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A Relação entre o Ingresso ou Saída de Empresas do Índice de Carbono Eficiente (ICO2) e seus Níveis de Rentabilidade Vinicius Mothé Maia Faculdade de ...
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A Relação entre o Ingresso ou Saída de Empresas do Índice de Carbono Eficiente (ICO2) e seus Níveis de Rentabilidade Vinicius Mothé Maia Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC/UFRJ) [email protected] Filipe Pollis de Carvalho IAG Escola de Negócios (IAG-PUC/RJ) [email protected] Liege Moraes do Carmo Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC/UFRJ) [email protected] Resumo A preocupação ambiental e social nas ações humanas não é fato exclusivo do século XXI. A política pública ambiental brasileira, por exemplo, iniciou-se na década de 1930 e se consolida desde então. Este artigo tem o objetivo de estudar os possíveis impactos na rentabilidade de empresas que ingressaram ou saíram do Índice de Carbono Eficiente (ICO2). Em virtude da escassez de estudos acerca desse índice de responsabilidade social, a presente pesquisa se mostra relevante no avanço do entendimento das vantagens obtidas pelas empresas que adotam medidas carbono eficientes. A fim de analisar tal efeito, foi adotado um modelo adaptado do Capital Asset Pricing Model (CAPM). A amostra da pesquisa compreendeu 12 empresas que entraram ou saíram do índice ao longo do período de 2012 a 2015. Os resultados obtidos não permitiram associar movimentos no ICO2 com aumentos ou quedas nos índices de rentabilidade, à exceção de duas empresas. Sendo assim, não foram verificadas evidências estatísticas de que o ICO2 é um fator relevante para a elevação da rentabilidade empresarial. Esse fato aponta para uma não valorização, por parte do investidor, das empresas apenas por comporem o índice. Palavras-chave: Sustentabilidade, Rentabilidade, ICO2.

1. INTRODUÇÃO A relevância das questões ambientais nas decisões da sociedade tornou-se maior do que era há décadas atrás. Conforme Barbieri (2011), a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992 marcou o início da fase atual da gestão ambiental global. Além dos esforços no âmbito governamental, o mercado de capitais também tem apresentado medidas a fim de evidenciar o desempenho socioambiental das empresas. Neste sentido, a BM&F Bovespa e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social 1

(BNDES) criaram, em 2010, uma carteira teórica de ativos conhecida como Índice de Carbono Eficiente (ICO2). O ICO2 é uma carteira de ações de empresas participantes do IBrX-50 (índice que contém as 50 ações mais negociadas na BM&F Bovespa em termos de liquidez) que aceitaram, voluntariamente, participar desta iniciativa. Desta forma, são adotadas práticas transparentes em relação à emissão de gases de efeito estufa (GEE) a partir do grau de eficiência das emissões de GEE e do total de ações de cada uma dessas empresas. Dado o pouco tempo de criação do ICO2, não foi identificada grande quantidade de estudos no meio acadêmico acerca do tema, tendo como os principais estudos até o momento os de Cazzari e Lima (2012), Barbosa et al (2013), Reis, Moreira e França (2013) e Viviani et al (2014). Logo, busca-se desenvolver este tema e contribuir para o avanço do conhecimento nesse campo. Sendo assim, o presente estudo busca avançar na pesquisa acerca do ICO2 ao responder a seguinte pergunta: “O fato da empresa entrar ou sair do Índice de Carbono Eficiente acarretaria algum impacto em seus indicadores de rentabilidade?”. O impulsionador destas indagações foi o trabalho de Barbosa et al (2013). Os autores lançaram mão da análise de eventos para verificar a relação entre o ingresso de empresas na primeira carteira do ICO2 - 2010 - e seus indicadores de rentabilidade. Os autores concluíram que o retorno das ações que compunham a primeira carteira do ICO2 não foi afetado pelo anúncio de ingresso no índice, uma vez que não foi possível rejeitar a hipótese nula de que os retornos não são afetados pelo ingresso no índice. O presente trabalho buscou captar as variações de rentabilidade das ações que aderiram ou saíram do ICO2 a partir de uma adaptação do Capital Asset Pricing Model (CAPM) desenvolvido por Sharpe (1964) e Lintner (1965). Determinou-se que serão estudadas as empresas que participaram do índice no período de 2012 a 2015, totalizando 4 entrantes e 8 retirantes. Os resultados apontaram que duas empresas tiveram seus níveis de rentabilidade alterados em função de movimentos no ICO2. Quanto às outras dez empresas, não foram detectadas variações significativas em seus níveis de rentabilidade. Quanto à organização deste artigo, a seção 2 tratará do referencial teórico acerca do ICO2 e do modelo CAPM. Já a seção 3 apresentará a metodologia do estudo. Em seguida, serão tratados os resultados da pesquisa na seção 4 e, por último, as conclusões e as sugestões de trabalhos futuros estarão presentes na seção 5.

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Investimentos Socialmente Responsáveis (ISR) A temática da consideração ambiental e social nas ações humanas não é fato exclusivo do século XXI. A política pública ambiental brasileira começou efetivamente a partir da década de 1930 e foi se estruturando desde então (BARBIERI, 2011). A Constituição Federal de 1988 (CF/88) engloba um capítulo exclusivo acerca do meio ambiente e, mais recentemente, a Emenda Constitucional nº42 (2003) incluiu a defesa do meio ambiente como princípio geral da atividade econômica. Em suma, verificam-se evoluções ao longo do tempo nas medidas governamentais que valorizam as questões socioambientais no país. 2

Em 1992, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) apresentou a Agenda 21, que revelou um novo padrão de desenvolvimento global a partir da proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (UNITED NATIONS, 1992). Vale ressaltar que o desenvolvimento sustentável está pautado na equidade social, eficiência econômica e conservação ambiental (COHEN e COSTA, 2004). Essas três dimensões são conhecidas como Triple Bottom Line (NORMAN e MacDONALD, 2003). Neste sentido, as questões sociais e ambientais são gradativamente mais relevantes nas ações organizacionais, uma vez que a visão de que as ações empresariais devem ser pautadas exclusivamente na maximização da riqueza dos proprietários (shareholders) é, hoje, confrontada com uma abordagem que valoriza todos os stakeholders, ou partes interessadas (ASHLEY, 2010). Nota-se o avanço de medidas sustentáveis nas organizações impulsionadas pelos mecanismos de governança corporativa, os quais são utilizados para dirigir, monitorar e incentivar ações a fim de otimizar o valor da empresa (IBGC, 2015). Alinhada à necessidade de valorização das questões socioambientais nas práticas organizacionais, o mercado de capitais empreendeu esforços a fim de evidenciar as empresas que adotam posturas responsáveis quanto ao tema. Assim, em 1999 foi criado o primeiro índice de sustentabilidade do mundo – Dow Jones Sustainability (DSJI). No Brasil, foi lançado em 2005 o quarto índice de sustentabilidade do mundo e o primeiro da América Latina – o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Seu objetivo é “[…]criar um ambiente de investimento compatível com as demandas de desenvolvimento sustentável da sociedade contemporânea e estimular a reponsabilidade ética das corporações.” (BM&F Bovespa, 2014) Em 2010, surgiu o Índice de Carbono Eficiente (ICO2), resultado de esforço conjunto da BM&F Bovespa e do BNDES a fim de criar uma carteira teórica de ações de empresas que, voluntariamente, divulgam suas emissões de gases do efeito estufa (GEE). Evidentemente, trata-se de um incentivo às empresas na direção de dar transparência às suas práticas ambientais com o objetivo de atuar em uma economia de “baixo carbono”. Esta prática está alinhada a preocupação com o aquecimento global e as mudanças climáticas (BM&F Bovespa, 2015). Para ser incluída no ICO2, a empresa deve atender aos seguintes critérios cumulativamente: • Pertencer à carteira do IBrX 50; • Ter aderido formalmente à iniciativa do ICO2; • Reportar, anualmente, seu inventário de GEE. Seguem algumas informações sobre a carteira do ICO2. Tabela 1 – ICO2 2012 a 2015 ISE 2013 2014 Nº ações 35 29 Valor de Mercado (R$ bilhões) 1.475 1.278

2015 29 1.386

Fonte: BMFBovespa

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Tabela 2 - Setores presentes no ICO2 em 2015 ICO2 por setores (2015) Nº ações Part. (%) Alimentos processados 2 10,64% Bebidas 1 11,72% Comércio Distr. 1 2,83% Fumo 1 1,93% Produtos pessoais e limpeza 1 1,43% Construção e engenharia 1 0,9% Transporte 2 3,00% Comércio 2 2,82% Imóveis 1 1,38% Holdings 2 5,15% Intermediação Financeira 5 35,5% Serviços Financeiros 2 7,01% Madeira e Papel 3 2,52% Mineração 2 6,15% Química 1 0,3% Telefonia Fixa 3 2,93% Telefonia Móvel 1 2,19% Energia Elétrica 1 1,59% Fonte: BMFBovespa

Gráfico 1 – Evolução diária do ICO2

Fonte: BMFBovespa

2.3 Pesquisas sobre ISR no Brasil O Brasil apresenta, hoje, dois grandes índices que medem ações socialmente responsáveis de empresas: o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Índice de Carbono Eficiente (ICO2). É relevante destacar que o primeiro índice que surgiu foi o ISE em 2005, fato que contribui para o maior número de pesquisas disponíveis em relação ao ICO2, lançado em 2010. 4

Em linhas gerais, os resultados de alguns estudos apontam uma dificuldade em verificar melhorias de rentabilidade em empresas que adotam medidas socioambientalmente corretas. De acordo com Campos e Leme (2009), há a possibilidade do aumento da rentabilidade ser mitigado devido ao aumento de custos associados às práticas socioambientais. Machado, Machado e Corrar (2009) estudaram se o ISE teria um retorno médio maior que os demais índices da Bovespa. Os autores terminam por concluir que o retorno médio dos índices é semelhante. Esses resultados sugerem uma não valorização por parte do mercado dos investimentos socialmente responsáveis. Quanto ao ICO2, foi identificado um estudo que buscou captar melhorias nos retornos das ações de empresas que ingressaram no índice, ou seja, que compuseram sua primeira carteira. A pesquisa de Barbosa et al (2013) não rejeitou a hipótese nula de que o anúncio da participação do índice não levou a impactos nos retornos das ações das empresas em questão. Assim, os autores sugerem que o anúncio da participação no ICO2 não influenciou no retorno das ações das empresas. Já em relação ao custo de capital, Cazzari e Lima (2012) buscaram entender se os acionistas valorizam empresas ambientalmente responsáveis. A partir de um modelo modificado do CAPM, os autores não conseguiram inferir que a participação no ICO2 leva a um menor custo de capital próprio. Ademais, também não foi possível concluir que os acionistas, necessariamente, valorizam empresas ambientalmente responsáveis. Por fim, o trabalho de Viviani et al (2014) analisa se é possível correlacionar a presença no ICO2 com indicadores de desempenho empresarial (margem líquida, giro do ativo, taxa de retorno sobre o investimento, entre outros). A conclusão dos autores foi a não observância de correlação estaticamente significante entre a participação no ICO2 e indicadores de desempenho empresarial. O presente trabalho busca responder a uma sugestão de pesquisa futura apontada por Barbosa et al (2013): o fato de uma empresa ingressar ou deixar o ICO2 é relevante para o seu nível de rentabilidade? Assim, busca-se contribuir para a compreensão da importância do Índice de Carbono Eficiente no nível de rentabilidade e, consequentemente, na saúde econômica das empresas.

3. METODOLGIA Para captar o impacto da entrada ou saída da empresa do ICO2, utilizou-se o modelo CAPM com uma ligeira adaptação. Adicionou-se uma variável dummy, sendo 0 se a empresa não está no índice ou 1 caso ela esteja. A regressão realizada é apresentada a seguir: (1) Onde:  R é o retorno esperado de um título;  é a taxa livre de risco; 

é o risco não diversificável do título; 5



é o prêmio de risco. (2)

Onde:  

   

é o Excesso do Retorno do Ativo i;

é conhecido como Índice de Jensen, medida de performance de portfólios apresentada por Jensen (1967) que capta a habilidade do administrador em atingir uma performance acima ou abaixo ( do retorno ajustado ao risco do mercado; é uma medida de risco sistemático que indica a sensibilidade dos retornos da ação em relação aos retornos da carteira de mercado; é uma medida de sensibilidade dos retornos em relação à presença no ISE; é a variável dummy que indica a presença ou não da ação no ISE; é o erro de previsão do modelo.

O coeficiente captará o impacto causado no Excesso de Retorno pela entrada ou saída da empresa do ICO2, resultando no deslocamento da curva de previsão do retorno caso a empresa esteja no índice ou fora dele, como exemplificado na figura 1 para o caso do coeficiente ser positivo. Figura 1

A regressão considerou o último ano fora do índice e o primeiro ano dentro do índice para as empresas que ingressaram no ICO2. Já para as que foram excluídas, foram considerados o último ano dela no índice e seu primeiro ano fora. A exceção a essa regra foram as empresas que ingressaram no índice durante o ano de 2014, tendo assim seu intervalo de estudo reduzido, pois não completaram um ano que passaram a compor o índice. 6

Para que fossem definidas as empresas analisadas, coletou-se junto na base de dados Bloomberg a lista das empresas que compuseram o ICO2 de março de 2012 a janeiro de 2015. Como o objetivo da pesquisa é verificar o impacto da entrada ou exclusão da empresa do índice, as empresas que estiveram sempre presente no índice durante o período de estudo foram eliminadas. A eliminação ocorreu devido ao foco da pesquisa em se estudar as empresas que entraram ou saíram do ICO2, não contemplando assim as empresas que compuseram o índice durante todo o período de análise. Restaram assim 21 empresas. Dessas, cinco entraram e saíram do índice ao longo dos anos de estudo e por isso foram retiradas da pesquisa. A pesquisa então seguiu com 16 empresas, sendo 6 incluídas no índice e 10 excluídas. A lista das empresas é apresentada nas tabelas a seguir. Tabela 3 – Empresas Incluídas no ICO2 Empresa Código Bolsa Data de Ingresso Banco Bradesco SA BBDC3 out/13 Cosan Logistica SA RLOG3 jan/15 Embraer SA EMBR3 jul/13 Klabin SA KLBN11 abr/14 Oi SA OIBR4 jul/12 Ultrapar UGPA3 jul/13 Participações SA Tabela 4 – Empresas Excluídas do ICO2 Último mês Empresa Código Bolsa no índice All América Latina ALLL3 mar/14 Logística SA Braskem SA BRKM5 set/14 Centrais Elétricas ELET3 jun/12 Brasileiras SA Eletropaulo ELPL4 jun/13 Gol Linhas Aéreas GOLL4 set/13 Inteligentes SA MMX Mineração e MMXM3 mar/14 Metálicos SA OGX Petróleo e Gas OGXP3 dez/13 Participações SA PDG Realty PDGR3 mar/14 Redecard SA RDCD3 set/12 Tele Norte Leste TNLP4 jun/12 Participações SA

Ao iniciar a coleta dos dados na base de dados Bloomberg, notou-se que as empresas Redecard e Tele Norte Leste haviam tido a interrupção da negociação das suas ações em outubro e abril de 2012, respectivamente. Devido à falta de dados, ambas foram excluídas da pesquisa. Da mesma forma, as empresas Cosan Logística e Klabin foram excluídas do estudo. A primeira porque passou a fazer parte em janeiro de 2015, tendo poucos dados acerca do seu 7

retorno compondo o índice a segunda em virtude de a sua cotação ter se iniciado três meses antes dela entrar no índice, fato que implicou em poucos dados antes dela compor o ICO2. Restaram assim 12 empresas a serem estudadas. Foram então coletadas suas cotações diárias e do Índice Bovespa, empregado como a carteira de mercado. Junto a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip) foi obtida a série histórica do Índice DI, adotado como a taxa livre de risco. De posse dos dados, foram calculados o Excesso de Retorno para cada ação e Prêmio de Risco diário conforme as fórmulas a seguir. Considerou-se o período de análise de cada ativo. (3) (4) Fez-se então a estatística descritiva das séries do Excesso de Retorno de cada empresa para que se pudesse tomar um primeiro contato com os dados, assim como verificar se havia alguma diferença marcante entre as empresas. Antes de prosseguir para as regressões múltiplas, fez-se o teste de raiz unitária para verificar se as séries eram estacionárias ou não. A importância do teste se dá pelo fato das séries não estacionárias, por terem uma tendência temporal, poderem levar a altos valores de Rquadrado mesmo que as variáveis não sejam correlacionadas (BROOKS, 2014). Caso fosse verificado que alguma série não era estacionária, seria necessário transformá-la com a primeira diferença, por exemplo, para que se pudesse prosseguir. O teste de raiz unitária Augmented Dickey-Fuller (ADF) foi feito com o máximo de 17 lags e incluindo o intercepto, sendo os resultados apresentados na tabela a seguir para cada série de Excesso de Retorno e Prêmio de Risco calculada para cada período de análise. Tabela 5 – Resultado do Teste de Raiz Unitária Empresa Banco Bradesco Embraer Oi Ultrapar Participações All América Latina Logística Braskem Centrais Elétricas Brasileiras

Série

ADF (p-valor)

Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco

0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000

Estatística de Durbin-Watson 2.002124 1.998167 1.974805 1.998174 1.998925 2.000785 2.008452 1.998174 1.998749 1.996509 2.021316 1.994949 1.999331 2.000785 8

Eletropaulo Gol Linhas Aéreas Inteligentes MMX Mineração e Metálicos OGX Petróleo e Gas Participações PDG Realty

Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco Excesso de Retorno Prêmio de Risco

0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000 0.0000

1.957965 1.998174 1.992679 1.977594 1.998233 1.996509 2.006135 2.000727 2.000180 1.996509

A estatística de Durbin-Watson indica se há autocorrelação entre os resíduos, sendo valores próximos a 2 indicativo de que não há correlação evidente (BROOKS, 2014). A importância desse teste se dá pela falta de confiabilidade nos resultados do teste de raiz unitária caso haja correlação entre os resíduos. Nesse caso, não foi verificada nenhuma autocorrelação, visto que os valores foram próximos a 2. Em seguida foram analisadas as funções de autocorrelação (ACF) e correlação parcial (PACF) das séries do Excesso de Retorno do ativo. Não foi verificado nenhum processo auto regressivo marcante, entretanto em alguns casos verificou-se a influência intertemporal. Nesses casos se introduziu na regressão um processo AR(1) para que fossem preservadas as premissas da regressão. Com o intuito de mitigar os problemas advindos da heterocedasticidade dos resíduos, as regressões foram calculadas considerando a matriz de covariância de Newey-West. Não se verificaram casos de multicolinearidade e por isso não foram necessárias medidas para solucionar esse problema.

4. RESULTADOS A primeira forma de análise dos resultados é feita a partir de estatística descritiva, que evidencia o baixo desempenho das empresas do ICO2 durante o período 2012 a 2015. A maioria das empresas, três quartos, não conseguiu proporcionar retorno médio superior à taxa livre de risco. Aquela que conseguiu o maior retorno médio diário foi a Embraer, com 0,0518% ao dia. As distribuições de excesso de retorno apresentaram valores de curtose superiores a 3, com máximo de 17,21 da MMX Mineração e Metálicos, o que caracteriza o comportamento leptocúrtico destas distribuições. As assimetrias foram próximas a zero, com destaque para o valor positivo da MMX de 1,97.

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Tabela 6 – Estatística Descritiva das Séries de Excesso de Retorno Empresa Média Desvio-Padrão Curtose Banco Bradesco 0.000405 0.018706 3.675119 Embraer 0.000518 0.019150 4.733417 Oi -0.003057 0.029328 17.89473 Ultrapar Participações -0.0000144 0.013655 4.989565 All América Latina Logística -0.002420 0.025960 8.360433 Braskem -0.001569 0.018162 5.644318 Centrais Elétricas Brasileiras -0.003382 0.028869 8.995740 Eletropaulo -0.002070 0.028397 6.123283 Gol Linhas Aéreas Inteligentes 0.000129 0.033184 4.613906 MMX Mineração e Metálicos -0.006832 0.063043 17.21925 OGX Petróleo e Gas Participações -0.008188 0.078844 10.06634 PDG Realty -0.003510 0.032804 3.633176 Nota: média e desvio-padrão em valores decimais.

Assimetria 0.174325 -0.002135 -1.719897 0.054953 0.896340 -0.956710 -0.211237 0.313073 0.647083 1.977923 -0.481025 0.355535

Após a análise da estatística descritiva dos dados, serão observados os resultados das regressões lineares de cada uma das empresas abordadas. O Bradesco apresentou índice de Jensen e coeficiente dummy significativamente relevantes, uma vez que seus p-valores foram inferiores ao nível de significância (0,10). Surpreendentemente, verificou-se que a presença do banco no ICO2 afeta negativamente a sua rentabilidade. Ademais, o índice de Jensen estatisticamente significante (p-valor 0,10).

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Tabela 8 - Regressão All América Latina Logística Variável Coeficiente p-valor (Estatística t) Índice de Jensen -0.003083 0.0612 Prêmio de Risco 0.824546 0.0000 Dummy 0.002251 0.3073 AR(1) 0.100349 0.1171 R-quadrado R-quadrado ajustado p-valor (Estatística F) Estatística de Durbin-Watson

0.235007 0.229884 0.000000 1.983557

Tabela 9 - Regressão Centrais Elétricas Brasileiras Variável Coeficiente p-valor (Estatística t) Índice de Jensen -0.004212 0.0765 Prêmio de Risco 0.775393 0.0000 Dummy 0.003071 0.2392 AR(1) 0.117902 0.2753 R-quadrado R-quadrado ajustado p-valor (Estatística F) Estatística de Durbin-Watson

0.181496 0.176474 0.000000 1.993754

A Eletropaulo apresentou variável dummy estatisticamente significante (p-valor < 0,10) e negativo, o que mostra que a decisão de sair do ICO2 aumentou a sua rentabilidade, dado que sua permanência causava uma redução no seu excesso de rentabilidade em 0,6%. Já o índice de Jensen não foi significante (p-valor > 0,10). Tabela 10 - Regressão Eletropaulo Variável Coeficiente p-valor (Estatística t) Índice de Jensen 0.001708 0.2738 Prêmio de Risco 1.047738 0.0000 Dummy -0.006849 0.0039 AR(1) 0.123064 0.0174 R-quadrado R-quadrado ajustado p-valor (Estatística F) Estatística de Durbin-Watson

0.261702 0.257144 0.000000 1.926271

Por fim, as demais empresas estudadas apresentaram índice de Jensen e variável dummy sem significância estatística (p-valor > 0,10). Isso quer dizer que nada se pode afirmar a respeito do impacto destas variáveis na rentabilidade das empresas. Os resultados dessas empresas encontram-se na tabela a seguir.

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Tabela 11 - Resultado das Regressões Embraer Oi Variável Coeficiente p-valor (Estatística t) Coeficiente p-valor (Estatística t) Índice de Jensen 0.001798 0.1048 -0.002045 0.2024 Prêmio de Risco 0.382960 0.0000 0.783228 0.0000 Dummy -0.002264 0.1460 -0.000629 0.7888 R-quadrado 0.068958 0.162157 R-quadrado ajustado 0.065142 0.158744 p-valor (Estatística F) 0.000000 0.000000 Estatística de Durbin-Watson 1.970840 2.029209 Ultrapar Participações Gol Linhas Aéreas Inteligentes Variável Coeficiente p-valor (Estatística t) Coeficiente p-valor (Estatística t) Índice de Jensen 0.000718 0.4001 0.000582 0.6804 Prêmio de Risco 0.401359 0.0000 1.297029 0.0000 Dummy -0.001162 0.2495 0.000215 0.9291 R-quadrado 0.144429 0.295000 R-quadrado ajustado 0.140923 0.292129 p-valor (Estatística F) 0.000000 0.00000 Estatística de Durbin-Watson 2.048393 2.048688 MMX Mineração e Metálicos Variável Coeficiente p-valor (Estatística t) Índice de Jensen -0.005991 0.1647 Prêmio de Risco 1.284803 0.0000 Dummy 0.0000796 0.9884 R-quadrado 0.094707 R-quadrado ajustado 0.090683 p-valor (Estatística F) 0.000000 Estatística de Durbin-Watson 2.095009

OGX Petróleo e Gas Participações Coeficiente p-valor (Estatística t) -0.003441 0.2073 1.751751 0.0000 -0.006850 0.3297 0.105882 0.102255 0.000000 1.924620

PDG Realty Braskem Variável Coeficiente p-valor (Estatística t) Coeficiente p-valor (Estatística t) Índice de Jensen -0.002860 0.1021 -0.003311 0.3512 Prêmio de Risco 1.331369 0.0000 0.503769 0.0000 Dummy 0.000484 0.8432 0.002610 0.4854 AR(1) 0.222280 0.0003 R-quadrado 0.375605 0.224152 R-quadrado ajustado 0.372830 0.216878 p-valor (Estatística F) 0.000000 0.000000 Estatística de Durbin-Watson 2.039742 1.983524

Quanto ao beta das empresas estudadas, verificou-se que todas as organizações que ingressaram no ICO2 apresentam betas inferiores a 1, com valores entre 0,4 e 0,96. Assim, podese pesquisar se o índice é caracterizado por ações pouco sensíveis a movimentos da carteira de mercado.

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5. CONCLUSÕES Este trabalho buscou verificar o impacto do ingresso ou da saída de empresas do Índice de Carbono Eficiente em seus níveis de rentabilidade. Desta forma, buscou-se contribuir para o conhecimento acadêmico acerca de possíveis benefícios econômicos oriundos da preocupação ambiental. A amostra foi composta por 12 empresas, sendo 4 ingressantes e 8 excluídas do ICO2. Dado o pouco tempo de criação desta carteira e da pequena série histórica, aceitou-se esta amostra com poucos participantes como válida para a pesquisa. Desta forma, verificou-se a significância estatística do impacto na rentabilidade quando uma empresa ingressou ou saiu do índice e a significância de seu índice de Jensen. Quanto às empresas que ingressaram no índice, constatou-se que o Bradesco apresentou índice de Jensen significativo e positivo, o que indica que os seus administradores foram capazes de obter retorno ajustado ao risco superior ao esperado. Já a sua variável dummy foi significante e negativa, indicando que o seu ingresso no ICO2 trouxe queda na rentabilidade (em torno de 0,2%). As outras empresas ingressantes não apresentaram resultados relevantes estatisticamente. Já em relação às empresas que saíram do ICO2, a Eletropaulo apresentou variável dummy negativa e estatisticamente significativa, o que indica que a decisão de sair do ICO2 impactou positivamente a sua rentabilidade, uma vez que sua permanência no ICO2 reduzia seu excesso de rentabilidade. Quando ao índice de Jensen, a All América Latina Logística e a Centrais revelaram valores significativos e negativos, o que indica que seus administradores obtiveram retorno ajustado ao risco inferior ao esperado. Um fato a destacar nesta pesquisa foi a verificação, em duas empresas, de uma mudança estatisticamente significante na rentabilidade após a entrada ou saída do ICO2. Assim, este trabalho aponta para a relevância da presença no ICO2 em termos de rentabilidade para algumas empresas, a despeito de pesquisas passadas sobre investimentos socialmente responsáveis (ex. CAMPOS e LEMME, 2009; MACHADO, MACHADO e CORRAR, 2009; BARBOSA et al, 2013). Como sugestão para trabalhos futuros, o estudo de uma possível relação entre a presença no ICO2 e a existência de betas inferiores a 1, ou seja, as empresas serem menos arriscadas do que a carteira de mercado. Isso porque, verificou-se que todas as organizações que ingressaram no ICO2 apresentam betas inferiores a 1, com valores entre 0,4 e 0,96.Sendo assim, procurar-seia estudar se as companhias listadas no ICO2 apresentam baixo risco sistemático e são pouco sensíveis a movimentos econômicos do mercado.

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ISE.

Disponível

em:

Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) . Acesso em 15/01/2015

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