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DIAGNÓSTICO SÓCIOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS PEDRAS/MG Paula Cristina Almeida de Oliveira Universidade Federal de Uberlândia – UFU paul...
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DIAGNÓSTICO SÓCIOAMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS PEDRAS/MG Paula Cristina Almeida de Oliveira Universidade Federal de Uberlândia – UFU [email protected] Mirna Karla Amorim da Silva Universidade Federal de Uberlândia – UFU [email protected] Tatiana Diniz Prudente Universidade Federal de Uberlândia – UFU [email protected] Eduardo Rozetti de Carvalho Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Resumo O objetivo da pesquisa é realizar um diagnóstico sócioambiental da bacia hidrográfica do rio das Pedras, focando alguns dentre os principais aspectos abordados neste tipo de estudo, entre eles: a geomorfologia, geologia, hidrografia, clima, hipsometria, declividade do terreno, solos, uso da terra e cobertura vegetal e características sócio-territoriais. A bacia localiza-se na porção noroeste do município de Uberlândia, ocupando, ainda, uma parte a sul do município de Tupaciguara, ambos situados na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, no estado de Minas Gerais. Foram elaborados alguns mapas temáticos (hipsometria, declividade do terreno, solos e uso da terra), para melhor análise dos aspectos ambientais da bacia em estudo. Palavras-chave: Diagnóstico Sócioambiental, Bacia Hidrográfica. Rio das Pedras.

Introdução O homem tem, por tradição, deteriorar e degradar o meio ambiente em que vive, utilizando de forma irracional os recursos, destruindo a vegetação, poluindo os solos, as águas, entre outras formas indiscriminadas de uso desordenado da terra (ROCHA, 1991). Assim, a conservação da natureza se torna diretamente afetada pela influência antrópica e pressupõe o conhecimento a cerca das potencialidades e limites da utilização dos recursos por ela disponibilizados. As bacias hidrográficas, unidades espaciais historicamente ligadas à humanidade, estão seriamente sujeitas a degradação ambiental em função do desenvolvimento acelerado e desordenado das sociedades. Dessa forma, o estudo da qualidade ambiental de uma bacia hidrográfica deve levar em conta diversos aspectos importantes, tanto àqueles relacionados às características físicas (solos, clima, vegetação, etc.) como ao histórico 1

de ocupação da área, a dinâmica sócio-econômica, entre outros, e as relações estabelecidas entre eles. Deste modo, a finalidade deste tipo de estudo não deve se focar somente na identificação e quantificação dos fatores que determinam a qualidade ambiental de uma bacia hidrográfica, mas também na questão de que este tipo de diagnóstico se torna uma ferramenta importante para fornecer subsídios à gestão das bacias e promover intervenções no sentido de se conservar os recursos naturais existentes. Assim como de subsidiar o desenvolvimento de estudos voltados para a questão do dimensionamento urbano e agrário de uma região considerando o entendimento de suas estruturas, funcionalidades e dinâmica espacial, a partir das análises das transformações ocorridas na cidade e no campo, da concentração da estrutura fundiária, processos migratórios, das condições sócio-econômicas existentes, de assentamentos rurais, entre outros, com vistas a uma melhor qualidade de vida para as populações urbanas e rurais. Neste contexto, o uso de geotecnologias, tais como os Sistemas de Informação Geográfica (SIG’s) e o Sensoriamento Remoto, voltados para a análise ambiental e urbana, consiste em uma realidade cada vez mais avançada de tratamento e análise de dados espaciais. O uso dos SIG’s permite a combinação de várias informações, por meio de algoritmos de manipulação e análise, bem como a consulta e visualização do conteúdo de uma base de dados georreferenciados, como ferramenta de auxílio em diversos estudos (CÂMARA e MEDEIROS, 1998). Neste sentido, o objetivo desta pesquisa consiste em realizar um diagnóstico sócioambiental da bacia do rio das Pedras, focando alguns dentre os principais aspectos abordados neste tipo de estudo, entre eles: a geomorfologia, geologia, hidrografia, clima, hipsometria, declividade do terreno, solos, uso da terra e cobertura vegetal e características sócio-territoriais. Materiais e métodos Para a realização desta pesquisa foram utilizados os seguintes materiais: 

Softwares: Idrisi 32 (SIG), ArcGIS 9.2 (SIG), Envi (SIG), Word (editor de textos) e Excel (editor de planilhas eletrônicas);



Fonte de dados: dados vetoriais (IBGE), Imagem de satélite TM/LANDSAT-5 (INPE), Modelo Digital de Elevação (MDE/SRTM) do Estado de Minas Gerais, classificação dos solos (EMBRAPA);

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Referências: livros, artigos, teses, documentos eletrônicos, periódicos, etc.

A metodologia de desenvolvimento da pesquisa seguiu as etapas descritas, a seguir. Inicialmente, foi definida a bacia hidrográfica do rio das Pedras como área de estudo e delineados os objetivos da pesquisa. A seguir, foi realizado um levantamento das informações a respeito desta área e dos dados georreferenciados (vetoriais e raster) necessários aos mapeamentos propostos, junto aos órgãos como o IBGE, Embrapa, INPE. A base cartográfica da bacia do rio das Pedras foi elaborada utilizando-se os dados vetoriais de limite, hidrografia e malha viária e com o auxílio do software ArcGIS. O ArcGIS permitiu a realização dos ajustes topológicos necessários aos dados vetoriais (inserção/exclusão/movimentação/união de nós, arcos e polígonos) e, logo após, a manipulação e arte final destes dados. A caracterização referente à geomorfologia, à geologia e a classificação dos solos da bacia foi realizado de acordo com os estudos de Nishiyama (1989) e Baccaro (1989 e 1991), bem como a partir dos dados do Projeto RADAMBRASIL, folha Goiás (SD-22), EMBRAPA (1982). O estudo climático da área de estudo, por sua vez, pôde ser realizado segundo dados de temperatura e precipitação da bacia do rio Uberabinha e do município de Uberlândia, oriundos do Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos do Instituto de Geografia, da Universidade Federal de Uberlândia, bem como de pesquisas na área estudada. A partir do Modelo Digital de Elevação do Estado, obtido a partir do sensor SRTM (WEBER et al, 2004), foi possível a elaboração dos mapas de hipsometria e declividade do terreno da bacia com o auxílio dos softwares Idrisi e ArcGIS. Para elaboração do mapa de uso da terra e cobertura vegetal da bacia do rio das Pedras foi utilizada uma imagem TM/LANDSAT-5. A Imagem com órbita/ponto 221/73, obtida em Agosto de 2011, foi adquirida no site do INPE. Com auxílio do software ENVI 4.0, a imagem de satélite TM/LANDSAT-5 foi georreferenciada. Em seguida foi gerada a composição colorida 2B3G4R e o recorte da imagem no limite da bacia. Posteriormente, realizou-se a interpretação e mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal da bacia do rio das Pedras no software ArcGIS.

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A elaboração do layout final dos mapas elaborados (localização da área de estudo, hipsometria, declividade do terreno, solos, carta imagem e uso da terra e cobertura vegetal) foi realizada utilizando-se as ferramentas do ArcGIS. Os softwares Excel e Word foram utilizados, respectivamente, para a elaboração das tabelas e gráficos resultantes dos dados gerados pelos mapeamentos executados e digitação e formatação do texto final. Diagnóstico sócioambiental da bacia hidrográfica do rio das pedras A bacia hidrográfica do rio das Pedras localiza-se na porção noroeste do município de Uberlândia, ocupando, ainda, uma parte a sul do município de Tupaciguara, ambos situados na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Estado de Minas Gerais. A bacia está compreendida na zona 22, entre as coordenadas UTM 748000-779400mE e 7933500-7897500mN, conforme Mapa 1, e apresenta uma área de 416.80 km2. Mapa 1 – Localização geográfica da área de estudo

Geomorfologia O Triângulo Mineiro está inserido no conjunto de formas de relevo denominadas por Ab’Saber (1971) de Domínios dos Chapadões Tropicais do Brasil Central e pelo

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RADAMBRASIL (1983) de Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná, inserida na subunidade Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná. (BACCARO, 1991). Segundo Baccaro (1989), a área de estudo está inserida em duas unidades geomorfológicas distintas: as áreas de relevo dissecado, que correspondem aos setores com topos aplainados entre 700 e 900 metros, com vertentes suaves recobertas por cerrado e em muitos locais interrompidas por rupturas mantidas pela laterita. Nessas áreas, os processos erosivos são mais agressivos, sendo comum a formação de voçorocas que deixam grandes áreas totalmente improdutivas, e também as áreas de relevo intensamente dissecado, que apresentam uma porção mais elevada com topos aplainados, integrantes de uma grande chapada que se estende por toda a região. As feições geomorfológicas estão relacionadas à litologia, representada pelos basaltos, rochas do Grupo Araxá, Grupo Bauru e Formações do Cenozóico. Os canais fluviais desta área apresentam muitas cachoeiras e corredeiras. A ação dos processos erosivos, em especial o ravinamento, é acelerada principalmente pela inclinação das vertentes.

Geologia Segundo Nishiyama (1989), a região do Triângulo Mineiro está inserida na Bacia Sedimentar do Paraná, representada pelas rochas do Grupo São Bento (Formação Botucatu e Formação Serra Geral) e Grupo Bauru (Formação Marília). A base deposicional da bacia é constituída de rochas metassedimentares dos grupos Araxá, Canastra e Bambuí de idade pré-cambriana e rochas do Complexo Goiano de idade Arqueana. A bacia hidrográfica do rio das Pedras apresenta rochas da Formação Serra Geral, Formação Marília e Sedimentos Cenozóicos (RADAMBRASIL,1983). A Formação Serra Geral é caracterizada pelas rochas efusivas de natureza básica e pequenas lentes de arenitos intercalados aos derrames. No perímetro urbano, o basalto aflora no vale do Rio Uberabinha e seus afluentes. A Formação Marilia é representada no município pelo membro Serra da Galga, com arenitos finos e grosseiros e mal selecionados. Aparecem comumente desagregados e em pacotes geralmente maciços, com estratificações cruzadas de pequeno e médio porte. 5

Os sedimentos Cenozóicos recobrem quase toda a extensão do município de Uberlândia, capeando as rochas mais antigas e ocupando todos os níveis topográficos. Constituem-se de leitos de cascalheiras geralmente revestidos de óxido de ferro.

Hidrografia A rede hidrográfica da bacia do rio das Pedras é composta, além do rio principal, pela presença de córregos e ribeirões, destacando-se: o ribeirão Barreiro, ribeirão Cajuru, córrego da Conceição e o ribeirão Galheiros. O rio das Pedras é afluente da margem esquerda do rio Uberabinha, que se trata do principal manancial que abastece o município de Uberlândia/MG. Este rio, por sua vez, deságua no rio Araguari, que compõem a principal bacia hidrográfica pertencente ao Triângulo Mineiro. A bacia hidrográfica do rio das Pedras, a título do que ocorre com a bacia do rio Uberabinha, da qual faz parte, se apresenta intensamente ocupada por atividades antrópicas comprometendo a qualidade dos recursos hídricos desta área. Além disso, a nascente do rio das Pedras se localiza bem próximo à área urbana de Uberlândia, o que também compromete a qualidade da água e cobertura vegetal presente na área de preservação permanente da nascente.

Clima Um estudo climático necessita, para uma análise e interpretação da realidade climática em uma localidade, de um aprofundado e contínuo trabalho de recolhimento de dados de temperatura e precipitação pluviométrica. Porém, para esse estudo, o mesmo não seria possível mediante o universo temporal para aquisição e confecção de tais dados, a fim de retratar as características climáticas reais dessa localidade. Desta forma, foram utilizados dados climáticos da bacia hidrográfica do rio Uberabinha, da qual a bacia em estudo é afluente, e do município de Uberlândia, onde a bacia se localiza. Foi realizado um recorte das últimas duas décadas do século XX, dados estes cedidos pelo Laboratório de Climatologia e Recursos Hídricos, do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, e estudos acadêmicos sobre a temática em questão.

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O clima da região é o tropical semi-úmido (Aw), caracterizado pela alternância de estações úmidas e secas, por influência sazonal de massas de ar. As condições climáticas predominantes na área do Brasil Central Tropical, se mostram com duas estações bem definidas: uma seca, com longo período de estiagem, que vai de março a outubro, e a outra chuvosa, que se estende de novembro a fevereiro. Porém, outras pesquisas classificam o clima de Uberlândia como Tropical de Altitude (Cwa), conforme classificação de Köppen, como Del Grossi (1993). Em geral, o município está sob a influência de circulação dos sistemas atmosféricos tropicais. Assim, o clima é controlado pelas massas de ar continental (Equatorial e Tropical) e Atlântica (Polar e Tropical), os deslocamentos dessas massas de ar são responsáveis pela marcante alternância de estações úmidas e secas, e respondem, direta e indiretamente, pelas condições climáticas locais. As médias mínimas de temperaturas em Uberlândia variaram de 13°C a 21°C, enquanto que as médias máximas ficaram entre 25°C a 31°C, no período de 1981 a 2000. Dessa forma, as temperaturas médias ficaram restritas de 20°C a 25°C nesse mesmo período. Observa-se assim, que Uberlândia possui um inverno com temperaturas mais frias do que as do verão. As menores médias da precipitação ocorridas em Uberlândia de 1981 a 2000 ocorreram em junho e julho com uma média inferior a 25mm nesses meses. Já as maiores médias, foram registradas nos meses de janeiro e dezembro com índices de precipitação respectivamente de 300mm e 340mm, ou seja, que as precipitações foram maiores no período do verão e menores no inverno. O clima da região apresenta duas estações bem definidas ao longo do ano, com um inverno seco de abril a agosto, com temperaturas mais amenas (média de 20ºC), e um verão quente e úmido (média de 25ºC), estendendo-se de setembro a março. A pluviometria anual apresenta irregularidade considerável, variando de 800mm a 2.000mm, com uma média aproximada entre 1.200 a 1.500 mm/ano; a quase totalidade das chuvas (80%) distribui-se nos meses de verão (Lima et al., 2004). Dessa forma, o clima do município é caracterizado por épocas sazonais bem definidas com concentração das chuvas e maiores temperaturas no verão (novembro a março) e, seca e frio no inverno (abril à setembro).

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Hipsometria O mapa hipsométrico permite ter uma melhor noção do comportamento do relevo e verificar os limites e a ocorrência das principais elevações. Neste sentido, elaborou-se um mapa hipsométrico da área de estudo (Mapa 2). As classes hipsométricas foram agrupadas em intervalos de 100 metros, gerando cinco classes: menor que 600m, 600 a 700m, 700 a 800m, 800 a 900m e maior que 900 metros de altitude. Mapa 2 – Hipsometria da área de estudo

A Tabela 1 e Gráfico 1 apresentam a área ocupada pelas classes hipsométricas na bacia do rio das Pedras em km² e sua respectiva porcentagem.

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Tabela 1 e Gráfico 1 - Área das classes hipsométricas na bacia do rio das Pedras

Hipsometria Menor 600 m 600 a 700 m 700 a 800 m 800 a 900 m Maior 900 m Total

Km² 0.90 18.6 109.55 285.55 2.20 416.80

0.22

Menor 600 m

4.46

600 a 700 m

26.28

700 a 800 m

68.51

800 a 900 m 0.53

Maior 900 m 0

20

40

60

80 %

Como pode ser observado, a bacia do rio das Pedras apresenta a maior parte de sua área (68.51%) situada em áreas entre 800 a 900 metros de altitude. Cerca de 26.28% da área da bacia apresentam altitudes entre 700 a 800 metros, ocupando essas duas classes um total de 94.79% da bacia. De modo geral, a maior parte da bacia se localiza em áreas de chapada, excluindo-se o vale do rio, sendo terreno da área de estudo relativamente plano e pouco acidentado e, desta forma, favorável ao uso agropecuário. Declividade do Terreno A declividade do terreno é o grau de inclinação de uma superfície em relação a uma linha paralela imaginária à altitude da linha do mar. Na maioria das vezes, a declividade é o principal condicionador da capacidade de uso de um terreno. Em função disto, para uma melhor compreensão do relevo e da capacidade de uso da área de estudo, obteve-se o mapa de declividade da bacia do rio das Pedras (Mapa 3). Para o mapeamento da declividade do terreno na área de estudo estabeleceram-se as seguintes classes de declividade: menor que 3 %, 3 a 8%, 8 a 12 %, 12 a 20 % e maior que 20 %. De acordo com Rosa e Brito (2003) as classes delimitadas se caracterizam como: 

Classe Menor do que 3% - áreas de relevo plano ou quase plano onde o escoamento superficial é lento ou muito lento. O declive do terreno não oferece dificuldades aos implementos e máquinas agrícolas.



Classe 3 a 8 % - áreas de relevo suave ondulado, com interflúvios extensos e aplainados, vertentes ravinadas de pequena expressão e vales abertos. O declive por si só não impede o uso de implementos e máquinas agrícolas, porém exigem práticas agrícolas para a conservação dos solos. 9



Classe 8 - 12 % - áreas de relevo medianamente ondulado, com as mesmas características da categoria 3 - 8 %. No entanto, este declive pode oferecer restrições a algum tipo de implemento agrícola, além de exigir práticas agrícolas complexas de conservação. O escoamento superficial é rápido na maior parte dos solos.



Classe 12 - 20 % - áreas de relevo ondulado dissecado, vales abertos a fechados. O escoamento superficial é rápido. Exigem práticas agrícolas complexas. O rendimento dos implementos e máquinas agrícolas é baixo.



Classe maior 20 % - áreas de relevo fortemente ondulado, topografia movimentada, formada por morros, com declives fortes. Impróprias para o uso agrícola. Mapa 3 - Declividade do terreno da área de estudo

A Tabela 2 e Gráfico 2 mostram a área ocupada pelas classes de declividade na bacia do rio das Pedras em km² e sua respectiva porcentagem.

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Tabela 2 e Gráfico 2 - Área das classes de declividade na bacia do rio das Pedras

Declividade Menor 3% 3% a 8% 8% a 12% 12% a 20% Maior 20% Total

Km² 76.65 262.56 49.77 20.63 7.19 416.80

18.39

Menor 3%

62.99

3% a 8% 11.94

8% a 12%

4.95

12% a 20%

1.72

Maior 20% 0

20

40

60

80 %

A maior parte da bacia (62.99%) apresenta declividade entre 3% a 8%, que são áreas com relevo suave ondulado, seguidos pelas áreas com declividades menores que 3% representando 18.39% da bacia, que são áreas com relevo plano ou quase plano. Essas áreas são ocupadas em sua maioria por agricultura. Solos Na bacia do rio das Pedras, de acordo com o mapeamento realizado pelo RADAMBRASIL (1983), ocorrem os solos do tipo Latossolo Roxo e Latossolo Vermelho-Escuro. Os solos do tipo Latossolo Roxo ocorrem, na sua maioria, na Bacia do Paraná, abrangendo o Triângulo Mineiro, originados dos basaltos da Formação Serra Geral, apresentam textura argilosa e muito argilosa, são minerais e não hidromórficos. São profundos e muito profundos, acentuadamente drenados, friáveis, muito porosos e permeáveis, com baixa suscetibilidade à erosão. Podem ser Eutróficos (LRe2) ou Distróficos (LRd4). Os solos do tipo Latossolo Vermelho-Escuro Álico (LEa1, LEa 2, LEa 3 e LEa 4 ) são solos minerais, não hidromórficos, caracterizados por apresentarem o horizonte B latossólico, profundos e muito profundos, bem drenados friáveis e bastante porosos. Na região, aparecem em relevo plano e suave ondulado, em diferentes níveis altimétricos, muitos deles formando relevos residuais topograficamente elevados, com bordos escarpados e com diferentes texturas, que variam de média, argilosa a muito argilosa. Neste sentido, a partir de estudos realizados pela Embrapa, do levantamento dos solos no Triângulo Mineiro, foi elaborado um mapa de solos para a bacia em estudo.

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Os solos identificados no mapeamento realizado foram: Latossolo Vermelho-Escuro Álico (LEa 1), Latossolo Vermelho-Escuro Álico (LEa 2), Latossolo Vermelho-Escuro Álico (LEa 3), Latossolo Vermelho-Escuro Álico (LEa 4), Latossolo Roxo Eutrófico (LRe 2) e Latossolo Roxo Distrófico (LRd) (Mapa 4).

Mapa 4 - Solos da área de estudo

A Tabela 3 e Gráfico 3 mostram a área ocupada pelas classes de solos na bacia do rio das Pedras em km² e sua respectiva porcentagem. Tabela 3 e Gráfico 3 - Área ocupada pelas classes de solos na bacia do rio das Pedras. Solos LEa1 LEa2 LEa3 LEa4 LRd4 LRe2 Total

Km² 105.27 24.37 198.40 20.64 55.89 12.23 416.80

25.26

LEa1 5.85

LEa2

47.60

LEa3 4.95

LEa4

13.41

LRd4 2.93

LRe2 0

10

20

30

40

50 %

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A bacia do rio das Pedras apresenta 83.66% de sua área ocupada com Latossolo Vermelho-Escuro Álico (LEa 1, LEa 2, LEa 3 e LEa 4). O restante da bacia apresenta Latossolo Roxo Distrófico (LRd4) e Latossolo Roxo Eutrófico (LRe2) ocupando 13.41% e 2.93% respectivamente.

Uso da terra e cobertura vegetal O uso da terra na bacia do rio das Pedras mostra a forma de ocupação pelas atividades econômicas em oposição à conservação dos recursos naturais ali presentes. A partir da imagem do satélite TM/LANDSAT-5, órbita/ponto 221/73, composição colorida 2B3G4R, foram gerados a carta imagem da bacia do rio das Pedras e o mapa de uso da terra e cobertura vegetal. As classes mapeadas foram: corpos d’água, mata ciliar/floresta de galeria, cerradão, cerrado, campo higrófilo, influência urbana, reflorestamento, granja, pastagem, agricultura e cultura irrigada por pivô central (Mapa 5). A partir do mapeamento de uso da terra e cobertura vegetal da bacia do rio das Pedras, foram feitas incursões a campo para verificar e demonstrar exemplos das categorias definidas através da interpretação da imagem de satélite. Dessa forma, constatou-se a existência em campo das diversas categorias representadas no mapa de uso da terra, que podem ser verificadas por meio do Quadro 1.

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Mapa 5 - Uso da terra e cobertura vegetal da área de estudo

Quadro 1 - Representação das categorias de uso da terra e cobertura vegetal Categoria e Descrição Mata ciliar/Floresta galeria: Cobertura vegetal presente ao longo do leito de um curso d’água Cerradão: Matas xeromórficas presentes no bioma cerrado Cerrado: Vegetação de porte médio a baixo com arbustos tortuosos, espaçados, cortiça espessa e folhas coreácias.

Amostra da imagem TM/LANDSAT-5 (2B3G4R)

Coordenadas Foto da Categoria

UTM (Zona 22) 770151mE 7909172 mN

773492 mE 7900937 mN

774753 mE 7897824 mN

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Campo Higrófilo: Vegetação predominantemente de porte médio a baixo, normalmente com gramíneas Reflorestamento: Áreas de vegetação homogênea para fins comerciais ou recomposição de flora Agricultura: Áreas de cultivo agrícola com plantio para fins comerciais ou de consumo Cultura irrigada por pivô central: Áreas de culturas anuais irrigadas por pivô central Pastagem: Áreas de vegetação rasteira, de 1 a 60cm, podendo existir alguma vegetação arbórea esparsa Granja: Unidade para a criação e/ou engorda de animais, como aves e suínos

Influência urbana: Áreas com presença de edificações e concentração humana

Corpos d'água: reservatório de água natural ou artificiais

770308 mE 7908718 mN

771762 mE 7902412 mN

778840 mE 7902978 mN

769969 mE 7909998 mN

770351 mE 7911797 mN

769598 mE 7910197 mN

777021 mE 7989467 mN

770346 mE 7909598 mN

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A Tabela 4 e Gráfico 4 mostram a área ocupada pelas classes de uso da terra e cobertura vegetal na bacia do rio das Pedras em km² e sua respectiva porcentagem. Tabela 4 - Área ocupada pelas classes de uso da terra na bacia do rio das Pedras Uso Mata ciliar/Floresta de galeria

Km² 62.61

Cerradão Cerrado Campo higrófilo Reflorestamento Agricultura Cultura irrigada por pivô central Pastagem Granja Influência urbana Corpos d'água Total

9.75 5.55 28.26 38.92 162.06 1.96 97.45 3.59 4.25 2.40 416.80

Gráfico 4 - Distribuição percentual das classes de uso da terra e cobertura vegetal da bacia hidrográfica do rio das Pedras. 0.58

Corpos d'água Mata ciliar/Floresta de galeria Cerradão Cerrado Campo higrófilo Influência urbana Reflorestamento Granja Pastagem Agricultura Cultura irrigada por pivô central

15.02 2.34 1.33 6.78 1.02 9.34 0.86 23.38

38.88

0.47 0

5

10

15

20

25

30

35

40 %

Verifica-se que a bacia hidrográfica do rio das Pedras encontra-se predominante ocupado por agricultura 162.06 km², representando 39.35% da área, seguido pelas pastagens que ocupam 23,38% (97.45 km²), demonstrando a importância da agropecuária na região, seja para fins comerciais ou de subsistência. Destacam-se as atividades de avicultura e suinoculutura, assim como o cultivo de soja, milho, sorgo, abóbora, melancia, etc. O reflorestamento ocupa uma área de 38.92 km² ou 9.34%, e a área de influencia urbana ocupa 4.25 km² ou 1.02% da bacia. As granjas perfazem 0.86% da bacia. Esta categoria compreende galpões onde se criam aves, suínos, etc.

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A vegetação natural representada pelas categorias: mata ciliar/floresta de galeria (62.61 km² ou 15.02%), cerradão (9.75 km² ou 2.34%), cerrado (5.55 km² ou 1.33%) e campo higrófilo (28.26 km² ou 6.78%) cobrem apenas 25.47 % da bacia. A presença de vegetação natural em apenas 25.47 % da bacia se deve ao fato de que na área de estudo, assim como em toda a região do Triângulo Mineiro, houve uma intensa ocupação dos solos por atividades agropecuárias, como já citado, provocando profundas alterações e muitas vezes eliminando a antiga cobertura vegetal. Atualmente resta na bacia do rio das Pedras somente remanescentes da vegetação natural, encontrada principalmente próxima aos rios, ribeirões e córregos. A presença dos corpos d’água (0.58%) reflete a importância deste recurso no abastecimento local da população, além de proporcionar atividades de lazer e turismo, com a presença de cachoeiras, corredeiras e ainda, a pesca artesanal existente.

Características sócio-territoriais O processo de desenvolvimento, ocupação e caracterização sócio-espacial atual da bacia do rio das Pedras, está aliado ao processo histórico de formação e modernização do cerrado. A área em questão, como outras que estão limítrofes do perímetro urbano da cidade de Uberlândia, são áreas que até a década de 1960 eram utilizadas pela existência de pequenas propriedades que se utilizavam, na maioria das vezes, da pecuária pastoril das áreas de fisionomia de campos do próprio cerrado, considerando-se assim atividades ligadas apenas para o auto-consumo, considerados por pesquisadores como Ianni (1986) como camponeses, ou mesmo agricultores familiares, como destaca Bombardi (2002). Não devemos esquecer que esses camponeses ou agricultores familiares, dependendo do referencial teórico utilizado (para esse estudo não distinguiremos um ou outro), fora as atividades pastoris tradicionais, desenvolviam outras atividades como o plantio e o beneficiamento de seus produtos plantados em áreas de solo preparadas por eles mesmos, e com as técnicas que eram disponíveis para os mesmos. Após a década de 1960, com a mudança do panorama de ampliação da fronteira agrícola e o surgimento de técnicas que possibilitavam o preparo do solo, acido e rústico, para outras atividades que não eram comuns no Cerrado, ocorreu a venda da terra por parte de considerável número desses pequenos agricultores que possuíam terras. Devemos

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lembrar que o valor de venda foi muito baixo mediante o desconhecimento desses agricultores da possibilidade do uso de técnicas que melhorariam o uso do solo. Assim, grandes agricultores locais compraram muitas extensões de terras, como na região da bacia do rio das Pedras, focando o uso de tais áreas para uma agricultura pastoril mais tecnificada, com o preparo do solo, adubação e o plantio de variedades de volumoso e gramíneas para o consumo animal. Não podemos deixar de ressaltar que, uma considerável parte desses pequenos agricultores, que venderam suas terras, o fizeram para se deslocarem para a cidade de Uberlândia, mediante os benefícios de infra-estrutura e emprego que a mesma desenvolveu pós 1960 e a possibilidade de adquirir maior ganho do que com as atividades campesinas. Aliado a esses fatores mencionados, a bacia do rio das Pedras caracteriza-se por uma transição sócio-territorial antes de 1960, com a manutenção de pequenas atividades agrícolas de cunho familiar, e após 1960 com uma considerável mudança de pequena atividade campesina para média a grande, com o advento de novas técnicas pastoris. Hoje, pós século XX, outro fator sócio-territorial se manifesta com a ampliação da zona urbana da cidade Uberlândia para a área da bacia do rio das Pedras, uma vez que uma das políticas de ampliação da cidade é voltada para o setor onde se localiza a bacia. Esse fator será primordial para uma reorganização sócio-territorial do local, que poderá se transformar em área de residência periférica, ou mesmo, área de ampliação industrial da cidade. Mas essa característica só poderá ser avaliada e constatada com a evolução do processo de uso e ocupação da área de estudo. Conclusão Com este estudo, foi possível caracterizar a geomorfologia, geologia, hidrografia, clima, hipsometria, declividade do terreno, solos, uso da terra e cobertura vegetal e as características sócio-territoriais da bacia do rio das Pedras, que são fatores diretos quando traçamos a avaliação de um diagnóstico sócioambiental. Foram também elaborados mapas de hipsometria, declividade do terreno, solos e uso da terra e cobertura vegetal da área de estudo, elementos que demonstraram como está a realidade ambiental de uso e ocupação da bacia.

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Constatou-se o crescimento urbano perante as regiões de nascente do rio estudado, com diversos aglomerados de chácaras na área da bacia. Os resultados mostraram ainda, que a bacia do rio das Pedras encontra-se predominantemente ocupado por agricultura e pastagens, ocorrendo assim a expansão destes em detrimento das áreas de vegetação natural (floresta de galeria, cerradão, cerrado e campo sujo). O mapeamento de uso da terra e cobertura vegetal é imprescindível para se analisar a forma pela qual determinado espaço está sendo ocupado, podendo este servir para planejadores e legisladores, pois ao verificar a utilização do solo em determinada área, pode-se elaborar uma melhor política de uso da terra para a ocupação e desenvolvimento da região. Enfim, apresenta-se no decorrer da pesquisa a tabulação dos dados obtidos bem como as análises referentes às condições ambientais da área de estudo que, no geral, demonstraram que existem áreas conservadas no decorrer do leito do rio, porém o mesmo não sendo verificado em outras áreas com pouca cobertura de vegetação natural. Dessa forma, constata-se, a partir das geotecnologias utilizadas e estudos realizados, que a bacia do rio das Pedras é uma unidade onde seu uso atual carece de observações e ações por meio do poder público, para uma reestruturação e uso racional dos potenciais ambientais nela existentes. Enfatiza-se a possibilidade de complementar/ampliar o diagnóstico realizado no sentido de aprofundar o enfoque às principais questões agrárias existentes na bacia, visto que se trata de uma bacia essencialmente rural, objetivando propor alternativas que visem a adequação da ocupação e uso do espaço agrário nessa bacia, assim como a melhoria das condições sócio-econômicas e qualidade de vida população na área de estudo.

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