PETROBRAS SERVI~O
DE COMUNICA~AO SOCIAL
MEM6RIA DA PETROBRAS
FUNDA~AO
GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E
DOCUMENTA~AO
DE HIST6RIA CONTEMPORANEA DO BRASIL
LEVY, Artur. Artur Levy (depoimento; 1987). Rio de Janeiro, CPDOC/ FGV - SERCOM/Petrobras, 1988. 346 p. dat. ("Projeto Memoria da Pe t r obr as ")
Artur
Levy
(depoimento)
Proibida a publica9ao no todo ou em parte; permitida a cita9ao. Permitida a copia xerox. A cita9ao deve ser textual, com indica9ao de, fonte.
ficha tecnica tipo de entrevista: entrevistadores:
historia de vida
Valentina da Rocha Lima e Margareth Guimaraes Martins
levantamento bibliografico e roteiro: Margareth
Guimaraes
Martins conferencia' da transcricao: sumario: texto:
Sandra Soares Leda Maria Marques Soares
leitura final:
Jose Luciano de Mattos Dias
tecnico de som: datilografa: local: data:
Margareth Guimaraes Martins
Clodomir Oliveira Gomes
Marcia de Azevedo Rodrigues
Rio de Janeiro - RJ julho e setembro de 1987
duracao:
13 h
fitas cassete:
20 min
15
paginas datilografadas: 346
Esta entrevista foi realizada na vi gencia do convenio entre e
0
SERCOM/Petrobras.
E
0
CPDOC/FGV
obrigatorio
o credito as institui90es mencionadas.
SUMARIO
19 Entrevista: Antecedentes familiares; primeiros estudos; a voca~ao militar; no Colegio Militar de Barbacena; a p.r o f i.s aao m.i.Ld t.a r : na Escola Militar do Realengo: op~ao pela arma de engenharia; a Lnf Lueric i.a das m.is soe s indigena e francesa; a juventude militar; participa~ao no movimento tenentista (1922): 0 levante, a prisao e a expu Lsjio da Escola Militar; Luis Carlos Prestes; Juarez Tavora; a expectativa apo s a expu Lsjio da EscolaMilitar: 0 .i.nquer i, to do Supremo .,. Tribunal Federal; 0 curso de engenharia no Instituto Eletrotecnico e Mecanico de Itajuba; pronunciamento da justi~a sobre 0 levante de 1922 e suas consequencias para 0 entrevistado; a Revoolu~ao de 1924; 0 envolvimento com membros da Coluna Prestes; na Companhia de Engenharia.. Eletrica e Distribui~ao de Aguas de Cuiaba (1925); 0 fornecimento de energia eletrica de Cuiaba; na medi~ao de terras no suI de Mato Grosso; a Revolu~ao de 1930; 0 irmao...........................................
48
Noticias sobre a Revolu~ao de 1930 na fronteira com 0 Paraguai; a anistia (1930): retorno ao Rio de Janeiro e estagio no 1 2 Batalhao de Engenharia; 0 curso de atualiza~ao e revisao; no 6 2 Batalhao de Engenharia: reconhecimento topografico, fidelidade ao goveino na Revolu~ao de 1932 e reconhecimentos aereos; a Revolu~ao de 1932; promo~aoa capitao durante a revolu~ao; 0 curso da Escola de Aperfei~oamento de Oficiais: a experiencia como instrutor e comenta rios sobre alunos e instrutores; a engenharia militar; 0 curso da Escola de Estado-Maior; no 2 2 Batalhao Ferroviario do Parana' (1940): a constru~ao da estrada de ferro Caxias do SuI-Rio Negro; pa'r t i.c i.pacjio no III Congresso de Engenharia e Legisla~ao Ferroviaria (1940); no comando do 7 2 Batalhao de Engenharia (7 2 BE) de Petrolina (Pernambuco): a posi~ao estrategica, os transportes e a pobreza da regiao; os preparativos do 7 2 BE para .a guerra: a via de acesso al ternativa; a importancia de Engenho Aldeia; diferen~a entre a FEB e 0 exercito tradicional; 0 general Newton Cavalcanti; estagio nos Estados Unidos; a instru~ao militar brasileira e a norte-americana; no Estado-Maior do Exe r c i, to: 0 Departamento de Estradas de Rodagem e 0 Plano Rodoviario Nacional; a opo s i.cjio do ministro Joppert. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
82
29 Entrevista:
39 Entrevista: Representante do Ministerio da Guerra no CNP: a organiza~ao do Conselho, 0 problema dos recursos e a P9si~ao dos militares; a f i.aca Li.z acjio dos empreendimentos sob a egide do CNP; contratos entre 0 CNP e firmas estrangeiraq; a obten~ao de recursos em dolares para a Petrobras (1954-1956); na chefia da comissao de localiza~ao de Refinaria de Cuba tjio r a receptividade dos estados ao Imposto Unico sobre Combustiveis; a importa~ao de equipamentos; na constru~ao do Oleoduto Santos-Sao Paulo (1946): a questao dos
recursos, a Estrada de Ferro Santos-Jundiai e 0 transporte de combustiveis; atua~ao no Exercito durante 0 periodo de constru~ao do oleoduto; atri bui.coe s no CNP: par t Lc i.pacao de empresas estrangeiras na prospec~ao do petroleo: as instru~oes do Estado-Maior do Exercito, a comissao do Estatuto do Petroleo; participa~ao na elabora~ao do Estatuto; a Campanha do Pe t r-o Le o j Rui de Lima e Silva e Avelino Inacio de Oliveira; a posi~ao do entrevistado na comissao do Estatuto: os estudos sobre os prazos de concessao; a liga~ao com Juarez Tavora; a elabora~ao de urn projeto de conce£ sao por tecnicos estrangeiros; a aprova~ao da Lei n Q 2.004; a explora~ao de gas; 0 pre~o dos derivados do petroleo; a Frota de Petroleiros; a utiliza~ao de a19001 misturado gasolina
a
124
49 Entrevista: Rela~ao entre 0 CNP e 0 Departamento Nacional da Produ~ao Mineral (DNPM); 0 CNP; dificuldade or~amentaria, projetos prioritarios e ~ papel dos militares; a escolha dos representantes dos ministerios para 0 CNP: a indica~ao do entrevistado, 0 papel do presidente e as diretorias; a importa~ao de equipamentos e as rela~oes com os grupos nacionais privados; 0 Estatuto do Pe t r o Leo (1948): a par t i.c i.pacfio do entrevistado, o papel de Odilon Braga, a posi~ao de Glycon de Paivq, a atua~ao das empresasestrangeiras, a par ticipa~ao de Juarez Tavora e a tramita~ao na C~mara dos Deputados; 0 Oleoduto Santos-Sao Paulo: a participa~ao do entrevistado, 0 papel da Estrada de Ferro Santos-Jundiai, as etapas da execu~ao do projeto; observa~oes sobre 0 Plano Salte; 0 aproveitamento do xisto; a Comissao Mista BrasilEstados Unidos................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 169 59 Entrevista: Balan~o de atua~ao do CNP; 0 ~pa~ pel de Mario Bittencourt Sampaio nos empreendimentos: de pe t.r-o Leo ; a Refinaria de Mataripe; n a " - - - ' ) comissao de Loca Ld.z acao da Refinaria de Cubatao: a escolhado local, os recursos do Plano Salte e a contrata~ao da firma Hydrocarbon Research Inc.; a amplia~ao das refinarias; 0 projeto da Petrobras; a destina~ao dos recursos em dolares para a Petrobras: 0 papel de Eugenio Gudin; Juarez Tavora; a inaugura~ao da Refinaria de Cubatao (1954); 0 funcionamento da Refinaria de Cubatao; a Fabrica de Asfalto e a Fabrica de Fertilizantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 214 69 Entrevista: ~ao,
A Re f i.nar i.a cde Cubatao:
~.localiza
participa~ao dos militares e contrata~ao da Hydrocarbon; a incorpora~ao da refinaria Petro-
a
bras; a opera~ao da refinaria: rela~oes entre os tecnicos nacionais e estrangeiros; a escolha de Ernesto Geisel para a superintendencia de Cubatao; a Comissao Especial de Industrias Petroquimicas (1953): 0 papel de Leopoldo Miguez de Mello;o projeto de organiza~ao da Petrobras de Helio' Beltrao; a comissao de implanta~ao da Pe-
trobras; Juracy Montenegro Magalhaes; abbtengao de imoveis para a Petrobras; 0 monopolio estatal do petroleo; a escolhada primeiraa diretoria da Petrobras; atuagao de Juracy Magalhaes na Petro bras; .i.nf'Lueric i.a da morte de Ge t.u L'i.o Vargas sobre a Petrobras; a tentativa de revisao da Lei n~ 2.004; Getulio Vargas; na presidencia da Petrobras (1954-1956): a vinda de Walter Link ao Brasil; 0 episodio de Nova Olinda; a mudanga de posigao de Juarez Tavora; 0 Circulo de Engenharia;Mi'litar;a c r i.acfio da Aaaoc i.acjioode Re f i.neidor e a t opapel de San Tiago Dantas; 0 programa de treinamento e formagao de tecnicos para a Petrobras; a escolha dos membros para 0 Conselho de Administragao: sugestoes do presidente da Petrobras, os representantes das associagoes de classe e 0 grau de autonomia de cada conselheiro.; 0 gerenciamento da empresa: 0 Conselho de Administragao e a Diretoria Executiva; relacionarnento entre a diretoria e 0 corpo tecnico; ausencia de confronto entre a Petrobras e 0 go verno; 0 relacionamento entre 0 Ministerio da Fazenda e a Petrobras; 0 grau de autonomia da Pet.robr-e s r a q e s t ao do entrevistado na Pe t.r obz-a s i seu afastamento da empresa.,
256
7 9 Entrevista: Historico da Comissao Especial de Industrias Petroquimicas (1953); a contribuigao do entrevistado para a Petrobras: 0 aumento daa produgao e da importagao de oleo, aa obtengao de recursos, as refinarias de Cubatao e Mataripe, 0 aproveitamento de tecnicos estrangeiros e a formagaode·tecnicos nacionais, 0 plano de organizagao da empresa e 0 Oleoduto Santos-Sao Paulo; a reun i.ao no Quitandinha com Juscelino Kubitschek, Antonio Balbino, Roberto Campos e outros: consequencias para 0 entrevistado e para a Petrobras; 0 governo de JK: 0 Plano'de Metas e 0 Banco Nacionalde Desenvolvimento'iEconomico (BNDE); Janary Nunes; 0 curso na Escola Superior de Guerra (ESG); 0 livro de autoria do entrevistado Energia nao se importa; a questao da energia eletrica no Brasil; na Diretoria de Comunicagoes do Exercito; 0 curso da Comissao Ec oriom.i.ca para America Latina (CEPAL); Idalio Sardemberg; 0 convite para a diregao da Reduc; as etapas de construgao da Reduc; as prin cipais diferengasentre as refinarias de Cubatao e Duque de Caxias; .i.mpor t.aric La da Reduc para a industria .de refino no pais; superintendente da Reduc para a industria de refino no pais; superintendente da Reduc (1961-1962); Geonisio de Barros; 0 funcionamento da Reduc nos anos do governo de Joao Goulart~ a gestao de Francisco Mangabeira na Petrobras; 0 periodo de afastamento do entrevistado da Petrobras; 0 papel de Albino Silva na presidencia da empresa; a eclosao do movimento de 1964 e seus efeitos na Petrobras: a prisao de Osvino Ferreira Alves, 0 convite para a presidencia, primeiros atos e 0 convite a Ademar de Queiroz; 0 marechal Castelo Branco; a tentativa de Mourao para a~ sumir a Petrobras; 01impio Sa Tavares
317
r:
89 Entrevista: A escolha de Ademar de Queiroz para a presidencia da Petrobras; as condigoes da empresa no perlodo pos-64: previsao orgamentaria, mudangas administrativas e sUbstituigao de pessoal; o papel do chefe de gabinete; 0 inlcio de funciona mento do Depin (1965): a administragao do entrevistado; as desapropriagoes das refinaarias part iculares (1964); participagao no VII Congresso Mundial de Petroleo (Mexico); a trajetoria na Petrobras; 0 VII Congresso Mundial de Petroleo; na pr-e s i.deric La da ABNT; 0 trabalho nas empresas publica e privadai 0 trabalho na Sibra; a falta de exito nos empreendimentos particulares; 0 curso na ESG; na Associagao dos Diplomados:' da Escola Superior de Guerra (ADESG); a, c r i.acjio da As soc i.acjio Brasileira da Industria de Base (ABDIB); na presidencia da Casa de Mato Grosso
345
99 Entrevista: Balango da atuagao do entrevistado na Pe t.r-obza s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 34~ >
1 2 Entrevista:
10.07.1987
A.L. - Primeiramente devo agradecer por esta oportunidade que me dao para mostrar
0
servi~o
que rea1izamos
em bene-
flCio do progresso do Brasil. V.L. - General, vamos gens.
come~ar
conversando sobre suas or i-
0 senhor nasceu em Cuiaba.
Como era
0
nome do seu
pai? A.L.
Henrique Levy.
Minha mae era Joselina Castelo Levy.
V.L. - Qual era a profissao do seu pai? A.L. - Consul frances em Cuiaba. V.L. - Eu queria que sua famllia.
0
senhor nos contasse um pouco sobre
Era uma famllia grande?
o senhor tinha ir-
maos? A.L. - A famllia era regular.
Eu tinha
dois
irmaos
mais
velhos do que eu, que acabaram morando um em Paris e outro em Cuiaba. V.L.
Algum dos seus irmaos veio a ser
A.L. - 0 irmao mais velho foi ...
comerciante em Paris,
o segundo foi militar tambem, como nos. ,
so e um
, .
,
teriormente conosco,
A.L.
~screvend~
e
1s-
VlClO . • • •
V.L. - Vlcio de escrever, nao e?
reram e
militar
0
E
0
General, conversando an-
senhor nos contou que seus pais mor
senhor ficou orfao muito cedo. isso.
V.L. - Por quem
0
A.L. - Quando
nosso pai morreu, fomos distribuldos pelas
0
senhor foi criado?
tias, irmas de minha mae.
o mais velho foi destinado para
a tia que mora em Paris, e
0
medio ficou em Cuiaba aos cui
02
dados de uma tia malS idosa. V.L. - Que idade orfao,
senhor tinha mais ou menos quando ficou
0
senhor se lembra?
0
A.L. - Foram perdas lastimaveis que nos deixaram em liberdade durante muito tempo.
0 mais velho ...
[escrevendo]
V.L. - 0 mais velho foi ser criado em Paris,
e
senhor
0
ficou com a outra tia. A. L. - 0 mais velho foi criado em Paris, Cuiaba, Mato Grosso. muito. V.L.
e
Eu fiquei com uma
segundo
0
tia
em
que
viajava
de
viagem.
Eu a acompanhava, era seu companheiro
Essa tia era originaria de Mato Grosso tambem?
A.L. - Essa tia era de Cuiaba tambem, irma V.L. -
Essas viagens em que
taram uma
mudan~a
0
de
minha
mae.
senhor a acompanhou represen
de local de moradia ainda na sua fase de
infancia? A.L. - 0 marido de minha tia era ...
[escrevendoJ
-
A
,
0
Vl-
cio danado! - comerciante em Buenos Aires e viajava rnuito com meu pai, que alem de consul era comerciante em Cuiaba. De modo que tivemos que andar muito por e ...
onde V.L.
a prime ira viagem foi para
\pausa]
onde deixamos 0
0
mundo
Buenos
irmao mais velho, e depois
primeiro marido ...
E
esse
para
afora Aires,
Corumba,
Ja esta embrulhado!
complicado lembrar dessas questoes de familia mUl
to antigas, vira urn coisa general:
Mas vamos pensar numa
quebra-cabe~a!
essa tia com quem
0
senhor
foi
viver
se
mudou para Minas Gerais? A.L. - Ela acabou vivendo em Minas. interessante!
Ai
tern
Com a segunda tia, viajamos
Corumba e Cuiaba.
uma
passagem
para As aunc ao ,
03
V.L. - Ainda pequenos? A.L. - Tudo com pouca idade. V.L.
Quando
0
senhor foi para Minas Gerais
com
sua
a
tia? A.L. - Falta muito para chegar la! foram esses dados.
Depois ...
[risos~
Eu queria
Bom, primeiro
que
quando
eu
parasse, a maquina* tambem parasse, nao pode? V.L.
Tem que apertar a pausa rapidinho.
A.L. - Porque nessa passagem da infancia, teve p.r i.ma.r i.o .
Muito devemos
a
segunda tia,
a
ou
0
estudo do
segunda mae
que tivemos pois ela providenciou imediatamente a minha ... matricula nas escolas primarias de Cuiaba e Lafaiete. Essa tia tambem providenciou a minha inclusao no Colegio Militar em Barbacena, que foi de grande vantagem
para
minha
futura carreira. V.L. - 0 senhor entrou com 11 anos no Colegio
Militar
Barbacena, passou a puberdade e a adolescencia la, aos 17 anos.
Quando
0
senhor foi para
0
Colegio
de
dos 11 Militar
ja sentia alguma vontade de ser militar? A.L. - Bom, a vontade existia desde muito perdi meu pai, aos seis anos de idade,
eu
bandeira brasileira nas ruas de Corumba. V.L.
Como nasceu essa vontade?
A.L.
, Bom, a1 ...
V.L.
Quase que natural, de dentro?
nao sei.
A.L. - Natural e espontanea.
* Refere-se ao gravador.
tempo.
Quando
ja carregava
a
04
V.L. -
Quer dizer que quando
0
senhor foi
para
Militar de Barbacena, ja tinha uma vontade, A.L. -
Eu ja tinha uma voca~ao.
Colegio
0
pelo
menos.
Isso me valeu muito duran
te a existencia toda. V.L. - Havia tambem a circunstancia de que a sua tia esta-
va morando la perto nessa epoca, nao e? A.L. -
Em Lafaiete.
V.L.
o Colegio Militar tinha fama de ter urn born ensino?
A.L. -
0 Colegio Militar de Barbacena foi urn excelente, urn
invulgar colegio.
Porque estava numa cidade
muito pouca diversao, de modo que nao tinha
pequena,
com
perturba~ao
na
aprendizagem. V.L. -
0 senhor era interno?
A.L.
Eu era interno.
V.L. -
Tinha urn convlvio muito grande com os colegas,
en-
tao. A.L.
Com os colegas era born.
V.L. -
0 senhor tern alguma
lembran~a
marcante
desse
seu
perlodo de Colegio Militar? A.L. - Nos temos algumas passagens interessantes
no
Cole-
gio Militar. V.L.
o senhor andou nos contando que brigou ...
A.L. - A primeira foi
uma divergencia tida com urn profes-
sor de trigonometria que deu zero em uma estava perfeitamente certa.
prova
Co l.eqi.o ,
deu ganho de causa, mas pediu insistentemente 0
minha
que
Essa divergencia nos conduziu
ate ao conselho e ate ao comandante do
nao levassemos
[ risos]
caso adiante.
que
para
nos que
Porque urn aluno de 16, 17
05
anos nao podia se opor a um professor ja
calejado.
foi
0
0
primeiro caso.
0 segundo caso foi
Esse
da gripe; pas-
samos a gripe no Colegio Militar. V.L. - Foi um perlodo terrlvel, esse da gripe! A.L.
o
terceiro caso foi que nos ...
V.L. - Mas como foi esse caso da gripe no Colegio Militar? Alguma coisa marcante, que
0
senhor se lembre?
A.L. - Nao, nao. V.L. - Era aquele clima da. epoca, nao e? A.L. - A gripe no Colegio Militar para nos foi rapida, por que assim que manifestou a epidemia, todos os alunos foram dispensados e so voltaram no ana seguinte. V.L. - Foi um perlodo muito longo de dispensa,
de
afasta-
mento do Colegio por causa da gripe espanhola? A.L. - Foram seis meses de afastamento, prejudicou muito
0
ensino.
de
Nos voltamos
modo
no
ana
que
nao
seguinte
com bastante entusiasmo - isso e preciso dizer, porque foi de fato.
0 terceiro caso, nos eramos incluldos sempre nos
quadros de honra dos semestres.
Cada semestre
forma de premiar os primeiros alunos. ro aluno, nao, fui ate vagabundo.
tinha
uma
Eu nao era primei-
Mas estive sempre, prin
cipalmente no segundo, no terceiro e quarto ana no quadro de honra do Colegio.
Bom, depois ...
V.L. - Quais eram as materias que
0
senhor
gostava
mais
nesse tempo e pelas quais ja sentia uma inclinagao? A.L.
Essa questao avivou uma antiga aptidao para matema-
tica e inaptidao para outras coisas que nao eram do nosso agrado.
0 que nos valeu tambem decepgoes
V.L. - Por que?
muito
grandes.
06
A.L. - Porque nos fomos ate repetentes.
Repetimos urn ano.
Apesar de toda essa aureola de matematica,
repetimos
ana por causa do port.uque s e do frances. mais uma coisa:
Born,
ainda no corpo de alunos,
urn
agora
fomos
tern
promovi-
dos a primeiro-tenente. V.L. - Ainda no Colegio Militar? No Colegio, primeiro-tenente-aluno.
A.L.
V.L. - Por que? A.L. - Nao.
Pelas notas, pelo comportamento?
0 comportamento sempre foi
pelas notas, pelo desempenho escolar.
otimo, E
foi born para nos, porque tlnhamos algumas cas vantagens, mas tlnhamos.
esse
vantagens.
Outra questao
ra
0
geou
foi
oficialato
do
Militar foi a presenga nas paradas, inclusive Alberto quando veio ao Brasil.
mas
Pou-
Colegio
uma
do
rei
Descemos de Barbacena pa-
Rio para tomar parte no ba t.a Lhjio escolar que homena0
rel Alberto da Belgica, que veio agradecer a part i-
cipagao do Brasil na guerra e na defesa da...
Born, sobre
o Colegio Militar acho que esta tudo al. M.M. - Ja que
0
senhor falou na guerra,
como
chegavam
as
notlcias da Primeira Guerra Mundial no Colegio Militar? A.L. - No Colegio Militar nao era permitido comentar e nem Todos os alunos eram muito
havia entusiasmo.
novos,
nao
nao.
Tudo
havia entusiasmo para essas questoes pollticas, estava sendo absorvido pelo estudo, pelo ...
V.L. - Mas de alguma maneira os alunos tomaram conhecimento de que estava acontecendo a Primeira A.L. - Havia V.L.
0
Tico-Tico, que dava muita notlcia.
Entao liam
A.L. - Liam
0
Guerra
0
Tico-Tico!
Tico-Tico.
Mundial.
07
V.L.
Entao sabiam!
A.L. -
Mas nao sabiam interpretar, nao
adiantava
V.L. - Nao sabiam interpretar, mas tinham
nada.
noticia
de
que
estava havendo uma grande guerra e tudo isso. A.L. -
Essa noticia era comum,geralmente era
de dia que dava essas noticias todas no
oficial
o
boletim do
Cole-
gio. V.L.
Entao havia uma noticia oficial sobre os aconteci-
mentos importantes atraves do oficial de dia,
e havia uma
noticia extra-oficial pelo Tico-Tico, nao e isso? A.L. -
Esse Tico-Tico e bom tirar.
V.L. - Nao, nao!
Isso faz parte de como as pessoas se for
maram, como elas tinham ,
epoca.
[risos]
informa~ao, 0
que elas liam na sua
,
deviam
Os alunos nessa epoca eram adolescentes,
a ideia de guerra.
conversar sobre essas coisas, guerra,
estava
Voces estavam se formando para serem militares, acontecendo uma guerra mundial, eu acho
que
alguma curiosidade, algum pensamento, alguma
devia
haver
discus sao
a
respeito disso. A.L. -
Voce falou bem, era apenas curiosidade. Eu nao cla£
sifico aquilo que se passou naquelas menta~ao
reparti~oes
para beligerancia, para guerra.
aconteceu.
Foram casos mais simples.
de rnovi-
Nao foi isso que Nao
davamos
essa
categoria de guerra para os meninos. V.L. - Nesse mesmo periodo, em 1917, ocorreu
Russa.
A noticia de que tinha havido a
a
Revolu~ao
Revolu~ao
Russa
chegou ao Colegio Militar? A.L.
Como?
V.L. - Em 1917 houve a Re vo Lucjio Russa,
que
foi
um outro
08
acontecimento de impacto internacional.
Essa noticia che-
gou ao Colegio? Porque
A.L. - Nao me lembro se ela chegou ao Colegio.
Russia nao era tida como... aliada ou coisa parecida.
a
Nos
nao davamos importancia a essa participa~ao dos beligerantes, nao davamos.
Nao havia campo para lSSO.
V.L. - Nao havia nem essa
preocupa~ao:
"Nos
,
militares, a guerra e uma coisa que pode nossa vida"?
vamos
ser
acontecer
na
Era muito cedo?
A.L. - Nos tinhamos pela frente aqueles professores barbudos que nao deixavam.
[risosJ
V.L. - A disciplina era muito rigida no
Colegio
A. L. - A disciplina era adaptada aos nossos
17
Militar? ario s .
era muito rigida, nao era muito folgada tambem. uma disciplina forte. trutores, como foi
0
Nao
Mas havia
Geralmente os professores,
os
ins-
Eduardo Sa, levavam a serio esse fate
de estarem no interior de urn estado, sem recursoso para e§. tudar. V.L. - Jovens de varias partes do Brasil
lam
estudar
no
Colegio Militar? A.L. - 0 Colegio Militar logo tomou nome e
apareceram mUl
tos candidatos para se inscreverem, muitos candidatos mesmo.
E eram de todos os estados do Brasil,
o
fato de
0
nao
havia
se-
Colegio Militar estar no estado de Mi-
nas nao acarretou uma preponderancia de ensino aos mineiros. V.L. - 0 senhor se lembra, por exemplo, se conversando com os colegas, voces trocavam ideias sobre os diferentes esta dos do Brasil?
Porque cada urn vinha de
urn lugar.
"Como
09
e na
sua terra?"
"E na sua?"
Nao tinha esse tipo de con-
versa? A.L. - Era uma discus sao sadia e boa. coi~
V.L. - Porque eu acho que esse tipo de conversa e uma sa importante na formagao das pessoas, de Brasil.
saber urn pouquinho
Ravia essa curiosidade de saber
de
Brasil?
A.L. - Ravia essa curiosidade forte, grande. V.L. - Nesse tempo,
seu interesse maior estava concentra
0
do em ser urn born estudante, em dominar
aquelas
discipli-
nas, aquelas materias que estavam sendo ensinadas? A.L. todo
Eu fui - eu me considero - urn born aluno. 0
curso.
Tanto e que fomos incluidos
honra, fomos promovidos a oficial-aluno.
no
Durante quadro
de
Tudo isso mostra
a nossa participagao nos estudos do Colegio Militar. M.M. - 0
senho~
falou dos seus instrutores.
instrutor ou professor que tenha marcado
Rouve
a
sua
algum
passagem
no Colegio Militar? A.L. - No Colegio Militar havia urn professor ... rente da Dulce* ... Ravia uma turma de uns
-
dois
ate paou
professores que levavam mais a serio a participagao no estudo. V.L. - E foram esses professores, que levavam mais
a
,
se-
rio, que deixaram melhor impressao no senhor? A.L. - 0 Eduardo Sa, muito a serio.
o
0
rver, eram elementos
que
Eduardo Sa, que era comandante
companhia do batalhao escolar, levava a alguns de que nao me lembro
0
,
levavam de
.
Enfim,
serlO.
nome no momento,
* Dulce Alves Baeta Levy, esposa do entrevistado.
uma
mas
que
10
existiam.
E uns contra, como foi
0
Arruda
questao
na
da ... trigonometria. V.L. - Conversando outro dia interessante: que
0
senhor nos contou uma coisa
0
senhor, na verdade,
havia resolvido
problema de maneira absolutamente correta, todo proprio.
0 senhor tinha
foi aceito foi
0
metoda
0
,
,
so que com me-
seu metodo,
diferente.
0
e
que
0
nao
Foi essa a causa
do conflito. A.L. - Foi. V.L.
Mas
A.L.
E ele deu zero pela questao, apesar de eu ter che-
0
senhor tinha chegado ao resultado
correto.
E mais uma prova da
gada a resultados corretos.
voca~ao
para a matematica. V.L.
E
is so que eu estava querendo ressaltar:
ja inventava formas de resolver problemas,
e
o
senhor
essa capaci-
dade de trabalhar os problemas e uma coisa que vai marcar depois a sua trajetoria. A.L. -
Essa coisa foi sem querer, mas valeu.
M.E. - Valeu.
0 senhor ja firmou a sua posi~ao:
"Eu pos-
so resolver dessa maneira." A.L. - 0 professor ficou marcado etc e tal. frrecho inaudlvej] V.L.
No Colegio Militar,
0
currlculo era rnais de disci-
plinas tecnicas, vamos chamar assim, de
disciplinas
nlsticas, ou de treinamento mais especlfico militar?
lXINAL DA FITA
1-19
para
a
humavida
11
A.L.
Era uma forma