reuol ED

ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.4397-36888-6-ED.0710esp201304 Oliveira ES de, Chaves AFL, Vasconcelos HCA de et al. Prevalência do consumo de dr...
11 downloads 1 Views 668KB Size
ISSN: 1981-8963

DOI: 10.5205/reuol.4397-36888-6-ED.0710esp201304

Oliveira ES de, Chaves AFL, Vasconcelos HCA de et al.

Prevalência do consumo de drogas no período…

ARTIGO ORIGINAL PREVALÊNCIA DO CONSUMO DE DROGAS NO PERÍODO GESTACIONAL THE PREVALENCE OF DRUG CONSUMPTION DURING PREGNANCY PREVALENCIA DEL CONSUMO DE DROGAS EN EL PERÍODO GESTACIONAL Edcarla Silva de Oliveira1, Anne Fayma Lopes Chaves2, Hérica Cristina Alves de Vasconcelos3, Rebeca Silveira Rocha4, Fabrício da Silva Costa5 RESUMO Objetivos: estimar o consumo de drogas na gestação e avaliar o risco teratogênico relacionado. Método: estudo transversal e quantitativo, com 97 gestantes no terceiro trimestre, em Quixeramobim, CE, Nordeste do Brasil. O formulário aplicado foi adaptado do Sistema de Informações sobre Agentes Teratogênicos. Na análise, consideraram-se como de baixo risco teratogênico as gestações classificadas com A e B, segundo a Food and Drug Administration, e de alto risco as classificadas com C, D e X. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, Protocolo 20110198. Resultados: consumiram medicamentos 99% das gestantes, com 3,7 fármacos/mulher. Relacionado ao risco teratogênico, 6,3% era A, 48,4% B, 14,7% C, 7,4% D e 23,2% X. Havia tabagismo em 8,9%, etilismo em 5,2% e 7,2% usava drogas de abuso. Conclusão: houve elevada exposição a medicamentos e drogas de alto risco teratogênico na gestação. Descritores: Gravidez; Medicamentos; Teratologia. ABSTRACT Objectives: to estimate the consumption of drugs during pregnancy and to evaluate related teratogenic risks. Method: a quantitative cross-sectional study of 97 pregnant women in the third trimester in the city of Quixeramobim, Ceará State, in the Northeast region of Brazil. The form used was adapted from the Teratogen Information System. In our analysis, we considered A- and B-class pregnancies as low teratogenic risk, according to the Food and Drug Administration, and pregnancies classified as C, D, and X as high risk. The project was approved by the Committee of Research Ethics, protocol number 20110198. Results: 99% of the pregnant women took medication, with an average of 3.7 drug types per woman. As for teratogenic risk, 6.3% of the women were A, 48.4% B, 14.7% C, 7.4% D e 23.2% X. 8.9% of the women used tobacco products, 5.2% consumed alcohol, and 7.2% used drugs. Conclusion: there was an elevated exposure to medication and drugs associated with high teratogenic risk during pregnancy. Descritores: Pregnancy; Medications; Teratology. RESUMEN Objetivos: estimar el consumo de drogas durante el embarazo y evaluar el riesgo teratogénico relacionado. Método: estudio transversal y cuantitativo, con 97 mujeres embarazadas en el tercer trimestre, en Quixeramobim, CE, Noreste de Brasil. El formulario usado es una adaptación del Sistema de Información sobre Agentes Teratogénicos. En el análisis, se consideraron como de bajo riesgo teratogénico los embarazos clasificados con A y B, según la Food and Drug Administratiom y de alto riesgo los clasificados con C, D y X. El proyecto fue aprobado por el Comité de Ética de la Investigación, protocolo 20110198. Resultados: consumieron medicamentos 99% de las mujeres embarazadas, con 3,7 fármacos/mujer. Con relación al riesgo teratogénico. 6,3% era A, 48,4% B, 14,7% C, 7,4% D y 23,2% X. Hubo tabaquismo en 8,9%, alcoholismo en 5,2% y 7,2% usaba drogas de abuso. Conclusión: hubo alta exposición a medicamentos y drogas de alto riesgo teratogénico en el embarazo. Descriptores: Embarazo; Medicamentos; Teratología. 1

Enfermeira, Faculdade Católica Rainha do Sertão-FCRS. Quixadá (CE), Brasil. E-mail: [email protected]; 2Enfermeira, Professora Mestre em Enfermagem, Graduação em Enfermagem, Faculdade Católica Rainha do Sertão/FCRS. Quixadá (CE), Brasil. E-mail: [email protected]; 3Enfermeira, Professora Mestre em Enfermagem, Graduação em Enfermagem, Faculdade Católica Rainha do Sertão/FCRS. Quixadá (CE), Brasil. E-mail: [email protected]; 4Enfermeira. Mestre em Saúde Pública, Professora Mestre em Enfermagem, Graduação em Enfermagem, Faculdade Católica Rainha do Sertão/FCRS, Centro Universitário Estácio do Ceará. Fortaleza (CE), Brasil. E-mail: [email protected]; 5Consultant Obstetrician, Royal Women’s Hospital and Clinical Senior Lecturer, University of Melbourne Department of Obstetrics and Gynaecology, Melbourne, Australia. E-mail: [email protected]

Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp):6083-92, out., 2013

6083

ISSN: 1981-8963

DOI: 10.5205/reuol.4397-36888-6-ED.0710esp201304

Oliveira ES de, Chaves AFL, Vasconcelos HCA de et al.

Prevalência do consumo de drogas no período…

INTRODUÇÃO A gestação é um momento da vida permeado de muitas transformações. Pela ligação com a mãe, o novo ser acaba sofrendo transformações que são influenciadas pelo meio externo. Sendo assim, o uso de fármacos, substâncias psicoativas lícitas e ilícitas, durante o período gestacional, podem causar sérias alterações ao feto.1 A exposição de fármacos ou drogas de abuso durante o período de concepção e implantação do óvulo pode causar complicações ao concepto, sendo os três primeiros meses os mais críticos para alterações que poderão causar defeitos funcionais e comportamentais, ou a morte imediata do feto.2 No ano de 2000, somente no estado do Ceará, dos 148.930 partos que ocorreram, 422 apresentaram algum tipo de anomalia congênita detectada durante o parto. Dez anos depois, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), embora o número de nascidos vivos tenha diminuído para 128.831, o total de crianças com algum tipo de anomalia aumentou consideravelmente, indo para 997 malformados.3 Questiona-se, pois, o motivo do número tão elevado de bebês com problemas congênitos e se há relação com o uso inadequado de fármacos e de drogas de abuso na gravidez. O uso de medicamentos (prescritos e/ou automedicados) tem se tornado prática frequente entre gestantes. Na maioria das vezes, os fármacos chegam ao mercado e não são devidamente testados. As únicas evidências são de estudos pré-clínicos realizados com animais4. Dessa forma, o que se observa é a medicalização da gestante, decorrente, entre outros aspectos, do mercado inerente dos produtores de medicamentos e da visão mecanicista, biomédica e cartesiana do processo saúdedoença.5 Por esse motivo, é relevante estimar o uso de fármacos e outras drogas de abuso por gestantes e avaliar os possíveis efeitos teratogênicos da utilização dos mesmos durante a gestação, para que seja possível desestimular tal prática, evitando complicações como crescimento fetal restrito, aborto, parto prematuro, deficiências cognitivas no concepto e defeitos congênitos, entre outros.6 Levando em consideração o contexto ora apresentado, bem como a escassez de pesquisas sobre a temática no Brasil, em especial no interior da região nordeste, interessa no presente estudo: Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(esp):6083-92, out., 2013

 Estimar o consumo de drogas na gestação e avaliar o risco teratogênico relacionado.

METODO Trata-se de um estudo descritivoexploratório, transversal e de natureza quantitativa, realizado em Quixeramobim, município do interior do Ceará, Nordeste brasileiro, que possui a população de 73.812 habitantes, atendidos em 18 Centros de Saúde da Família (CSF) ativos, nove na zona urbana e nove na zona rural. Para a coleta de dados foram escolhidos, por conveniência, os CSF da zona urbana. Para o cálculo amostral, considerou-se a taxa de partos realizados no ano de 2010 (937 partos) na cidade, de acordo com dados do sistema DATASUS e um erro amostral de 4%. Com isso, realizou-se o cálculo de amostragem aleatória simples sem reposição, resultando numa amostra de 97 gestantes que deveriam atender ao critério de inclusão de estar no terceiro trimestre gestacional. Os dados foram coletados entre os meses de fevereiro e março de 2012, em dias aleatórios, por uma das autoras. Neste período, as gestantes foram selecionadas aleatoriamente durante as consultas de prénatal nos CSF, sendo incluídas aquelas que concordaram voluntariamente com a participação na pesquisa. Em relação às gestantes menores de 18 anos, pediu-se consentimento aos responsáveis. Todas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um roteiro de entrevista estruturado adaptado do Sistema de Informações sobre Agentes Teratogênicos (SIAT) e já utilizado em pesquisas anteriores.7 Questionaram-se dados de identificação da gestante, bem como os antecedentes obstétricos e o consumo de medicações e outras drogas. Depois da revisão dos instrumentos preenchidos, os dados foram inseridos em um banco de dados no programa Microsoft® Office Excel do Windows Starter 7 (Microsoft Corporation, versão 2003-2007). Em seguida, foram transferidos para o software PASW Statistics, versão 1.8 (SPSS 18), para a análise estatística. As frequências absolutas e relativas, bem como as médias de consumo de medicações e outras drogas foram calculadas para correlação de dados com condições apresentadas durante o estudo. Os dados foram classificados de acordo com a Food and Drug Administration (FDA).8-9 Desse modo, as gestações foram classificadas em baixo risco teratogênico (as com medicações classificadas em A e B) e alto 6084

ISSN: 1981-8963

DOI: 10.5205/reuol.4397-36888-6-ED.0710esp201304

Oliveira ES de, Chaves AFL, Vasconcelos HCA de et al.

Prevalência do consumo de drogas no período…

risco teratogênico (as com medicações classificadas em C, D e X). Foi adotado p< 0,05 como nível de significância. Foram ajustados os respectivos intervalos de 95% de confiança para as variáveis que permaneceram no modelo. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade Católica Rainha do Sertão, aprovado sem pendências com protocolo de número 20110198. Além disso, foram respeitados todos os aspectos éticos que envolvem as pesquisas com seres humanos.

RESULTADOS

Participaram do estudo 97 gestantes com idades entre 15 e 48 anos e média de 25,9 anos. O cenário socioeconômico revelou que predominaram aquelas com idades entre 20 e 34 anos (69,1%), que haviam concluído o ensino médio (29,9%), viviam em união consensual (37,1%), não exerciam nenhuma atividade remunerada (60,4%) e possuíam uma renda familiar de até um salário mínimo (45,3%). Houve significância estatística entre o estado civil (p=0,003) e a ocupação (p=0,024) com o risco teratogênico. A Tabela 1 caracteriza a amostra segundo o perfil socioeconômico, relacionado com o risco teratogênico.

Tabela 1. Risco teratogênico segundo variáveis socioeconômicas. Quixeramobim, CE, 2012. Variáveis Idade  19 anos 20-34 anos 35-50 anos Escolaridade Analfabeto Alfabetizado Ensino Primário Ensino Secundário Nível Superior Estado civil Solteira Casada União consensual Divorciada Ocupação Do lar Desocupada Fora de casa Remuneração Sim Não Renda familiar < 1 salário min. 1 salário min. > 1 salário min.

Total Baixo risco teratogênico Alto risco teratogênico Valor p* n % n % 20 67 10

11 36 6

55 53,7 60

9 31 4

45 46,3 40

0.152

5 4 41 38 9

2 20 25 6

50 48,8 65,8 66,7

5 2 21 13 3

100 50 51,2 34,2 33,3

0.203

27 33 36 1

15 25 13 -

55,6 75,8 36,1 -

12 8 23 1

44,4 24,2 63,9 100

34 24 38

23 15 14

67,6 62,5 36,8

11 9 24

32,4 26,5 63,2

38 58

15 36

39,5 62

23 22

60,5 38

18 43 34

9 22 20

50,0 51,2 58,8

9 21 14

50,0 48,8 41,2

0.003*

0.024* 0.053*

0.639

* Teste de Fischer (qui-quadrado), significância estatística p