LETRAMENTO DIGITAL: NOVAS PERSPECTIVAS PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM RESUMO

LETRAMENTO DIGITAL: NOVAS PERSPECTIVAS PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Emanuel Feliciano da Silva (UFPB/FATERN) [email protected] RESU...
3 downloads 0 Views 217KB Size
LETRAMENTO DIGITAL: NOVAS PERSPECTIVAS PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Emanuel Feliciano da Silva (UFPB/FATERN) [email protected] RESUMO

Este trabalho tem como temática principal o Letramento Digital, mediante a perspectiva da condição e da apropriação das novas tecnologias, bem como sua ligação com as práticas de leitura e escrita desenvolvidas através da utilização de recursos tecnológicos como o computador. Objetivamos com este estudo investigar as contribuições do LD e as perspectivas para o processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa no ensino médio, na rede pública estadual, possibilitando uma reflexão acerca das novas formas de letramentos midiático-digitais encontrados na sociedade moderna. Para tanto, utilizamos uma metodologia de caráter qualitativo, exploratório e descritivo a qual compreendeu questionário e entrevista aplicada a professores de LP, da Escola Estadual Diógenes da Cunha Lima, situada na cidade São José do Campestre-RN. Para aprofundamento e embasamento desta temática recorremos a autores como: (MARCUSCHI, 2004), (SOARES,1998/2002/2009), (KLEIMAN, 1995), (XAVIER, 2003), (BAGNO, 2002) entre outros que respaldaram teoricamente este estudo. O Letramento Digital não é uma prática limitada à escola, visto que está presente nos diversos espaços e interações sociais, por meio da utilização do sujeito com os recursos tecnológicos digitais, sobretudo o computador conectado a rede de internet. Portanto, o LD é resultante de uma procura excessiva, que as pessoas, em especial os jovens tem diante do manuseio com as ferramentas digitais, oportunizando consequentemente uma formação que precede os muros da escola. Todavia, compete às instituições de ensino vincular essas práticas sociais desenvolvidas fora do âmbito escolar, aos conteúdos direcionados na escola, viabilizando novas possibilidades de ensinar e aprender. PALAVRAS-CHAVE: Letramento Digital. Ensino-aprendizagem. Língua Portuguesa.

1. INTRODUÇÃO – LOGON1

Vivenciamos atualmente um momento marcado pelas transformações sociais, decorrentes do processo de globalização e, sobretudo por meio da evolução das tecnologias, essa realidade ocasionou e vem ocasionando diversas mutações nos modos de pensar, agir, ensinar e aprender. Esse contexto desencadeou a inquietude que alimenta este artigo, a qual pode ser dimensionada a partir do seguinte relato:

Um jovem de 15 anos acorda ao ouvir o despertador de seu celular, mal se veste e já vai conferir em seu computador se o download do filme que fazia antes de se deitar está pronto. Toma café da manhã apressadamente e logo está jogando vídeo-game. A mãe do jovem o manda para o banho, ele a obedece, pega seu tocador de mp4, seu celular com câmera digital, jogos e sistemas de envio e recebimento de dados e vai para a escola. No caminho, o rapaz ouve música, joga on-line através do celular, conversa com amigos por mensagens instantâneas (também usando o celular), troca arquivos sobre o trabalho que será entregue na aula da semana seguinte e tantas outras coisas. Chegando à escola, ele se senta em uma das cadeiras enfileiradas, e enquanto olha para as nucas de seus colegas de classe, ouve por horas a fio, sem muito entusiasmo, a aula expositiva do professor que está à frente de toda a turma, com um giz branco numa das mãos e um livro de literatura na outra. (PARNAIBA; GOBBI, 2009, p. 2)

Esse relato nos mostra a realidade da atual juventude, uma vez que os jovens dessa nova geração estão cercados por diversas ferramentas tecnológicas e digitais. Contudo, a utilização dessas novas tecnologias reflete de forma considerável no modo de aprender e de se comunicar. Considerando esses fatos, compreendemos que a sociedade do atual “mundo moderno”, vivencia novas perspectivas e experimenta novos saberes, através de mecanismos e ferramentas que viabilizam de forma prática e acessível informação e capacitação, conotando deste modo novos paradigmas e reformulações para o processo educacional. Com o surgimento da Internet na década 60, a sociedade passou por diversas mudanças, principalmente nas questões relacionadas à educação. É possível hoje, graças a esse mecanismo tecnológico, ter acesso a diversas informações em tempo hábil, comunicar-se de forma simultânea, além de se qualificar tanto em nível técnico, como superior. Essas transformações vislumbram o que Costa (2003) denomina cultura digital (SANTANA, 2006), momento esse em que as TIC’s atreladas às mudanças sociais, culturais e a ampla quantidade 1

Permite o acesso a um computador ou programa; para entrar na rede é necessário fornecer uma senha ou algum outro tipo de credencial para ganhar acesso a determinado sistema.

de informação disponível, estão modificando o perfil das pessoas, no que se refere à forma de viver, aprender, e se comunicar. Essa realidade evidencia o mais recente desafio e perspectiva pedagógica que se coloca para os professores da atualidade: “letrar digitalmente” uma geração de aprendizes, crianças e adolescentes que estão crescendo e vivenciando notavelmente os avanços tecnológicos. As tecnologias de informação e comunicação incluindo as mídias digitais, interfaces colaborativas da Web 2.0 e as redes sociais estão sendo cada vez mais utilizadas em diversas áreas como: marketing, negócios, comunicação e educação. Esse destaque ocorre devido à eficiência, objetividade, rapidez e simultaneidade com que as informações chegam até os indivíduos, além de ter uma característica particular e peculiar que é a interatividade, uma ação de troca/aprendizagem contínua das funções de emissão e recepção comunicativa. Considerando esses desenvolvimentos técnicos e tecnológicos presentes na sociedade atual, faz-se necessário investigar a inserção de novos elementos no ambiente educacional, visto que com o avanço da tecnologia o processo de comunicação e informação, fortalece cada vez mais, isso resulta e influencia consequentemente na formação, na aprendizagem, no desenvolvimento e promoção do letramento digital e midiático dos indivíduos. Nessa perspectiva a escola enquanto instituição formadora deve modificar as práticas de ensino/aprendizagem, a fim de valorizar os conhecimentos e letramentos adquiridos digitalmente pelos alunos fora da sala de aula, viabilizando a construção de saberes recíprocos e colaborativos, bem como, oportunizar um ensino colaborativo, associando midiatização dos saberes e mediação humana, incentivando a interação entre professor x aluno, aluno x professor e aluno x aluno. Logo, os professores devem oportunizar um novo modo de ensinar, dando atenção ao que é ensinado, preocupando-se com os conteúdos específicos das disciplinas, procurando trabalhar de forma multidisciplinar, desenvolvendo capacidades mais gerais que permitam aos alunos atribuírem um significado a estes conteúdos e principalmente vincular os conteúdos e os objetivos almejados com a utilização das novas tecnologias da informação e comunicação/ mídias digitais, viabilizando consequentemente o ensino cada vez mais dinâmico e motivador. Contudo, se faz necessário que novas formas de leitura, pensamento e produção comecem a ser colocadas em prática, visando o desenvolvimento integral dos alunos, possibilitando-lhes, o contato com diversos tipos de materiais, Moran (2006) afirma que: o aluno deve ter contato com diversos tipos de textos e pode criar seu próprio código de linguagem, não errado, apenas diferente do usual. Essa nova forma de pensar, sem dúvida

ajudará no desenvolvimento de um saber linguístico amplo, tendo a comunicação como base das ações, viabilizando uma recauchutada no ensino. Portanto, objetiva-se por meio deste investigar as contribuições do letramento digital, bem como os desafios que esse fenômeno implica diante do processo de ensino e aprendizagem de língua portuguesa no ensino médio nas escolas públicas, viabilizando consequentemente uma reflexão acerca das novas formas de letramentos midiático-digitais encontrados na sociedade moderna. Para a efetivação deste estudo, foi necessário fazer a aplicação de questionários e entrevistas objetivando refletir acerca dos desafios que a escola enfrenta em plena sociedade digital, diante do processo do ensino e aprendizagem. A população envolvida nessa pesquisa foi composta por professores de ambos os sexos, que lecionam a disciplina de português para o ensino médio na Escola Estadual Diógenes da Cunha Lima localizada na cidade de São José do Campestre/RN. Para tal intento, o presente artigo está subdividido em cinco partes: fundamentação teórica, percurso metodológico, análise e discussão do corpus, reflexões finais e referências utilizadas para a efetivação desse estudo.

2. LETRAMENTOS: CONCEITOS, DEFINIÇÕES E RECONFIGURAÇÕES DOS PARADIGMAS SOCIAIS E EDUCACIONAIS

A educação assim como todo segmento da sociedade passa por diversas alterações, cada vez mais sábios e estudiosos buscam em seus estudos aprimorar e renovar as práticas e concepções das mais diversas áreas, sobretudo no contexto educacional, essa busca constante tem como objetivo ressignificar hábitos, posturas e práticas educativas, viabilizando novas diretrizes e novos olhares para o processo de ensino e aprendizagem. Diante dessa perspectiva e levando em consideração o processo que consiste no ensino de línguas, é de grande relevância refletir sobre as práticas de linguagem, diante dessa reflexão notificamos os estudos sobre letramento termo que foi inserido em nosso meio em 1980, mesmo sendo conhecido no cenário internacional desde o final da década de 40.

Letramento é uma palavra recém-chegada ao vocabulário da Educação e das Ciências Linguísticas: é na segunda metade dos anos 80, há cerca de apenas 10 anos, portanto, que ela surge no discurso dos especialistas dessas áreas. (SOARES, 2009, p. 15)

De acordo com Soares, no início dos anos 90, os estudos acerca do letramento possibilitaram diversas discussões na área das Ciências Linguísticas e, por conseguinte, os processos de letramento revestiram-se, de um sentido essencialmente político, envolvendo uma inquestionável relação de poder econômico-social. Como podemos observar na fala de Soares (1998, p. 17) quando afirma que “a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguística, quer para o grupo social, quer para o indivíduo que aprende a usá-la”. Como vimos anteriormente à palavra letramento é nova no vocabulário brasileiro, o termo “letramento” foi usado pela 1a vez por Mary Kato, em 1986, na obra “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística”. Kato (1986, p. 7) acredita que: “a chamada normapadrão, ou língua falada culta, é consequência do letramento, motivo por que, indiretamente, é função da escola desenvolver no aluno o domínio da linguagem falada institucionalmente aceita”. Perante essa afirmação Kato busca explicar aos educadores, educandos e estudiosos como produzir e socializar o conhecimento, através da leitura e da escrita, em diversos ambientes, principalmente na escola. Partindo desse pressuposto e na busca pelo significado dos questionamentos acerca da palavra letramento, duas pesquisadoras brasileiras em áreas distintas (KLEIMAN, 1995) na Linguística e (SOARES, 2009) na Educação, podemos propor uma análise etimológica da palavra letramento, segundo as autoras, o vocábulo literacy vem do latim litera (letra), com o sufixo -cy, que significa qualidade, condição, estado, fato de ser. A criação do vocábulo, se deu após tradução “ao pé da letra”, considerando a palavra literacy: letra-, do latim littera, e o sufixo –mento, denotando o resultado de uma ação, o estado ou a condição que um grupo social ou indivíduo adquire como consequência de ter se apropriado da escrita. Nessa perspectiva Kleiman (1995, p. 19) relata que: "Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos". Em texto posterior, a autora declara entender letramento "como as práticas e eventos relacionados com uso, função e impacto social da escrita" (idem, 1998, p. 181). Considerando a ideologia de Soares, compreendemos que a escrita é marcada e influenciada de forma considerável, por diversos aspectos, entre eles os fatores sócio-culturais e políticos, que permeiam a linguagem oral e escrita.

Sabemos que desde o princípio da humanidade que os homens organizam-se em

pequenos e grandes grupos, os quais estabelecem signos, criam tecnologias, formam vínculos afetivos, desenvolvem economia e constroem os mais diversificados tipos de comunicação, aprendizagem e produção de conhecimento. As estruturas destes grupos modificam e são modificadas de forma intrínseca com os instrumentos, técnicas e tecnologias criadas por eles. Pensemos, por exemplo, na cultura escrita sistematizada com o surgimento da oralidade e, posteriormente com o sistema escrito, e potencializada com a prensa de Gutenberg, estabelecendo transformações na maneira como os indivíduos comunicam-se, relacionam-se e autorizam-se enquanto sujeitos. Essas mudanças são influenciadas de acordo com o momento em que vivemos, se considerarmos a história e a evolução da tecnologia, veremos que em menos de cinco décadas os computadores deixaram de ser uma mera ferramenta da indústria e entraram nos diversos contextos: residências, comércios, sobretudo, na escola. Com a propagação do computador, agora de uso doméstico e consequentemente com o surgimento da Internet, notificou-se mudanças consideráveis na linguagem oral e principalmente na escrita, configurando um novo modo de processamento de informação e comunicação, isso graças aos novos mecanismos tecnológicos que por meio das TIC’s – tecnologias da informação e da comunicação, permitiram a transferência da linguagem escrita/ página impressa para a tela do computador.

[...] a hipótese é de que essas mudanças tenham conseqüências sociais, cognitivas e discursivas, e estejam, assim, configurando um letramento digital, isto é, um certo estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela, diferente do estado ou condição – do letramento – dos que exercem práticas de leitura e de escrita no papel. (SOARES, 2002, p. 151)

É notório que estamos vivenciando um considerável avanço tecnológico, esse fenômeno traz implicações para os diversos segmentos da sociedade, especialmente para a linguagem, visto que estamos imersos em um mundo cercado por várias mídias, sendo assim, essa aproximação oportuniza alterações nos comportamentos sociais, nas relações pessoais e na utilização da linguagem. Anteriormente traçamos definições sobre o letramento em uma perspectiva ampla, agora partimos da comparação da ideia concebida no Brasil em meados das décadas de 80 e 90, para a atual concepção de denominada de letramento digital.

O acelerado desenvolvimento atual da tecnologia da informática nos obriga a incluir em nosso interesse um outro tipo de letramento, o letramento digital, uma vez que a tela do computador se tornou um novo portador de textos (e de hipertextos), suscitando novos gêneros, novos comportamentos, sociais referentes às práticas de uso da linguagem oral e escrita, e cobrando de nós novas teorizações e novos modelos de interpretação dos fenômenos da linguagem. (BAGNO 2002, p. 55-56. Grifo do autor)

Portanto, percebemos que diante desse novo período que estamos vivendo, o conceito de letramento que a priori tratava exclusivamente das práticas sociais da leitura e da escrita convencional, agora inclui entre outros campos da construção do conhecimento a esfera virtual, originando a expressão: letramento digital. Para Soares (2009, p. 78), não é possível que exista um “conceito único de letramento adequado a todas as pessoas, em todos os lugares, em qualquer tempo, em qualquer contexto cultural ou político”. Essa afirmação subjaz uma reflexão acerca do tempo e do espaço, que os indivíduos estão inseridos, ou seja, estamos em pleno século XXI, período marcado pelo grande avanço tecnológico, momento que influencia de forma significativa na vida dos sujeitos que usufruem das tecnologias da informação e da comunicação. Os padrões de letramentos mudam porque são centrados na história e desta forma acompanham as alterações de cada contexto tecnológico, político, socioeconômico ou cultural em uma dada sociedade. Barton (1998, p. 9) defende a existência de diversos tipos de letramento. Nessa perspectiva, o letramento digital seria mais um tipo de letramento imposto à sociedade contemporânea pelas inovações tecnológicas. Segundo esse autor:

Letramento não é o mesmo em todos os contextos; ao contrário, há diferentes Letramentos. A noção de diferentes letramentos tem vários sentidos: por exemplo, práticas que envolvem variadas mídias e sistemas simbólicos, tais como um filme ou computador, podem ser considerados diferentes letramentos, como letramento fílmico e letramento computacional (computer literacy).

O letramento diante dessa nova concepção está vinculado à tecnologia digital e isto significa que além do indivíduo saber como utilizar a internet, é necessário saber para quê usar essa tecnologia, ou seja, não basta apenas ser alfabetizado digital, mas sim letrado digital, tendo a consciência da utilização correta dos diversos ambientes, ferramentas e aparatos existentes nesse recurso tecnológico. Antigamente tínhamos uma separação entre pessoas: alfabetizadas e analfabetas, agora diante da era digital temos uma nova divisão: analfabytes e alfabytizados, entende-se por analfabytes, as pessoas que, embora saibam ler e escrever, não dominam a utilização das

novas mídias, sobretudo, o computador e a Internet, ao contrário das alfabytizadas. Essa nova nomenclatura está vinculada a discussão do letramento digital. A atribuição do adjetivo digital, ao substantivo letramento admite, com facilidade, qualquer dispositivo que aplique tecnologia digital. Deste modo, quando um sujeito se dispõe a fazer um curso sobre a utilização de um determinado software seja ele de edição de um texto, imagem ou planilha eletrônica, ele fica apto a dominar os códigos das linguagens, ou seja, torna-se um alfabetizado digital, mas esses conhecimentos e linguagens adquiridos só farão sentido se realmente for incorporado o uso no seu cotidiano, passando a ser um letrado digital, onde todo conhecimento obtido, terá sentido para sua vida. Fazendo um paralelo com o contexto educacional os educadores têm a responsabilidade de fazer com que essas tecnologias façam sentido na escola e principalmente na vida dos alunos. Com o uso da internet na educação passamos a incorporar novos mecanismos no contexto educacional, bem como ressignificar concepções e práticas educativas. Diante desse aspecto temos uma nova roupagem dada ao letramento fruto da cultura digital que nos rodeia, oportunizando mudanças nos padrões da sociedade e nos modos de ensinar e aprender, implicando, por conseguinte na reformulação das práticas pedagógicas. Para Freitas (2003) o confronto dos professores com as experiências do letramento digital de adolescentes, num trabalho formativo de reflexão, pode levar a novas aprendizagens que conduzam a uma transformação de sua prática pedagógica. Se fizermos uma analogia do tipo de letramento proposto anteriormente entenderemos que, a nova proposta de Letramento digital corresponde aos níveis de propriedade dos gestos e das técnicas de ler e escrever em ambientes que empregam tecnologia digital. Segundo Coscarelli (2005, p. 9) “letramento é o nome que damos, então, à ampliação do leque de possibilidades de contato com a escrita também em ambiente digital (tanto para ler quanto para escrever)”. Entretanto, o Letramento digital implica diante da realização de práticas de leitura e escrita diferentes dos formatos convencionais e tradicionais de alfabetização e letramento. O indivíduo passa a ser letrado digital quando assume mudanças nos modos de ler e escrever, utilizando códigos e sinais verbais e não-verbais, como desenhos e imagens, além de praticarem uma leitura não linear realizada na tela do computador, visto que é permitido o contato direto com textos e hipertextos, ligando o leitor/internauta, por meio dos links a diversas informações, contextualizadas com o conteúdo de interesse do usuário.

Em relação à diferença do texto lido no papel impresso/livro x hipertexto podemos considerar a afirmação de Soares (2002, p. 150)

O texto no papel é escrito e é lido linearmente, sequencialmente – da esquerda para a direita, de cima para baixo, uma página após a outra; o texto na tela – o hipertexto – é escrito e é lido de forma multilinear, multisequencial, acionando-se links ou nós que vão trazendo telas numa multiplicidade de possibilidades, sem que haja uma ordem predefinida.

Nessa perspectiva, Xavier (2005) entende que o letramento digital é realizado com o uso de hipertextos, através da aquisição e do domínio dos vários gêneros hipertextuais. Partindo de uma análise feita na Internet, conseguimos perceber que essa tecnologia possui três características marcantes: é uma grande fonte de consulta; é um espaço que amplia nossas possibilidades de contatos, onde todos podem ser autores e protagonistas estimulando a comunicação independente do espaço geográfico e do tempo; e possibilita a força de informação, comunicação e a construção do conhecimento cooperativo. Atualmente diversas são as discussões sobre a inclusão digital, tais discussões e estudos viabilizaram a adesão de políticas públicas educacionais voltadas para a implementação de centros de inclusão digital, tudo isso mediante a procura constante dos recursos disponibilizados na internet. Através dessa implementação as pessoas que até então eram letradas “analógicas”, estão podendo por meio dessa oportunidade, tornarem-se letradas digitais. Apoiando-se nas ideias de Buzato (2003), encontramos um conceito mais abrangente a qual define que o letramento digital é o conhecimento necessário para a utilização de práticas mediadas pelos suportes eletrônicos da sociedade contemporânea, construindo sentido, filtrando informação e o conhecimento dos estilos que conduzem a comunicação mediada por computador. O letramento digital acende uma série de situações de comunicação até então não vivenciadas, com o advento das inovações tecnológicas computacionais. E, por conseguinte, o surgimento de salas de bate-papo, chats, e-mails, blogs, fotologs, homepages, sites, listas de discussão, e-foruns, Orkut, etc. além de trazerem “informações léxico-neológicas, abertas no campo da Internet” (Galli, 2004, p. 121), designando as novas formas de socialização no meio digital, conhecidas como conversas simultâneas ligando duas ou mais pessoas ao mesmo tempo, desenvolvendo habilidades de escrita e “fala”, mesmo cada pessoa sendo de lugares diferentes do planeta. A conversa simultânea era um evento comunicativo impossível até a implementação da grande rede de comunicação.

3. LETRAMENTO DIGITAL: RESSIGNIFICANDO A AÇÃO DE ENSINAR E APRENDER

Atualmente vivemos em um momento de constante reflexão no que se refere ao espaço escolar, visto que estamos vivenciando um período muito forte denominado Era Digital. Esse momento reflete de forma significativa nos diversos setores da sociedade, principalmente nas instituições de ensino, que engloba uma clientela altamente diversificada advinda de variadas camadas sociais, deste modo é necessário ter a consciência que a escola é um ambiente plural e, portanto precisa repensar e refletir sobre sua função diante do contexto educacional. Diante desse novo drecionamento educacional, escolas professores e alunos estão assumindo novas posturas, isso é fruto dos avanços tecnológicos, que resultam novas formas de ação, interação e produção do conhecimento, por exemplo, se considerarmos a realidade da atual juventude, observaremos que essa nova geração, está notavelmente cercada por computadores, videogames, câmeras digitais, celulares 3G, iPods, tocadores de MP3, Internet e todas as tecnologias digitais, esses jovens diferem-se

completamente dos jovens de

gerações anteriores. A utilização dessas tecnologias reflete no modo de ver e interpretar o mundo, de aprender, de se comunicar, de se divertir, e especialmente de formar sua personalidade. O uso das diversas mídias, sobretudo, da internet na educação permitiu a incorporação de novos mecanismos no contexto educacional, além de ressignificar as concepções e práticas educativas. Diante desse aspecto temos uma nova roupagem dada ao letramento fruto da cultura digital que nos rodeia, oportunizando mudanças nos padrões da sociedade e nos modos de ensinar e aprender, implicando, por conseguinte na reformulação das práticas pedagógicas. Para Freitas (2003) o confronto dos professores com as experiências do letramento digital de adolescentes, num trabalho formativo de reflexão, pode levar a novas aprendizagens que conduzam a uma transformação de sua prática pedagógica.

O acelerado desenvolvimento atual da tecnologia da informática nos obriga a incluir em nosso interesse um outro tipo de letramento, o letramento digital, uma vez que a tela do computador se tornou um novo portador de textos (e de hipertextos), suscitando novos gêneros, novos comportamentos, sociais referentes às práticas de uso da linguagem oral e escrita, e cobrando de nós novas teorizações e novos modelos de interpretação dos fenômenos da linguagem. (BAGNO 2002, p. 55-56. Grifo do autor).

Portanto, diante dessa nova realidade social surgiu o novo conceito de letramento que no início tratava exclusivamente das práticas sociais da leitura e da escrita convencional, agora inclui entre outros campos da construção do conhecimento a esfera digital/virtual, originando o fenômeno: letramento digital. Os padrões de letramentos mudam porque são centrados na história e desta forma acompanham as alterações de cada contexto tecnológico, político, socioeconômico ou cultural em uma dada sociedade. O letramento digital corresponde aos níveis de propriedade dos gestos e das técnicas de ler e escrever em ambientes que empregam tecnologia digital. Segundo Coscarelli (2005, p. 9) “letramento é o nome que damos, então, à ampliação do leque de possibilidades de contato com a escrita também em ambiente digital (tanto para ler quanto para escrever)”. Entretanto, o letramento digital implica diante da realização de práticas de leitura e escrita diferentes dos formatos convencionais e tradicionais de alfabetização e letramento. Se considerarmos o avanço abundante da tecnologia, veremos que se faz necessário a implementação de recursos tecnológicos e digitais no contexto escolar, a fim de vincular uma mediação pedagógica cada vez mais inovadora, alçando novos voos no processo de ensino e aprendizagem. Agindo desta forma a escola partirá de uma postura analógica-tradicional, passando a assumir uma posição cada vez mais digital, criando possibilidades dialógicas, onde os indivíduos possam se expressar e interagir. As instituições de ensino têm o papel de formar cidadãos críticos, ativos e participativos na sociedade, para que isso ocorra se faz necessário que as escolas, bem como os professores estejam preocupados com os conteúdos direcionados em sala, para que não sejam postos conteúdos insignificantes, desmotivando consequentemente os alunos. É imprescindível que as ambiências escolares estejam abertas para os novos mecanismos educacionais, bem como as novas tecnologias.

As alterações em benefício ao futuro dos

cidadãos críticos e reflexivos requerem mudanças na estrutura escolar como aponta Kenski (2006, p. 224): [...] há necessidade de novas concepções para abordagens dos conteúdos, novas metodologias de ensino e novas perspectivas para a ação de professores, alunos e todos os profissionais da educação. Existe uma grande diversidade de recursos e tecnologias que viabilizam contribuições significativas para a aprendizagem. Estamos imersos em uma sociedade cada vez mais tecnológica e digitalizada, sendo assim não é mais possível desconsiderar e/ou ignorar essas ferramentas, mas integrá-las nos diversos contextos, sobretudo, no âmbito

educacional, criando possibilidades de ação e interação dos indivíduos participantes do processo de ensino e aprendizagem. De acordo com Kenski, (2007, p. 86):

Um programa de TV, a notícia no telejornal, a campanha feita pelo rádio, mensagens trocadas na internet, jogos interativos de todos os tipos são fontes de informações e de exemplos que ajudam a compreensão de conteúdos e a aprendizagem.

Nessa perspectiva, práticas educativas que limitam apenas ao uso do giz e da lousa devem ser repensadas, pois com a era digital a aprendizagem se torna mais dinâmica para o aluno, uma vez que o mesmo, em seu universo social interage com diversas mídias, integrando sons, imagens e vídeos, permitindo-lhes através deste contato um leque de informações e conhecimentos. Segundo Sancho (1998), as novas tecnologias oportunizam novos horizontes ao contexto escolar, sendo assim professores e alunos podem estar mais próximos e o processo de ensino-aprendizagem pode ganhar um dinamismo, inovação e poder de comunicação inusitados, em relação à aprendizagem ocorrerá através da descoberta onde o professor passa a ser um guia do aluno. Marcuschi (2004, p. 17), reflete acerca do novo papel da escola na era da Internet, para ele: “já se pode indagar se a escola deverá amanhã ocupar-se de como se produz um e-mail e outros gêneros do discurso eletrônico ou pode a escola tranquilamente continuar analisando como se escreve cartas pessoais e bilhetes”. Isso porque a utilização das diversas mídias em sala de aula torna mais prazeroso estudar, aprender e participar da aprendizagem promovida pelo professor. As mudanças em salas de aulas têm surgido com mais frequência, novos modos de ensinar e aprender são utilizados no contexto escolar. Portanto, os professores não podem, nem devem ficar alheio dessas novas tecnologias, pois elas rompem os paradigmas estabelecidos pela sociedade e fazem parte da vida dos alunos, que de forma direta ou indireta, refletem nos modos de pensar, agir e interagir, tanto na sociedade, como na escola. Desta forma o profissional da educação deve está cada vez mais antenado, com as diversas mídias e equipamentos tecnológicos que estiverem a sua disposição. Assumindo essa postura Gadotti (2002) relata que, o professor deixará de ser um mero lecionador para ser um mediador do conhecimento, um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador, e, principalmente um organizador de aprendizagem e do conhecimento.

As novas tecnologias possuem uma função mediadora encontrada em quase todos os lugares que está interferindo na escola, onde elas não funcionam como substitutos de professores e nem amenizam a dedicação ao estudo, ao contrário, intensificam a forma de pensar para uma interatividade, originando novas possibilidades de se formar o conhecimento (ASSMANN; MO SONG, 2000). E estão colocando à disposição diversas opções, integrandose às novas propostas de comunicação alternativas para a construção do conhecimento e favorecendo o trabalho em grupo e em colaboração. O aluno com o auxílio dessas novas tecnologias e do professor obtém êxito, o que antes era inalcançável em sala de aula, torna-se possível com o uso da internet e suas ferramentas.

O uso e influência das novas tecnologias devem servir ao docente não só em relação à sua atividade de ensino, mas também na sua atividade de pesquisa continuada. E a pesquisa com as novas tecnologias tem características diferentes que estão diretamente ligadas à procura da constante informação. (SANTANA 2007, p. 9)

Entretanto, se faz necessário, que as (TICs) sejam utilizadas em sala de aula, como recursos metodológicos, haja vista que a aplicação de novas metodologias em sala de aula “quebra” a rotina, a mesmice e principalmente os paradigmas tradicionais postos no ato de ensinar. Essa aplicação por sua vez contribui significativamente, visto que torna o ensino mais motivador, já que os discentes têm a prática diária da utilização dessas tecnologias fora da escola, cabe ao professor contextualizar e sistematizar o ensino pautado diante dessa perspectiva, ressignificando os conceitos educacionais.

3. PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa adotada para execução deste trabalho é de natureza qualitativa de caráter exploratório e descritivo, visto que explora temas específicos sobre a educação, processo de ensino-aprendizagem, letramento digital e as TIC’s (Tecnologias de Informação e Comunicação) por meio de levantamento bibliográfico e coleta de dados. Essa metodologia foi escolhida porque coadunamos com o pensamento de Chizzotti (1991), quando relata que a metodologia qualitativa “parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito”.

3.1 Instrumentos e procedimentos

O presente estudo também baseia-se na perspectiva metodológica de Triviños (1987, p. 137) ao abordar que a coleta e análise dos dados “[...] são tão vitais na pesquisa qualitativa, talvez mais que na investigação tradicional”. Sendo assim, foi utilizado para a efetivação desse estudo além de outros instrumentos: o Caderno de campo para registro das observações; Questionário Sócio Econômico (NSE de Graffar, 1994), a fim de investigar dados sóciodemográficos: idade, sexo, escolaridade e Nível Sócio-Econômico; e a entrevista em profundidade que objetivou revelar motivações, crenças, atitudes e sentimentos a respeito do estudo vigente (MALHOTRA, 2001).

3.2 Sujeitos Participantes

A população envolvida nessa pesquisa é composta por professores, que lecionam a disciplina de Língua Portuguesa para o ensino médio na Escola Estadual Diógenes da Cunha Lima localizada na cidade de São José do Campestre/RN. Todos os participantes contribuíram com a composição do corpus do presente estudo. Mediante postura ética os nomes dos respectivos entrevistados, não são citados, mantendo a identidade real dos sujeitos-participantes em sigilo, a fim de evitar quaisquer futuros constrangimentos, como estamos tratando das tecnologias da informação e comunicação, usaremos os próprios recursos tecnológicos para representar os sujeitos participantes. O quadro a seguir ilustra algumas informações pertinentes sobre os sujeitos participantes desse estudo.

SUJEITO PARTICIPANTE

IDADE

SEXO

FORMAÇÃO

DVD

48 anos

Feminino

COMPUTADOR

31 anos

Feminino

PROJETOR MULTIMÍDIA

46 anos

Feminino

MICRO SYSTEM

29 anos

Feminino

TV

29 anos

Feminino

Graduação em Letras – Habilitação Português Graduação em Letras – Habilitação Português; Especialista em Didática de Ensino Graduação em Letras – Habilitação Português Graduação em Letras – Habilitação Português; Especialista em Didática de Ensino Graduação em Letras – Habilitação Português;

Quadro 1 – Descrição dos sujeitos entrevistados Fonte: Informações coletadas pelo autor

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DO CORPUS

Partindo das observações realizadas tanto no caderno de campo, quanto no questionário, é válido neste momento analisar e refletir acerca das entrevistas realizadas na Escola Estadual Diógenes da Cunha Lima, localizada na cidade de São José do CampestreRN. Conforme percebemos no quadro anterior, os sujeitos dessa pesquisa somam um total de cinco informantes. Diante das indagações selecionamos algumas respostas que qualificam a pesquisa vigente. Considerando os pressupostos teóricos, bem como, as informações relatadas pela população participante da pesquisa entende-se que letramento digital está relacionado, a habilidades interpretativas de leitura e escrita necessárias para que haja comunicação entre as pessoas efetivada por meio de mídias digitais. Nessa perspectiva DVD (2010), assevera que: “Letramento digital é o uso das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de habilidade de leitura e escrita, realizada em mídias digitais”. Considerando a perspectiva de DVD, notamos que Xavier (2005, p. 2), reafirma essa declaração do sujeito-informante:

O Letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não-verbais, como imagens e desenhos, se compararmos às formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela, também digital.

Diante dessa conclusão estabelecida por Xavier e principalmente relacionando com a afirmação de DVD, notamos que o letramento digital, está relacionado ao conjunto de conhecimentos e práticas de leitura e escrita, paralelos a utilização de recursos tecnológicos. Pautado nessa ideologia Computador (2010), descreve que letramento digital é o “conjunto de conhecimentos que permite as pessoas obtê-los a partir de computadores e por outros meios eletrônicos, fazendo dessa forma uma educação diferenciada daquela tradicional [...]”. Somando a concepção de Computador (2010), com o ponto de vista de Ribeiro (2009), verificamos que tais óticas se entrelaçam uma vez que autor discorre que: Letramento digital é a porção do letramento que se constitui das habilidades necessárias e desejáveis desenvolvidas em indivíduos ou grupos em direção à ação e à comunicação eficientes em ambientes digitais, sejam eles

suportados pelo computador ou por outras tecnologias de mesma natureza. (RIBEIRO, 2009, p. 37)

Levando em consideração essas contribuições, percebemos, que o indivíduo é considerado letrado digital, a partir do momento que interage e desenvolve habilidade, mediante a utilização de suportes digitais: seja o computador ou outra tecnologia. Entretanto, de acordo com Ribeiro (2009, p. 37-38), para que os indivíduos tenha um grau de letramento digital:

precisam aprender ações que vão desde gestos e do uso de periféricos da máquina até a leitura dos gêneros de texto publicados em ambientes on-line e expostos pelo monitor. Por exemplo: sites podem conter crônicas, anúncios de emprego, anúncios publicitários, notícias, reportagens, ensaios, resumos de artigos científicos, os próprios artigos etc.

Partindo da abordagem de Micro System (2010) que considera que, Letramento digital é quando o individuo consegue compreender, ou pelo menos tentar compreender os termos existentes no mundo online atualmente. Nessa mesma visão Gilter (1997) expõe que além da prática de utilização dos equipamentos tecnológicos é necessário o real entendimento, desses instrumentos.

O letramento digital é uma habilidade desenvolvida para entender e usar a informação em seus diversos formatos através dos computadores. (....) é necessário desenvolver algumas competências, dentre elas a habilidade para julgar criticamente as informações encontradas no meio on-line, avaliando o conteúdo e a apresentação dessas informações; outra competência seria a de ser capaz de práticas de leitura no hipertexto; além de administrar a montagem do conhecimento através dessa hipertextualidade. (GILSTER 1997, p.1).

Diante de todas as afirmações e teorias mencionadas anteriormente é relevante frisar a reconstrução do conceito de letramento que tínhamos antes, que pautava-se exclusivamente nas habilidades das práticas da leitura e da escrita. Hoje temos outro tipo de letramento que está relacionado à relação dessas práticas sociais com a utilização das tecnologias digitais. Considerando essa percepção TV (2010) relata que: Letramento remete em primeira análise ao domínio da leitura e da escrita dentro das atribuições e relações exigidas a obtenção do conhecimento. O acréscimo do adjetivo “digital” ao substantivo “letramento” supõe o domínio do uso da tecnologia ou dos avanços tecnológicos no âmbito de seus conhecimentos aplicados as suas necessidades. Assim, tendo em vista que o

letramento, em seu sentido maior, se refere ao conhecimento adquirido pelo indivíduo dentro das suas relações sociais ao longo da sua vida, o perfil de aluno exemplificado acima, por demonstrar pleno domínio de uma determinada área de conhecimento: a tecnologia deve ser considerado sim, um letrado digital.

Entretanto, Letramento digital, seria o termo mais adequado para se referir à apropriação desta técnica através das práticas de leitura e escrita através dos diversos gêneros que permeiam os ambientes ou entornos virtuais do meio tecnológico Araújo (2006, p. 143) Embasados nessa ideologia, questionamos a população participante da entrevista quais as contribuições que as mídias digitais oportunizam para os jovens da ERA DIGITAL, diante desse questionamento verificamos que os entrevistados conseguem pontuar diversas contribuições que as mídias favorecem para esses jovens. De acordo com DVD (2010) “os jovens que estão interagidos com as mídias digitais têm a possibilidade de ficar mais atualizados com os acontecimentos que ocorrem no mundo”. Na tentativa de enumerar as contribuições oportunizadas pelas mídias digitais Projetor Multimídia (2010) revela:

Seria impossível enumerar as oportunidades disponibilizadas pela mídia digital. Podemos mencionar a facilidade de acesso a informações, do contato com pessoas, (professores, estudantes...) em tempo real. Em suma, acessar a internet (o mais importante dos recursos digitais) é como entrar em uma imensa biblioteca, cheia de pessoas onde você pode debater assuntos, pesquisar, trocar conhecimentos além de outras possibilidades.

Paralelo as contribuições de Projetor Multimídia (2010) e DVD (2010), verificamos que os estudos de Santaella (2004) afirmam que os usuários da hipermídia utilizam habilidades distintas daquele que lê um texto impresso, as quais são diferentes daquelas empregadas quando recebem imagens, como no cinema ou na televisão. Nessa mesma perspectiva, o tratamento temático feito pelas mídias pode ser reconhecido como uma magnífica porta de entrada para o conhecimento, utilizando a metáfora de Howard Gardner (apud Litwin 2008, p. 17). Diante das diversas contribuições e possibilidades permitidas pela utilização das mídias digitais, notificamos que atualmente as mídias se relacionam uma com as outras, configurando o fenômeno denominado de convergência digital.

Tal convergência e as fusões principalmente entre informática e telecomunicações vão originar uma revolução microeletrônica e o surgimento de mídias digitais, multiplicando e prolongando as mídias tradicionais e criando também novas tecnologias, na maioria das vezes híbridas, como os computadores e celulares (LEMOS, 2002, p.84).

Segundo Coscarelli (2005, p. 18) “convergência digital refere-se: a chegada integrada de dispositivos microprocessados dos consumidores, tais como: telefone, televisão, câmeras fotográficas e computadores pessoais”.

Considerando esse fenômeno, podemos

vincular a ideia de Coscareli, com o pensamento de TV (2010), que garante:

O legado midiático e digital favorece inúmeras possibilidades de relação entre as próprias mídias, construindo uma aprendizagem mais globalizada porque o aluno pode ter contato com diversos meios tecnológicos que se relacionam uns com os outros.

Embasados nas afirmações supracitadas, verificamos que as tecnologias estão cada vez mais integradas, visto que hoje é possível um indivíduo ter acesso a várias mídias de um mesmo conteúdo, por exemplo, é permitido através dessa convergência digital, um sujeito pode ter um livro sobre um determinado conteúdo, um filme do mesmo teor e ainda ter um vídeo baixado na internet. Nessa linha de raciocínio Coscarelli (2005, p. 19) enfatiza que: o aspecto mais importante da convergência digital é que ela possibilita o acesso à informação em qualquer lugar, a qualquer momento. Contudo, sabemos que todo esse dinamismo e facilidade oportunizados pela utilização das diversas mídias ocasionam mudanças significativas no papel da escola e nas ações dos professores. Diante disso é necessário reconstruir e repensar uma escola cada vez mais dinâmica e interativa, pautada na utilização das diversas mídias e tecnologias, considerando as diversas formas de letramento, sobretudo, o digital. A escola necessita dispor de um espaço harmônico, onde haja um clima favorável, interativo e dinâmico, um local onde seja “gostoso” ensinar e aprender. Deste modo, para (DVD, 2010):

A escola tem que procurar se adaptar ao meio em que os estudantes estão inseridos, ou seja, o meio tecnológico. Isso fará com que os alunos tenham interesse de irem à escola para estudar, desta forma não veremos os alunos assistirem uma aula por obrigação, eles passaram a assistir uma aula por prazer.

Para que isso ocorra é necessário um série de mudanças no contexto escolar, a priori é importante repensar o currículo da escola, principalmente no Ensino Médio, bem como, rever o projeto pedagógico, oportunizando a criação de políticas de incentivo e motivação viabilizando novas práticas educativas e pedagógicas, voltadas para contemplar e estimular o

universo jovem, criando possibilidades de interação e socialização, por meio do uso das novas tecnologias.

REFLEXÕES FINAIS - LOGOFF2

Ao término deste trabalho, pautado diante da pesquisa metodológica realizada com os professores do Ensino Médio que lecionam a disciplina de Língua Portuguesa na Escola Estadual Diógenes da Cunha Lima, localizada na cidade de São José do Campestre-RN, e levando em consideração os fundamentos teóricos assumidos nessa pesquisa, conseguimos identificar alguns resultados satisfatórios que pretendíamos no que diz respeito ao fenômeno denominado de letramento digital, bem como a percepção e compreensão que a escola e os professores têm acerca desse novo tipo de letramento que excede os muros da escola. Diante do atual contexto social que a educação está inserida, permeada pela cultura digital, se faz necessário uma mudança nos paradigmas tradicionais que comumente são adotados pelas instituições de ensino, pois deve ser levado em conta que estamos em pleno Século XXI, momento marcado pelas tecnologias da informação e comunicação, sendo assim, as escolas, devem implementar novas concepções pedagógicas a fim de ressignificar a vida dos indivíduos que compõem o espaço escolar. A escola desempenha um papel significativo na vida dos seres que a procuram, sendo assim, ela deve está ancorada e vinculada em práticas pedagógicas que favoreçam uma formação cada vez mais autônoma, viabilizando consequentemente a produção de leitores e escritores de textos e hipertextos, oportunizando desse modo o letramento digital, bem como a inclusão nas atividades socioculturais. Dentro dessa conjuntura, entendemos que os modos de ensinar e aprender, devem ser repensados, isso implica em adaptações e desafios que tanto a escola, quanto os professores devem superar. Diante dessa perspectiva é necessário refletir acerca das novas formas de aprendizagem, objetivando a inserção de instrumentos e ferramentas tecnológicas no âmbito educacional, sobretudo, ao que se refere aos aspectos do letramento digital, visto que as novas linguagens inauguram uma maneira diferente de inserir os indivíduos, principalmente os adolescentes no mundo dos “letrados digital”.

2

Se refere a terminar o uso de um sistema computacional, removendo a senha do usuário. Desconectar, sair da rede ou do domínio de trabalho.

É notório que os adolescentes estão frequentemente utilizando uma grande diversidade de mídias, e essas favorecem um leque de informações e linguagens possibilitando a aquisição de diversos conhecimentos e habilidades. Diante disso os alunos levam consigo essas aprendizagens adquirida fora da escola, para o âmbito escolar, e na maioria dos casos esses conhecimentos não são aproveitados pela “escola” e/ou pelo professor que prefere está preso aos conteúdos e metodologias tradicionais. Contudo, por meio da utilização dos procedimentos metodológicos empregados nesta pesquisa, verificamos que este estudo foi de grande valia, uma vez que nos possibilitou a compreensão in loco, da realidade vivenciada no ensino médio da escola pública estadual, além de favorecer uma reflexão em conjunto com os sujeitos participantes dessa pesquisa sobre a concepção de letramento digital; as contribuições que as mídias oportunizam para os jovens da era digital; a função da escola, mediante o novo perfil dos alunos; os desafios que a escola e o professor de Língua Portuguesa enfrenta, mediante esse novo paradigma educacional pautado na utilização das tecnologias; bem como as superações diante desses desafios. Os resultados obtidos apontam que as mudanças na aprendizagem de língua portuguesa,

mediada

pela

tecnologia

são

complexas. Consideramos, contudo que a

reconhecidamente integração

da

significantes, porém

tecnologia

com

teoria,

pesquisa e prática na aprendizagem de uma língua estrangeira precisa ser expandida. Em suma esperamos que este estudo seja um pequeno passo de outros que irão surgir para aumentar as habilidades de Letramento dos nossos alunos contribuindo assim para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem em nossas escolas públicas.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Peterson Martins Alves. Letramento Digital: um estudo de caso em uma escola municipal de João Pessoa. 2006. 188 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa/PB, 2006. ASSMANN, H e MO SONG, J. Competência e sensibilidade solidária: educar para a esperança. São Paulo: Vozes, 2000. BAGNO, Marcos; STUBBS, Michael; Gagné. Gilles. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2002. BARTON, D & HAMILTON, M. Local Literacies: Reading and writing in one community. London, Routledge,1998.

BUZATO, M.E.K. Letramento e inclusão na era digital. Disponível em: [LetramentoInclusao_IEL.pdf] Acesso em: 05 abr. 2006. COSCARELLI, Carla Viana; RIBEIRO, Ana Elisa. (Orgs.). Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. COSTA, Rogério. A cultura Digital. São Paulo: Publifolha, 2003. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991 FREITAS, Maria Teresa Assunção. Letramento digital e a formação de professores. GT: Educação e comunicação/ n.16. CNPq/ FAPEMIG – UFJF. 2001-2003. GADOTTI, M. A boniteza de um sonho: aprender e ensinar com sentido. Abceducation, Ano III, n. 17, 2002, p. 30 a 33. GALLI, F. C. S. Linguagem da Internet: um meio de comunicação global. In Marcuschi, L. A. & Xavier, A. C. (Orgs.) Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. pp. 120 - 134. GILSTER, Paul. Digital literacy. United States of America: Wiley Computer Publishing, 1997. KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva sociolingüística. São Paulo: Ática, 1986. KENSKI, Vani Moreira Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2006. ____. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas, SP: Papirus, 2007. KLEIMAN, Angela B (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995. ____. Ação e mudança na sala de aula: uma pesquisa sobre letramento e interação. In: ROJO, R. (Org.). Alfabetização e letramento: perspectivas lingüísticas. Campinas: Mercado de Letras, 1998, p. 173-203. LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002. LITWIN, Edith. Cenários para a análise das tecnologias. Porto Alegre: Revista pátio, Ano XI Nº 44 Nov. 2007/jan 2008. MALHOTRA, Naresh. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Trad.Nivaldo Montingelli Jr. E Alfredo Alves de Farias. 3. ed. Porto Alegre: Bookman,2001.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In. MARCUSCHI, L. A. & XAVIER, A. C. (Orgs.). Hipertexto & Gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. MORAN, José Manuel. Como utilizar a Internet na educação. Ago, 1997. Disponível em: Acesso em: 07 Jul. 2006. PARNAIBA, Cristiane dos Santos; GOBBI, Maria Cristina. Os Jovens e as Tecnologias da Informação e da Comunicação: aprendizado na prática Diante das perspectivas. São Paulo: Revista Anagrama-Revista Científica Interdisciplinar da Graduação - Ano 3 - Edição 4 – Junho-Agosto de 2010. RIBEIRO, Ana Elisa; SOBRINHO, Jerônimo Coura. O Aluno Novato do Ensino Médio/Técnico do CEFET-MG e os Usos do Computador: Um Novo Perfil do Jovem Estudante. Informática Pública ano 11 (1) 31 – 53-, 2009 SANCHO, J. Para uma tecnologia educativa. Porto Alegre, ArtMed, 1998. SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004. SANTANA, Marilda Guirardelli. O uso da internet no processo de ensino-aprendizagem de inglês: perspectivas de professores e alunos. Estado do Paraná. Professora PDE – 2007/2008.Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/3814.pdf. Acesso em junho de 2010. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. ____. O que é letramento e alfabetização. Disponível em: . Acesso em junho de 2010. ____. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Disponível em: . Acesso em junho de 2010. TAPSCOTT, Dan. Geração Digital: A Crescente e Irreversível Ascensão da Geração Net. São Paulo: Makron Books, 1999. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Intrdação à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987 XAVIER, A. C. Letramento digital e ensino. In: SANTOS, C. F.; MENDONÇA, M. (Org.). Alfabetização e Letramento: conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. p. 133‐141.

Suggest Documents