PAISAGEM E SENSORIAMENTO REMOTO NO ENSINO DA GEOGRAFIA ESCOLAR

PAISAGEM E SENSORIAMENTO REMOTO NO ENSINO DA GEOGRAFIA ESCOLAR Vitor Scalercio Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ [email protected] 1....
3 downloads 1 Views 360KB Size
PAISAGEM E SENSORIAMENTO REMOTO NO ENSINO DA GEOGRAFIA ESCOLAR Vitor Scalercio Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ [email protected] 1. PROPOSTA DE TRABALHO O presente trabalho teve origem na convergência de conteúdos trabalhados em diferentes disciplinas ao longo da graduação do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Um dos objetivos é fazer uma discussão sobre o conceito de paisagem, mostrando a importância de operar os conteúdos escolares através dos conceitos geográficos. Em um segundo momento, mostra-se como que a paisagem pode ser abordada através dos recursos do sensoriamento remoto, sobretudo a partir do software Google Earth. Por fim, tomamos como exemplo a análise das paisagens da Ilha do Governador, região administrativa da cidade do Rio de Janeiro. A pesquisa encontra-se em desenvolvimento, esboçando-se aqui um trabalho tendo em vista um aprofundamento em uma futura monografia. 2. PAISAGEM: UM IMPORTANTE CONCEITO NA LEITURA DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA PERSPECTIVA CULTURAL Na história do pensamento geográfico, o termo paisagem foi constituindo-se como um privilegiado conceito, tornando-se uma categoria de análise concebida à luz de múltiplas abordagens e diferentes perspectivas teórico-metodológicas. Não obstante, podemos evidenciar certa convergência entre muitos autores, uma vez que, dentre os outros conceitos basais da geografia, a paisagem incorporou de forma relevante um viés cultural em seus trabalhos (MEINING, 1979; BERQUE, 2004, CLAVAL, 1999). Assim, dentro da discussão deste conceito, o inglês Denis Cosgrove corrobora com esta afirmação ao dizer que a paisagem está intimamente ligada à cultura “com a ideia de formas visíveis sobre a superfície da terra e com a sua composição”. No desenvolvimento deste conceito, em meados da década de 1920, foi desenvolvido pela Escola americana de Berkeley o conceito de paisagem cultural, cujo

1 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

1

principal autor foi Carl Sauer. Entende-se por paisagem cultural um conjunto material de formas naturais e formas socialmente construídas, em que o homem pode se identificar e se reproduzir, pois nela se encerra e se descreve um modo de vida próprio. Desse modo, as sociedades transformam a natureza de diferentes formas através de diferentes meios, as quais imprimem nas paisagens as características da sua cultura. Portanto, podemos afirmar que são expressões tangíveis da ação humana no espaço. As principais características de uma paisagem cultural são: i) multiplicidade de escalas; ii) sua organização obedece a uma funcionalidade, em que as formas estão articuladas entre si; havendo, portanto, iii) uma organização/disposição lógica dos elementos que a compõe e, por fim, iv) é uma construção humana que resulta das necessidades e possibilidades de grupo social (SAUER, 2004) . Dentro de nossa proposta de pesquisa, muito nos aproximamos do conceito de paisagem produzidos no seio da Geografia Cultural, desde as ideias de Carl Sauer na década de 1920, até as mais recentes advindas da chamada Nova Geografia Cultural, pós 1970. Dito isto, deixamos clara a necessidade de realizarmos uma investigação embasada teoricamente; reconhecendo-se, pois, uma intencional escolha que nos leva a certas perspectivas de análise.

3. A IMPORTÂNCIA DOS CONCEITOS: A PAISAGEM NA GEOGRAFIA ESCOLAR Os conceitos básicos de espaço, paisagem, território, lugar e região são as ferramentas de trabalho dos geógrafos, e da mesma forma para os professores de geografia. É através deles que fazemos a nossa leitura de mundo - a análise geográfica. Assim, a utilização dos conceitos permite operar um determinado tipo de observação/estudo, sendo, na verdade, uma forma de estruturar o conhecimento. Sabemos que um fenômeno pode ser observado sob diferentes perspectivas a partir das ciências humanas ou naturais, como por exemplo, uma abordagem histórica, biológica, sociológica ou filosófica. Sendo assim, precisamos ter em mente como que a geografia pode contribuir para uma determinada análise, seja em estudos acadêmicos ou no processo de ensino-aprendizagem nas escolas. Assim, para atingirmos esse objetivo, precisamos lançar mão de nossas lentes de leitura do mundo, que são as categorias de análise, ou se preferirem, os conceitos.

2 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

2

Pensando-se na geografia escolar, faz-se necessário colocar em questão o ensino dos conceitos como um conteúdo, tal como encontramos nos capítulos inicias de alguns livros didáticos. Os já referidos conceitos básicos trabalhados pela geografia não podem ser trabalhados apenas na perspectiva teórica, como um conteúdo a parte do programa pedagógico. Na verdade, eles devem fazer parte de nossas análises, da nossa forma de abordar os conteúdos escolares, estando presente em nossos discursos. Tomando essas afirmativas como verdadeiras, fica claro que os professores não precisam dominar todos os conteúdos a serem ensinados na escola; porém, precisam se instrumentalizar e saber operar os conceitos nas abordagens dos mais diferentes conteúdos, afinal de contas “essas formulações científicas são referências básicas para a estruturação dos conteúdos da Geografia ensinada na escola” (CAVALCANTI, 1998:88). Encontramos-nos diante de um desafio de tornar os conceitos mais palpáveis, funcionais e operadores do conhecimento e da ação dos alunos. Não podendo desvencilhá-los de suas realidades, pois precisamos considerar seus diferentes significados e representações trazidos pelos alunos, mas procurando enriquecê-los com novas possibilidades de análises mediadas pela geografia. Nesse sentido, pretendo sustentar a ideia de que o conceito de paisagem pode nos ajudar a melhor compreender a lógica espacial (GOMES, 1997) das coisas, e, principalmente, para tornar inteligível o espaço vivido dos alunos. Dentro da perspectiva do ensino de geografia nas escolas, este conceito geográfico pode parecer bastante abstrato para as crianças e adolescentes e alheio as suas práticas sócias e espaciais. No entanto, acreditamos que a partir do momento em que os discentes percebem a funcionalidade e a utilização da paisagem para se entender a realidade, a sua compreensão tornar-se-á muito mais fácil e proveitosa. Trazer a “paisagem” para o universo do aluno, para o lugar vivido por ele, o que quer dizer trazer a paisagem conceitualmente como instrumento que o ajude [alunos] a compreender o mundo em que se vive. (CAVALCANTI, 1998:100) Lana de Souza Cavalcanti (1998) aponta em sua pesquisa que neste conceito há - por parte dos alunos e professores - uma forte associação entre paisagem e beleza (lugar bonito, vista bonita), mas há, também, uma referência relacionada à dita paisagem natural. Nem há 3 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

3

mesmo a distinção entre paisagens naturais e artificiais, tal como alguns livros didáticos ainda insistem em apontar. Parece que esse conceito [paisagem] fica associado a algo distante de seus lugares, de suas vidas, de suas realidades, pertencendo mais a um mundo de sonho, místico, sagrado. (Idem, 1998:100) Partindo-se da constatação desse quadro sobre o ensino da paisagem na geografia escolar, podemos perceber uma nítida dissociação com o conceito científico, tal como vimos na seção anterior. Com isto, vale salientar que não pretendemos dizer que a geografia escolar sempre deva se submeter ao conhecimento científico. Há muito tempo é sabido que o conhecimento escolar constitui-se como um saber próprio, não sendo uma mera simplificação ou reflexo do saber científico já produzido. Ao desenvolver o conceito de transposição didática, CHEVALLARD (1991) nos mostrou que o “saber sábio” ao se transformar em “saber

ensinado”,

é

descontextualizado,

naturalizado,

despersonalizado

e

descontemporaneizado. Dessa forma, o saber científico é referência principal para o saber ensinado, entretanto, ao ser mediado, um novo saber é produzido, o que indica a existência de produção de conhecimento no espaço escolar. Só que, ao mesmo tempo, não podemos aceitar passivamente a ideia deste abismo existente entre o que é ensinado na escola e o saber de referência, pois muitas vezes a paisagem parece ser tratada na mesma perspectiva do senso comum. Além disso, nos deparamos diante grandes limitações, em que o conceito é ensinado de modo desvencilhado da vida dos alunos, sem aplicabilidade, ou correspondência com o real, sendo descartadas ricas possibilidades de análise e de contribuições que o conceito pode nos trazer no processo de ensino-aprendizagem. 4. PAISAGEM

E

PRODUTOS

DO

SENSORIAMENTO

REMOTO

NO

PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM Com o advento da informática e da evolução constante das tecnologias de imagiamento à distância - que é o Sensoriamento Remoto - passamos a ter acesso a uma grande quantidade de imagens na perspectiva vertical dos mais variados pontos da superfície terrestre. Atualmente são disponibilizadas gratuitamente na web uma gama de imagens de alta resolução espacial, as quais podem servir como uma importante ferramenta para a análise de 4 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

4

geógrafos e professores de geografia. Como foi dito anteriormente, além de outras características, o conceito de paisagem chama atenção para a dimensão material, visível do espaço, logo, as imagens de satélite podem ser uma oportuna fonte para a análise das diferentes paisagens existentes. Fato que podemos confirmar nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia: Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens [grifo nosso] (BRASIL, 1997, p. 81) Para tanto, acreditamos que os professores podem lançar mão das imagens em sala de aula como uma ferramenta que permita treinar a observação e a análise do espaço geográfico. É válido chamarmos atenção para o fato da paisagem, em um primeiro momento, se constituir como uma dimensão material, porém a partir das matrizes teóricas aqui explanadas, sabemos que os seus significados, apropriações e análises vão muito além da materialidade existente, passando por dimensões imateriais, tal como a simbólica e das relações de poder estabelecidas. Podemos nos aproximar dos estudos citados anteriormente desenvolvidos pela geografia americana de Carl Sauer, na medida em que chamamos atenção para as formas visíveis da paisagem. Esses estudos se preocupavam com a gênese e com a morfologia, sendo a primeira preocupada em entender como a paisagem foi elaborada (a sua origem), e a segunda, buscava entender a forma, o arranjo espacial encontrado. Assim, guardando-se as devidas proporções, a essência deste método de trabalho poderá ser utilizado na análise das diferentes paisagens encontradas nas imagens de satélite. Neste momento cabe uma discussão importante trazida por Paul Claval (2004) que diz respeito ao tipo de observação que fazemos da paisagem. Temos dois tipos de visão, a observação direta, que é o olhar horizontal ou oblíquo do observador, uma leitura que todos nós temos acesso no nosso dia-a-dia, e a visão vertical, fornecida recentemente por procedimentos tecnológicos, a qual não temos acesso direto a observação. O autor chama atenção de que a observação vertical pode permitir generalizações, evidenciando a estrutura das distribuições e nos permite uma observação dos reagrupamentos regionais; porém, ela às vezes, pode nos levar a uma observação errônea e limitada, em que são esquecidos objetos que realmente importam na vida das pessoas e na organização do espaço. Assim, cabe ao 5 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

5

geógrafo ter um posicionamento ativo na leitura da paisagem, se preocupando em evitar simplificações do olhar vertical. Devemos tentar multiplicar os nossos pontos de vistas, não se limitando a apenas um tipo de olhar (CLAVAL, 2004). Nesse sentido, se torna muito interessante trabalhar com os alunos outros pontos de vista além das imagens de satélite, tal como outras imagens, fotografias pessoais e a própria observação direta quando possível. Outra abordagem interessante trazida pela Nova Geografia Cultural é a concepção da paisagem é dita como um texto. James Duncan (1990) desenvolve esta discussão, ao afirmar que a paisagem é possível de ser lida, interpretada. Os indivíduos têm olhares carregados de concepções pré-estabelecidas, interpretando a paisagem a partir de suas próprias práticas sociais e espaciais. Assim, em uma discussão em sala de aula cabe ao professor de geografia chamar atenção para este aspecto, pois esta concepção é um forte antídoto contra preconceitos e visões autoritárias que são feitas do mundo. Indagações devem ser levantadas, tais como a problematização da visão do planejador urbano ou de uma instituição governamental que muitas vezes é a única a ter voz, em detrimento do silenciamento de outras vozes. Da mesma forma, ainda podemos discutir a questão da dimensão política do espaço, da paisagem, pois sabemos que cada grupo social tenderá a querer impor sua visão de mundo a respeito do que deve ser feito para a construção/desconstrução/reconstrução da paisagem. Sendo o espaço, portanto, um lócus de conflitos e de tensões entre os diferentes grupos que tentam se apropriar de diferentes modos. Assim, podemos chamar atenção na análise da paisagem de qual concepção prevalece na construção e utilização da paisagem. Elites urbanas? Elites rurais? Agentes imobiliários? Instituições governamentais? Populações pobres? Por fim, como método a ser utilizado na observação e análise da paisagem parece ser bastante interessante nos apropriarmos das ideias das categorias criadas por Denis Cosgrove (2004). Em seus estudos, o geógrafo inglês nos diz sobre as paisagens das classes dominantes, que são impregnadas de símbolos que remetem poder e status social; paisagens residuais, áreas decadentes, com casebres rurais, casas abandonadas, depósitos, lojas falidas; paisagens excluídas, áreas habitadas por pobres e miserais, em casas precárias e conjuntos habitacionais e paisagens emergentes, áreas recentes, alvo de especulação imobiliária, com investimentos e crescimento. Através dessas classificações podemos 6 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

6

simplificá-las de forma didática e trabalhar essas tipologias para buscar compreender a diferenciação espacial e os diferentes modos de constituição e apropriação da paisagem. Por fim, acredito ter ficado claro que o importante na abordagem cultural da paisagem não se limita a simples descrição, localização e identificação das materialidades produzidas (paisagens culturais) e os tipos de formações existentes, mas, sobretudo, compreendê-las de um modo crítico, analisando e interpretando as funções, os atores sociais envolvidos, as disputas, embates, conflitos e os significados que são atribuídos ao espaço. 5. PARA FINS DE EXEMPLIFICAÇÃO: AS PAISAGENS DA ILHA DO GOVERNADOR Esta seção tem como objetivo exemplificar como as ideias aqui defendidas podem ser aplicadas a partir da análise de uma determinada localidade. É evidente que não temos a pretensão de esgotar as possibilidades existentes, nem dar conta de tudo o que foi dito, sobretudo pela limitação de tamanho do artigo. Assim, objetivamos apenas dar um exemplo de como a paisagem pode ser analisada a partir da utilização da geotecnologia Google Earth (visão vertical), já mencionada neste trabalho. Toma-se como exemplo a Ilha do Governador, região administrativa da cidade do Rio de Janeiro, maior ilha da Baía de Guanabara, composta por quinze bairros de características socioeconômicas muito distintas (seja por conta do tipo de ocupação, renda dos moradores etc.). Procuramos-se uma abordagem que privilegie os conhecimentos prévio que os alunos tem de seus bairros, pois estes tendem a ser o local das suas práticas espaciais. Assim, almejamos despertar maior interesse e curiosidade na análise da paisagem de um ambiente que é familiar; porém, buscando proporcionar uma análise mais complexa e, sobretudo, geográfica. Qualquer enquadramento que delimitarmos pode ser considerado uma paisagem, pois sabemos que esta não tem delimitação fixa, é dependente da nossa localização e, assim, “a paisagem toma escalas diferentes e assoma diversamente aos nosso olhos, segundo onde estejamos” (SANTOS, 1988:61). Pode ser a partir do chão, em um mirante, da janela da nossa casa, da janela de um avião, ou através da imagem de uma satélite. Logo, podemos delimitar, a partir de um determinado interesse, qual a paisagem que os alunos terão de observar e analisar. Como foi dito e explicado anteriormente, Denis Cosgrove (2004) 7 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

7

elaborou tipologias que caracterizam determinadas paisagens, sendo elas: paisagens das classes dominantes, paisagens residuais, paisagens excluídas e paisagens emergentes. A partir de uma explicação e um entendimento dessas classificações podemos delimitar uma determinada paisagem para poder analisá-la, buscando, se possível, reconhecer qual a tipologia encontramos. Vejamos a seguinte paisagem para desenvolver a identificação dos elementos e símbolos presentes.

Fig. 1 – Bairro do Jardim Guanabara. Elementos identificados na figura: Iate Clube, ruas planejadas,

Em outras imagens ainda podemos identificar muitas praças, ruas ornamentadas com aléias de palmeiras, um heliponto, intensa arborização entre outras características. Como para 8 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

8

COSGROVE (2004) as paisagens podem ser decodificadas a partir de sua leitura detalhada (paisagem como um texto), pois estas possuem signos e símbolos e nos transmitem significados a serem interpretados, podemos classificá-la como formadora de uma paisagem das classes dominantes. Piscinas, casas com telhados, grandes terrenos, heliponto, palmeiras imperiais, praças, jardins, iate clube entre outros constituem como signos que remetem a poder e status social. A partir desta constatação podemos instigar os alunos a procurar sobre a gênese e a morfologia deste bairro. Vale lembrar que não podemos nos pautar apenas na descrição do espaço geográfico, mas, sobretudo, explicar o porquê desta presente configuração espacial. Procurar entender como se processou a formação através do tempo, quais as estratégias de apropriação e reprodução dos grupos sociais, quais os movimentos contraditórios existentes, sobretudo de segregação, quais os agentes urbanos envolvidos, entre outros os processos e fenômenos sócio espaciais encontrados, tal com especulação imobiliária. Portanto, a análise da paisagem não é uma tarefa fácil, pois demanda bastante esforço e conhecimento de quem a faz. É posto que não se deseja fazer um estudo aprofundado sobre a temática - uma vez que esta tarefa nos levaria a uma investigação científica – mas, em linhas gerais, procuramos fazer um exercício intelectual com os alunos de como o espaço vivido foi, e é, produzido. Outros exemplos poderiam ser utilizados para melhor ilustrar o nosso trabalho; porém, para o momento nos conteremos a este breve exemplo. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste trabalho tentou-se evidenciar a importância dos conceitos para a geografia, sobretudo, visando o ensino escolar. Para se entender o espaço geográfico é de fundamental importância estruturar nosso pensamento através das categorias de análise, tal como a paisagem, no ensino da geografia escolar e não somente nas pesquisas acadêmicas, como estamos mais habituados. Esse fato é confirmado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de geografia (PCN) em que encontramos: Conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar [...] Conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da Geografia para compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, seus 9 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

9

processos de construção, identificando suas relações, problemas e contradições [...] (BRASIL, 1997, p. 81) Porém, como mostramos, muitas vezes os conceitos são utilizados sob uma perspectiva do senso comum, que pouco traz contribuições para a reflexão do aluno e para a instrumentalização do próprio professor. Não podemos abrir mão dos nossas ferramentas de trabalho, assim, acreditamos que este exercício para se pensar formas de abordagem dos conceitos pela geografia escolar é muito válido. Dessa forma, esperamos ter alcançado nossos objetivos principais, apesar de algumas dificuldades e limitações bibliográficas que privilegiam de forma conjunta os assuntos aqui tratados. Vale lembrar que os exemplos aqui explanados constituem-se como possibilidades. Cabe a cada professor-pesquisador saber reconhecer nas suas cidades e escolas, através de seu olhar geográfico, elementos que possam ser trabalhados segundo a realidade encontrada em cada local. Muitos outros exemplos práticos poderiam ser trabalhados, bem como diversos exercícios podem ser realizados. Seja outros bairros do Rio de Janeiro, outras cidades brasileiras ou outras cidades pelo mundo afora. Uma nova paisagem, uma nova análise. Esta é a essência da geografia escolar, mostrar a diversidade do mundo. E nada melhor do que realizar esta tarefa através de algo que possa ser visto e, quem sabe, sentido. A aula é processo e não produto; não é uma coisa com finalidade plenamente determinada, ainda que tenha um fim [...]. A aula, toda ela, todas elas, deve ser um ato de amor, uma dança. (SOUSA NETO, 2001, p. 115-119)

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERQUE, A. “Paisagem-Marca, Paisagem-Matriz: Elementos da Problemática para uma Geografia Cultural”. In: CORRÊA, R. L., ROZENDAHL, Z. (Orgs.). Paisagem tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004. CAVALCANTI, L. S. Geografia, Escola e Construção de Conhecimentos. Campinas: Papirus, 1998. CHEVALLARD, Y. La Transposicion Didactica: Del saber sabio al saber enseñado. Argentina: La Pensée Sauvage,1991. CLAVAL, P. “Paisagem dos Geógrafos”. In: CORRÊA, R. L., ROZENDAHL, Z. (Orgs.). Paisagens Textos e Identidade. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2004. 10 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

10

CLAVAL, P. A Geografia Cultural. Florianópolis: EdUFSC, 1999. COSGROVE, D. “A Geografia está em toda parte: Cultura e simbolismo nas Paisagens Humanas”. In: CORRÊA, R. L., ROZENDAHL, Z. (Orgs.). CORRÊA, R.L. et al . (Org.) Paisagem, Tempo e Cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. p 92-123. DUNCAN, J. S. “The city as text: the politics of landscape interpretation in the Kandyan Kingdom”. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. GOMES, P. C. C. “Geografia ‘fin-de-siècle’ : o Discurso sobre a Ordem Espacial do Mundo e o Fim das Ilusões”. In : CASTRO, I. E., CORRÊA, R. L., GOMES, P.C C. (orgs.). Explorações Geográficas : percursos no fim do século. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 1997. MEINING, D. W. (org): The Interpretation of Ordinary Landscape. Londres: Oxford University Press, 1979. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Huditec, 1988. SAUER, C. “A Morfologia da Paisagem”. In: CORRÊA, R. L., ROZENDAHL, Z. (Orgs.). Paisagem tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004. SOUSA NETO, M. F. A Aula. Geografares, Vitória, n. 02, jun. 2001. p. 115-120.

11 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

11

Suggest Documents