Curso EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO. Disciplina DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSSOCIAL DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS

Curso EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO Disciplina DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSSOCIAL DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS Curso EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLV...
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Curso

EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO Disciplina

DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSSOCIAL DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS

Curso

EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO Disciplina

DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSSOCIAL DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS Maria Cristina URRUTIGARAY Eunice do Vale MADEIRA Mary Sue PEREIRA Caroline KWEE Maria POPPE

www.avm.edu.br

3

Olá, sou MARIA CRISTINA URRUTIGARAY. Trabalho no IAVM desde 1996 como professora dos cursos presenciais. Já participei de alguns momentos dos cursos à distância, mas agora só chego até vocês pelas apostilas. Sou formada pela UFRJ em Psicologia. Tenho pós-graduação em Psicologia Analítica Junguiana pelo IBMR e Psicopedagogia, pela Universidade de Havana-Cuba. Também fiz meu mestrado por Cuba e me diplomei em Educação com ênfase em psicopedagogia. Como sou Analista Junguiana pela Associação Junguiana do Brasil, aproveitei e me tornei pesquisadora de imagens, imaginário e de símbolos. Trabalho com as Técnicas Expressivas e Arteterapia, e tenho dois livros publicados nesta linha de pesquisa sobre imagens, imaginário e a Arteterapia.

Sobre as autoras

Meu nome é EUNICE DO VALE MADEIRA, sou formada em Pedagogia pela UERJ (1968) e em Psicologia pela FAHUPE (1993), posteriormente fiz mestrado em Psicologia Escolar na Universidade Gama Filho (1987). Atualmente, sou professora assistente da Universidade Veiga de Almeida e trabalho com os temas motivação e afetividade. Sendo assim, meu interesse na área educacional, especificamente, de desenvolvimento humano é de longa data e vem se mantendo e consolidando cada vez mais tanto na prática docente quanto na elaboração de material escrito para os alunos. Terei muito prazer em trabalhar com vocês! Sou MARY SUE CARVALHO PEREIRA, mestranda em “Psicologia, Educação e Qualidade de vida” (Universidade de YOWA, USA). Pós-graduada em “Psicologia Pedagógica” pela FGV e “Docência do ensino Superior” pelo Projeto AVM, UCAM. Graduação em Pedagogia (Magistério e Administração Escolar). Especialista técnica em Educação Infantil e especialista em Educação a Distância pelo SENAC Nacional. No presente, desenvolvo as seguintes atividades: (a) Professora dos Cursos de pós-graduação da UCAM (PROJETO A VEZ DO MESTRE), lecionando Didática, Metodologia da Pesquisa, Psicopedagogia (Modalidades Presencial e a Distância), entre outros; (b) Palestrante visitante nos Núcleos Regionais AVM desde 2001; (c) Assessoria Pedagógica à direção da Escola Catavento (GÁVEA); (d) Psicopedagoga do CRADD (Centro de Referência e Apoio Às Desordens do Desenvolvimento); (e) Pesquisadora da “Importância da atividade lúdica nos programas educativos para Portadores de Necessidades Especiais, atendendo às singularidades”; (f) Membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional. Livros publicados e colaborações literárias: (a) A descoberta da criança, uma introdução à Educação Infantil – RJ, WAK, 2002; (b) BENATHAR, Roberto Levy (org.) Educação Infantil em debate – RJ, INEPEDEC, 1985; e (c) Apostilas de Educação Infantil, Pedagogia Empresarial e Psicopedagogia Institucional para o PROJETO A VEZ DO MESTRE A DISTÂNCIA, da Universidade Cândido Mendes (Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu). CAROLINE KWEE é fonoaudióloga/UVA; Psicopedagoga/PUC-Rio; especialista no Programa Psicopedagógico TEACCH - para indivíduos com autismo/UNC (EUA); Mestre em Distúrbios da Comunicação / UVA. Diretora do CRADD Centro de Referência e Apoio às Desordens do Desenvolvimento - ONG com trabalho voltado para indivíduos com autismo e desordens do desenvolvimento com atuação psicoeducativa especial. Professora do Curso de Formação do CRADD em Autismo & Educação. Fonoaudióloga e psicopedagoga clínica em consultório particular. Professora dos cursos de especialização presenciais de Psicopedagogia e Educação Infantil do IAVM. Meu nome é MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE, sou psicóloga formada pela UFRJ e atuo em dois segmentos da Psicologia: a docência e a clínica. Na atividade docente iniciei em 1997, aqui mesmo no Instituto A Vez do Mestre (IAVM), nos cursos de pós-graduação Lato Sensu na modalidade presencial. No ano de 2001 passei a fazer parte também do corpo de professores que atuam no Instituto A Vez do Mestre na modalidade a distância, primeiro nos cursos de pós-graduação e, agora também, nos cursos de graduação. A atuação nos cursos a distância me fez buscar uma certificação de especialista em Gestão de Ensino a Distância na UFJF, tendo concluído em 2008.Na atividade clínica que atuo há muito mais tempo, me dediquei aos alunos com dificuldades de aprendizagem e seus familiares, tendo realizado a pósgraduação em Terapia de Família na UFRJ, em 1985. Atualmente, curso o mestrado em Educação pela UFRJ.

Sumário

5

07

Apresentação

09

Aula 1 A descoberta da criança

37

Aula 2 O desenvolvimento humano

61

Aula 3 Desenvolvimento psicossocial

83

Aula 4 A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

129

Aula 5 O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

159

AV1 Estudo dirigido da disciplina

162

AV2 Trabalho acadêmico de aprofundamento

164

Referências bibliográficas

Apresentação

CADERNO DE ESTUDOS

Desenvolvimento Biopsicossocial da Criança de 0 a 6 Anos

Esta disciplina tem um importante papel na Educação Infantil, pois aproxima cada um dos leitores e estudiosos ao universo da criança que sempre está povoado de imaginação, mas também de angústias quanto ao crescimento que pode não corresponder às expectativas. O professor deve compreender as fases do desenvolvimento humano e, também, toda dinâmica que estas provocam na vida das crianças. O professor deve estar fundamentado nas principais teorias que aqui discutiremos e aprofundaremos.

Objetivos gerais

Este caderno de estudos tem como objetivos:  Apresentar brevemente a história social da criança e identificar as principais características das crianças de zero a seis anos;  Compreender os princípios do desenvolvimento físico humano através das progressivas conquistas das aquisições motoras na interação da criança com o meio;  Compreender o desenvolvimento como produto da cognição, afetividade e socialização, através da vida em grupo e da formação da personalidade com enfoque na criatividade e na interação social;  Conhecer algumas fases do desenvolvimento humano a partir de Piaget, Vygotsky e Wallon e suas influências no processo de aprendizagem;  Identificar o processo evolutivo da teoria da mente para as crianças, destacando também as habilidades representacionais e as influências genéticas, sociais e culturais.

Objetivos

Apresentação

Mary Sue Carvalho Pereira

AULA

A Descoberta da Criança

1

Esta aula retoma a idéia de Ariès sobre a descoberta da criança enquanto categoria diferente do adulto, problematizando também sobre as diferenças entre meninos e meninas. Apresenta as manifestações e desenvolvimento próprios de algumas idades do ponto de vista da coordenação motora, comunicação e expressão, e da socioafetividade.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:  Identificar o valor da descoberta da criança no processo histórico para compreensão dos dias atuais;  Reconhecer as características básicas que diferenciam as crianças do zero aos seis anos.

Aula 1 | A descoberta da criança

Introdução Meninas X meninos A grande descoberta: a criança tem “alma”! Conhecer para conviver melhor

10 13 15 16

10

Introdução Caro(a) aluno(a), Continuaremos

nossas

reflexões

e

estudos,

iniciados pelas demais disciplinas deste curso, que já trabalharam historicamente tendências e pensamentos pedagógicos. As descobertas da criança, inicialmente numa visão histórica, evoluíram os estudos, pouco a pouco, para o conhecimento da criança e da infância, em seu espaço e tempo próprios. Como futuro(a) especialista que você será, sugiro que aproveite bem nossas considerações sobre algumas atividades e, também, procure conhecer mais as referências bibliográficas que estamos usando. TODAS AS CRIANÇAS Falamos por todas as crianças; Por aquelas que tropeçam pela estrada Arrastando-se vagarosamente por detrás De seus irmãos mais ligeiros; Falamos pelos mais ativos, Pelos irrequietos, Curiosos, sempre indo adiante, Antecipando nossas palavras. Até mesmo nossos pensamentos; Por aqueles que chamamos “médios”, Que aprendem aquilo que precisam Sem se perturbarem, sempre amáveis, Dóceis à nossa voz; Falamos por todos eles. Crianças vivas, crianças lentas, Pretas, vermelhas, amarelas, brancas, Privilegiadas e menos privilegiadas; Separá-las umas das outras, segregálas Nunca; É na sua união, Antes da desconfiança dar lugar ao medo, E o medo ao ódio,

Aula 1 | A descoberta da criança

11

Que reside a esperança da fraternidade entre os homens, Que é o seu destino. Falamos por todas as crianças. Os professores falam. Novamente

juntos,

agora

para

conhecer

a

criança representada historicamente, iniciamos com a tradução

feita

pela

professora

Sarah

Margareth

Dawsey, americana, doutora em Educação Infantil, para o primeiro e último versos de Agnes Snyder, For all

children

Association

(The for

Teachers

Children

Childhood

Education

Education

International



Washington – outubro de 1958). A infância representada socialmente surge na civilização bem vagarosamente, referências antes do século XVII são praticamente obras do acaso. Philippe Ariès (1981), desenvolvendo estudos referentes à iconografia (pinturas, gravuras, vitrais) religiosa, por volta do século XIII, revela a criança representando um anjo, o Menino Jesus, a infância dos santos. Mais tarde (séculos XV e XVI), efígies funerárias mostram retratos de

crianças

da

realeza.

No

século

XVII,

quando

começam a aparecer representações de crianças vivas, acreditamos que surge, também, o interesse pela própria criança. Até então, a representação da infância era misturada à morte, santidade, tempo, estrutura do mundo. A “família” é uma figuração indefinida, com uma gama diversificada de elementos que vão de adultos a crianças, habitantes fixos e estrangeiros, serviçais e desempregados,

professores

e

seus

alunos,

transmissores das questões sociais e afetivas. Na verdade, até o século XVIII a família era um grande espaço aberto, com função pública, que não dedicava nenhuma atenção especial às crianças. Mais do que sentimental, a família era uma realidade moral e social, muito numerosa, com seus limites de intimidade quase

Aula 1 | A descoberta da criança

12

inexistentes. E o pequeno ser era tirado de sua família e colocado em outra, estranha, para ser educado e aprender coisas tais como um ofício, portar-se como um cavaleiro, “descobrir” as letras latinas numa escola. Dica da professora

Onde viviam as pessoas? A maior parte do tempo estava fora, nas praças, nas comunidades de

Acredito que neste momento você já esteja pensando em folhear livros de arte para encantar-se com reproduções da época, que mostram exatamente esse estágio da “família”. As Enciclopédias Barsa, Multimídia de Arte Universal (Ed. Melhoramentos) são fáceis de serem encontradas nas bibliotecas.

trabalho, nas festas ou nas orações. Podemos entender por que seria uma situação incompatível com a família de nosso tempo. Por outro lado, sendo a família aberta e as cidades e ruas um emaranhado de relações sociais, as crianças se fundiam neste ambiente, sem nenhuma

discriminação

de

idade,

raça,

nobreza,

condições sociais. Reparamos que a criança não é o centro de nada: é sempre vista onde há pessoas ou relacionando-se de alguma maneira. Outra

curiosidade do

século XVII,

que vai

mostrar a idéia de laços de família, são as semelhanças de traços fisionômicos. E se ainda

não havia o

“sentimento” familiar, a família silenciosamente existia. De repente, no século XVIII, a família começou a fechar-se para a sociedade, dentro de seus próprios muros. As novidades consistiam na preocupação em defender-se do mundo e na necessidade de isolamento. Para isso, uma nova organização doméstica separou parentes dos serviçais e de outros elementos. Os pais começam a preocupar-se com a educação, a formação profissional e o futuro de seus filhos. A criança assume seu lugar junto aos pais. Aquelas famílias estranhas ou as “amas”, que recebiam as crianças para ensinar-lhes algo, começam a ser substituídas por “escola” (aquela escola onde antes somente os clérigos frequentavam). É claro que esta transição foi lenta, visto que durante um grande período só os ricos, os nobres, a burguesia, os

lavradores

mudança.

e

os

artesãos

participaram

dessa

Aula 1 | A descoberta da criança

13

...ainda no século XIX, uma grande parte da população, a mais pobre e a mais numerosa, vivia como as famílias medievais, com as crianças afastadas das casas dos pais. (Ariès, P. 1981, p. 271)

Meninas X Meninos A escolaridade para as meninas difundiu-se a partir do século XVIII e início do século XIX. Até então, com raras exceções, continuavam a ser educadas pela prática da vivência de hábitos e costumes, muitas vezes

em

casas

alheias.

Poucas

meninas

eram

encaminhadas aos conventos ou a “pequenas escolas”. Quanto

aos

escolarização

meninos, foram

os

os

primeiros

filhos

da

a

ganhar

classe

média

(comparando aos nossos dias), com a educação prática sendo

substituída

por

uma

mais

teórica,

nas

Academias. O que persistiu até hoje desse tipo de educação diz respeito à educação artesanal e operária. Agora já existe uma divisão entre os espaços público e privado. Ter o mesmo sangue é significativo, com a criança saindo das sombras, sendo cuidada pela família conjugal. A criança começava a ser alguém! Podemos até dizer que ela estaria começando a ser construída. Fora da família, a criança estará sob o controle de instituições do Estado, principalmente a escola. O que antes acontecia de maneira espontânea começou a ser enquadrado em projeto político do Estado, com a educação preenchendo espaços não só geográficos, mas também psicossociais. É fácil perceber aqui que o espaço de construção da criança restringiu-se tanto fisicamente como socialmente e psicologicamente. Ao contrário do que pareceria à primeira vista, a importância dada à criança, na família, é fruto de uma nova organização sociocultural muito mais que uma descoberta da criança. (Redin, 2000, p. 18)

Aula 1 | A descoberta da criança

Dica de filme

14

A era industrial instalava-se. As classes sociais, com características distintas (dirigentes e liberais lá, proletários cá), não viam a criança da mesma maneira.

Procure em uma locadora de vídeo uma das versões de “O Jardim Encantado”, filme que mostra o relacionamento criança/família/classes sociais, numa deliciosa história passada na Inglaterra, na época que estamos comentando. A primeira versão, da década de 40, é a minha preferida. A nova versão foi feita nos anos 90, com o nome de O Jardim Secreto.

A escola, começando a ser pública, tinha como meta preparar a criança para a nova era que nascia, com função realmente instrumental. Não há preocupação com a experiência vivida, os horários são longos, os programas restritos ao ensino profissional, ...sua disciplina define um saber-sercriança feito de passividade, de obediência cega, numa pedagogia de intimidação. (Meyer, 1977, p. 23) A

princípio

lento,

o

trabalho

estatal

de

uniformização social e de unificação é acelerado nos últimos 25 anos do século XIX, regulamentando a atividade da mulher em casa, a união da família, a ida Para refletir

das crianças à escola, a estabilidade empregatícia do homem, a especificação das famílias, o controle dos

Pense em instituições de Educação Infantil que você conhece e como são atendidas as necessidades básicas ou especiais das crianças. Poderia registrar o que chamou a sua atenção?

costumes familiares e a separação da comunidade social. Fica claro que esses eram os padrões de comportamento que estavam sendo impostos ao “homo industrialis”. Donzelot diz com clareza que a nova forma de organização social e da família é fruto da evolução políticoeconômica da época moderna, a partir da revolução burguesa do século XIX. (Redin, id., p. 21) Ora, a forma de família restrita e monogâmica foi praticamente imposta pela classe média, que assim a poderia controlar e vigiar. E se a era industrial precisava de um povo estável, uma família nestas condições seria mais submissa às novas regras e ordens. O momento hoje da família e de seus membros, individualizado, é altamente especializado. Observando o espaço da criança e do homem, encontramos espaço

Aula 1 | A descoberta da criança

15

de lazer, de dormir, de comer, de passear, das relações sociais e comerciais. A criança tem tanta atenção especializada que a sua realidade poderá ficar difusa, fragmentada. Antes dependente, depois em busca de sua

autonomia,

ela

encontrará

pela

frente

“especializações” como o play-ground, o quarto da TV, a creche, o jardim da infância, o pré-escolar. Parece ter sido ontem o início da história da infância! Mas juntos, neste segundo módulo, vamos caminhando para um conhecimento mais especializado da criança e de suas necessidades. Mudou a família, mudou o mundo!

A

grande

descoberta:

a

criança

tem

“alma”! Você talvez tenha ficado surpreso com o nosso subtítulo, mas é verdade A partir do fim do século XIX, uma grande descoberta se fez: denominamos de “alma” apenas para chamar sua atenção (simples jogo de palavras), visto que nos estamos referindo ao sentido de psiquismo, “...de atividade biopsíquica, de conjunto funcional destinado ao registro dos afetos e emoções e à elaboração dos pensamentos e dos atos.” (Manfredini, 1970: 7). Este psiquismo ativo está voltado para todas as áreas da existência interna e externa da criança, numa vivência ativa de tudo o que ocorre em torno e dentro dela. Já não mais bastaria contemplá-la, afagála e deixá-la crescer: seria preciso estudá-la. Se toda relação humana estabelecida com a criança é educativa, observamos que família e escola parecem ter seus papéis um tanto misturados. Tentando discriminá-los, vemos que o espaço e o tempo infantil na família estão relacionados à total dependência inicial e ao início do desenvolvimento socioemocional,

intelectual

e

afetivo,

além

dos

aspectos físicos, básicos, para viver e conviver no

Aula 1 | A descoberta da criança

16

grupo social (mundo/família). O espaço e o tempo formalizado da educação infantil exigirá pessoal especializado para a função educativa explícita a que se propõe, com o objetivo de atender as necessidades específicas de comunicação, de arte, de ludicidade, da área cognitiva e de vida prática, predispondo a criança à educação fundamental. Pedimos sua atenção para o fato de termos

Importante

usado o termo “predispondo” e não “preparando” Predispondo lembra algo que queremos fazer ficar “pronto” dentro de suas características e desenvolvimento. Preparando lembra algo que queremos que fique “pronto” de qualquer maneira.

para a etapa seguinte. Numa instituição de Educação Infantil, adultos e crianças reúnem-se, a partir das necessidades e desejos dos diversos grupos, buscando objetivos comuns. A instituição, sem ser uma família, é familiar, com rotinas e organização próprias, leis e escolhas,

voltadas

para

proporcionar

bem-estar,

segurança e orientação adequada no período em que adultos e crianças convivem na comunidade escolar. Já nos referimos à qualificação do profissional para

a

educação

especializado. dedicado

ao

infantil

Nosso

como

próximo

conhecimento

necessariamente

tópico, das

porém,

será

características

evolutivas de zero a seis anos, evidenciando o porquê da necessidade dessa especialização.

Conhecer para conviver melhor Para podermos saber como proceder ao longo do desenvolvimento das crianças, faz-se necessário o conhecimento

dos

seus

aspectos

evolutivos.

Este

conhecimento será extremamente facilitador para a elaboração das atividades que se deverão programar para cada etapa vivida no mundo-escola. A criança ao nascer trouxe a expectativa do tipo de pais que viriam ao seu encontro. A totalidade de suas experiências com eles e com o mundo

Aula 1 | A descoberta da criança

17

determinarão, agora, sua forma de querer e receber um filho. (Aberastury, 1973, p. 88) A CRIANÇA DE ZERO A DEZOITO MESES O afeto deverá estar presente em todos os

Dica da professora

momentos de atenção a um ser tão frágil como a criança. Os sentidos de um bebê funcionam como a porta de entrada para o mundo. Nos primeiros oito meses de vida, enquanto o sentar e o engatinhar vão acontecendo, estimular corporalmente é essencial para a descoberta do corpo. A vida dos bebês não se restringe unicamente a comer, dormir, fazer xixi e ter a pele cuidada para não “assar”. São importantes as massagens

comuns

ou

tipo

shantala

(indiana,

maravilhosa), os exercícios com bolas enormes, sobre as quais os bebês são colocados seguros pelo adulto (para exercícios de equilíbrio, movimento e espaço), e os exercícios de exploração em barra fixada na parede, para quando começarem a sustentar o corpo em pé, como apoio. Os

estímulos

auditivos

chegam

através

de

cantigas, conversas e brinquedos que produzam sons. Da mesma maneira, devem-se apresentar e oferecer objetos com cores bem vivas (mesmo o roxo, o laranja e o preto), para que a discriminação visual não fique restrita a tons pálidos ou pastéis, mais difícil. O ambiente ao alcance das mãos, dos olhos e dos ouvidos do bebê deve estar arrumado de tal maneira que, mesmo sem o adulto, ele possa interagir. O movimento de apreensão será exercitado através de brincadeiras que aproveitem o segurar ou agarrar. Mais tarde o bebê estará com confiança segurando sua mamadeira sozinho. Sabemos que, próximo ao segundo ano de vida, o copo e a colher estarão quase sendo segurados perfeitamente, para que o bebê se alimente já no prato.

Tente fazer observação de bebês que estejam com 3, 6 e 9 meses. Registre as diferenças motoras observadas.

Aula 1 | A descoberta da criança

18

Para

as

conquistas

que

chegam

com

a

maturidade biológica (andar, engatinhar, andar, montar cubos, encaixar, controlar esfíncteres), será necessária ...uma maturidade racional e emocional do adulto que se relaciona com ela: cabe ao adulto, a partir de suas atitudes, assegurar à criança condições para que ela possa se organizar e realizar as conquistas que sua maturidade biológica lhe permite. (Craidy, M. 1998, p. 35) A experimentação é a atividade primeira dos bebês, que estarão provando, mexendo, lambuzandose de papa com suas mãos ou colheres ou marcando com “sujeira” o ambiente, coisas e gente que o cercam. Sua comida espalhada é experimentação e o adulto deve entendê-lo como tal. Mais tarde, as marcas deixadas pelos bebês serão registros de papéis picados, brinquedos

mordidos,

marcas

de

dentes

nos

amiguinhos. Futuro?... Material gráfico-plástico usado como meio de expressão será também sua marca. DESCUBRA QUEM VAI FALAR EM BREVE Fala e desenvolvimento corporal têm tempos diferentes de amadurecimento. A gestualidade tem a ver com o corpo todo, enquanto a fala está restrita à boca. Mas a boca tem importante papel nos dois primeiros anos de vida: tudo que a criança pega leva à boca, é a boca que emitirá os sons do choro, os gritos e os risos e que proporcionará o prazer advindo dos alimentos. O fato de não estar ainda falando não impede que a criança desempenhe atividades variadas e vá conhecendo melhor a si mesma e as pessoas com quem interage. Através das diversas utilizações da fala que interagem com as crianças é que elas vão construindo o sentido, percebendo a necessidade da fala e produzindo o desejo de tornarem-se fa

Aula 1 | A descoberta da criança

19

lantes, de expressarem-se através desta linguagem. Se até aprenderem a falar suas necessidades e desejos são expressos em grande parte através da gestualidade, apontando objetos, coisas e lugares, a partir do momento em que começam a organizar-se intencionalmente, a gestualidade passa a funcionar como um acessório da fala, não mais como linguagem principal através da qual se comunicam e conhecem sobre si e o mundo. (Craidy, M. 1998, p. 38) Neste

ponto,

vamos

destacar

algumas

Dica de leitura

conclusões de Piaget, referindo-se a este estágio de desenvolvimento.

Tais

conclusões,

reafirmadas

por

inúmeros pesquisadores, são consideradas básicas para a nossa compreensão dos aspectos sequenciais do desenvolvimento. Mesmo que cada indivíduo apresente um ritmo diferente, a ordenação dos estágios é a mesma para todos (resultante básica do fato de o desenvolvimento ser um processo combinatório de gênese e estruturas). Cada estrutura é um subsídio para as posteriores, que têm dentro de si as anteriores. Difícil?... É só você entender que cada pessoa tem um ritmo e construirá seu desenvolvimento dentro de suas condições genéticas, em combinação com o que lhe será oferecido de solicitações e condições ambientais. Voltando ao nosso bebê, o importante é sempre lembrar que o término do período, situado por Piaget entre zero e dois anos (assim como qualquer outro), não tem data rígida para acontecer. (...) O que indica que a criança já não está mais nesta etapa é a linguagem. Este é o período sensório-motor, que se estende do nascimento do bebê até a aquisição da linguagem. (...) Houve uma grande evolução que pode ser facilmente constatada, do bebê recémnascido, preso a comportamentos reflexos, até esta criança que se apre-

Agora, você está começando a sentir a importância de Piaget para a educação. Complemente seus estudos lendo Seis Estudos de Psicologia, um conjunto de artigos e conferências do mestre, que apresentam o essencial de suas descobertas e a abordagem de alguns problemas centrais como pensamento, linguagem e afetividade, sob a ótica da dupla perspectiva genética e estruturalista. PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense universitária, 1972.

Aula 1 | A descoberta da criança

20

senta possuidora de novos esquemas e capacidades. A principal característica de atividade inteligente neste período se dá através de ações diretas do sujeito sobre a realidade. (Sucupira da Costa Lins, 1983, pp. 2223) Importante

 Fale normalmente com a criança, sem os famosos diminutivos, que não acrescentam coisa alguma ao desenvolvimento qualitativo e quantitativo da fala.  Ajude a criança a arriscar-se na oralidade, fazendo perguntas claras sobre o objetivo do gesto que ela está executando. Se a criança continuar em silêncio repetindo o gesto, o adulto agirá como se estivesse respondendo: “Já sei! Você quer banana. Vou dar a ba-nana agora.”  A voz humana é envolvente, e cada pessoa tem sua própria melodia, ritmo e entonação vocálicas

peculiares.

acompanhamentos,

Cante,

com

ou

faça

gestos

sem que

acompanhem o ritmo ou a canção, abuse de brincadeiras com sons onomatopaicos e use CDs ou fitas de vídeo ou áudio como recursos estimulantes.  Explore os sons dos objetos e situações domésticas. Dica da professora

“Invente”

instrumentos

com

material de refugo (latas, caixas, potes de iogurte).

Visite lojas de brinquedos e livrarias. Registre alguns dos materiais mais comuns e se realmente demonstra condições de serem manuseados pelas crianças mais jovens.

O “LIVRO-OBJETO” Sendo

tudo

pelo

sensório-motor,

lance

na

banheira algo com formato livresco, colorido e plástico ou de borracha, para já despertar a atenção do bebê, que ainda não tem nem seis meses. Uma delícia,

Aula 1 | A descoberta da criança

21

aquele objeto aparecer na água tépida, acompanhado da voz querida de quem dá o banho. Dos seis aos doze meses, os livros de pano (não necessitam

de

texto),

com

ilustrações

grandes

referentes a determinado tema, já fazem sucesso, principalmente se acompanhados de algum estímulo sonoro (falamos dos sons de animais, guizos). Se de papelão, que os livros sejam resistentes, com formas divertidas e figuras coloridas, sem texto. Como serão “comidos”, também, ao comprá-los verifique se são confeccionados com material atóxico e hipoalergênico. A CAMINHO DOS DOIS ANOS Agora o corpo desloca-se, de uma maneira ou

Importante

de outra, passando esta possibilidade de deslocamento a ser a grande atração para a criança, que vai preferir as coisas que puder carregar. Nossa criança estará mais exigente, necessitando de estímulos sensoriais (texturas

variadas

para

o

material),

de

formas

conhecidas (livros-carro ou livros-casa, com formas de

Histórias “reais” sobre crianças, animais domésticos, alimentos, frutas, família são sempre bem pequenas e com poucos detalhes.

animais) e de ações como puxar cordões, dobrar partes internas, cobrir e descobrir. Seus assuntos dizem respeito aos hábitos, aos brinquedos, ao que usa, ao que come. A oralidade está se instalando, cresce o

Dica da professora

interesse em ouvir o mundo e as pessoas. O adulto introduz pequenas narrativas com os “assuntos” já mencionados

em

momentos

estrategicamente

escolhidos (antes ou depois das atividades rotineiras). As

pequenas

histórias

“reais”

poderão

ser

acompanhadas de dramatizações com o próprio livro, com fantoches, com algo pertencente à criança. Os textos continuam desnecessários ainda que se faça de conta que haja leitura, com o ato de abrir e passar as folhas

do

livro

para

a

criança.

estabelecer o momento da história?

E

por

que

não

Lembre-se de que, mesmo sem a presença das caixas de texto, esta margem pode ser usada para fazer suas anotações!

Aula 1 | A descoberta da criança

22

A CRIANÇA DE DOIS ANOS Melhor do que fixarmos datas precisas para o início e o fim das “fases evolutivas” é preocuparmo-nos com o que poderá estar ocorrendo numa visão global do desenvolvimento, conhecendo as

características

evolutivas de dois a seis anos. Aos

dois

anos,

pesando

entre

10

e

13

quilogramas, a criança necessita ainda de repouso à tarde e de um mínimo de 10 horas de sono à noite. A bexiga já tem capacidade para conter mais urina, mas o desenvolvimento muscular ainda é insuficiente para que consiga um controle esfincteriano perfeito. COORDENAÇÃO

GLOBAL,

EQUILÍBRIO

E

CONHECIMENTO CORPORAL:  coloca-se em posição bípede e anda;  corre

com

dificuldade,

embora

não

caia

muito;  sobe escadas, a cada movimento apoiando os dois pés em cada degrau;  percebe-se no espelho e aponta algumas partes do corpo;  salta desajeitadamente;  mantém-se em pé e imóvel sobre um banco, com os pés juntos, durante segundos;  desenha garatujas. COORDENAÇÃO

DE

MÚSCULOS

MENORES

(MUSCULATURA FINA):  Copo e xícara são usados sem derramar muito líquido e começa a comer sozinha usando a colher;  Tira os próprios sapatos e fecha zíper;

Aula 1 | A descoberta da criança

23

 Possui capacidade de preensão nos dedos para segurar objetos, colocá-los um ao lado do outro, enfiar contas grandes em fios, folhear páginas;  Transporta coisas e aponta objetos com o indicador;  Consegue copiar uma linha nos sentidos vertical ou horizontal, mas ao dobrar papel ou ao manejar um pincel ainda apresentam dificuldade;  Começam a “construir” torres de até oito peças empilhadas. COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO E PERCEPÇÃO:  Usa frequentemente a palavra não;  Atende pelo próprio nome;  Sua linguagem torna-se útil;  Começa a construir frases curtas e simples;  Descreve objetos em termos de suas funções;  Explora o mundo pelos sentidos;  A preferência por algumas cores já se faz sentir e distingue preto e branco;  Nomeia objetos, reconhece figuras e classifica algumas figuras geométricas em termos de forma;  Mantém

atenção

concentrada

por

aproximadamente cinco minutos (às vezes mais);  Alguma noção de quantidade já é percebida e até começa a enumerar coisas;  Lembra-se

do

lugar

onde

deixou

certos

brinquedos e objetos. A SOCIOAFETIVIDADE:  Chamando-se pelo próprio nome, já distingue meninos e meninas e conhece a diferença entre “eu” e “você”, mas não entende o “nós” muito bem;

Aula 1 | A descoberta da criança

24

 O momento é do “eu” x “eu”; a sociabilidade Dica da professora

Você confirma estas características com a sua experiência?

é pouco diferenciada, com atividade lúdica solitária; ainda não divide os brinquedos;  Com atividade viva e explosiva, gosta de controlar os outros e de dar ordens;  Fazendo as coisas a seu modo, irrita-se com interferências, manifestando emoções sem controle; comuns nessa época são o morder, o beliscar e o bater;

Dica da professora

Seria ótimo, neste momento, um exercício de observação de crianças desta idade, em uma creche, playground ou classe de um jardim de infância. Sugiro a técnica de observação tipo “protocolo-corrido”: anotar apenas os comportamentos observados, sem interpretação, sem “achar” coisa alguma, isto é, visando a um claro e simples registro do “fazer” da criança.

 Para a criança nesta fase, fazer escolhas não é

fácil

e

provavelmente

demonstrará

ansiedade quando fracassar;  Gosta de dar ordens, de controlar as pessoas e de manter distância de estranhos. ORIENTAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL:  Já com noções de localização, é capaz de grandes explorações no espaço (em cima/em baixo, dentro/fora);  “aqui” e “lá” já são compreendidos;  Encaixa

formas

geométricas

simples,

em

locais de experimentação;  Tendo

noção

sequências

do

simples

“agora”, sem

compreende

referências

ao

passado. A CRIANÇA DE TRÊS ANOS As “cinturinhas” de bebê definitivamente se foram embora. Vemos agora uma linda e esperta criança que provavelmente pesará de treze a dezesseis quilogramas, com um tempo de atenção que ultrapassa dez ou quinze minutos. O sono da tarde deveria continuar acontecendo, mas este hábito no Brasil não é muito aceito pelos pais. O adulto acredita que se a criança dormir à tarde custará a dormir à noite. Nós, educadores, sabemos que na verdade o ritmo e o

Aula 1 | A descoberta da criança

25

horário das famílias resultaram em mudanças de hábitos variadas que afetaram de alguma maneira a dinâmica da vida de seus membros. COORDENAÇÃO

GLOBAL,

EQUILÍBRIO

E

CONHECIMENTO CORPORAL:  Alternando os pés, corre, salta, pula, sobe escadas e pode parar por alguns momentos equilibrando-se em um pé só; também já salta com os pés juntos sobre algo estendido no solo;  O equilíbrio está bem melhor e a postura, automatizada;  Reconhecendo partes

do

e

nomeando

corpo,

calça

as

diferentes o

sapato

correspondente a cada pé;  Faz tentativas em desenhar uma pessoa. COORDENAÇÃO

DE

MÚSCULOS

MENORES

(MUSCULATURA FINA):  Os dentes já são escovados com ajuda, usa corretamente a colher e até o garfo pequeno; os utensílios podem ser segurados pelas alças,

mas

com

dificuldade

em

despejar

líquido de um recipiente para outro;  Guarda suas próprias roupas e pode vestir-se se não existirem cordões para desamarrar; abotoa grandes botões, mas ainda não dá laços;  As torres têm mais de nove peças e suas construções são equilibradas e ordenadas;  A tesoura sem ponta pode ser utilizada; gosta de manipular a massa de modelar e faz cópias de círculos e de cruzes; também dobra uma folha de papel na horizontal ou na vertical.

Aula 1 | A descoberta da criança

26

COMUNICAÇÃO, EXPRESSÃO E PERCEPÇÃO:  Muito curiosa, a criança entra na fase dos “por

quês”

(pensamento

finalista:

na

realidade, quer saber a finalidade, o “para quê” das coisas);  Já

sabe a

sua

idade, diz

seu

nome e

sobrenome e nesta fase fala consigo mesma e com pessoas imaginárias (algumas deixam até um lugar para o “amiguinho” que vai chegar para brincar);  Forma frases completas;  Poderá passar por fase de gagueira, que depois desaparecerá;  Ainda não discrimina realidade e fantasia (vamos explorar histórias e assuntos mais adequados em um próximo módulo);  Classifica

objetos

por

cor

ou

forma

e

reconhece as cores primárias;  Os detalhes chamam a sua atenção e começa a identificar, classificar e comparar;  O quente e o frio são determinados;  E, muito importante, aumenta o interesse em ouvir. A SOCIOAFETIVIDADE:  Está interessada na diferença fisiológica entre os sexos;  Percebendo os outros e a diferença entre “eu” e “nós”, usa o “meu”, demonstrando noção do eu e de posse;  Os

adultos

são

imitados,

é

capaz

de

dramatizar e consegue esperar sua vez nos jogos;  Ora tímida, ora extrovertida, poderá fazer “birra”, gritar. (comportamentos que estarão acontecendo na época apropriada);

Aula 1 | A descoberta da criança

27

 Está mais conformada com as atividades rotineiras,

apesar

de

ainda

um

pouco

ritualista;  Julga e escolhe entre duas opções. ORIENTAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL: Importante

 Tem noção da casa e de suas divisões, reconhecendo a ordem dos objetos familiares;  Percebe o espaço onde se dá uma ação e orienta-se em itinerários simples;  Tem

vocabulário

razoável

(mais

de

dez

palavras para designar o tempo). Em resumo, eis o que você pode saber sobre as crianças de três anos: Amam os animais, a água, as plantas; são grandes apreciadoras da natureza. Necessitam de vigilância constante, visto que são atiradas e aventureiras, e incapazes de medir alturas, distâncias ou tempo. Parecem desconhecer qualquer forma de perigo. Muito sensíveis aos impulsos do momento, a criança de três anos necessita de:  experiências motoras;  experiências sensoriais;  experiências sociais. A serenidade é característica indispensável a quem lida com crianças dessa idade. A CRIANÇA DE QUATRO ANOS Pesando dezoito

aproximadamente

quilogramas,

a

criança

de

dezesseis

de

quatro

a

anos

Vamos identificar: Experiência motora; experiência sensorial; experiência social.

Aula 1 | A descoberta da criança

28

apresenta

integração

do

automatismo

corporal.

É

vigorosa nas brincadeiras, tem movimentos graciosos e sua rítmica corporal está repleta de novas conquistas e habilidades: anda com firmeza, corre mais depressa e trepa em lugares altos e difíceis. Fica de pé sobre uma perna só, salta para frente com os pés juntos e dá saltos no mesmo lugar; caminha na ponta dos pés. “Encaixar” e “construir” são atividades que executa com propósitos em vista. Ao ar livre é irrequieta: necessita de gastar a energia que tem. Pode andar de bicicleta, jogar bola e aprender a nadar. Dica de leitura

Seu vocabulário é rico (mais de 2000 palavras) e pode se concentrar por períodos de quase trinta

Você vai adorar De onde viemos? da Editora Mosaico, com ótima tradução, que recebeu o prêmio do “53d Annual of Advertising and Televison Art and Design”. É acessível às crianças e agradável a pais e educadores. MAYLE, Peter. Traduzido por A. M. Santos e M. Rittnes. De onde viemos? São Paulo: Mosaico, 1980.

minutos, às vezes até em atividades criadas por elas mesmas. Faz perguntas e se interessa praticamente por tudo:

morte,

máquinas.

nascimento,

Demonstra

Deus,

outras

curiosidade

pessoas,

pelos

órgãos

genitais, pelo nascimento dos bebês e pelas diferenças sexuais. Reconhece as partes do corpo, interessando-se por gestos e roupas dos adultos. COORDENAÇÃO

DE

MÚSCULOS

MENORES

(COORDENAÇÃO FINA):  Realiza “construções” elaboradas, podendo até fazer combinações entre várias “obras”;  Pode

vestir-se,

abotoar

suas

roupas

e

distinguir frente e atrás; na higiene pessoal, até banho consegue tomar sozinha (!);  A figura humana está presente nos desenhos e retrata coisas que já viu;  Recorta

papel

e

segura

pincel

(seu

movimento de pinça está amadurecendo); a atividade de colagem é apreciada;  Com agulhões (já os temos de madeira) “borda” em materiais como a talagarça.

Aula 1 | A descoberta da criança

29

COMUNICAÇÃO, EXPRESSÃO E PERCEPÇÃO:  Gosta muito de palavras sem sentido e de palavrões;  Se

perguntada,

diz

nome,

sobrenome

e

idade; pequenas canções são cantadas muito bem e faz perguntas todo o tempo;  É a época em que fala muito sozinha e sua imaginação é muito fértil;  Reconhece cores e tonalidades, tamanhos e formas geométricas;  Apesar de já ter ideia das coisas abstratas, necessita

principalmente

de

vivências

e

experiências; na verdade, as “ideias” nesta idade são maiores que as capacidades;  Reconhece objetos pelo tato, mesmo sem vêlos. A SOCIOAFETIVIDADE:  Suas emoções são extremas: ou gostam muito ou detestam muito;  Importante agora é o desenvolvimento do sentido do “eu”: tem mais noção dos limites (meu, teu, nosso, certo/errado);  Fisicamente afetuosa, segrega os sexos nas brincadeiras, já demonstrando autoritarismo, expansividade e iniciativa;  Gosta muito de ser elogiada e se autoelogia;  As demonstrações de medo são evidentes: recomenda-se cuidado com a temática das histórias

contadas

à

criança

(estamos

incluindo o que chega através de filmes, da TV e dos teatros a que assistem);  Na verdade, “onde” e “quando” ainda não são claramente discriminados; certo e errado, com firmeza amiga, por parte do adulto, já são identificados;

Aula 1 | A descoberta da criança

30

 Orientação espacial e temporal: como tem noção

de

rua

e

de

cidade,

representa

itinerários mentalmente;  Emprega com exatidão o vocabulário relativo a espaço, no sentido de direção e/ou de posições;  Demonstra noção de duração das situações vividas e o vocabulário sobre o tempo está aumentando. A IDADE DE OURO (COMO A CHAMARIA BLOOM): A CRIANÇA DE CINCO ANOS A criança de cinco anos apresenta um evidente progresso em seu crescimento; são mais altas e com proporções diferenciadas da de quatro anos. Dica da professora

Aos dois anos, era gordinha; aos três e quatro anos, bem feita e compacta; aos cinco anos, as pernas

Estaremos comentando a seguir o essencial desta idade, lembrando que, em outras aulas e disciplinas, continuaremos comentando as características das diversas faixas etárias.

são longas e tem fisionomia de menina ou de menino, não de bebê. Com ares importantes, refere-se aos menores como pirralhos do “maternal”. Quer ser reconhecida, necessitando de apoio e responsabilidade delegados por quem lida com ela. Os traços que caracterizam a sua personalidade

podem

ser

reconhecidos.

Planeja

atividades: a ideia precede a ação, o que significa pensar antes de agir. Com um vocabulário muito rico, vence maiores dificuldades de pronúncia e faz muitas e interessantes perguntas. Quando vai a certos lugares, como o supermercado, “lê” algumas palavras, já reconhecidas de objetos e embalagens de seu dia a dia.

Aula 1 | A descoberta da criança

COORDENAÇÃO

31

GLOBAL,

EQUILÍBRIO

E

CONHECIMENTO CORPORAL:  Precisão e destreza

Quer saber mais?

na

motricidade para

pedalar, correr, sentar ereta, nadar, atirar e virar cambalhotas;  Tem

bom

conhecimento

das

proporções

corporais;  Apresenta

independência

total

em

suas

necessidades (bexiga e intestino). COORDENAÇÃO FINA:  A motricidade fina está mais hábil: dá nós simples, modela, manipula, constrói, veste-se só;  Domina as atividades gráfico-plásticas, dentro de limites: amarra, abotoa, usa até faca ao comer;  Escreve seu primeiro nome. CARACTERÍSTICAS SOCIOAFETIVAS A criança de cinco anos, com iniciativa e ideias próprias,

é

mais

autocrítica

e

segura.

Continua

apresentando ansiedade em relação a coisas cuja explicação desconhece, mas aceita regras e limites, conseguindo jogar cooperativamente. É sociável, já tem interesse

pelos

vizinhos

e

pessoas

novas,

demonstrando sentido mais seguro do “eu” (também aparecem

juízos

de

valor

sobre

seu

próprio

comportamento).  A mãe continua sendo o centro de seu universo,

embora

esteja

muito

mais

independente dela;  Inicia atividades grupais, ainda que com fins mais individuais do que coletivos.

Neste momento, você perguntará por que Piaget não está sendo citado frequentemente. O que estamos levando até você é uma contribuição ao melhor aproveitamento da leitura de A Teoria de Piaget e a Educação PréEscolar, de Constance Kamii e Rheta Devries, em especial o capítulo II das “Implicações Pedagógicas”.

Aula 1 | A descoberta da criança

32

ORIENTAÇÃO TEMPORAL:  A criança de cinco anos interessa-se pelo tempo

presente,

compreendendo

perfeitamente bem dia/noite, manhã/tarde;  Maneja

os

termos

referentes

ao

tempo,

adequadamente. Você sabia?

Finalmente,

as

palavras

da

mestra

Sarah

Margareth Dawsey: “... são muito dramáticas e vivem Sabia você que todas as “criançasprodígio” foram descobertas por volta dos cinco anos? Faça uma pesquisa, só de curiosidade!

grande parte do tempo no mundo da imaginação. Gostam de histórias de fadas e são muito curiosas. Adoram que os adultos leiam para elas a respeito de outros povos e a função destes na sociedade, (...). Não podemos confundir este interesse com prontidão para começar a aprender a ler. Estas crianças gostam de fazer excursões e começam a compreender o mundo que as rodeia. As crianças de cinco anos precisam de muito apoio, responsabilidade, brinquedos de grupo, oportunidade para concentração e boa orientação.” A CRIANÇA DE SEIS ANOS Se de dois a cinco anos, os músculos maiores eram mais usados; aos seis, os músculos menores estão bem mais controlados e praticamente “prontos”. A visão binocular está amadurecendo (coordenação dos olhos para focalizar longe e perto com facilidade), tornando-se normal.  O crescimento físico é acentuado e difere-se do de outras idades pela perda dos dentes de leite;  Veste-se e despe-se sozinha;  Precisa de espaço e descanso, pois se cansa sem o saber.

Aula 1 | A descoberta da criança

33

COMUNICAÇÃO, EXPRESSÃO E PERCEPÇÃO:  Canta muito, dramatiza, faz comparações e tem senso de humor apurado;  Levar recados é algo que lhe agrada e quando ouve

palavras

novas

gosta

de

repeti-las

(usando, inclusive, palavras estranhas);  Suas vivências são relatadas com prazer, querendo mesmo transformar o mundo num laboratório

de

experiências;

perguntas,

gosta

de

faz

planejar

muitas passeios,

querendo fazer tudo à sua moda; o adulto deve encorajá-la a “ouvir” e a saber falar na hora

apropriada,

expressão

sempre

livre,

desenvolvimento

estimulando

para do

um

a

bom

vocabulário

em

conversações (a criança sempre deverá ouvir palavras pronunciadas corretamente).  O interesse pelas horas já se faz notar e tenta identificar e aprender semana, mês e ano;  O interesse por ciências é muito acentuado, querendo sempre respostas e informações honestas;  Dá notícia das ocorrências mundiais, gosta de ter acesso ao computador para “jogar” e sua concentração

pode

ultrapassar

sessenta

minutos;  O mundo do faz-de-conta agora é bem identificado;

as

aventuras,

as

fadas,

os

piratas, os animais e os personagens de outros contos e histórias, com habilidade do narrador, desbancam os super-heróis;  Sente necessidade da matemática e seu desenvolvimento

favorece

um

interesse

natural e crescente pela leitura (curiosidade pela língua escrita).

Aula 1 | A descoberta da criança

34

Antes de terminarmos nossa aula, faça uma última reflexão sobre o desenvolvimento com Sucupira Lins (1978): ...basicamente, pode-se observar que o desenvolvimento é um processo gradativo, e que não ocorre num dado momento isolado como um elemento único. Podemos sintetizar numa só ideia toda esta abordagem sobre o desenvolvimento do indivíduo, enfatizando-se a necessária relação da interação sujeito/objeto. É somente por meio da atividade do sujeito sobre o ambiente que se realiza o desenvolvimento, na medida em que ele modifica e é modificado por este ambiente. (Sucupira da Costa Lins, 1978, p. 9)

EXERCÍCIO 1 Do ponto de vista socioafetivo, para a criança de três anos, é correto afirmar que: ( A ) Ainda não percebe a diferença entre o “eu” e o “nós”; ( B ) Já tem um comportamento bastante ritualístico; ( C ) Não é capaz de julgar e escolher entre duas opções; ( D ) Já tem um comportamento estável sem oscilação de humor; ( E ) Está interessada na diferença anatômica entre os sexos.

Aula 1 | A descoberta da criança

35

EXERCÍCIO 2 Em relação à comunicação, à expressão e à percepção da criança de dois anos é correto afirmar que: ( A ) Não atende pelo próprio nome; ( B ) Usa frequentemente a palavra NÃO; ( C ) Sua linguagem ainda não é útil; ( D ) Ainda não distingue a cor preta e branca; ( E ) Ainda não constrói frases.

EXERCÍCIO 3 Descreva as principais características evolutivas das crianças de zero a dezoito meses. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

EXERCÍCIO 4 Descreva

algumas

características

da

comunicação,

expressão e percepção das crianças de seis anos de idade. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

Aula 1 | A descoberta da criança

36

RESUMO Vimos até agora:  A infância representada socialmente surge na civilização lentamente; referências antes do século XVII são praticamente obras do acaso;  A criança sob o controle de instituições do Estado, principalmente, a escola através de projeto político do Estado, com a educação preenchendo espaços não só geográficos, mas também psicossociais;  A experimentação é a atividade primeira dos bebês,

que

estarão

provando,

mexendo,

lambuzando coisas e gentes que o cercam;  Melhor do que fixar datas precisas para o início

e

o

preocupar-se ocorrendo

fim

das

com numa

desenvolvimento,

“fases o

que visão

evolutivas” poderá global

conhecendo

características evolutivas da criança.

é

estar do as

Objetivos

Apresentação

Eunice do Vale Madeira

AULA

O Desenvolvimento Humano

2

Nesta aula, acompanharemos o processo de desenvolvimento humano, a partir do desenvolvimento físico e suas consequências no desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Sabemos que o desenvolvimento físico segue uma linha evolutiva comum da espécie humana, e a criança apresenta certas constâncias que são universais. Entretanto, o educador não deve estar fixado nelas para o trabalho com crianças, pois deve compreender a singularidade delas.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:  Compreender os princípios do desenvolvimento físico humano;  Conhecer as progressivas conquistas das aquisições motoras na interação da criança com o meio;  Identificar os conceitos essenciais da teoria walloniana que influenciam a compreensão das atividades motoras da criança.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

Introdução Princípios do desenvolvimento físico humano Imagem do eu e o conceito corporal A organização do esquema corporal Conclusão

38

38

Introdução

38 45 48 56

Neste

percurso

que

faremos

juntos,

você

desbravará um universo encantador. Acompanhará uma criança que cresce, se movimenta e descobre o mundo. Será apresentado o passaporte de cada sujeito para a grande viagem que se inicia ao nascer: sua majestade, o CORPO. É através dele que, inicialmente, nos conhecem e temos a possibilidade não só de percebermos o que nos cerca como também darmos conta de nossa individualidade.

Importante

Dificilmente se poderia entender o ser humano sem lançar nosso olhar sobre os bebês. E não há como

Para toda criança ser e se sentir no mundo de maneira integrada e saudável é essencial seu autoconhecimento e a formação de uma imagem corporal que garanta sua própria identidade. Caso contrário, como poderá saber quem é ela própria e quem são os outros? Estados de despersonalização podem se configurar assim.

entendê-los

sem

desenvolvimento

conhecer físico

e

um motor.

pouco É

de

através

seu da

maturidade física e psicomotora que atividades básicas como andar, apontar, pegar, carregar objetos se tornam possíveis. Há uma sequência prEdeterminada no desenvolvimento, embora possa variar de época, respeitando a individualidade.

Princípios

do

desenvolvimento

físico

humano Durante os dois primeiros anos, são muitas as aquisições

motoras

da

criança.

Essas

aquisições

permitem uma independência cada vez maior para explorar o mundo que a rodeia, o que é fundamental para o seu desenvolvimento psíquico, sensorial e cognitivo. Para se começar a entender o processo global do desenvolvimento humano, é necessário conheçer os dois princípios que regem o desenvolvimento físico:

Aula 2 | O desenvolvimento humano

39

 Princípio cefalocaudal (de origem latina e grega

significando

“cabeça

à

cauda”).

O

desenvolvimento humano segue a direção da

Dica da professora

cabeça para as partes mais baixas do corpo, ou seja, as partes superiores do corpo se desenvolvem antes das inferiores.  Princípio proximodistal (de origem latina significando “do próximo para o distante”). O desenvolvimento humano segue a direção do que está mais próximo para o que está mais distante, ou seja, as partes próximas ao centro do corpo se desenvolvem antes das

É notória a imagem de um bebê cuja cabeça é acentuadamente desproporcional ao restante de seu corpo. Porém, nos primeiros meses de vida, rapidamente, a proporção se torna diferente e seu corpo atinge uma forma mais semelhante ao adulto.

extremidades. O bebê ao nascer sofre uma descontinuidade biológica e necessita se desenvolver para sobreviver no mundo em que acabou de chegar. Se comparado a outras espécies, seu aparato biológico parece deixá-lo em desvantagem. Entretanto, se ele não tem como suporte uma programação genética que lhe permita nascer “fazendo”, suas possibilidades são infinitas, necessitando de interagir com o meio que o cerca para desenvolvê-las. Entre a “bagagem” que o bebê traz, quando neurologicamente

saudável,

estão

os

reflexos.

Enquanto alguns deles desaparecem no primeiro ano de vida, outros permanecem, tais como: bocejar, espirrar, piscar. Importante

Vejamos,

a

seguir,

a

descrição

de

alguns

reflexos essenciais ao desenvolvimento físico humano:  Reflexo de sucção - quando a bochecha do bebê é tocada, sua cabeça se vira, sua boca se abre e movimentos de sugar aparecem. Este reflexo é de grande importância para a so-

Leia com atenção sobre estes reflexos e procure observar os bebês para comprová-los. Se possível, estimule o bebê para poder identificar os reflexos em ação.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

40

brevivência do recém-nascido. Sua ausência é sinal de grave comprometimento do Sistema Nervoso Central. Ele é obtido pela estimulação dos lábios do bebê (até o 3º mês);  Reflexo de preensão - quando a palma da mão do bebê é tocada, ele cerra os punhos e agarra a tal ponto que poderá ser levantado e ficar em pé, sendo capaz de apoiar o próprio peso. É obtido com a estimulação tátil na palma da mão, desencadeando, assim, um forte e duradouro movimento de flexão dos dedos, sem o uso do polegar, capaz de prender o objeto estimulante. O aperto com a mão esquerda é mais forte que com a direita (até 4 meses);  Reflexo de Babinsky - quando a sola do pé do bebê é tocada, seus dedos dos pés se abrem. Substituído aos 4 meses pelo reflexo plantar (até 12 meses);  Reflexo de Moro - quando o bebê ouve um barulho alto, ele estende as pernas, os braços e os dedos, curva as costas e leva a cabeça para trás (até os 6 meses);  Reflexo de andar - quando o bebê é segurado

sob

os

braços,

com

os

pés

descalços tocando uma superfície plana, ele é capaz de fazer movimentos como passos que parecem um andar bem coordenado. Percebe-se, portanto, que as aquisições motoras não acontecem aos saltos, são conquistas depois de muitas tentativas e erros, e são motivadas pela necessidade de exploração e interação com o meio sociocultural da criança. Assim, no caso de uma

Aula 2 | O desenvolvimento humano

41

avaliação do conjunto das habilidades motoras, não se deve apenas indagar as idades em que as mesmas aconteceram. É preciso avaliar a qualidade desses

Dica da professora

movimentos. Você já reparou num bebê recém-nascido? Ele não tem coordenação motora. Entretanto, grande

velocidade

seu e

desenvolvimento de

maneira

evolui

em

progressiva

nas

conquistas motoras à medida que se integra ao meio e explora o ambiente que o cerca.

Veja na página

seguinte este progressivo desenvolvimento, com alguns detalhes.

Tarefas de estabilidade

Habilidades selecionadas

Controle da cabeça e do pescoço

Vira para um lado Vira para ambos os lados Segura-se com apoio Desencosta o queixo da superfície de contato Bom controle em decúbito ventral Bom controle em decúbito dorsal Levanta cabeça e peito Tenta virar de bruço Rola com sucesso para ficar de bruço Rola de bruço para a posição de barriga para cima Senta com apoio Senta com o próprio apoio Senta sozinho Fica em pé com apoio Apoia-se segurando com as mãos Puxa-se para ficar em pé com apoio Fica em pé sozinho

Controle do tronco Sentar

Ficar de pé

Numa avaliação do desenvolvimento motor das crianças, utilize uma sala equipada com diferentes brinquedos que estimulem a criança e, também, permita a sua observação da intensidade e da qualidade motora dos movimentos da criança. Pode ser que você se surpreenda da divergência entre o que a família diz da criança e o que é constatável na observação.

Idade aproximada de início Nascimento 1ª semana 1º mês 2º mês 3º mês 5º mês 2º mês 3º mês 6º mês 8º mês 3º mês 6º mês 8º mês 6º mês 10º mês 11º mês 12º mês

Aula 2 | O desenvolvimento humano

42

Tarefas locomotoras

Habilidades selecionadas

Movimentos horizontais

Movimentos rápidos das pernas Arrasta-se Esgueira-se Anda em quatro apoios Anda com apoio Anda segurando com as mãos Anda com orientação Anda sozinho (mãos para o alto) Anda sozinho (mãos abaixadas)

Galope ereto

Idade aproximada de início 3º mês 6º mês 9º mês 11º mês 6º mês 10º mês 11º mês 12º mês 13º mês

Dizemos que a atividade do bebê é generalizada. Ele se mexe porque é dotado das funções tônica e motora. Mas atos coordenados que lhe permitam uma atividade diferenciada só serão alcançados através da maturação

motora

e

muscular

associada

às

experiências de seu cotidiano. A função tônica é a primeira e a mais importante forma de comunicação do ser humano, uma vez que, possibilitando-lhe contração e relaxamento, torna-se Para pesquisar

uma função de relação como função tônico-afetiva, depois como tônico-gestual e, finalmente, linguagem. A comunicação mãe-bebê se dá através da relação

Henri Wallon descreve a existência de um “diálogo tônico” como sendo a primeira possibilidade de comunicação do bebê com o mundo. Pesquise sobre esse conceito walloniano.

tônico-afetiva. Relação essa que o homem mantém por toda a vida pela mímica facial, pela postura, pelo toque no outro etc. Se a comunicação tônico-afetiva for bem vivenciada, a criança terá melhores condições para uma comunicação tônico-gestual, até chegar à linguagem.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

43

Como você já deve ter percebido, há fatores importantes

que

influenciam

no

desenvolvimento

motor: aspectos físicos, ambientais e afetivos, por exemplo. As possibilidades que o bebê traz ao nascer se encontram na plasticidade de seu cérebro, em seu sistema

neurológico.

Desenvolvê-lo

é

uma

ação

diretamente ligada às experiências vividas pelo bebê. Quanto mais ele se sentir estimulado, mais sua estrutura neurológica se organizará para dar conta desta necessidade. Juntamente com este fator, o muscular se fortalecerá através das ações tentadas na direção de algo desejado. Reparamos, então, que tanto o desenvolvimento neurológico quanto o muscular dependem de um “combustível” que os aciona: o desejo, a afetividade. O ser humano é movido pelo afeto. Viver é agir, mas para agir, precisamos estar motivados. Desde que nascemos, é necessário que nossa

Para pesquisar

relação com o meio seja altamente estimuladora. O bebê se movimenta descoordenadamente. Torna-se, pois, necessário que a sua volta os objetos se tornem atraentes para que seus movimentos se voltem na direção que lhe agrade: mamadeira, chocalho, objetos coloridos como móbiles, bichinhos de borracha, tudo que possa estimulá-lo a pegar, ver, ouvir, virar sua cabeça para acompanhar um movimento. Deste modo, podemos compreender que é na integração destes três fatores que o ser humano se organiza e organiza sua relação com o mundo. Os fatores

cognitivos,

afetivos

e

motores

estão

intimamente relacionados ao desenvolvimento humano. Até os dois anos de idade, o desenvolvimento físico e psicomotor se caracteriza pelo ganho de massa

Existe certa confusão entre estímulo e motivação. Tente descrever aqui a diferença entre estes termos.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

44

muscular, Quer saber mais?

por

mais

equilíbrio,

pelo

vigor

físico,

acentuada maturação dos sistemas nervoso e muscular e pela dentição. Esta última é um importante fator tanto ao nível físico quanto emocional, uma vez que

O morder de uma criança pequena pode ser identificado com a fase oral descrita por Freud no desenvolvimento da sexualidade infantil. A boca e suas adjacências se tornam a forma de contato da criança com o mundo. Sobre as fases do desenvolvimento segundo Freud, leia o livro de Clara Rappapport, Teorias do Desenvolvimento, presente na bibliografia desta disciplina.

possibilita a assimilação de alimentos sólidos e duros e também funciona como defesa. Quem ainda não viu uma criança morder outra? Entre os dois e os seis anos, ela adquire mais firmeza

no

andar,

em

crescente

coordenação,

ganhando rapidez e agilidade no deslocamento do corpo. Por volta dos três ou quatro anos, um aspecto se destaca pelo salto que possibilita em sua motricidade: pedalar.

O

alternar

pés

é

um

marco

em

seu

desenvolvimento psicomotor pela autoconfiança que tal fato lhe possibilitará, em crescente equilíbrio. Nos

sete

primeiros

importante

fenômeno

psicomotor,

fundamental

anos

ligado para

de

ao a

vida,



um

desenvolvimento relação

homem-

mundo: Esquema Corporal – É a representação mental que se tem do todo. É o resultado de um processo de maturação e experiências com seu próprio corpo e com o mundo. Dica de leitura

A aprendizagem escolar depende de uma boa Henri Wallon valoriza o EU CORPORAL como pré-condição para o EU PSÍQUICO. Portanto, é do orgânico que se estrutura a afetividade. Para saber mais sobre a teoria de Wallon, leia: GALVÃO, Isabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis:Vozes, 1995.

organização do esquema corporal, uma vez que, para tal processo, é importante o controle do corpo, o equilíbrio postural, a coordenação motora, o domínio respiratório. Sabemos que as comunicações iniciais se dão no corpo, pelo corpo e através do corpo. É o processo de CONSCIÊNCIA DO EU. Tal processo é o resultado da experiência de si mesmo e do que está a sua volta. Depende das experiências corporal e afetiva e é importante que se destaque que o psiquismo se organiza

inicialmente

com

o

que

vem

do

corpo

Aula 2 | O desenvolvimento humano

45

(sensações). Entretanto, tais experiências não se dão mecanicamente, são vividas afetivamente. A consciência do Eu tem como mais importante consequência o ESQUEMA CORPORAL. A consciência do Eu se organiza junto a duas outras ações: Imagem do Eu e Conceito Corporal.

A

seguir, veremos estes conceitos em detalhe.

Imagem do eu e o conceito corporal IMAGEM DO EU Suas principais características são:  Subjetividade;  Construída

pela

criança

a

partir

das

sensações provenientes do próprio corpo;  Carregada de um tom emocional;  Nem sempre corresponde à imagem real;  Tem como base a experiência pessoal. CONCEITO CORPORAL Suas principais características são:  Totalmente objetivo;  Conhecimento das diferentes partes do corpo e suas funções. O que uma criança vivencia no cotidiano é um complexo de ações e emoções. Confere-lhe a percepção de suas possibilidades, mas, também, por ser mediada pela relação com o outro, as características de cada resposta que ela recebe lhe indica o lugar que ocupa no mundo.

Importante

Tudo aquilo que a criança experimenta na vida, principalmente, nas relações sociais e afetivas são relevantes para serem observadas ou registradas a partir do relato da própria criança e da família.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

Como ela se sente?

Dica de leitura

Amada? Rejeitada? Desejada? Admirada? Motivo de alegria, de chacota?

Complete sua leitura com pesquisa de autores como: BARROS, Célia Guimarães. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ática, 2004.

46

Podemos perceber que suas experiências são carregadas de um colorido emocional e lhe oferecem subsídios para a construção de sua autoimagem. A organização do esquema corporal é um processo integrado de vários fatores que irão possibilitando à criança dar conta de si e do mundo.  Equilíbrio Corporal.  Orientação Espacial.  Orientação Temporal.  Dominância Lateral.  Coordenação Viso-Motora.  Percepção. Apenas por uma questão didática, para facilitar o entendimento do aluno, abordaremos cada uma em separado no próximo tópico. Porém, antes disto, deixaremos na página seguinte uma tabela resumida das fases do desenvolvimento motor que foi extraída de um site da internet cujo link está escrito abaixo da tabela. O uso da tabela a seguir torna prática a consulta, pois permite uma fácil visualização do passo a passo que o desenvolvimento infantil representa na vida humana e que pode ser acompanhado pelos adultos que cuidam de crianças.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

47

FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR FAIXA DESENVOLVIMENTO ETÁRIA MOTOR MÉDIA ZERO FASE DOS MOVIMENTOS REFLEXOS A - Respostas globais do corpo.

1

- Movimentos programados geneticamente.

ANO

- Movimentos controlados inconscientemente. (descargas motoras) FASE DOS MOVIMENTOS RUDIMENTARES - Primeiras formas de movimentos voluntários. - Controle tônicopostural. - Manipulação (pegar, receber e arremessar). - Movimentação de locomoção (rolar, rastejar, quadrupedar e andar). FASE DOS MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS - Movimentos mais eficientes e complexos. - Movimentos locomotores (andar, correr, saltar e saltitar). - Movimentos nãolocomotores (flexionar, estender, torcer, girar, levantar).

De 1 a 2 ANOS

De 2 a 7 ANOS

- Movimentos manipulativos (lançar, pegar, bater, rebater, chutar, quicar).

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR (Geral) FASE NEUROMOTORA

DESENVOLVIMENTO DO ESQUEMA CORPORAL FASE DO CORPO SUBMISSO

- Desenvolvimento do sistema de respostas inatas.

- Movimentos estritamente automáticos, dependentes da bagagem inata (reflexos e automatismos de alimentação, de defesa e de equilíbrio).

FASE SENSÓRIOMOTORA

FASE DO CORPO VIVIDO (1 a 4 anos) - Experiência vivida do movimento global. - Primeiro esboço do esquema-imagem corporal.

- Desenvolvimento do sistema motor global (locomoção).

FASE PERCEPTIVOMOTORA - Desenvolvimento dos sistemas de locomoção, preensão e viso-motor.

FASE DO CORPO DESCOBERTO (4 a 5 anos) - Consciência das características corporais. - Descoberta dos segmentos corporais. - Verbalização das partes do corpo pelo jogo da função simbólica.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

De 7 a 12 ANOS

De 12 ANOS Em Diante.

48

FASE DE COMBINAÇÃO DOS MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS - Melhoria da execução e aumento da capacidade de combinação de movimentos fundamentais. - Início do domínio de habilidades específicas.

FASE PSICOMOTORA - Desenvolvimento dos sistemas de locomoção, preensão, viso-motor e áudio-motor.

FASE DOS MOVIMENTOS CULTURALMENTE DETERMINADOS - Melhoria da execução de habilidades específicas. - Diversificação e aprimoramento de movimentos culturalmente determinados.

FASE SOCIOMOTORA - Aprimoramento dos sistemas da fase anterior. - Desenvolvimento dos sistemas cinestésicossimbólico e áudiosimbólico.

FASE DO CORPO REPRESENTADO (6 a 10 anos) - Controle voluntário de atitudes corporais. - Aquisição do esquema postural. (imagem postural estática). FASE DO CORPO OPERATÓRIO (10 a 12 anos) - Imagem antecipatória dos movimentos em sequência. (esquema imagem corporal dinâmica). - Estruturação espaço temporal dentro do domínio corporal. ESQUEMA CORPORAL BASICAMENTE FORMADO

www.unb.br/fef/downloads/ronaldo/fases_do_desenvolvimento_moto r.doc

A organização do esquema corporal Agora sim apresentaremos com mais detalhes Quer saber mais?

alguns aspectos específicos do desenvolvimento que colaboram

na

organização

física

e

psíquica

das

crianças. Começando pela relevância da organização do Observe o desenvolvimento de um bebê. A conquista visível de seu equilíbrio pode ser constatada, por exemplo, quando ele sustenta a cabeça com firmeza, depois seu próprio corpo inteiramente, depois a marcha, e assim por diante.

esquema corporal. Vejamos a seguir como este se constitui. EQUILÍBRIO CORPORAL É a capacidade da criança controlar, tanto parada quanto em movimento, os diversos elementos que contribuem para a manutenção da postura.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

49

São responsáveis pelo equilíbrio corporal:  Sistema piramidal – movimentos voluntários;  Sistema

extrapiramidal



movimentos

automáticos;  Sistema cerebeloso – mantém o equilíbrio. A criança adquire, no seu desenvolvimento, uma postura equilibrada e econômica, ou seja, aprende a agir sem usar energia desnecessária. Ela precisa de experiências tanto físicas quanto afetivas para seu equilíbrio corporal. ORIENTAÇÃO ESPACIAL Importante

O ser humano vive no mundo, se locomove em diferentes direções. Tal atividade é aprendida através de uma base de referência – a percepção do próprio corpo. Inicialmente, o espaço é explorado por dupla e simultânea percepção:  Extereoceptiva – percepção do objeto fora do próprio corpo;  Proprioceptiva – percepção dos próprios movimentos. Várias

são

as

ações

que

possibilitam

a

construção da orientação espacial como, por exemplo, perceber a mamadeira. Este objeto extremamente significativo para o bebê é um bom estímulo do desejo de pegá-lo, o que leva ao ensaio da tentativa do gesto certo na direção certa. Outra

ação

fundamental

para

o

bebê

é

engatinhar. Este é um exercício básico na organização do sentido de direção e espaço. É a partir dessas

É de suma importância permitir que a criança explore livremente o ambiente, facilitando sua orientação espacial.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

50

experiências

que

a

criança

vai

construindo

internamente experiências espaciais. Através da experiência conjugada com a palavra (vocabulário fornecido pela família), a criança forma conceitos

extremamente

importantes

no

desenvolvimento cognitivo. ORIENTAÇÃO TEMPORAL Dica da professora

O tempo é um instrumento de ordenação que Diversas dificuldades enfrentadas, por alunos, na disciplina de História, revelam estruturas mal formadas quanto à orientação temporal em períodos remotos do desenvolvimento.

interliga os acontecimentos permitindo associação de fatos e experiências cada vez mais complexas. A

relação

de

tempo

é

uma

qualidade

da

experiência que o bebê vivencia e registra, experiência que tem um espaço temporal. A primeira noção de tempo adquirida pelo bebê é o espaço entre as mamadas. Daí a necessidade da regularidade de horários para alimentação, regulação do sono e dos horários de banho e higiene. Uma criança sem noção de espaço e tempo tem dificuldade com a noção de ritmo, condição necessária para falar, caminhar e pensar. Tempo, espaço e ritmo facilitam o lidar com a ansiedade, qualidade tão importante no cotidiano do ser humano – saber esperar.

Dica da professora

Lembremos que, em princípio, toda criança é ambidestra. Portanto, a criança pode utilizar os dois lados do corpo. Posteriormente, ocorre a definição do lado dominante que pode ser induzida ou natural.

DOMINÂNCIA LATERAL O hemisfério cerebral dominante determina a preferência pelas partes móveis do corpo passíveis de controle. É importante que a dominância lateral esteja definida para um único lado do corpo no momento da alfabetização.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

51

A indefinição pode ser consequência da falta de maturação

e

precisa

ser

tratada

(exercícios

de

Dica de leitura

psicomotricidade), uma vez que traz dificuldades para a Existem várias formas de dominância lateral, para saber mais, consulte o livro:

aprendizagem escolar durante a alfabetização. COORDENAÇÃO VISO-MOTORA É um tipo de coordenação que se dá num movimento

manual

ou

corporal,

que

responde

adequadamente a um estímulo visual, atuando o corpo

PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

todo. É extremamente importante para a vida de relação nas ações mais simples e cotidianas como escrever, andar, subir escada, chutar bola, pegar objetos, pular amarelinha. Para pesquisar

Todas as funções até agora estudadas agem coordenada e concomitantemente, e são responsáveis pelo esquema corporal. É importante que tais áreas sejam trabalhadas de modo natural, até mesmo através de brincadeiras. A aprendizagem escolar tem a ver com a leitura e a escrita. Escreve-se da esquerda para a direita e de cima para baixo, em nossa língua. O movimento do corpo deve acompanhar. PERCEPÇÃO Ao nascer, a criança já possui capacidades perceptivas

bem

mais

amadurecidas

do

que

se

pensava, ainda que não tenha a capacidade global e sintética do adulto. A percepção é um processo vital na vida do ser humano. Não é um processo passivo e depende da capacidade para se reconhecer estímulos.

Pesquise e descubra exercícios que favorecem a coordenação visomotora, pois são fundamentais na preparação para a alfabetização.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

52

É a capacidade de interpretar e identificar as impressões

sensoriais

pela

correlação

com

as

experiências prévias, baseadas na memória. É

indispensável

para

as

funções

cognitivas

(pensamento - raciocínio). Percepção visual A criança pequena percebe melhor o todo, só mais tarde passando a perceber as partes (detalhes) e finalmente, chegando a integrar detalhes em um todo. Através da percepção visual se tem informação acerca do mundo por diferentes habilidades:  Posição

no

espaço

(com

relação

à

criança) É importante a criança perceber o que está à sua volta, identificando sua posição (embaixo, em cima, ao lado).  Relações espaciais É a capacidade do observador perceber dois ou mais objetos em relação a si próprio e em relação a cada um desses objetos. Independente da posição que o objeto ocupa no espaço, a criança deve perceber que se trata do mesmo objeto.  Constância de percepção É a capacidade de perceber um objeto, apesar das variações nas condições em que é visto (forma e tamanho). Este aspecto interfere no processo de alfabetização pela necessidade da criança identificar uma mesma letra escrita de diferentes formas (cursiva e de fôrma).

Aula 2 | O desenvolvimento humano

53

 Figura-fundo Importante

É a capacidade de distinguir, em determinada estrutura, a figura do fundo. Entre vários objetos, a criança precisa aprender a discriminar um deles. Para tal,

sua

atenção

não

pode

ficar

dispersa

pela

necessidade de se prender a um único estímulo.

Os órgãos dos sentidos captam sensações que serão interpretadas a nível cerebral: eis o processo da PERCEPÇÃO.

Percepção auditiva Ouvimos com o corpo todo, uma vez que os ossos são condutores de som. A percepção auditiva é fundamental para o desenvolvimento

intelectual,

pois

proporciona

a

aquisição da linguagem, mola mestra do pensamento e, também, para o conhecimento das relações espaciais. Uma criança com dificuldade na percepção auditiva, sem ser surda, poderá apresentar distúrbio na fala, dificuldade em discriminar som e, consequentemente, ritmo. Estudos detectaram que a criança mexe a cabeça na direção do som ou, então, pode acompanhar o som com movimentos oculares. O

feto

mecânicos,

responde

detectados

a

estímulos

através

das

auditivos

e

contrações

abdominais da mãe. Evidência do aparelho auditivo devido a testes com prematuros (7º e 8º mês de gravidez). Percepção tátil É

preciso

estabelecer

a

diferença

entre

percepção tátil (reconhecimento pelo tato) e tato (sensação).

Importante

Pode-se ter a indicação de que o bebê escuta devido ao “reflexo de orientação”, identificado por Pavlov com alterações como dilatação da pupila, alteração do ritmo cardíaco, dilatação dos vasos sanguíneos da testa...

Aula 2 | O desenvolvimento humano

54

É através da percepção tátil que se tem os primeiros contatos com o mundo (apalpar, tocar o próprio corpo e o da mãe). Uma criança com dificuldade na percepção tátil poderá, por exemplo, ser desajeitada ao segurar um lápis. Percepção olfativa e gustativa Podemos dizer que estas são as percepções mais primitivas no ser humano. Os receptores do gosto e do olfato estão muito próximos, por isso, o paladar se tem pelo olfato. Na língua só se discrimina o amargo, o doce e o azedo. Dica da professora

A Psicomotricidade se ocupa justamente do estudo

A consciência corporal se torna, então, um processo essencial à consciência do eu, na medida em que quanto mais a criança sabe de sua existência maior seu conhecimento sobre o que está a seu redor. E, tudo isto depende de sua localização no mundo a partir de uma consciência física de seu corpo. Logo, nota-se uma mútua influência de estados internos e externos da vivência humana.

das

percepções

mencionadas.

Podemos

entendê-la como a função integradora das experiências perceptivas, permitem

motoras, um

cognitivas

adequado

e

controle

afetivas

que

corporal

e,

consequentemente, um adequado relacionamento com o meio. Quanto maior o controle corporal, maior a consciência do EU. Estamos praticamente no final deste módulo. Cada pequena informação teórica sobre o ser humano enquanto

criança

nos

permite

descortinar

sua

complexidade e, ao mesmo tempo, a necessidade de compreendê-lo para melhorar o mundo. Vamos ler, então, um texto que nos permitirá algumas reflexões.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

55

A REFORMA DO MUNDO Certo proprietário de um jornal estava em seu escritório, em casa, preparando um editorial que deveria sair no dia seguinte. Era noite, o jornal seria impresso durante a madrugada, mas a inspiração não vinha. Pensava, pensava e… nada. Nesse momento, sua filhinha de seis anos de idade adentra a pequena sala e lhe fala que gostaria de brincar. Ele lhe explica que naquele momento está muito ocupado, que precisa preparar o editorial, que está atrasado e que não pode brincar. Mas ela insiste. Então ele olha para a parede e se depara com a figura do mapa-múndi e tem uma ideia: corta-o em vários pedaços e dá à filha, a fim de que ela conserte o quebra-cabeça. Volta-se em seguida para sua máquina de escrever, certo de que a pequena levará algumas horas para montá-lo. Mas, qual foi a sua surpresa, quando ao cabo de alguns minutos, a filhinha o interrompe novamente, dizendo eufórica: - Papai, já consertei o mundo! Ele, muito surpreso, volta-se para trás e constata que ela realmente montara o jogo de peças. Perguntou-lhe, então, como havia conseguido tal proeza, pois afinal, ela não era nenhum gênio e, com aquela idade, nada conhecia do mapa que representava o mundo. A simpática garotinha explica-lhe triunfante: - Papai, você não verso do mapa há homem. Pois bem, HOMEM, assim ficou MUNDO.

reparou que no a figura de um eu consertei o fácil consertar o

Dica da professora

(José H. Furtado) Considerando o conteúdo estudado, podemos deduzir que a menininha conhecia o conceito corporal. Seu corpo já estava registrado em sua mente, o que lhe permitiu rapidamente dar conta da montagem.

Utilize você também textos, músicas e outros recursos para despertar na criança o conhecimento de si e do mundo que a cerca.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

56

Com relação à mensagem que o texto encerra, sugerimos que você a analise e compreenda que não basta o conhecimento teórico do homem. É preciso entendê-lo em sua plenitude, integrado no mundo, ator e autor.

Conclusão A criança se desenvolve por um processo que envolve o seu corpo, a própria genética da espécie humana e os elementos do meio ambiente em que ela viverá. Todo esse processo começa na família e, também, no contexto cultural que tomará parte desde seu nascimento. Por isso, podemos dizemos que a natureza

do

desenvolvimento

humano

é

sempre

biológica e cultural. Dica de leitura

A criança tem um desenvolvimento de maneira integrada. O desenvolvimento físico está diretamente

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil – Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2005.

ligado ao psicológico e ao cultural. Desta forma, se pode dizer que a criança tem uma personalidade própria e se torna membro de um grupo tendo em vista suas experiências vividas em seu meio. Mas, a relação com o meio sempre será construída de acordo com as possibilidades

determinadas

pelo

desenvolvimento

biológico. A criança pode adquirir muitos conhecimentos a partir de suas experiências, tais como: da natureza, de seu corpo e de si própria, das brincadeiras, dos sentimentos e emoções de si e das pessoas, dos aspectos

perceptivos

como

luz,

movimento,

cor,

textura. A cultura, a natureza e o convívio com os outros que

funcionam

como

a

mola

propulsora

do

desenvolvimento da criança. Em outras palavras, o que a criança realizar na sua vida cotidiana, desde o

Aula 2 | O desenvolvimento humano

57

nascimento, contribuirá para o seu desenvolvimento global. Sendo que a quantidade e a qualidade dos conteúdos aprendidos são, dessa forma, função do meio. O desenvolvimento da criança está diretamente relacionado com seu ambiente, suas experiências, enfim, elementos de sua cultura. Sabemos que o desenvolvimento físico segue uma linha evolutiva comum da espécie humana, ou seja, a criança apresenta certas constâncias que são universais como já vimos em quadro nas páginas anteriores. Então, vamos recordar:  o bebê começará a estender o braço para pegar objetos com a mão a partir dos três meses de idade;  a criança começará a andar no segundo ano de vida, às vezes, um pouco antes;  a criança aprenderá a língua falada do seu meio;  a criança irá sorrir e aprender a usar o sorriso de acordo com sua cultura;  a criança começará a desenhar por um risco ligeiramente curvo até chegar a fechar a linha e traçar uma linha circular. Depois poderá traçar

linhas

aperfeiçoarão

retas

e

ângulos

até

chegar

às

que

se

figuras

geométricas. Importante

A possibilidade de realizar esses feitos está ligada ao amadurecimento do sistema nervoso e não se antecipa pelo treinamento. Algumas creches e préescolas que tentam adiantar essas realizações da criança

podem

trazer

prejuízos

para

o

seu

desenvolvimento. Neste sentido, o professor tem que ser criativo, conhecer melhor seu aluno, descobrir suas limitações, suas

contribuições,

suas

potencialidades,

saber

Podemos dizer que a interação social (família, amigos, escola) deve ser considerada como o elemento mais importante para promover oportunidades de desenvolvimento e, também, de aprendizagem.

Aula 2 | O desenvolvimento humano

58

valorizar o que fizer com clareza e aptidão. Importante é nunca inibir a criança e encarar as dúvidas e dificuldades,

com

a

busca

de

soluções

e

de

informações. Percebe-se que a motricidade que ocorre pelo amadurecimento do sistema nervoso desenvolve-se a partir de diferentes atividades, situações cotidianas, manipulações de objetos. Até que a criança já percebe a si mesma como referência, tendo a partir dos seis anos uma visão importante de suas vivências para a compreensão do mundo. Dica da professora

Depois, no desenvolvimento da linguagem, a Chegamos ao final deste módulo e o convidamos a uma nova leitura para que você realize depois a autoavaliação. Compreender a idéia do texto facilita a avaliação, além de garantir a aquisição deste conhecimento.

criança soma as experiências atingidas pela motricidade e percebe signos, então, desenvolve ainda mais o sistema linguístico apoiado e enriquecido em atividades conjuntas com a família, colegas e educadores. É um trabalho formativo e contínuo no decorrer da vida em paralelo com a educação escolar.

EXERCÍCIO 1 Quais

são

os

dois

princípios

desenvolvimento físico da criança? ( A ) Do prazer e da realidade; ( B ) Sucção e preensão; ( C ) Vegetativo e degenerativo; ( D ) Cefalocaudal e proximodistal; ( E ) Evolutivo e progressivo.

que

regem

o

Aula 2 | O desenvolvimento humano

59

EXERCÍCIO 2 Podemos dizer que estas são as percepções mais primitivas no ser humano. Marque a resposta certa: ( A ) Percepção rítmica e gustativa; ( B ) Percepção tátil e auditiva; ( C ) Percepção auditiva e rítmica; ( D ) Percepção tátil e rítmica; ( E ) Percepção olfativa e gustativa.

EXERCÍCIO 3 Descreva

dois

dos

principais

reflexos

do

desenvolvimento humano. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

EXERCÍCIO 4 A criança pequena percebe melhor o todo, só mais tarde passando a perceber as partes (detalhes) e finalmente, chegando a integrar detalhes em um todo. Explique este desenvolvimento da percepção visual. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

Aula 2 | O desenvolvimento humano

60

RESUMO Vimos até agora:  As possibilidades que o bebê traz ao nascer se encontram na plasticidade de seu cérebro, em

seu

sistema

neurológico,

mas

que

dependerá, também, das experiências vividas pelo bebê;  Uma criança sem noção de espaço e tempo tem

dificuldade

com

a

noção

de

ritmo,

condição necessária para falar, caminhar e pensar;  A cultura, a natureza e o convívio com os outros funciona como mola propulsora do desenvolvimento nascimento,

da

criança,

contribuindo

desenvolvimento global.

para

desde o

o seu

Objetivos

Apresentação

Eunice do Vale Madeira

AULA

Desenvolvimento Psicossocial

3

Nesta aula veremos que afetividade e maturação orgânica andam juntas, por isso existe a necessidade de articulação entre a maturação e o desenvolvimento emocional. Sendo assim, as iniciativas de uma criança devem ser estimuladas e, assim, se constituindo como aspecto de segurança e autoestima para a criança. Adotaremos a abordagem de Erickon e Freud para refletir sobre a formação da personalidade e a necessidade de interação social da criança.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:  Compreender o desenvolvimento como produto da cognição, da afetividade e da socialização;  Destacar a importância do grupo na vida da criança e na formação da personalidade conforme abordagem de Erickson;  Reconhecer o papel da criatividade e da interação social no desenvolvimento humano.

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

Introdução A função relacional na maturação da criança O desenvolvimento como produto da cognição, da afetividade e da socialização O grupo e a personalidade da criança Freud e a descoberta da infância Criatividade e desenvolvimento social

Quer saber mais?

62

62

Introdução

63

Ao nascer, a criança entra num cenário de cuja construção não participou. Esse cenário é o mundo social, a realidade objetiva, que se constitui em um modo de organização econômica, política e jurídica da sociedade, de uma cultura, de instituições como a família, a igreja, a escola, os partidos políticos etc. - tudo isso produto da construção humana, de homens que antecederam esta criança que agora se introduz nas relações sociais. (Bock, 1994)

66 73 76 77

Trocar com o outro é uma via de mão dupla. Exige dar e receber. Processos nem sempre facilmente

O cantor e compositor Chico César assim descreve essa via de mão dupla entre o indivíduo e o grupo: FOLIA DE PRÍNCIPE ... eu e os meus companheiros querendo cumplicidade pra brincar de liberdade no terreiro da alegria. ...

percorridos pelo ser humano em seu dia a dia. A entrada no mundo das relações acontece quando nascemos e só cessa com a morte. A criança inaugura uma família. É ela quem transforma o casal – marido e mulher – em família: uma célula que carrega a responsabilidade

de

iniciar

a

transformação

do

indivíduo em pessoa, do ser da espécie humana em ser humano. O que significa ser humano? É sentir, pensar e agir como alguém de seu grupo? É perceber o mundo de um modo próprio porque seu olhar está impregnado dos outros olhares? Como ser igual a todos sem perder nossa individualidade?

Como

dar

sem

perder

a

sua

individualidade e como receber sem deixar que o outro o anule? Troca é soma. É uma divisão que multiplica. Mas é também o veículo condutor que nos leva a nós mesmos. Olhar o outro é ser olhado também e sem ferir a lei universal do equilíbrio. O medo de se dar é o mesmo que leva o menino a se isolar no cantinho da praça e perder a brincadeira de seu grupo – a roupa continua limpa, os joelhos

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

63

intactos, nada ralado, tudo asséptico – e o prazer continua virgem. Percebe a importância da vida em grupo, a necessidade de se estudar a criança, também, sob esta ótica? Para pesquisar

Os

diferentes

aspectos

do

desenvolvimento

estão articulados formando um todo. Separá-los é um artifício usado para que se possa melhor estudá-los. Porém, a interdependência nos leva a olhá-los num único prisma para melhor entender algumas ações. Eis, então, alguns dos aspectos que serão estudados

nessa

desenvolvimento

aula. infantil

Procuraremos

pensar

o

não

como

os

somente

A ideia de totalidade faz parte das concepções holísticas de algumas ciências que propõe observar e estudar o homem como um TODO. Pesquisa sobre HOLISMO; consulte o significado do termo.

progressos que as crianças apresentam e podemos observá-los atentamente, mas também como o mundo de relação que se descortina para a criança tão logo é exposta ao mundo. Mais ainda, desde quando é planejada e desejada, ou mesmo quando não fazia

Dica da professora

parte dos sonhos dos pais e surge como um rebento inesperado. A criança e seu desenvolvimento fazem parte, como tema de estudo, de diferentes saberes e cada um tenta contribuir com conceitos e explicações para que a própria vida seja entendida e sejam superados certos tipos de mistérios e crendices que, anteriormente, procuravam

se

apropriar

do

fenômeno

da

vida.

Aproveite a leitura que segue.

A função relacional na maturação da criança A fala da criança depende da maturação de órgãos próprios, mas a linguagem é fruto do processo de socialização. Falar com a criança, conversar com ela

Esperamos que as ideias apresentadas nessa aula aumentem seu interesse pelo mundo da criança.

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

64

é um fator fundamental para que ela desenvolva e amplie sua comunicação com o mundo. A afetividade é outro fator relevante, uma vez que se sentir amada e acolhida

certamente

se

constituirá

em

poderoso

estímulo na direção do outro. A linguagem é importante no processo de despertar a criança para o mundo, significando na mãe (ou em quem a representa) este mundo, a partir do nascimento. Educadores devem lembrar e estimular todos aqueles que lidam com crianças a dialogar sempre com elas, pois, a partir da fala, as trocas linguísticas enriquecem

as

possibilidades

das

trocas

sociais

também. Esse conjunto favorece o crescimento global da

criança,

podendo

ser

observado

em

qualquer

ambiente que a criança participa. Dica da professora

As conquistas infantis no processo de aquisição da fala são motivo de grande contentamento dos seus

Para brincar com adolescentes, é interessante:

cuidadores, bem como motivo de grande angústia caso

Um dicionário, papel e caneta para todos. Uma pessoa por vez escolhe uma palavra no dicionário e fala em voz alta para todo mundo. Cada um escreve no papel o que acha que significa. Depois cada um lê o que escreveu. Quem acertar ou chegar mais perto ganha ponto. O divertido dessa brincadeira é escolher palavras bem esdrúxulas, para ser divertido.

Inúmeras são as queixas trazidas por pais aos pediatras

a

criança

não

corresponda

à

expectativa

deles.

sobre o atraso da fala em seus filhos, dessa forma os pais revelam desde muito cedo seu desconforto por não saber respeitar o tempo de desenvolvimento de cada criança que é único. As

primeiras

relações

sociais

aparecem

na

tentativa de entender a expressão particular do bebê que, antes de nascer, já existe no imaginário de sua mãe

e

ocupa

um

lugar

determinado

social

e

culturalmente. Para perceber que lugar é este, você pode fazer o seguinte exercício e, pelo resultado, verificar a veracidade do que se está afirmando: Proponha para cinco pessoas a organização de uma lista de presentes que cada uma delas daria para um bebê do sexo masculino. Da mesma forma, sugira

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

para

cinco

outras

pessoas

(ou

65

as

mesmas)

a

organização de uma lista de presentes que daria para um bebê do sexo feminino. As listas são diferentes? Assinale as diferenças e

Dica da professora

comente-as. Não somente do ponto de vista das expectativas quanto ao sexo do bebê, mas também quanto às características físicas e à personalidade, absolutamente, nada será parecido. Os pais tendem a projetar seus desejos e constroem muitas expectativas com o bebê esperado. Portanto, esse bebê já existe antes mesmo de seu nascimento, enunciado pelo desejo dos pais. O que o bebê expressa sempre estará articulado com o que sua mãe expressa e esta relação precisa ser carregada de prazer. É preciso ter prazer em descobrir o outro, gostar de tocar, acariciar, falar com ele. O bebê compreende o tom de voz ao nível do inconsciente (a ansiedade que envolve tal fala passa para o bebê). Sabemos, entretanto, que nem sempre esse encontro mãe-bebê é de prazer ou de sensações agradáveis, pois ocorrem alguns desencontros entre a expectativa e a realidade, o que é esperado jamais poderá ser correspondido completamente. Por exemplo, mudar fralda e amamentar devem ser ações que ocorram numa boa relação afetiva. A relação

social

do

bebê

deve

ser

priorizada.

É

importante o ruído em torno dele, a diversidade de ambiente, de cor, de movimento. Todos os estímulos possíveis neste período aumentarão o repertório da criança em termos de reconhecimento do mundo que a cerca, discriminando as diferenças básicas de cor, som, luz. Desta forma, o desencontro entre expectativa e realidade poderá ser minimizado para a mãe, e seu

Exercite com as crianças o TATO. Pergunte a elas: “Qual a coisa que você mais gosta de tocar?”. Faça-as fechar os olhos e exercitar seu tato. Ofereça-as para tocar frutas, legumes, grãos e observar como tem formas diversas. Ofereça-as para tocar objetos com diferentes consistências e formas: um lápis, uma borracha, papel, copo, bola de tênis, sapato. Por fim, peça-as para colocar em palavras as emoções táteis mais gostosas.

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

66

bebê poderá ser reconhecido como um produto de seu desejo, mas que tem vida própria e características autênticas. Marcando, assim, a condição de um novo sujeito para a criança separada de sua mãe. Quer saber mais?

Afetividade e maturação orgânica andam juntas. Em seu processo exploratório, deve haver articulação

O médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung assim diz:

entre a maturação e o desenvolvimento emocional. As

“O encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas. Se houver reação, ambas se transformam”.

algo que não é malvisto pelo outro, mas, pelo contrário,

Leitura auxiliar: Teorias da Personalidade, de James Fadiman e Robert Frager da Editora Harbra.

iniciativas de uma criança devem ser percebidas como deve ser incentivado e assim se constituindo como aspecto de segurança e autoestima. A presença do outro para a criança deve lhe servir para se constituir, tanto como suas reações favoráveis fortalecem as expectativas do adulto e, assim, os laços afetivos se solidificam.

O

desenvolvimento

como

produto

da

cognição, da afetividade e da socialização Os três pilares dos estudos da psicologia da aprendizagem são cognição, afeto e socialização. Ainda que sejam tratados separadamente, não é possível dissociá-los na compreensão das características do desenvolvimento infantil. Cognição, afetividade e socialização caminham em compasso semelhante, pois como aponta Rappaport (1981). Toda evolução mental caminha no sentido de sair de uma situação de egocentrismo total e inconsciente, característica do recém-nascido, para uma percepção muito lenta, porém gradual e contínua, da existência de outras pessoas e para a colocação de si próprio como um indivíduo entre os demais. (Rappaport, 1981)

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

67

O desenvolvimento emocional e social do bebê é influenciado por vários fatores. Entre eles, podemos destacar as figuras parentais, a cultura, as diferenças individuais,

o

tamanho

da

família,

a

ordem

de

nascimento e tantos outros. A família tem sua importância, não somente pelos

fatores

anteriormente

levantados,

mas

pela

herança cultural que detém e transmite com valores, expectativas, gerais.

Todos

desejos os

e

condições

estudos

sobre

a

psicodinâmicas criança

serão

insuficientes se não levarem em conta a família que a gerou. É a partir da fala e do ambiente familiar integral que a criança toma parte do mundo.

Para pensar

A música, como o ar, ocupa todos os espaços e tem o poder de dar brilho e completar a estética das cenas. Através da música, ganhamos passaporte para traduzir e perceber sentimentos que não cabem na linguagem verbal, simplesmente porque não sabemos como expressá-los. A música é uma expressão de sentimentos e uma manifestação cultural.

A condição de desamparo e dependência que toda criança nasce faz dela um ser de necessidades e de demandas a serem atendidas para que possa completar sua formação orgânica. O recém-nascido só se desenvolve a partir do outro e será na família que essa possibilidade de sobrevivência estará garantida, mesmo dentro das mínimas condições, exceto em casos de maus tratos ou abandono. Na infância existem três agentes socializadores de fundamental importância:  Família; Para navegar

 Escola;  Grupo de companheiros. De acordo com a epistemologia genética de J. Piaget, a passagem do período sensório-motor para o pré-operacional, que permite à criança imitar gestos e situações presenciadas, ocorre sempre pelo contato com os outros. Como bem sabemos, a capacidade de imitação

possibilita

consequentemente,

adaptar-se contribui

à no

realidade

e,

crescimento

Sobre Jean Piaget, consulte o texto A Perspectiva de Jean Piaget, de Lino de Macedo, disponível no site do Centro de Referência em Educação Mário Covas: http://www.crmarioc ovas.sp.gov.br/dea_ a.php?t=004

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

68

psicológico, uma vez que é necessária a seleção dos aspectos agradáveis e satisfatórios que deverão ser imitados em relação ao comportamento do outro. Podemos citar, também, as atividades lúdicas que oferecem à criança a oportunidade de aprender normas culturais, desempenho de papéis e outras ferramentas sociais básicas para a vida de relação, além de contribuir na aquisição do conhecimento. A cognição

está

presente

elevando

o

grau

de

complexidade na solução de problemas. Através da brincadeira, a criança experimenta o mundo adulto com consequências mais amenas, pois imita e pode errar ou acertar sem danos a sua pessoa. Entretanto, não deixa de construir uma consciência sobre a realidade que a cerca, em termos de valores e atitudes. Os jogos infantis e o “faz-de-conta” são tão excitantes

para

as

crianças

que

se

pudessem

brincariam o tempo todo. Sem saberem, elas vibram e brincam para sentir a emoção que a fantasia lhes proporciona. Os adultos, para brincar, inventaram as competições, as marcas e os recordes. A alegria de brincar passou para a alegria (tensão) de conseguir resultados, a superação de si e dos outros. Depois da família, é a escola o ambiente principal para a criança vivenciar a sociedade, ainda com proteção do adulto mesmo que este não seja mais tão próximo como seus parentes. A criança constrói amizades, adquire conhecimentos, desenvolve hábitos, disciplina

comportamentos,

reprime

atitudes

inadequadas, estabelece rotinas, são diversas aptidões reforçadas e incontáveis descobertas. Vale

frisar

que

a

criança

não

é

apenas

depositária das exigências culturais representadas. É

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

69

um indivíduo que luta para se afirmar como pessoa dotada de vontade própria e todo seu esforço para conquistar esse reconhecimento no mundo adulto deve ser

com

frequência

estimulado,

desde

que

não

interceda negativamente na formação do caráter. No terceiro agente socializador destacado, o grupo de companheiros, será ainda mais forte a vivência social porque não estará mais acompanhado por um adulto e cada um dos impasses terá que ser resolvido entre eles mesmos. Além disso, começa a estabelecer

novos

parâmetros

marcados

pela

diversidade dos contatos oportunizados nas relações. Nas crianças entre três e seis anos, sua atitude com iniciativa está bastante aguçada. É a partir da observação dos adultos que ela vai elaborando o desempenho de papéis, aprendendo como funciona o mundo e construindo sua própria imagem no mundo; delineando-se,

aos

poucos,

a

autoestima

e

o

autoconceito, que, juntos à autoimagem fortalecem a consciência de sua existência num tempo e espaço histórico-social.

EXERCÍCIO 1 Pense nos conflitos que se instalam no educando a partir das exigências do desempenho acadêmico, se possível associe as práticas atuais de avaliação que: Facilitam estes conflitos: ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

70

Dificultam estes conflitos: ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ Eis alguns fatores que interferem diretamente na formação do autoconceito:  Autoconceito dos pais;  Forma de ingresso na escola;  Estrato social a que pertence;  Desempenho acadêmico. Não se pode esquecer que os primeiros modelos são os pais; portanto, o lugar ocupado por esses pais e a imagem deles, percebida pelo filho, emolduram o protótipo inicial da vida do indivíduo, podendo se tornar indicadores para o início da formação do autoconceito. Sabe-se, inclusive, que a referência dos pais possibilita as crianças imitar ou se contrapor a esse modelo mais tarde. Também há que se considerar um outro aspecto que tem os pais como ponto de referência, mas que permeia a família como um todo: a característica predominante nas relações. As famílias podem ser de diferentes tipos. Existem, por exemplo, as famílias:  Democratas;  Autocratas;  Permissivas;  e outras. Quais

caminhos

são

vivenciados

e,

consequentemente, aprendidos para viver? O que se aprende?

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

71

Dialogar, defender seu ponto de vista (dentro das possibilidades cognitivas) e convencer ou ser convencido, sendo, em alguns momentos, até obrigado a ceder. A criança em seu processo de tentativa e erro cria soluções variadas para seus desafios e dilemas. Se receber apoio sem ser corrigida ostensivamente pelos que a cercam, a criança segue saudável, errando, consertando,

aprendendo,

particularmente

na

linguagem. Um outro fator importante é a vivência na escola. O grupo lhe fornece um referencial sobre o lugar que ocupa enquanto aluno:  Líder… liderado;  Companheiro procurado… isolado;  Melhor aluno… pior aluno;  Esperto… bobo.

Igualmente, o estrato social ao qual pertence, também, lhe fornece indicadores, embora nenhum desses fatores deva ser considerado isoladamente. É na conjugação deles e na respectiva história de vida resultante, que se poderá obter dado mais próximo da vida de cada um. Ainda com relação ao grupo de companheiros, sua

influência

merece

alguns

comentários

mais

específicos. O homem, por ser grupal, toda a sua vida é marcada

por

esta

característica.

Começando

pelo

simples contato – brincar junto, passando pelos grupos de mesmo sexo até as trocas afetivas, na adolescência, com o sexo oposto. Por isso mesmo, devem-se dar atenção especial às crianças e aos adolescentes que vivem

isolados

ou

com

dificuldades de socialização.

graus

acentuados

de

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

É

72

a

popularidade,

ou

não,

no

grupo

que

fornecerá ao indivíduo um referencial de si mesmo enquanto ser social. Não só isto, mas também o discernimento de suas próprias potencialidades, tanto em relação às habilidades quanto em relação às interações pessoais. Por exemplo, em qual atividade é sempre solicitado, sendo mesmo o primeiro a ser chamado e em qual nem é lembrado? É no grupo que a criança encontra referenciais diferentes dos da família (na casa do fulano não é assim!) e também tem a possibilidade de toda uma aprendizagem social. Aí ela começa a aprender a lidar com

fatores

egocentrismo)

seus que

(agressividade, interferem

em

aspecto suas

físico,

relações

interpessoais. Irá se deparar com uma dualidade importante em toda a vida do ser humano: a forma como acha que é visto e o que significa para aqueles que o rodeiam. Não se pode esquecer que todas as experiências da vida do sujeito não ocorrem de modo mecânico, elas são vividas social, cognitiva e afetivamente. Cada uma Quer saber mais?

das experiências traz um acréscimo no repertório de situações que servirão de referência para as futuras

Milton Nascimento e Fernando Brandt musicaram essa ideia de que nada fica perdido a partir das experiências de vida: “Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão“.

situações que irão impor uma resposta nova e criativa em relação a estas já vividas. Destaca-se, então, a grande rede tecida pelo desenvolvimento cujos fios são representados pela cognição,

pelo

afeto

e

pelo

social,

garantindo

a

superação do estado inicial de desamparo na vida da criança. Sendo que o destino pode ser bem diferente para cada criança, não só pela diferença do que recebeu, mas também pelo que pode fazer com aquilo que recebeu.

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

73

O grupo e a personalidade da criança A criança precisa definir seu papel no grupo sem ser dominada por ele. Os seres humanos possuem uma tendência para viver socialmente, fazendo parte de uma

comunidade

organizada

com

leis,

costumes,

religiões. Diríamos que cada um de nós se sente como que pertencendo a vários grupos sociais (família, grupo profissional, religioso, regional) que se organizam em culturas mais amplas (ocidental, oriental). No processo de formação da personalidade da criança, vai se desenvolver também aquele aspecto do Eu que nos dá a sensação de pertencermos a grupos, que faz com que nos sintamos ao mesmo tempo iguais a todos os outros indivíduos do grupo e diferentes de todos eles. A família inicia esse processo de pertencimento grupal que é fundamental, pois ao mesmo tempo em que garante à criança a ideia de pertencimento de um grupo, por exemplo, através do sobrenome, também deve propiciar a identidade de seus membros através da diferenciação e individuação de todos. A este sentimento de pertencimento de um grupo, Erikson denominou sentimento de integridade do

Eu

ou

sentimento

de

identidade

pessoal.

(Rappaport, 1981). A ABORDAGEM DE ERIKSON Erikson divide o ciclo vital em oito fases, afirmando que há em cada uma delas uma crise psicossocial, ou seja, a necessidade de ajustamento social às solicitações do ambiente social.

Dica de leitura

Existem dois ótimos livros de Erikson que devem ser consultados, ambos da Editora Zahar, do Rio de Janeiro, são eles: ERIKSON, E. H. Identidade, Juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. ERIKSON, E. H. Infância e sociedade. 2ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1987.

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

74

A primeira destas fases é chamada, por Erikson de confiança X desconfiança, vai do nascimento até os dezoito meses. Esta fase pode ser comparada ao que Freud denominou de estágio oral em sua obra intitulada “Três Ensaios sobre a Sexualidade”. Distintamente, na obra freudiana, os estágios não são tratados como patamares de um desenvolvimento, pois o que importa para Freud é a constituição do inconsciente e este é caracteristicamente atemporal e atópico. Cada um dos estágios pode estar presente na vida inconsciente a qualquer momento e em qualquer lugar como se fosse atual. Segundo Erikson, a confiança (ou desconfiança) no

mundo

e

em

si

mesmo

é

aprendida

no

relacionamento do bebê com a sua mãe, através de interações sociais e afetivas. Se observarmos sob a ótica de Freud que denomina esta fase de oral, pode-se afirmar

que

é

como

se

a

criança

incorporasse

sensações boas e agradáveis que lhe permitissem dar e receber afeto. É claro que quanto maior a dose de confiança básica, maior o otimismo que o indivíduo irá manifestar diante das possibilidades de gratificação pessoal ao longo

de

sua

vida.

Porém,

uma

certa

dose

de

desconfiança também se faz necessária para que o sujeito

tenha

condições

de

discernir

pessoas

e

situações realmente receptivas (Rappaport, 1981). Entre dezoito e trinta meses, segundo Erikson, a criança está na idade da autonomia X vergonha ou dúvida, que corresponde ao estágio anal da teoria da sexualidade de Freud. Este é o momento em que a criança começa a alcançar condições do controle dos esfíncteres vesical e anal, diurno e noturno. Ela começa a experimentar sua

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

75

vontade autônoma de controlar suas necessidades, havendo mesmo na cultura uma ênfase a tal controle, até mesmo precocemente, como também de toda a sua higiene corporal. Entretanto, paralelo aos desejos da cultura, existe o seu próprio eu, que se estrutura em relação estreita com a mãe. O olhar dela se tornará um indicador do sentimento de autonomia, pela aceitação e pelo afeto que lhe é dedicado ou se desenvolverá um sentimento de dúvida (sobre si mesma e seus pais) ou de vergonha (que poderá se associar à culpa). Para refletir

A

autonomia

levará

à

autodireção

e

à

independência para agir no cotidiano como se vestir, calçar

sapatos,

se

lavar,

comer.

Uma

criança

independente tem maior necessidade de explorar o ambiente onde vive e, nesse momento, o modo de agir do adulto interfere diretamente. Tais sentimentos estão calcados nos sentimentos de confiança ou desconfiança, desenvolvidos na fase anterior. Entre três e seis anos de idade, segundo Erikson, a criança passa pelo conflito de iniciativa X culpa, que corresponde à fase fálica, segundo Freud. Nesta

fase,

a

grande

contribuição

para

o

desenvolvimento psicossocial será o sentimento de poder confiar na própria capacidade de iniciativa. Para Freud, é neste momento que a criança desenvolve sua identidade sexual como menino ou menina. É a época em que irá se identificar com o progenitor do mesmo sexo e copiar aspectos do comportamento adulto. É o período, traduzido por Freud como Complexo de Édipo, fato que é considerado universal e todas as crianças estarão expostas a um complexo de sentimentos cujo enredo se faz com os atores familiares.

Reflita sobre o conceito AUTONOMIA e suas influências no desenvolvimento psicossocial. Liste ações que promovam a autonomia.

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

76

É muito importante que as crianças vivenciem experiências que lhes permitam sentirem-se seguras e não culpadas por expressarem seus desejos. Fato este nada fácil de ser experimentado, pois seus próprios progenitores também se sentem ameaçados uma vez que atualizam antigos conflitos que estavam mantidos fortemente recalcados e, nesse momento, revivem como força real e atuante. Logo, os conflitos pessoais se somam aos conflitos das gerações e deixam a criança em grande situação de mal-estar e sentimento de incompreensão. Para Erikson, dos seis aos doze anos, a criança passa pelo conflito do domínio X inferioridade, que corresponde à latência na teoria de Freud. É um momento na vida da criança em que ela está mais voltada para a competência. Ter aprendido a ler, ter grupo

de

amigos

(do

mesmo

sexo),

estar

desenvolvendo várias habilidades conferem-lhe um sentimento de domínio. Porém, precisa ser encorajada para que este sentimento não se transforme em algo oposto, dando-lhe a sensação de inferioridade.

Freud e a descoberta da infância Ao procurar as causas das neuroses do adulto, usando os métodos da pesquisa clínica, incitando seus clientes

que

fizessem

“associações

livres”,

que

contassem seus sonhos mais recentes, Freud conseguiu criar um panorama revolucionário sobre a infância. Primeiro porque discutir sobre sexualidade infantil se tratava de algo abominável. Pensavam os médicos de sua época: como uma criança poderia estar associada ao sexo ou à atividade sexual, sendo seres tão puros e inocentes? Para responder a essa e outras perguntas, Freud tratou de trabalhar o conceito de sexualidade de

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

77

maneira inusitada, comprovando a erogenização do corpo em partes até que se atinja uma sexualidade adulta completa e sem que se perca o prazer das partes

(zonas

erógenas,

por

exemplo,

a

boca).

Mostrando também que a sexualidade não se restringe ao ato sexual, pois a forma de obter satisfação e prazer é diferente para cada pessoa. Segundo porque Freud descentrou a idéia de sexo do ato sexual, a sexualidade passa por caminhos muito mais amplos que incluem a fantasia de cada pessoa. A fantasia progressivamente ganha destaque na obra freudiana, pois o que se passa em pensamento é muito mais complexo e misterioso do que se passa na ação, no ato. A fantasia se forma desde muito cedo, permitindo à criança construir teorias sexuais que somente mais tarde poderão ser esclarecidas no mundo adulto, mas continuarão a deter e moldar atitudes e comportamentos que marcarão sua personalidade. Freud constatou, muitas e muitas vezes, que os principais aspectos do desenvolvimento pessoal de seus clientes tinham se originado durante os primeiros seis anos de vida. De fato, Freud descobriu que somente podia entender a personalidade adulta, analisando o tipo de experiências e relacionamentos pessoais que o adulto tivera na infância. Daí sua famosa frase: “A criança é o pai do homem”. Nas primeiras experiências, poderiam

ser

descobertos

os

desenvolvimento pessoal futuro.

fundamentos

do

(Sprinthall, R. e

Sprinthall, N., 1977).

Criatividade e desenvolvimento social Um importante aspecto a ser destacado e que também

envolve

criatividade.

o

desenvolvimento

social

é

a

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

78

Sentir a existência como algo inestimável que realmente vale ser intensamente vivido, só é possível entre os indivíduos cuja vida se exterioriza por múltiplas e variadas manifestações de criatividade. Ao contrário, os que duvidam de seu valor e dignidade, frequentemente, não podem vivê-la criadoramente. (id., 1977) Estas duas formas de se encarar a existência humana e de vivê-la estão intrinsecamente ligadas à Quer saber mais?

qualidade da formação recebida no lar e na escola. Embora a criatividade e até mesmo o seu

A Função da Arte Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - “Me ajuda a olhar!”.

desenvolvimento constituam uma forma de expressão

Eduardo Galeano

agora de todos os dias, está, na verdade, diminuindo

profundamente pessoal, nem por isso o meio ambiente e

a

interação

social

deixam

de

influenciá-la

basicamente. Ser criativo é, também, encontrar soluções para os impasses e as crises que se vive. A criatividade cotidiana é, na verdade, o maior instrumento na busca e na realização de nossos objetivos. Uma situação que a princípio parece sem saída, de repente, vem uma idéia na cabeça (insight). A mãe que reforça a dependência do filho, que o superprotege reduzindo o número e a qualidade de suas experiências infantis e que, por isso mesmo, o distancia de um envolvimento pessoal pleno no aqui e suas possibilidades de expansão criadora.

Dica da professora

Acrescentando

ao

comportamento

materno,

têm-se as condições ambientais e outros aspectos culturais inibidores da criatividade.

Pense o que você pode explorar nesse sentido. Crie opções.

Alguns

fatores

restritivos

da

merecem destaque como, por exemplo:

criatividade

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

79

 A redução dos espaços físicos nas residências atuais

limitando

as

atividades

físicas

e

mentais;  O excesso de informação pronta, sem gerar curiosidade

ou

pesquisa

acomodando

a Dica da professora

atividade intelectual;  A violência que exige por parte dos pais atitudes

de

controle

e

superobservação

procurando evitar danos físicos e emocionais às crianças e aos adolescentes;  A quase ausência das brincadeiras de rua e dos grupos de amigos de diferentes estratos sociais que geram alternativas empobrecidas;  A padronização dos brinquedos que instituem modismos entre as crianças esvaziando a identidade

destas

e

restringindo

as

características pessoais;  O

crescimento

urbano

descontrolado

“A criança que brinca e o poeta que faz um poema estão ambos na mesma idade mágica“. Mário Quintana Assim como o educador de crianças deve utilizar brincadeiras, o educador de adolescentes deve utilizar diferentes manifestações artísticas (poesia, música, filme...) para instigar a criatividade.

promovendo o distanciamento com o mundo natural

que

oportuniza

experiências

de

introspecção e solução criativa;  A

perda

precoce

da

infância

devido

a

exigências de padrões sexuais estereotipados que afligem psicologicamente as crianças e os adolescentes;  O desconhecimento das histórias infantis pela maioria das crianças que alimenta o mundo imaginário e cria o importante hábito da leitura. Por outro lado, o professor que não reconhece o valor

de

seu

aluno

como

um

indivíduo

único,

reservatório promissor de potencialidades latentes e singulares, adota um comportamento autoritário e onisciente

que,

sem

dúvida,

não

possibilita

a

estimulação e o cultivo dos potenciais criadores do estudante (Rodrigues, 1976).

Quer saber mais?

Ler livros é um hábito que se adquire cedo, mas que é relegado a uma brincadeira sem graça. Puro preconceito! Ou preguiça mesmo. Uma boa leitura proporciona, além de um voo à imaginação, boas oportunidades para descobrir desde bichos, pessoas e lugares exóticos até o nosso próprio nariz. Monteiro Lobato apostou nisso em uma obra que reúne riquezas populares e muita fantasia.

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

80

Adotar

uma

prática

pedagógica

sadia

que

favoreça o desenvolvimento psicossocial do aluno e promova a aprendizagem é um dos maiores desafios docentes. Uma conquista que deve ser construída ao longo

do

relacionamento

professor-aluno,

exigindo

humildade e dedicação de ambas as partes.

EXERCÍCIO 2 Marque o único fator que não interfere diretamente na formação do autoconceito da criança: ( A ) Autoconceito dos pais; ( B ) Os brinquedos que tem; ( C ) Forma de ingresso na escola; ( D ) Estrato social a que pertence; ( E ) Desempenho acadêmico.

EXERCÍCIO 3 Marque o único fator não restritivo da criatividade: ( A ) Redução dos espaços físicos nas residências; ( B ) Excesso de informação pronta; ( C ) Conhecimento de histórias infantis; ( D ) Crescimento urbano descontrolado; ( E ) Perda precoce da infância.

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

81

EXERCÍCIO 4 Comente, especificamente, sobre a influência na vida da criança em relação ao grupo de companheiros. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

EXERCÍCIO 5 Na infância existem três agentes socializadores de fundamental importância e a família é o primeiro deles. Comente

sobre

o

papel

da

família

como

agente

socializador. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

RESUMO Vimos até agora:  Educadores devem estimular todos aqueles que lidam com crianças a dialogar sempre com elas, pois, a partir da fala, as trocas linguísticas enriquecem e as possibilidades das trocas sociais também;  A condição de desamparo e dependência que toda criança nasce faz dela um ser de necessi-

Aula 3 | Desenvolvimento psicossocial

82

dades e demandas a serem atendidas para que possa completar sua formação orgânica;  Ser criativo é também encontrar soluções para os impasses e as crises que se vive, e importante

instrumento

na

busca

e

na

realização dos objetivos de vida de cada um.

Apresentação

Maria Poppe Eunice do Vale Madeira Maria Cristina Fontes Urrutigaray

AULA

A Contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

4

Esta aula desenvolve os principais conceitos referentes aos três importantes teóricos da Psicologia do Desenvolvimento na visão construtivista: Piaget, Vygotsky e Wallon. Cada um deles se destaca por um aspecto do desenvolvimento humano, Piaget devido à relação entre pensamento e raciocínio lógico na gênese do conhecimento. Vygotsky na relação entre pensamento e linguagem constituindo o sujeito na sua interação com o mundo que o cerca. Wallon na abordagem relacional entre o biológico e o social permeados de emoção e movimento. Observe que estes conhecimentos formam o alicerce das discussões sobre a formação conhecimento do homem.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:  Identificar as diferenças básicas de cada um dos autores estudados;  Compreender o papel do meio na estruturação humana e no desenvolvimento cognitivo e no emocional;  Conhecer algumas fases do desenvolvimento humano a partir dos teóricos estudados e sua influência no processo de aprendizagem;  Conhecer os principais conceitos das teorias apresentadas e sua relação com o papel da escola para o desenvolvimento da criança.

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

Introdução 84 O pensamento de Piaget 84 O processo de equilibração 88 Tipos de operações infralógicas 94 Tipos de operações lógicas 96 O pensamento de Vygotsky 100 O pensamento de Henry Wallon 115

84

Introdução Nesta aula, você conhecerá um pouco do pensar humano. Entender como o homem desvenda o mundo, como interage com ele, como elabora ideias que o auxiliam a ser um construtor de seu “habitat”, sempre foi motivo de pesquisa entre pensadores, cientistas e filósofos.

Entre

eles,

destacaremos

os

seguintes

pensadores: Piaget, Vygotsky e Wallon.

O pensamento de Piaget Jean Piaget, biólogo, epistemólogo, nascido em Neuchâtel, Suíça, no ano de 1896 e falecido em 1980. Desde menino, o interesse científico de Piaget era notório. Ainda jovem e com pouco tempo de formado, interessou-se pela magia do pensamento humano. Seus estudos que configuraram a Teoria da Epistemologia Genética, ainda, são considerados como um dos pilares

para

o

conhecimento

do

desenvolvimento

cognitivo, até mesmo nos meios científicos. Para Piaget, o homem é um sistema aberto. A resposta do ambiente contribui para um processo constante de reorganização mental, auto-regulando-o. Sua visão teórica é interacionista: o homem é produto de uma bagagem genética que se desenvolve no meio social. Trabalhou franceses

-

inteligência)

inicialmente

Binet

e

-

se

e

Simon

com

dois

(utilizando

interessou

pelas

psicólogos escala

de

respostas

consideradas erradas, concluindo que tais respostas eram consideradas erradas por serem analisadas a partir do ponto de vista do adulto. Sendo assim: "As respostas infantis têm uma lógica própria".

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

85

Sua grande busca sempre foi entender a gênese das estruturas lógicas do pensamento da criança, como se organizam suas ações inteligentes. Sua pergunta é:

Quer saber mais?

como se dá o conhecimento? Para

Piaget,

o

desenvolvimento

psíquico

é

semelhante ao desenvolvimento orgânico, tem uma direção - equilíbrio progressivo. Em sua ótica, a inteligência é uma adaptação na busca do equilíbrio entre o organismo e o meio. Ela é construída através do contato com o meio e as experiências vividas -

O conhecimento não precede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas (Piaget, 1976).

AÇÃO. ELEMENTOS DA TEORIA PIAGETIANA

Importante

Como se pode perceber, Piaget concebe o ser humano enquanto um ser que se constrói na relação com o meio – um ser que aprende na relação sujeito-objeto. Vejamos alguns elementos de sua teoria: HEREDITARIEDADE O indivíduo herda:  estruturas biológicas;  um organismo que amadurece em contato com o meio ambiente;  capacidades cujo desenvolvimento depende do meio ambiente. ADAPTAÇÃO Forma adequada para se lidar com situações novas. Acontece por dois processos: assimilação e acomodação.  assimilação - É a tentativa de solucionar uma

situação,

mental



utilizando

formada.

assimilação biológica.

É

uma

estrutura

semelhante

à

Neste ponto devemos lembrar que Piaget como biólogo foi fortemente influenciado pela tese darwinista da evolução das espécies. “Piaget licenciou-se em 1915, em ciências naturais, com uma tese em biologia sobre moluscos. Tais estudos permitiramlhe incorporar as discussões decorrentes da teoria da evolução de Darwin” (COSTA, 2001).

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

86

(Exemplo: alimento conhecido X alimento novo)  acomodação - É a tentativa de solucionar uma situação nova buscando novas maneiras de agir, considerando as propriedades do objeto. Consiste em diferenciar cada vez mais, refinadamente, os esquemas de ação para

adaptá-los

melhor

cambiantes

do

campo

contribuindo,

ao

mesmo

às

condições

de

atividade,

tempo,

para

a

criação de esquemas novos. O sujeito se constrói como sujeito enquanto constrói o objeto. Os processos de acomodação levam o sujeito a estabelecer relações de objetividade com o mundo. Ao estruturar o objeto, a criança estrutura a si mesma

enquanto

sujeito.

Quanto

mais

o

mundo

adquire coerência, mais ela própria se torna coerente. Obs.: Tais processos estão presentes durante toda a vida do indivíduo. ESQUEMA Unidade estrutural básica de pensamento ou de ação e que corresponde, de certa maneira, à estrutura biológica que muda e se adapta. Agir é coordenar esquemas entre si. Dica da professora

 O bebê ao nascer possui reflexos e sensação. Ele age através das funções tônicas e de

Essa é uma situação simples que podemos observar no cotidiano de uma criança. Procure analisá-lo sob a perspectiva piagetiana da próxima vez!

motilidade e estabelece uma comunicação tônico-afetiva. Essa é a primeira forma de comunicação

do

processo,

bebê

o

ser vai

humano.

Por

esse

organizando

suas

sensações e utilizando intencionalmente seus reflexos. Exemplo - Reflexo de preensão - O bebê, ao nascer, agarra tudo que for colocado na palma de sua

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

87

mão. Com a maturação biológica e com estímulos do ambiente, a criança desenvolverá um ESQUEMA DE PREENSÃO que associado ao olhar lhe permite trazer o objeto que está no seu alcance para junto de si (exemplo: colocar a chupeta na boca). EQUILÍBRIO DESENVOLVIMENTO MENTAL

X

* Equilibração das estruturas cognitivas (inicialmente esquemas sensoriaismotores).

DESENVOLVIMENTO ORGÂNICO * Equilíbrio orgânico.

* Diferentes possibilidades de interagir com o ambiente em diferentes faixas. etárias. Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo é explicado

através

de

quatro

fatores

que,

ao

se

processarem, permitem tal desenvolvimento. São eles:  Maturação - É o crescimento fisiológico das estruturas orgânicas hereditárias;  Experiência  física - Possibilita o conhecimento físico através da observação. Ex.: a bola rola; o vidro quebra; o gelo derrete na água, a areia não.  Conhecimento partir

daí,

a

lógico-matemático criança

constrói

-

A

relações

lógicas. Ex.: Enfileirar 10 pedras. Contar em diferentes direções. Refazer o desenho e contar novamente. Descoberta de que a soma independe da ordem;

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 Transmissão

88

social

-

informações

contraditórias ou desafiadoras;

Quer saber mais?

 Equilibração - É o processo que produz O conceito de equilíbrio, Piaget foi buscá-lo na Física, onde todo corpo tende à busca de uma homeostase ou estado de equilíbrio.

coordenação

entre

a

acomodação

e

a

assimilação. Coordena e regula os três fatores anteriores, fazendo surgir estados progressivos de equilíbrio. Obs.: Esses estados não são permanentes. A criança, ao nascer, inicia seu processo de equilibração sucessiva e progressiva por meio do desenvolvimento das estruturas da inteligência. Isto ocorre em quatro períodos distintos, cuja ordem é fixa. Em cada período, o indivíduo tem um modo típico de se relacionar

com

o

mundo,

determinado

por

uma

estrutura mental característica que possibilita uma forma particular de raciocínio.

O processo de equilibração O

processo

de

equilibração

sucessiva

se

caracteriza em cada um dos seguintes períodos: Importante

 Período da inteligência sensório-motora Quantos mitos e crendices foram superados com esses estudos. Pois foi confirmada a existência da herança biológica dos reflexos e da discriminação de sensações que contribuem para o desenvolvimento do bebê.

(0 - 2 anos);  Período da inteligência simbólica ou préoperatória (2 - 7 anos);  Período

da

inteligência

operatória

concreta (7 - 11/12 anos);  Período da inteligência operatória formal (a partir de 11/12 anos com patamar de equilíbrio entre 14/15 anos).

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I - PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR (0-2 ANOS) CONQUISTA DO MUNDO (evolução psíquica)

Percepção

Movimentos

Esse período se desenvolve em três estágios: 1) Dos reflexos Dica de leitura

Características:  melhoria da interação através de exercício;  impulsos instintivos alimentares. 2) De organização das percepções e hábitos Exemplos:  sucção sistemática do polegar;  virar a cabeça em direção ao ruído;  seguir um objeto em movimento. 3) De inteligência senso-motora  inteligência prática (anterior à organização do pensamento);  manipulação

de

objetos

em

lugar

de

palavras e conceitos (esquemas de ação). Ex.: pegar uma vareta para alcançar um objeto;  procura

de

objeto

fora

do

campo

da

percepção. (coberto com um lenço - mais ou menos 1 ano) Nesse

estágio,

dois

processos

fundamentais

ocorrem:  Construção de categorias e de objetos. Ao categorizar, a criança aprende a agrupar objetos por atributos. Ex.: separar carros de bolas.

Para brincar com o tempo, utilize com seus alunos o livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Lewis Carroll foi um professor de matemática, inglês, que se tornou famoso com este livro. A sua primeira tradução para o português foi feita por Monteiro Lobato, por volta de 1930, é uma das obrasprimas da literatura infantil mundial.

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Construção da causalidade e do tempo. Importante

Aos 2 anos, a criança estrutura a noção de É importante identificar que nesse período o mundo que existe para a criança é o mundo percebido. O objeto deixa de existir quando não alcançado mais pelo campo visual. Observe crianças, ainda menores, que choram na ausência de seus cuidadores, mesmo que por breve período de tempo. A existência do objeto é em tempo real, pois não há condições de fixação, na memória daquele objeto.

espaço (ligada ao movimento) - um espaço geral que compreende os outros, caracterizando as relações dos objetos entre si. II - PERÍODO PRÉ-OPERACIONAL (2 - 7 ANOS) Este é um período marcado pelo aparecimento da

linguagem,

capacidade

de

reconstituir

ações

passadas (narrativa) e antecipar ações (representação mental), o que causa profundas mudanças tanto na área afetiva quanto na cognitiva. É também um poderoso agente de socialização, da organização do pensamento

(interiorização

da

palavra)

e

de

experiências mentais (interiorização da ação). Para pesquisar

Piaget fala do egocentrismo em dois níveis: intelectual e social. Procure pesquisar e diferenciar estes conceitos.

Tais mudanças não são bruscas, elas ocorrem em transformações lentas e sucessivas. É preciso que a criança reconstrua o objeto, o espaço, o tempo, as categorias lógicas de classes e de relações no plano da representação. Entretanto, é preciso ressaltar que esta é uma representação simbólica, uma vez que a criança não pensa propriamente, mas vê mentalmente o que evoca, no plano do egocentrismo intelectual, pois sua inteligência ainda não é reversível e ela ainda opera no concreto. Ela transporta o mundo para sua cabeça, transformando o real ao sabor de suas necessidades e desejos. Esse período se subdivide em dois estágios: a) Estágio Pré-Conceitual (2 - 4 anos)  A criança opera em nível de representação simbólica (imitação);  Pensamento egocêntrico (não é capaz de se colocar no lugar do outro).

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É a indiferenciação entre o ponto de vista próprio e os pontos de vista dos outros ou entre a atividade própria e as transformações do objeto. É um

Dica da professora

fenômeno inconsciente. É uma absorção do eu nas coisas e nas pessoas com indiferenciação, uma vez que atribui as outras qualidades provenientes de si ou da perspectiva particular em que está envolvido. A criança não

relativiza

egocentrismo

por

ausência

confunde

de

descentração.

aparência

com

O

realidade,

manifestando-se na representação que a criança faz de si no mundo.  Animismo - presume que todos os objetos estão vivos - Provém de uma assimilação das coisas à própria atividade.  Linguagem

egocêntrica



sem

a

preocupação de comunicação com o outro.  Raciocínio transdutivo - o raciocínio vai do particular para o particular. Exercite o pensamento de seus alunos. Segue uma sugestão, a poesia de Cecília Meireles, Ou isto ou aquilo. Ou se tem chuva e não se tem sol ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares. É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares! Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro! Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo. Mas não consegui entender nada qual é o melhor: se é isto ou aquilo. É a justaposição de elementos sem vinculá-los. A criança não estrutura suas ideias em conceitos, como o adulto, mas em pré-conceitos. São particulares no sentido

em

que

evocam

realidades

igualmente

particulares, possuindo um correlato simbólico próprio

Observe crianças em creche, há pouca socialização. As brincadeiras são isoladas, seu universo imaginário é grande o suficiente para falar com animais, objetos e “amigos fantasmas”. Assim como tudo que está ao seu alcance é “SEU”, puro egocentrismo.

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de cada criança. Outra situação interessante é a da criança que, em viagem com a sua família, tendo visto uma barata na garagem de sua casa ao entrar no automóvel e, coincidentemente, avistando outra barata que passava pelo chão do local para onde fora, exclamou: “- Ela também veio!”  Finalismo - tudo tem um porquê.  Artificialismo - As coisas foram construídas (as montanhas crescem - os lagos foram escavados) São esquemas de assimilação egocêntrica.  Imitação diferida - É a formação de um símbolo mental de algo que a criança vê e mais tarde imita. b) Estágio Pré-Lógico ou Intuitivo (4 - 7 anos)  Raciocínio

pré-lógico

(baseado

em

experiências perceptuais). A criança considera a imagem mental em toda sua concreticidade e

a

organiza

mentalmente,

afirmando

o

tempo todo sem demonstrar. Ao final deste período, a criança se encontra em fase intermediária de não conservação e conservação. É o início das ligações entre estados e transformações, tornando possível pensá-las sob a forma reversível.  Centração - enfoque em apenas um estado de uma situação (volume, comprimento)

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93

Obs.: Aos cinco anos, a criança não considera altura e largura. Por

Quer saber mais?

exemplo:

Ao lhe

mostrar dois objetos

semelhantes às figuras acima, um vazio e outro cheio de água (ambos têm o mesmo volume) e, mesmo passando o líquido de um para o outro recipiente na frente dela, ao lhe perguntar em qual cabe mais a criança não considerará a altura e a largura para responder. Poderá até dizer que são iguais, mas ao se questionar o porquê, dirá que viu todo o líquido passar de um para o outro recipiente. Pelo ensaio e erro, a criança pode chegar a uma descoberta intuitiva de relações.  Irreversibilidade

de

pensamento

-

A

criança não consegue reverter uma atividade, voltando

atrás

coordenar

os

no

raciocínio,

fenômenos

a

fim

de

previamente

observados, com as circunstâncias presentes; Ex.: “Você tem um irmão?” “Sim”. “E ele tem uma irmã?” “Não”.  Enfoque entende

em o

estados

significado

da

A

criança

não

transformação

(conservação);  Em exercícios de seriação com bastões, as respostas são intuitivas. Não faz inserções. III - OPERAÇÕES CONCRETAS (7 - 12 anos)  Operações são ações no pensamento. “É aquilo que transforma um estado A em um estado

B

deixando,

propriedade

pelo

invariante

no

menos, decorrer

uma da

transformação, com possível retorno de B para

A,

anulando

essa

(Fraise e Piaget, 1979).

transformação.”

Gardner, ao formular a Teoria das Inteligências Múltiplas, tece algumas críticas ao trabalho de Piaget. No entanto, quando desenvolve sua teoria sobre a Inteligência LógicoMatemática, reconhece que ninguém desenvolveu melhor este tema do que o próprio Piaget. A crítica de Gardner diz respeito ao fato de Piaget não haver levado em consideração as outras inteligências que, na opinião de Gardner, compõem o conjunto da cognição. Sobre este tema, leia: GARDNER, H. Estruturas da Mente. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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94

 Operações concretas - “É a capacidade de raciocinar

logicamente,

pensamentos

em

organizar

estruturas

os

coerentes

e

totais, e dispô-los em relações hierárquicas ou sequenciais.” (Pulaski, 1980).  São de duas ordens as operações que se constroem neste período. Operações

lógico-matemáticas



São

operações do sujeito sobre o objeto, que é visto como uma unidade a ser quantificada, seriada, classificada. Não são acompanhadas de imagem mental. Operações infralógicas - São as que se aplicam sobre um objeto situado num espaço e num tempo, nas suas relações parte-todo e nas suas relações físicas com outros objetos.

Tipos de operações infralógicas I - CONSERVAÇÕES FÍSICAS

Importante

Conservação

é

uma

noção

operatória

que

permite à criança compreender que alterações de forma No entanto, deve ser ponderada cada uma dessas experiências em função da realidade e do meio vividos pela criança. Lembremos que Piaget era suíço e em seu país não havia fome nem violência. Portanto, flexibilizar os conceitos e a evolução das crianças nas diferentes faixas etárias é tarefa fundamental de todo educador.

não causam alterações de quantidade, peso ou volume. Em nível pré-operatório, a criança, por não descentrar (centrar a atenção em dois ou mais estados ao mesmo tempo), não percebe a transformação, ficando presa a apenas uma forma do objeto.  Conservações de quantidade a. Contínua Identidade simples - “A água é a mesma, não aumenta nem diminui”. Reversibilidade por inversão - “Se volta a água para o copo ela cabe toda”.

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Reversibilidade

por

compensação

95

ou

reciprocidade de relações - “A taça é mais baixa mas é larga. O copo é alto, mas é estreito, é a mesma coisa”. Dica de leitura

b. Descontínua Colocar, simultaneamente, com as duas mãos um grão de cada vez num copo alto e estreito e num outro largo e baixo na frente da criança. Interromper e questionar: Onde há mais grãos? 6/7 anos - É igual. 7/8 anos - Você botou um de cada vez em um e outro, então é igual.  Conservação de peso Por volta de oito anos, a criança já é capaz de entender que um quilograma de chumbo é igual a um quilograma

de

algodão,

quantidade

física,

embora,

ambos

em

aparentem

termos

de

diferença.

A

criança compreende que alterações de forma não são, necessariamente, acompanhadas de alteração de peso.  Conservação de volume Por volta de nove, dez anos, a criança já deve ser

capaz

de

perceber

que

determinado

volume

permanece inalterado, mesmo quando aparentemente ocupa um espaço maior. Esta noção é alcançada quando a criança compreende que alterações de forma, posição,

diferenças

de

peso

não

estão,

obrigatoriamente, associadas às variações de volume. II - CONSERVAÇÕES ESPACIAIS  Conservação de comprimento Após os sete anos, a criança já é capaz de entender, por exemplo, que duas retas são iguais mesmo quando aparentemente são diferentes, como no desenho abaixo.

GOULART, Iris. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. Petrópolis: Vozes, 1991.

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96

Obs.: A conservação de comprimento é mais fácil de ser entendida do que a conservação de quantidades contínuas, volume e peso.

Tipos de operações lógicas Vejamos alguns tipos de operações lógicas e o desempenho das mesmas no decorrer do processo de desenvolvimento cognitivo. I – CLASSIFICAÇÃO – É uma operação lógica em que a criança é capaz de organizar objetos em grupos de acordo com um ou mais atributos comuns a eles.  Aditiva visual 5/6 anos - um atributo 8/9 anos - dois ou mais atributos  Aditiva antecipatória

   Ao se pedir à criança que coloque as figuras em envelopes, atendendo à mesma característica, usando o mínimo

possível

de

envelopes,

as

respostas

evidenciarão o nível de maturidade. Assim sendo, estruturas lógicas mais evoluídas vão caracterizar maior visão de síntese.

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 Composição de classes A classe-inclusão é um tipo de operação de classificação na qual a criança compreende as relações entre um conjunto de objetos e seus subconjuntos, e entre vários subconjuntos. 9/10 anos - respostas corretas sobre todos e alguns Obs.: A classe-inclusão é indispensável para a compreensão do conceito de número.  Classificação multiplicativa - por volta de oito anos. A criança deve fazer classificações usando dois atributos ao mesmo tempo.  Multiplicação lógica de classes - final do período operatório concreto. A criança deverá ser capaz de trabalhar com duas, três ou mais variáveis, combinando-as entre si. II - SERIAÇÃO Nas operações lógicas de seriação, o indivíduo faz correspondências seriais. Consiste em corresponder a um conjunto de objetos de tamanhos diferentes, outros conjuntos de objetos igualmente diferentes em tamanho, seriando-os e fazendo correspondência termo a termo. Exemplo - Utilizando 3 conjuntos de botões (20 azuis - 25 vermelhos - 30 verdes), apresentar o azul e o vermelho, dizendo que há menos azuis do que vermelhos. Afastar o azul. Apresentar o verde junto ao vermelho. Dizer que há menos vermelhos do que verdes e questionar:

97

Dica de leitura

DOLLE, Jean-Marie. Para compreender Jean Piaget. Uma iniciação à psicologia genética piagetiana. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1983.

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Qual a cor do menor conjunto? Para refletir

Qual o papel da escola na construção do conhecimento do aluno?

Qual a cor do maior conjunto? III - COMPENSAÇÃO É um tipo de raciocínio que tenta restabelecer o equilíbrio de um sistema, modificando uma variável do próprio sistema ou de um sistema diferente. A criança precisa entender proporção. A partir da

proporção

qualitativa,

chegará

às

proporções

métricas simples. 7/9 anos - proporções simples 9/11 anos - proporções complexas Vamos analisar alguns casos narrados por Furth (1990) e teremos a possibilidade de entender melhor a importância da teoria apresentada.  Uma menina de nove anos de uma escola de elite passa duas horas alinhando algumas frases sobre barômetro. Sua mente está ocupada em copiar e memorizar palavras, em fixar

a

descrição

instrumento.

Nessa

pouquíssimo,

ou

aspecto

desse

do

aspecto

atividade

quase

ela

nada,

instrumento

no

que

desse pensa único poderia

encerrar um desafio à sua inteligência – a compreensão da utilização e funcionamento do aparelho. Desta forma, seu intelecto não é adequadamente exercitado. Se esta criança tiver a oportunidade de ser estimulada a pensar fora da escola, provavelmente, terá a oportunidade

de

compensar

tanto

tempo

perdido em tarefas escolares inúteis.  Uma criança de cinco ou seis anos menos afortunada, que não contou no passado com um meio favorável, nem conta agora com um

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

99

meio estimulante, como é o da escola descrita no caso anterior, estará jogando fora a oportunidade de estabelecer contato com a

Dica da professora

energia natural que possui e perderia o momento de trabalhar e desenvolver sua inteligência em um processo de aprendizagem construtiva.  A

aceitação

de

limitações

mínimas

predeterminadas para aquilo que uma criança é

capaz

de

realizar,

por

parte

dos

professores, pais e às vezes da própria criança,

Atenção às considerações que estão sendo desenvolvidas nesta parte do texto. Elas são muito importantes! Marque as frases que você considera fundamentais na compreensão do que está sendo formulado.

tende a estimular uma atitude passiva e a fixar critérios de expectativas prematuros e improcedentes. Tal tendência é tão injusta

Para pensar

para a criança com altas habilidades quanto para

aquelas

portadoras

de

deficiência

mental. Como

vimos,

os

estímulos

oferecidos

Como seria o currículo de uma escola que apostasse no pensamento?

ao

processo de pensar, como atividades desafiadoras da inteligência, é que favorecerão o desenvolvimento do intelecto. É neste caminho que a escola precisa investir

Dica de leitura

se quiser trabalhar o desenvolvimento da inteligência de seus alunos como define Piaget na seguinte frase citada por Furth, 1990, “A lógica do desenvolvimento é o desenvolvimento da lógica”. A escola precisa saber que tanto existe uma inteligência voltada para o campo musical, quanto para o campo das artes plásticas, das relações sociais e dos cálculos matemáticos. Reconhecer que a inteligência trata de conceitos gerais, tais como: o conceito de objeto (identificando sua natureza), o conceito de classe, de relação e de raciocínio lógico e que um mesmo indivíduo poderá ter todos estes conceitos bem desenvolvidos ou apenas alguns, dependendo do estímulo ambiental que receba

MOREIRA, Antonio Flavio B. Currículo: questões atuais. São Paulo: Ed. Papirus, 1997. SALES, Christina. O Currículo Construtivista na Educação Infantil. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2003. ANDRADE, Rosamaria Calaes de. O Currículo ressignificado. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2003.

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100

na escola e fora dela, é um grande passo para que as instituições educacionais atuem com mais eficiência no desenvolvimento da inteligência de seus alunos.

O pensamento de Vygotsky Lev Semyonivich Vygotsky nasceu em 5 de novembro de 1896, numa cidade provinciana da Rússia. Descendente de judeus, sofreu sanções pertinentes de uma VYGOTSKY

Rússia

czarista

anti-semita.

Portanto

era

fortemente identificado com as questões do povo judeu, pois estes não possuíam permissão do governo

Quer saber mais?

czarista

Você leu a pouco que ele se formou em Direito. Mas também fez cursos de Medicina, História e Filosofia

viver

fora

de

seus

guetos

predeterminados nem podiam servir nas fileiras do exército

Apesar da vida curta, o pensador bielo-russo teve uma produção intelectual intensa.

para por

serem

considerados

“pessoas

não

confiáveis”. Sua formação iniciou-se em Direito, pois essa carreira possibilitaria sua permissão de morar fora do “território demarcado”. Seguiu-se, a partir de sua graduação, pesquisas,

uma

enorme

incluindo

o

gama

de

despertar

interesses

para

os

e

valores

semânticos linguísticos, a psicologia e a medicina. Trabalhou

muito

brilhantes

trabalhos

aprendizagem.

com

Morreu

a

na

defectologia área

em

da

1934,

e

realizou

psicologia deixando

da uma

produção científica e significativa, tendo como principal colaborador Luria, seu discípulo, amigo e redator de suas últimas ideias. Inovador, e porque não dizer revolucionário para sua época, Vygotsky fez um percurso teórico na busca de uma nova Psicologia, que fosse uma síntese entre duas fortes tendências nesta área no início do século. Para entendê-lo melhor, é importante conhecer tais tendências na área de Psicologia na época de seus estudos.

Vygotsky

preocupava-se

com

uma

certa

divisão conceitual nos estudos da Psicologia e procurou pensar cientificamente de modo a unificar as idéias de

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

101

sua época. Abaixo, segue a maneira como a Psicologia se encontrava. Psicologia época,

a

como

psicologia

sensoriais

e

ciência

buscava

reflexos

basicamente

como

psicológicas

complexas.

natural:

explicar

não

A

o

homem

abordando

psicologia

Quer saber mais?

processos

considerando

corpo,

Nesta

funções

behaviorista

tratava o corpo como um organismo, igual a qualquer outro ser vivo, que recebe estímulos e reage a estes

Watson, primeiro psicólogo behaviorista, desconsiderava a consciência e defendia a idéia da psicologia como um ramo objetivo da Ciência Natural.

com respostas imediatas sem levar em consideração a consciência. Psicologia como ciência mental: A psicologia, por

outro

processos

lado,

descrevia

psicológicos

as

propriedades

superiores,

dos

considerando

o

homem como mente, como consciência. Era uma abordagem descritiva, dirigida a fenômenos globais, não produzindo descrições dos processos complexos em termos aceitáveis para a ciência. As

duas

abordagens

acima

refletiam,

para

Vygotsky, uma análise de um ser fragmentado que na psicologia ora contemplava aspectos mais cognitivos e pragmáticos, ora acentuava a visão de homem como um ser psíquico cujos aspectos afetivos eram mais relevantes.

A

busca

de

Vygotsky

era

por

uma

abordagem que tratasse a inteligência e a afetividade de igual modo, ou melhor, valorizando ambas as características da natureza humana e integrando-as às características sociais em que o homem está inserido. Pode-se

afirmar

que

Vygotsky

e

seus

colaboradores buscavam outra abordagem – nova – que

possibilitasse

uma

síntese

entre

as

duas

psicologias, antes descrita, e não o somatório. Uma síntese que abordasse o homem enquanto corpo e mente, ser biológico e ser social, membro da espécie humana e participante de um processo histórico. Para ele, a função da psicologia deveria incluir:

Dica da professora

Vygotsky teve, entre seus colaboradores, dois que merecem destaque pela continuidade que deram à sua obra. São eles Alexander Romanovich LURIA e Alexei Nicolaievich LEONTIEV. Para saber mais de Luria e Leontiev, poderá pesquisar via Web. O que acha?

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

 A

102

compreensão

e

a

identificação

dos

mecanismos cerebrais envolvidos em cada

Quer saber mais?

uma

das

funções

psicológicas

(sua

base

estruturalista); Você vai observar que, em Vygotsky, “os aspectos mais difundidos e explorados de sua abordagem são aqueles referentes ao funcionamento cognitivo;” (...) ”É interessante notar, porém, que Vygotsky nunca usou o termo COGNIÇÃO.” Martha Kohl de Oliveira in “O problema da afetividade em Vygotsky”.

 A

conceitualização

desenvolvimento

e

a

explicação

destas

funções

do (seu

procedimento histórico de análise);  A especificação ou a objetivação das relações entre formas simples e complexas de um mesmo comportamento (seu enfoque funcionalista). Vygotsky viu, nos métodos e princípios do materialismo científicos

dialético, com

a

que

solução se

dos

paradoxos

defrontavam

seus

contemporâneos e procurou desenvolver um método que

permitisse

a

comportamento

compreensão

humano,

da

natureza

do

parte

do

enquanto

desenvolvimento histórico geral da nossa espécie. Acabou

sistematizando

fundamentalmente desenvolvimento

nova do

uma sobre

pensamento

abordagem

o e

processo das

de

funções

cognitivas complexas de um sujeito contextualizado e, portanto, histórico. A essência deste novo método é o princípio de que todos os fenômenos têm uma história caracterizada por mudanças qualitativas e quantitativas e

que

devem

ser

estudados

como

processos

decorrentes de movimentos e mudanças. E na escola? “É importante, também, que o professor se coloque como um interlocutor real, interessado pelas trocas comunicativas com as crianças. Para tanto, ele precisa permanecer atento às colocações de seus alunos, ouvi-los, buscando atribuir sentidos e significados dentro dos contextos e experiência da realidade das crianças.. Muitas vezes, as crianças conversam segundo uma lógica própria, regulada por uma forma de pensar específica, denominada pensamento sincrético. Esta é uma construção postulada por Vygotsky, para explicar as plásticas relações e conceitos elaborados pelas crianças.” (Daniela Panutti, psicóloga, Programa Salto para o Futuro, TV Escola, junho de 2004)

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

103

Vygotsky entendia que a compreensão do ser humano

dependia

internalização

das

do

estudo

formas

do

processo

culturalmente

dadas

de de

funcionamento psicológico. Foi através dessa premissa que tentou explicar a transformação dos processos psicológicos biológicos

elementares, do

relacionados

desenvolvimento,

aos

em

fatores

processos

superiores, resultantes da inserção do homem num determinado contexto sociohistórico. Através de seu estudo sobre as funções psicológicas mais sofisticadas, exclusivamente humanas, Vygotsky esclarece em que medida o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. Para

entender o homem, faz-se necessário

entender sua demanda primordial, isto é, seu contexto histórico-social. Pois de nada adianta falar em termos de desenvolvimento se não tivermos um parâmetro inicial que identifique e sinalize este processo. O homem é um produto social e um agente ativo na criação cultural. A

síntese

que

resume

o

pensamento

de

Vygotsky tem seus pilares em algumas idéias centrais que serão trabalhadas nos próximos tópicos. O HOMEM POSSUI UMA BASE BIOLÓGICA

Dica de leitura

As funções do cérebro têm um suporte biológico, pois é produto de uma atividade cerebral. O cérebro é um sistema aberto, portanto tem possibilidade de troca com o meio externo, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. Vygotsky recusou a noção de funções mentais fixas e imutáveis, pois acreditava na sociabilidade humana e na influência do social no homem. Em sua

LURIA, A. R. Fundamentos de neuropsicologia. São Paulo: Editora Livros Técnicos e Científicos, EDUSP, 1981.

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

forma

de

ver,

o

104

funcionamento

psicológico

se

fundamenta nas relações sociais entre o indivíduo e o Dica da professora

mundo

exterior,

desenvolvendo-se

num

processo

histórico. Os fenômenos biológicos, psicológicos e sociais marcam as primeiras etapas da existência do homem, da concepção à adolescência, determinando diretamente uma parte importante do seu comportamento.

No percurso do homem enquanto ser biológico e sociohistórico (humanização), a cultura é essencial, uma vez que é nesta inserção que o indivíduo é levado a interagir e, para funcionar satisfatoriamente, vai, não só absorvendo a cultura como também a modificando ao mesmo tempo em

que, para

tal, desenvolve

estruturas internas cognitivas. Este é um processo onde predominam firmemente

as

funções

embasadas

psicológicas

nas

formas

superiores,

culturalmente

construídas de ordenar o real. Estas funções são típicas do ser humano e envolvem o controle consciente do comportamento, a ação intencional, a liberdade do indivíduo em relação ao momento presente e ao espaço. É importante ressaltar que a relação homemmundo na ótica vygotskiana é uma relação mediada por sistemas simbólicos que se organizam através da Importante

linguagem. Todo seu estudo, por isso mesmo, se concentrará na relação entre pensamento e linguagem.

Embora muitos autores tenham contribuído para a compreeensão da linguagem entre mãe e bebê, um deles, Vygotsky, considera a linguagem como um exercício social, pressupondo não só a relação entre os falantes, mas permitindo também relacionamento interpsíquico, que participam da construção da imaginação e memória, entre outras, que são funções mentais superiores.

O valor dado à linguagem na obra de Vygotsky foi sua marca principal e é nesta que se estabelece a relação entre mundo interno e externo em cada sujeito. A função de mediação da linguagem possibilita à criança e, depois, ao homem garantir seu estado de consciência e seu suporte de comunicação com o outro. O mundo da linguagem e dos símbolos foi o universo de pesquisa de Vygotsky, fonte explicativa da natureza humana que compreendia como sendo dotada de consciência de si e do mundo em que vive. Assim, então, dá sentido à personalidade como elemento que

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

105

singulariza o sujeito das funções elementares para as funções mentais superiores. As funções psicológicas superiores se utilizam das

funções

mentais

essenciais

como

memória,

pensamento, percepção, atenção, e dota de consciência

Dica de leitura

FREITAS, M.T.A. (org.). Vygotsky: um século depois. Juiz de Fora: EDUFJF, 1998.

as ações do sujeito, como mecanismos intencionais e voluntários,

que

adquirem

sentido

na

relação

do

homem com o mundo. Vale destacar que os processos psicológicos elementares e superiores permitem a integração entre corpo e alma, e entre sujeito e mundo, tão importante para Vygotsky. MEDIAÇÃO

Dica da professora

A perspectiva histórico-cultural tem como ênfase a

postulação

do

fator

“mediação”

enquanto

caracterização da relação do homem com o mundo e com os outros homens. Mediação é o processo de intervenção

de

um

elemento

intermediário

numa

relação que deixa de ser direta para ser mediada por esse

elemento.

fundamentação

Este

é

um

conceito

sociohistórica

do

central

na

funcionamento

psicológico. Podemos citar como exemplo a relação entre um indivíduo e uma vela acesa: Relação direta – sensação de calor e retirada da mão. Relação mediada – retirada da mão pela lembrança da experiência anterior. Ao longo da vida do indivíduo, as relações mediadas passam a predominar sobre as relações diretas. Segundo Vygotsky, há dois tipos de elementos mediadores: instrumentos e signos.

Atenção aos outros conceitos importantes na psicologia vygotskyniana.

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

106

INSTRUMENTO Quer saber mais?

É o instrumento que vai mediar a ação de um sujeito, é o objeto que possibilitará esta ação. É, pois,

“A invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher) é análoga à invenção e ao uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de instrumento no trabalho”. (VYGOTSKY, 1984)

um objeto social, mediador da relação entre o sujeito e o mundo. Obs.: – Os animais usam instrumentos, mas não os produzem deliberadamente, não os guardam para uso futuro, não preservam sua função para transmiti-la a seus pares. SIGNOS O “signo” (o objeto, forma, fenômeno, gesto, figura ou som) como representante de algo diferente de si mesmo. E serve para expressar eventos, ideias, situações, servindo como auxílio da memória e da atenção humana. Ele consiste, portanto, no auxílio das ações concretas, instituído pelos signos linguísticos, tem a

Dica da professora

O recurso da linguagem é privilégio do gênero humano, constituindo-se ao mesmo tempo sua característica universal. O homem dispõe para isto de um equipamento mental que age em conjunto com o aparelho fonador.

função

de

controlar

voluntariamente

a

atividade

psicológica ampliando a capacidade mnêmica e a atenção voluntária, dirigindo e orientando as ações humanas. A

linguagem

é

um

poderoso

instrumento

semiótico que está tanto orientado para o outro quanto para o próprio sujeito e que, neste caso, possibilita sua subjetividade e desenvolvimento. A linguagem (a ferramenta do homem) resulta de um sistema simbólico essencial e basal a todo grupo social humano. Ela é elaborada no curso da história social através da sedimentação de signos compostos em estruturas complexas, sendo fator primordial e imprescindível

na

psicologização

(formação

do

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

107

psiquismo). Através da aquisição da linguagem, o sujeito

adquire

pessoal

a

possibilidade

(desenvolvimento),

de

a

transformação

partir

de

três

possibilidades:  Evocar a presença de objetos ausentes;  Abstrair e generalizar as características de fatos e/ou objetos, eventos ou situações circunstanciais;  Comunicar

e

garantir

a

preservação,

a

transmissão e a assimilação da cultura. Assim sendo, para Vygotsky, a convivência em sociedade é essencial para a transformação do homem de elemento biológico em ser humano. É através da aprendizagem determinada pelas relações com os

desenvolvimento

quais

mental.

permitem

Segundo

o

nosso

psicólogo,

a

criança nasce dotada apenas de funções psicológicas elementares, como os reflexos e a atenção involuntária, presentes em todos os animais mais desenvolvidos. Com o aprendizado cultural, no entanto, parte dessas funções básicas transforma-se em funções psicológicas superiores como a consciência, o planejamento e a deliberação, Contudo,

características

as

informações

exclusivas

do

não

incorporadas

são

homem.

diretamente do meio, elas são mediadas pelos signos, os quais carregam os significados sociais e históricos. Isso não significa que o indivíduo seja como um espelho, apenas refletindo o que aprende, pois as informações

são

reelaboradas

numa

espécie

de

linguagem interna, própria de cada individualidade. Por isto,

a

linguagem

é

duplamente

importante

para

Vygotsky. Além de ser o principal instrumento de intermediação

do

humanos,

tem

ela

conhecimento relação

direta

entre com

os o

Dissemos antes que Vygotsky nunca havia usado o termo “cognição”. É claro que isto não quer dizer que os psicólogos soviéticos tenham deixado de estudar processos como percepção, pensamento ou memória (Wertsch, p. 63). O autor citado continua informando que Vygotsky usou o termo “função mental” para referirse a esses processos.

os

outros e mediada pela linguagem que construímos os conhecimentos,

Quer saber mais?

seres próprio

Importante

Ricardo Baquero, no seu livro “Vygotsky e a aprendizagem escolar”, assim descreve a função dos instrumentos e signos da cultura traçando um paralelo com a função da maturação e crescimento para o desenvolvimento da criança: “Na distinção que se pode realizar, então, no domínio ontogenético, quer dizer, no desenvolvimento da criança, a linha natural de desenvolvimento se assemelha aos processos de maturação e crescimento, enquanto que a linha ‘cultural’ trata com os processos de apropriação e domínio dos recursos e instrumento que a cultura dispõe”. (BAQUERO, 1998, p. 29)

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

108

desenvolvimento psicológico. Nenhum conhecimento é construído pela pessoa sozinha, mas sim em parceria com as outras, que são os mediadores. Os

processos

transformações,

ao

longo

de

mediação

do

sofrem

desenvolvimento

do

indivíduo, e fornecem um suporte concreto para a ação do homem no mundo. Este processo se organiza através

de

um

internalização,

que

outro será

chamado

processo

apresentado

no

de

tópico

seguinte. PROCESSO DE INTERNALIZAÇÃO São representações mentais que tomam o lugar dos objetos, das situações e dos eventos no mundo real. A questão da internalização, enquanto processo de constituição da subjetividade, e a construção do significado envolvem um aspecto particularmente relevante para a compreensão da abordagem unificadora do funcionamento psicológico humano proposto por Vygotsky: a internalização da linguagem. No processo de aquisição da linguagem, a criança primeiro utiliza a fala socializada, com a função de comunicação, contato social. Em fases mais avançadas de sua aquisição, porém, a linguagem, utilizada inicialmente para intercâmbio com outras pessoas, é internalizada e passa a servir ao próprio indivíduo. Isto é, ao longo de seu desenvolvimento, a pessoa passa a ser capaz de utilizar a linguagem como instrumento de pensamento, com a função de adaptação pessoal. (Oliveira, M., 1992)

Dica de leitura

REY, Fernando Luiz González. Sujeito e subjetividade: uma aproximação histórico-cultural. São Paulo: Pioneira Thomson Learning Ltda., 2003.

Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de necessitar de marcas externas e passa a utilizar signos internos (representações mentais que

substituem

os

objetos

do

mundo

real).

Tal

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

109

capacidade permite ao homem libertar-se do espaço e tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das

coisas,

imaginar,

fazer

planos,

agir

com

intencionalidade. Importante

Ao longo da história da espécie humana, os signos passam a ser compartilhados com os membros de um grupo, permitindo interação e comunicação. Podemos,

pois,

perceber

que

os

sistemas

de

representação da realidade (a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos) são produtos sociais. É na cultura que o indivíduo adquire ferramentas

que

lhe

permitirão

estabelecer

uma

A chamada “herança cultural” foi sendo transmitida de geração a geração, por mecanismos próprios, que não o corpo. A cultura significa a herança total da humanidade, e é característica de um certo grupo social.

mediação com o mundo e também se constituir. Agora que você já tomou conhecimento de conceitos da Teoria SocioHistórica, podemos pontuar algumas considerações que, certamente, facilitarão seu entendimento. O

grupo

cultural

fornece

ao

indivíduo

um

ambiente estruturado, uma vez que todos os elementos são carregados de significado comum ao grupo. A cultura não é algo pronto. Ela é altamente dinâmica e, por isso, mutável e toda a produção humana também. A vida social é dinâmica, cada sujeito é ativo em interação entre o mundo cultural e o mundo subjetivo de

cada

um.

A

internalização

da

matéria-prima

fornecida pela cultura não é um processo de absorção passiva, mas de transformação e de síntese. Para navegar

A internalização se trata de um processo mediante o qual se concretiza esta reorganização de uma função psicológica desde o plano interpsicológico ao plano intrapsicológico. (Baquero, 1998, p. 47) O processo de desenvolvimento do ser humano, na visão de Vygotsky, se dá de fora para dentro. O

Consulte o site www.lic.ufjf.br, trata-se de um campo de estudo da Universidade Federal de Juiz de Fora chamado “linguagem, interação e conhecimento”.

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

110

indivíduo primeiro realiza ações externas que serão interpretadas pelas pessoas de acordo com significados culturalmente

estabelecidos.

Tais

significados

percebidos passam a dar sentido à ação primária. A interação humana é possibilitada basicamente por

dois

fatores

característicos

do

ser

humano:

pensamento e linguagem. O estudo de Vygotsky gira em

torno

destes

fatores,

de

sua

construção

e

duas funções básicas.

A

interpelação. A

linguagem

tem

primeira delas é o intercâmbio social – função da comunicação. O homem, por sua característica de ser social, sempre interagiu, primeiro de forma primitiva, evoluindo para maneiras mais elaboradas, até chegar à linguagem verbal, ou seja, à construção de um código composto de sons, conceitos próprios e partilhado por um mesmo grupo. A função da comunicação gerou uma segunda: pensamento generalizante. Através dessa função, a linguagem ordena o real criando categorias conceituais, fornecendo os conceitos e as formas de organização do real,

tornando

a

linguagem

um

instrumento

do

longo

do

pensamento. Segundo

Vygotsky,

ao

desenvolvimento da espécie humana, a trajetória do pensamento se une à da linguagem, possibilitando ao biológico

se

transformar

em

sociohistórico.

No

desenvolvimento do indivíduo, ocorre um processo semelhante,

o

pensamento

torna-se

verbal

e

a

linguagem racional, ou seja, a fase pré-linguística do pensamento (utilização de instrumentos e inteligência prática) e a fase pré-intelectual da linguagem (alívio emocional e função social) dão origem ao pensamento verbal e a linguagem torna-se racional. A interação com

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

111

membros mais maduros da cultura que já dispõem de uma

linguagem

estruturada

vai

provocar

o

salto

qualitativo para o pensamento verbal. É no significado da palavra que pensamento e fala se unem em pensamento verbal. Dica de leitura

O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério da palavra, seu componente indispensável. Pareceria, então, que o significado poderia ser visto como um fenômeno da fala. Mas, do ponto de vista da Psicologia, o significado de cada palavra é uma generalização ou um conceito. E como as generalizações e os conceitos são, inegavelmente, atos do pensamento, podemos considerar o significado como um fenômeno do pensamento. (Vygotsky, L., 1989)

OLIVEIRA, Marcos Barbosa de. Investigações cognitivas: conceitos, linguagem e cultura. Marta Khol de Oliveira (org.). Porto Alegre: Artmed, 1999.

Em seus estudos, Vygotsky distingue dois componentes do significado da palavra: “significado propriamente dito” – Refere-se ao sistema de relações objetivas que se formou no processo de desenvolvimento da palavra, tornando-se um núcleo relativamente estável de compreensão da palavra, compartilhado com todas as pessoas que o utilizam;

Dica da professora

“sentido” – Refere-se ao significado da palavra para cada indivíduo, composto por relações que dizem respeito ao contexto de uso da palavra e às vivências afetivas do indivíduo (ligação do contexto de uso da língua

aos

usuários).

motivos

afetivos

e

pessoais

de

seus

Como exemplo, trabalhe com adolescentes o significado das músicas Aquele Abraço (Gilberto Gil) e Meu Caro Amigo (Chico Buarque).

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

Dica de leitura

112

A linguagem, como instrumento do pensamento, supõe um processo de internalização (discurso interior), é uma atividade individualizada e intrapsíquica que se

Sobre o valor do fator interacional em Vygostsky, vale a pena ler a obra: REGO, Teresa. Vygostsky: Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação. Petrópolis: Vozes, 2001.

estrutura a partir da atividade social, interpsíquica. Como se pode perceber, o atributo específico do ser humano - a faculdade de pensar - demonstra que o individual e o social se interpenetram em harmoniosa conjugação, configurando a essência humana. Se o individual imprime ao mundo um olhar específico, é o mergulho no caldeirão cultural que permite ao indivíduo a compreensão da dinâmica do que o circunda. Por exemplo, como entender a mensagem de compositores de algumas músicas de protesto sem o conhecimento de fatos históricos da época que inspiraram tais letras? Outras

áreas

de

conhecimento

como

desenvolvimento e aprendizagem, também, são temas centrais nos estudos de Vygotsky, embora ele não tenha estruturado uma concepção teórica sobre estas áreas. A ideia do desenvolvimento humano marcada pela

maturação

do

organismo

(define

parte

do

percurso) é secundarizada em Vygostsky em função da importância

da

interação

e

da

cultura

para

a

aprendizagem (que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento). A personalidade envolve a totalidade deste ser que se desenvolve e aprende, estruturado no eixo do pensamento e da linguagem. Segundo Vygotsky, a evolução intelectual é caracterizada por saltos qualitativos de um nível de conhecimento para outro. A fim de explicar esse processo, ele desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento proximal ou potencial (ZDP), definida como a “distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente

de

problemas,

e

o

nível

de

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

113

desenvolvimento potencial, determinado através de solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”. Trocando em miúdos: A zona proximal define aquelas funções

que

ainda

não

estão

suficientemente

amadurecidas, mas que se encontram em processo de maturação. A estruturação da relação entre desenvolvimento e aprendizagem é descrita, então, através do conceito – ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL:

Dica da professora

Distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (Vygotsky, L., 1984) Podemos, pois, notar que é preciso considerar a capacidade da criança na realização de tarefas: Desenvolvimento REAL – A criança já é capaz de ações independentes, ou seja, ela as realiza sem necessitar da ajuda de uma outra pessoa; Desenvolvimento POTENCIAL – A criança já é capaz de realizar determinadas ações, porém, com a ajuda de outra pessoa. Para

Vygotsky,

aprendizagem

não

as

se

possibilidades

encontram

somente

de na

dependência do nível de desenvolvimento mental da criança, mas também é determinada pelos processos de

que

nela

desenvolvimento



amadureceram

real),

mas,

(nível

de

principalmente,

prospectivamente pelos processos que ainda estão em formação (nível de desenvolvimento potencial). Assim,

Observe, em situação institucional ou doméstica, duas ou três situações em que a ZDP ou Zona de Desenvolvimento Proximal pode ser constatada. Leia com atenção a definição que explica este conceito muito bem e SUCESSO!

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

Vygotsky

elaborou

desenvolvimento

114

o

conceito

proximal,

que

de tem

zona

de

importantes

implicações educacionais, como já visto. De acordo com esse conceito, todo bom ensino é aquele que se direciona para as funções psicológicas emergentes. Desta forma, o ensino deve incidir sobre a zona de desenvolvimento

proximal,

estimulando

processos

internos maturacionais que determinam por se efetivar, passando a constituir a base para novas aprendizagens. Ao atender a este princípio, a escola estará dirigindo a criança para aquilo que ela não é capaz de fazer, centrando-se na direção das potencialidades a serem desenvolvidas. Na medida em que ele viu a aprendizagem como um processo essencialmente social – que ocorre na interação

com

adultos

e

companheiros

mais

experientes, onde o papel da linguagem é destacado – percebe-se que é na aproximação de habilidades e conhecimentos socialmente disponíveis que as funções psicológicas humanas são construídas. Nesse sentido, as concepções de Vygotsky, em relação à Educação, podem abrir perspectivas para uma redefinição do papel da escola e do trabalho pedagógico. O

aprendizado,

portanto,

constitui-se

como

principal elemento responsável pela criação da zona de desenvolvimento proximal. E ele se realiza através da interação da criança com outros indivíduos que atuam como agentes ou mediadores de potencialidades. Dica de leitura

Mas esse caminho exige a proximidade com o outro, o processo de socialização, existe também a

MOLON, Susana Inês. Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky. Petrópolis: Ed. Vozes, 2003.

ideia de que é através da intersubjetividade que as conquistas se darão tanto na aprendizagem quanto no desenvolvimento.

Em

crianças,

é

principalmente

processado com atividades lúdicas, sendo a brincadeira uma atividade de experimentação da cultura, para

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

Vygotsky.

A

brincadeira

encena

a

cultura

num

funcionamento imaginário e intersubjetivo, utilizando a linguagem verbal que alimenta os processos simbólicos necessários a estes funcionamentos. Na brincadeira, a criança introduz seus conflitos e os soluciona, de tal forma que explora caminhos possíveis para resolução de suas aflições no confronto com o mundo real. O bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento. Entretanto, Vygotsky não propõe um trabalho diretivo e autoritário, nem o aluno como um ser passivo. Seu objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e com a possibilidade de reconstrução, pelo

indivíduo,

dos

significados

culturalmente

transmitidos. Devemos considerar que nenhuma atividade humana

poderá

sociohistórico.

ser

Por

analisada

exemplo,

fora

como

do

contexto

conceber

uma

atividade com papel e lápis numa sociedade sem escrita? Sintetizando,

podemos

destacar

pontos

fundamentais na obra de Vygotsky:  O funcionamento cerebral como suporte biológico do funcionamento psicológico;  A influência da cultura no desenvolvimento cognitivo dos indivíduos;  A atividade do homem no mundo, inserida num sistema de relações sociais, como o principal foco de interesse dos estudos em psicologia.

O pensamento de Henry Wallon Henry Wallon (1879 – 1962) nasceu em Paris. Antes de iniciar seus estudos em Psicologia, estudou

115

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

116

Filosofia e Medicina, sendo possível identificar em sua obra as influências desses campos de saber. A observação de crianças doentes (casos de epilepsia, retardo,

anomalias psicomotoras)

e

sua

experiência clínica com adultos traumatizados e/ou sequelados pela guerra deram o embasamento para HENRY WALLON

suas concepções teóricas. Sua investigação das funções psíquicas sempre esteve

atrelada

funções.

Sua

à

infraestrutura

teoria

é

orgânica

fundamentada

em

dessas termos

neurológicos, na perspectiva genética e na análise comparativa, utilizando a Neurologia, a Psicopatologia, a Antropologia e a Psicologia. Em seus estudos das síndromes psicomotoras, deixou

evidentes

as

relações

no

desenvolvimento

infantil entre movimento e psiquismo, interagindo com o meio social. Mas Wallon adverte para os riscos de se comparar o comportamento da criança com o do adulto. Propôs estudar o desenvolvimento infantil a partir da própria criança, compreendendo cada uma das suas

manifestações,

no

conjunto

de

suas

possibilidades, levando em consideração a idade da criança. Wallon considera a doença como um elemento necessário à compreensão da normalidade. Atuou como médico e psiquiatra, mas focou seu interesse na psicologia da criança, principalmente, nas questões relacionadas ao desenvolvimento do intelecto, o que o aproximou da Educação. Sua organicista,

proposta pois

para

não

deve

Wallon

o

ser ser

considerada humano

é

organicamente social, o que supõe a intervenção da cultura na estruturação orgânica e na sua atualização. Concebe a vida dos organismos como uma alternância

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

de

opostos,

permanente.

onde Por

se

mantém

isso,

sua

uma

ideia

de

117

pulsação que

o

amadurecimento do sistema nervoso (SN), sozinho, não

garante

o

desenvolvimento

intelectual

mais

complexo. A influência do meio social se torna decisiva na aquisição da inteligência simbólica, sendo a cultura e a linguagem elementos importantes que fornecem ao pensamento os instrumentos de sua evolução. Em sua teoria, Wallon buscou articular os fatores biológicos (atos motores) com os fatores subjetivos (ato mental). O grande eixo é a motricidade, para ele, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor, exemplo disso e a aquisição de habilidades motoras básicas como a preensão e a marcha que contribuem para essa integração e desenvolvimento. O ser humano é, então, organicamente social, porque

carece da

desenvolvimento

cultura de

para

se atualizar e

determinadas

o

capacidades

intelectuais dependem das interações objetivas que o sujeito

estabelece

com

a

cultura.

Antes

que

a

motricidade possa alcançar o meio físico, ela atua e modifica o meio social. Percebemos que, na concepção walloniana, há uma descontinuidade entre ato motor e ato mental na medida em que o ATO MOTOR PRECEDE O ATO MENTAL, assim como o meio social é modificado, transformado pela expressividade humana antes que esta possa ter efeitos sobre o meio físico. Exemplo: o choro do bebê contagia a mãe, que lhe oferece o seio. O choro afeta e modifica o meio social: a mãe dá um sentido a esse desconforto, sem o que não haveria nenhuma modificação no meio físico. Segundo Dantas (1992), Wallon dá ênfase à questão da motricidade, não a dissociando do conjunto de funcionamento da pessoa. Associa a patologia do

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

118

movimento à patologia da personalidade. Identifica duas funções na atividade muscular:  CINÉTICA ou CLÔNICA – movimento visível, há uma mudança de posição do corpo ou segmentos deste no espaço.  POSTURAL

ou

TÔNICA



responde

pela

manutenção da posição assumida e pela mímica. Atividade do músculo parado. Wallon dará ênfase à função tônica, embora a dimensão afetiva ocupe um lugar central em sua teoria. Para ele, a emoção tem profundas raízes na vida orgânica. Ele descobre a origem dos comportamentos vegetativos dos estados emocionais na função tônica e caracteriza a atividade emocional como complexa e paradoxal, por ser, simultaneamente, de natureza biológica e social. Para Wallon, o psiquismo é uma síntese entre o orgânico e o social. É o vínculo que a consciência afetiva instaura com o ambiente social que permite ao indivíduo o acesso ao universo simbólico da cultura. O desenvolvimento para Wallon é uma constante e progressiva construção, com predominância funcional de momentos afetivos e cognitivos.  CARÁTER FUNCIONAL - etapas da elaboração do real e conhecimento do mundo físico.  CARÁTER AFETIVO - relação com o mundo humano e a construção do eu. Bem, até aqui, já temos claro que o organismo biológico é afetado e modificado pela cultura, sendo o psiquismo uma síntese entre o orgânico e o social. Mas, uma questão se impõe: Por que ou para que Wallon dá ênfase ao conceito de tônus, qual a implicação do tônus no desenvolvimento emocional?

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

119

A resposta é simples e esclarece a ênfase dada: Wallon utiliza o papel do tônus como um critério classificatório para identificar a natureza das emoções, tais como: 1. HIPOTÔNICA – emoções que levam a redução do tônus. Ex: depressão, susto. 2. HIPERTÔNICA – emoções que geram tônus. Ex: cólera, ansiedade. 3. FLUXO TÔNICO – se dá quando ocorre a elevação

e

o

escoamento

do

tônus

em

movimentos expressivos. Ex: alegria. Wallon aponta a existência de três acessos às manifestações passionais, são elas: a) através de uma natureza química, central; b) mecânico-muscular, periférica; c) abstrata, representacional. Além

disso,

aponta

a

função

social

do

comportamento emocional e seu consequente caráter contagioso, buscando trazer luz à compreensão dos processos interpessoais. Sobre estes três acessos, a manifestação passional vale lembrar alguns exemplos bem ilustrativos: 1º. EXEMPLO: Na natureza química central, podemos observar a química cerebral atuando em situações de susto, por exemplo, cuja reação corpórea é de sudorese e taquicardia; 2º. EXEMPLO: No mecânico-muscular periférico, podemos observar a reação corpórea pós-relaxamento, onde a tonicidade é alterada juntamente com o estado emocional; 3º. EXEMPLO: Na abstrata representacional é notória através das reações diante de uma obra de arte ou um filme que pode levar o espectador a grandes emoções.

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

E

qual

a

120

utilização

que

nós,

professores,

podemos fazer das concepções teóricas propostas por Wallon? Vale ressaltar que, para Wallon, a Pedagogia deveria ter como um de seus propósitos a EDUCAÇÃO, na medida em que a emoção traz consigo a redução da eficácia do funcionamento cognitivo. Mas o que significa isso? Para Wallon tem que se descartar a emoção, excluí-la? Não, para Wallon, a afetividade é um componente PERMANENTE da ação, a emoção não desaparece, mas ele postula que é preciso que a emoção consiga transmutar-se em ação mental ou motora, pois quando é emoção pura, ela produz efeitos desorganizadores, e, por isso, reduz a eficácia do

funcionamento

cognitivo.

Daí

Wallon

achar

importante o conhecimento dos processos emocionais para que possamos educar a emoção. Sabemos,

também,

que

é

através

da

motricidade que a criança reivindica muitos espaços e com estes estabelece os primeiros contatos com a linguagem socializada. As noções de “aqui” e “ali”, de “frente” e “trás”, de “esquerda” e “direita”, de “dentro” e de “fora”, e outras inúmeras que são essenciais para a orientação do ser humano, tanto no sentido de sua autonomia quanto no de sua independência. Para Wallon, a criança não é somente uma combinação

de

sensações

ou

um

conjunto

de

movimentos. A experiência da criança, e mesmo de um adulto,

combina

representações

com

movimentos socializações

com o

emoções, tempo

todo

(Dantas, 1992). E

o

professor?

Pode

utilizar-se

desse

conhecimento em sua prática? Traremos uma situação do cotidiano da sala de aula para melhor exemplificar o poder de contágio da emoção, a redução da capacidade

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

121

cognitiva que a explosão causa (emoção pura) e a importância da educação da emoção (conscientização dos limites e regras sociais) para que o processo se restabeleça. Uma professora de pré-escola está trabalhando com seus alunos na “rodinha” uma história do interesse de toda a turma. Um dos alunos insiste em sair da sala, resistindo a toda tentativa de fazê-lo participar. Após a frustração causada pela permanência na sala, tem uma explosão de choro, e, imediatamente, mais três colegas de turma começam a chorar (contágio). A professora chama o grupo e conversa sobre a hora da rodinha faz um acordo com eles que, depois desse tempo, eles terão atividade livre (desenho, jogos, brincadeiras), levando ao entendimento do tempo de cada atividade, importância da realização da tarefa, de forma a transmutar a emoção pura em ato mental, visando o restabelecimento da participação dos alunos de forma organizada. Sabemos que, durante uma explosão de emoção, a capacidade de raciocinar, de compreender fica reduzida; por isso, o professor primeiro acolheu seus alunos, procurou saber o que estava acontecendo, o motivo do choro, para depois conversar e fazê-los entender as rotinas escolares. Wallon

considera

que

o

caráter

altamente

contagioso da emoção é consequência da visibilidade do que se sente. A emoção é visível, expõe-se no exterior através de modificações observáveis na mímica e na expressão facial, sensibilizando o observador e as suas manifestações. Essa teoria defende a existência de um diálogo tônico. Não se trata, aqui, de empatias, sintonia, formas de intersubjetividade. A emoção tem visibilidade no corpo, na mímica, na expressão facial e isso possibilita uma comunicação forte e primitiva que utiliza a atividade tônico-postural para estabelecer-se. E na comunicação é chamada de DIÁLOGO TÔNICO. A

afetividade,

então,

é

uma

fase

do

desenvolvimento (podendo ser considerada a mais arcaica) e não só uma das dimensões do ser humano. E como Wallon conceitua o desenvolvimento? Ele é um processo descontínuo, suas etapas são marcadas

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

122

por rupturas, reviravoltas; a passagem das fases se dá através de reformulações, ou seja, não há linearidade, já que uma etapa reformula a outra e o momento de passagem entre as etapas se dá através de crises que modificam o comportamento da criança. O desenvolvimento é marcado por conflitos que surgem em função do processo maturacional e das condições ambientais, e tem no decorrer das etapas a reformulação dos avanços alcançados na fase anterior, aumentando com isso a complexidade da ação. Os conflitos ora são de origem EXÓGENA caracterizada por desencontros entre as ações da criança e o ambiente externo (estruturados por adultos e pela cultura), ora são de origem ENDÓGENA caracterizada por efeito da maturação nervosa. Wallon

estabeleceu

seis

etapas

para

o

desenvolvimento psicomotor, são elas: 1ª ETAPA ESTÁGIO

IMPULSIVO-EMOCIONAL

(0

-

03

meses) - Essa fase é definida por movimentos reflexos, impulsivos, globais e incoordenados do corpo, também se observa o predomínio da afetividade nas reações do bebê às pessoas; 2ª ETAPA ESTÁGIO EXPRESSIVO-EMOCIONAL (03 meses – 01 ano) – Ocorre o desenvolvimento de algumas estruturas nervosas e observa-se o início das respostas sociais ao ambiente. É a interação da criança com o meio; 3ª ETAPA ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR E PROJETIVO – (01 – 03 anos) – Apresenta avanços que promovem mudanças

consideráveis,

tais

como:

aquisição

da

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

123

marcha e da preensão, maior exploração dos espaços e manipulação de objetos, desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O PROJETIVO se associa à necessidade do uso de gestos para exteriorizar o ato mental e tem predominância das relações cognitivas com o meio (inteligência prática e simbólica); 4ª ETAPA ESTÁGIO DO PERSONALISMO (03 – 06 anos) – As

interações

formação consciência

da de

sociais

promovem

personalidade si

mesmo.

e As

o

a

processo

de

construção

da

crianças

mostram

interesse pelas pessoas que as cercam. Retorno da predominância das relações afetivas; 5ª ETAPA ESTÁGIO CATEGORIAL (06 – 11 anos) – Nesse estágio consolida-se a função simbólica e a inteligência. Ocorrem os progressos intelectuais, a criança dirige seu interesse para as coisas, para a conquista do mundo exterior, imprimindo suas relações com o meio, com predominância do aspecto cognitivo; 6ª ETAPA ESTÁGIO DA ADOLESCÊNCIA (11 – 12 anos) – Nesse estágio ocorre uma predominância funcional. É comum ocorrer nesse estágio a crise da puberdade, rompendo

a

tranquilidade

afetiva,

impondo

a

necessidade de uma nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais pela ação hormonal. O foco de interesse está voltado para questões de ordem pessoal, existencial e moral, com retorno à afetividade. Na passagem de um estágio para outro, há uma alternância entre as formas de atividades e de interesse da criança chamada ALTERNÂNCIA FUNCIONAL.

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

Para apresentada,

melhor não

124

compreendermos

podemos

esquecer

a

teoria

que

Wallon

elabora sua concepção de desenvolvimento levando em consideração alguns aspectos importantes:  1º

ASPECTO:

A

criança

é

um

sujeito

contextualizado, devemos levar em conta suas relações com o meio;  2º ASPECTO: A motricidade é essencial para a formação

de

comportamentos

mais

sofisticados;  3º ASPECTO: As etapas do desenvolvimento são marcadas por rupturas e conflitos;  4º ASPECTO: A sucessão das etapas do desenvolvimento não se dá de forma linear, mas por reformulação;  5º ASPECTO: O ato motor precede o ato mental;  6º ASPECTO: O psiquismo é uma síntese entre o orgânico e o social. Wallon contribuiu com o dia a dia da sala de aula, com a prática do professor, por desenvolver um estudo que considera a criança um ser completo, para ser observada de forma global, nas suas múltiplas manifestações. Sua pesquisa articula emoção, cognição e motricidade. Após apresentarmos o percurso da Psicologia do Desenvolvimento e suas principais correntes teóricas, consideramos

importante

apresentar

a

vocês

um

modelo psicológico chamado Psicologia Psicogenética. Vocês devem estar se interrogando a respeito do interesse desse assunto no âmbito dessa apostila. Pois bem,

consideramos

relevante

o

conhecimento

do

enfoque teórico da Psicologia Psicogenética porque seu propósito reside no estudo dos processos psíquicos em sua gênese, na análise dos processos desde sua

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

125

origem, proporcionando uma abordagem do sujeito e de suas atividades de forma integrada, dentro de uma visão

global

de

desenvolvimento.

Dentro

dessa

concepção teórica, o sujeito não é fragmentado em partes descontextualizadas, ele é abordado na sua vertente biológica e social. Outro motivo importante para apresentar a Psicologia Psicogenética a vocês é o fato de que os teóricos já estudados (Piaget, Vygotsky e Wallon) desenvolveram seus estudos objetivando a descrição da gênese do desenvolvimento humano, sendo por isso elevados ao posto de representantes desse modelo de abordagem científica. Após apresentarmos a vocês as contribuições teóricas

de

maior

peso

para

a

Psicologia

do

Desenvolvimento, interessa-nos pensar qual a aplicação que podemos fazer desse conteúdo na prática do dia a dia da sala de aula. Sendo assim, uma questão se coloca: Será que com o que foi postulado por Piaget (importância do estímulo oferecido pelo meio, as possibilidades

e

limites

de

cada

estágio

do

desenvolvimento); por Wallon (o lugar da motricidade e da

afetividade

na

construção

da

inteligência);

e,

principalmente, as contribuições de Vygotsky com relação ao papel do professor na formação de uma educação transformadora, não podemos discutir e endossar o que percebemos no cotidiano – que a educação não é só a transmissão de conteúdos, mas a transformação

desses

conteúdos

em

informações

inteligíveis e aplicáveis. Cabe aspectos

ao

educador

indispensáveis

incrementar,

ao

favorecer

desenvolvimento,

tais

como: sociabilidade, autonomia, criatividade, autoria e cidadania, estimulação

sem do

esquecermos

da

necessidade

de

desenvolvimento

psicomotor,

da

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

linguagem

e

das

126

funções

cognitivas

(atenção,

concentração, memória e percepção). Só assim será possível promover uma educação transformadora e facilitadora para um desenvolvimento global de nossos educandos.

E,

para

que

isso

aconteça,

o

que

precisamos considerar? 1. A importância da ludicidade na educação, por ser

a

experiência

estimulação

lúdica

psicomotora

uma

oportunidade

que

abrange

de

questões

relevantes para a aprendizagem como coordenação motora ampla e fina, equilíbrio estático e dinâmico, organização espaço-temporal. 2. Aproximação e articulação do conteúdo dado com as experiências do dia a dia do educando, de forma a tornar o conteúdo inteligível e aplicável por ele. 3. Tornar

o

espaço

escolar

um

lugar

de

convivência com as diferenças e diversidades culturais, promovendo,

com

isso,

valores

determinantes

no

desenvolvimento da cidadania. Para que isso aconteça, faz-se necessário o acesso

dos

referenciais

teóricos

(capacitação

dos

professores), interação e troca de informações entre os professores e a equipe pedagógica, participação efetiva de pais e alunos nos projetos criados pela escola e, acima de tudo, valorização do papel do professor na construção

e

desenvolvimento

da

inteligência

e,

sobretudo, da subjetividade de cada um. Somente com a participação de todos será possível estabelecer uma educação transformadora, onde

o

processo

de

aprendizagem

contemple

o

aprimoramento do indivíduo nas suas competências e na superação de suas dificuldades.

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

EXERCÍCIO 1 Entre as características do estágio pré-operatório do pensamento da teoria de Piaget, podemos destacar: ( A ) Operações infralógicas; ( B ) Operações lógico-matemáticas; ( C ) Conservação de quantidade; ( D ) Irreversibilidade do pensamento; ( E ) Composição de classes.

EXERCÍCIO 2 “Apresenta

avanços

que

promovem

mudanças

consideráveis, tais como: aquisição da marcha e da preensão, maior exploração dos espaços e manipulação de objetos, desenvolvimento da função simbólica e da linguagem”. Segundo Wallon, estas são características da fase do desenvolvimento: ( A ) Estágio expressivo-emocional; ( B ) Estágio sensório-motor e projetivo; ( C ) Estágio do personalismo; ( D ) Estágio categorial; ( E ) Estágio da adolescência.

EXERCÍCIO 3 Desenvolva o conceito de mediação na concepção de Vygotsky. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

127

Aula 4 | A contribuição de Piaget, Vygotsky e Wallon

128

EXERCÍCIO 4 Explique o papel do tônus na teoria de Wallon. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

RESUMO Vimos até agora:  A criança, ao nascer, inicia seu processo de equilibração sucessiva e progressiva por meio do

desenvolvimento

das

estruturas

da

inteligência, segundo Piaget ocorre em quatro períodos distintos que estabelecem um modo típico desta se relacionar com o mundo;  Para Vygotsky, a convivência em sociedade é essencial para a transformação do homem de elemento biológico em ser humano, pois é através da aprendizagem determinada pelas relações com os outros e mediada pela linguagem conhecimentos,

que

construímos

os

os quais permitem

nosso

desenvolvimento mental;  O desenvolvimento, para Wallon, é marcado por conflitos que surgem em função do processo maturacional (orgânico-afetivo) e das condições ambientais e tem, no decorrer das etapas, a reformulação dos avanços alcançados na fase anterior, aumentando com isso a complexidade da ação.

Objetivos

Apresentação

Caroline Kwee

AULA

O Desenvolvimento da Criança dos 0 aos 6 Anos

5

Nesta aula traçaremos de uma forma resumida os principais ganhos das crianças de zero a seis anos, dentro das esferas da função simbólica, linguagem, emoção e pensamento, além de mostrar as influências que o meio social e a genética têm nesse desenvolvimento.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:  Compreender a importância de três habilidades representacionais no mundo infantil: a pictórica, o uso de modelos físicos e as brincadeiras de faz-de-conta;  Identificar o processo evolutivo da teoria da mente para as crianças;  Destacar o papel da emoção, da cognição e da linguagem no desenvolvimento infantil, com influências genéticas, sociais e culturais.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

Introdução As habilidades simbólicas A teoria da mente: as crianças como leitoras da mente O desenvolvimento das emoções As regras de demonstração e as emoções conflitantes A cognição e a linguagem Influências genéticas, sociais e culturais Considerações finais

130 131

Introdução

136 140 143 145 152 156

130

Gostaria

de

iniciar

dizendo

que

o

desenvolvimento é um processo que dura a vida inteira e que todos os fatos ao nosso redor afetam o desenvolvimento, desde um abraço, um colo amoroso e um jogo de xadrez. Sem dúvida, grande parte do curso de desenvolvimento de nosso cérebro é determinada enquanto somos fetos e crianças pequenas e nosso processo cognitivo será solidificado nessa fase da vida, principalmente de 0 a 6 anos de idade, mas veremos em algumas pesquisas atuais que os nossos cérebros são maravilhosamente plásticos durante toda a idade adulta. A estrutura cerebral não é predeterminada e fixa, podemos alterar o desenvolvimento em curso em nossos cérebros e, portanto, as nossas capacidades e aptidões. As pesquisas nessa área têm sido intensas e na última década têm ocupado as capas das principais revistas científicas no Brasil e no mundo. Iremos ver que o desenvolvimento do cérebro do bebê e da criança ocorre através de uma série de períodos críticos, “janelas de oportunidade”, quando as conexões

para

uma

função

são

extremamente

receptivas à informação e aos estímulos internos e externos.

Essas

janelas

da

oportunidade

têm

demonstrado ser tempo de grande vulnerabilidade a danos irreversíveis. É o que veremos no capítulo sobre a linguagem. Entender quando os circuitos do cérebro estão mais receptivos para a aprendizagem de uma determinada competência pode ajudar você, como pai ou profissional, a criar o ambiente ótimo para o desenvolvimento de uma criança. Gostaria

de

salientar

que

muitas

funções

cognitivas compartilham de trajetos no nosso complexo

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

emaranhado de conexões neurais. O desenvolvimento da linguagem, por exemplo, pode perfeitamente e vai influenciar

a

aprendizagem,

o

pensamento

e

a

memória. Piaget afirmou que a criança de um ano é “sensório-motora”, a de dez é “operatório-concreta” e a de quinze, “operatório-formal” – todas designações positivas. A pobre criança de três anos é “préoperatória”, às vezes “pré-conceitual”, e em muitas ocasiões a descrição do seu funcionamento cognitivo se dava por uma compilação de resultados errados dos testes específicos. Os trabalhos mais recentes fizeram justiça a essa faixa etária, enfatizando as aquisições evolutivas deste período. Da mesma forma que subestimamos as capacidades cognitivas dos bebês, parece que também subestimamos as da criança pequena. À medida que os pesquisadores começaram a investigar a mente das crianças pequenas com tarefas diagnósticas novas e mais sensíveis, eles descobriram um número impressionante de competências – muitas vezes

frágeis,

genuínas.

com

Algumas

certeza, dessas

mas

mesmo

competências

dos

assim pré-

escolares são aquelas que Piaget acreditava que só se desenvolveriam após os sete anos, enquanto outras são habilidades cognitivas não estudadas por ele.

As habilidades simbólicas Por volta do fim do segundo ano, ou antes, as crianças se dão conta de que uma figura, uma palavra, um gesto, um brinquedo ou outra coisa pode significar um objeto ou evento real. Estas habilidades simbólicorepresentacionais, também, indicam um crescimento adicional à primeira infância. Aparecem habilidades

131

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

para

os

brincadeiras

números, (casinha,

132

desenhos,

brinquedos

super-heróis).

A

e

função

simbólica faz entrar no mundo da ficção. Essa criança desenvolve toda a sequência gestual do adormecimento sem qualquer necessidade, nenhuma realidade de sono. A função simbólica permitirá à criança adquirir a linguagem, da qual podemos dizer é a exploração mais elaborada das capacidades de representação da espécie humana. Neste primeiro momento, vamos nos deter em três

habilidades

representacionais

importantes:

as

representações pictóricas, o uso de modelos físicos e as brincadeiras de faz-de-conta. REPRESENTAÇÕES PICTÓRICAS Dica da professora

Entendemos por representações pictóricas tudo Já pensaram no poder dos programas infantis? Como editar as informações da televisão? É possível selecionar apenas qualidade para as crianças assistirem?

aquilo que está visualmente representado através de fotos, desenhos, quadros e até imagens da televisão. Uma criança de dois anos, por exemplo, já consegue identificar a fotografia do pai ou da mãe, um rótulo de biscoito preferido, ou um comercial de seu programa

predileto.

Enfim,

representações

que

traduzam a sua realidade. O curioso, porém, é a dificuldade que as crianças pequenas têm de ainda se prenderem a sua própria realidade, mesmo que exista alguma explicação de que aquela imagem não é real. Quem já não observou uma criança pequena responder a alguma pergunta feita pelo seu super-herói ou apresentador favorito diante da televisão? MODELO Por outro lado, a referência do modelo concreto dá à criança pequena uma noção exata daquilo que ela entende do mundo real. Um carrinho ou uma boneca

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

será o carro do papai e o bebê, respectivamente, por certo tempo até que ela entenda que aqueles objetos

133

Dica de leitura

representam objetos reais e não são eles de fato. Parece meio óbvio não é? Mas deixe-me somente ilustrar o seguinte evento: todas essas representações simbólicas descritas até aqui são uma parte importante da construção cognitiva das crianças. Vocês sabiam que certas crianças como os autistas, por exemplo, não são capazes de tal conduta perceptiva, nem tão pouco de qualquer

representação

simbólica?

Conseguem

imaginar como é construído o pensamento dessas crianças? O FAZ-DE-CONTA Segundo Lillard (1991), as brincadeiras de fazde-conta

são

a

superposição

intencional

de

uma

situação suposta a uma situação real, com o espírito de diversão mais do que por sobrevivência. Em

suas

brincadeiras

de

faz-de-conta,

as

crianças pequenas nos oferecem muitas pistas de que compreendem que certas entidades podem representar objetos

reais.

Elas

tratam

os

brinquedos

seus

referentes reais, mas podem nos explicar que não são de fato: “isso é dinheiro de verdade e esse é dinheiro de brincar”. Diversos fatos relativos ao desenvolvimento da brincadeira de faz-de-conta fazem com que ele seja digno

de

ser

discutido

nesta

seção

sobre

desenvolvimento cognitivo. Em primeiro lugar, este tipo de brincadeira está confinado a esta faixa etária específica. Crianças com menos de um ano não são capazes ainda de representações e as com mais de seis anos já começam a trocar as brincadeiras por jogos ou por

alguma

atividade

simbólica

representacional

temática, como um filme ou desenho específico. Tanto a capacidade quanto a disposição de se envolver em

Para maiores informações, leia: PEETERS, Theo. Autismo: Entendimento Teórico e Intervenção Educacional. (Trad) Viviane de Leon et.al. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1998.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

134

brincadeiras de faz-de-conta crescem espantosamente nessa faixa etária.

Na verdade, grande parte deste

crescimento ocorre entre um e três anos, num período cognitivo

muito

pouco

estudado.

O

faz-de-conta

também é interessante porque o ímpeto para seu desenvolvimento parece vir principalmente de dentro da criança, não são ensinadas formalmente e existem em todas as culturas. Em segundo lugar, o faz-de-conta transforma mentalmente

objetos

e

sentidos

de

palavras,

empregando metáforas, evocando a imaginação e o pensamento criativo, e é possível que o faz-de-conta e as metáforas precoces sejam precursores evolutivos destas atividades cognitivas valiosas. Recorde que o faz-de-conta também pode consistir na criança fingir aquilo que não é ou que é outra pessoa e que o amigo também está fantasiado e ambos interagindo.

Este

brinquedo sociodramático (como é chamado o faz-deconta pelos psicólogos), pode oferecer uma prática valiosa para a diferenciação do self dos outros, em assumir sociais Quer saber mais?

outras (mãe,

perspectivas, pai,

experimentar

professora),

e

em

papéis interagir

socialmente com os outros. Por último, o faz-de-conta pode ser o precursor

Procure ler Winnicott, um dos títulos recomendados é: A Criança e seu mundo, Rio de Janeiro: LTC, 1982 – e veja a importância do brincar no desenvolvimento global das crianças.

para o entendimento da natureza da mente. As crianças pequenas fazem de conta que as bonecas ou bonecos estão tristes, alegres, com fome, e criam estados mentais causais que os levem a chorar, sorrir e comer. Autores como Piaget (1962), Vygotsky (1978), Bretherton

(1984),

entre

outros

(in

Flavell),



estudaram bastante o desenvolvimento do faz-de-conta na primeira infância. Esse estudo demonstra as etapas evolutivas das brincadeiras de faz-de-conta e iluminam as estruturas psicológicas, cognitivas e da linguagem nas crianças pequenas. O desenvolvimento do faz-deconta

consiste,

em

parte,

em

retirar

as

rotinas

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

135

comportamentais e os objetos dos seus contextos situacionais e motivacionais costumeiros e usá-los de forma lúdica. Por exemplo, a criança que vai dormir, vai de fato para sua cama, na hora de dormir, quando está com sono. No faz-de-conta, ela efetua a ação fora do contexto, em qualquer lugar e desconectada da rotina. No início, as ações do faz-de-conta são muito rápidas e às vezes imperceptíveis. Inicia com aquele movimento rápido do bebê que coloca a colher vazia na boca, num breve movimento de comer. Com o tempo, elas já sabem que estão simulando a realidade e a linguagem sentencia a ação: “Estou brincando de casinha!” Mais tarde, com algum companheiro, ela pode até prever as ações do outro: “Agora você tem que chorar”. Não é maravilhoso?! Outros indícios evolutivos do desenvolvimento do faz-de-conta são os usos dos objetos para a brincadeira. No início, a criança precisa realmente do objeto para simular a ação, ou seja, precisa da colher para fingir que está comendo. Mais tarde, qualquer objeto pode ser uma colher, desde que ela assim o determine.

E,

finalmente,

aos

três

anos

aproximadamente, a criança pode fazer a ação que deseja simular só usando sua imaginação. Dica da professora

Quanto ao ponto de vista psicológico, outra mudança evolutiva envolve a flexibilidade crescente no uso do self e do outro como ator ou recipiente (como um coadjuvante). No início, a criança é ao mesmo tempo agente e recipiente das ações na brincadeira. Por exemplo, ela mesma (agente) faz-de-conta que come ou toma banho (recipiente). Mais tarde, outros objetos

e

pessoas

podem

ocupar

esses

lugares,

promovendo o que os pesquisadores denominaram “distanciamento progressivo”. O socializado

faz-de-conta durante

a

se

torna

primeira

cada infância

vez em

mais dois

Tente participar de alguma brincadeira de faz-de-conta das crianças nesta faixa etária e veja se consegue acompanhar as regras e a temática desenvolvida por elas. Seja apenas um participante. Não tente dirigir a brincadeira!

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

136

aspectos. Primeiro, os papéis na brincadeira tornam-se padronizados e contextualizados. Os bebês choram, tomam mamadeira, vão dormir. Os adultos trabalham, cozinham e falam no telefone. Segundo, a brincadeira solitária dá lugar ao social, com a atuação de outros papéis previamente estabelecidos. Por volta dos cinco anos, existe uma intrincada tarefa de papéis, temas e situações engenhosas. Acreditem, não é tarefa fácil. Elas são verdadeiros autores, diretores, atores, coatores e jamais ficam confusas quanto ao papel que desempenham

ou

qual

a

função

dos

seus

companheiros. Como cada vez mais crianças estão passando mais tempo em ambientes cuidados em grupo, as funções do brinquedo sociodramático e as técnicas para estimulá-lo se tornam áreas cada vez mais importantes do estudo científico. Neste momento do curso, você já deve ter desenvolvido uma leitura clara sobre a importância das brincadeiras e dos jogos no desenvolvimento infantil. Sem fazer nenhum tipo de consulta, desenvolva um texto que resuma os principais aspectos desta temática, tentando lembrar o nome dos principais teóricos sobre este assunto estudados até aqui e os aspectos centrais de suas teorias.

A teoria da mente: as crianças como leitoras da mente Bem, vocês devem estar com a sensação de dejà-vu, mas descrever o desenvolvimento cognitivo e não citar as teorias da mente é como ir a Roma e não ver o Papa! Quando abordamos esse mesmo tópico em outra disciplina, procuramos nos deter somente ao aspecto ligado à aquisição da linguagem. Aqui, vamos tentar explicar resumidamente como a mente funciona. A mente é a diferença entre as pessoas e outras entidades.

As

crianças

não

podem

fazer

muitos

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

progressos em direção ao entendimento dos eventos cotidianos que envolvem pessoas, até que tenham algum entendimento da mente. Por exemplo, suponha que alguma pessoa conhecida invada sua sala de aula, ou seu escritório e vasculhe deliberadamente seu armário. O que você pensaria? Provavelmente que essa pessoa está procurando algo com muita urgência, porque

precisa

deste

determinado

objeto

naquele

momento. Este entendimento do senso comum dá sentido ao comportamento e sobre como a mente funciona conferindo ordem aos eventos sociais a sua volta. Ele oferece explicações do comportamento dos outros e nos permite prever essas ações (e tantas outras)

referindo-se

às

nossas

crenças,

desejos,

percepções, pensamentos, emoções e intenções. A estas noções implícitas a respeito do reino psicológico, os pesquisadores como Bretherton & Beeghly, entre outros, batizaram de teoria da mente. Os pesquisadores usam esse termo tanto para uma forma ampla quanto para uma forma estrita, como no exemplo anteriormente citado. E só para deixar registrado, esta definição mais estrita se refere a um sistema causal-explicativo abstrato e coerente que permite à criança explicar e prever o comportamento referindo-se a estados mentais não-observáveis como crenças e desejos. Achou confuso? Deixe-me tentar explicar melhor, lançando mão do nosso velho truque do exemplo. As

sensações,

sentimentos

e

percepções

abstratas como amor, tristeza, alegria, decepção, raiva, medo,

preocupação,

são

situações

que

não

conseguimos aprender formalmente. Na escola, por exemplo, são eventos que aprendemos com o convívio social e quando estamos aptos a usar nossa teoria da mente. Quando crianças, somos expostos aos mais variados tipos de sentimentos e aos poucos vamos

137

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

tendo

a

oportunidade

138

de

assimilá-los

com

nossa

evolução cognitiva e afetiva. Acredito que agora esteja mais esclarecido, vamos em frente. Os pesquisadores não acreditam que as crianças tenham

meramente

desconectados

a

um

conjunto

respeito

da

de

mente

fatos e

do

comportamento. Ao contrário, seus conceitos sobre emoções, desejos, crenças e percepções são interrelacionados

e

seguem

uma

determinada

ordem

evolutiva. Somente para citar, segue a ordem do que os pesquisadores chamaram de postulados da teoria da mente. São cinco, a saber: (1) a mente existe; (2) tem conexões com o mundo físico; (3) é separada e diferente do mundo físico; (4) pode representar objetos precisa e imprecisamente; (5) medeia ativamente a interpretação

da

realidade

e

das

emoções

experimentadas. Os claramente

nossos

jovens

alunos

muita

curiosidade

e

demonstram

contemplação

a

respeito de uma das nossas características definidoras –

o

pensamento.

Eles

estão

voltando

seus

pensamentos na direção do pensamento, à medida que esse processo está se desenvolvendo neles. Por volta dos três anos, as crianças possuem um conhecimento de conexões cognitivas a respeito da mente (postulado 1-3). Elas compreendem que elas mesmas e os outros têm

experiências

internas

(estados

mentais)

que

conectam os humanos cognitivamente a objetos e eventos externos. Mais tarde, quando compreendem as representações

mentais

(postulado

4),

elas

desenvolvem o entendimento de que um mesmo objeto ou evento pode ser realmente (e não só no faz-deconta)

representado

diferentes. transforma

O na

mentalmente

pré-escolar criança

desconfiado e esperto.

ingênuo e

no

de e

maneiras

confiante

adolescente

se

mais

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

139

No presente caso, a teoria da mente dos préescolares oferece uma base sólida para as muitas habilidades sociocognitivas que as crianças em idade escolar vão precisar para abrir caminho com seus pares, pais, irmãos e estranhos. Seu conhecimento sobre a mente lhes permite operar de forma muito semelhante à de um pesquisador: elas observam os estímulos

e comportamentos, fazem

tendências

comportamentais,

características

estados

psicológicas

e

atribuições

e

mentais

ou

preveem

o

Para refletir

comportamento futuro. O mundo social a sua volta se torna

previsível

inteligentes

e

quanto

elas às

podem marolas

arriscar que

palpites

seu

próprio

comportamento vai causar no mundo. Sua consciência conflitante dá sentido aos conceitos de opinião, crença, disputa, engano, impressão, ironia, sarcasmo, ilusão e interpretação. De acordo com alguns estudiosos no assunto, a teoria da mente estaria ligada, inicialmente, a uma habilidade inata para desenvolver um sistema de inferência

e,

em

seguida,

o

processo

de

desenvolvimento da teoria da mente estaria a cargo da aprendizagem cultural, ou seja, da capacidade de incorporar as informações culturais. Durante o primeiro ano de vida das crianças normais,

ocorreriam

as

representações

em

nível

primário, caracterizado pela percepção do objeto. Em seguida, por volta dos seis meses de vida, viria o processo de atenção compartilhada, que seria uma forma precursora da teoria da mente. Por volta de um ano e meio de idade, a criança passa a diferenciar o real do faz-de-conta, não necessita mais do objeto para representá-lo. Então, elabora-se a primeira ordem da teoria da mente, a crença. Por volta dos quatro anos de idade, as crianças já alcançariam a segunda ordem da teoria da mente: crença sobre crença, elas são capazes de atribuírem estados mentais a outras pessoas. É

Agora vocês dimensionam a importância da educação infantil de qualidade para uma boa estrutura de aprendizagem?

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

140

possível pensar que o outro também pensa. A terceira ordem dos estados mentais encontramos quando as crianças fazem cinco anos de idade, corresponde à capacidade de estabelecer a crença do outro sobre minha crença. Penso

ser

importante

ressaltar

que



foi

evidenciado, em várias pesquisas, que crianças autistas falham com mais frequência que crianças normais nos testes de teoria da mente.

O desenvolvimento das emoções O psiquiatra Dan Stern, da Universidade de Genebra,

acredita

que

o

período

crítico

para

o

desenvolvimento de emoções ocorre dos dez aos dezoito meses. Seu trabalho mostrou que se os pais responderem ao seu bebê com alegria, amor e prazer, os circuitos da criança para emoções positivas são reforçados, do contrário, as crianças fecharão esses circuitos e reforçarão os circuitos do medo. Dica da professora

As

emoções

não

são

apenas

experiências

sentidas, mas também objetos do pensamento das Quem já não presenciou uma negociação da chupeta com o Papai Noel, e constatou a expectativa e alegria daquele brinquedo tão desejado?

pessoas.

É

socialmente

difícil

imaginarmos

competente

que

um não

ser

humano

possua

um

entendimento das emoções e de sua relação com a cognição e o comportamento. As explicações da teoria da mente embasam as inferências das emoções sobre o desenvolvimento

cognitivo

e,

consequentemente,

linguístico. As emoções, também, são essenciais para nossa identidade como seres humanos e para o traço que

nos

torna

mais

humanos,

a

capacidade

de

raciocínio Se você observar as crianças de dois e três anos, vai ficar surpreso com a rapidez com que sua habilidade de diferenciar as emoções aumenta.

Elas

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

141

devem, é claro, ter esta habilidade de modo a se referirem

apropriadamente a

uma

emoção

em

si

mesmas ou nos outros. Com vinte meses, elas podem usar

as

palavras

“feliz”,

“triste”,

“zangado”

e

“assustado” e com vinte e oito meses, “amar” e “se divertir”. Aos dois anos e meio, elas até mesmo falam das causas e consequências destas emoções em si mesmas e nos outros. Afirmações como “mamãe vai ficar contente”, “o cachorrinho vai gostar”, “que susto!” são causais e podem se referir ao passado ou ao futuro, e as circunstâncias imaginadas, bem como ao presente. Os conceitos de emoção evoluem dos “é bom” e “é ruim” globais para uma gama de emoções diferenciadas, por exemplo,

“malvado”

“orgulhoso”

e

e

“invejoso”

“animado” aos

aos

sete

e

três

anos,

“aliviado”

e

Dica da professora

“decepcionado” na adolescência. Ninguém nasce com a capacidade de nomear as emoções e muito menos de controlá-las

ou

até

mesmo

usá-las;

as

crianças

aprendem gradativamente, primeiro com os pais e, depois através de outros relacionamentos significativos para ela. Os estados emocionais surgem desde cedo e as crianças não os entendem. É preciso ensiná-las a reconhecer e a lidar com as emoções e é na família, considerada o núcleo de desenvolvimento emocional, que esse teatro irá se desenrolar ou se emaranhar. Um desenvolvimento semelhante das emoções simples para as complexas e sutis nos anos da préescola emerge na capacidade das crianças apontarem para a expressão facial apropriada, para um termo de emoção ou para um personagem de uma história. Em

um

grau

elevado,

essas

primeiras

referências de emoções podem se basear na visão de rostos felizes, tristes ou zangados. Contudo, a vida apresenta muitas situações nas quais as expressões

Já tentou brincar com uma criança pequena dizendo sim com a palavra e balançando a cabeça negativamente? Eles ainda não conseguem separar as informações e a princípio não entendem a brincadeira. Quanta coisa a aprender nesta faixa etária, não é mesmo?

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

142

faciais não podem ser usadas como pistas – o rosto não é visível, a emoção em questão é sutil e não facilmente ligada a uma expressão facial, ou a verdadeira emoção é mascarada por uma demonstração facial diferente. Nestes casos, como as emoções são inferidas? De modo mais geral, quais habilidades cognitivas as crianças poderiam ter que as ajudassem a organizar certos eventos como produtores de tristeza e outros como produtores de alegria? Uma suposição de Harris (1989, in Flavell) é de que as crianças se valem de suas próprias experiências sociais para identificar aspectos críticos da situação. Pode haver uma espécie de estimulação cognitiva quando as crianças imaginam, a partir de suas próprias experiências, o estado mental que alguém teria naquela situação. Outra proposta, como a de Stein (1989), é de que as crianças definem uma emoção quando seus objetivos são atingidos ou não. Lembra-se da relação sobre a teoria da mente que citamos anteriormente? As crianças pré-escolares captam as relações causais entre desejos, crenças e emoções. Mesmo a criança de três anos sabe definir que, se você gosta de ovos fritos no café, vai ficar contente se receber isso para comer e ficará triste se ganhar um prato de cereal. Esta consciência de que uma situação pode causar diferentes situações emocionais em diferentes pessoas é explicitada na fala das crianças por volta do seu terceiro aniversário e é um passo importante no desenvolvimento cognitivo, da linguagem e afetivo do nosso pequeno aluno. Portanto, até mesmo os préescolares, em algum grau, veem as emoções como mediadas por um estado mental. A não realização de um desejo leva à tristeza, enquanto a desconfirmação de uma expectativa leva à surpresa – conceito que parece vir posteriormente.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

143

Com a idade, as crianças se tornam mais conscientes das várias fontes de informação para inferir emoções. Vamos imaginar uma situação prática de sala

Dica da professora

de aula maternal: uma criança qualquer está tentando decidir se convida ou não o amigo, que tem um brinquedo desejável, para brincar com ela e está tentando sondar o humor do colega. O que será que ela faria?

Ela pode se valer de pistas como a sua

expressão facial, o contexto, a disposição da pessoa. Se

Procure fazer um jogo de mímica com as crianças da sua escola e veja se elas são capazes de reproduzir as carinhas dos diversos estados emocionais.

ele está sorrindo, se o amigo é legal, se o grupo a que eles pertencem cultiva o hábito da troca ou se ele é agressivo. Obviamente, todas essas informações não são analisadas deste modo tão didático, mas a criança pequena certamente saberá responder a todas essas perguntas mesmo ainda não conseguindo explicá-las. Quando existem diversas pistas, é mais provável que uma criança com menos de seis anos use apenas uma delas para inferir no estado emocional do amigo, talvez nas limitações das suas capacidades de análise, já que ele tem dificuldades em lidar com pistas conflitantes.

As regras de demonstração e as emoções conflitantes Dica da professora

Uma das regras mais difíceis de conflito entre pistas é quando a expressão facial é diferente da emoção verdadeira. Um bom exemplo é quando a criança pré-escolar presencia uma outra pessoa ganhar um presente esperando ser um carro e quando abre o embrulho é um par de meias e, mesmo assim, sorri. Para o pequeno amigo, o outro está feliz – já que sorriu. Ele não consegue imaginar que ele só parece feliz, mas na verdade está triste. Os pré-escolares raramente vão além da superfície e ignoram a emoção real em favor da aparente. A noção de esconder as emoções é estranha para eles. Este é um conceito

Confesse que quando seus amigos começavam com esses adjetivos especiais, você tinha vontade de chorar, não tinha? Conseguiu esconder essa emoção? Aplicou com propriedade a regra de demonstração?

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

144

bastante contraditório de ser aprendido: a emoção sentida e a socialmente apropriada. Vamos dar uma atenção especial a este conceito por se tratar de uma situação importante, pois permite à criança novas formas de interação adaptativa – formas que evitam reações negativas dos outros. Uma criança aprende muito rápido que expressar certas emoções

leva

a

qualificações

de

“medroso”,

“desmancha-prazeres”, “filhinho-da-mamãe”, “chorão”, entre seus pares. As regras de demonstração são situações onde normalmente as crianças substituem a controvérsia da emoção por alguma verbalização compensatória. Por exemplo: aquele menino que ganhou a meia em vez do carro poderia reagir com um meio sorriso e um “obrigado” sem graça, se tivesse 10 anos, mas com seis, ele ainda não consegue disfarçar sua decepção. Muitas vezes, essas regras são tidas como regras de boa

educação,

aprendidas

pelos

pais

e

impostas

socialmente. Com o amadurecimento, o uso delas fica mais consistente e seletivo. Como produzir uma regra de demonstração

Para refletir

apropriada requer habilidade e motivação, bem como Não seria maravilhoso se pudéssemos sempre ser espontâneos como as crianças pré-escolares? Mas em compensação, nossa vida social seria um desastre. O que você acha?

entendimento, estes comportamentos não são uma avaliação pura do desenvolvimento cognitivo, mas a aplicação do conhecimento ao comportamento social é uma questão central para o estudo cognitivo. É interessante notarmos que, com as regras de demonstração, as crianças de certa forma desaprendem o

que

tinham

aprendido

antes.

Os

pequenos

gradualmente aprendem que evidências físicas tais como comportamentos, as expressões faciais e a fala oferecem pistas para os conteúdos da mente. Mas depois aprendem que estas evidências podem ser não

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

145

somente duvidosas ou inexatas como pode parecer uma “cortina de fumaça” para enganar o outro. Isso certamente é um importante passo na cognição: o jogo social. Embora as crianças em idade escolar estejam bem cientes do valor de esconderem seus sentimentos em certas situações, elas também sabem que é um sinal de má adaptação levar isso ao extremo de só raramente expressar seus sentimentos para os outros. Importante

No

caso

situações

onde

das

pistas

realmente

conflitantes,

existem

duas

existem ou

mais

emoções conflitantes. Por exemplo, fim das férias escolares. Tristeza de acabar a folga e alegria e excitação em reencontrar os amigos. Embora até os bebês se comportem de maneira ambivalente, como quando tem medo e curiosidade de algum evento novo (Papai

Noel,

por

exemplo),

eles

não

podem

conceitualizar este estado emocional até muitos anos mais tarde. Entre seis e sete anos, as crianças conseguem entender emoções ambivalentes de forma restrita e

Certamente já estiveram em diferentes situações com emoções conflitantes. São difíceis de serem administradas, não é mesmo? Então, da próxima vez que presenciar um dilema semelhante em uma criança, ofereça-lhe apoio e compaixão por sua aflição. Você estará contribuindo para emoções mais seguras e relacionamentos sociais futuros mais saudáveis.

somente se elas forem coincidentes (bravo e triste). Por volta dos dez anos ou mais, elas já conseguem entender e aceitar emoções ambivalentes e explicá-las de forma coerente.

A cognição e a linguagem Para iniciar este tópico, gostaria de evidenciar a importância e o papel que a linguagem tem em nossa vida, segundo Ratey (2002, pg. 282): ... A capacidade de usar a linguagem não apenas para comunicar, mas também para planejar e orientar a ação futura está no próprio cerne da hu

Para pensar

As crianças que são expostas a duas línguas desde o nascimento aprendem a falar ambas com fluência. Os bebês quando nascem podem aprender qualquer língua, pois são cidadãos do mundo.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

146

manidade. A linguagem melhora e refina os nossos pensamentos, permite que nos afastemos do presente, que conservemos simbolicamente objetos em nossas mente e os manipulemos em diferentes sequências potenciais antes de passar à ação. Devido à linguagem, não temos que agir imediatamente na base de impulsos emocionais determinados pelo nosso meio circundante. O

desenvolvimento

da

linguagem

é

a

demonstração mais favorável da questão sobre os limites impostos pelas janelas de oportunidade em algumas áreas. Não importa onde um bebê está sendo criado: ele ou ela pode distinguir as sutis pistas auditivas de qualquer língua não nativa e estará apto a aprender qualquer língua ouvida. Entretanto, cerca de seis meses em diante, se os bebês deixam de ouvir algum som, eles perdem a capacidade de distingui-lo e poderão ter prejuízos no seu desenvolvimento. Por volta do primeiro ano de vida, uma criança já não pode mais

processar

fonemas

que

não

tenha

ouvido:

aprenderá a ignorar distinções sonoras não necessárias para sua língua nativa e será funcionalmente surda para sons estrangeiros. Ainda sobre as janelas da oportunidade, Ratey descreve em seu livro o caso de uma menina chamada Genie que tinha um pai psicótico e que a manteve em cárcere privado e sem o menor contato

com

a

sociedade

desde

que

nasceu

até

completar 13 anos de idade. Durante 13 anos de sua vida, ela ficou em um único quarto, acorrentada durante horas a uma cadeira com um pote para urinar e quando fazia o menor ruído era espancada. Os sons que ouvia se resumiam a uma conversação indistinta através

das

paredes.

Os

pesquisadores

tentaram

desenvolver a sua linguagem, mas, após quatro anos de treinamento, ela conseguiu aprender um vocabulário e a linguagem de sinais, mas sua sintaxe continuou desorganizada, sem compreender a gramática, pois sua janela de oportunidades já havia se fechado.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

147

Sabe-se que a linguagem não é inata, mas sim o dispositivo

que

possibilita

a

sua

aquisição

e

desenvolvimento. Segundo Noam Chomsky, o famoso

Quer saber mais?

psicolinguista, esse dispositivo se denomina LAD ou DLA (Dispositivo de aquisição da linguagem). Seria uma estrutura funcionalmente pronta para o uso, préprogramada, que permite às crianças construírem uma gramática

a

partir

de

Quero

enfatizar:

meioambiente.

dados

fornecidos o

que

pelo

podemos

considerar inato é a capacidade que certos territórios cerebrais possuem para tratar a linguagem e não a linguagem em si. Sobre a construção da linguagem. Esse processo

resulta

de

uma

mistura

pessoal

entre

Noam Chomsky é um personagem fora do comum: ativista, sábio precoce, grande polemista, aos 29 anos publicou sua obra mais importante, em 1968, no apogeu da fama deixa um pouco de lado a psicolinguística e engaja-se na resistência à intervenção americana ao Vietnã e, em apoios aos países do terceiro mundo e oprimidos.

imitação, bem estudado por Skinner em 1957, e criatividade. Segundo Airmad, cada criança constrói e

Para refletir

reconstrói sua língua a partir de modelos que recebe, porém o faz a sua maneira. Vejamos as construções e os ganhos das crianças em suas diferentes idades. Apesar

de

estarmos

estudando

somente

o

desenvolvimento cognitivo de crianças de dois a sete anos, nesse caso será necessário nos reportarmos brevemente sobre o que ocorre desde o nascimento da mesma. De zero a um ano de idade: o bebê produz choro e rezinga nos primeiros dois anos de vida, depois começa a arrulhar e rir no terceiro mês, do quinto ao sétimo mês passa para o balbucio variado e depois o duplicado até chegar à primeira palavra. No segundo ano: ocorre o surgimento das primeiras palavras, inicia a construção do léxico, começa a falar as frases no final do segundo ano, são adquiridas de quatrocentas a quinhentas novas palavras, os graus dos adjetivos, modificações dos substantivos e tempos dos verbos são gradualmente conquistados: com isso a vivência do tempo

e

do

espaço

se

multiplica,

e

a

própria

compreensão das coisas se amplia. É muito importante frisar que as crianças nascidas surdas balbuciam da mesma forma como as que ouvem e que o quadro

Segundo Laurence Lencin, 1970: aos três anos já está lançado o futuro escolar de uma criança. Crianças de três anos com linguagem pobre, aos seis anos conservam toda sua dificuldade: seu vocabulário é pobre e impreciso e a sintaxe é malestruturada. Muitos fracassam no ensino fundamental.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

148

cronológico para o desenvolvimento da linguagem nessas crianças é aproximadamente o mesmo e, mais uma vez, revela certa uniformidade de cultura para cultura. O balbucio reúne todos os alicerces silábicos, os instrumentos da linguagem entram em atividade e a criança começa a sentir que as emoções e sentimentos de seu próprio mundo podem manifestar-se através do balbuciar. No terceiro ano de vida, acontece o fenômeno

que

denominamos

“boom

linguístico”,

período em que as aquisições explodem. Não podemos esquecer que cada criança evolui de forma diferente, mas, no geral, aos três anos deverá ter alcançado uma evolução nos sistemas fonético, léxico e nas formas sintático-gramaticais deverá estar utilizando pronomes, embora,

ainda

omita

muito,

são

aprendidas

as

declinações, conjugações e comparações, substantivos, verbos e adjetivos começam a serem utilizados. Agora, a criança passa a falar de coisas passadas, presentes e futuras e, com isso, se formam representações do tempo. Poderá passar pela gagueira psicológica, como a criança compreende mais do que é capaz de expressar, ao tentar expressar o som da palavra, ela pode dar um tempo como se estivesse tentando encontrar o que vem em seguida, a idéia, a palavra. Uma grande característica dos três anos, quase sempre é o fato de elas aprenderem a dizer “EU”, a falar na primeira pessoa do singular. O uso desse pronome pessoal facilitará a construção de referenciais, por parte da criança, e facilitará a construção das formas verbais. No âmbito psicológico, esse fenômeno tem um impacto muito grande, pois a criança começa a ter consciência de si, ela começa a contemplar a si mesma e ao mundo, e o pensar começa a despertar. Diferentemente, ocorre com crianças que nascem cegas e autistas que não conseguem pronunciar a palavra EU nesse tempo e, por isso, sofrerão de um atraso severo em várias áreas cognitivas ou por já sofrerem desse atraso não conseguem falar Eu ao terceiro ano de vida.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

149

No decorrer do terceiro ano, a formação da capacidade mnemônica recebe um impulso decisivo e toma posse de seus direitos auxiliando no processo de vivências da consciência que acaba de iniciar seu processo de formação. A criança agora começa a guardar o que lhe é transmitido por intermédio da linguagem, ela se torna mais sensível a ensinamentos e advertências. Retomando a questão sobre as janelas das oportunidades, gostaria de exemplificar dizendo que se uma criança sofre um acidente e tem uma lesão cerebral, antes dos dois anos de idade, o cérebro pode reorganizar-se

extensamente,

criando

áreas

de

linguagem em diferentes regiões. Dos quatro aos seis anos, há menos plasticidade da linguagem e um derrame

ou

lesão

causará

um

sério

déficit

de

aprendizagem, embora a maior parte da linguagem já aprendida permaneça. Depois dos seis ou sete anos, a janela

de

oportunidades

para

formar

conexões

linguísticas fechou-se, em grande parte, e a perda da linguagem pode ser permanente. A

relação

entre

a

linguagem

e

a

Importante

aprendizagem. Para discutirmos este assunto, não poderíamos deixar de citar os trabalhos realizados pelo sociolinguista

Basil

Bernstein,

em

1958,

sobre

desempenho escolar e antecedentes socioeconômicos das crianças. A partir dos resultados de suas pesquisas, Bernstein descreve dois subsistemas linguísticos que chama de código restrito (para crianças de camadas desfavorecidas) e código elaborado (para crianças de um nível sócioeconômico mais favorecido). Ele afirmava que as crianças provenientes de lares de classe média tendem a ser socializadas e controladas de maneira diferente à das crianças da classe trabalhadora; a maneira

de

falar

também

seria

diferente.

Essas

variações na maneira de falar levam as crianças a ter “visões”, expectativas, aspirações, atitudes e aptidões a

Código elaborado: a sintaxe é precisa, as frases são concluídas, os advérbios e os adjetivos são escolhidos entre uma ampla e variada gama de vocabulário.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

150

aprendizagens diferentes, bem como diferentes níveis Importante

de desempenho escolar. Ele chama à atenção para o fato

Código restrito: o usuário fala de modo que seu ouvinte precisa compartilhar de ambiente físico para entender o que ele diz, não domina a gramática, a sintaxe é pobre, número do vocabulário é reduzido, abusa de termos, tais como: coisa, aquilo, sabe, é...

de

que

as

oportunidades

vocacionais

estão

condicionadas ao nível de desempenho escolar que, por sua vez, está amparado pelo nível do desempenho linguístico.

Os jovens de classe média têm grande

probabilidade de assumir funções de gerência, ao passo que as outras crianças acabam assumindo a parte das ocupações dos trabalhos manuais na empresa. Para ele, as classes sociais tendem a perpetuar-se através de diferenças de linguagem e de práticas de educação das

crianças.

diferenças

de

Interessante desempenho

sua

visão

escolar

de

que

poderiam

as ser

atribuídas ao produto da vivência social e não a diferenças biológicas de inteligência inata. Então, a educação era a questão chave para o desempenho escolar. Por conta de sua pesquisa, o governo norteamericano, através do presidente Johnson, lançou o projeto

Head

Start

-

concebido

para

fornecer

oportunidades de educação a crianças pobres em idade pré-escolar; financiava também melhorias médicas, sociais e de apoio familiar. Nesse caso devemos ainda lembrar o papel importantíssimo que os pais têm para o processo do desenvolvimento da linguagem de seus filhos. Esse papel pode ser passivo, servindo sua fala de modelo linguístico a ser seguido por seu filho ou ativo quando, através de feedback corretivo, reformula o que houve da criança e repete corretamente as palavras e a frase, fornecendo trunfos para a criança ampliar seu vocabulário. Uma outra pesquisa interessante nessa linha foi realizada por Betty Hart, na Universidade do Kansas, ele e seu amigo Ridley estudaram 42 crianças filhos de profissionais liberais, operários e assistidos pela seguridade social. Eles observaram essas crianças durante seus três primeiros anos de vida, durante uma hora por mês. Os resultados foram: os filhos de profissionais liberais obtiveram os mais altos escores e a linguagem falada foi a variável essencial; por volta

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

151

dos dois anos de idade, todos os pais tinham começado a falar com seus filhos mas, nessa altura, as diferenças entre as crianças eram grandes. Hart postulou que a chave para o desempenho do cérebro é o ritmo da aprendizagem inicial - não tanto o que já vem montado ao nascer, mas quanto do cérebro fica interligado nesses primeiros meses e anos. Como dito anteriormente, todos os subsistemas da cognição estão relacionados entre si. Vejamos o caso da linguagem e do pensamento. Nessa área podemos citar as contribuições de Piaget que atribuirá à linguagem o papel de “tradutora do pensamento”. As relações existentes entre pensamento e linguagem são extensas,

e

diferentes

autores

atribuem

papéis

diferentes a essa relação. Para Piaget, mais da metade das produções de crianças de três anos é do tipo egocêntrica, à medida que a criança vai evoluindo essa proporção diminui até representar apenas um quarto do total das produções aos sete anos de idade e depois tende a desaparecer. A linguagem egocêntrica significa para Piaget que a criança é incapaz de diferenciar o ponto de vista do interlocutor, e que sua linguagem não se dirige a ninguém. Vygotsky difere de Piaget, a fala seria social e comunicativa quanto à sua origem e intenção. No início de seu desenvolvimento, a fala

Importante

serve a uma função reguladora e comunicativa, depois serviria

como

um

instrumento

ou

ferramenta

do

pensamento, não proporcionando somente um código ou sistema de representação do mundo, mas também o meio pela qual a auto-regulação se realiza. Para ele, então, a fala formaria os processos mentais superiores (planejar, raciocinar, avaliar, memorizar) na interação com o meio social. Concordo com Vygotsky e ratifico que as bases necessárias, que podem levar ao despertar do pensar, só são estabelecidas quando o desenvolvimento da

Linguagem para Piaget é um sistema de símbolos usados para representar o mundo, a diferença das ações e representações, que constituem os processos de raciocínio.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

152

linguagem tem seu início. Antes desse período, a criança se utilizará de uma inteligência prática para se relacionar com o mundo e, de acordo com Piaget, o pensamento utilizado nessa fase seria pré-conceitual e intuitivo. Digamos que, com base na linguagem, a criança encontra o acesso a uma outra realidade do pensar e depois de um certo tempo, o pensar excederá a linguagem e as próprias formulações da linguagem já estão parcialmente sob o poder dos pensamentos. Num determinado momento, esses dois planos se unem e se atrelam. É muito difícil delinear as fronteiras existentes entre pensamento, linguagem e ação, embora esses três processos possam ser separados, eles estão firmemente interligados. Para concluir, gostaria de terminar citando Ratey (p. 320), novamente: ...Embora linguagem e pensamento possam não ser uma só e mesma coisa, é claro que estão estreitamente entrelaçados. A linguagem parece modelar a forma como entendemos a realidade e a nossa própria presença no mundo. A sintaxe que permite infinitas combinações, significados e categorias fornece-nos um modo de organizar os nossos pensamentos e de os comunicar eficazmente a outros... Enfim, podemos dizer que a linguagem é a base do conhecimento.

Influências genéticas, sociais e culturais Devemos entender que o cérebro não é um computador

que

simplesmente

executa

programas

criados e desenvolvidos geneticamente. Os genes e o meio ambiente se relacionam continuamente desde o momento em que somos concebidos até a nossa morte, ou seja, grande parte do que somos é o resultado da interação dos nossos genes e das nossas experiências. Em alguns casos, os genes são mais importantes e, em outros, o meio é mais crucial, como no caso da

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

linguagem. O grande “barato” é que nós podemos influenciar ativamente o modo que nossos cérebros se desenvolvem, dentro dos limites que nossos genes permitem, é claro. Eu sei que as pessoas ficam fascinadas com a possibilidade de nossas doenças e problemas serem explicados pela genética, não é por acaso que o consórcio internacional

nos EUA

se

responsabilizou pelo projeto Genoma, o qual está mapeando a função dos 100 mil genes no genoma humano. O que quero chamar à atenção é para o fato de

que

os

genes

fixam

apenas

limites

para

o

comportamento humano, mas existe um espaço imenso para a variação determinada pela experiência. Dos 100 mil genes mapeados pelo projeto genoma, 30 a 50 mil são indicados para o cérebro, mas esses meros 50 mil não são suficientes para explicar os 100 trilhões de conexões sinápticas que são feitas no cérebro. Quero chamar à atenção de vocês para a questão da influência que as experiências têm na nossa vida. Os genes ativam a rede exploratória no cérebro de uma criança, e quanto mais enriquecido estiver o meio social em que a criança vive, mais os genes acendem e mais a criança explora. É muito raro que um único gene controle nossa vida por inteiro, exceto em alguns casos como o daltonismo ou a coréia de Huntington. A maioria dos casos se insere naqueles casos em que o gene apenas predispõe o sujeito para aquela doença, como exemplo, temos as doenças do coração, transtornos de ansiedade e humor. É tão interessante a influência do meio social que Ratey descreve em seu livro, quando dissertando sobre esse assunto onde foi apurado que, embora os gêmeos tenham

um

conjunto

de

genes

idênticos,

não

é

incomum que um deles exiba a síndrome de Tourette, e no outro seja dificilmente observado tal distúrbio. A interação com o meio social explica a grande diferença na severidade dos distúrbios.

Outro estudo entre

153

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

154

gêmeos mostrou que um par de gêmeos separados ao nascer, Quer saber mais?

um

deles

acabou

como

um

adulto

esquizofrênico e o outro não. Evidenciando, então, que o meio social pode a resposta. O que devemos buscar

A síndrome de Tourette é um severo distúrbio neurológico caracterizado por movimentos faciais estereotipados (tiques motores), ruídos de garganta (tiques vocais) e emissão involuntária da linguagem obscena (coprolalia).

sempre é o equilíbrio entre esses dois fatores: natureza e cultura. Vejamos o caso da influência da cultura no desenvolvimento

da

emoção.

As

diferenças

culturais, às vezes, levam às variações na estrutura cognitiva das emoções. Algumas culturas protegem as crianças de observar certas emoções como a violência, o desejo sexual ou as desencorajem a expressar seus sentimentos. A língua tem uma influência poderosa nos conceitos de emoção. Quando a criança experimenta uma emoção e os pais a nomeiam, este nome torna a emoção saliente e influencia o modo como a criança interpreta o sentimento. A questão importante aqui é que, em certa medida, as emoções humanas são

Dica da professora

construtos sociais.

A cultura ensina à criança o que

sentir e quando sentir. As crianças aprendem a definir, De que vale uma capacidade cognitiva brilhante e uma estrutura emocional frágil? Perceberam a interdependência da construção sadia?

categorizar e nomear as emoções de maneira diferente em cada cultura. As crenças culturais, os valores e a socialização servem para direcionar e organizar as concepções de emoções. Estes fatores culturais encorajam certas emoções ou sua expressão. Eles também transmitem scripts sociais, que informam às crianças sobre quais emoções expressar e como expressá-las em ambientes particulares, tais como: funerais, festas e encontros com pessoas violentas. Em

relação

às

influências

sociais

como

causadoras de diferenças individuais dentro de uma certa cultura, certos comportamentos maternos têm

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

muita influência. Mães que têm muitas conversas com seus

filhos

sobre

emoções,

suas

causas

e

consequências tendem a ter filhos que falam mais sobre esse tópico e, aos seis anos, essas crianças são mais capazes de inferir e explicar os sentimentos dos outros. Portanto, as crianças são, afinal de contas, membros

de

uma

família,

e

elas

observam

cuidadosamente e tentam compreender o que acontece entre os outros membros da família nos contextos carregados

de

emoção.

As

práticas

disciplinares

também contam. Uma diferença interessante de gênero emergiu em vários estudos. As mães falam mais sobre emoções com suas filhas do que com os filhos e esta diferença encontra um paralelo na linguagem das crianças. As meninas expressam melhor os sentimentos do que os meninos. Um termo recente para enfatizar os efeitos ambientais

sobre

“perspectiva

o

desenvolvimento

ecológica”

ou

se

chama

“ecologia

do

desenvolvimento”. Essa expressão foi utilizada por Urie Bronfenbrenner e, nos últimos 10 ou 15 anos, tem sido bastante utilizada. Esse termo enfatiza que as crianças não sofrem apenas influências da família, mas de um ambiente social complexo (uma ecologia social) com distintos personagens: irmãos, babá, avós, animais de estimação, vizinhos, professores, amigos.

E esses

também estão inseridos num sistema social mais amplo, os pais trabalham em algum lugar que gera influência sobre eles, chegam estressados, moram numa

vizinhança

perigosa.

O

argumento

de

Bronfenbrenner é o de que nós devemos incluir e entender

as

componentes mutuamente.

maneiras desse

pelas

complexo

quais sistema

todos

os

interagem

155

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

156

Considerações finais Chegamos ao final de mais uma disciplina. Esta aula fecha a construção cognitiva e da linguagem das crianças até sete anos. Há muito que aprender sobre como melhorar o desenvolvimento de nossos cérebros e os dos nossos filhos e alunos. Espero

que

a

leitura

tenha

sido

clara,

interessante e que tenha alcançado seus objetivos. Questões sempre existirão. Nossa população de estudo é formada de indivíduos em desenvolvimento e o mais importante é lembrar que eles necessitam, de modo crescente e sistemático, de atenção e de cuidados criteriosamente selecionados para se tornarem adultos autoconfiantes.

Embora

pareça

que

sempre

falta

alguma coisa, uma informação relevante, um dado novo, uma consideração mais detalhada sobre algum ponto, tenho certeza que as bases foram lançadas. Poder contribuir com informações para o seu conhecimento e, por tabela, para o desenvolvimento das crianças da Educação Infantil é, antes de qualquer coisa, uma grande responsabilidade e um imenso prazer.

EXERCÍCIO 1 Podemos dizer que é a exploração mais elaborada das capacidades de representação da espécie humana: ( A ) A motricidade; ( B ) A inteligência; ( C ) A emoção; ( D ) A função simbólica; ( E ) A habilidade motora.

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

EXERCÍCIO 2 Sobre a construção da linguagem nas crianças, qual o fenômeno comum na idade de três anos? ( A ) Uso do balbucio; ( B ) Explosão linguística; ( C ) Aquisição das primeiras palavras; ( D ) Domínio da escrita; ( E ) Retrocesso linguístico.

EXERCÍCIO 3 Explique o que são representações pictóricas e sua influência no desenvolvimento infantil. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

EXERCÍCIO 4 A consciência de que uma situação pode causar diferentes situações emocionais em diferentes pessoas é

explicitada

na

fala

das

crianças.

Explique

a

importância deste evento. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

157

Aula 5 | O desenvolvimento da criança dos 0 aos 6 anos

158

RESUMO Vimos até agora:  À medida que os pesquisadores começaram a investigar a mente das crianças pequenas com

tarefas

sensíveis,

diagnósticas

eles

novas

descobriram

um

e

mais

número

impressionante de competências. Algumas dessas competências dos pré-escolares são aquelas que Piaget acreditava que só se desenvolveriam após os sete anos, enquanto outras

são

habilidades

cognitivas

não

estudadas por ele;  Teoria da mente se refere a um sistema causal-explicativo abstrato e coerente que permite

à

criança

comportamento mentais

explicar

e

referindo-se

não-observáveis

prever a

como

o

estados crenças

e

desejos;  As

crenças

socialização

culturais, servem

os para

valores

e

a

direcionar

e

organizar as concepções de emoções das crianças. Estes fatores culturais encorajam certas emoções ou sua expressão.

GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS: AULA 1 – 1E; 2B. AULA 2 – 1D; 2E. AULA 3 – 2B; 3C. AULA 4 – 1D; 2B. AULA 5 – 1D; 2B.

159

AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina CURSO: Educação Infantil e Desenvolvimento DISCIPLINA: Desenvolvimento biopsicossocial da criança de 0 a 6 anos ALUNO(A): MATRÍCULA: NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________ QUESTÃO 1: Descreva as principais características evolutivas das crianças de zero a dezoito meses. Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado: Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites: endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: Descreva algumas características da comunicação, expressão e percepção das crianças de seis anos de idade. Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado: Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites: endereço eletrônico) – OPCIONAL: Resposta (com as suas palavras):

160

QUESTÃO 3: A criança pequena percebe melhor o todo, só mais tarde passando a perceber as partes (detalhes) e, finalmente, chegando a integrar detalhes em um todo. Explique este desenvolvimento da percepção visual. Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado: Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites: endereço eletrônico) – OPCIONAL: Resposta (com as suas palavras):

Questão 4: Na infância existem três agentes socializadores de fundamental importância e a família é o primeiro deles. Comente sobre o papel da família como agente socializador. Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado: Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites: endereço eletrônico) – OPCIONAL: Resposta (com as suas palavras):

161

ATENÇÃO: Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma argumentação com suas próprias palavras. Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas (citações), quando este for o caso. Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados com freqüência para as respostas das avaliações. Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina. AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.

162

AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento CURSO: Educação Infantil e Desenvolvimento DISCIPLINA: Desenvolvimento Biopsicossocial da Criança de 0 a 6 anos ALUNO(A): MATRÍCULA: NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________ ATIVIDADE SUGERIDA: Visita a uma instituição de Educação Infantil. INSTRUÇÕES: Verifique em seu bairro ou município quais são as instituições que trabalham com Educação Infantil. Após isso, faça contato com a instituição e solicite autorização para realizar esse trabalho por lá. Você deverá escolher um tema para trabalhar com uma turma (ou até mesmo com toda a escola) e fazer um planejamento de tal atividade utilizando o modelo abaixo descrito. OBS.: As estratégias de planejamento para se trabalhar com atividades que envolvem temas geradores podem ser semestrais, semanais (de 1 ou 2 semanas), ou diárias. Para a realização deste trabalho basta que a atividade seja feita em um (1) dia. Veja, então, a seguir, o modelo do planejamento, onde deverão constar alguns dados principais, além da importância de tal atividade, e um breve relatório, contendo os principais fenômenos observados. LEMBRETE: Os temas estão divididos em duas formas: a) Temas cíclicos: que dizem respeito às comemorações, eventos e festividades que são anuais e/ou nacionais. Alguns ainda são decorrentes de acontecimentos diversos, não anuais, como um eclipse, a copa do mundo, as eleições. b) Temas gerados pelos alunos e por membros da comunidade escolar.   

Estes temas surgem: das situações da vida diária da criança, das relações de umas com as outras, das relações com o mundo social e das relações com o mundo que as cerca; de acontecimentos diferentes (um tornado, um incêndio); dos problemas que a cercam (financeiros, desemprego, mudanças de domicílio, por exemplo).

Agora, é só escolher um tema, seguir o planejamento, elaborar o relatório e bom trabalho!!!

163

PLANEJAMENTO DE ATIVIDADE ALUNO(A): __________________________MATRÍCULA: ______________ NÚCLEO: ______________________ CIDADE: ____________________ DATA: ___________________

(Nome da Atividade)

NOME

PÚBLICO ALVO

(Tipo de público / Idade a que a Atividade se destina)

OBJETIVOS

(Esclarecer os principais objetivos da Atividade)

MATERIAIS/ RECURSOS NECESSÁRIOS

(Detalhar os materiais/recursos utilizados para efetivar a atividade)

DESCRIÇÃO PASSO A PASSO DA ATIVIDADE

(Discriminar passo a passo todas as etapas de realização da atividade)

RELATÓRIO DA ATIVIDADE ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __________________________________________________________

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