Maria Catarina C. Zanini Miriam de Oliveira Santos

O TRABALHO COMO “CATEGORIA ÉTNICA”: UM ESTUDO COMPARATIVO DA ASCENSÃO SOCIAL DE IMIGRANTES ITALIANOS E SEUS DESCENDENTES NO RIO GRANDE DO SUL (1875-19...
12 downloads 0 Views 192KB Size
O TRABALHO COMO “CATEGORIA ÉTNICA”: UM ESTUDO COMPARATIVO DA ASCENSÃO SOCIAL DE IMIGRANTES ITALIANOS E SEUS DESCENDENTES NO RIO GRANDE DO SUL (1875-1975) Maria Catarina C. Zanini∗ Miriam de Oliveira Santos∗∗ Nosso objetivo é analisar, partindo de uma perspectiva histórica, dois processos de imigração italiana para o Rio Grande do Sul, em diferentes regiões do estado. Problematizaremos a questão do desenvolvimento econômico de uma destas regiões (a serrana) e a ascensão social dos imigrantes que para lá se deslocaram com a da região central do estado, considerada uma “imigração fracassada” do ponto de vista econômico. O diálogo entre as distintas experiências migratórias é possibilitado pelas pesquisas empíricas realizadas pelas autoras, que permitem um intercruzamento acerca dos fluxos de capital e seu itinerário. Pretendese analisar, também, como a categoria trabalho foi acionada pelo grupo e sua importância no processo de desenvolvimento de tais regiões e na mobilidade social daqueles imigrantes e seus descendentes. Palavras-chave: Imigração; Trabalho; Identidade étnica

Este artigo tem por objetivo tecer algumas breves considerações acerca de dois diferentes percursos migratórios de italianos no Rio Grande do Sul, um localizado na região “serrana” e outro na região central do estado,

* Doutora em ciência social (antropologia social) pela Universidade de São Paulo-USP com Pós doutorado em antropologia social no Museu Nacional (MN-UFRJ). Professora adjunta da Universidade Federal de Santa Maria-UFSM. Desenvolve projeto de pesquisa sobre grupos étnicos na região central do Rio Grande do Sul. Pesquisadora Associada do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios NIEM. Santa Maria / Brasil. ** Doutora em antropologia social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ. Pesquisadora associada do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios - NIEM e professora adjunta do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro-UFRRJ. Rio de Janeiro / Brasil.

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 175-196, jul./dez. 2009

175

O trabalho como “categoria étnica”

parte dela hoje denominada de IV Colônia de Imigração Italiana.1 Ambos, compostos por populações oriundas da Itália em finais do século XIX, tiveram desfechos diferenciados do ponto de vista econômico e representacional no contexto regional (e nacional também). A Serra Gaúcha (Caxias do Sul e alguns municípios do entorno) é tida por intelectuais regionais como um exemplo emblemático de desenvolvimento econômico e de progresso industrial enquanto a região de colonização italiana do centro do estado tende a ser considerada como economicamente estagnada e alcunhada, em termos nativos, de “fracassada”, quando comparada à região serrana. É importante compreender que o desenvolvimento econômico acontece também por fatores exógenos à comunidade imigrante, uma vez que a história local é uma sequência de acontecimentos dentro de outra sequência de acontecimentos que é a história regional, que por sua vez, se insere em outras sequências, que são a história nacional e a mundial. Pretendemos, por meio do cruzamento de uma vasta literatura existente sobre os italianos no Rio Grande do Sul, enfocar o quanto, apesar das diferenças apontadas no desfecho econômico destas regiões de colonização, o trabalho continua sendo considerado uma “virtude étnica” em ambas as situações e o quanto os imigrantes e seus descendentes, no período enfocado – de 1875 a 1975 – enfatizaram ser este um de seus maiores atributos frente à situação de ruptura provocada pela busca de melhores condições de vida na América. Para tanto, faremos uso da literatura produzida por estudiosos, por intelectuais dos próprios grupos, por memorialistas e também nas primeiras publicações comemorativas do evento da Imigração Italiana no estado, em especial o Álbum do Cinquentenário da Imigração Italiana no estado, publicado em 1925; o Álbum dos 75 anos, publicado em 1950 e as muitas publicações do Centenário, que foi amplamente comemorado no estado em 1975 e também nos anos seguintes. Para os emigrados que vivenciaram o “evento migratório”, na sua maior parte sem capital econômico algum, vender sua força de trabalho ou fazer dela motor de ascensão social foi o recurso mais lógico e pragmático como estratégia de sobrevivência e de mobilidade social. Assim foi também entre aquelas populações que migraram para o Rio Grande do Sul naquele contexto histórico dos finais do século XIX. No estado predominava uma economia largamente baseada na agricultura de pequena extensão e na pecuária realizada em grandes propriedades, e os imigrantes, tendo sido assentados em pequenas propriedades rurais baseadas na organização fa1 Zanini considera enquanto região central do estado, além da IV Colônia de Imigração Italiana, composta pelos municípios de Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma, Pinhal Grande, Restinga Seca, São João do Polêsine e Silveira Martins, a cidade de Santa Maria e suas vizinhanças.

176

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

miliar do trabalho, vieram, de certa forma, dinamizar a economia regional, bem como efetuar importantes alterações espaciais e demográficas.2 O que nos chama a atenção nesse processo migratório e nos instigou à escrita deste artigo é a forma discursiva pela qual a categoria trabalho foi representada por estes migrantes ao longo de um século de processo migratório. O trabalho (pesado, árduo e disciplinado) passou a ser algo constituinte do grupo e de seus membros como uma marca que os sentenciava. Na literatura sobre italianos no Rio Grande do Sul, é comum ser ressaltada a importância da tríade família, trabalho e religião na constituição organizativa destas populações. Sem dúvida, de formas distintas e em contextos específicos, estes eram (e ainda são, de certa forma) valores extremamente fortes entre “os italianos”. E o trabalho deve ser observado como algo que era agenciado na relação entre os elementos da religiosidade e da família e sua organização patriarcal, baseada na autoridade do “pai/patrão”. Nesta conjugação, ele fazia parte de toda uma cosmologia, de um ethos e também de uma corporalidade específica que conduzia a uma socialização, desde a mais remota infância, voltada para o trabalho e para o corpo produtivo. Assim, o trabalho era algo constituído e constituidor pelo/do habitus grupal, encarregado também de marcar os corpos (hexis) na postura, atitude, força, destreza e aptidão para as lidas. Kowarick3 denominou esta ânsia e aspecto servil dos italianos que vieram para o Brasil de “disciplina do trabalho” que, segundo o autor, permitir-lhes-ia efetuar uma poupança e adquirir terra ou algum negócio. O que, em verdade, nem todos conquistaram. Na época em que migraram, a Itália enquanto um Estado nacional unificado era algo existente de direito, mas não de fato. Havia muitas regiões com disputas, falantes de dialetos distintos, venerando santos específicos e cultivando hábitos diversos. Com a unificação em 1870, quando aquelas famílias rumaram para a América (em 1875), a noção de pertencimento que traziam era a de seus paesi, ou seja, de suas localidades de origem, e não de uma Itália falante de uma língua comum e tendo uma identidade nacional partilhada. A categoria “italiano”, “colono italiano”, passou a fazer sentido em solo brasileiro, já no contexto de contato com os nativos, brasilianni (brasileiros), considerados todos negri (negros), independente da cor da pele. Assim, adscritivamente, passaram a se autodenominar e serem denominados de “gringos”, “italianos”, entre outros adjetivos. E, como forma de representação de uma determinada coesão social, italiano passou a ser uma referência com sentido, nomeando uma diferença entre 2 3

MOREIRA, Igor A.; COSTA, Rogério Haesbert da. Espaço e sociedade no Rio Grande do Sul. KOWARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem. A origem do trabalho livre no Brasil.

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

177

O trabalho como “categoria étnica”

eles e os nacionais, momento em que a capacidade de trabalho começou a ser acionada como um grande sinal adscritivo entre ambos. O que unia e permitia àquelas populações um elo e um sentido de referência em comum, para além da experiência migratória que todos haviam partilhado, era a vivência da catolicidade. De acordo com De Boni e Costa4, este era um “idioma” comum que permitia aquelas populações “reorganizarem seu universo”5 em terra estrangeira. Entendemos que esta religiosidade, além de lhes oferecer uma determinada ordem de mundo, fortalecia um ethos no qual o trabalho era algo vital, seja enquanto atividade econômica seja enquanto valor moral. Azevedo6 salienta que além das organizações religiosas, as beneficentes e profissionais também teriam colaborado, em planos diferentes, “para a coesão do grupo e manutenção de suas identificações étnicas”. Um exemplo destas entidades foram as Sociedades de Mutuo Socorro criadas pelos imigrantes e seus descendentes e espalhadas por todo o estado. Da mesma forma, segundo Bilhão7, os sindicatos que mais aglutinavam italianos em Porto Alegre, de 1896 a 1920, eram os de sapateiros, alfaiates, carpinteiros, fabricantes de móveis, açougueiros, pedreiros, carroceiros e trabalhadores da construção civil. Estas entidades faziam, segundo Bilhão, que etnia e atividade econômica coincidissem, criando formas de sociabilidade entre aqueles trabalhadores. Além disso, ao longo do processo de crescimento econômico, os patrões italianos também souberam se associar e fazer valer suas diretrizes entre seus conterrâneos.8 A colonização italiana no Rio Grande do Sul: um breve panorama A colonização em massa para o Rio Grande do Sul teve início em 1875 quando chegaram os primeiros emigrados italianos que foram destinados às denominadas três primeiras Colônias Imperiais de imigração – Conde DE BONI, Luis Alberto; COSTA, Rovílio. Os italianos do Rio Grande do Sul. De acordo com os autores: “Abandonados no meio da floresta, os imigrantes corriam o grave risco do acaboclamento que atingiu, aliás, outros grupos, em outras regiões do país. Neste momento, o fator que lhes permitiu a reconstrução de seu mundo cultural, devidamente adaptado, foi a religião. O caminho para esta reorganização do universo cultural havia, porém, de ser longo e complexo” (idem, p.110). Este catolicismo será denominado pelos autores de catolicismo popular de cunho agrário, o que explicaria o vínculo forte entre religiosidade e os fenômenos naturais. 6 AZEVEDO, Thales de. Italianos e gaúchos. Os anos pioneiros da colonização italiana no Rio Grande do Sul, p. 222. 7 BILHÃO, Isabel Aparecida. Identidade e trabalho: análise da construção identitária dos operários porto-alegrenses (1896-1920), p. 116. 8 Cf. MACHADO, Maria Abel; HEREDIA, Vânia. Associação dos comerciantes: uma forma de organização dos imigrantes europeus nas colônias agrícolas no sul do Brasil; HERÉDIA, Vania Beatriz Merlotti. Processo de Industrialização da Zona Colonial Italiana. 4 5

178

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

D´Eu, Dona Isabel e Campo dos Bugres – na região serrana. Em 1877/78 teve início a colonização para a região central do Estado, para aquela que foi depois denominada Colônia Imperial Silveira Martins. Neste período (finais do século XIX), a grande predominância era de italianos do norte, especialmente de Veneto e de Trento, católicos e camponeses (pobres). Havia, entre eles, aqueles com algum capital econômico, letrados e que se destacaram. Contudo, majoritariamente, o perfil daquela imigração era formado por contingentes de camponeses pobres. Como ressaltam Santin e Isaia9, aqueles emigrados trouxeram para o Brasil seus “sonhos, planos e ideais de fartura comuns”, mas igualmente “suas divergências, seus conflitos e suas ambições pessoais”. Segundo estes autores, os principais conflitos na região central do estado seriam entre maçons e autoridades religiosas, o que teria sido um dos motivos do “atraso” local10 em comparação às demais colônias. Ou seja, não eram populações unidas pelo sentimento de nacionalidade italiana, nem partilhavam dos mesmos ideais e ideologias. Eram populações diversas e essas diversidades também migraram para o Brasil. Além disso, a inserção do capitalismo na Itália havia acelerado uma série de processos de disputas e de lutas que tornavam aquelas populações, despossuídas, aptas e ideais para a emigração. Para Alvim, Do lado expulsor, a Itália, isso se explica pela forma como ocorreu a penetração capitalista no campo: concentração da propriedade; altas taxas de impostos sobre a terra, que impeliram o pequeno proprietário a empréstimos e ao consequente endividamento; oferta, pela grande propriedade, de produtos a preços inferiores no mercado, eliminando a concorrência do pequeno agricultor; e, finalmente, a sua transformação em mão-de-obra para a indústria nascente.11

Segundo a autora, pelas fontes italianas hoje consideradas mais “próximas da realidade”, teriam saído da Itália para o Brasil, de 1870 a 1920, cerca de 1.243.633 indivíduos12. No entanto, supõe-se que este número seja menor que o real. A emigração da Itália para o Brasil se deu em torno da organização familiar e algumas das levas de emigrados estavam concentradas conforme regiões de procedência italianas (trevisanos, vicentinos, mantovanos, cremoneses, venetos em geral, entre outros). Tais afinidades conduziam a formação de conglomerados no interior das colônias, por travessões ou linhas, que eram as SANTIN, Silvino; ISAIA, Antônio. Silveira Martins: patrimônio histórico-cultural, p. 11. Ibidem, p. 15. 11 ALVIM, Zuleika Maria Forcione. Brava gente! Os italianos em São Paulo 1870-1920, p. 22. 12 Ibidem, p. 117. 9

10

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

179

O trabalho como “categoria étnica”

formas de organização espacial dos lotes. Após o recebimento dos lotes, aqueles indivíduos, que passariam a ser denominados de “colonos”, iniciavam a derrubada das matas, a construção das casas e o início das primeiras plantações. Estes núcleos coloniais, contudo, possuíam seus centros, concentrados ao redor da Igreja (ou capela), com algum comércio e pequenos serviços (carpintaria, alfaiataria, funilaria, entre outros) e que, aos poucos, expandia-se. Com o desenvolver das atividades, tais colônias foram descobrindo, no cenário de contato com as comunidades próximas, formas de sobrevivência diversas. Na IV Colônia é relatado por historiadores locais que, nos primeiros anos de colonização, começa a haver uma migração da colônia para a cidade de Santa Maria, maior polo econômico da região.13 Ao migrarem para a cidade mais próxima, abriam pequenos negócios, de hotelaria, armazéns, alfaiataria, carpintaria, etc. enquanto outros vendiam sua força de trabalho como operários nas mais diversas atividades. Por vezes, parte da família permanecia na colônia e alguns dos filhos rumavam para a cidade visando garantir uma renda extra e não forçar a divisão e partilha das terras, que eram pequenas perante o crescente número de filhos daquelas populações. Em 1888, devido a uma série de fatores, a Colônia Imperial Silveira Martins foi desmembrada entre os municípios de Julio de Castilhos, Cachoeira do Sul e Santa Maria. A sede da antiga colônia se tornava distrito do município de Santa Maria. Esta localidade foi emancipada em 1987, sendo seguida por uma série de emancipações políticas na região. Um dos entraves econômicos na região central teria sido decorrente deste desmembramento, que enfraquecera politicamente a Colônia, segundo relatos orais de descendentes. Contudo, Silveira Martins, ainda enquanto distrito, possuía bons serviços de hotel, comércio e de ensino que, até a década de trinta do século passado, ainda eram bastante procurados pelas elites regionais que para lá encaminhavam suas filhas para que estudassem, alem de desfrutar da beleza do lugar tido como ponto de veraneio. No caso de Caxias do Sul, o antigo núcleo colonial se tornou uma cidade de porte médio e é atualmente um dos polos mais desenvolvidos do Rio Grande do Sul, funcionando como uma metrópole regional. Como veremos adiante, a cidade cresceu sob a hegemonia da população italiana e a medida que cresceu e se industrializou, começou a atrair migrantes das regiões circunvizinhas. Inicialmente, os migrantes eram os colonos da região rural do próprio município, criado em 1890, e de municípios vizinhos da 13 BELTRÃO, Romeu. Cronologia Histórica de Santa Maria e do extinto município de São Martinho 1787-1930.

180

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

encosta nordeste da serra gaúcha, também de origem italiana. Mais tarde, esta atração se estende à população dos chamados “Campos de Cima da Serra”14 e às colônias alemãs. Segundo Santos15, “a migração rural-urbana na Região de Colonização Italiana acelera-se a partir de 1950, acompanhando a tendência geral do estado”. Magnanini e Mayor16 apontam que a “microrregião vinicultora de Caxias do Sul atraiu no último decênio [1960-1970] 41.523 migrantes, dos quais 39.222 são migrantes internos com 78,8% de destino urbano (e predominância de origem urbana)”, ou seja, o alvo da migração “é, com exclusividade, a cidade de Caxias do Sul, o que se pode depreender pelo pequeno crescimento das demais cidades da área entre 1960/70”. Os mesmos autores apontam que foi neste mesmo período que Caxias do Sul se tornou um dos maiores núcleos de atividades secundárias do estado e da região, aumentando muito o seu nível de emprego industrial. No entanto, para explicar as características atuais desses municípios precisamos retornar à grande imigração do século XIX. O Brasil, no período que será enfocado neste artigo, de 1875 a 1975, passou por momentos históricos decisivos: a abolição da escravatura, a transformação do Império em República, a expansão industrial na década de 30 do século XX, entre tantos outros eventos que transformaram o cenário nacional. Em finais do século XIX, pode-se dizer que os italianos eram considerados imigrantes ideais, pois eram brancos, católicos e considerados dóceis.17 Além disso, de acordo com Colbari18, eles foram integrados num projeto de gestão de população que envolvia o “adensamento, o branqueamento e a evolução civilizatória dos habitantes do país”. A ideia de trabalho estava associada a eles também como forma de contraste ao trabalho escravo, considerado “improdutivo” e algo que degradava os indivíduos. Eles serão agregados, conforme os contextos migratórios nos quais serão inseridos, à ideia de progresso, seja no sul do país ou nas fazendas de café em São Paulo. E o trabalho para aqueles imigrantes italianos, era não somente um valor, mas a maior de todas as estratégias de sobrevivência e ascensão social. Em relatório do Conde Pedro Antonelli (Ministro Real no Rio de Janeiro), de 189919, é ressaltado que A cidade de Vacaria e arredores. SANTOS, José Vicente Tavares dos. Colonos do Vinho, p. 153. 16 MAGNANINI, Ruth da Cruz; MAYOR, Ariadne S. Souto. População, p. 197. 17 BORGES PEREIRA, João Baptista. Italianos no mundo rural paulista, p. 231. 18 COLBARI, Antonia. Familismo e ética do trabalho: o legado dos imigrantes italianos para a cultura brasileira, p. 54. 19 Apud DE BONI, Luis Alberto. A Itália e o Rio Grande do Sul, p. 26. 14 15

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

181

O trabalho como “categoria étnica”

para concluir: o estado do Rio Grande do Sul pode ainda oferecer com facilidade uma melhor forma de vida aos nossos compatriotas que, deixando a pátria, aspirem a tornar-se proprietários da terra através do trabalho. As fortunas rápidas, se alguma vez aconteceram, são hoje desconhecidas. O que aquela região pode oferecer é um abrigo conveniente e, para o trabalhador sóbrio e ativo a possibilidade de construir uma posição independente e mesmo cômoda.

Enfim, houve campanhas e agentes italianos de migração que salientavam o quanto a riqueza na América se daria de forma fácil, contudo, logo os imigrantes perceberam que teriam que trabalhar para conquistá-la. Da mesma forma, no relato acima exposto, o trabalho enquanto uma “virtude necessária” para a ascensão já estava dada e devidamente registrada nos relatórios. Migrar e trabalhar seriam, portanto, sinônimos. Interessante observar, como ressalta Gandini20, que para a elite italiana, o camponês italiano local não era visto como um bom trabalhador. Outros alegavam igualmente que aqueles que se sujeitavam a emigrar o faziam porque não mais queriam trabalhar pesadamente na Itália e vislumbravam na migração uma possibilidade de enriquecimento fácil e rápido, sem muito esforço. O que, creio, deve ser analisado como parte das propagandas efetuadas pelos agentes21 que formavam a visão de um novo paraíso terrestre na América, no qual se trabalharia pouco e se enriqueceria rápido. Um cinquentenário de trabalho, poupança e disputas No Álbum comemorativo do primeiro cinquentenário da imigração italiana para o Rio Grande do Sul, de 1925, pode-se ter um panorama de como havia se desenrolado aqueles primeiros cinquenta anos de colonização. Formado por pequenos artigos escritos em italiano e produzidos por religiosos, estudiosos e autoridades, o Álbum, com grande teor laudatório, é também um documento muito valioso, apresentando fotografias e dados diversos. Neste, o trabalho familiar aparece como motor da riqueza. A ele estaria associado a religiosidade e um sentimento de busca por ascensão baseado na poupança e no sentimento constante de abnegação: “Oggi, lui lavora sue terre, godê (sic) di un certo conforto, possiede l’indispensabile vignale e mette a parti buoni risparmi, giusto frutto del suo sudore e delle sue fatiche”22. Da mesma forma, em outro depoimento no Álbum é colocado GANDINI, Marco. Questione sociale ed emigrazione nel mantovano 1873-1896, p. 123. LORENZONI, Julio. Memórias de um imigrante italiano. 22 Transcrevemos mantendo a ortografia original. Tradução das autoras: “Hoje, ele trabalha sua terra, goza de um certo conforto, possui seu indispensável vinhedo e consegue fazer boa poupança, justo fruto do seu suor e da sua fadiga”. BAREA, Giuseppe. La vita spirituale nelle colonie italiane dallo stato, p. 59. 20 21

182

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

que: “Il Brasile non poteva, certamente, scegliere immigranti migliori; sai (sic) per la carracteristica di lavoratori e risparmiatori tenaci, sai (sic) per il sovrano rispetto alle autoritá, come purê (sic) per la pratica atavica di coltivare terreni ondulati e di montagna”23. O Álbum apresenta os vários cultivos que desenvolviam os colonos, tais como: cevada, centeio, linho, erva-mate, arroz, trigo, tabaco, amoreiras, uva, feijão, batata, alfafa, frutíferas diversas, entre outras espécies cultivadas em hortas para a subsistência familiar. As iniciativas “industriosas” eram chamadas por Gobatto, de frutto d´italinitá (sic)24 (fruto da italianidade), salientando a capacidade criativa e empreendedora daqueles emigrados. Belém25, em seu livro sobre a História do município de Santa Maria, apresenta um descendente que era “industrialista”, sendo proprietário também de um engenho e uma serraria a vapor, e que teria trazido ao local, “um grande melhoramento”. Ou seja, os italianos, ao se instalarem nas localidades, patrocinavam as condições de infraestrutura para o desenvolvimento de suas atividades ou, senão, reivindicavam ao Estado que os favorecessem. Outro grande elemento que acompanhou a imigração italiana para o Rio Grande do sul foram as congregações religiosas católicas, suas escolas, colégios, internatos, seminários, entre outros. A entrada na carreira religiosa passou a ser compreendida, também, como uma forma de ascensão.26 Com propriedades pequenas e famílias extensas e estimuladas à procriação, alternativas deveriam ser buscadas para a manutenção da condição de camponês proprietário de terra. A terra, contudo, sempre foi considerada como a “autêntica segurança”, pois era dela que se extraia sobrevivência.27 Grande parte dos colonos, trabalhadores braçais, foram também os construtores das primeiras capelas e igrejas que, em 1925, já eram numerosas e muito belas. Parte do fruto de seu trabalho era destinada à construção destas e havia certa rivalidade entre as localidades na verificação de quem Transcrevemos mantendo a ortografia original. Tradução das autoras: “O Brasil não poderia, certamente, escolher imigrantes melhores; seja pela sua característica de trabalhadores e poupadores tenazes, seja pelo soberano respeito às autoridades, como também pela prática atávica de cultivar terrenos ondulados e de montanha”. GOBBATO, Celeste. Il colono italiano ed il suo contributo nello sviluppo dell´industria riograndense, p. 196. 24 Ibidem. 25 BELÉM, João. História do município de Santa Maria 1797-1933, p. 170. 26 De acordo com De Boni, “Os colonos, de sua parte, pobres, presos à terra em pequenas propriedades policultoras, pouco mais tinham a oferecer aos filhos, além de uma vida semelhante a que levavam, a não ser que estes seguissem uma vocação eclesiástica. Não havia grandes fortunas, os estudos eram custosos e de pouca utilidade, a política estava reservada aos luso-brasileiros. Status mais elevado, praticamente só na Igreja” (DE BONI, Luis Alberto. O catolicismo da imigração: do triunfo à crise, p. 243). 27 COSTA, Rovílio et al. Imigração italiana no Rio Grande do Sul, p. 76. 23

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

183

O trabalho como “categoria étnica”

construiria a igreja maior e mais bela, o que, para eles, era símbolo de distinção. Assim, compreendemos que quando alguns descendentes falam acerca do desenvolvimento de sua região, referem-se não somente ao aspecto econômico, mas também ao aspecto civilizatório representado pela religiosidade católica e seus monumentos e prédios. De acordo com Gobatto28, embora os colonos italianos no estado fossem trabalhadores e “industriosos”, não usavam sementes selecionadas e não faziam melhoras em suas culturas, repetindo o que teriam aprendido de seus pais alegando que a terra produzira pouco e que teriam que mudar de colônia. Ou seja, em termos de técnicas de trabalho seriam, até certo ponto, refratários às mudanças. O que, segundo o autor, dever-se-ia também ao baixo preço das terras de Santa Catarina e Paraná, que levava muito a se conduzirem para lá. Segundo Ancarani29, os imigrantes italianos que haviam comprado colônias na região central do estado pagaram as mesmas antes do prazo estipulado, tão boas haviam sido suas colheitas. Cabe aqui observar que não é possível compreender a colonização italiana para o Rio Grande do Sul sem observar a sua relação com a igreja católica, como já referido anteriormente. A religião é sempre apontada como um elemento central para explicar a solidariedade intergrupal, e também como um fator distintivo entre os descendentes de imigrantes italianos e os demais brasileiros que habitavam a região. O trabalho era, e ainda é, visto como uma “vocação” e eles se consideram trabalhadores sóbrios, dedicados, acreditando que o trabalho em si é uma finalidade e que a sua dedicação a ele é uma forma de cumprir com os desígnios sagrados. O gosto pelo trabalho, igualmente, era algo constante nas entrevistas realizadas pelas autoras. Socializar para o trabalho, como socializar para a vida religiosa também. Compreendemos que não havia, e ainda não há, como dissociar religiosidade da construção valorativa acerca do trabalho entre aqueles imigrantes e seus descendentes. O que não se pode desconsiderar, é claro, são as mudanças semânticas e valorativas destas categorias ao longo do processo colonizador. É certo que hoje a religiosidade é vivenciada de forma mais aberta e o trabalho intelectual ganhou maior prestígio. A industrialização de Caxias: um marco civilizatório No dia 01 de junho de 1910 se deu a elevação da então Vila de Santa Teresa de Caxias à condição de Cidade. Nessa mesma data foi inaugurada GOBBATO, Celeste, op. cit., p. 239. ANCARANI, Umberto. Monographia sobre a origem da ex-colonia italiana de Silveira Martins 18771914. 28 29

184

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

a estrada de ferro que ligava Caxias do Sul a Porto Alegre. O município foi instituído através do decreto número 257 de 20 de junho de 1890. Com a assinatura do então governador do estado, General Cândido José da Costa, Caxias do Sul foi desligada do município de São Sebastião do Caí, transformando-se em uma cidade autônoma. Com o decreto Caxias passou a ter seus próprios intendentes provisórios, e, em 1892, seu primeiro intendente nomeado.30 A ferrovia permite que Caxias adquira um lugar relevante na vida comercial da região de colonização italiana, no nordeste do Rio Grande do Sul, substituindo o porto fluvial de São Sebastião do Caí. Em poucos anos o antigo distrito se tornava mais importante que o município do qual havia se emancipado. A partir daí Caxias passou a receber os imigrantes que se destinavam a novas colônias, o que facilitou ainda mais seu desenvolvimento comercial. O ofício 337, de 24 de março de 1882, enviado pelo diretor da colônia caxias ao Ministério da Agricultura nos dá a medida desse desenvolvimento: O comércio está quase todo em mãos dos colonos, alguns dos quais entregam a cultivação de seus lotes a pessoas de sua família. Possui a povoação e as diversas léguas coloniais algumas casas de diferentes ramos de negócios e oficinas de ferreiro, latoeiro, corrieiro, relojoeiro, carpinteiro, barbeiro, alfaiate, sapateiro e uma fábrica de cerveja e outra de sabão.31

É o desenvolvimento do comércio que propicia a diferenciação e a estratificação social. Battistel e Costa32 relatam que: Entre os próprios colonizadores se estabeleceram parâmetros de defasagem da própria condição de colonizadores. Começaram a se estabelecer comparações entre as pessoas da cidade e da colônia: aquelas sabiam falar e tinham o poder, estas não sabiam falar e tinham que obedecer. O próprio ex-colono, isto é, o colono que há pouco tempo abandonara a colônia, vendendo suas terras para morar na cidade, voltar-se-ia aos que ficaram na colônia e os indigitaria como ‘colonos grossos’, que não sabem falar, não sabem portar-se, não têm os mesmos hábitos da ‘gente da cidade’. Exatamente, o sucesso do ex-colono, na cidade, através das atividades comerciais livres, protegidas por leis favoráveis, passou a ser o explorador mais pernicioso ao colono, constituindo-se um convite à cidade e tornandose, em grande parte, responsável pelo êxodo rural, impondo ao agricultor preços arbitrários para seus produtos, enriquecendo em breve tempo e com atividade que o colono não considera trabalho.

AZEVEDO, Thales de. Os italianos no Rio Grande do Sul. Apud: ibidem, p. 216. 32 BATTISTEL, Arlindo I.; COSTA, Rovílio. Assim vivem os italianos. Vida, história, cantos, comidas e estórias, p. 6. 30 31

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

185

O trabalho como “categoria étnica”

Caxias teve um rápido ritmo de crescimento em relação às outras colônias que se originaram na mesma época. Em 1895, a vila passa a contar com telégrafo e em 1906 com telefone. Nos seus primeiros 15 anos superou a fase colonial e distrital, transformando-se em município autônomo e em centro da região de colonização italiana no Rio Grande do Sul. Acreditamos que a localização privilegiada da cidade, no entroncamento de várias estradas tenha contribuído bastante para este desenvolvimento. Manfroi33 salienta que: “(...) na época dos italianos existia já uma infra-estrutura, a estrada Visconde do Rio Branco que ligava Caí a Caxias, a estrada Buarque de Macedo que ligava Montenegro aos Campos de Cima da Serra e por onde transitavam os cargueiros.” De acordo com Lagemann34, a atividade industrial de Caxias do Sul é resultante do comércio, sendo comum que as duas atividades fossem simultâneas e muitas vezes complementares. Em Caxias do Sul, Kalil Sehbe se instala, em 1928, como comerciante de tecidos e, alguns anos depois, expande seu empreendimento acrescentando uma indústria especializada em confecções para homens, João Triches abre em 1921, um comércio varejista, onde revende os mais diversos artigos de ferro e aço e, a partir de 1945, passa a Metalúrgica Triches a fabricar artefatos de ferro, artigos religiosos, cutelaria e artefatos de alumínio; a origem da Vinhos Salton S.A pode ser buscada na fiambreria e comércio de secos e molhados instalada, em 1910, por Paulo Salton e irmãos, passando depois ao cultivo da uva e fabrico de vinhos, champanhes e vermutes (...).

Ou seja, é a acumulação de capital na atividade comercial que permite captar capital para o investimento industrial. O que desmente a crença que a indústria tenha sido uma evolução natural dos pequenos produtos artesanais, que é na realidade o reforço do discurso do self-made-man35, ou seja, daquele indivíduo que ascende por esforço e mérito próprios e particulares. Na década de 50 do século XX, construiu-se a identidade de imigrante italiano, em que o imigrante era progressista, desenvolvido, marcado pela imagem do colono pioneiro que havia se transformado em industrial. Nesta mesma época aqueles que permaneciam como colonos eram vistos como símbolo de atraso. A ideia de progresso contida aí é a de desenvolvimento urbano, industrialização, grandes edifícios, enfim, a transformação da “colônia” de imigrantes pioneiros na grande metrópole civilizada e civilizadora, que serve de modelo de desenvolvimento ao resto do país. MANFROI, Olívio. Imigração Alemã e Italiana: Estudo Comparativo, p. 190. LAGEMANN, Eugenio. Imigração e Industrialização, p. 131. 35 ROCHE, Jean. A colonização alemã e o Rio Grande do Sul. 33 34

186

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

Essas representações estarão fortemente marcadas no álbum comemorativo dos setenta e cinco anos da imigração italiana publicado em 1950. É o que veremos no próximo tópico. Setenta e cinco anos de trabalho e ascensão: para quem? Nos documentos relativos a este período o que se observa é que nem todos os emigrados e seus descendentes conseguiram ascender socialmente. O que se vê, na região de Caxias, é uma grande camada de operários e muitos, em todo o estado, continuavam sendo pequenos proprietários rurais. Na região serrana a uva aparecia como o grande símbolo da imigração italiana, comemorado inclusive com a “Festa da Uva”, em suas sucessivas edições. Os que haviam enriquecido eram poucos e era cada vez maior o número dos que estavam se tornando membros de classes médias, principalmente nos centros urbanos do estado. Da mesma forma, muitos estabelecimentos comerciais que estavam presentes no Álbum das comemorações do cinquentenário, nos setenta e cinco anos já nem aparecem. Novos empresários industriais, comerciantes, prestadores de serviços se destacam, o que possibilita que se pense que a manutenção de empresas familiares nem sempre é uma tarefa fácil e requer um diálogo constante com as forças produtivas regionais e nacionais. No Álbum Comemorativo dos 75 anos da colonização italiana no estado, composto de bonitas fotos, entre as quais uma que mostra jovens em confraternização, é dito: “Jovens da sociedade confraternizaram com as humildes coloninhas na grande festa da colheita”36. Ou seja, no interior do grupo as clivagens e distinções já eram marcadas, inclusive as dicotomias rural/urbano e trabalho manual versus trabalho intelectual e todas as representações a elas associadas. Na região central do estado, após a II Guerra Mundial, de acordo com Carlesso37, a situação não estava promissora: Mas, tudo começou a arrefecer. Os ventos gelados da segunda guerra mundial começaram a soprar. Chegou a perturbação entre os descendentes italianos, as ameaças de certas autoridades, as perseguições, o medo, enfim. Silveira Martins começou a estancar no tempo e no espaço. O final da guerra trouxe também uma mudança de mentalidade.

Com o advento do Estado Novo (1937-1945), houve uma série de medidas repressoras aos imigrantes italianos e também a seus descendentes. Em especial, após 1942, quando o Brasil entra na guerra ao lado dos Aliados,

36 37

Album Comemorativo do 75 Aniversário da colonização Italiana no Rio Grande do Sul, p. 13. CARLESSO, Oscar José. A sonhada América: Os Carlesso em Santa Maria (1877-1988), p. 72.

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

187

O trabalho como “categoria étnica”

lutando contra o Eixo, formado por Itália, Japão e Alemanha. Comerciantes sofreram danos, bens foram confiscados, prisões foram efetuadas, o que levou a que, de formas diversas, os sentimentos conflitivos do momento de guerra soassem nos convívios entre os descendentes e os nacionais. Embora no pós guerra os descendentes de imigrantes continuassem empenhados em ascender economicamente, mantinham certo resguardo quanto a exaltações de sua italianidade, visando não entrar em confronto com os sentimentos nacionalistas do período. No caso de Caxias do Sul, Giron observa que “a censura não se fazia sentir na região. As sociedades italianas continuaram funcionando normalmente. O Estado Novo não parecia ter sido promulgado para a região colonial italiana”38. E esclarece: “na lógica da polícia os cultos e refinados burgueses italianos, dos quais eram assíduos convidados, não eram nem poderiam vir a se traidores do Estado Novo”.39 O que, no entanto, não se observará em toda a região serrana de colonização italiana, conforme salienta Sganzerla40 em seu estudo sobre Guaporé, localidade menor e menos desenvolvida, na qual as repressões foram sentidas de forma mais acentuada e pública. As poucas ações contra os italianos da cidade de Caxias do Sul (mudança no nome de ruas e praças, placas comemorativas do cinquentenário da imigração arrancadas, suspensão da Festa da Uva) são frequentemente lembradas tanto em livros quanto em declarações dos moradores da região. Do ponto de vista da população (alguns tendo vivenciado e sido protagonistas dos fatos) e de seus interpretes autorizados houve uma perseguição aos italianos e uma intensa violência simbólica e cultural. Fato, aliás, que tem sido salientado também por pesquisas acadêmicas recentes no estado e também em Santa Catarina e que utilizam a história oral como fonte, ouvindo as populações que presenciaram tais acontecimentos ou que deles ouviram falar nas memórias familiares e grupais. O que nos faz pensar que, de certa forma, o Estado Novo e suas autoridades policiais souberam fazer escolhas acerca de quem poderia ou não ser reprimido e também na forma de documentar tais eventos. No Álbum Comemorativo dos 75 anos, já escrito em português, mas com alguns termos em italiano, o que se observa é uma distinção entre as zonas de colonização italiana no estado. Nem todas haviam se desenvolvido da mesma forma. Segundo Pellanda41, em 1940, 8,91% da GIRON, Loraine Slomp. As sombras do Littorio, p. 129. Ibidem, p. 136. 40 SGANZERLA, Claudia Mara. A lei do silêncio. 41 PELLANDA, Ernesto. Aspectos Gerais da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul, p. 43. 38 39

188

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

população rio-grandense falaria dialetos venetos e 11,86%, dialetos alemães, o que ressaltaria a quantidade destas populações no estado. Estes dados representavam, também, um entrave aos ideais de criação de uma identidade nacional totalizante, vigente no período. Assim, de acordo com as potencialidades políticas, os descendentes de imigrantes destas localidades foram criando redes de relações que os favorecia (ou não). Igualmente, as atividades cooperativas fizeram com que o trabalho de cada propriedade fosse melhor potencializado, o que não ocorreu de uma forma simétrica em todo o estado. No Álbum, Mem de Sá, finalizando seu artigo sobre os aspectos econômicos da colonização italiana no Rio Grande do Sul, assumindo o discurso do grupo sobre si mesmo e, de certa forma, reforçando-o, diz que: Desbravou a serra, venceu a selva, triunfou de todas as dificuldades, sobrepujou as desvantagens da localização que lhe deram, superou a pobreza do solo que lhe ofereceram. Povoou uma região, infiltrou-se em todas as demais do Estado, concentrou populações, fragmentou velhos municípios, forjando novas células de administração. Rasgou a floresta, regou a terra com o suor de seu rosto e o sangue das mãos, semeou-a larga e dadivosamente. Ordeiro, pacífico, amante da vida e da natureza, do riso e da alegria, jovial e forte, é também o exemplo vivo do trabalho e da economia, da capacidade de empreender e criar.42

O centenário, em 1975: quem somos? O que se observa nas comemorações do centenário é que muitos descendentes já haviam ascendido economicamente e que desejavam, naquele momento, visibilizar-se socialmente. O que se vê, a partir de então, é todo um casamento entre capital econômico, intelectual e social, formando uma verdadeira rede de agentes que vão se empenhar na positivação da italianidade.43 Conforme os relatórios dos festejos, haveria um Álbum Comemorativo, filme oficial, monumentos, homenagem a Mansueto Bernardi (poeta, editor e escritor), mostras fotográficas, inauguração do Parque-Monumento e a divulgação de inúmeras obras literárias produzidas por descendentes de imigrantes italianos no estado. Enfim, uma grande festa comemorativa ressaltando as diversas “riquezas” produzidas pelos imigrantes e seus descendentes no Rio Grande do Sul. Nem todas as regiões de colonização italiana do Rio Grande do Sul enriqueceram da mesma forma, ilustrando como, mais do que elementos SA, Mem de. “Aspectos Econômicos da colonização italiana no Rio Grande do Sul”, p. 103-104. No estudo de MOCCELIN, Maria Clara. Trajetórias em rede: representações da italianidade entre empresários e intelectuais da região de Caxias do Sul, estas “redes” são apresentadas em detalhes. 42 43

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

189

O trabalho como “categoria étnica”

de ascendência, o que alguns grupos de descendentes souberam fazer foi agregar capital econômico e social, enfocando em atividades sintonizadas com os momentos específicos da economia brasileira. Desta forma, a região serrana, melhor administrada e com melhores redes de transporte, sobressaiu-se às demais. A região central do estado, sem indústrias, manteve-se predominantemente rural, não havendo nesta região um investimento do capital rural em capital industrial. Os mais capitalizados entre os emigrados e seus descendentes investiram seus recursos noutras localidades. No discurso do governador do estado, Sinval Guazzelli, em 1975 nas comemorações do centenário, diz que com 100 anos de suor ele cultivou estas encostas; recolheu o trigo para o pão de cada dia e levantou, tijolo por tijolo, as dezenas e mais dezenas de cidades febricitantes. E no embalo cancioneiro de rústica poesia, o imigrante fez o vinho, o generoso vinho que rejuvenesce o sangue e a alma, enobrece o lazer e põe doçuras de acalanto na intimidade coloquial do descanso...E entre as auroras e os crepúsculos, trabalha. Trabalha e reza. Reza, canta e produz porque tem fé, alegria e força.44

O que se observa, no centenário, já é uma divisão dada entre colonos e descendentes de camadas médias, urbanas. A etnicidade passa a ser valorizada do ponto de vista da construção de uma memória elaborada no presente sobre o passado.45 São os valores elaborados por letrados, intelectuais e membros que ascenderam que irão resgatar positivamente o colono ideal, na figura simbólica do pioneiro, do herói civilizador. Assim, os símbolos podem transitar entre elementos do passado, como a uva e o trabalho com a terra, com símbolos novos, mais urbanizados e sintonizados com o desenvolvimento industrial e não mais agrário. Como ressalta Ribeiro46, em 1975, a renda per capita de Caxias passou a ser a maior do estado e já havia na cidade camadas médias urbanas. Assim, conforme salienta a autora, muitos aspectos negativos da identidade de ítalo-brasileiros haviam perdido significação. Desta forma, a Festa da Uva, símbolo festivo máximo da ascensão dos emigrados italianos do final do século XIX, foi também sendo ressemantizada nesta nova conjuntura em que novas estruturas de significado47 eram acionadas. Dentre elas, o trabalho que, para muitos, já não era o trabalho árduo e pesado na terra, mas o

44 GUAZZELLI, Sinval. Relatório da Comissão Executiva para as comemorações do Centenário da Imigração Italiana, p. 83. 45 Cf. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. 46 RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Julio. Festa & Identidade: como se fez a festa da uva. 47 Cf. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas.

190

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

das fábricas e para outros ainda, o intelectual. Mudanças estas que, como salienta Ribeiro48, geraram muitas divergências entre os descendentes. Consideramos importante ressaltar, quanto a passagem do meio de produção “terra” para os meios de produção industriais, que ela vem acompanhada de uma série de outras mudanças na vida cotidiana dos indivíduos e suas coletividades. Seyferth49, em seu estudo sobre o vale do Itajaí-Mirim, em Santa Catarina, observou que os operários oriundos do meio rural combinavam jornadas de trabalho extensas baseadas na ideologia do “amor ao trabalho”, coisa que já vinha acontecendo desde a década de 30 do século XX. Assim, alguns ainda conseguiam aliar trabalho em fábricas com o cultivo de hortas, pomares e, dependo da localização, pequenas lavouras, em jornadas de trabalho superiores a 16 horas diárias. Esta estratégia deve ser analisada, segundo a autora, na perspectiva de uma reprodução da unidade doméstica camponesa que, aliado o trabalho com a terra e o salário, consegue se manter. Compreendemos que isto, em forma e em proporções distintas, também ocorreu no Rio Grande do Sul no período de abrangência deste artigo – 1875-1975 –, como ressalta Lazzarotto no caso de Caxias do Sul: “Não havendo onde trabalhar, a não ser na horta do fundo da casa ou na colônia, as crianças, ou mesmo as pessoas mais jovens, as mulheres, se reuniam na funilaria e passaram a formar o contingente de trabalho normal da empresa”.50 Como já assinalamos, a valorização do trabalho é apontada como uma diferença entre os descendentes de italianos e os brasileiros. O trabalho é visto como uma vocação e contribui para que encontremos na região o mesmo comportamento que Weber apontava entre os puritanos no início do capitalismo: “trabalhadores sóbrios, conscientes e incomparavelmente industriosos, que se aferram ao trabalho como uma finalidade desejada por Deus”51. Tais características, contudo, devem ser entendidas, em nossa compreensão, no domínio das representações dos grupos sobre si mesmos e a forma como avaliam sua forma de vida e negociam suas interações sociais não necessariamente algo que seja, de fato, universal a todos os descendentes de italianos do Rio Grande do Sul.

RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Julio, op. cit. SEYFERTH, Giralda. Aspectos da proletarização do campesinato no vale do Itajaí (SC): os colonos operários. 50 LAZZAROTTO, Valentim. Pobres construtores de riqueza, p. 62. 51 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, p. 127. 48 49

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

191

O trabalho como “categoria étnica”

Considerações Finais Como observado ao longo deste artigo, o trabalho é uma categoria que, ao ser ressaltado como um atributo do grupo qualificaria os indivíduos pertencentes ao mesmo, dotando-lhes desta virtude. Da mesma forma, ao valorizar o indivíduo italiano apreciador destes valores, salienta-se o quanto este, dependendo de seu papel social, seria importante para a transmissão do mesmo, conforme se observa na apreciação feita por um imigrante acerca de sua esposa que, sendo mãe, transmitiria os valores étnicos: “Encontrei na pupila dos meus olhos, o amor ideal e fiel. Amor à família, ao trabalho, econômica, zelosa, temente a Deus, dócil, e cheia de ternura”52. Observa-se o quanto o trabalho, para ser mais positivado, deve estar associado à poupança. Este exercício econômico, aliás, costuma ser ensinado aos filhos desde pequenos como uma estratégia de capitalizarem para terem melhores oportunidades de ascensão social. Como ressaltado por Alvim53, o trabalho familiar representa para o emigrado italiano algo muito importante e cada poupador, ao ceder seu capital ao pai/administrador, permite uma acumulação maior, possibilitando assim, melhores chances de investimento em negócios e indústrias mais lucrativas ou, se camponeses, em mais terra ou maquinários. O trabalho, enquanto uma virtude étnica, é algo muitas vezes naturalizado, essencializado e associado ao “sangue”, fazendo com que os indivíduos acreditem que os herdariam por natureza. Contudo, ao se trabalhar com esta literatura e se conviver com os descendentes de italianos, o que se observa é que o trabalho é algo ensinado desde a mais tenra infância, ou seja, é um valor apreciado e, por isto, ensinado, fazendo parte do habitus grupal. Ele pode ser compreendido como uma herança (simbólica) do ponto de vista das sagas familiares, ou seja, como um legado a ser transmitido entre gerações, mas não como algo que seja vivido sem conflitos. Há, no interior da trajetória deste grupo no estado, elementos que salientam o quanto a riqueza do trabalho, em sua face mais íntima, era distribuída de forma desigual entre homens e mulheres, entre adultos e crianças, a mais valia sobre ele exercida e também o quanto era penosa para os corpos. A alcunha de preguiçoso ou de pouco trabalhador, era algo extremamente depreciativo para as pessoas que assim eram denominadas. Entre os vícios, a preguiça era, com certeza, o mais temido, pois colocava em risco a sobrevivência do grupo. Tanto o homem como a mulher pre52 53

BELLINASO, Severino. As memórias de um imigrante italiano – 1913 a 1995, p. 113. ALVIM, Zuleika Maria Forcione, op. cit.

192

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

guiçosos não eram bem cotados matrimonialmente, o que poderia colocar em risco, do ponto de vista biológico, no caso de homens especialmente, a descendência patrilinear. Em seu estudo sobre Caxias do Sul Lazzarotto comenta: O capital acumulado nesta cidade não provém de alguma força misteriosa, nem de desígnios secretos, de superioridade racial ou de inteligências privilegiadas – ele também surgiu do trabalho, das relações de trabalho e das relações de produção, do labutar árduo daqueles que geraram bens, mas que não puderam dispor de tudo quanto seu trabalho produziu.54

Ao pensar a sociedade como um conjunto de variáveis e compararmos diferentes áreas de colonização podemos entender porque não é a colonização em si que traz o desenvolvimento, mas o conjunto de variáveis envolvido: situação geográfica, poder político, diferenciação social, conjuntura nacional, entre tantos outros elementos. Enfim, por meio deste breve artigo, procuramos salientar o quanto o trabalho como um discurso do grupo sobre si mesmo e também dos nacionais sobre os italianos ajuda a criar representações e, no caso de Caxias – que foi uma colonização bem sucedida – reforça tais estereótipos. No caso da região central, apesar da mesma não ter se desenvolvido da mesma forma que a serrana, a categoria trabalho também é acionada para distinguir os italianos dos nacionais. Os descendentes desta região também consideram o trabalho um valor extremamente importante de ser transmitido entre gerações, o que nos faz refletir acerca da importância do discurso religioso e moral, sobre o mesmo e também que, para indivíduos sem capital econômico, o trabalho se torna a grande forma de ascensão e sobrevivência, como temos observado contemporaneamente em tantos grupos de migrantes, sejam nacionais ou internacionais. O que não implica, para além da questão valorativa atribuída a este, que analisemos e pensemos também as condições nas quais os indivíduos são alienados de seus processos produtivos e das riquezas produzidas pelo seu labor. Seja no passado ou no presente, esta é uma questão de extrema importância nos estudos migratórios. Bibliografia ALBUM Comemorativo do 75º Aniversário da colonização Italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Revista do Globo, 1950. ALVIM, Zuleika Maria Forcione. Brava gente! Os italianos em São Paulo 1870-1920. São Paulo: Brasiliense, 1986. 54

LAZZAROTTO, Valentim, op. cit., p. 13.

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

193

O trabalho como “categoria étnica”

ANCARANI, Umberto. “Monografia sobre a origem da ex-colônia italiana de Silveira Martins 1877-1914”, in Revista Comemorativa do Centenário da Fundação da Cidade de Santa Maria-RS 1814-1914. [S.L:s.d] AZEVEDO, Thales de. Italianos e gaúchos. Os anos pioneiros da colonização italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1975. AZEVEDO, Thales de. Os italianos no Rio Grande do Sul. Caxias do Sul: EDUCS, 1994 BAREA, Giuseppe. “La vita spirituale nelle colonie italiane dallo stato”, in Cinquantenario della colonizzazione italiana nel Rio Grande del Sud 1875- 1925. [S.L.:s.n.], s.d.. p. 55-131. BATTISTEL, Arlindo I.; COSTA, Rovílio. Assim vivem os italianos. Vida, história, cantos, comidas e estórias. Porto Alegre/Caxias do Sul: EST/EDUCS, 1982. BATTISTEL, Arlindo. Colônia italiana: religião e costumes. Porto Alegre: EST, 1981. BELÉM, João. História do município de Santa Maria 1797-1933. Santa Maria: Edições UFSM, 1989. BELLINASO, Severino. As memórias de um imigrante italiano – 1913 a 1995. Ivorá, 1995. BELTRÃO, Romeu. Cronologia Histórica de Santa Maria e do extinto município de São Martinho 1787-1930. S.L. 1979. BILHÃO, Isabel Aparecida. Identidade e trabalho: análise da construção identitária dos operários porto-alegrenses (1896-1920). Tese de doutorado (Programa de Pós-Graduação em História). Departamento de História, UFRGS. Porto Alegre, 2005. BORGES PEREIRA, João Baptista. Italianos no mundo rural paulista. São Paulo: Pioneira, Instituto de Estudos Brasileiros da USP, 1974. CARLESSO, Oscar José. A sonhada América: Os Carlesso em Santa Maria (18771988). Porto Alegre: Ed. Posenato Arte e Cultura, 1989. CINQUANTENARIO della colonizzazione italiana nel Rio Grande del Sud 18751925. [S.L.: s.n], 1925. COLBARI, Antonia. “Familismo e ética do trabalho: o legado dos imigrantes italianos para a cultura brasileira”, in Revista Brasileira de História, v. 17, n. 34, 1997, p. 53-74. COSTA, Rovílio et al. Imigração italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST; Caxias do Sul: EDUCS, 1986. DE BONI, Luis Alberto; COSTA, Rovílio. Os italianos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre/Caxias do Sul: EST/Universidade de Caxias do Sul,1984. ______. A Itália e o Rio Grande do Sul. IV Relatório de autoridades italianas sobre a colonização em terras gaúchas. Porto Alegre: EST, 1983. ______. “O catolicismo da imigração: do triunfo à crise”, in LANDO, Aldair Marli et al. RS: Imigração & Colonização. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1980, p. 234-255.

194

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Maria Catarina C. Zanini, Miriam de Oliveira Santos

GANDINI, Marco. Questione sociale ed emigrazione nel mantovano 1873-1896. Associazione Mantovani nel Mondo. Mantova: Editoriale Sometti, 2000. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. GIRON, Loraine Slomp. As sombras do Littorio. Porto Alegre: Parlenda, 1994. GOBBATO, Celeste. “Il colono italiano ed il suo contributo nello sviluppo dell´industria riograndense”, in Cinquantenario della colonizzazione italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925. [S.L.:s.n.], 1925, p. 195-242. GUAZZELLI, Sinval. Relatório da Comissão Executiva para as comemorações do Centenário da Imigração Italiana. Porto Alegre: Grafosul, 1976. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990. HERÉDIA, Vania Beatriz Merlotti. Processo de Industrialização da Zona Colonial Italiana. Caxias do Sul: EDUCS, 1997. LAGEMANN, Eugenio.“Imigração e Industrialização”, in DACANAL, José; GONZAGA, Sergius. RS: Imigração e Colonização. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1980. LAZZAROTTO, Valentim. Pobres construtores de riqueza. Caxias do Sul: EDUCS; Porto Alegre: EST, 1981. LORENZONI, Julio. Memórias de um imigrante italiano. Porto Alegre: Sulina, 1975.   KOWARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem. A origem do trabalho livre no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1987. MACHADO, Maria Abel; HEREDIA, Vânia. “Associação dos comerciantes: uma forma de organização dos imigrantes europeus nas colônias agrícolas no sul do Brasil”, in Scripta Nova, n. 94, 2001. Disponível em: ww.ub.es/geocrit/sn-94-28. htm.. Acesso em: ago 2008. MAGNANINI, Ruth da Cruz; MAYOR, Ariadne S. Souto. “População”, in IBGE. Geografia do Brasil – Região Sul. V. 5, Rio de Janeiro: IBGE, 1997. MANFROI, Olívio. “Imigração Alemã e Italiana: Estudo Comparativo”, in ISBIEP. Imigração Italiana: Estudos. Porto Alegre/Caxias do Sul: EST/UCS, 1979. MARTINS, José de Souza. A imigração e a crise no Brasil agrário. São Paulo: Pioneira, 1973. MOCCELIN, Maria Clara. Trajetórias em rede: representações da italianidade entre empresários e intelectuais da região de Caxias do Sul. Campinas. Tese de doutorado (Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais). Departamento de Antropologia, UNICAMP. 2008. MOREIRA, Igor A.; COSTA, Rogério Haesbert da. Espaço e sociedade no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1995. PELLANDA, Ernesto. “Aspectos Gerais da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul”, in Álbum Comemorativo do 75° Aniversário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1950, p. 33-64. RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Julio. Festa & Identidade: como se fez a festa da uva. Caxias do Sul: EDUCS, 2002.

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

195

O trabalho como “categoria étnica”

ROCHE, Jean. A colonização alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1969. SA, Mem de. “Aspectos Econômicos da colonização italiana no Rio Grande do Sul”, in Álbum Comemorativo do 75° Aniversário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Revista do Globo, 1950, p. 75-104. SANTIN, Silvino; ISAIA, Antônio. Silveira Martins: patrimônio histórico-cultural. Porto Alegre: EST, 1990. SANTOS, José Vicente Tavares dos. Colonos do Vinho. São Paulo: Hucitec, 1978. SANTOS, Miriam de Oliveira; ZANINI, Maria Catarina Chitolina. “Diferentes percursos da migração italiana no Rio Grande do Sul (Brasil)”, in Estúdios migratórios latinoamericanos, v. 21, n. 62, 2007, p. 151-179. SEYFERTH, Giralda. “Aspectos da proletarização do campesinato no vale do Itajaí (SC): os colonos operários”, in LOPES, José Sérgio Leite (coord.). Cultura e Identidade operária. Aspectos da cultura da classe trabalhadora. Rio de Janeiro: UFRJ - Museu Nacional; Marco Zero; Proed, 1987, p. 103-120. SGANZERLA, Claudia Mara. A lei do silêncio. Passo Fundo: UPF, 2001. WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1997.

196

Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVII, Nº 33, p. 177-198, jul./dez. 2009

Abstract The labor as an ethnic category: a comparative research about the social ascension of Italian settlers and their descendant in Rio Grande do Sul (1875-1975) We aim to analyze, from a comparative historical perspective, two processes of Italian immigration to different parts of Rio Grande do Sul. We’ll discuss the economic development issue in one of these areas (the mountain region), the social rising of the migrants who moved there compared to the so called “failed migration” – in the economical point of view – to the central zone of the state (near Santa Maria). The comparison between the different migratory experiences and the intercross between the capital flows and its itinerary are possible due to the empirical researches accomplished by the authors. The purpose is also to investigate how the working category was initiated by the group and its importance in the development process in these regions and in the social mobility of the mentioned migrants and their descendants. Keywords: Immigration; Work; Ethnic identity

Received for publication in March 23rd, 2009. Accepted for publication in October 13th, 2009. Recebido para publicação em 23/03/2009. Aceito para publicação em 13/10/09.

197