POEMA DA TOSCANA

LEON FERRAZ

São Paulo – Brasil 2017

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Copyright© 2017Leon Ferraz

Título Original : Poema da Toscana Edição: Leon Ferraz Revisão: Leon Ferraz Diagramação: Leon Ferraz Editoração Eletrônica: Leon Ferraz Capa: J. Kargolifero

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Ferraz, Leon Título: Poema da Toscana São Paulo – S.P. - 2017 92 páginas - 14x21 cm. ISBN: 1. Literatura Brasileira. 2.Conto 3. Ficção

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DEDICATÓRIA

A minha querida família com todo amor.

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1ª Parte São Paulo 2015

No elegante bairro de Higienópolis reside a família Fiorentino, família esta que imigrou do Vêneto no final da 1ª guerra mundial. Michelle Fiorentino aprendeu com seu pai todo ofício de se fazer a mais bela peça em madeira e com isso tornou-se um especialista em cristaleiras. Fez sua oficina de artesanato em móveis, assim como ele chamava na Barra Funda, e com o passar dos anos, fez uma excelente clientela de ricaços italianos. Michelle era casado com Isabella e teve um filho, Marcos. O jovem Marcos estudou no Dante Alighieri, desde os primeiros anos até a faculdade de publicidade. Formou-se e se casou com Adriana e tiveram dois filhos, Stefano e Chiara. Marcos prosperou no ramo de publicidade, tornou-se um dos cinco mais importantes publicitários da cidade de São Paulo, com isso pode dar a melhor 4

educação aos filhos, assim como uma belíssima moradia, ou seja, um lindo apartamento em Higienópolis. Higienópolis é um bairro em uma das regiões mais altas da cidade de São Paulo. Tem um perfil residencial com uma população de classe média alta. O bairro sempre abrigou inúmeros exemplares da arquitetura com tendências diversas. Também ali abrigou muitos imigrantes, primeiramente os portugueses e a aristocracia paulista. Mais a frente muitos imigrantes se concentraram no bairro e especialmente os judeus vindos de várias partes da Europa Central. Stefano era um jovem muito inteligente, formou-se em jornalismo e trabalhava em uma das principais emissoras de televisão do país. Com seus 25 anos era muito culto e tinha muito respeito pelos amigos, por sua simplicidade e carinho com todos. Chiara estava com 22 anos e ainda cursava medicina na Faculdade da Santa Casa de São Paulo. Já namorava com um rapaz do mesmo prédio onde moravam. Os dois filhos eram pessoas muito boas e de excelente formação. A casa vivia cheia de amigos, a 5

alegria era total. Stefano tinha uma namorada, mas nada sério, mais até como companhia ou passatempo. Nos fins de semana Stefano gostava de assistir filmes alternativos, como estudo e análise dos mesmos. Ele era um bonito jovem, alto, magro, cabelos pretos e olhos esmeraldinos idênticos aos da mãe. A primavera em Higienópolis é a estação que veste as ruas e avenidas com as mais diversas cores. Adriana e Chiara adoravam passear no bairro, o entardecer é dos mais românticos. Stefano frequentava um cine clube na Rua Major Sertório, que passava vários filmes antigos e nada comerciais. Ele acompanhava toda programação e geralmente assistia aos filmes sem companhia. Os ventos de primavera brincam por entre os belos bulevares de Higienópolis.

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2ª PARTE Sábado

O sábado na família Fiorentino era repleto de atividades, principalmente as culturais e gastronômicas. Às vezes todos juntos, ora separados, mas sempre num clima de muita união e fraternidade. Stefano após o almoço foi para o Cine clube, pois haveria uma sessão sobre o filme E o vento levou, uma espécie de “making off” da época na qual foi feito e com análises atuais. Ele adorava esse filme e era um estudioso sobre a época em questão, guerra civil americana. Foi de carro e estacionou em frente ao Cine clube num estacionamento particular. Ele como sócio do Cine Clube tinha vantagem no preço do ingresso, entrou e já foi se posicionar na sala de exibição. Pouco mais de dez minutos, mesmo com a saleta bem vazia, deu-se início a projeção do filme. Stefano ao ver as primeiras chamadas não entendeu, pois em 7

vez de entrar o anunciado, ou seja, E o vento levou, entrou um filme em branco e preto sobre uma cidade na qual Stefano não conhecia. Achou que deveria ser um trailer e se ateve em assisti-lo. Montanhas lindas, e vez ou outra apareciam cores, principalmente o verde, destacando a beleza dos vales e montanhas. Realmente aquilo encantou Stefano, que agora não despregava os olhos da tela. Ao longe apareceu uma moça e esta acenava, como que chamando alguém. A lente aproximou e mostrou uma encantadora jovem, com um belo corpo, cabelos aloirados e olhos verdes que se destacavam no preto e branco. Ela corria e chamava por alguém, não havia desespero em seu olhar, havia encantamento, ternura, algo muito sublime. Stefano estava paralisado diante de tão bela imagem. A caminhada era longa, até que a moça falou: – Stefano venire a incontrarmi com voi, sto aspettando per voi. Stefano venha ao meu encontro, eu estou te esperando.

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Stefano levou um susto, seus olhos estavam arregalados, seu coração batia forte. Ele sentia algo especial, havia amor naquelas doces palavras. Após proferir a chamada, ela foi se distanciando, até desaparecer. As luzes foram acesas e o funcionário do Cine Clube veio até a poltrona onde estava Stefano e o chamou. – Moço acorde a sessão terminou. – O que? – Por favor, porque vocês passaram outro filme em vez de E o vento levou? – Moço está enganado, acabamos de passar E o vento levou. –Não pode ser o filme era de umas montanhas, vales, uma linda planície esverdeada. – Acho que o moço adormeceu. Estamos fechando o Cine clube, vamos sair, por favor. – Pois não. Posso falar com o projetista? – Pode sim.

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Stefano falou as mesmas coisas ao projetista, que nada entendeu e explicou a ele, que o filme que foi projetado foi E o vento levou, um documentário atual. Ele ficou inconformado, havia lágrimas em seus olhos, havia uma inquietação no seu coração, mas retirou-se e foi para o estacionamento. Na sua cabeça não havia entendimento sobre o acontecido. – Meu Deus, será que eu adormeci e sonhei? Não! Ela me chamou pelo nome, era real. Que ternura é essa que vem de dentro e traz a tona o perfume de felicidade.

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3ª PARTE Em casa

Stefano não conseguia entender e elaborar o que havia acontecido. O trajeto do estacionamento até sua casa foi tentando lembrar passo a passo o que aconteceu no Cine Clube. Na sua cabeça a imagem da moça do filme não parava de aparecer, era a mais dócil lembrança de alguém que ele não sabia quem era. Sentiu que aquela sensação havia mudado algo dentro dele. Em casa ao chegar sua mãe percebeu algo estranho e foi até ele, que já se acomodava em sua poltrona no quarto. – Stefano algum problema? – Não mãe só estou cansado. – Está bem filho, quando quiser conversar estou às ordens.

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Adriana percebeu que havia algo estranho em seu filho, mas respeitou sua posição. Foi ao encontro do marido e ficaram conversando sobre as atividades do fim de semana. Na solidão do seu quarto Stefano sofria, pois não entendia o acontecido. Pegou seu laptop e fez as anotações costumeiras e fez citação ao que havia passado no cinema. Pela janela do seu quarto teve a sensação que o vento o chamava. Deixou uma frase que massageou seu coração: – Encontrei a mulher da minha vida. Eu só quero ter pela noite, o outono e seus pátios prateados.

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4ª PARTE Pensamentos

Stefano passou os dias seguintes quase que isolado da família, era nítido que algum problema ele estava vivenciando. Adriana que já havia notado tal angústia do filho foi ao encontro dele e colocou-se à disposição para conversar. – Stefi o que está havendo com você? – Mãe, desde sábado quando fui ao cinema, sei lá tive uma visão ou sonhei, não sei dizer, mas isso mexeu comigo. Stefano contou o que havia vivido e Adriana ficou sem ação, pois o assunto era complexo e não dava muitas interpretações, a não ser sonho. – Filho pouco tenho para te falar. Acredito em você, mas não sei dizer se isso foi um sonho, ou você teve alguma visão.

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– Mãe foi algo muito real, encontrei a mulher da minha vida. A sensação que eu tenho é que a conheço de muito. – Acredito filho, mas você não pode se arruinar por isso, vamos tentar achar alguém que posa ajudá-lo. Um bom analista, alguém que conheça bem esse universo dos sonhos. Não sei, mas vamos juntos na busca de ajuda para você, desde que você a queira receber. – Quero mãe, muito grato. Eu sinto doer dentro de mim. Como você pode estar longe, sinto que seu espírito está aqui.

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5ª PARTE Pensamentos

Os dias corriam velozmente e a apatia de Stefano era notada por todos. Seus pais trabalhavam no intuito de ajudá-lo e já faziam vários contatos com médicos amigos para que fosse indicado um bom analista. Chiara estava triste de ver o irmão tão prostrado, sem vida nos seus olhos. A situação assustava a todos. Stefano nem procurou mais por sua namorada e esta acabou caindo no esquecimento. Em seus pensamentos só havia lugar para a moça do filme. Ele ficava deitado e seus pensamentos voavam. – Minha Nossa Senhora me ajude a entender isso que estou vivendo. Porque desse sofrimento interno, porque dessa dor, não consigo compreender. – Abre um fio de esperança para que eu possa lutar por esse amor. Minha Mãe do Céu deposito em vós minhas esperanças.

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