Karine Cristiane Rech

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA Desenvolvimen...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA

Desenvolvimento da criação de larvas de Chironomus sp. (Diptera) e Branchiura sowerbyi (Annelida) para alimentação de peixes de água doce

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Aquicultura Orientador: Alex Pires de Oliveira Nuñer

Karine Cristiane Rech

Florianópolis 2011

Catalogação na fonte elaborada pela Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina

Rech, Karine Cristiane Desenvolvimento da criação de larvas de Chironomus sp. (Diptera) e Branchiura sowerbyi (Annelida) para alimentação de peixes de água doce [Dissertação] : Karine Cristiane Rech; orientador, Alex Pires de Oliveira Nuñer. - Florianópolis, SC, 2011. 75 p.: il., grafs., tabs. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias, Programa de Pós Graduação em Aquicultura. Inclui referências 1. Temperatura. 2. Sedimento. 3. Alimentação. 4. Cultivo. I. Nuñer, Alex Pires de Oliveira. II.Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós Graduação em Aquicultura. III. Título.

Desenvolvimento da criação de larvas de Chironomus sp (Diptera) e Branchiura sowerbyi (Annelida) para alimentação de peixes de água doce. Por KARINE CRISTIANE RECH Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM AQUICULTURA e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura.

_____________________________________ Prof. Evoy Zaniboni Filho, Dr. Coordenador do Curso

Banca Examinadora: __________________________________________ Dr. Alex Pires de Oliveira Nuñer – Orientador __________________________________________ Dr. Luiz Carlos de Pinho __________________________________________ Dr. Roberto da Gama Alves

Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, presença inabalável em minha vida, por me dar forças e iluminar meu caminho, e por estar sempre ao meu lado para que eu supere cada etapa da minha vida. A minha família, em especial aos meus pais, por me ensinar a dar os primeiros passos, ser meu alicerce durante todos esses anos e me instruírem a construir meus próprios valores. Ao Sidney (pai) pelas noites gastas nas construções das muitas caixas de telas utilizadas nos experimentos. Ao Luiz Henrique, pelo amor, compreensão e paciência. E também pelo auxílio prestado durante a execução do presente trabalho, com as coletas de sedimento, fornecimento do alimento utilizado pelos organismos e pela ajuda no laboratório nos feriados e fins de semana. Ao professor Dr. Alex Pires de Oliveira Nuñer por ter aceitado orientar minha dissertação, por sua paciência infinita, auxílio e pela confiança em mim depositada. A amiga Dra. Renata Maria Guereschi, por me auxiliar durante toda a minha vida acadêmica, pela parceria no presente trabalho e nos demais assuntos bentônicos. As amizades que fiz durante todos esses anos no Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (LAPAD/UFSC), impossível citar o nome de todos os lapadianos que participaram da minha formação e que terão sempre um lugar muito especial no meu coração. A família “bentônica” (Katia, Sarah e Felipe) pela amizade e enorme colaboração com o desenvolvimento da parte experimental e pelas infinitas risadas. A equipe e “frequentadores” da microscopia (Katia, Michy, Márcia, Robs, Bruna, Jô, Jaque, Val, Carol, Jade, Dani, Jhon e muitos outros que se comprimem dentro da salinha mais divertida do LAPAD) pelo auxílio prestado, pela amizade, vídeos engraçados e infinitas gargalhadas.

Ao Dr. David Reynalte Tataje pelas risadas e pela ajuda com o programa estatístico. A equipe de campo (Ronaldo, Maurício, César e Pedrão), pelo auxílio prestado durante as coletas nos lugares mais inusitados a procura incessante pelos reprodutores. Ao amigo e colega de trabalho Pedrão, pela amizade interminável, dedicação e pela construção do “cafofo” dos quironomídeos. Ao Ronaldo Lima pela ajuda com os equipamentos do bloco B do LAPAD e pela amizade. A equipe do LabNutri, em especial à Bruna, pelas análises realizadas. A equipe do Laboratório de Invertebrados Bentônicos (L.I.B) da Universidade Federal de Juiz de Fora, em especial ao professor Roberto da Gama Alves e Haroldo Lobo dos Santos Nascimento, pela amizade, recepção, material fornecido e pelo treinamento com Oligochaeta. Aos colegas de turma, funcionários e professores da Pós-Graduação em Aquicultura da UFSC que de muitas formas contribuíram para minha formação. Ao apoio financeiro da FAPESC, CNPq e CAPES. E a todos os que não tiveram seu nome citado (não menos importantes que os demais) que me apoiaram e de alguma forma contribuíram para a execução deste trabalho: muito obrigada!

“Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...” Fernando Pessoa

“Sede firmes, e que as vossas mãos não se enfraqueçam, pois as vossas ações terão a sua recompensa.” II Crônicas 15,7

Resumo O presente trabalho tem por objetivo desenvolver métodos para a criação de larvas de Chironomus sp. (Diptera) e Branchiura sowerbyi (Annelida). Para o estabelecimento dos métodos, os organismos foram capturados em ambiente natural e transportados para o laboratório, onde diferentes condições foram testadas para avaliação do seu crescimento. Para Chironomus sp. foram testadas a temperatura, o tipo de sedimento e o tipo e o nível de alimentação, sendo que ao final do experimento foram determinadas a sobrevivência e a biomassa. Para Branchiura sowerbyi a influência da densidade e do tipo de alimentação sobre a ovoposição, eclosão de juvenis e sobrevivência dos reprodutores foram analisadas. Os resultados obtidos nos estudos realizados com Chironomus sp. revelaram que as melhores condições para a emergência e reprodução destes organismos ocorreram em sedimentos arenosos e sob temperatura de 25ºC. As larvas apresentaram melhor crescimento e sobrevivência quando alimentadas com ração para peixes ornamentais ou ração para frangos, independentemente do nível de alimentação utilizado. Os estudos com Branchiura sowerbyi mostraram melhor reprodução da espécie em condição de maior densidade e alimentação com ração comercial para frangos, para a qual foi registrada maior ovoposição e produção de jovens. Os resultados deste estudo podem ser usados para o futuro desenvolvimento de métodos de produção em massa dessas espécies para sua utilização como alimento vivo para peixes de água doce. Palavras-chave: temperatura, sedimento, alimentação, cultivo

Abstract The present work aimed to develop methods for the cultivation of Chironomus sp. (Diptera) and Branchiura sowerbyi (Annelida). For the establishment of methods, the organisms were captured from the wild and transported to the laboratory, where different conditions were tested to assess their growth. For Chironomus sp. the temperature, the sediment type and the quantity of feeding were tested and at the end of the experiment the survival and biomass produced were determined. The influence of density and the type of feeding were analyzed on the oviposition, hatching and survival of Branchiura sowerbyi breeders. The results showed that the best conditions for the emergence and reproduction of Chironomus sp. occurred in fine sandy sediments at the temperature of 25°C. Larvae showed better growth and survival when fed diet for ornamental fish or chicken feed, regardless of the level of feed used. The studies with Branchiura sowerbyi showed that better reproduction conditions were obtained using higher density and feeding the species with poultry commercial rations, for which higher oviposition and juvenile production was recorded. The results of this study can be used for the future development of mass production methods for the use of these species as live food to feed freshwater fish. Keywords: temperature, sediment, food, culture

Lista de Ilustrações Capítulo I Figura 1. Estrutura utilizada para a emergência de adultos de Chironomus sp. com tela de proteção para evitar o seu escape e a entrada de outras espécies. .................................................................... 26 Figura 2. Unidades experimentais utilizadas na criação de Chironomus sp. ..................................................................................... 27 Figura 3. Aspecto geral da disposição dos ovos na massa ovígera e detalhes da massa e dos ovos de Chironomus sp em desenvolvimento. .................................................................................. 28 Figura 4. Béqueres colocados em banho-maria contendo as massas de ovos sob as mesmas condições das caixas das quais foram coletadas................................................................................................ 29 Figura 5. Detalhes das medições do comprimento e da largura ventral da cápsula cefálica de Chironomus sp. (aumento 10x), respectivamente..................................................................................... 31 Figura 6. Relação entre o número de massas, o número total de ovos, a eclosão, o número de larvas eclodidas e o número ovos/massa com a temperatura durante o período de criação de larvas de Chironomus sp.. ......................................................................................................... 34 Figura 7. Número de oviposições de fêmeas de Chironomus sp. em diferentes temperaturas durante o período experimental....................... 35 Figura 8. Duração do ciclo de vida de Chironomus sp. criados nas temperaturas 22, 25 e 28oC e com os sedimentos areia fina (Ar) e areia siltosa (ArS) ou sem sedimento (SS). As barras em cor cinza indicam o período de larvas de primeiro instar ao estágio de pupa e as barras de cor preta indicam o período de emergência de adultos. A duração do estágio ovo não foi incluída. ............................................... 36 Figura 9. Fêmea adulta realizando a postura de massas de ovos no fio do aquecedor e visão geral das massas nas bordas das caixas............... 37 Figura 10. Número final de Chironomus sp. criados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). As barras verticais indicam o intervalo ao nível de confiança de 0,95. ...... 39 Figura 11. Peso final individual (mg) dos Chironomus sp. criados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). As barras verticais indicam o intervalo ao nível de confiança de 0,95................................................................................... 40

Figura 12. Relação entre a sobrevivência e a quantidade de diferentes alimentos oferecida na criação de Chironomus sp.. (RF: Y = 45,2 36,2X; P = 0,03; R2 = 0,50)................................................................. 41 Figura 13. Relação entre o peso médio individual e a quantidade de diferentes alimentos oferecida na criação de Chironomus sp. (RF: Y = 1,1 + 11,3X; P = 0,01; R2 = 0,66). ................................................... 41 Figura 14. Comprimento total das larvas (mm) amostradas no quinto e no décimo dia de experimento, alimentadas com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP)......................... 42 Figura 15. Exemplares de Chironomidae alimentados com ração para peixes (1), ração para frangos (2) ou esterco de peru (3)...................... 44 Capítulo 2 Figura 1. Pesagem dos exemplares de Branchiura sowerbyi em balança de precisão. .............................................................................. 56 Figura 2. Casulo com ovos de Branchiura sowerbyi produzido durante o experimento........................................................................... 59 Figura 3. Número total de casulos e número médio de ovos/casulo produzidos nas densidades 5 (D5) e 8 (D8) com o uso de ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP) As barras verticais indicam o intervalo da média ao nível de confiança de 0,95................................................................................................... 60 Figura 4. Número total de ovos produzidos nos tratamentos com adultos alimentados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). As barras verticais indicam o intervalo da média ao nível de confiança de 0,95. ............................................... 60 Figura 5. Número total de jovens recém eclodidos obtidos a partir de adultos alimentados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). As barras verticais indicam o intervalo da média ao nível de confiança de 0,95. ............................................... 62 Figura 6. Ganho de peso total (mg) dos adultos alimentados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). As barras verticais indicam o intervalo ao nível de confiança de 0,95. ...................................................................................................... 62

Sumário Introdução ............................................................................................. 15 Justificativa ........................................................................................... 21 Objetivos Gerais.................................................................................... 22 Objetivos específicos............................................................................. 22 Capítulo 1. Desenvolvimento da criação de larvas de Chironomus sp. (Chironomidae: Diptera) para alimentação de peixes de água doce..... 23 Abstract............................................................................................. 23 Introdução......................................................................................... 24 Materiais e Métodos ......................................................................... 25 Produção de massas de ovos........................................................ 25 Experimento 1: Produção de ovos e larvas.................................. 26 Experimento 2. Crescimento e sobrevivência das larvas............. 29 Variáveis da qualidade de água................................................... 30 Análise estatística......................................................................... 31 Resultados e Discussão..................................................................... 31 Experimento 1: Produção de ovos e larvas.................................. 31 Experimento 2: Crescimento e sobrevivência das larvas............. 37 Agradecimentos ................................................................................ 44 Resumo ............................................................................................. 44 Capítulo 2. Densidade e alimentação de adultos de Branchiura sowerbyi (Oligochaeta: Tubificidae): influência na postura de ovos, eclosão e sobrevivência de jovens......................................................... 51 Resumo ............................................................................................. 51 Abstract............................................................................................. 52 Introdução......................................................................................... 53 Materiais e Métodos ......................................................................... 55 Análise estatística......................................................................... 57 Resultados e Discussão..................................................................... 57 Conclusões........................................................................................ 63 Referências Bibliográficas................................................................ 63 Conclusões Gerais................................................................................. 67 Considerações finais.............................................................................. 69 Referências Bibliográficas da Introdução ............................................. 71

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Introdução A produção de peixes de água doce do estado de Santa Catarina apresenta destaque no cenário nacional. No entanto, os grupos de peixes mais cultivados no estado, as tilápias e as carpas (IBAMA, 2007), apresentam baixo valor comercial, se comparado ao valor das espécies nativas nobres capturadas na natureza e comercializadas nos mercados locais. Nesse sentido, a utilização de espécies nativas para a piscicultura torna-se uma alternativa importante, visto que, entre as vantagens de sua criação, podem ser citadas a adaptação à variação climática do estado, o elevado valor comercial conferido pela excelente qualidade e sabor da carne e pelo porte que podem atingir, a presença na pesca regional e a ampla aceitação pelo mercado consumidor. De acordo com Poli et al. (2000), a utilização de novas espécies é uma das demandas da piscicultura de água doce da região Sul. O Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (LAPAD), do Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, com base nos estudos de monitoramento da ictiofauna de peixes que desenvolve na bacia do Rio Uruguai, na literatura existente, e na observação local, está concentrando esforços para o desenvolvimento de tecnologia de cultivo de algumas espécies de peixes nativos, como dourado (Salminus brasiliensis), bocudo (Steindachneridion scripta), jundiá (Rhamdia quelen), que apresentam potencial para cultivo, mantendo um plantel de reprodutores de algumas dessas espécies em cativeiro. A participação de espécies nativas de peixes na piscicultura nacional é pequena devido aos resultados de produção poucos expressivos, às práticas de produção adotadas e à falta de informações e pesquisas sobre as espécies nativas com potencial zootécnico (KUBITZA; CYRINO, 1997). Atualmente, um dos principais entraves a ser manejado é a ocorrência de altos índices de canibalismo durante a criação das larvas de algumas destas espécies, como o dourado (Salminus brasiliensis) e a piracanjuba (Brycon orbignyanus). Sem a redução do canibalismo, a produção comercial dos alevinos dessas espécies não será expressiva, sendo sobrepujada pela utilização de espécies de menor valor comercial. Em peixes, o canibalismo está normalmente associado ao tamanho heterogêneo dos indivíduos, à limitada disponibilidade de alimentos, à elevada densidade da população e à ausência de número

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suficiente de áreas de refúgios e condições de luz (HECHT; PIENAAR, 1993). Por serem passíveis de manipulação, estas variáveis podem ser controladas para a obtenção de melhores resultados na sobrevivência e qualidade das larvas produzidas. O sucesso da aquicultura como bioindústria decorre do avanço da larvicultura das espécies atualmente cultivadas (WATANABE; KIRON, 1994). Segundo estes autores, o início da alimentação das larvas é um aspecto crítico sempre que uma nova espécie está sendo avaliada. Desse modo, o conhecimento da nutrição adequada é uma peça chave para o sucesso da larvicultura dessas espécies. Apesar de existirem inúmeros tipos de ração ou misturas secas, a utilização do alimento natural parece ser fundamental para o desenvolvimento dos peixes nas primeiras fases de vida. (SOARES et al., 2000). O sucesso da larvicultura de peixes é dependente da disponibilidade de alimento vivo adequado para a produção das larvas de e alevinos de peixes (LIM et al., 2003). Para que uma espécie possa ser considerada apropriada como alimento vivo cultivado é necessário que ela apresente movimentação, tamanho adequado, alta disponibilidade, atenda os requisitos nutricionais mínimos, estímulo visual e químico, alta digestibilidade e aceitabilidade por parte das espécies que a utilizarão como alimento (CIVERA et al., 2004). Além disso, é importante que seu custo de produção seja baixo. A utilização de alimentos vivos poderá reduzir a incidência de canibalismo entre as larvas de algumas espécies nativas de peixes, auxiliando no desenvolvimento de manejo adequado durante a fase de larvicultura dessas espécies, e aumentando o número de indivíduos a ser aproveitado no processo subsequente, de produção de alevinos. O alimento natural contribui para o desenvolvimento de larvas de muitas espécies de peixes através dos nutrientes essenciais nele contido. Desta maneira a disponibilidade de alimento vivo de alto valor biológico é de extrema importância para assegurar maiores índices de sobrevivência e de desenvolvimento (FURUYA et al., 1999). Os alimentos naturais que são amplamente utilizados na aquicultura apresentam, na grande maioria, hábito planctônico (MARCUS; MURRAY, 2001), sendo que para eles existem diversos estudos e técnicas de criação já aprimoradas. Outros grupos, como os dos macroinvertebrados bentônicos, são usados como alimento vivo para peixes ornamentais, especialmente as larvas da família Chironomidae, oferecidas como alimento para estágios larvais de peixes carnívoros e em pisciculturas (SHAW; MARK, 1980).

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Os alimentos vivos são tradicionalmente utilizados para alimentação de diferentes espécies de peixes ornamentais (LIM et al., 2003; SALES; JANSSENS, 2003), tendo em vista a alta atratividade relacionada à sua coloração, mobilidade (BOGUT et al., 2007) e à sua riqueza em nutrientes (YUNJUN; YANLING, 2004), que conferem maior coloração para os peixes (HELLWEG, 2008), requisito imprescindível para a atividade. A falta de pesquisas relacionadas à criação de macroinvertebrados bentônicos, como as larvas de inseto e anelídeos, tem sido um entrave para a possível solução dos problemas de alimentação na larvicultura de peixes de água doce e na aquariofilia do Brasil. Os insetos desempenham um papel importante nas cadeias alimentares dos sistemas aquáticos. As larvas de Chironomidae (Diptera) são reconhecidas como um importante item alimentar para muitos peixes (PINDER, 1986), estando entre os invertebrados aquáticos mais consumidos devido a sua elevada abundância em diversos ambientes aquáticos continentais (HAHN et al., 1998; KAKAREKO, 2001; CALLISTO et al., 2002, HIGUTI; TAKEDA, 2002; PACHECO et al., 2008). O elevado teor de proteína bruta presente nas larvas e pupas de insetos as tornam passíveis de utilização como alimento vivo, ou congelado, para bagres e para peixes ornamentais (HABIB et al., 2005). Alguns autores registraram a importância dos diferentes estágios de desenvolvimento de insetos, principalmente das larvas de Chironomidae, como item alimentar constante em estudos de alimentação de diversas espécies de peixes de água doce, em especial para larvas e peixes de hábitos bentônicos de pequeno porte (WAIS et al., 1999; RUSSO et al., 2002). Esse fato também foi comprovado por Luz-Agostinho et al. (2006) em estudos realizados no reservatório de Corumbá no rio Paraná, para o qual se verificou que entre as 64 espécies de peixes analisadas, das quais a grande maioria era de espécies nativas, 55 consumiram insetos aquáticos nos três primeiros anos do represamento, principalmente Chironomidae, sendo que para 27 este foi um dos principais itens alimentares. Já na larvicultura de dourado (Salminus brasiliensis) em viveiros de terra, Ribeiro e Nuñer (2008) registraram a importância dos insetos como item alimentar, especialmente nos estágios mais avançados de desenvolvimento das larvas. Os primeiros relatos de tentativas de criação de larvas de Chironomidae foram realizadas por Sadler em 1935 (DAWSON et al., 2000), quando Chironomus tentans foi cultivado inicialmente como

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alimento para peixes na aquicultura. Atualmente, as criações destes organismos têm sido realizadas quase que exclusivamente para uso em testes de toxicidade em sedimentos (DAWSON op. cit.). No Brasil inexistem, ou não são relatados na literatura, criações de larvas de Chironomidae em larga escala. Essa família é muito utilizada como bioindicador em avaliações de qualidade biológica de ambientes lacustres. Segundo Fonseca e Rocha (2004) não existiam estudos com espécies nativas de Chironomidae, inclusive em avaliações de toxicidade em sedimentos. Atualmente esses estudos existem, porém em pequeno número. As larvas de Chironomidae são excelentes fontes de proteínas, lipídios, vitaminas e minerais (McLARNEY et al., 1974 apud HABIB et al., 1997), sendo que sua utilização na aquicultura poderá aumentar a demanda por estas larvas (HABIB op. cit.). Além de Chironomidae, Oligochaeta (Annelida), outro grupo dominante na fauna bentônica de ambientes dulcícolas vem sendo utilizado na alimentação de peixes (HELLWEG, 2008). O tradicional uso dos “vermes tubifex” como alimento para peixes tropicais em lojas de comércio de animais, impulsiona o uso destes oligoquetas aquáticos de origem desconhecida como alimento vivo na aquicultura. Convém notar que se utiliza livremente a terminologia "tubifex" no comércio de alimentos vivos para se referir não somente à espécie Tubifex tubifex, mas também a outras espécies pertencentes às famílias Tubificidae e Lumbriculidae. Os benefícios da utilização de sua criação no comércio de alimentos vivos para peixes poderão ser de grande valor para a aquicultura (LIETZ, 1987). Lietz (1987) afirma ainda que foram registradas maiores taxas de crescimento de trutas arco-íris e de esturjões quando essas espécies foram alimentadas com “vermes tubifex”, em comparação com alimento inerte. Além disso, foi registrado o sucesso da utilização desses animais na fase crítica da larvicultura de peixes, ou seja, na passagem da fonte alimentar endógena das larvas de peixes para a exógena. Em casos onde este tipo de alimento foi oferecido, as larvas desenvolveram melhor a resposta imune e apresentaram aumento na sobrevivência e no crescimento. O papel do grupo Oligochaeta na dieta de peixes não é muito conhecido em estudos de alimentação de peixes em ambientes naturais, principalmente porque a rápida digestão dos Oligochaeta impede a correta avaliação da importância desses animais na dieta dos peixes. Apenas cerdas ou pequenos fragmentos de seu corpo são encontrados nos conteúdos estomacais (KAKAREKO, 2001). Entretanto, a presença

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deste item (Oligochaeta) em análises de conteúdo estomacal de peixes tem sido registrada nos estudos com espécies nativas (RUSSO et al., 2002; SILVA et al., 2007). Cassemiro et al. (2002) verificaram que Oligochaeta foi um dos itens mais consumidos pelo lambari Astyanax altiparanae no rio Iguaçu (PR) em alguns meses do ano, estando entre os itens mais consumidos por algumas espécies características de locais represados (PACHECO et al., 2008). Segundo Aston e Milner (1981), Aston et al. (1982) e Aston (1984) muitas espécies de Oligochaeta são usadas na alimentação de peixes e na criação de outros animais. Estão disponíveis na internet vários sites de aquariofilia que comercializam Tubifex tubifex devido ao seu alto valor nutricional, no entanto estes exemplares são comumente provenientes de capturas realizadas pelos fornecedores e pelos próprios aquariofilistas, que muitas vezes utilizam os métodos de captura divulgados nos sites de criação e de venda de peixes ornamentais em ambientes com alta poluição, uma vez que nesses ambientes estes indivíduos são abundantes. Este tipo de produto chega ao consumidor sem nenhum tipo de certificação de qualidade, procedência, prazo de validade ou informação nutricional. Além disso, existe uma crescente preocupação com a qualidade do alimento oferecido aos peixes, uma vez que eles podem concentrar metais pesados e outros tipos de poluentes oriundos de seu habitat natural, pois suportam locais enriquecidos com matéria orgânica e com altos índices de poluição. Os Oligochaeta Tubificidae podem ser hospedeiros do parasita myxozoa Myxobolus cerebralis (Beauchamp et al., 2006) que afeta salmonídeos, principalmente trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss) (Hedrick, 1998). Estudos realizados com Branchiura sowerbyi (família Tubificidae, Oligochaeta), indicaram que esta espécie pode se adequar a protocolos de criação, uma vez que ela alguns de seus requisitos ambientais são propícios ao manejo, como temperatura ótima para a produção de casulos e criação de exemplares sexualmente imaturos próxima a 25°C. Esta temperatura foi utilizada com sucesso na produção de casulos por Nascimento e Alves (2008), sendo esta uma condição facilmente controlada em laboratório. Aston (1968; 1984) mostrou ainda que esta espécie apresenta alta taxa de reprodução e que sob condições ideais de temperatura, alimentação e espaço, dobra sua densidade populacional em período inferior a duas semanas, característica ideal para criações, onde o aumento da biomassa é essencial.

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Nas criações de Oligochaeta e Chironomidae a qualidade e a quantidade de alimento parecem ser fatores limitantes (RABURU et al., 2002), portanto o sucesso desses cultivos depende do oferecimento do alimento correto e em quantidades ideais. Shaw e Mark (1980) afirmaram que a utilização de esterco de frango para fertilização dos viveiros pode ser utilizada com sucesso para a criação das larvas destes insetos. O estabelecimento de um método de criação de larvas de inseto (Chironomidae: Diptera) e de anelídeos (Oligochaeta) em condições controladas visa contribuir para a solução dos problemas relacionados com a falta de técnicas para a criação destes organismos e para obtenção de linhagens livres de contaminação, com a finalidade de produzir alimento natural com alta qualidade e procedência conhecida para peixes. Os diferentes alimentos utilizados durante o período experimental foram encaminhados para laboratório especializado para análise de sua composição centesimal. Os artigos apresentados nos capítulos I e II serão submetidos para publicação nas revistas Anais da Academia Brasileira de Ciências e Hydrobiologia, respectivamente. Salienta-se que as fotos apresentadas nos capítulos serão utilizadas somente na dissertação e deverão ser retiradas dos artigos antes de sua submissão.

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Justificativa O presente estudo foi delineado devido à carência de informações sobre técnicas específicas para o cultivo de larvas de inseto e anelídeos aquáticos. Esses animais podem ser utilizados como alimento vivo e se constituir em uma alternativa para a solução de problemas de canibalismo existentes na larvicultura de diferentes espécies nativas de peixes de água doce, condição que representa importante entrave ao desenvolvimento de tecnologia para o cultivo dessas espécies e, também para suprir a demanda por alimento vivo de qualidade para peixes ornamentais. A disponibilização de alimento vivo de alto valor biológico, sem risco de enfermidades e com ausência de metais pesados ou outros tipos de poluição também é condição importante, uma vez que, atualmente, adquirir este tipo de alimento tem representado um risco aos piscicultores e aquariofilistas, que obtêm este tipo de alimento de fornecedores não confiáveis e sem qualquer procedência. O presente estudo visa contribuir para a produção de alimento vivo de que poderá ser utilizado na larvicultura de espécies nativas de peixes de água doce, esperando que a produção desse alimento contribua para o crescimento dessa atividade no Brasil.

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Objetivos Gerais O presente estudo teve como objetivo desenvolver métodos para a criação de larvas de uma espécie da família Chironomidae (Diptera) e de uma espécie de anelídeo da subclasse Oligochaeta, visando sua utilização como alimento vivo para peixes de água doce. Objetivos específicos • • •

Acompanhar as diferentes fases do ciclo de vida de Chironomus sp. (Chironomidae) e de Branchiura sowerbyi (Oligochaeta) em laboratório; Avaliar a influência de algumas variáveis ambientais sobre o desenvolvimento de Chironomus sp. (Chironomidae) e de Branchiura sowerbyi (Oligochaeta) em laboratório; Avaliar a composição corporal das espécies estudadas após a utilização de diferentes tipos de alimentação.

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Capítulo 1. Desenvolvimento da criação de larvas de Chironomus sp. (Chironomidae: Diptera) para alimentação de peixes de água doce Karine Cristiane Rech; Renata Maria Guereschi; Katia Heller Torres; Alex Pires Oliveira Nuñer Abstract This study aimed to evaluate the effect of temperature and type of sediment on production of Chironomus sp. (Diptera: Chironomidae). Egg production was measured at 22, 25 and 28oC associated with fine sand and silty sand as sediment. Experimental units without sediment have been used as a control. The production of egg mass was higher using either fine sand or silty sand sediments at 25oC. However, as the number of eggs/mass was higher in units without sediment, the total number of eggs and hatched larvae was the same in units with or without sediment (P>0.05). The growth and the survival of larvae were evaluated using fish feed, poultry feed or turkey manure as food in the quantities 0.10, 0.20 and 0.30 mg/larvae/food, using fine sand as sediment in at 25oC. The best results for survival and larval growth were recorded for larvae fed on fish meal and poultry feed. Amount of food increasing was related only to weight gain of larvae fed with poultry feed, that was also associated with a reduction in larvae survival. Key words: temperature, sediment, food, culture.

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Introdução A demanda por peixes na fase juvenil tem aumentado devido ao crescimento do número de estações de pisciculturas no estado de Santa Catarina (Silveira e Müller 2010). No entanto, para que a produção de larvas e juvenis se estabeleça em larga escala faz-se necessária a solução de alguns entraves nos cultivos. Na etapa de larvicultura a alimentação das larvas se destaca como um desses entraves (Cestarolli et al. 1997). O oferecimento de alimento vivo similar ao consumido pelas larvas em seu habitat natural pode ser uma boa estratégia para solucionar esse gargalo na produção. Além disso, a oferta de alimento vivo oferece a vantagem da não utilização de atrativos e possibilita o treinamento das larvas (Cavero et al. 2003). Os insetos da família Chironomidae (Diptera), tanto na fase aquática (larval) quanto na fase aérea (adulta), servem de alimento para diferentes grupos de animais (Armitage 1995) e frequentemente compõe grande parte dos recursos alimentares de muitas espécies de peixes, tendo em algumas delas participação predominante (Moreira e Zuanon 2002). Normalmente esta família de insetos é utilizada na avaliação dos efeitos agudos e subletais da toxicidade de sedimentos e de águas contaminadas (Choi et al. 2000, 2002; Lee e Choi 2006; Lee et al. 2006), havendo uma carência de estudos voltados para o cultivo massivo com a finalidade de alimentar peixes, ainda que as larvas de Chironomidae venham sendo utilizadas como alimento vivo para peixes ornamentais e em cultivos de larvas de peixes carnívoros (Shaw e Mark 1980). Os Chironomidae apresentam quatro estágios bem definidos em seu ciclo de vida: ovo, larva, pupa e adulto. Os ovos são depositados, em número variável de acordo com a espécie, dentro de massas gelatinosas (Pinder 1995). A fase larval apresenta quatro ínstares, e durante o primeiro a larva planctônica procura um substrato adequado para sua fixação. Posteriormente as larvas constroem casulos com partículas de substrato, que são aderidas com uma substância secretada pelas glândulas salivares das larvas (Walshe 1951 apud Oliver 1971), semelhante ao fio de seda. Faria et al. (2006) reportaram que as larvas do mosquito Chironomus sp. são um alimento muito usado por aquariofilistas, sendo um ótimo alimento para a fase de crescimento de peixes ornamentais

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Betta splendens. Os autores citam ainda que os aquariofilistas adquirem os Chironomus sp. liofilizados ou congelados, devido à dificuldade de criação. O gênero Chironomus, da ordem Diptera, família Chironomidae (tribo Chironomini) apresenta algumas características que favorecem os cultivos em larga escala, como tolerância a grandes variações de temperatura e resistência a baixas concentrações de oxigênio dissolvido devido à presença de hemoglobina (Oliver 1971). Essa condição torna as larvas pré-adaptadas a condições ambientais extremas, incluindo hipóxia e/ou poluição (Ha e Choi 2008), bem como propicia a manutenção da atividade. O gênero compreende 19 espécies registradas no Brasil (Mendes e Pinho 2009). Algumas espécies (Chironomus calligraphus, Chironomus xanthus) têm sido utilizadas em bioensaios em laboratório no Brasil (Canteiro 2008; Dornfeld 2006) e no exterior (Chironomus riparius, Chironomus tentans) (Dornfeld 2006). Considerando essas características, o presente estudo teve como objetivo avaliar a influência da temperatura, do sedimento, do tipo e da quantidade de alimento sobre o desenvolvimento de Chironomus sp. em laboratório, com o intuito de produzir conhecimento para subsidiar estudos futuros de produção massiva da espécie. Materiais e Métodos Produção de massas de ovos Os exemplares de Chironomus sp. utilizados nesse estudo foram inicialmente obtidos a partir da oviposição de adultos em água parada contida em baldes distribuídos em ambiente com características urbanas. Para identificação da espécie amostras de massas de ovos, larvas em diferentes instares e adultos foram encaminhadas para um taxonomista especializado nesse grupo, sendo que até o momento a identificação não foi obtida. Após a oviposição uma única massa de ovos foi monitorada até que as larvas recém eclodidas pudessem ser vistas a olho nu, quando então foram transportadas para o laboratório e selecionadas em estereomicroscópio, para garantir a monoespecificidade da criação inicial. Uma pequena alíquota (5%) dessa massa foi retirada para a preparação de lâminas semi-permanentes para posterior identificação em microscópio até gênero, utilizando-se os guias de identificação e

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diagnose de gêneros de Trivinho-Strixino e Strixino (1995) e de Trivinho-Strixino (2011). Como o número de ovos obtidos no ambiente foi pequeno, após a confirmação da identificação do gênero Chironomus procedeu-se à produção de novas massas ovígeras para a instalação dos experimentos. Para tanto, as larvas eclodidas das massas do ambiente foram mantidas em caixas de PVC (45,5 x 28,0 x 7,7cm) com capacidade para 7 L para que novos adultos emergissem e produzissem novas massas ovígeras monoespecíficas. Para garantir essa condição e para evitar o escape dos adultos e a entrada indesejada de outras espécies, as caixas de PVC foram cobertas com uma tela de proteção de 64µm de abertura de malha (Figura 1). Experimento 1: Produção de ovos e larvas Para este experimento algumas das massas de ovos obtidas na etapa anterior foram transferidas para um béquer de 2 L com água declorada e aeração branda e constante para propiciar a sua eclosão. Segundo OECD (2010) a água declorada pode ser utilizada, pois não ocasiona nenhum sinal de estresse aos indivíduos. As larvas recém eclodidas foram quantificadas e distribuídas nas unidades experimentais (Figura 2), que consistiram de caixas retangulares de PVC (16,0 x 30,5 x 12cm) com 2 L de água declorada mantidos em condição de aeração branda e constante e que individualmente foram estocadas com 400 larvas (densidade aproximada de 1 larva/cm²).

Figura 1. Estrutura utilizada para a emergência de adultos de Chironomus sp. com tela de proteção para evitar o seu escape e a entrada de outras espécies.

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Figura 2. Unidades experimentais utilizadas na criação de Chironomus sp.

As larvas foram alimentadas com ração comercial em flocos para peixes com 38% de proteína bruta, oferecida duas vezes por semana na quantidade de 0,12mg/larva/alimentação, a mesma quantidade utilizada por Ristola et al. (1999). Na fase adulta esses animais possuem uma estrutura bucal reduzida e não se alimentam (Oliver 1971), sendo portanto dispensável a sua alimentação. O fotoperíodo foi mantido em 16:8 (luz: escuro), utilizando-se lâmpadas fluorescentes ligadas a um timer. Este fotoperíodo foi utilizado com sucesso por alguns autores em testes de toxicidade e em estudos do ciclo de vida de Chironomidae (Dawson et al. 2000; Vos et al. 2000; Péry et al. 2002; Ha e Choi 2008; OECD 2010). A temperatura e o tipo de substrato foram os fatores testados, considerando-se que eles são limitantes para o desenvolvimento dos insetos aquáticos, e mais especificamente da família Chironomidae. Essas variáveis foram selecionadas a partir de estudos anteriores, que indicaram que sedimentos compostos por partículas mais finas foram mais adequados para cultura de Chironomus riparius (Credland 1973), e que a temperatura foi um fator importante para o ciclo de vida de insetos (Maier et al. 1990). Além disso, Mundie (1956) já afirmava que o enxameamento, o acasalamento e a oviposição são governados pela temperatura.

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Foram testadas as temperaturas 22, 25 e 28°C, cujo controle foi realizado com o auxílio de aquecedores e de termostatos. Os sedimentos testados foram areia fina (0,074-0,21mm) (Ar) e areia siltosa (0,002-0,25mm) (ArS), previamente secos em estufa e colocados em mufla a 550°C por seis horas, para incinerar toda a matéria orgânica e evitar a sua influência nos resultados, segundo observaram Vos et al. (2000). O sedimento foi distribuído nas caixas de modo a cobrir todo fundo por uma camada de 1 cm, exceto naquelas utilizadas como controle, para as quais não foi utilizado sedimento. O experimento foi conduzido segundo o modelo bifatorial completo, aplicado a um delineamento inteiramente ao acaso com três repetições. A emergência dos adultos foi observada indiretamente através da contagem dos adultos mortos, tendo em vista a impossibilidade da contagem dos adultos em vôo. As massas de ovos produzidas por esses adultos foram coletadas diariamente e isoladas em placas de Petri para contagem do número de ovos em estereomicroscópio. Essa coleta foi realizada durante o período matutino, o que garantiu que todas as massas fossem contadas, uma vez que as oviposições ocorrem durante a mudança de intensidade luminosa estendendo-se pelo período escuro (Pinder 1995). Os ovos de Chironomus sp. são depositados de forma helicoidal dentro de uma massa gelatinosa que possui aspecto tubular (Figura 3). Para estimativa do número de ovos por massa foi inicialmente realizada a contagem do número de anéis. Posteriormente foi contado o número de ovos localizados na região mediana e em duas das extremidades da massa. Ao final foi calculada a média de ovos por anel, que foi multiplicada pelo número total de anéis.

Figura 3. Aspecto geral da disposição dos ovos na massa ovígera e detalhes da massa e dos ovos de Chironomus sp em desenvolvimento.

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Após a determinação do número de ovos por massa, procedeu-se à incubação das massas em béqueres de 100 ml contendo água sem cloro, aeração moderada e temperatura controlada e sedimento igual ao da caixa da qual foi coletada para incubação (Figura 4). A taxa de eclosão foi estimada a partir da contagem dos ovos que não eclodiram, relacionando este número com o total de ovos produzido. Experimento 2. Crescimento e sobrevivência das larvas Durante esta fase foram utilizadas as mesmas estruturas do experimento anterior, sendo que os melhores resultados obtidos para o tipo de sedimento e para a temperatura também foram levados em consideração para a montagem desta nova fase experimental. Deste modo foi utilizada uma quantidade de areia fina suficiente para cobrir o fundo das caixas utilizadas, que foi equivalente a 50 ml de areia, tendo sido seguidos os mesmos procedimentos do experimento1. A temperatura foi mantida em 25,0 ± 0,5°C e o fotoperíodo seguiu o protocolo utilizado no experimento 1.

Figura 4. Béqueres colocados em banho-maria contendo as massas de ovos sob as mesmas condições das caixas das quais foram coletadas.

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Cada unidade experimental recebeu 2,0 L de água sem cloro, mantidos com aeração branda e constante, e foi estocada com 400 larvas. O crescimento e a sobrevivência das larvas foram avaliados variando-se os fatores alimento e sua quantidade. Os alimentos testados foram ração comercial para peixes (RP; 38% de proteína bruta), ração comercial para frango (RF; 23,5% de proteína bruta) e adubo orgânico comercial esterco de peru (EP; 16,5% de proteína bruta). O outro fator avaliado foi a quantidade de alimento oferecido para o qual foram utilizados os níveis 0,10, 0,20 e 0,30mg/larva/ alimentação, oferecidos três vezes /semana. Para tornar mais simples o processo de alimentação nos dois primeiro dias o alimento foi levemente diluído em água (1 ml de água/5mg de alimento) e nos demais dias o alimento foi pesado em balança de precisão e oferecido seco para as larvas. No quinto e no décimo dia do experimento foram retiradas amostras das larvas de cada unidade experimental, que foram fixadas em álcool 70% para mensuração posterior. O comprimento total das larvas amostradas foi determinado em estereomicroscópio com ocular micrométrica e em seguida a cápsula cefálica das larvas foi removida para a confecção de lâminas semipermanentes, que foram utilizadas para a medição da cápsula cefálica (CORREIA, 2004). Nessa medição foram obtidos o comprimento e a largura ventral da cápsula cefálica a partir de suas maiores dimensões (Figura 5), com o intuito de acompanhar o desenvolvimento do seu tamanho ao longo do tempo, característica muito importante quando se relaciona o tamanho da boca das larvas de peixes a esse tipo de alimento vivo. Ao final do experimento as larvas resultantes foram pesadas em balança de precisão (0,01mg) para determinação do peso final individual.

Variáveis da qualidade de água A concentração de oxigênio dissolvido, o pH e a temperatura da água foram medidas duas vezes por semana durante o primeiro experimento e três vezes por semana durante o segundo, utilizando-se um oxímetro YSI 550A e um multiparâmetro YSI 63. Ao final do segundo experimento as concentrações de amônia total e de nitrito também foram quantificadas.

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Figura 5. Detalhes das medições do comprimento e da largura ventral da cápsula cefálica de Chironomus sp. (aumento 10x), respectivamente.

Análise estatística Os dados do experimento 1 foram analisados através da ANOVA bifatorial ao nível de significância de 0.05, e quando necessário foi aplicado o teste de Tukey para a comparação de médias (Zar 2009). O teste do qui-quadrado (Zar 2009) foi utilizado para testar a hipótese de que a proporção sexual era de 1:1. Resultados e Discussão A composição centesimal dos alimentos utilizados para a alimentação das larvas de Chironomus sp. no presente estudo estão apresentados na Tabela 1. Experimento 1: Produção de ovos e larvas A concentração de oxigênio dissolvido diferiu estatisticamente nas diferentes temperaturas, diminuindo sua concentração com o aumento da temperatura. O aumento da temperatura da água aumenta a atividade fisiológica e metabólica dos organismos implicando num maior consumo de oxigênio (Arana 2004). Os maiores valores registrados de pH foram encontrados nos tratamentos sem sedimento, não havendo diferença entre os tratamentos que utilizaram areia fina e areia siltosa e entre as diferentes temperaturas.

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Tabela 1. Composição centesimal dos alimentos (MU=matéria úmida; MS= matéria seca) oferecidos para as larvas de Chironomus sp. durante o período experimental. Alimento

Umidade (%) MU

Ração para Peixe (RP) Ração para Frango (RF) Esterco de Peru (EP)

MS

Proteína Bruta Extrato Etéreo (%) (%) MU

MS

MU

MS

Cinzas (%) MU

MS

Fibras (%) MU

MS

7,02 92,98 35,35

38,02

14,46 15,55 11,11 11,94 2,43

2,61

13,57 86,43 20,33

23,52

3,41

3,95

5,54

14,97 85,03 14,07

16,55

1,31

1,54 35,06 41,24 29,92 35,19

6,97

8,07

4,79

Não houve diferença estatística no número de massas produzidas nos tratamentos com areia siltosa e areia fina sendo que neles foram produzidos mais ovos do que no tratamento controle, sem sedimento (Tabela 2). A adequação das larvas de Chironomidae a sedimentos arenosos em condições de laboratório corrobora o estudo de Winnell e Jude (1984) que também registraram essa associação em ambiente natural. As unidades que continham areia fina possibilitaram melhor visualização das massas de ovos, das larvas e das pupas. Nos tratamentos com areia siltosa a visualização das massas de ovos foi mais difícil, não somente devido à menor transparência da água, mas também porque as desovas se desprendiam das paredes e caíam no fundo das caixas, ficando cobertas pelas finas partículas deste sedimento. Além disso, as massas apresentavam a substância gelatinosa que envolve os ovos muito turva, o que dificultava a visualização e a contagem dos ovos, bem como a observação da taxa de eclosão. Apesar do menor número de massas ter sido produzido no tratamento controle, a maior proporção de número de ovos/massa foi registrada nesse tratamento. Nessas unidades o número de fêmeas emergidas foi menor em decorrência do menor número de larvas produzido nessa condição. Essas larvas teriam acesso a uma maior quantidade de alimento, resultando em fêmeas adultas mais nutridas que produziriam maior número de ovos por massa produzida. De acordo com Trivinho-Strixino (1980) fêmeas melhor nutridas são resultado de larvas melhor nutridas e produzem maior número de ovos.

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Tabela 2. Número de massas, número total de ovos, eclosão (%), número de larvas eclodidas, número ovos/massa obtidos para Chironomus sp. criados em diferentes sedimentos. Ar = areia fina; ArS = areia siltosa; SS = sem sedimento. Sed = tipo de sedimento. Sed

Número de massas*

Número Total de ovos*

Eclosão** (%)

Número de Larvas Eclodidas

Número Ovos/Massa

Ar

5,4 ± 1,4a

90,3 ± 24,1

1,4 ± 0,1

8.302,2 ± 4,627,1

283,8 ± 60,1b

ArS

5,8 ± 1,6a

91,3 ± 25,0

1,3 ± 0,1

8.397,7 ± 4,780,8

254,7 ± 38,3b

SS

3,7 ± 0,9b

71,1 ± 18,6

1,4 ± 0,2

4.939,4 ± 2,264,7

383,8 ± 47,4a

* transformados para

X + 0.5 ; **transformados para arcsin p

Não foi observada diferença entre o número total de ovos e o número de larvas eclodidas para as larvas criadas em diferentes sedimentos. Como as fêmeas ovipositam as massas no nível da água (Pinder 1995) a eclosão mostrou-se independente da presença de sedimento, uma vez que foi igual, e elevada, em todos os tratamentos. As larvas só entram em contato com o sedimento quando deixam de ser planctônicas e migram para o fundo em busca de material para a construção de casulos para proteção (Frouz et al. 2009). O aumento da temperatura propiciou aumento no número de massas, no total de ovos produzidos e no total de larvas eclodidas (Figura 6). Porém o número de ovos/massa apresentou tendência inversa, apresentando redução com o aumento da temperatura. Essa condição também foi observada por Trivinho-Strixino (1980), que relatou que a fecundidade decresce com o aumento da temperatura, sendo o inverso também verdadeiro. Em temperaturas mais baixas as larvas demoram mais tempo para se desenvolver, tendo mais tempo para se nutrir. Desta maneira, fêmeas maiores produzem mais óvulos, e consequentemente maior número de ovos por massa. Segundo Trivinho-Strixino (2011), estudos autoecológicos têm evidenciado o papel do alimento e da temperatura na sobrevivência e na reprodução de algumas espécies. A menor quantidade de alimento reduz a sobrevivência e produz fêmeas adultas de menor tamanho e pouco fecundas. A temperatura baixa também reduz a sobrevivência, no entanto, nestas condições são produzidas fêmeas maiores e mais fecundas O equilíbrio entre a quantidade adequada de alimento e as temperaturas ótimas resulta em um potencial reprodutivo mais elevado.

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Estes estudos são importantes para viabilizar o cultivo intensivo de larvas que podem ser usadas como alimento para peixes ou para bioensaios sobre toxicidade. Segundo Maier et al. (1990) uma proporção sexual de fêmeas:machos de 1:2 é considerada ótima para a produção de massas de ovos, porém, no presente estudo essa proporção foi igual a 1:1, não tendo sido influenciada pelos sedimentos ou pela temperatura.

Figura 6. Relação entre o número de massas, o número total de ovos, a eclosão, o número de larvas eclodidas e o número ovos/massa com a temperatura durante o período de criação de larvas de Chironomus sp..

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A oviposição das fêmeas iniciou em menor tempo e com maior intensidade em 28ºC, porém nessa temperatura a redução do número de oviposições também ocorreu em menor tempo (Figura 7). Na temperatura 22ºC o número de oviposições foi muito pequeno nos doze primeiros dias, enquanto em 25oC esse número foi mais elevado. Este fato provavelmente esteve relacionado com o período de emergência dos adultos. Há poucos estudos sobre ciclo de vida de Chironomidae na região Neotropical (Strixino e Strixino 1982, Fonseca e Rocha 2004, Zilli et al. 2008). Assim estudos que acompanham o ciclo de vida podem fornecer informações imprescindíveis sobre a relação das espécies dessa família com o ambiente e seus aspectos populacionais. A emergência dos adultos iniciou mais rapidamente na temperatura de 28ºC, na qual doze dias foram necessários para que a todas as unidades experimentais apresentassem emergência (Figura 8). Nas temperaturas de 25 e 22°C, a emergência simultânea ocorreu nos dias 17 e 22, respectivamente. Após o início da emergência, os adultos continuaram emergindo por um período médio de 20 dias. O estudo foi conduzido até que todas as larvas completassem o seu ciclo de vida, período que teve a duração de 42 dias. Nesse período foram produzidas 719 massas de ovos, para as quais o número de ovos variou de 30 a 888. Essa grande variação no número de ovos dentro das massas poderia ser explicada pela hipótese de que as fêmeas têm a capacidade de ovipositar por mais de uma vez, sendo que na primeira postura um grande número de ovos é produzido e nas oviposições posteriores, em número de uma ou duas, a quantidade de ovos produzidos seria bem menor (Fonseca e Rocha 2004). 40

Número de oviposições

35 30 25 20

22ºC

15

25ºC 28ºC

10 5

11/nov

10/nov

09/nov

08/nov

07/nov

06/nov

05/nov

04/nov

03/nov

02/nov

31/out

01/nov

30/out

29/out

Data

28/out

27/out

26/out

25/out

24/out

23/out

22/out

21/out

20/out

19/out

18/out

17/out

16/out

15/out

14/out

13/out

12/out

0

Figura 7. Número de oviposições de fêmeas de Chironomus sp. em diferentes temperaturas durante o período experimental.

ArS ArS ArS Ar Ar Ar SS SS SS

ArS ArS ArS Ar Ar Ar SS SS SS

25 25 25 25 25 25 25 25 25

28 28 28 28 28 28 28 28 28

1 2 3 1 2 3 1 2 3

1 2 3 1 2 3 1 2 3

rep 1 2 3 1 2 3 1 2 3

1

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42

Figura 8. Duração do ciclo de vida de Chironomus sp. criados nas temperaturas 22, 25 e 28oC e com os sedimentos areia fina (Ar) e areia siltosa (ArS) ou sem sedimento (SS). As barras em cor cinza indicam o período de larvas de primeiro instar ao estágio de pupa e as barras de cor preta indicam o período de emergência de adultos. A duração do estágio ovo não foi incluída.

Sed ArS ArS ArS Ar Ar Ar SS SS SS

T 22 22 22 22 22 22 22 22 22

36 36

37

Durante o processo de oviposição (Figura 9) foi possível observar que as fêmeas adultas pairavam em vôo sobre a superfície da água e curvavam levemente o abdômen para baixo, liberando a massa de ovos. As oviposições normalmente foram realizadas no período de escuro, sendo que as massas de ovos foram depositadas nas estruturas disponíveis, como as paredes dos tanques, os fios dos aquecedores e as mangueiras de aeração.

Experimento 2: Crescimento e sobrevivência das larvas Durante o período experimental a concentração de oxigênio dissolvido e a temperatura não apresentaram variação entre os tratamentos, enquanto o pH apresentou ligeira variação. No entanto foi registrada maior concentração de amônia e de nitrito com o uso da ração para peixes (Tabela 3), associadas ao maior teor de proteína dessa ração. Muitas espécies de Chironomidae são tolerantes a uma ampla faixa de pH (de 6,0-9,0), mas em faixas menores existe uma menor quantidade de espécies tolerantes. Normalmente as espécies mais tolerantes a baixos pH são integrantes da tribo Chironomini (Pinder 1986). Este autor destacou ainda a tolerância dos Chironomini às baixas concentrações de oxigênio dissolvido, variações de salinidade e temperatura. Para todas as variáveis de qualidade de água analisadas não houve interação dos fatores, e desse modo os resultados foram analisados por fator.

Figura 9. Fêmea adulta realizando a postura de massas de ovos no fio do aquecedor e visão geral das massas nas bordas das caixas.

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Tabela 3. Qualidade da água (média±desvio-padrão) durante o período de criação de larvas de Chironomus sp. alimentadas com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). Oxigênio Temperatura Amônia Total Nitrito Alimento dissolvido pH (oC) (mg/l) (mg/l) (mg/l) RP 7,54±0,09ª 25,1±0,22ª 6,62±0,09ª 2,78±0,97ª 0,58±0,50ª RF 7,55±0,21ª 25,1±0,10ª 6,41±0,11b 0,83±0,50b 0,03±0,08b EP 7,67±0,04ª 25,1±0,11ª 6,52±0,12ab 0,50±0,00b 0,08±0,12b

Os melhores resultados para sobrevivência foram encontrados com o uso de ração comercial de peixe e de frango, de 47,3% e 37,9%, respectivamente (P>0,05), enquanto o uso de esterco de peru propiciou a mais baixa sobrevivência (16,9%; P0,05)) propiciaram maior peso individual das larvas

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(Figura 11). Com o uso de esterco de peru (P0,05), respectivamente (Figura 14). Esses resultados foram semelhantes aos obtidos por Fonseca e Rocha (2004), que também utilizaram alimento para frangos e ração em flocos para peixes ornamentais em testes de cultivos laboratoriais para posterior aplicação em teste de toxicidade com sedimento. No entanto, os animais alimentados com esterco de peru apresentaram comprimento significativamente inferior, de 5,6 mm (P0,05). O crescimento e a sobrevivência das larvas foram avaliados variando-se os alimentos ração de peixe, ração de frango e esterco de peru nas quantidades 0,10, 0,20 e 0,30 mg/larva/alimentação, utilizando-se areia fina como sedimento e a temperatura de 25oC. Os melhores resultados para sobrevivência e crescimento larval foram registrados para larvas alimentadas com ração de peixe e ração de frango. O aumento da quantidade de alimento esteve relacionado apenas ao ganho de peso dos exemplares alimentados com ração de frango, tendo sido registrada relação desse aumento com a redução da sobrevivência. Palavras chave: temperatura, sedimento, alimentação, cultivo

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Capítulo 2. Densidade e alimentação de adultos de Branchiura sowerbyi (Oligochaeta: Tubificidae): influência na postura de ovos, eclosão e sobrevivência de jovens Karine Cristiane Rech; Renata Maria Guereschi; Sarah Carvalho Sticca; Alex Pires Oliveira Nuñer

Resumo O presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos das variáveis densidade e alimento sobre a produção de ovos e jovens de Branchiura sowerbyi. A espécie Branchiura sowerbyi se adequa a protocolos de criação, por apresentar fácil manuseio e altas taxas de reprodução. As unidades experimentais utilizadas foram béqueres com capacidade para 250ml, com 100ml de areia fina (0,074-0,21mm) e 150ml de água sem cloro mantida com aeração fraca e constante na temperatura de 25°C. O experimento foi conduzido segundo o modelo bifatorial completo, com seis tratamentos e três repetições, aplicado a um delineamento inteiramente ao acaso. Um dos fatores testados foi a densidade, sendo testados 5 (D5) e 8 (D8) indivíduos por unidade. O outro fator analisado foi o tipo de alimento, tendo sido utilizada ração comercial para peixes (RP), ração comercial para frangos (RF) e esterco de peru (EP). Foram produzidos 1.223 casulos e 2.138 ovos, com taxa média de eclosão de 40%. O maior número de casulos e de ovos produzidos foi encontrado com o uso de ração para frangos, sendo que em D8 foi produzido maior número de casulos e de ovos. De modo geral o uso de EP propiciou os piores resultados de crescimento. Palavras chave: Oligochaeta, Branchiura sowerbyi, produção de casulos

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Abstract This study aimed to evaluate the effects of density and type of food on the production of eggs and young of Branchiura sowerbyi. This species is suitable for use in breeding protocols because presents easy handling and high reproduction rates. The experimental units were beakers with a capacity of 250ml, with 100ml of fine sand (0,074-0,21mm) and 150ml of dechlorinated water, with low and constant aeration at temperature of 25°C. The experiment was carried out using the two-factor model, with six treatments and three replications applied to a completely randomized design. One factor was density, tested for 5 (D5) and 8 (D8) individuals per unit. The other factor was the type of food, whose levels were commercial fish food (FF), commercial feed for poultry (PF) and turkey manure (TM). At the end of the experiment 1,223 eggs and 2,138 cocoons were produced, with an average hatching rate of 40%. The largest number of cocoons and eggs were produced with the use of PF, with D8 producing more eggs and cocoons. In general the use of TM provided the worst results of growth. Keywords: Oligochaeta, Branchiura sowerbyi, production of cocoons

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Introdução Os Oligochaeta aquáticos são importante fonte de alimento para peixes de água doce em ambiente natural (Baturina, 2007), sendo o uso de Branchiura sowerbyi recomendado por Aston & Milner (1981), Aston et al. (1982), Aston (1984) como alimento para peixes. Algumas espécies de Oligochaeta além de serem usadas na alimentação de peixes são também utilizadas na criação de outros animais, como camarões e rãs (Aston et al., 1982; Marian & Pandian, 1984). Os Oligochaeta possuem alto valor nutricional e são consumidos por peixes desde sua fase larval até estágios adultos, e são conhecidos popularmente pelos aquariofilistas como vermes. Segundo Hellweg (2008) esses vermes são reconhecidos pelos peixes como alimento assim que colocados na água. De acordo esse autor os aquariofilistas e criadores observam maior rapidez e melhor crescimento, coloração mais intensa, maior produção de ovos, redução da infertilidade dos ovos, maior produção de larvas e aumento da resistência a doenças quando os peixes cultivados se alimentam desses vermes. Como alguns Oligochaeta podem estar parasitados por outros organismos, como bactérias, seu uso como alimento deve ser evitado. Todavia depois de cultivados em condições saudáveis esses vermes não representarão perigo de introdução de doenças (Hellweg, 2008) em pisciculturas. Os Oligochaeta Tubificidae podem ser hospedeiros do parasita myxozoa (Myxobolus cerebralis) (Beauchamp et al., 2006) que afeta salmonídeos, principalmente trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss). A doença pode causar grave crise econômica em larviculturas dessa espécie (Hedrick, 1998). Bouguenec (1992) observou que os peixes alimentados com Oligochaeta vivos atingiram maturação e maior peso em menor período de tempo do que peixes que receberam alimentos peletizados. Além disso, o autor considera a produção desses organismos uma fonte barata de proteínas. A espécie Branchiura sowerbyi Beddard, 1892 está amplamente distribuída em sedimentos finos, nas margens de rios e lagos, nas regiões tropicais e temperadas (Carrol & Dorris, 1972). Os sedimentos de lagos e rios habitados por essa espécie apresentam elevados níveis de detritos orgânicos (Aston, 1984), uma vez que ela pode sobreviver em substratos lodosos de esgotos (Aston & Milner, 1981).

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A rápida digestão dos Oligochaeta pelos peixes dificulta uma correta avaliação do papel deste grupo na dieta em ambientes naturais. Normalmente apenas cerdas ou pequenos fragmentos de seu corpo são encontrados no conteúdo estomacal dos peixes (Kakareko, 2001), sendo que sua presença na análise de conteúdo estomacal de peixes tem sido registrada nos estudos com espécies nativas (Cassemiro et al., 2002; Russo et al., 2002; Silva et al., 2007; Pacheco et al., 2008). Os vermes Tubificidae são apropriados para cultivos, pois possuem alta fecundidade, são capazes de sobreviver em altas densidades e apresentam tolerância a baixas concentrações de oxigênio dissolvido. Bonacina et al. (1994) cita a possibilidade do uso da água de descarte de usinas hidrelétricas e de pisciculturas na cultura massiva de Oligochaeta para a alimentação de peixes. Branchiura sowerbyi é facilmente identificada por apresentar filamentos branquiais na parte posterior do corpo, sendo que os adultos podem atingir um comprimento de 9-11 cm (Oecd, 2008). Segundo Aston (1968; 1984) esses vermes produzem casulos transparentes, de formato oval e que possuem em seu interior de um a oito ovos de tamanho relativamente grande (2-4 mm). Segundo esse autor a espécie apresenta alta taxa de reprodução, e sob condições ideais de temperatura, alimentação e espaço, aumenta sua densidade populacional em curto espaço de tempo, característica ideal para criações, onde o aumento da biomassa é essencial. Os organismos dessa espécie se adéquam a protocolos de criação, são relativamente grandes e apresentam fácil manuseio (Aston & Milner, 1981). A temperatura ótima para a produção de casulos e criação de exemplares sexualmente imaturos é de 25°C (Bonacina et al., 1994; Aston, 1968). Os Oligochaeta são hermafroditas (Ruppert et al., 2005), possuindo os dutos macho e fêmea conectados por poros genitais externos localizados no mesmo segmento que as gônadas ou no segmento atrás dele (Brinkhurst & Gelder, 2001). Durante a cópula, a transferência de espermatozóides é mutua entre os hermafroditas (Ruppert et al., 2005). Carroll & Dorris (1972) afirmaram que a quantidade de matéria orgânica presente nos sedimentos influencia a atividade reprodutiva de Branchiura sowebyi. Segundo esses autores, locais mais ricos em matéria orgânica possibilitam a reprodução dos indivíduos, mesmo em estações mais frias, o que não acontece em locais com menor disponibilidade de matéria orgânica.

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Os jovens eclodidos dos casulos não apresentam estágios larvais, sendo cópias em miniaturas dos vermes adultos, e estão prontos para ser oferecidos como alimento para as larvas de peixes (Hellweg, 2008) ou passar por um período de engorda para aumento de sua biomassa. De acordo com esse autor, o valor nutricional dos Oligochaeta é diretamente influenciado pelo tipo e pela qualidade do alimento consumido. De acordo com Ruppert et al. (2005) a maioria das Oligochaeta aquáticas se alimenta da matéria orgânica presente nos sedimentos. Sobhana & Nair (1984) sugerem que altas densidades podem prolongar o período de reprodução dos vermes Tubificidae, porém as densidades muito altas, acima de 35.000 vermes/m², ainda que não inviabilizem a reprodução, podem atrasar a maturação. O presente estudo teve como objetivo avaliar a influência da densidade de adultos B. sowerbyi e da alimentação oferecida sobre a produção de jovens, visando a otimização do cultivo deste Tubificidae em busca de futuras técnicas de produção massiva para a alimentação de peixes.

Materiais e Métodos O cultivo de B. sowerbyi foi realizado de acordo com o modelo proposto por Nascimento & Alves (2008). Os indivíduos utilizados no experimento foram coletados na Represa de Bariri, localizada no rio Tietê (22° 09' 15.23" S e 48° 44' 49.96" O) no estado de São Paulo. Para o desenvolvimento desse anelídeo, béqueres com capacidade para 250 ml foram utilizados como unidades experimentais. A elas foram adicionados 100 ml de areia fina (0,074-0,21mm), considerada por Aston & Milner (1981) como o substrato mais adequado para obtenção de maior crescimento, sobrevivência e reprodução, e 150ml de água sem cloro mantida com aeração fraca e constante. A temperatura utilizada foi de 25°C, já que nesta temperatura a espécie apresenta melhores taxas de produção de ovos, eclosão e cultivo (Aston et al., 1982; Bonacina et al., 1994; Marchese & Brinkhust, 1996). O sedimento utilizado foi previamente lavado, seco em estufa e esterilizado em mufla a 550°C durante seis horas para evitar que a matéria orgânica presente no sedimento viesse a influenciar os resultados.

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O experimento utilizou o modelo bifatorial completo, com seis tratamentos e três repetições, aplicado a um delineamento inteiramente ao acaso. Um dos fatores utilizados foi a densidade, testada nos níveis 5 indivíduos/38,5cm² (D5) e 8 indivíduos/38,5cm² (D8) por unidade experimental. Para a estocagem foram selecionados B. sowerbyi maduros e sem deformidades, que foram previamente pesados em balança de precisão (0,01mg) para determinação da biomassa inicial. Para a determinação do peso desses indivíduos, os mesmos foram retirados dos béqueres de reprodutores e colocados sobre peneiras de papel alumínio para a retirada da água durante o procedimento de pesagem (Figura 1). A vascularização dos segmentos reprodutivos aumenta durante a reprodução e, portanto, os vermes maduros apresentam esses segmentos bem avermelhados, o que caracteriza os animais nesse estádio. Já os vermes com ovos são reconhecidos por causa da maturação dos ovos na região do tegumento, que nessa época apresenta coloração branca (Ducrot et al., 2007). O outro fator analisado foi o tipo de alimento: ração comercial para peixes (RP; 38% de proteína bruta), ração comercial para frangos (RF; 23,5% de proteína bruta) ou esterco de peru (EP; 16,5% de proteína bruta). A quantidade de alimento oferecida foi de 0,02g/indivíduo, a mesma utilizada por Nascimento & Alves (2009). Esta foi oferecida duas vezes por semana, após terem sido realizadas as medições da temperatura, do pH e da concentração de oxigênio dissolvido na água com um multiparâmetro YSI-63 e com um oxímetro YSI-550A.

Figura 1. Pesagem dos exemplares de Branchiura sowerbyi em balança de precisão.

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Durante o período de estudo, cada unidade experimental colocada em local com pouca iluminação foi revisada uma vez por semana. Nessa revisão o conteúdo dos béqueres foi vertido em peneira de 250 µm de abertura de malha. Os adultos retidos foram contados, pesados e posteriormente foram devolvidos às suas unidades experimentais, que recebiam de volta o sedimento e água renovada. Os casulos presentes foram contabilizados e seus ovos quantificados em placas de Petri com o auxílio de estereomicroscópio. Esta etapa do estudo foi conduzida por 16 semanas, e ao final do experimento foram determinadas a sobrevivência (contagem total de indivíduos adultos), a variação de peso dos adultos (peso final – peso inicial), o número de casulos e o número de ovos produzidos por unidade experimental. Após esse período os casulos foram transferidos para béqueres de 100 ml, que serviram de incubadoras mantidas com água na temperatura de 25oC. Cada béquer recebeu 40 ml de sedimento (processado de acordo com o método anteriormente descrito) e 40 ml de água sem cloro, sendo que nesta fase não foi utilizada aeração ou alimentação. Os casulos foram enterrados no sedimento dos béqueres de incubação com o auxílio de uma pipeta de Pasteur (3ml). Durante o período experimental (16 semanas) os béqueres foram revisados uma vez por semana para remoção dos jovens que eclodiram e determinação da taxa de eclosão. Os casulos que não haviam eclodido eram devolvidos para a incubação, e os casulos com ovos não desenvolvidos eram descartados.

Análise estatística Os dados obtidos foram analisados através da ANOVA bifatorial ao nível de significância de 0,05, e quando necessário foi aplicado o teste de Tukey para a comparação de médias (Zar, 2009).

Resultados e Discussão A composição centesimal dos alimentos oferecidos para os adultos de Branchiura sowerbyi está apresentada na Tabela 1. A temperatura média da água nos béqueres de reprodução ficou dentro do esperado 25,26±0,05ºC. Os valores mínimos e máximos encontrados para oxigênio dissolvido foram 6,9 e 7,8 mg.l-1

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respectivamente, valores altos se considerarmos que esses tubificídeos possuem alta tolerância a baixos concentrações de oxigênio dissolvido (Aston & Milner, 1981). Os valores obtidos para o pH ficaram entre 7,29 e 7,90. As variáveis de qualidade de água das unidades experimentais dos adultos estão representadas na Tabela 2. A densidade de adultos não mostrou influência sobre a sobrevivência. A menor sobrevivência de adultos foi registrada com o uso de esterco de peru (74,4%), condição que pode estar relacionada ao alto teor de cinzas (41,2%) presente neste alimento. Os demais alimentos não diferiram entre si (98% para RP e 100% para RF). Kies et al. (2005) afirmaram que a digestibilidade das cinzas é baixa, e que a absorção dos minerais que a compõe é um processo ativo que requer gasto de energia. Com o uso de EP também foi registrado autotomia (autoincisão ou corte) na parte posterior do corpo. Segundo Aston & Milner (1982), a autotomia pode ser induzida por fatores de estresse, conduzindo a uma mudança da via respiratória (de branquial para cutânea), com possíveis implicações no crescimento e na reprodução. A utilização de subprodutos animais para a alimentação de outros organismos é limitada devido à presença de alto teor de cinzas (Boscolo et al., 2004). Além disso, de acordo com Seiffert (2000) o uso excessivo de esterco pode acarretar em aumento demasiado dos níveis de fósforo e outros elementos químicos potencialmente tóxicos.

Tabela 1. Composição centesimal dos alimentos (MU=matéria úmida; MS= matéria seca) oferecidos adultos de Branchiura sowerbyi durante o período experimental. RP= ração para peixe. RF= ração para Frango (RF). EP= esterco de peru. Umidade (%)

Proteína Bruta (%)

Extrato Cinzas (%) Etéreo (%)

Fibras (%)

MU

MS

MU

MU

MU

RP

7,0

92,9 35,3 38,0 14,5 15,5 11,1 11,9

2,4

2,6

467,1

RF

13,6 86,4 20,3 23,5

3,4

3,9

6,9

8,1

4,8

5,5

397,5

EP

14,9 85,0 14,1 16,5

1,3

1,5

35,1 41,2

29,9

35,2

266,7

Alimento

MS

MS

MU

MS

Energia* (Kcal/100g)

MS

*Valor energético total (kcal 100g-1) estimado conforme os valores de conversão de Atwater de 4kcal.g-1 de proteínas, 4kcal g-1 de carboidratos (calculado por diferença) e 9kcal g-1 de lipídios, segundo Merril & Watt (1973).

59

Tabela 2. Qualidade da água (média±desvio padrão) durante o período de reprodução de adultos de Branchiura sowerbyi alimentados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). Densidade

5

8

Alimento

Oxigênio dissolvido (mg/l)

Temperatura (oC)

pH

Amônia Total (mg/l)

Nitrito (mg/l)

RP

7,21

±0,11

25,25

±0,01

7,29

±0,01

1,17

±0,76

0,67

±0,29

RF

7,45

±0,12

25,23

±0,05

7,30

±0,02

0,67

±0,29

1,85

±0,90

EP

7,73

±0,03

25,28

±0,07

7,68

±0,06

0,50

±0,00

0,25

±0,00

RP

6,96

±0,06

25,22

±0,02

7,42

±0,03

0,83

±0,29

1,68

±1,15

RF

7,15

±0,14

25,29

±0,02

7,45

±0,03

2,83

±2,02

2,45

±0,61

EP

7,70

±0,01

25,31

±0,01

7,83

±0,07

0,50

±0,00

0,25

±0,00

Durante o experimento foi possível observar os ovos dentro dos casulos (Figura 2), bem como o desenvolvimento dos jovens com seus filamentos branquiais posteriores, uma característica bastante peculiar desta espécie (Bonacina et al., 1994). O número de ovos em cada casulo variou de 1 a 4, mesmo valor encontrado por Nascimento & Alves (2008), tendo sido coletado um total de 1.223 casulos e 2.138 ovos. Foi registrada interação entre os fatores para todas as variáveis analisadas, exceto para a taxa de eclosão. O maior número total de casulos (Figura 3) e total de ovos (Figura 4) foi produzido com o uso de ração para frangos em ambas as densidades, tendo sido produzidos mais casulos na densidade 8 com RF e RP. O menor número de casulos foi produzido com EP, que não propiciou diferença de número casulos entre as densidades testadas.

Figura 2. Casulo com ovos de Branchiura sowerbyi produzido durante o experimento.

60

2,6 Densidade Densidade

N úm ero total casulos

250 200 150 100 50 0

D5 D8

N úm ero m édio de ovos/casulo

300

Densidade Densidade

2,4

D5 D8

2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6

-50

0,4 RP

RF

EP

RP

Alimento

RF

EP

Alimento

Figura 3. Número total de casulos e número médio de ovos/casulo produzidos nas densidades 5 (D5) e 8 (D8) com o uso de ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP) As barras verticais indicam o intervalo da média ao nível de confiança de 0,95.

O alimento RF propiciou maior número médio de ovos/casulo nas densidades testadas. Com os alimentos mais protéicos (RF e RP) esse número não foi alterado nas densidades 5 ou 8, porém um maior número foi obtido com EP na densidade 8. O número médio de ovos/casulo foi de 1,91 com o uso de RF, muito próximo ao 1,94 obtido por Marchese & Brinkhurst (1996). 550 Densidade Densidade

500

D5 D8

450 400 350

total de ovos

300 250 200 150 100 50 0 -50 -100 RP

RF

EP

Alimento

Figura 4. Número total de ovos produzidos nos tratamentos com adultos alimentados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). As barras verticais indicam o intervalo da média ao nível de confiança de 0,95.

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Os valores médios de casulos por adulto por dia foram de 0,07 para ração para peixes, 0,01 para esterco de peru valores inferiores aos obtidos por Marchese & Brinkhurst (1996), Ducrot et al. (2007) e Nascimento & Alves (2008) com 0,17, 0,16 e 0,12 respectivamente. Os tratamentos que utilizaram ração para frangos produziram 0,19 casulos/adulto/dia, valores acima dos citados pelos outros autores. De modo geral, quando se trata do número total de casulos e de ovos produzidos nas unidades experimentais, os tratamentos que apresentaram maior densidade produziram resultados superiores aos que receberam alimentação equivalente, porém em menores densidades (exceto para esterco de peru, onde não houve diferença). Este fato pode estar relacionado com o aumento da possibilidade de fecundação cruzada, quando se tem um maior número de indivíduos. Uma maior densidade apresentou uma boa estratégia para uma maior produção de ovos e consequentemente de jovens em cultivos de Branchiura sowerbyi. Apesar da densidade proposta pela Oecd (2008) ser de aproximadamente 3 vermes/100ml de sedimento, a maior densidade (8 vermes a cada 100ml de sedimento) utilizada no presente estudo apresentou resultados bastante satisfatórios. Os diferentes alimentos e densidades, não influenciaram as taxas de eclosão dos ovos, que foi de 40%. Segundo alguns autores, Casellato (1984), Marchese & Brinkhurst (1996), Ducrot et al. (2007) e Nascimento & Alves (2008), a espécie B. sowerbyi apresenta baixa taxa de eclosão quando cultivada em laboratório, variando entre 31,7% e 50,0%. O maior número de jovens recém eclodidos foi produzido com ração para frangos (RF) e o menor números foi registrado com o uso de esterco de peru (Figura 5), sendo que somente com o uso de ração para frangos foi registrada influência da densidade, cuja produção foi maior na densidade 8. Com relação ao ganho de peso dos reprodutores durante o experimento, foi registrada diferença com o tipo de alimento utilizado, não tendo havido influência da densidade. O alimento que propiciou crescimento em peso durante as 16 semanas nas duas densidades avaliadas foi a ração para frangos (RF), enquanto os animais alimentados com RP ou EP perderam peso (Figura 6). A perda de peso dos B. sowerbyi durante o período experimental pode ser considerada comum, tendo em vista que Aston et al. (1982) observaram que o crescimento e a taxa de reprodução são inversamente relacionados. O crescimento negativo pode ser ocasionado pela utilização das reservas

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energéticas do animal para a produção de ovos (Ducrot et al., 2007) e a regressão das gônadas após a reprodução (Casellato, 1984).

250 Densidade Densidade

D5 D8

total de jovens recém eclodidos

200

150

100

50

0

-50 RP

RF

EP

Alimento

Figura 5. Número total de jovens recém eclodidos obtidos a partir de adultos alimentados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). As barras verticais indicam o intervalo da média ao nível de confiança de 0,95. 0,10 F(2, 12)=34,145, p=,00001

Ganho peso total dos adultos (mg)

0,05

0,00

-0,05

-0,10

-0,15

-0,20 RP

RF

EP

Alimento

Figura 6. Ganho de peso total (mg) dos adultos alimentados com ração para peixes (RP), ração para frangos (RF) ou esterco de peru (EP). As barras verticais indicam o intervalo ao nível de confiança de 0,95.

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O aproveitamento da maior quantidade de proteína da ração de peixe pode ter sido prejudicada pela alta quantidade de energia. Já a RF pode ter ocasionado um maior aproveitamento da quantidade de proteína devido ao baixo teor de lipídeos e consequentemente menor valor energético. Segundo o NRC (1993) uma dieta com excesso de energia levaria a um menor consumo de alimento, e consequentemente uma ingestão menor de proteína e outros nutrientes essenciais para o máximo crescimento animal.

Conclusões O alimento mais adequado para maior produção de jovens de Branchiura sowerbyi foi a ração para frangos, sendo que um maior número de animais foi produzido na densidade 8. A taxa de eclosão dos casulos não sofreu influência do alimento ou da densidade. Não houve influência da densidade de adultos sobre a sobrevivência, sendo que a menor sobrevivência foi registrada com o uso de esterco de peru, que de modo geral propiciou os piores resultados. Agradecimentos Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Processo 555395/2009-0) e a CAPES, pelas bolsas de estudos concedidas ao primeiro autor, à FAPESC pelo apoio financeiro ao projeto e ao LabNutri/UFSC pelas análises da composição centesimal dos alimentos.

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Conclusões Gerais Durante o experimento com Chironomus sp. os tratamentos sem adição de sedimento produziram menor número de massas e larvas eclodidas, porém as massas de ovos produzidas neste tratamento apresentaram um maior número de ovos/massa, sendo que a utilização de areia fina como sedimento facilitou o manejo das massas de ovos nas caixas. A eclosão dos ovos foi elevada em todos os tratamentos mostrando-se independente da presença de sedimento nessa etapa. O aumento da temperatura propiciou um aumento do número de massas, do total de ovos produzidos e consequentemente do total de larvas eclodidas. As rações com maior teor de proteína (ração para peixes e ração para frangos) atuaram de forma positiva sobre a sobrevivência das larvas e favoreceram o crescimento e peso final das larvas. Durante o estudo realizado com Branchiura sowerbyi, pode-se observar que o alimento mais adequado para maior produção de jovens foi a ração para frangos, sendo que um maior número de animais foi produzido na densidade 8. Não houve influência da densidade de adultos sobre a sobrevivência, sendo que a menor sobrevivência de adultos foi observada com o uso de esterco de peru, que de modo geral propiciou os piores resultados de crescimento.

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Considerações finais Os resultados obtidos com as espécies Chironomus sp. e Branchiura sowerbyi contribuíra para o aumento dos conhecimentos sobre as condições necessárias para o cultivo dessas espécies em laboratório. Para a evolução do cultivo dessas espécies com o intuito de produção massiva torna-se necessário a realização de estudos em tanques de engorda com maiores dimensões. Estes estudos deverão também levar em consideração não somente a composição centesimal dos organismos avaliados neste estudo, mas também as exigências nutricionais requeridas pelas espécies de peixes que serão alimentadas. Para Chironomus sp. novos testes com menores densidades larvais seriam bastante interessantes. Além disso, estudos de aquicultura utilizando essas larvas como alimento vivo para as larvas de peixe de água doce em comparação com alimento inerte são necessários. Ressalta-se que amostras de larvas de Chironomus sp. foram encaminhadas para um taxonomista especializado nesse grupo, porém até o momento a identificação não foi obtida. As amostras de Chironomus sp. e Branchiura sowerbyi encaminhadas para laboratório específico para análise da composição centesimal não apresentaram quantidade de material suficiente para a produção de resultados analíticos consistentes, razão pela qual um dos objetivos específicos deste trabalho não foi atingido. Para cultivos de Branchiura sowerbyi, seria importante iniciar novos testes de crescimento, engorda e reprodução a partir das larvas obtidas em laboratório para se ter certeza que todos os vermes apresentem a mesma faixa etária. A partir dos resultados obtidos com essa espécie, seria possível adotar novas estratégias de cultivo, como maiores densidades e o uso da ração para frangos como alimento, tendo em vista os melhores resultados obtidos e o menor custo de produção com esta fonte de alimento.

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