UFMS, Campo Grande, MS, Brasil

Proporções gerais e índices corporais de éguas adultas da raça Pantaneira do Núcleo de Criação e Conservação do Cavalo Pantaneiro da Universidade Fede...
34 downloads 0 Views 167KB Size
Proporções gerais e índices corporais de éguas adultas da raça Pantaneira do Núcleo de Criação e Conservação do Cavalo Pantaneiro da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul / UFMS Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari1 ; Breno Fernandes Barreto Sampaio 2 , Daniela Brandão Nunes3 ; André Luiz Dal Maso2 ; Pablo Luiz Moreno Borges2 ; Eliane Vianna da Costa e Silva 4 1

Médica Veterinária, MSc, PhD, Professora Adjunta do Departamento de Produção Animal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/UFMS, Campo Grande, MS, Brasil. E- mail: [email protected]. 2 Médicos Veterinários Autônomos – Campo Grande, MS, Brasil. 3 Bolsista do CNPq – Mestranda em Ciência Animal - UFMS, Campo Grande, MS, Brasil.E- mail: [email protected]. 4 Médica Veterinária, MSc, PhD, Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária/UFMS, Campo Grande, MS, Brasil Resumo O cavalo Pantaneiro caracteriza-se por sua rusticidade e adaptação às condições climáticas do Pantanal, fruto de seleção natural por mais de três séculos. Como animal de trabalho, possui importância econômica e social, como elemento auxiliar na produção pecuária, além de contribuir para a fixação do homem pantaneiro na região. Este trabalho teve por objetivo fazer um levantamento das proporções gerais e índices corporais de éguas adultas da raça Pantaneira, pertencentes ao Núcleo de Criação e Preservação do Cavalo Pantaneiro, vinculado ao Núcleo de Ciências Veterinárias - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (NCV-UFMS). Quanto ao peso as éguas se enquadram na categoria de cavalos eumétricos. Foram classificadas como mediolíneas, quanto ao índice corporal, e como longilíneas quanto ao índice torácico. Os índices dáctilo torácico, de conformação e de carga foram de 0,109, 1,946 e 108,96, respectivamente. Enquadraram-se como animais de sela no que se refere ao índice de compacidade. Termos para Indexação: caracterização fenotípica, cavalo Pantaneiro, raça nativa. Abstract Pantaneiro horse breed is characterized by rusticity and high adaptation to the climatic conditions in the Pantanal region, Brazil. These qualities are due to natural selection through more than three centuries. This breed has an important social and economical role acting as a working animal at cattle raising and also contributes to keep Pantaneiro inhabitants in their native land. The aim of this paper was to verify the general proportions and body indexes of Pantaneiro breed mares. The animals were from Pantaneiro Breed Preservation and Raising Unit linked to Veterinary Sciences Center from Mato Grosso do Sul Federal University. The weight mean was 355.32 ± 22 kg , the body index mean was 0.87. The dactyl thoracic, conformation and load indexes were 0.109, 1.946 and 108.96, respectively. These animals were adaptable to saddle use according the compacity index obtained.

Index Terms: native breed, Pantaneiro horse, phenotypic characterization.

Introdução O cavalo Pantaneiro é um animal que vem sendo tema de várias pesquisas de caráter produtivo e reprodutivo nos estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. No final do século XIX esteve em risco de extinção, sendo vítima do “Mal das Cadeiras” (tripanossomose) que provocou uma queda significativa do efetivo do rebanho. Mais recentemente, no século passado, a Anemia Infecciosa Eqüina também teve um papel importante na redução do número de animais que aliado ao cruzamento com outras raças ajudou a diminuir o número de integrantes puros da raça (SANTOS et al., 1995). Visando a conservação do cavalo Pantaneiro, foi criada em 1972 a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Pantaneiro (ABCCP), responsável pelo registro genealógico e fomento da raça. Núcleos de criação e conservação do cavalo Pantaneiro foram criados em 1982, pelo Núcleo de Ciências Veterinárias da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (NCV/UFMS) e, em 1988 pelo Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal (CPAP/EMBRAPA). Estes núcleos de criação e conservação do cavalo Pantaneiro têm realizado pesquisas nas áreas de reprodução e produção. O Núcleo de Criação e Preservação do Cavalo Pantaneiro da UFMS busca manter o padrão racial obtido pela seleção natural, portanto, não interferindo drasticamente nas características herdadas e, para isso, vem desenvolvendo programas de conservação in situ, através da formação de núcleos conveniados localizados na região do Pantanal e, ex situ pela formação e manutenção de um banco de germoplasma – sêmen criopreservado (ZÚCCARI et al., 1999ab; ZÚCCARI et al., 1998). Mesmo não tendo, ainda, destaque em meio às raças nacionais, o cavalo Pantaneiro é um animal singular que, segundo os criadores, são dotados de cascos muito resistentes, capazes de suportarem as secas e enchentes que atingem a região pantaneira. Outra característica adaptativa da raça reside em sua capacidade de consumir gramíneas submersas nas lagoas da região pantaneira. A raça Pantaneira sofreu a influência de animais da raça Bérbere, introduzidos no século XVI, de eqüinos de origem lusitana e das raças Árabe e Crioulo Argentino, segundo SANTOS et al. (1995). Os frutos desses cruzamentos foram submetidos à ação da seleção natural por aproximadamente quatro séculos (SERENO et al., 2001; SANTOS et al., 1995), resultando em um animal totalmente adaptado às condições edafoclimáticas da região do Pantanal. Por ser um animal extremamente resistente, ele é de suma importância para a lida com o gado na região, sendo, do ponto de vista metabólico, mais eficiente que animais sem raça definida (SILVA, 1992). Para se obter o registro genealógico junto a ABCCP, os machos devem atingir uma altura mínima de 140 cm e as fêmeas de 135cm. É aceita qualquer pelagem, com exceção da albina, sendo a tordilha a mais comum, atingindo cerca de 35% do total do plantel da raça (SANTOS et al., 1995). O objetivo deste trabalho foi realizar a avaliação morfométrica de éguas adultas da raça Pantaneira que compõem o Núcleo de Criação e Preservação do Cavalo Pantaneiro do Núcleo de Ciências Veterinárias da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (NCV – UFMS).

2

Materiais e Métodos Foram avaliadas 28 éguas adultas da raça Pantaneira, alojadas na Fazenda Escola do Núcleo de Ciências Veterinárias da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. As mensurações foram realizadas de acordo com TORRES et al. (1979). As medidas realizadas foram: alturas de cernelha, costado, vazio subesternal, dorso e garupa; larguras de cabeça, peito, costado, anca e bacia; comprimentos do corpo, cabeça, pescoço, paleta, dorso-lombo e garupa; perímetros de tórax, joelho, jarrete, canela, boleto e quartela. As mensurações foram feitas por três avaliadores com o auxílio de um hipômetro e fita métrica, utilizando-se a média das três avaliações, para cada característica. Para a apresentação dos resultados relativos às variáveis paramétricas estudadas foi utilizada a estatística descritiva (média + desvio padrão). Também foram calculados o peso estimado e os índices corporal, torácico, dáctilo torácico, de conformação, de carga e de compacidade, de acordo com TORRES et al. (1979). Resultados Os valores médios das variáveis mensuradas e o número de animais estão expressos na Tabela 1. Tabela 1. Valores médios das variáveis morfométricas de éguas adultas da raça Pantaneira, pertencentes ao Núcleo de Criação e Preservação do Cavalo Pantaneiro da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. ALTURAS (cm) Cernelha Costado Vazio subesternal Dorso Garupa LARGURAS (cm) Cabeça Peito Costado Anca Bacia COMPRIMENTOS (cm) Corpo Cabeça Pescoço Paleta Dorso-lombo Garupa PERÍMETROS (cm) Torácico Joelho Jarrete Canela anterior Canela posterior Boleto anterior Boleto posterior Quartela anterior Quartela posterior

MÉDIA + DESVIO PADRÃO (n = 28) 138,87 + 2,90 61,58 + 1,54 77,29 + 2,72 133,31 + 2,81 140,78 + 2,63 20,35 + 1,36 32,62 + 1,93 36,75 + 2,68 47,10 + 2,00 43,71 + 2,00 142,93 + 4,65 55,42 + 1,51 60,60 + 2,68 57,33 + 2,12 62,00 + 3,30 48,36 + 1,85 164,38 + 3,43 27,98 + 0,81 36,12 + 1,49 17,95 + 0,57 19,74 + 0,80 24,97 + 0,85 26,68 + 0,85 18,16 + 0,86 19,26 + 0,90 3

As éguas apresentaram, em média, 138,87 + 2,90 cm de altura, o que as enquadra como um cavalo de pequeno porte. Quanto ao peso estimado, os animais apresentaram valores médios de 355,32 + 22,3 Kg, sendo classificadas como um cavalo eumétrico. O índ ice corporal foi de 0,87, classificando-as como mediolíneas. Os índices dáctilo torácico, de conformação e de carga foram de 0,109, 1,946 e 108,96, respectivamente. Quanto ao índice de compacidade, as éguas se enquadram na categoria de cavalo de sela por apresentaram um valor médio de 2,56. Também foram obtidos os índices peitoral e corporal relativo com valores iguais a 0,79 e 102,92, respectivamente. Discussão Os dados obtidos no presente trabalho mostraram que as éguas pertencentes ao Núcleo de Criação e Conservação da UFMS foram ligeiramente superiores para as alturas de cernelha e garupa, comprimentos de cabeça, pescoço e corpo, perímetros torácico e de canela, em relação aos dados relatados por SANTOS et al. (1995), para animais da raça Pantaneira registrados na ABCCP de 1972 a 1991. De modo geral, as éguas apresentaram um porte médio ligeiramente superior àquele obtido a partir dos registros da ABCCP (SANTOS et al., 1995), conforme se pode verificar, respectivamente, pelos seguintes valores: altura de cernelha – 138,87 vs 136,9 cm; altura de garupa – 140,78 vs 137,9 cm; largura de peito – 32,62 vs 31,60 cm; largura de anca – 47,10 vs 43,5 cm; comprimento de garupa – 48,36 vs 44,9 cm e; perímetro torácico – 164,38 vs 160,1 cm. O Pantaneiro demonstra certa semelhança com os padrões raciais das demais raças brasileiras. O cavalo Nordestino determina como 130 cm a altura mínima permitida para as fêmeas. Já, em relação ao Campeiro e Marajoara, o cavalo Pantaneiro tem uma pequena desvantagem na altura, onde as fêmeas dessas raças possuem em média 146 cm e 140 cm, respectivamente. As fêmeas da raça Crioula devem apresentar uma altura mínima de 138 cm e se enquadram na categoria de cavalo de sela de pequeno porte. Nas raças citadas acima também vêm sendo desenvo lvidos programas de conservação pelas associações de criadores. De acordo com os dados de RODRIGUES (1999), para animais da raça Crioula, que têm como pilar de sua formação os eqüinos de origem ibérica, as éguas Pantaneiras apresentaram médias inferiores para altura de cernelha, comprimento de corpo, pescoço e cabeça e perímetro torácico, mas, com o mesmo resultado para perímetro de canela. Independente do porte, as fêmeas pantaneiras possuem grande resistência durante o esforço no trabalho de campo, fato comprovado por SILVA (1992) que após análise da concentração sangüínea de glicose, proteínas totais, uréia, creatinina, lipídeos totais, freqüência cardíaca e temperatura retal concluiu que, do ponto de vista metabólico, os animais da raça pantaneira são mais eficientes do que aqueles sem raça definida. Para os índices corporais foram verificados valores bastante similares e até mesmo iguais aos de SANTOS et al. (1993) para índice corporal e dáctilo torácico. McMANUS et al. (2001) analisaram a população de cavalos pantaneiros considerando o período de 1972 a 2000 e obtiveram 0,87 para índice corporal e 0,108 para o índice dáctilo torácico, valores similares aos resultados encontrados no presente trabalho (0,87 e 0,109, respectivamente). SANTOS et al. (1995) relataram valores bastante próximos, de 0,88 ± 0,1 e 0,109 ± 0,01, para os mesmos índices, respectivamente. Desta forma, pode-se verificar satisfatória homogeneidade entre os animais registrados na ABCCP, possivelmente, uma decorrência da seleção natural sofrida pela raça durante quase quatro séculos. Segundo COTHRAN et al. (1998) o cavalo Pantaneiro possui uma grande similaridade entre indivíduos, caracterizando assim uma raça bem definida, sendo superada apenas pela raça Mangalarga Marchador, dentre as raças brasileiras. 4

Comparando-o com animais de origem ibérica, o cavalo Pantaneiro apresenta uma similaridade genética com a raça Andaluz da ordem de 0,902 (COTHRAN et al., 1998), sendo considerada dentre as raças brasileiras a mais próxima e ocupando lugar de destaque quando consideradas as demais raças existentes no mundo. A segunda raça que mais influenciou os animais da raça Pantaneira é o Puro Sangue Árabe (PSA), com uma similaridade genética de 0,871 (COTHRAN et al., 1998). O PSA apresenta uma altura que varia de 140 a 158cm (RIBEIRO, 1993) e, o cavalo Bérbere que juntamente com o PSA deu origem aos animais da Península Ibérica, possuindo um tamanho médio de 150 cm (RIBEIRO, 1993). As éguas da Fazenda Escola do Núcleo de Ciências Veterinárias tiveram uma média superior ao mínimo permitido pela raça para a altura de cernelha, podendo-se atribuir esta variação às influências genéticas e nutricionais. Conclusões Mediante os resultados obtidos, constatou-se que éguas adultas da raça Pantaneira pertencentes ao Núcleo de Criação e Conservação do Cavalo Pantaneiro da UFMS são em geral: de pequeno porte, eumétricas, mediolíneas quanto ao índice corporal, e de acordo com os índices de conformação, carga e compacidade, classificam-se como uma raça de sela. Referências Bibliográficas COTHRAN, E. G.; SANTOS, S. A.; MAZZA, M. C. M.; LEAR, T. L.; SERENO, R. B. Genetics of the pantaneiro horse of the pantanal region of Brazil. Genetics and Molecular Biology, v.21, n.3, p.343-349, 1998. McMANUS, C.; MISERANI, M. G.; SANTOS, S. A.; MARIANTE, A. S.; SILVA, J. A.; ABREU, U.G.P.; MAZZA, M. C.; SERENO, J. R. B. Índices corporais do cavalo pantaneiro. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38., 2001, Piracicaba, Anais...Piracicaba, [s.n.], 2001. p. 559-560. RODRIGUES, W. B. Características morfológicas e desenvolvimento ponderal em potros da raça crioula do nascimento aos três anos de idade . 1999. 59p. Dissertação (Mestrado em Produção Animal). – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. RIBEIRO, D. B. Cavalos Puro-Sangue. In:___.O cavalo: raças qualidades e defeitos. 3.ed., São Paulo: Publicações Globo Rural, 1993, p. 205-229. SANTOS, S. A.; MAZZA, M. C. M.; SERENO, J. R. B.; ABREU, U. G. P.; SILVA, J. A. Avaliação e conservação do cavalo pantaneiro. Corumbá-MS: EMBRAPA-CPAP, 1995. 40p.il. (EMBRAPA-CPAP. Circular Técnica, 21). SANTOS, S. A.; MAZZA, M. C. M.; SERENO, J. R. B.; ABREU, U. G. P.; SILVA, J. A. Avaliação morfométrica de cavalos pantaneiros registrados na ABCCP. In: REUNIÃO ANUAL DA SBZ, 30., 1993, Rio de Janeiro, RJ. Anais... Rio de Janeiro: [s.n.], 1993. SERENO, J. R. B.; SANTOS, S. A.; ABREU, U. G. P.; PELLEGRIN, A. O.; SILVA, R. A. M. S.; SILVA, J. A.; SERENO, F. T. P. S.; ZÚCCARI, C. E. S. N. Caballo pantaneiro: situación actual y perspectivas futuras. In: SIMPOSIO IBEROAMERICANO SOBRE CONSERVACION DE LOS RECURSOS GENETICOS LOCALES Y EL DESAROLLO RURAL SUSTENTABLE, 2001, Coro. Anais... SIRGEALC. 2001. SILVA, R. A. M. S. Influência do exercício físico na freqüência cardíaca, na temperatura retal e em parâmetros bioquímico-sérico de cavalos do Pantanal Mato-Grossense. Rio de Janeiro, 1992. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. TORRES, A. P.; JARDIM, W. R. Criação do cavalo e de outros eqüinos. 2.ed. São Paulo: Nobel, 1979. 654p. 5

ZÚCCARI, C. E. S. N.; PAPA, F. O.; FERREIRA, J. C.; NUNES, D. B.; FONSECA, I. C. B. Avaliação computadorizada do sêmen congelado de garanhão da raça pantaneira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 26., 1999, Campo Grande, Anais... Campo Grande 1999a. CD-ROM. ZÚCCARI, C. E. S. N.; PAPA, F.O.; NUNES, D.B.; ZINEZZI, R.O.; PROENÇA, E.; SAMPAIO, B. F. B.; LEITE, A. P. F.; DINIZ, E.; CORREAFILHO, R. A. L., Teste de congelabilidade do sêmen de garanhões da raça pantaneira – comparação entre diferentes diluidores. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 26., 1999, Campo Grande. Anais... Campo Grande, 1999b. CD-ROM. ZÚCCARI, C. E. S. N.; NUNES, D. B.; ZINEZZI, R. O.; PROENÇA, E.; CORREAFILHO, R. A. C. Effect of different extenders to equine semen over the post-thawing spermatic resistance. In: CONGRESSO PANAMERICANO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 16., 1998, La Paz. Anais... La Paz, 1998. p.314.

6

Suggest Documents