricultura e que não frequentou escolas. O número médio de moradores por domicílio é 3,83, sendo que a maioria das casas tem entre dois e três moradores, variando de um até nove moradores por domicílio.

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Somente um dos informantes não tem filhos. O número médio de filhos por domicílio é 3,7 de um total de 107 filhos. Destes, tem-se que 61,7% moram fora do domicilio dos pais e a faixa etária predominante, conforme mostra a figura 5, está entre 30 e 49 anos para os filhos homens e entre 20 e 49 anos para mulheres, constatando que as mulheres tendem a sair mais cedo de casa.

Figura 5: Estrutura etária por sexo de toda população amostrada.

Dos filhos que residem fora do domicílio, todos se estabeleceram em áreas urbanas, somente um informante disse que um dos filhos mora na zona rural em Minas Gerais. As atividades exercidas por estes são de cunho urbano, e tanto para os filhos que vivem fora quanto os residentes no domicílio, observa-se que a indústria absorve diretamente 29% da mão de obra (tabela 7). Outras profissões como mecânicos, pedreiros, motoristas, faxineiras, etc, as quais não exigem grau de escolaridade elevado, representam 35% dessa força de trabalho. Uma parcela insignificante (1,8%) relatou trabalhar na agricultura, ressaltando que, para eles o corte de cana é considerado trabalho agrícola.

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Tabela 7: Ocupação dos filhos e filhas que moram no domicílio e dos que moram fora.

Ocupação (filhos com 14 anos ou mais) Serviços Indústria, fábrica (operário, instrutor, química) Diversos: mecânico, motorista, tratorista, marceneiro, pedreiro, pintor, cabeleireiro, faxineira, auxiliar dentista, fotógrafo, frigorífico, bancário Comércio (vendedor, lojista) Funcionário público Estudante Do lar Agricultura Aposentado por invalidez Desempregado

Filhos no domícilio Filhos fora 13

13

11

21

--5 2 2 2 --

5 5 1 8 --2

Ao constatar que os informantes são em grande maioria os únicos responsáveis pelas lavouras, e que a agricultura não faz parte da vida dos herdeiros, fica a dúvida sobre qual será o destino desta atividade. Essa tendência é observada em diversos estudos (ARAUJO, 2008; CULTRERA, 2008; MASSARO JR, 2009) que relatam a ausência da participação efetiva dos filhos na rotina agrícola exercida pelos mais velhos. As considerações sobre o futuro da AU no município conduzem a questões ligadas ao tipo de ocupação dos lotes, tamanho da área cultivada (figura 6) e as relações destas com o tempo que plantam no local.

Figura 6: Tipo de ocupação (a quem pertence o terreno) e área dos lotes.

Assim como encontrado na amostragem geral, a maioria dos lotes pertencem a conhecidos do agricultor, que não familiares, e na subamostra representam 53,3% do total. Os lotes com áreas de até 500m² são os mais frequentes (76,5%). Todos que cultivam em terras

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de proprietários desconhecidos (16,5%), o fazem por um período entre 1 e 5 anos nos menores lotes (até 250m²). Ao se fazer um paralelo entre a área disponível para agricultura urbana e o aumento desta população observado nos últimos 30 anos, percebe-se a necessidade de mais áreas edificadas nas cidades, uma vez que sua população duplicou, como mostra a tabela 8. Atualmente 90% da população charqueadense reside na área urbana, além da existência de casas para fins de semana, o que pode significar uma redução dos lotes ociosos citadinos, comprometendo a disponibilidade de áreas cultiváveis para que estes pequenos agricultores invistam nos plantios urbanos. Tabela 8: Aumento da população urbana e decréscimo da população rural em um período de 30 anos, no município de Charqueada, SP.

População (número de habitantes) Urbana Rural

1980 6.551 2.321

1990 8.454 2.091

2000 11.698 1.316

2010 13.670 1.397

Fonte: SEADE, 2011.

Em Charqueada, 13,3% dos cultivadores são proprietários dos lotes e somando-se as terras de parentes, este contingente passa a 23,3%, correspondendo também, ao observado na amostragem geral. Essa situação encontra paralelos em outras cidades brasileiras, onde os agricultores urbanos exploram, em grande parte, terras que não lhes pertencem e somente uma pequena parcela são de proprietários (RESENDE e CLEPS JR, 2006). A situação de instabilidade a que esses agricultores estão sujeitos é um fato que pode impedir a elaboração e execução de projetos a médio/ longo prazo. Em relação ao tempo de cultivo, encontrou-se que 70% dos agricultores cultivam por um período de até cinco anos. Vale ressaltar que 57% nunca plantou em Charqueada antes, porém, a metade possui outro local de cultivo (quintal, outros lotes, terra da família) e parte destes que zelam por um lote pela primeira vez, o fazem há um período igual ao tempo que moram no local. Já os agricultores que exploraram alguma outra área antes do lote atual (43%), abandonaram os antigos cultivos por dois motivos: porque o proprietário decidiu usar o lote, ou porque os próprios informantes mudaram de casa. É importante observar também, que para todas as faixas de tempo inclusas (menos de um ano; há 1; 2; 3 e 4 anos), existem pessoas iniciando novos cultivos.

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Todas essas características revelam a dinâmica da agricultura urbana local, ou seja, tanto há a iniciativa em começar novos cultivos, como existe uma rotatividade entre os locais para plantio. Daqueles que plantam há mais de 10 anos (23%), a maioria inclui-se no cultivo dos lotes de até 500m² e as principais condições de uso são posse ou cessão. Os arranjos para uso do terreno são em sua maioria informais, em apenas três lotes havia algum tipo de contrato de uso, caracterizado por pagamento de aluguel ou pelo compromisso de manter o lote limpo. Um dado interessante é que um único informante cultiva na maior área encontrada (menor área cultivada é de 100m² e a maior é 10000m²), da qual ele não é o proprietário e mantém este plantio há 20 anos. O local é chamado pelo agricultor de área verde da prefeitura. Os cultivos realizados nesses locais conhecidos por “áreas verdes”, os quais são na verdade áreas de preservação permanente (APPs) da prefeitura, ocorrem sem contrato legal, mas de acordo com os agricultores, a vegetação existente antes deles chegarem era só braquiária (Brachiaria spp). Essa deterioração da vegetação é comum nesta região; Silva (1999) estudando a microbacia do Rio Corumbataí, relatou que as matas ciliares e as reservas florestais da área têm um alto grau de degradação e são formações secundárias, consequência da ação antrópica. A prefeitura, por outro lado, visualiza o incentivo da AU local através da compra de alimentos para a merenda escolar (informação verbal)2, mas a legislação3 proriza a aquisição de gêneros alimentícios de agricultores familiares, os quais necessariamente devem morar em zonas rurais, e neste caso estes produtores urbanos estariam excluídos desse processo. Contudo não há nenhuma ação formal que vise incentivar a atuação desses agricultores; todos os entrevistados apresentaram respostas negativas em relação à existência de qualquer tipo de auxílio externo para o cultivo dos lotes. A instabilidade que pode existir ao se plantar em lotes de outras pessoas não parece ser um grave problema para estes agricultores, pois somente 17,3% dos informantes que não são proprietários e exploram terras de não familiares, verbalizaram a incerteza da manutenção do lote como uma desvantagem em se manter o cultivo. 2

Informação fornecida pelo Diretor de Meio Ambiente, em conversa informal na prefeitura, em Março de 2011. RESOLUÇÃO/CD/FNDE Nº 38, de 16 de Julho de 2009: Art. 18.: “Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverá ser utilizado na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da Agricultura Familiar e do Empreendedor Familiar Rural ou suas organizações, priorizando os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas, conforme o artigo 14, da Lei n° 11.947/2009.”

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4.2.2 Manejo dos plantios urbanos “Lavoura é que nem gente, pior que criança nova” (Pe9, 76 anos; quando questionado sobre os cuidados com a terra) As principais dificuldades encontradas foram as pragas, correspondendo a 72% dos transtornos citados. Só o caramujo africano (Achatina fulica), que devasta plantas jovens, folhas tenras e hortaliças, representa 60% deste total. Os agricultores apresentam duas táticas de combate ao caramujo, a maioria coleta os animais e joga sal, e cerca de 33% dos informantes usam um veneno “granulado” (metaldeído) que tem boa eficácia contra esse tipo de praga. No entanto, o veneno é usado de maneira indiscriminada, pois os agricultores simplesmente espalham as “bolinhas” ao longo do terreno. Os roubos são responsáveis por 50% dos problemas apontados; 10% disseram não se importar com o fato e 16% relataram não ocorrerem roubos no lote. Os relatos de roubos são mais comuns nos bairros periféricos, como os do Setor 4. Nestes bairros, os agricultores adotaram estratégias para se defender dos furtos, como deixar o mato da borda do lote crescer e cultivar uma planta alimentar rasteira no meio. Outro informante, que cultiva em mais de um terreno, mantém as plantas que exigem maior investimento (pessoal e financeiro) somente no lote que é cercado e trancado. Alguns agricultores relataram que estavam desanimando de plantar por correr o risco de ter o produto roubado. A água utilizada para os plantios é preferencialmente a da chuva, 13,3% dos agricultores usam água do sistema de distribuição, pagando pelo uso. Uma estratégia de apoio do poder público poderia ocorrer neste sentido, com a isenção de taxas de uso da água para aqueles que produzem alimento na cidade. Outros agricultores (10%), possuem poços, que utilizam em caso de seca. Um agricultor criou um sistema de captação de água da chuva e a armazena num poço (figura 7). A capina do mato que cresce durante o cultivo é feita geralmente com uso da enxada ou com as mãos, poucos agricultores (10%) utilizam o herbicida glifosato, outros (13%) o aplicaram na primeira roçada do lote. Em geral, os lotes são pequenos, com áreas onde o informante consegue controlar o mato capinando sozinho, mas alguns chegaram a comentar que só não usam herbicida porque o custo não compensa, observação feita também por Monteiro e Monteiro (2006) ao estudarem hortas comunitárias na cidade de Teresina, PI. Um único agricultor mencionou uso de trator para o preparo do solo antes do plantio.

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Figura 7: Sistema artesanal para captação e armazenagem de água da chuva. Foto: da autora, 2011.

Em relação à adubação boa parte dos entrevistados não usa adubos, já que as espécies cultivadas são menos exigentes em fertilidade do solo. Mas há os que aplicam algum tipo de fertilizante sintético, que eles denominam como adubo de plantio (mistura de nitrogênio, fósforo e potássio - NPK). A aplicação de adubo orgânico, como esterco de galinha e cavalo é bem-vinda, quando este é encontrado, mas alguns disseram ser caro e difícil de se obter. Já o uso de matéria orgânica oriunda do consumo familiar e de restos de folhas retirados do próprio cultivo foi relatado por apenas 16,5% dos entrevistados. Em Cuba, Altieri et al (1999) descrevem o desenvolvimento e manejo da AU atrelada a princípios agroecológicos que eliminam uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. As práticas de uma atividade agrícola urbana baseada em técnicas ecológicas e sustentáveis têm exemplos ao longo de todo globo. Para efeito de formalização da AU, é fundamental a criação de preceitos que normatizem a exploração dos solos urbanos através de técnicas agroecológicas, baseadas na sustentabilidade dos sistemas e que incentivem seus produtores a reproduzirem tais ações. Dessa forma, os agricultores são peças importantes com seus conhecimentos sobre o cultivo, agregando valor cultural a uma atividade que, se realizada de acordo com princípios agroecológicos, só trará benefícios ao meio urbano e à comunidade. Um saber amplamente difundido na agricultura tradicional é a observação do calendário lunar para se realizar plantios, colheitas ou podas (RIVERA, 2004 apud SCHIEDECK et al, 2007). No presente estudo, os 27% que o fazem atentam para as culturas de ciclos mais longos, e em relação aos vegetais cuja parte comestível é subterrânea há uma divisão de opiniões entre plantar nas fases da lua minguante ou nova. Os informantes dizem que na lua cheia e crescente as plantas só “viçam muito e não dá nada”, ou seja, crescem com

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folhas bonitas e ramificam bastante, mas na hora da colheita, a produção é muito baixa. Uma informação bastante curiosa, advinda de dois informantes que não se conhecem, e também relatada por Amorozo (1996), é a de que aos finais de semana a lua não “regula”. Os dois entrevistados disseram que eram os antigos que diziam isso e bastava observar para confirmar. 4.2.3 Plantas cultivadas Neste trabalho foram levantadas no total 75 plantas alimentares, 73 na subamostra e 46 na amostragem geral. Essa grande diferença deve-se ao tipo de metodologia aplicada, a qual será discutida mais adiante. Todos os itens citados estão listados no apêndice D com os nomes populares, frequência do item nas duas amostragens, qual o uso feito pelos agricultores e qual o destino final da produção. Os itens não alimentares encontrados (arnica, arruda, babosa, algodão, bucha e mamona) apresentavam usos medicinais e outros usos, como exemplo o fruto da bucha é utilizado para esponja de banho. Em geral, as plantas são usadas como alimento, temperos ou chás. Quando há excedente de abóbora, milho, cana-de-açúcar, estes podem ser destinados a criação, pois certos agricultores mantêm gado, galinhas ou porcos em outras áreas. Em cinco lotes (16,5%), constatou-se a presença de galinhas. O destino da produção é em grande parte para consumo próprio e geralmente os excedentes são doados para familiares, vizinhos e amigos. Há uma distinção entre os agricultores que cultivam com intuito principal de comercialização e os que vendem esporadicamente. Os primeiros cultivam praticamente toda área do lote com a cultura que será destinada à venda, enquanto os outros, independente do tamanho da área destinada a cada tipo de cultivo, comercializam qualquer cultura quando sua produção é maior do que o esperado, e eles já doaram para as pessoas de seu convívio. Os agricultores que pretendem comercializar oferecem seus produtos ao consumidor varejista. Confirmando o observado na amostragem geral, a mandioca foi em absoluto a planta mais frequente, presente em 27 dos 30 lotes (90%). Os itens seguintes levantados na última fase de campo são diferentes dos da primeira fase, representados por mamão e quiabo (ambos presentes em 46,6% dos lotes), batata-doce (43,3%) e limão (40%). A tabela 9 apresenta os dados de frequência das espécies mais citadas em ambas as amostragens.

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Tabela 9: Frequência dos itens mais citados na subamostra (FSub) e amostragem geral (FAG).

Item Mandioca Mamão Quiabo Batata-doce Limão Cebolinha Goiaba Banana Maracujá Milho

FSub (%) 90 46,6 46,6 43,3 40 36,6 33,3 30 30 26,6

FAG (%) 75 4,3 24,5 29 14,4 17 3 26 9 54

As divergências apresentadas podem ocorrer devido à diferença de metodologia aplicada nas duas etapas de campo. Na amostragem geral as entrevistas foram realizadas distante dos locais de cultivo, os agricultores recorriam à memória para dizer o que plantavam e a pergunta feita, foi sobre o que eles cultivavam durante todo o ano. Na segunda parte, com as visitas aos lotes, percebeu-se que ao caminhar pelo plantio, algumas plantas eram ignoradas, como no caso do mamão, pois para boa parte dos agricultores, o mamão nasceu sozinho e eles o excluíam do total de plantas cultivadas. Com a goiaba aconteceu algo semelhante, ou a árvore nasceu espontaneamente ou já estava no lote, e muitos agricultores desconsideravam o item nestes casos. Esse dado é relevante para se refletir sobre a metodologia aplicada. A figura 8 exemplifica o que acontece quando se recorre somente à memória do agricultor, pois em um terço dos lotes pôde-se observar grande discrepância em quantidade de itens citados nas duas amostragens. O mesmo informante que disse ter três itens no lote apresentou na realidade 17; alguns tinham o dobro ou três vezes mais do que foi citado na amostragem geral. Dessa forma, conclui-se que para um levantamento fiel das plantas cultivadas, é imprescindível a visita aos cultivos.

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Figura 8: Quantidade de itens citados pelos agricultores na amostragem geral e subamostra.

As espécies cujos frutos são utilizados para consumo representam 37,3% do total de plantas alimentares, sendo que 28% são referentes às frutíferas arbóreas, que depois de estabelecidas precisam de pouco ou nenhum manejo. A grande maioria desse grupo apresenta baixa frequência, e ao considerar as três fruteiras presentes em mais de 33% dos lotes – mamão, limão e goiaba – elas incluem-se nas plantas que nascem espontaneamente e necessitam de poucos cuidados, com exceção de dois agricultores que compraram suas mudas de limão da variedade comercial mais comum (limão taiti). A dinâmica na escolha das espécies cultivadas atrela-se ao fato de que os informantes desejam um retorno rápido do cultivo e pouco investimento, portanto, a maioria das plantas é anual, com manejo simples e pouca demanda de tempo do agricultor, não necessitando alto investimento em insumos. Somente a cebolinha, encontrada em 36,6% dos terrenos, exige mais atenção em relação às regas, mas por ser um tempero muito difundido na culinária da região, justifica-se a frequência. Dos 30 lotes amostrados, 10 informantes citaram mais de 15 itens presentes, sendo que destes, somente dois eram os proprietários. O que citou o maior número de itens (25) é o agricultor que cultiva a maior área. O menor valor foi 1 e a média de itens por lote é de 10,3 ±7,5 itens. Observa-se que os propágulos são originários de diferentes fontes. Muitos agricultores mantêm seus cultivos e renovam a própria muda, assim como trazem mudas, ramas e sementes de outros locais que visitam, coletam plantas da rua ou ganham de parentes e outros agricultores locais. Alguns informantes plantam as sementes extraídas dos alimentos comprados para consumo. Poucas culturas são provenientes de sementes e mudas compradas, entre estas encontram-se as hortaliças, uma parte das frutas cítricas, o coco da Bahia, uma jabuticabeira e o milho (um único agricultor ainda mantém a semente que ele possui há oito

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anos). Em geral os entrevistados também doam os propágulos e dessa forma sabem onde podem ir procurar depois, caso os percam. Pode-se dizer que estes agricultores possuem um “banco de alimentos”, pois cultivam plantas que se mantêm armazenadas no solo por longos períodos, como exemplo a mandioca (MANTOVANI, 2009), e dessa forma podem ser colhidas gradualmente, à medida que são necessárias para consumo. Já as hortaliças como alface, chicória, rúcula, apresentam ciclos curtos, e sua reposição acontece a cada dois meses em geral. Dentro da diversidade agrícola levantada, foi encontrada mais de uma etnovariedade para algumas espécies cultivadas, neste quesito as raízes e tubérculos serão tratados à parte. As plantas que tiveram algum tipo de classificação de variedade segundo o agricultor estão na tabela 10. Como os nomes das etnovariedades foram todos dados por seus cultivadores, acredita-se que há etnovariedades iguais, porém com nomes diferentes (ou vice-versa). Para exemplificar, comenta-se o caso do limão-cravo, limão-rosa e limão-bugre, que na realidade são sinônimos e referem-se ao mesmo tipo de limão. Foram dados nomes que realmente diferenciam as etnovariedades, como é o caso da manga, assim como os sinônimos também se fazem presentes. Uma vez que o estudo não foi aprofundado, optou-se por apresentar todos os nomes (etnovariedades e sinônimos). Essas divergências podem acarretar erros no total de etnovariedades, tanto para mais, como para menos. Tabela 10: Etnovariedades encontradas nos lotes da subamostra. Município de Charqueada, 2011.

Cultura Abóbora Alface Almeirão Banana Cana Feijão Goiaba Laranja Limão Mamão Manga Mixirica Pimenta Quiabo Vagem

Etnovariedades / Sinônimos Menina (abobrinha), de Pescoço Americana, Crespa, Lisa Bem molinho, de Muda, de Semente Escolaqui, Antum-abóbora, Catorrinha, Figo maçã, Maçã, Nanica, Nanicão, Naniquinha, Ouro, Prata, São Domingo, São Tomé 76, Caiana, Java, Forrageira, Molinha, Mulata, Pitu, Carioquinha, De corda, Mulatinho, Mulato, Orelha de frade Branca, Vermelha Baiana, Cravo, Lima, Pera Cravo, Rosa, Rosa/ bugre, Taiti Formosa, Papaya Bourbon, Coquinho, Espada, Haden, Imperial, Rosa Cravo, Ponkan Dedo de moça, Dedo de moça mais curta, Malagueta, Mexicana, Vermelha Grande, Pequeno Macarrão, Pra salada

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Vale ressaltar que o agricultor que apresenta o maior número de plantas alimentares, cultiva nove etnovariedades de banana e cinco de manga, as quais são advindas de mudas que ele encontra pelas ruas ou das sementes de frutos consumidos. 4.2.4 Raízes e Tubérculos No presente estudo, foram levantadas seis etnoespécies de raízes e tubérculos, pertencentes a cinco famílias botânicas. A espécie predominante na amostra, a mandioca (Manihot esculenta Crantz.), apresentou 17 etnovariedades, além de quatro indivíduos indeterminados, em seguida, encontraram-se 11 etnovariedades de batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam), três de cará (Dioscorea bulbifera; D. cf cayenensis; D. cf. alata), uma de inhame (Colocasia sp) , uma de açafrão (Curcuma sp) e uma de gengibre (Zingiber officinale Roscoe). Estas etnovariedades foram classificadas de acordo com os critérios dos agricultores, como apresenta a tabela 11. No entanto, alguns agricultores não têm uma identificação muito precisa e como o estudo não foi aprofundado em relação à caracterização de variedades, optou-se por manter um grupo grande, a exemplo da mandioca amarela, e entre parênteses encontram-se os nomes de etnovariedades que se apresentaram iguais ou muito semelhantes. Todo este viés pode interferir no número total, o qual pode variar para mais ou para menos. Em uma avaliação mais detalhada, para o caso das variedades de mandioca amarela e vassourinha, pode-se afirmar com certeza que há pelo menos dois grupos distintos para cada uma dessas variedades. O número de etnovariedades de raízes e tubérculos, presentes em 28 dos 30 lotes, varia entre 1 e 12, com uma média de 3,3 ±2,4 variedades por lote no geral. A mandioca apresentou uma média de 2, variando entre 1 e 6 etnovariedades por lote. A mandioca também mostrou ser a cultura de maior importância entre raízes e tubérculos de assentamentos rurais, em Araras, SP (MASSARO JR, 2009) e para agricultores familiares do município de Rio Claro (OLIVEIRA, 2011).

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Tabela 11: Etnovariedades de raízes e tubérculos e frequência nos lotes. Os nomes entre parênteses representam sinônimos ou etnovariedades muito semelhantes.

Cultura

Etnovariedade

Açafrão Batata-doce

Cará Gengibre Inhame ` Mandioca

Amarela Roxa (Rama roxa) Branca (branca com flor) Amarela industrial (Branca de mercado) Copinha Roxinha Branquinha Casca vermelhinha Favorita Favorita roxa por dentro Rainha De árvore (Moela) Cará do norte (Inhame) Talo roxo

Frequência 1 4 4 3 2 2 2 1 1 1 1 1 2 4 4 1

Amarela (com casca branca, Pão, Amarelinha, de Paraisolândia)

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Vassourinha Branca Pão Fora do Brasil (Argentina, Amarela rama roxa) Rosinha De Minas Gerais (Roxa) Amarela Com cheiro de frango Amarela de Londrina Amarela de Minas Gerais Cabinho vermelho De fritar Macaxeira da Bahia Pão amarela Pão branca Rainha Vermelha Indeterminado

8 4 4 4 4 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4

As etnovariedades de batata-doce amarela e roxa foram as mais frequentes (presentes em 19% dos cultivos), seguidas da batata-doce branca, porém observa-se que há uma distribuição menos discrepante entre as etnovariedades de batata-doce, se comparadas às de mandioca. A mandioca amarela esteve presente em 50% dos terrenos, enquanto a segunda com maior ocorrência, vassourinha, esteve em 27% dos lotes; 59% das 17 etnovariedades são

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cultivadas por apenas um agricultor. A estrutura da distribuição das etnovariedades amostradas assemelha-se à de outros estudos em que algumas variedades são mais comumente cultivadas. Observa-se que algumas variedades são plantadas em maior quantidade e o resto é mantido em baixa frequência (AMOROZO, 2008b). Padrões semelhantes foram encontrados em estudos com agricultores familiares da região, onde apenas três variedades eram responsáveis por mais de 80% da frequência das etnovariedades mantidas (MASSARO JR, 2009; OLIVEIRA 2011). Assim como verificado em outros levantamentos etnobotânicos de raízes e tubérculos entre agricultores familiares (ANGELO, 2006; OLIVEIRA, 2011), a escolha das variedades plantadas é influenciada pelo destino da produção. A maioria dos agricultores planta a mandioca para consumo familiar e, às vezes comercializa, o que pode explicar a maior frequência da etnovariedade nomeada como amarela, uma vez que este nome está relacionado a características culinárias e refere-se à preferência pela cor da polpa da raiz. Não foi encontrada nenhuma variedade de mandioca brava, os informantes apenas relataram conhecer, mas como esta qualidade só é boa para fazer farinha, nenhum deles a cultivava. Entre os agricultores estudados não há uma caracterização muito rigorosa das variedades, pois as variedades de mandioca “argentina”, “fora do Brasil” e “amarela de rama roxa”, parecem ser as mesmas, mas ao circularem entre os informantes cada um deu um novo nome. Talvez isto se deva ao fato de estarem plantando há pouco tempo e Amorozo (2000) acredita que, em certos casos, o nome da variedade é construído à medida que ela ganha visibilidade na comunidade, ou seja, quando começa a ser disseminada. A mesma autora observou que entre agricultores tradicionais no Mato Grosso, uma rama introduzida em 1973 ganhou seis nomes diferentes circulando por 20 anos na comunidade e que algumas variedades ganhavam nomes no instante da pesquisa. No presente estudo também houve entrevistados que nomearam as plantas no momento da visita aos lotes. Além de citarem nomes diferentes para a mesma variedade, pode-se dizer que o oposto também acontece. Essas divergências contrastam com o que se vê em comunidades de agricultores tradicionais, as quais fazem diferenciações minuciosas de etnovariedades. Um estudo com índios Tukâno da Amazônia, revelou 137 cultivares de mandiocas, onde a diferenciação se dava através de critérios empíricos, como: número e formato dos lobos da folha, coloração da haste e da folhagem jovem, ramificações da planta, etc (CHERNELA, 1986 apud MASSARO JR, 2009).

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Em Charqueada, as nomenclaturas dadas relacionavam-se principalmente, além da cor da polpa cozida, aos caracteres morfológicos ligados às cores: da casca interna (figura 9), do pecíolo, das folhas e caules; e também aos locais de origem.

Figura 9: Raízes de algumas variedades de mandioca amostradas. Etnovariedades (da esquerda para direita): Vermelha, Pão e Pão amarela. Foto: da autora, 2011.

Os agricultores são motivados a procurar ramas quando faltam propágulos para completar o plantio, quando perderam toda a rama e pretendem iniciar um cultivo, quando querem experimentar uma nova variedade. E também as doam quando outros cultivadores solicitam propágulos, ou para disseminar uma variedade e assim saberem onde buscar, caso percam a rama. Os locais de origem das variedades de mandioca vão desde Charqueada e arredores à ramas originárias do Paraná, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Alagoas. Ao se fazer uma conexão entre origem do propágulo e do agricultor, observa-se que existe uma ligação entre os migrantes e a vinda de novas mudas para Charqueada, o que pode representar um enriquecimento de germoplasma local.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os cultivadores urbanos de Charqueada praticam essa atividade de maneira informal e o fazem por gosto e pelo forte vínculo que possuem com a terra. Apesar de a maioria ser de baixa renda, a agricultura urbana local não é essencial à subsistência dos agricultores, porém, seria de extrema importância que houvesse incentivos à continuidade desta ação, uma vez que a produção regular e a venda organizada dos alimentos podem melhorar a renda destas pessoas, fornecer alimentos com preços mais acessíveis e ainda gerar novos empregos. Em uma cidade imersa na monocultura de cana-de-açúcar, a produção local de alimento vem como uma estratégia de promover a segurança alimentar, que além do baixo custo de aquisição, pode ofertar alimentos de qualidade à população em geral. Os cultivos mais encontrados foram aqueles que exigem pouco investimento por parte do agricultor, e isto também reflete no tipo e na quantidade de alimento que será produzido. Através da criação de incentivos externos e oficiais, a diversidade de alimentos pode aumentar, fornecendo uma dieta mais saudável e nutritiva aos consumidores. Para tanto, programas devem ser estabelecidos pelo poder público, sindicatos e/ou associações, estimulando os cultivos em áreas ociosas, qualificando os agricultores com técnicas agroecológicas e promovendo encontros entre estes cultivadores, para que troquem experiências. Assim como seus preciosos conhecimentos devem ser valorizados e integrados às técnicas dos plantios. Considerando que grande parte dos praticantes são aposentados e pessoas de idade avançada, o futuro destas iniciativas pessoais de produção urbana de alimento pode estar comprometido, uma vez que há poucos jovens envolvidos neste trabalho e os filhos dos agricultores não se interessam em manter os cultivos. É importante pensar em estratégias de incentivos reais para que esses jovens urbanos se envolvam com esta agricultura. A produção urbana de alimentos também revela sua importância através da valorização destes agricultores, os quais sentem-se novamente úteis à sociedade. A promoção pessoal dos envolvidos é de extrema valia para melhoria em sua qualidade de vida. A grande parte dos problemas revelados pelos cultivadores provém das formas de manejo e dos roubos. Talvez com a criação de programas educativos que envolvam de fato a comunidade, estes problemas possam ser mitigados. A partir do momento em que os solos e

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cultivos receberem manejos ecológicos, e que os jovens se comprometerem com esta atividade e valorizarem o cultivo da terra, estas dificuldades podem diminuir. Os cultivos urbanos favorecem as condições ambientais das áreas onde se estabelecem. Ocorre uma melhoria na qualidade do ar; aumento da captação de água da chuva e infiltração nos solos; os ambientes tornam-se mais verdes, embelezando a paisagem urbana. Por outro lado, além de incentivos externos, o monitoramento ambiental das práticas agrícolas na cidade, realizado por órgãos competentes, faz-se extremamente necessário. Isto com a finalidade de: evitar a contaminação dos solos pelo uso inadequado de insumos químicos, elaborar um controle de qualidade da água utilizada para as regas e consequentemente garantir a produção de um alimento saudável. Outro benefício provém do fato que a agricultura urbana aparece como um novo ambiente para manutenção da agrobiodiversidade perdida com a disseminação das grandes monoculturas pelo agronegócio. Os agricultores cultivam variedades de plantas diferentes e a troca constante de material propagativo contribui para o aumento da agrobiodiversidade local, além de estreitarem laços afetivos em ambientes urbanos, onde o modo de vida por vezes distancia as pessoas. A agricultura urbana que acontece espontaneamente em Charqueada pode se perder caso os órgãos públicos não se manifestem em prol da continuidade da atividade, uma vez que os lotes plantados podem ser retomados pelos proprietários a qualquer momento. Dessa forma, é emergencial a inclusão desta atividade nas políticas públicas do município, pois além de todos os benefícios citados, valorizar-se-á o que se tem de belo em retirar o próprio alimento da terra cultivada.

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Batata doce

Inhame

Outros

Nome popular

Uso

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Consumo/ Venda/ Doação

Observações:_________________________________________________________________________________________ ___________

variedade

Se tiver raízes e tubérculos no lote: Mandioca Cará

Citar algumas das plantas mais importantes do cultivo durante todo o ano: Nome popular Uso Consumo/ Venda/ Doação

APÊNDICES APÊNDICE A ENTREVISTA PRÉ DIAGNÓSTICO Data: _____/_____/____Nº Entrevista: ________ Localidade (Endereço):________________________________________________________ Nº domicilio: _____________________________ Nome: ______________________________________________________________________________________________________________ Data de nascimento (idade): __________________________________________ Sexo: ( ) F ( )M Local onde nasceu: ____________________________________________________________________________________________________ Já morou na zona rural? Por quanto tempo?_____________________________Fazendo o quê?________________________________________ De quem é o terreno cultivado?_________________________Há quanto tempo planta neste lote?______________________________________

entrevistado

Parentesco

Data de nascimento (Idade)

Parentesco

Data de nascimento (Idade)

Sexo

Sexo

Local de nascimento

Local de nascimento

6.Escolaridade: _______________________________________________

Nome

5.Filhos/Parentes que moram fora da casa dos pais

Nome

4.Número de residentes da casa : _____________

Ocupação principal

Estado civil

Ocupação principal

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Local onde mora (R/U)

Estado civil

3.Ocupação/ Atividade Principal: _____________________________ Ocupação das gerações anteriores: _______________________________

2.Tempo de residência no local:________e em Charqueada?________ e antes, quanto tempo e onde?___________________________________

1.Código do Info/Nome_______________________________________________Nº entrevista: ______________Data:_____/______/________

APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista Socioeconômico

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OBS:________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________

15.Possui algum outro local de cultivo (quintais, lavoura grande)? _______________________________________________________________

14.Há quanto tempo planta nesta terra? ____________________________________________________________________________________

12.Com quem aprendeu? _________________________________13.Os filhos (jovens, h ou m) ajudam?_______________________________

____________________________________________________________________________________________________________________

11.Por que parou de plantar neste lugar?____________________________________________________________________________________

10.Cultivou aqui em Charqueada ou outro, onde? ___________________________ Qdo? _____________ Qto tempo?_____________________

9.Onde (sítio, fazenda, roça da família..)?__________________________________________________________________________________

8.Quem cuida do cultivo atual? _______________________________ Desde quando planta ? _______________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________

7.Itinerário de vida (Em que locais você morou?):

ITEM

VARIEDADE

O que tem plantado?

USO (alimento, remédio...) DESTINO V/C/D

Onde conseguiu muda (atual)

Doou para alguém (muda atual) Quando colhe

Quanto tem no lote

Obs

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ROTEIRO DE ENTREVISTA – AS PLANTAS E OS TERRENOS Código do Info/Nome:___________________________________ Nº entrevista ______________________ Data: _______/_______/_________ 16.Como Sr(a) chama o local de cultivo (terreno, roça, quintal, outros)?___________________________________________________________ 17.Qual a área do terreno?_______________________________________________________________________________________________

APÊNDICE C

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25. Por que mantém o hábito de plantar, qual a importância de ter esse cultivo? ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________

24. De onde vem a água? ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________

23. Como você controla doença, inseto e mato? (herbicida, agrotóxico, produto caseiro) Como aplica? ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________

22. Como você planta? (prepara a terra, usa adubo, esterco, ) ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________

21. Há alguma ajuda externa (prefeitura, associações, sindicatos)? De que forma? ____________________________________________________________________________________________________________________ ________________________ ___________________________________________________________________________________________

20. Quais os problemas que você encontra com essa atividade? (plantio, conseguir terrenos...) ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE D- Lista de itens alimentares por nome popular. Legenda: Frequência do item na Amostra Geral (FAG) e na Subamostra (FSub). Usos (A= alimento; CR= criação; Chá; T= tempero); Destino do cultivo (C= consumo e doação; CV= cultivado para venda; VE= venda esporádica). Destaque para os itens mais frequentes. Nome popular Abacate Abacaxi Abóbora Açafrão Acerola Agrião Alface Alfavaca Alfavacona Alfavaquinha Alho Almeirão Ameixa Amendoim Amora Banana Batata-doce Café Caju Cana Cará Cebolinha Cenoura Chicória Chuchu Cidreira Coco da Bahia Coentro Conde Couve Erva-doce Espinafre Feijão Feijão Fava Feijão Guandu Figo da india Gengibre

FAG (%) 7,2 3 13 -5,8 -10 ----3 1,5 5,8 1,5 26 29 4,3 -14,5 3 17,3 -4,3 8,7 1,5 -1,5 1,5 10 --20 1,5 5,8 ---

FSub (%) 13,3 16,7 13,3 3,33 16,7 3,3 13,3 13,3 3,3 3,3 6,6 16,7 -3,3 6,6 30 43,3 3,3 3,3 23 6,6 36,7 3,3 10 23 26,7 3,3 10 20 23 3,3 3,3 16,7 10 20 3,3 13,3

Usos A A A/ CR T A A A T Não usa T T A -A A A A Não usa A A/ CR A T A A A Chá A T A A Chá A A A A A Chá

Destino da produção C C C/ VE C C C C/ CV/VE C C C C C/ CV -C C C/ VE C/ CV/VE C C C C/ CV C C/ CV/ VE C C C C/ CV C C/ CV/ VE C C C C C C C

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Goiaba Goiabinha Nome popular Graviola Hortelã Hortelã do norte Iata (pinha) Inhame Jabuticaba Jaca Jiló Laranja Limão Losna Mamão Mandioca Manga Manjericão Manjerona Maracujá Maxixe Milho Mixirica Morango Mostarda Pepino Pêssego Pimenta Pitanga Poejo Quiabo Romã Rúcula Salsinha Tomate Tomatinho Uva Uva japonesa (chico doce) Vagem

3 -FAG (%) -3 --1,5 4,3 3 1,5 4,3 14,5 -4,3 75,3 8,7 --8,7 3 53,6 1,5 --1,5 -3 --24,6 4,3 4,3 8,7 ----1,5

33,3 3,3 FSub (%) 3,3 16,7 3,3 3,3 13,3 10 3,3 6,6 13,3 40 3,3 46,7 90 20 10 6,6 30 -26,7 6,6 3,3 3,3 10 3,3 16,7 10 6,67 46,7 3,33 10 16,7 13,3 10 3,33 3,33 6,67

A A Usos A T/ chá T A A A A A A A Chá A A A T T A -A/ CR A A A A A A A Chá A A A T A A A A A

C C Destino da produção C C/VE C C C C C C C C/ VE C C C/ CV/ VE C C/ VE C C/ VE -C C C C C C C/ VE C C C/ CV C C/ CV C/ CV C C C C C

ANEXOS ANEXO A – Localização dos pontos dos 97 lotes encontrados com cultivo ativo. Fonte:Adapatado de ortofoto na escala 1:10000, (2000).

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ANEXO B

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Conselho Nacional de Saúde, Resolução 196/96)

Meu nome é Vanessa Aparecida Camargo. Sou estudante da Universidade Estadual Paulista em Rio Claro, e quero convidar você para participar da pesquisa que estou iniciando aqui. Estou aqui na sua cidade para desenvolver um trabalho sobre os terrenos que estão sendo plantados pelos moradores e sobre as plantas, todas aquelas que vocês utilizam para se alimentar, principalmente a mandioca. Quero também conhecer o modo de vida de vocês, principalmente o trabalho na lavoura (roça). Este conhecimento sobre plantas não é importante somente para meu trabalho, mas também para vocês, pois elas fazem parte da cultura, da história e da vida de vocês. O nome desta pesquisa é “Agricultura urbana no Município de Charqueada, SP – um enfoque etnobotânico”. Minha professora da faculdade, Maria Christina de Mello Amorozo, também me ajuda nesta pesquisa. O que quero saber de vocês são as informações que sabem sobre as plantas que usam e conhecem e os modos como as plantam. Para isso faremos visitas a vocês, conversaremos e veremos seu trabalho. Pediremos a sua permissão para colher alguns pedaços das plantas, para tirar algumas fotos delas e de vocês. Se não estiver à vontade com a conversa, a qualquer hora, você pode parar ou desistir de participar dela, sem trazer nenhum prejuízo a você. O nome daqueles que participarem não aparecerá nos resultados da pesquisa, ficando em sigilo. Quando quiser falar sobre algo e preferir que não anote, ou use essa informação na faculdade, me comprometo a respeitar sua vontade e manter essa informação somente entre a gente. Me comprometo a trazer os resultados da pesquisa para vocês e só usá-los para comunicar a outros pesquisadores em reuniões e revistas relacionadas à faculdade, com a permissão de vocês. Se você tiver qualquer dúvida ou quiser saber mais sobre a pesquisa, basta falar comigo em qualquer momento. Você também pode me telefonar na Faculdade e pedir pra falar comigo. Vou deixar aqui meu telefone e endereço, da faculdade. Entrevistado: Depois que a pesquisadora me explicou a pesquisa que ela vai fazer, como vai ser feita, que eu tenho direito de não participar ou de desistir a qualquer momento sem nenhum prejuízo para mim, e também como os resultados vão ser usados, eu concordo em participar desta pesquisa. Declaro, ainda, que recebi uma cópia deste termo. Nome: ________________________________________________________________ Sexo:____ Documento de identidade:___________________________ Data de Nascimento: ______________ Endereço:________________________________________________________________________ Telefone para contato:______________________________________________________________ Local e data: _____________________________________________________________________ Assinatura: ______________________________________________________________________ Título do Projeto: “Agricultura urbana no Município de Charqueada, SP – um enfoque etnobotânico”. Pesquisador Responsável: Maria Christina de Mello Amorozo Cargo/função: Professora/Pesquisadora Instituição: Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Rio Claro Endereço: Av. 24A, 1515 – Bela Vista – Rio Claro (SP) – CEP: 13506-900 Dados para Contato: fone (19) 35269113 e-mail: [email protected] Aluno/Pesquisador: Vanessa Aparecida Camargo RG: 29.832.524-X Instituição: Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Rio Claro Endereço: Av. 24A, 1515 – Bela Vista – Rio Claro (SP) – CEP: 13506-900 Dados para Contato: fone (19) 35269113 e (19) 35245388 e-mail: [email protected] Assinatura:______________________________________________________________________