JUN 2016 N o 2 ANO XL

ABR / MAI / JUN 2016 • No 2 • ANO XL Editorial Dor física ou sentida na alma... T ratamos muito além do que enxergamos. Diariamente nos deparamos...
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ABR / MAI / JUN 2016 • No 2 • ANO XL

Editorial

Dor física ou sentida na alma...

T

ratamos muito além do que enxergamos. Diariamente nos deparamos com a queixa de dor. Dor que pode ser física ou sentida na alma, descrita em palavras, retratada em fotografias e pinturas ou mesmo declamada em poesias e músicas. Muitas vezes de difícil aferição, escondida nas entranhas, com cicatrizes invisíveis e indeléveis, incapazes de julgamento e, não raramente, de difícil tratamento. Quem nunca teve o sintoma de dor também com certeza padece de alguma doença. Como diria Arnaldo Antunes na música “De mais ninguém”: “Se eu não tenho o meu amor. Eu tenho minha dor (...)”. A Sociedade Brasileira para Estudo da Dor define dor como experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos, sendo que cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas experiências vividas anteriormente. A reumatologia, como especialidade ímpar com possibilidade de atuação multidisciplinar, tem papel fundamental no tratamento de pacientes com dor aguda ou crônica. Além de grande área de atuação e campo aberto de mercado de trabalho, possibilita ao profissional da área da saúde vivência singular ao defrontar-se diariamente com o alívio do sofrimento daqueles que nos procuram. Dr. Roberto Heymann, reumatologista com experiência na área de atuação de dor, escreve texto sobre o assunto.

Além disso, quem nunca precisou de uma ajuda do destino para realizar escolhas na vida profissional? Dr. Latorre, reumatologista experiente e ex-presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia, com área de atuação tanto na vida pública como privada, conta-nos sobre a experiência de trabalhar no sistema público de saúde. Afinal, para que tanta pressa em tomar essa decisão? O que vale a pena experimentar? Na seção Rheuma & Ethos, dr. José Marques escreve sobre “Qual o tempo mínimo para uma consulta médica?” Há uma definição clara para o tema? Devemos cronometrar nossa ação e relação com o paciente? Não deixem de ler este texto imperdível. Muitas notícias ainda da Sociedade Brasileira de Reumatologia e através das regionais. Enfoque especial ainda para a reumatologia pediátrica, com três reumatologistas pediatras contando-nos o porquê desta escolha e o dr. Clóvis Artur, chefe da Reumatologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, literalmente sempre correndo atrás de melhores resultados. Aproveitem! Edgard Reis

SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA Diretoria Executiva da SBR – Biênio 2014-2016 Presidente César Emile Baaklini – SP

Tesoureiro José Roberto Provenza – SP

Secretário-geral José Eduardo Martinez –SP

Vice-Tesoureiro Luiz Carlos Latorre – SP

1º Secretário Silvio Figueira Antonio – SP

Diretor científico Paulo Louzada Jr. –SP

Representante junto à Panlar Adil Muhib Samara – SP Antonio Carlos Ximenes – GO Fernando Neubarth – RS Maria Amazile Ferreira Toscano – SC Representante junto ao Ministério da Saúde Ana Patrícia de Paula – DF Mário Soares Ferreira – DF

2º Secretário Washington Alves Bianchi – RJ

Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia Av. Brig. Luís Antônio, 2.466, conjuntos 93 e 94 01402-000 – São Paulo - SP – Tel.: (11) 3289-7165 / 3266-3986 www.reumatologia.com.br

@ [email protected] @ [email protected]

Coordenação editorial Edgard Torres dos Reis Neto

Jornalista responsável Maria Teresa Marques

Editores Tania Caroline Monteiro de Castro Renê Donizeti Ribeiro de Oliveira Sandra Hiroko Watanabe

Layout Sergio Brito

Colaborador Plinio José do Amaral

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Impressão Sistema Gráfico SJS Tiragem: 2.000 exemplares

ÍNDICE

Representante junto à AMB Eduardo de Souza Meirelles – SP Gustavo de Paiva Costa – DF Ivone Minhoto Meinão - SP

3 4 6 8 10 14 15 16 18 20 22 23

Espaço do residente SBR.doc Notas O melhor do Brasil Por que me tornei reumatologista Profissão reumato Coluna Neubarth Rheuma & Ethos Por onde andei Coluna Seda Foco em Além da Reumatologia

BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016

E s pa ç o

do rEsidEntE

Sou um reumatologista. E agora? Que tal considerar a carreira pública como opção após completar a residência? Veja o que diz sobre a área um reumatologista que nela atua há 34 anos

Luiz Carlos Latorre Reumatologista e servidor público desde 1982.

Terminei a residência médica! Passei na prova do título de especialista! Sou um reumatologista!...E agora? Continuo nos plantões de PS?...UTI?... Mas eu sou um reumatologista! ... Mas eu preciso casar!!! Serviço Público? Ambulatório privado? Consultório?

D

úvidas que, há 34 anos, eu tinha e, por incrível que possa parecer, ainda tenho (com o adendo de que, hoje, não penso em casar!). Naquele tempo havia algumas vantagens interessantes nos serviços públicos. A remuneração não era tão precária e muitos deles serviam ao público, creio, melhor que hoje. Presidentes, ministros, deputados eram do quadro de serviços públicos! Não acreditam? Perguntem aos seus pais. E havia ainda a vantagem de o concurso dar estabilidade de emprego que, concordemos, tinha um papel importante na escolha. Outro estímulo para a carreira pública era um vínculo com a pós-graduação senso lato (residência médica ou especialização) ou senso estrito (mestrado ou doutorado). Não tenho dúvidas que a pós-graduação, atrelada ao serviço público, hoje continua sendo o maior atrativo para essa empreitada. Trabalho honesto e eficaz Nestes 34 anos de serviço público tive muito mais satisfações que decepções. Pode-se fazer um trabalho honesto e eficaz, mesmo em condições adversas. Com algumas “ilhas de exceção” o médico faz o nome do serviço e não o contrário! Claro que o renome da própria instituição, por mérito presente ou passado, conta na escolha e contribui para a satisfação e promoção pessoal.

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No entanto, de modo geral, nos dias de hoje vejo um declínio preocupante na qualidade dos serviços públicos. Faltam verbas, salários dignos que façam jus a todo o nosso investimento, condições institucionais, etc, etc... O médico acaba perdendo o estímulo e, contrariamente a sua vocação, mal atendendo seus pacientes, o que o deixa, às vezes mesmo sem perceber, numa condição de desconforto extremo. Sem dúvida, um plano justo de cargos e carreira pode vir a corrigir, parcialmente esse desequilíbrio na balança investimento intelectual x qualidade digna de atuação e sobrevivência. Cabe aos nossos gestores, desde que por mérito e não por leilão de cargos, definirem um resgate da qualidade de atendimento que, podem acreditar, mesmo longe do ideal, já existiu.



Com algumas ‘ilhas de exceção’ o médico faz o nome do serviço e não o contrário! Claro que o renome da própria instituição, por mérito presente ou passado, conta na escolha e contribui para a satisfação e promoção pessoal.”

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sB r . d o c

Divulgação de Balancete A Sociedade Brasileira de Reumatologia divulga Balancete gestão 2014/2016 – em 31/03/2016 e Demonstrativo do Resultado do Exercício até 31/03/2016.

Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) Balancete – Gestão 2014-16 ATIVO DISPONÍVEL Caixa Bancos - Conta movimento Investimentos - ADM Investimentos - FAP CRÉDITOS Anuidades Adiantamentos - Regionais Resultados - Eventos Patrocínios Adiantamentos - Salariais IMOBILIZADO Imóveis - Sede SP iPads - Prog. AR na Vida Real - Brasil

31/03/2016 17.619.546,58 15.635.887,55 452,66 15.262,38 10.540.252,07 5.079.920,44 1.111.199,45 316.588,50 494.610,95 0,00 300.000,00 0,00 872.459,58 843.221,28 29.238,30

PASSIVO FORNECEDORES Prestadores de serviços TRABALHISTA Saldo de salários Contribuição previdenciária Fundo de Garantia PIS - Folha de pagamento TRIBUTOS Retidos na fonte PATRIMÔNIO LÍQUIDO Patrimônio social acumulado Superávit

31/03/2016 17.619.546,58 0,00 0,00 23.520,92 15.298,15 6.522,87 1.511,02 188,88 2.625,77 2.625,77 17.593.399,89 14.623.587,73 2.969.812,16

Valores em reais - R$

31/08/2014 14.662.904,43 12.856.067,26 1.413,16 3.700,22 8.368.655,14 4.482.298,74 963.615,89 366.996,00 104.120,00 134.173,16 357.784,00 542,73 843.221,28 843.221,28 –

Demonstrativo do Resultado Gestão 2014-16 Valores em reais - R$ Até 31/03/2016

RECEITAS Anuidades

5.436.410,79 808.060,58

Financeiras

2.449.697,55

Patrocínios

1.000.000,00

Eventos oficiais

1.178.652,66

DESPESAS

2.466.598,63

Administrativas

1.614.061,68

Atividades

-58.169,47

Publicações

910.706,42

SUPERÁVIT

2.969.812,16

Valores em reais - R$

Prezado associado: Comunicamos que tivemos alguns problemas com a emissão de boletos da anuidade de 2016 da SBR, no Banco do Brasil. Caso você receba a cobrança do Banco do Brasil, solicitamos que não efetue o pagamento desse boleto. O boleto da anuidade de 2016 será encaminhado posteriormente via Banco Safra/Itaú aos associados, mas com tempo hábil de quitação, sem danos a ninguém. Atenciosamente Diretoria executiva

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31/08/2014 14.662.904,93 20.457,82 20.457,82 17.763,38 11.335,40 5.094,67 1.185,17 148,14 1.096,00 1.096,00 14.623.587,73 14.623.587,73 –

Sócio da SBR pode pagar anuidade em eventos A Tesouraria da SBR informa a seus associados que, durante os eventos oficiais da Sociedade Brasileira de Reumatologia, será possível acertar as anuidades diretamente no estande da SBR, por meio de cartão de débito ou de crédito. Os boletos de anuidades serão encaminhados via correio a partir da segunda quinzena de maio e terão vencimento em 30/06 conforme o Estatuto da SBR.

BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016

Membros da Comissão de Título de Especialista em Reumatologia da SBR.

Comissão de Título de Especialista saúda novos reumatologistas A presidente da Comissão de Título de Especialista em Reumatologia da SBR, dra. Emilia Inoue Sato, parabeniza e dá as boas-vindas aos novos reumatologistas, profissionais aprovados na prova de obtenção de Título de Especialista em Reumatologia – 2016. Veja, ao lado, a carta da dra. Emilia:



Caros reumatologistas Em nome da Comissão de Título de Especialista em Reumatologia, gostaria de lhes transmitir nossos parabéns e dar boas-vindas à grande família de reumatologistas! Os srs(as) estão aptos(as) a exercer a especialidade e ajudar a diminuir o sofrimento dos pacientes com doenças reumáticas. Podemos ressaltar que os srs(as) estão entrando para um mercado de trabalho em uma fase difícil da economia brasileira, mas reumatologistas são especialistas ainda em falta em nosso meio. O trabalho realizado com dedicação e competência deverá trazer o reconhecimento profissional e com ele o sucesso financeiro. De qualquer forma, há necessidade de atualização continuada, pois o progresso na área médica é espantosamente rápido. Felizmente, o avanço tecnológico permite a atualização do especialista à distância, portanto, independentemente de onde os srs(as) optem por trabalhar, nunca deixem de estudar e se atualizar! Muito sucesso e felicidades!”

Profa. Dra. Emilia Inoue Sato Presidente da Comissão de Título de Especialista em Reumatologia da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Aprovados na prova para obtenção de TE em Reumatologia (março 2016) ALOISIO ANTONIO GOMES DE MATOS BRASIL ANA PAULA ADAME ANA PAULA KLEIN DIAS AYSA CESAR PINHEIRO BRUNA COSTA DA MATA BRUNA LAIZA FONTES ALMEIDA BRUNO RUBINSTEIN CAIO CAVALCANTE MACHADO CARINI IUMI OTSUZI CARLA FORGIARINI SALDANHA CARLA LEMOS GOTTGTROY CARLOS ANTONIO GUSMAO G DE MOURA CRISTIANE BERNARDES MEDEIROS CASTEDO DAMARIS OTT DANIELE MAIA DE JESUS DIEGO LOPES DE BARROS DIOGO SANTORO COSTA DA SILVA ELIANE TEREZINHA FETISCH FABIO VICENTE LEITE FARLEY CARVALHO ARAUJO FELIPE SEBASTIAO DE ASSIS REIS FLAVIO AUGUSTO DELBEM CHAGAS

GABRIELA DAFFRE CARVALHO GABRIELLA STEFENONI KRUGER GIORGINA FALCAO BRANDAO CORTES GOBBO GLENIO MARCHEZAN GUTJAHR GUILHERME GOMES DIAS CAMPOS ISABELLA MATIAS RIBEIRO JOANA MARINS SOARES JOANA STARLING DE CARVALHO JOSE DE PAULA LIMA JUNIOR JULIANA D’AGOSTINO GENNARI KARINE SOARES DE SOUZA LEONARDO TEIXEIRA DE MENDONCA LIVIA MACHADO FARIA LIVIA MADEIRA LORENA CHAVES DE MELO CASTELO BRANCO LUCAS LEONARDO DE CASTRO BORGES LUIZ FELIPE DIPE PRATES MIRANDA LUIZA DE ARAUJO PORTO LYSIANE MARIA ADEODATO RAMOS FONTENELLE MARCELA GROBERIO BORBA GALVAO MARIA ESTER SIMEIRA FONSECA MARIA GABRIELA LANG

BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016

MARIANA ALVES DA SILVA MARILIA SIMOES BIANCHINI MARTA ALINE COELHO DA COSTA MURILLO DORIO QUEIROZ NATALIA RODRIGUES QUERIDO FORTES PAULA GUIOMAR UBIRAJARA FRANZON DE SA RAFAELA MARTINEZ COPES RAQUEL GOMES DE OLIVEIRA REBECA CARDOSO DE FARIAS RENATA VALENTE LISBOA RICARDO AMARO NOLETO ARAUJO ROBERTA HORA ROCHA RODRIGO BARBALHO CHAVES RODRIGO PERES TOLEDO TACIANA FERNANDES ARAUJO PEREIRA TAISA MORETE DA SILVA TALITA KASSAR SIVIERI THAISA TENORIO ABREU THAMMI DE MATOS AMORIM VIVIANE MACHICADO CAVALCANTE WALESA BASTOS SILVINO WILDNER MARDEGAN SARDENBERG

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n ota s

RBR passa a ter apenas versão eletrônica Devido ao alto interesse dos leitores da Revista Brasileira de Reumatologia pela versão eletrônica de leitura, a Sociedade Brasileira de Reumatologia decidiu manter apenas o acesso à revista através deste meio. Os editores da RBR divulgaram uma carta aberta aos sócios da entidade, explicando em detalhes os motivos da mudança. Veja abaixo: “Caros amigos e colegas da reumatologia: Fizemos recentemente a renovação de contrato da Revista Brasileira de Reumatologia (RBR) com a Elsevier pelo próximo biênio. Em nossas negociações, ponderando-se o contexto econômico delicado do País, conseguimos que não houvesse reajuste de valores. No entanto, estendemos a discussão durante a reunião anual da diretoria executiva e das comissões a respeito dos investimentos e das necessidades para subsidiar nossas decisões junto a revista. A versão impressa da RBR vem sendo enviada aos sócios gerando-se um gasto anual somente com a impressão de R$ 60 mil, sem que haja captação de recursos significativa em patrocinadores. Verificamos que grande parte dos colegas que leem a revista o fazem através da versão eletrônica e buscam artigos de seu interesse, fazendo o acesso gratuito pela web seja na página da publicadora ou na base Scielo. Estivemos também em reunião com a equipe que reestrutura a página da Sociedade Brasileira de Reumatologia

(SBR) para expor nosso interesse em ampliar a divulgação e facilitar o acesso à RBR. Em breve deveremos contar com o envio de mensagens eletrônicas a todos os sócios com o índice de cada volume que permitirá o acesso a cada artigo ao se clicar no título. Teremos também a possibilidade de ler os artigos através da página da SBR tanto em computadores como em dispositivos móveis, atendendo às demandas de indexação da Scielo e seguindo as tendências do mercado atual. Portanto, tendo em vista a subutilização das revistas impressas e o gasto substancial com elas, decidimos manter apenas a versão eletrônica. Acreditamos que seja a maneira mais racional de uso de recursos sem prejuízo para a RBR. Continuamos contando com a colaboração de todos para o sucesso de nossa revista.” Atenciosamente Marcos Renato de Assis Roberto Ezequiel Heymann Editores-chefes da RBR Simone Appenzeller Marcelo de Medeiros Pinheiro Claiton Viegas Brenol Editores associados da RBR

Homenagem a reumatologista em Londrina

Doenças autoimunes foram tema de evento em Leipzig A linda cidade de Leipzig, na Alemanha, recebeu em abril deste ano, mais de 2 mil congressistas do mundo todo interessados na troca de conhecimentos das mais de 80 doenças autoimunes até agora identificadas. A cidade onde Richard Wagner nasceu, Johann Sebastian Bach tocava suas composições na Igreja de São Tomás e Johann Wolfgang von Goethe frequentava o Auerbachs Keller, um dos bares mais famosos do mundo, é conhecida pelos eventos culturais, museus e pelas suas igrejas. Dentre os brasileiros que apresentaram seus trabalhos estavam os drs. Luis Eduardo Coelho Andrade, Roger Levy, Tania Caroline Monteiro de Castro, Sofia Fernanda Gonçalves Zorzella-Pezavento, Larissa Lumi Ishikawa, Ida Cristina Gubert, Paula David, Mônica Prado, Francisco Assis de Andrade, Danielle Baldo, e Juliana Goldbaum Crescente. Com esse clima de aprendizado cultural e de conhecimentos médicos, Leipzig nos mostrou o fascínio de uma volta ao passado e, ao mesmo tempo, o conhecimento científico visionário das patologias autoimunes.

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A médica Margarida de Fátima Fernandes Carvalho foi homenageada pela Câmara Municipal de Londrina (PR), por proposta do vereador Roque Neto, que lhe concedeu o título de Cidadã Honorária de Londrina. A dra. Margarida foi superintendente do Hospital Universitário entre 2010 e 2014, é docente do curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e reconhecida como das mais competentes profissionais na área de reumatologia pediátrica. A dra. Margarida foi também presidente do Departamento de Reumatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016

A pacata Guararema recebeu a XVI Reciclagem da Reumatologia Unifesp Participantes da XVI Reciclagem da Reumatologia Unifesp: destaque para presença de egressos do Nordeste.

A XVI Reciclagem da Reumatologia Unifesp ocorreu nos dias 7 a 10 de abril de 2016, em Guararema, uma linda e pacata cidade a pouco mais de 70 km da capital paulista, margeada pelo rio Paraíba do Sul e rodeada pela antiga estrada de ferro Central do Brasil, fundamental para o crescimento do povoado e atração de imigrantes. A sessão de abertura foi sobre um dos temas mais atuais e relevantes: As arboviroses e as artropatias crônicas: O que está por vir?, sob a tutela da dra. Carolina Lázari, médica infectologista e responsável

pela assessoria médica do laboratório Fleury. O ponto alto da discussão foi a participação de diversos egressos, particularmente provenientes do Nordeste, que citaram o grande número de casos diários e graves encaminhados para avaliação do reumatologista. Nos outros dias do evento, a abordagem teórica foi feita em pequenos grupos de 20-25 pessoas (workshops), promovendo interatividade e discussão de problemas práticos da vida diária dos reumatologistas. Nesta edição, o setor de Procedimentos e de Reabili-

O nobre legado do professor Charles Joel Menkès Dra. Helenice Gonçalves

Charles Joel Menkès nasceu em Paris, em 14 de maio de 1932 e em 1942 deixou a França com a família por causa do nazismo, emigrando para o Brasil. Fez o ensino secundário no Liceu Francês no Rio, curso que terminou em 1947, quando retornou para o Lycee Condorcet. Bacharel em 1949, entrou para a Faculdade de Medicina de Paris. Casou-se em 1957 com Pierrette Zolotarevsky, com quem teve três filhas que lhe deram nove netos. Em 1966 escreveu a sua tese sobre complicações pulmonares nas doenças do tecido conjuntivo pela qual recebeu a medalha de prata. Em 1966, tornou-se chefe professor clínico assistente no Hospital Cochin. Em 1980, chefe do departamento de Reumatologia do Hospital Cochin, onde abriu as portas a estagiários. Inovou dentro da reumatologia francesa e mundial com a publicação de inúmeros trabalhos. Dr. Menkès morreu em 8 de janeiro de 2016, em consequência de complicações de cirurgia abdominal.

BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016

tação fez demonstrações práticas de infiltrações intra-articulares e de partes moles em modelos vivos, bem como de órteses e fisioterapia. No domingo, pela primeira vez, a reciclagem foi realizada em conjunto com o Encontro Anual de Pós-Graduação. Não deixe de visitar a Turma Reciclagem EPM, no Facebook, e no site: www.reciclagemreumatounifesp.com.br, a fim de atualizar-se e inscrever-se nas atividades da Disciplina. Mantenha-se atualizado e não perca a próxima. Até 2018.

João Francisco Marques Neto é maestro Panlar 2016 Em 10 de abril de 2016, na abertura do Congresso Panlar Panamá 2016, o reumatologista brasileiro João Francisco Marques Neto foi homenageado com a nominação de Maestro Panlar 2016. O reumatologista foi escolhido em sessão do comitê executivo do Panlar em fevereiro deste ano. 7

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mElhor do

Brasil

Notícias das regionais

CEARÁ

Sociedade promove encontros e palestras A Sociedade Cearense de Reumatologia (SCR) já realizou atividades importantes neste ano e passa a divulgá-las.

• Em 12/03/2016 foi realizado, no Marina Park Hotel, o evento promovido pela SCR em parceria com a ABBVIE, quando foram abordados casos difíceis na reumatologia. O evento foi aberto pela presidente da SCR, profa. dra. Sheila Fontenele.

SCR e ABBVIE realizaram evento no Marina Park Hotel.

• Em 12/04/2016, o dr. Theogenes M. Silva palestrou sobre diagnóstico e tratamento das espondiloartrites. O evento ocorreu no Hospital Geral Waldemar Alcântara e foi destinado a clínicos, em especial os residentes de Clínica Médica, mostrando a importância do diagnóstico e tratamento precoce da doença. • Em 26/04/2016, às 19 horas, no restaurante Alchymist houve mais um Ciclo de Palestras da Sociedade Cearense de Reumatologia. A dra. Sâmia Studart ministrou a palestra “Drogas anti-reumáticas no período perigestacional: indicação, eficácia e segurança” e explicou quais são as drogas seguras para uma gestante lúpica, quais as drogas não indicadas, drogas usadas no período perigestacional, no aleitamento e também a vacinação em recém-nascidos, filhos de mãe que foram submetidas aos medicamentos imunossupressores.

PARAÍBA

Curso do Gruparj teve apoio de regional Com apoio da Sociedade Paraibana de Reumatologia e a convite da organização da Jornada Norte Nordest, o Grupo de Pacientes Artríticos do Rio de Janeiro em Petrópolis (Gruparj Petrópolis) realizou o XXXI Curso de Educação em Saúde para Portadores de Doenças Reumáticas na cidade de João Pessoa, em 19 e 20 de abril de 2016. O número expressivo de participantes, 87 no total, confirma o bom resultado obtido nos cursos anteriores. Com a participação de aproximadamente 35 pessoas com artrite reumatoide, diversos assuntos foram abordados, o que, além do aprendizado, proporcionou ao grupo maior integração e disponibilidade para esclarecimentos de dúvidas e novos questionamentos. Surpreendeu o nível cultural dos participantes e o número de profissionais da área da saúde presentes: fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, nutricão e enfermagem, inclusive do centro de infusão do hospital que agradeceram todo o aprendizado proporcionado pelo curso. 8

Novidades: fan page e site

A SCR tem duas novidades importantes de comunicação. Uma fan page no Facebook, criada para encurtar as distâncias entre os reumatologistas cearenses e os pacientes da reumatologia, e um site, onde é possível acompanhar as ações realizadas pela SCR, bem como encontrar um reumatologista que atenda pelo plano do paciente ou mais próximos sua residência. Endereço Facebook: www.facebook.com/ scearensereumatologia Endereço site: reumatoceara.blogspot.com.br

GOIÁS

Sociedade goiana divulga eventos para 2016 Neste ano, a Sociedade Goiana de Reumatologia já tem programados vários eventos e planeja ainda realizar outros que terão futura confirmação. A grade de eventos já aprovados é a seguinte: • Outubro Tema: Encontro GO-DF Programação a ser definida. • Novembro Tema: Sessão clínica HC-UFG Programação a ser definida.

Novo site A regional de Goiânia tem um novo site, importante canal de comunicação entre seus sócios e a entidade. Para acessar, digite: www. reumatologiago.com.br.

BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016

PARANÁ

Reuniões científicas e simpósios estão entre ações mensais As atividades da Sociedade Paranaense de Reumatologia formam uma agenda mensal que inclui reuniões científicas e simpósios. Tais eventos têm participação média de 50 médicos e profissionais que discutem sobre as mais novas tecnologias em diagnóstico e clínica, além de relatos de casos e discussões fundamentadas em experiências do cotidiano dentro de suas práticas habituais. Abaixo estão as atividades de maior destaque nos últimos meses e a programação especial do mês de junho. Abril – Nesse mês, os médicos da Sociedade Paranaense de Reumatologia participaram de um simpósio em parceria com a UCB Biopharma. O palestrante foi o dr. Max Victor Carioca de Freitas, que falou sobre os imunobiológicos em monoterapia. Na reunião científica, o tema foi Biológicos e Biossimilares, com palestras dos drs. Thaís Meneghetti (Emprego de Biológicos na Infância e Adolescência), Valderílio Feijó Azevedo (Biossimilares) e Fernanda Borghi (Estudos de Caso do Hospital de Clínicas). Ainda em abril, a SPR foi destaque na mídia paranaense, com entrevistas do presidente, Marco Rocha Loures, que discursou sobre Lúpus Eritematoso para a Rádio Difusora, além dos médicos Valderílio Feijó Azevedo, Carolina de Souza Müller e Roberto Antonio Carneiro, que tiveram quadros especiais no programa Vida em Ação (TV Evangelizar) e conversaram ao vivo com os telespectadores sobre Lúpus, Artrite Reumatoide/ Artrose e Ácido úrico, respectivamente. Maio – A associada Anna Hermínia de Amorim concedeu, em maio, uma entrevista à Rede Globo na qual falou sobre o Curso de Capacitação em Reumatologia que ministra para médicos da Rede

Ação Fibrocuritiba, na Boca Maldita, em Curitiba: participação de 15 reumatologistas para atender à população.

Pública de Saúde do norte do Paraná. Ainda em maio, a SPR participou do II Encontro Regional Para Conscientização Sobre Lúpus, em Londrina, quando estiveram presentes as reumatologistas Margarida Carvalho e Tatiana Veiga. Aconteceu também em maio o ciclo de palestras do 1° Dia Mundial de Atenção à Pessoa com Lúpus, na cidade de Maringá, evento que teve apoio da Câmara Municipal, do vereador Flávio Vicente, da Fan Page Lúpus e Você e do grupo Angel’s Health. Na ocasião, o presidente da SPR discursou a pacientes, familiares e amigos, dando orientações sobre a doença. Foi um sucesso a Ação do Fibrocuritiba (foto), grupo de apoio para familiares e pacientes diagnosticados com fibromialgia. O evento, na Boca Maldita, em Curitiba, aconteceu em parceria com a SPR e contou com cerca de 15 médicos reumatologistas e demais profissionais que deram à população orientações sobre saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento, avaliações dos especialistas e esclarecimento de dúvidas a respeito da doença. Aproximadamente 200 pessoas foram atendidas.

BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016

Na penúltima semana do mês, foi realizado um simpósio (em parceria com o laboratório Pfizer) com o tema Tofacitinibe – Atualização de Dados e Práticas Clínicas, com os palestrantes David Titton e Pedro Weingrill. Também foi realizada uma reunião científica, com palestras dos reumatologistas Andreas Funck e Luís Santos de Freitas, além da dermatopatologista Betina Werner, que falaram sobre vasculites. Junho – Nesse mês, a programação da SPR será especial, com a realização, de 23 a 25, da XX Jornada do Cone Sul de Reumatologia e VII Jornada Paranaense de Reumatologia, em Foz do Iguaçu (PR). A programação científica do evento trará aos participantes as mais modernas informações da área, incluindo atualização na clínica, diagnóstico e terapêutica, além de discussões sobre as dificuldades do dia a dia no consultório. No dia 30 de junho, a programação encerra-se com um simpósio, em parceria com a Abbve, cujo tema é Manifestações Extra-articulares nas Espondilites (Manifestações Oculares).

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por

Q u E m E to r n E i r E u m ato lo g i s ta ?

Reumatologia aliada à pediatria Três profissionais da pediatria que agregaram a reumatologia a sua formação falam sobre seus processos de escolha. Na vida de Blanca Elena Rios Gomes, o balé atravessou lindamente seu caminho, mas um incidente físico mudou tudo. Já a reumatologista Cássia M. Passarelli Lupoli Barbosa tem a Unifesp ligada a suas escolhas. E, para Teresa Cristina M. Vicente Robazzi, unir pediatria e reumatologia foi forma de não perder contato com crianças e adolescentes. Acompanhe os depoimentos de cada uma delas.

Blanca Elena

Blanca Elena Rios Gomes Bica Professora adjunta de Reumatologia; chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Sem médicos na família, minha vida médica teve alguma influência do “destino”.... Meu pai era advogado e minha mãe, comerciária. Ambos sempre nos incentivaram a realizar atividades paralelas tais como música, idiomas e balé. Fui aluna da antiga Escola de Danças do Teatro Municipal, cuja base era a formação clássica, com duração de nove anos. Aos 17 anos, deparei-me com uma importante decisão a tomar: seguir a carreira de bailarina, que eu amava, ou

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prestar vestibular para Medicina (desejo de meu pai). Sempre simpatizei com a ideia de estudar o corpo humano, mas a dança era a minha vida. Estudei com conhecidos mestres internacionais do balé e me preparava para uma vaga no tão sonhado Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio. Entretanto, paralelamente prestei vestibular para Medicina, sendo aprovada para a UFRJ, que era o desejo de qualquer aspirante à carreira médica. Iniciei o curso convencida de que, assim que passasse no concurso para o teatro, trancaria a faculdade para seguir meu sonho de bailarina. Contudo, o “destino” prega suas peças e, um mês antes do concurso, tive um abdômen agudo cirúrgico que me afastou da dança por mais de oito meses, o que me fez cursar a faculdade de Medicina, pois não podia dançar naquele momento. No terceiro ano do curso médico, minha mãe foi diagnosticada com artrite reumatoide. Tinha doença refratária, que me obrigou a estudar intensamente essa doença tão complexa para entendê-la. Como adoro crianças, optei pela pediatria e no primeiro ano de residência médica na UFRJ tive contato com a profª Sheila Oliveira que guiou meus primeiros passos na especialidade. Os conhecimentos adquiridos durante a enfermidade de minha mãe facilitaram nosso entrosamento e a partir daí decidi que seria reumatologista pediátrica.

Além disso, é uma especialidade que tem muito a ver com a atividade física... Durante o concurso para professora de Reumatologia pediátrica da Faculdade de Medicina da UFRJ, um dos membros da banca me fez a seguinte pergunta após ler meu memorial: “Você escolheu a reumatologia por que foi bailarina ou por que sua mãe tinha artrite reumatoide?” Sorri e respondi: “Acho que ambas foram fundamentais na minha escolha...” Teresa Cristina M. Vicente Robazzi Professora adjunta do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Bahia, Universidade Federal da Bahia (FMB/UFBA – pediatria/reumatologia pediátrica)

Quando entrei na Faculdade de Medicina, tive uma certeza quase que imediata: seguiria uma área clínica em que pudesse explorar o raciocínio e os diagnósticos diferenciais. Bastava deixar o tempo correr para que as descobertas, as afinidades e as paixões aflorassem. Quando estudei Reumatologia, percebi que um fascínio muito grande e um encantamento tomavam conta de mim. Sentia um grande prazer em estudar a disciplina e grande interesse por aqueles pacientes, acometidos por doenças nem sempre amigáveis, precisando não só de tratamento, mas também de compreen-

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Teresa Cristina

são e apoio psicológico. Me questionava até onde o emocional e a vida pessoal poderiam interferir sobre o desenvolvimento das doenças. O curso de Medicina seguiu adiante, houve novas descobertas e entre elas o conhecimento da pediatria. Veio então a oportunidade de fazer a minha residência em pediatria no Instituto da Criança-USP, de onde só guardo memórias lindas e pessoas muito especiais no meu coração. Neste ambiente, o destino ou o universo, ou seja lá como cada um queira interpretar, mais uma vez me colocou diante da reumatologia, agora pediátrica. Desde o primeiro ano de residência, havia um magnetismo. Fosse qual fosse o estágio pelo qual eu passasse, eu literalmente atraía pacientes do serviço de reumatologia pediátrica para ficarem sob a minha responsabilidade. O contato, a evolução, o estudo destes pacientes reacenderam de imediato o interesse por esta especialidade. Não tive mais muitas dúvidas em relação a qual seria a minha opção de R3. Me dedicaria a esta especialidade, que havia me tocado em fase mais precoce da minha jornada acadêmica, e manteria

meu contato com as crianças e os adolescentes. Percebi que essa opção me daria a oportunidade de oferecer uma qualidade de vida melhor a muitas crianças portadoras de doenças crônicas. E que seria infinitamente recompensador ver uma criança voltar a correr, pular e brincar. Enfim, nesta especialidade, eu poderia nem sempre oferecer a cura, mas poderia oferecer alguma melhora e atenuação do sofrimento de uma criança. A especialidade exigiria o aprimoramento da relação médico–paciente, e aqui a escuta, o carinho, o apoio e a humanização da relação seriam imprescindíveis. Tudo isso aliado ao fato de ser uma especialidade clínica, investigativa e cheia de descobertas. Sabia que a jornada não seria fácil e que encontraria dificuldades pelo caminho, sobretudo quando retornasse à minha cidade natal. Mas, talvez, isto tenha tornado a escolha ainda mais interessante. Um desafio. E hoje não me arrependo, sobretudo quando estou atendendo no serviço público do Hospital Professor Edgar Santos, da UFBA, e recebo um abraço ou um sorriso dos meus “meninos e meninas reumáticos”.

Cássia M. Passarelli Lupoli Barbosa Pediatra, reumatologista pediatra. Médica assistente do setor de reumatologia pediátrica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

“Uma ideia que fica balançando no trapézio do meu cérebro” é uma frase de Machado Assis que me acompanha desde que a li na adolescência. Toda a minha vida acadêmica aconteceu na Unifesp, onde terminei a graduação em 1982. Durante o curso interessei-me pela reumatologia (no tempo do querido professor Edgard Atra). Matéria intrigante! No ano seguinte, paixão pela pediatria. Fiz minha escolha e em 1984 terminei a residência, em um tempo no qual as especialidades pediátricas ainda engatinhavam. Virei pediatra, fui mãe de três filhos e fiquei 15 anos longe da Unifesp, com a ideia de voltar balançando na cabeça. Voltei em 1999 disposta a aprender uma especialidade dentro da pediatria; escolhi reumatologia. Matriculei-me, voltei a ser aluna, fiz estágio de dois anos, atendi sob supervisão, estudei muito! Reencontrei a reumatologia em uma fase de grande desenvolvimento, com novos tratamentos e a possibilidade de melhor qualidade de vida para os pacientes. Veio a paixão da idade adulta, mais madura, calma, segura. Fiz mestrado, doutorado. Em 2007 fui para o Hospital Infantil Darcy Vargas, onde na época não havia reumatologista pediátrico. Reiniciei o serviço, que cresceu; conta hoje com três profissionais para o atendimento de pacientes da especialidade e para o ensino de residentes de pediatria. Filhos criados e bem encaminhados, volto para a Unifesp. Outras ideias penduradas no trapézio do meu cérebro...

Cássia

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p r o f i s s ã o r E u m ato

O desafio de proporcionar alívio ao paciente Será que estamos preparados para proporcionar o alívio da dor ao nosso paciente? Roberto Ezequiel Heymann Assistente Doutor da Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo /Unifesp.

A

dor, o quinto sinal vital é o principal sintoma pelo qual os pacientes procuram o reumatologista. As doenças reumáticas, geralmente crônicas, cursam com sintomas, em especial a dor, que perduram e flutuam em intensidade ao longo do tempo. Frequentemente nos deparamos com um paciente cujo quadro doloroso é desproporcional à atividade inflamatória da doença de base naquele momento. Esta condição é observada com frequência em pacientes com artrite reumatoide ou lúpus eritematoso sistêmico. Eventualmente, eles apresentam marcadores de inflamação sistêmica dentro da normalidade e ausência de inflamação articular, embora seus índices de atividade da doença encontrem-se acima do valor normal e a queixa de dor encontra-se presente, por vezes, exagerada. Esta dicotomia observada frequentemente na prática reumatológica reflete mudanças fisiopatológicas nos mecanismos de controle da dor, que podem modificar as características do quadro doloroso ao longo do tempo, quando uma ocorrência inicialmente inflamatória pode sofrer influências álgicas secundárias a danos estruturais articulares ou relacionadas à amplificação dos mecanismos centrais de sensibilidade dolorosa. Além desses fatores, o quadro álgico certamente sofre influências culturais, sociais, religiosas e emocionais, que aumentam a complexidade do seu tratamento. Estes fatos explicam por que cerca de 20% a 30% dos pacientes com doenças reumáticas inflamatórias são acometidos concomitantemente pela fibromialgia ou apresentam sintomas sugestivos de amplificação dolorosa. Como dar o alívio? Será que estamos preparados adequadamente para proporcionar o alívio da dor que nosso paciente tanto anseia? Recebemos suporte educacional suficiente para determinar as diferentes características de dor por eles apresentadas? Sabemos manejar adequadamente as diversas modalidades de medicamentos utilizados nestes casos?

Apesar de o preparo durante a formação do reumatologista ser insuficiente nesta área de atuação, temos observado um número cada vez maior de reumatologistas realizarem um esforço individual para suprir esta falha. A própria Sociedade Brasileira de Reumatologia, reconhecendo esta carência na nossa formação, tem investido, nos últimos 20 anos, em cursos específicos. Sem dúvida, devemos considerar essa providência como uma grande evolução da nossa especialidade, pois no passado não muito longínquo o médico reumatologista tinha preconceito em atuar nesta área, dando ênfase somente para queixas de natureza autoimune, ficando o paciente sem uma atenção adequada para o seu quadro de dor. Felizmente, nossos colegas reumatologistas têm se conscientizado da necessidade de assumir seu papel na área de atuação da dor, aprofundando seus conhecimentos nesta matéria e oferecendo uma assistência melhor aos seus pacientes. Este movimento dentro da nossa especialidade tem resultado, ainda que timidamente, em uma reavaliação curricular por parte dos serviços de formação reumatológica, agregando ao alto nível de conhecimento clínico o complexo estudo do tratamento da dor.

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coluna nEuBarth

A luz da lua em maio Fernando Neubarth *

Q

uando Suyana sentiu as primeiras contrações ainda era dia, mas, à medida que elas foram se tornando mais frequentes, também a escuridão se avolumava. Estava apreensiva, carregava em si, além do significado de seu nome – esperança -, todos os temores do mundo. O trabalho de parto deu-se numa singular competição com a chegada da lua. Um caprichoso bordado ascendia às margens opostas da grande várzea, uma luz líquida, cristalina, revelando cada reentrância, cada pedra, os muros que formavam os terraços onde sua família, seus parentes e vizinhos plantavam feijão, milho, batata. No mesmo instante em que um mar de luz rasgou definitivamente o vale, ouviu-se o choro forte de Killari. Para Jarawi, o poeta, não poderia ser outro o nome. No idioma quíchua, luz de lua. Inspirada por tanto aclaramento, a menina cresceu com um espírito curioso aliado a uma singular sagacidade. Foi assim que, numa das tantas andanças que faria, acompanhando o pai no pastoreio das alpacas, notou que os animais quando doentes bebiam em águas próximas a árvores de casca grossa e flores rosadas. Da observação ao experimento, logo os incas aprenderam a fazer chás da casca da quina-quina e a amarga infusão bem servia no combate à febre e a dor. O fato real é que, quando os conquistadores espanhóis chegaram à América, havia na farmacopeia inca um medicamento com base no revestimento do tronco de um arbusto da família Rubiaceae, a mesma do café. O primeiro a descrevê-la teria sido o padre jesuíta Antonio de la Calancha, em 1633: “Uma

árvore cresce, que eles chamam árvore da febre, na região de Loxa, cuja casca tem cor de canela. Quando transformada em pó, juntando-se uma quantidade equivalente ao peso de duas moedas de prata, e oferecida ao paciente como bebida, ela cura febre e tem curado miraculosamente em Lima”. Os jesuítas passaram a usá-la para tratar malária e logo levaram a novidade à Europa. Em 1742, Lineu a batizaria de Cinchona, dessa fazendo parte pelo menos 40 variedades diferentes de espécies, sendo a C. ledgeriana e C. officinalis as com maior teor de quinina. O nome basear-se-ia na lenda de que a esposa do vice-rei do Peru, Ana de Osório, condessa de Chinchón, teria se curado da malária tornando-se “garota propaganda” do remédio milagroso, o “pó da condessa”. Comércio lucrativo Em 1820, os químicos franceses Jo seph Pelletier e Joseph Caventou isolaram a quinina das cascas da Cinchona e a identificaram como sendo um alcaloide. Bem mais tarde reconhecida como da classe dos quinolínicos. Durante anos, a exploração e o comércio lucrativo renderiam lucros e aventuras para contrabandistas e piratas. Os holandeses levaram da América sementes selecionadas e plantaram-nas em Java, com grande sucesso. Em 1940, os nazistas apoderaram-se de todo o estoque europeu ao invadir Amsterdã. Os aliados ficaram sem medicação para os milhares de soldados que contraíam malária nas campanhas da África e Ásia. Em plena guerra, uma expedição norte-americana

chegava aos Andes, enquanto químicos aliados tentavam criar substitutos sintéticos. Atualmente, outros antimaláricos, tanto de origem sintética quanto naturais, como a cloroquina e a primacrina, resultaram na diminuição do uso farmacológico de quinina. Ela ainda é, no entanto, o fármaco mais eficiente contra a malária devida ao Plasmodium falciparum. Seu derivado, a quinidina, segue útil em arritmias cardíacas. E de maneira mais prosaica, como flavorizante, esse pó branco, inodoro e amargo mantém-se bem perceptível no sabor da água tônica. Filha dileta, a cloroquina foi descoberta por Hans Andersag e colegas, da Bayer, em 1934 e possui, em semelhança à quinina, o núcleo quinolínico. Para além de seu uso como antimalárico, é um importante medicamento em doenças auto-imunes, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, porfiria cutânea tarda. Utilizada com segurança na gravidez, parece reservar mais uma boa surpresa nessa já longa história. Pesquisadores dos Institutos de Biologia e de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or anunciaram que a cloroquina pode ser eficaz na proteção dos cérebros de fetos contra a infecção pelo vírus da zika, evitando os tão temidos danos cerebrais e o fantasma da microcefalia. Falta a pesquisa em humanos, mas a notícia, no início de maio, mês das mães, do ano da graça de 2016, é um alento. E a luz da lua, presente nesses dias, parece predizer um futuro menos sombrio.

* Médico e escritor. Presidente da SBR, gestão 2006-2008

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rhEuma & Ethos

Qual o tempo mínimo para uma José Marques Filho Presidente da Comissão de Ética e Disciplina da Sociedade Brasileira de Reumatologia

Ao longo dos muitos anos em que exerci a função de conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), ouvi, por diversas vezes, um questionamento formulado por médicos e jornalistas ligados à área da saúde e a pacientes: qual o tempo mínimo para uma consulta médica?

U

ma lenda que circulou pela comunidade médica durante muito tempo, divulgada por algumas autoridades sanitárias, é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendava, principalmente nos atendimentos públicos, quatro pacientes por hora. Portanto, segundo essa recomendação, no período de quatro horas de trabalho, o médico seria obrigado a atender 16 pacientes, com média de 15 minutos para cada um. Na verdade, essa recomendação nunca passou de uma lenda, mas sempre foi utilizada para determinar, autoritariamente, o número de pacientes que deveriam ser atendidos em quatro horas de trabalho, independentemente da especialidade do médico. Com o passar do tempo, essa determinação foi estendida aos atendimentos privados, principalmente aqueles cobertos pelos planos de saúde. No Brasil não existe norma ética ou legal determinando um tempo mínimo para consulta médica. Por outro lado, a legislação ética atual – o Código de Ética Médica – determina:

Capítulo II DIREITO DOS MÉDICOS VII – Decidir, em qualquer circunstância, levando em consideração sua experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado ao paciente, evitando que o acúmulo de encargos ou de consultas venha a prejudicá-lo. Alguns conselhos regionais têm sugerido um número de atendimentos por hora que entendem como adequados. O Cremesp tem vários pareceres sobre o tema, mas dois, em nossa visão, merecem destaque: CONSULTA CREMESP n° 29349/97 EMENTA: A duração da consulta para dois pacientes com uma mesma doença poderá ter variações enormes na prática diária, dependendo de uma série de fatores. A relação médico-paciente é a base de qualquer ato médico e, portanto, deve ser protegida de qualquer tentativa de restrição. CONSULTA CREMESP n° 87399/14 EMENTA: Não deve existir número grande ou pequeno de pacientes por jornada de trabalho e sim atendimento adequado, competente, atencioso e pertinente ao quadro; a chamada “linha de produção” não é meio ético de assistência médica aos cidadãos. Repito, com muita frequência, que em medicina nada é mais importante que o paciente e que a busca da excelência é uma obrigação de todos que exercem nossa nobre profissão. Em minha visão, esse é o norte que deve ser perseguido por todos nós.

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consulta médica?



Não é possível que se pratique uma medicina de excelência sem que cumpramos um check list obrigatório – identificação, queixa principal, história da doença atual, antecedentes pessoais, antecedentes familiares e cuidadoso exame físico”.

Como um piloto de avião Na área da reumatologia, especialidade eminentemente clínica, a coisa fica um pouco mais complicada. Embora seja uma relação um pouco pedante, porém muito didática, a consulta médica deve ser comparada à atividade diária de um piloto de avião. Todos já observamos que, antes do início do voo, a tripulação realiza, sistemática e obrigatoriamente, um check list sob a supervisão do piloto, que é o comandante e responsável maior pela segurança da tripulação e dos passageiros. Na área médica também temos nosso obrigatório check list para cada paciente. O nome que se dá para esse procedimento é semiologia ou propedêutica clínica. Não é possível que se pratique uma medicina de excelência sem que cumpramos um check list obrigatório – identificação, queixa principal, história da doença atual, antecedentes pessoais, antecedentes familiares e cuidadoso exame físico. Atualmente, quando todo conhecimento médico está, democraticamente, disponível a todos os médicos, a diferença de competência e qualidade entre os profissionais pode ser medida pela eficiência do uso desse instrumento obrigatório – a semiologia médica.

Incluam-se nesse tempo de consulta a obrigatória informação ao paciente e os devidos esclarecimentos, direitos de todos os cidadãos. Direitos estes, vale a pena ressaltar, devidamente tutelados pela legislação ética e judicial brasileira. Alguém consegue realizar esse check list obrigatório, nos ambulatórios e consultórios especializados em reumatologia, em 15 minutos? Impossível!

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ERRATA

Na edição do Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia Jan/Fev/Mar 2016, na seção Rheuma & Ethos, o texto “Ética em pesquisa” foi atribuído erroneamente pelos editores a outro autor. A autora do referido texto é a reumatologista dra. Lilian Schade, membro da Comissão de Ética e Disciplina da SBR. Lamentamos profundamente o ocorrido e os possíveis transtornos causados a todos os envolvidos neste episódio. Ressaltamos que o Boletim tem como objetivos levar informação de qualidade de forma clara, ágil, agradável e imparcial ao associado da SBR. Os editores

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por

ondE andEi

Islândia, uma aventura extrema Flávio Sztajnbok, reumatologista pediátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Senhores passageiros, favor afivelar o cinto de segurança e colocar a sua poltrona na posição vertical. Em poucos instantes estaremos pousando em Keflavik. Do lado de fora da janela, tudo branco, muito branco. E, de repente, aquele solavanco significando que o avião pousou. Pousou? Mas continua tudo branco, muito branco, visão mantida há mais de 30 minutos, sem qualquer modificação. Mas sim, o avião tinha pousado e não se enxergava nada além do branco. Assim fomos recebidos em Keflavik, cidade onde fica localizado o aeroporto internacional da Islândia, a cerca de uma hora de ônibus ou carro da capital, Reykjavik. Recebidos com uma tempestade de neve. Nunca imaginei que pudesse haver condições de pouso daquela maneira. Mas, depois, soube que os pilotos islandeses são capazes de pouso ou decolagem nas piores condições atmosféricas possíveis. Era tanto vento e tanta neve que mal conseguíamos caminhar para pegar o flybus, tradicional e mais barato transporte para a capital. A família toda já me perguntava o que estávamos fazendo ali. Antigo desejo meu de infância, curiosidade em conhecer um país tão diverso e inóspito, local onde a aurora boreal mostrava-se mais bela, habitado por descendentes de vikings perdidos em pleno oceano Atlântico, e onde as baixas temperaturas eram amenizadas pela Corrente do Golfo que, vinda do Golfo do México, aquecia a costa islandesa. Este foi o primeiro “mal-entendido”: não sei por onde andava a tal corrente que, durante os oito dias em que lá passamos, não “deu as caras” não. A temperatura de dia variava de -5oC a + 5oC, mas a sensação térmica variava de -10 a -25oC! Mas a aurora boreal, quando vamos ver a aurora boreal? Esta é a primeira pergunta que todos fazem ao desembarcar. Mas é bom saber que só é possível apreciá-la de outubro a abril, no inverno islandês. Mas cuidado com as definições de estação do ano. Por

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exemplo, no verão, a temperatura fica muito agradável, chegando a 15oC de dia!!! Língua incompreensível Bom, os dois primeiros dias foram em Reykjavik, capital de um país com menos de 500 mil habitantes e aonde se fala uma língua impossível de ser compreendida. Aqui outro “mal-entendido”. Na Islândia fala-se islandês, língua que utiliza as letras ocidentais. Ledo engano. Muitas das letras são ocidentais, mas há letras estranhíssimas e mesmo uma coisa pequena pode ter um nome imenso e impossível de pronunciar. Por exemplo, se você procura uma agência de turismo para um passeio, deve pedir “ferðaþjónustu auglýsingastofu”. Deu para falar? A língua é uma mistura de norueguês com faroese antigo (Ilhas Faroe, ali perto). A capital é pequena, mas muito bonita. Estava tudo congelado, inclusive o grande lago atrás do Parlamento, que serve de local para esquiar e caminhar a pé durante o inverno. A vista da cidade a partir da torre da Igreja Hallgrímskirkja é estonteante(foto 1). Antes de sairmos para o interior do país, fomos à Blue Lagoon, complexo geotérmico aonde você toma banho em uma água azul claríssima a cerca de 37-39oC, enquanto a temperatura externa é de cerca de zero graus com muita neve em todo o redor(foto 2). Mas o nosso objetivo era ir para o interior do país para conhecê-lo melhor e, longe das

Foto 2: Blue Lagoon: águas quentes com neve ao redor

luzes e qualquer possibilidade de poluição, podermos admirar a aurora boreal. No primeiro dia, partimos para oeste e, dentre as várias paradas, a mais impressionante foi escalar um vulcão (Grábrók) para apreciarmos a cratera. Não era muito alto, mas o vento a cerca de 80 km/h tornava a subida difícil, com uma sensação de estarmos escalando o Himalaia, a ponto de os membros do grupo ter de apoiar-se uns nos outros para, literalmente, não voar. À noite, dormirmos na cidade de Borgarnes, onde presenciamos a primeira e mais bela das auroras boreais que veríamos durante a viagem(foto 3). Por volta da meia-noite, batidas na porta do nosso quarto chamavam para ver a aurora, que surgira de repente de forma intensa (também pode desaparecer repentinamente). E o hotel inteiro entra em um estado de excitação, todos correndo para ver a aurora. Só um pequeno problema: à noite, a temperatura lá fora era de cerca de -10oC e todos estávamos sob bons cobertores. Volta todo mundo para os quartos para colocar casacos e casacos sobre os pijamas, as meias, as botas... Nosso grupo teve muita sorte, pois presenciamos a aurora boreal por seis noites, enquanto há grupos que viajam por uma semana e não conseguem ver nenhuma. A aurora boreal (ou austral, na Antartica) ocorre após o choque de partículas eletricamente carregadas vindas do sol com gases de nossa atmosfera. Assim,

Foto 5: Vulcão Eyjafjallajökull e a fazenda localizada a seu pé, já existente muito antes da erupção.

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Foto 1: Vista da cidade de Reykjavik a partir da torre da Igreja Hallgrímskirkja

Foto 4: Geysir no momento da explosão

a possibilidade de visualização depende da intensidade das explosões solares, da ausência de poluição e luzes ao redor e de um tempo claro. São várias cores, sendo a verde a mais frequente, significando que a luz solar está colidindo com o oxigênio em baixas altitudes. Outras cores são menos comuns, como vermelho, azul e púrpura, mais associadas ao choque com oxigênio em altas altitudes e nitrogênio. Outro “mal-entendido”: a aurora boreal é visível nos polos norte e sul. Na verdade, ela é visível nos polos magnéticos da Terra, que não são exatamente localizados nos polos geográficos. Por exemplo, apenas a parte sul da Groenlândia e norte da Escandinávia conseguem ver a aurora. O único país inteiramente inserido no cinturão que corresponde ao polo magnético no hemisfério norte é a Islândia. Ou seja, de qualquer ponto do país você é capaz de admirar a aurora, mesmo nas cidades grandes. Voltando à aurora, é emocionante e indescritível: luzes paradas, de várias formas; luzes dançantes; verde, eventualmente avermelhada. E o céu? São tantas estrelas que parecem aqueles filmes em que pintam estrelas no céu. E você fica horas a fio admirando esse belo fenômeno da natureza, e esquece até do sono, frio e cansaço. Presenciamos a aurora boreal em muitos outros dias, mas não tão bela como neste primeiro dia. E mais um “mal-entendido”: não dá para fotografar a aurora de celular.

Foto 6: Vik: praia de areia preta (lava vulcânica)

Foto 3: Aurora Boreal e céu com inúmeras estrelas em foto cedida pelo amigo Ilan

Tem que levar uma boa máquina fotográfica e tripé, pois o tempo de exposição é longo. Degustação de ostras Nos dias seguintes, conhecemos outras tantas coisas belas. Mais à noroeste, fizemos um cruzeiro a partir de Stykkishhólmur (conseguiu falar?) com direito à degustação, no barco, de ostras colhidas na hora no fundo dos profundos fiordes. A rota conhecida como Golden Circle abrange a visita a uma área com vários geysers com erupções frequentes(foto 4), além de Gullfoss, impressionante queda d’água, mas com várias áreas congeladas, espetáculos impressionantes. Neste dia visitamos também uma área de criação de cavalos islandeses, que apresentam cinco tipos de marchas, algumas únicas. A criação destes cavalos é tão especial para o país que, uma vez que o cavalo tenha saído, ainda que para participar de competição ou exposição, não pode retornar sob a desculpa de portar alguma enfermidade. Em homenagem à minha grande amiga Cláudia Magalhães, da Unesp-Botucatu, praticante de hipismo, fiz uma filmagem das marchas e, quem quiser ver, é só me escrever. Hora de rumar para o sul e sudeste. Na parte sul da ilha, visitamos a impressionante área do vulcão Eyjafjallajökull (leu? é fácil: eia-fiátla-iocutl), aquele que parou o tráfego aéreo europeu em 2010. A seu pé, encontramos a mesma fazenda que lá havia antes(foto 5). Na Islândia ocorrem cerca de 300-400 abalos sísmicos ao mês, mas a maioria não é sentida. Eles dizem que, pior que as erupções, são as inundações que vêm com o derretimento das geleiras secundário ao aquecimento das explosões. Desde o final do primário é obrigatório o ensino de geologia, bem como os treinamentos para desastres naturais periodicamente após a adolescência. Tivemos a chance de conhecer muitas outras cachoeiras e quedas d’água muito bonitas. Outros pontos altos foram a praia de lava de vulcão em Vik(foto 6), com areia preta e vários acidentes pós derrames de lava dentro do oceano, e a localidade de Þingvellir, local que foi sede

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do parlamento islandês do ano 930 a 1798 e onde tivemos a chance de andar por um caminho que divide as placas tectônicas norte-americana da eurasiana, ou seja, de um lado, literalmente o submundo da Europa e, do outro, da América do Norte. Existe uma possibilidade de mergulhar nesta fossa oceânica, mas não tivemos tempo para isto. No último dia da viagem, uma visita inesquecível ao Glaciar Vatnajökull, repleto de icebergs flutuantes indo em direção ao mar; geleiras e mais geleiras, muitas focas à espreita. E, finalizando a viagem, após uma semana de ônibus pela Islândia, mais um relaxamento na Lagoa Azul, acompanhado de um jantar maravilhoso. E, já no fim do jantar, aquele rebuliço: a aurora boreal aparecia quase tão linda como da primeira vez, como que se despedindo do grupo. Por fim, “outro mal-entendido”: a população islandesa é toda loura, pela sua ascendência escandinava. Estudos recentes mostraram que mais da metade da população tem genes irlandeses! Para os vikings, era mais fácil e mais perto “roubar” mulheres na Irlanda do que na Escandinávia. É a história mesmo. A Islândia é um país bem caro, mas vale a pena conhecê-lo. Não creio que haja nada parecido, ou seja, tantas coisas diferentes em uma ilha relativamente pequena (ao menos a parte habitável). Notei que o ideal é conhecer este país em duas ocasiões, verão e inverno, pois parecem dois lugares muito diferentes. No verão, com o degelo, os rios e as cachoeiras ficam muito mais bonitos, como pude verificar nas fotos, e é possível fazer muitas caminhadas pelo interior das geleiras. Mas é no inverno, com o clima hostil, que o branco que cobre o país torna tudo muito enigmático e silencioso, e ficamos pensando em como somos pequenos diante da força da natureza. Natureza que, neste país, é “extrema”. Fogo e água que forjaram as sagas, palavra esta de origem islandesa, que são as narrações, histórias e lendas muito interessantes deste povo. E só quem for lá entenderá o real significado do que seja “saga”.

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coluna sEda

Curiosidades e dúvidas na história da artrite reumatoide Hilton Seda

N

Dedicado ao professor dr. João Francisco Marques Neto

a história da artrite reumatoide devem ser considerados dois aspectos: sua descrição como entidade autônoma e a precedência de sua denominação. Como não é raro acontecer em relatos históricos, existem pequenas divergências em relação ao assunto. Classicamente, afirma-se que a primeira individualização da doença foi feita por Augustin-Jacob Landré-Beauvais, em tese defendida em Paris em 1800, na qual foram descritos nove casos de mulheres que sofriam de uma doença considerada como variante da gota, por isto denominada “goutte asthenic primitive”. Nessa tese foi estabelecida uma diferença básica: a “gota astênica primitiva” (artrite reumatoide) ocorreria mais nas classes pobres, “com fraqueza primária”, a gota propriamente dita, nas pessoas abastadas e robustas. Também foi mostrado que a doença era mais frequente no sexo feminino. Estudo histológico revelou destruição cartilaginosa provocada por tecido de granulação(1,2). Contrariando o geralmente admitido, Jónsson e Helgason publicaram, em 1996, trabalho no qual afirmam que a primeira descrição da artrite reumatoide foi feita em livro texto da Islândia, datado de 1782, por Jón Pétursson (17731801), que distinguia a “arthritis fixa” da “arthritis vaga”, descrita como uma artropatia inflamatória frequente, crônica, simétrica, destrutiva, poliarticular, às vezes apresentando manifestações sistêmicas, acometendo pessoas de todas as idades, com maior incidência em torno dos 40 anos e predominância feminina(3).

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Suspeita-se que ele próprio tenha sofrido de artrite reumatoide para explicar sua excelente descrição. Outras contribuições importantes foram aparecendo, gradativamente, para ampliar o conhecimento clínico sobre a artrite reumatoide. Em 1819, Benjamin Collins Brodie (1783-1862), fisiologista e cirurgião britânico, acentuou sua lenta evolução como também o fato de atingir, além das articulações, bolsas e tendões. Jean-Martin Charcot (1825-1893), consagrado clínico e psiquiatra francês, fez, em 1867, excelente diferenciação entre gota, febre reumática, osteoartrite e “reumatismo crônico” (artrite reumatoide), salientando que este era mais comum que a gota no Hospital da Salpêtrière, onde atuava. Artrite reumatoide como designação É interessante lembrar que o prédio desse hospital foi construído no século XVII para abrigar, inicialmente, uma fábrica de pólvora. A designação artrite reumatoide só apareceu em 1858, criada por Alfred Baring Garrod (1819-1907), justificando sua escolha porque “o nome não implicaria em qualquer erro”(1). O filho de Alfred Baring Garrod, Archibald Baring Garrod (1857-1936), continuou

a tradição do pai no estudo da artrite reumatoide e demonstrou que a alcaptonúria era doença causada por um erro metabólico herdado(4). Em 1922, o British Ministery of Health adotou oficialmente a designação de artrite reumatoide para a doença e, em 1956, a American Rheumatism Associacion (ARA), posteriormente denominada American College of Rheumatology (ACR) criou o primeiro critério para o seu diagnóstico(1). Um fato que desperta curiosidade é saber se a artrite reumatoide é uma doença antiga ou relativamente moderna. Contrariamente ao que se sabe sobre a osteoartrite, já descrita em esqueletos pré-históricos(5), não há dados concretos que permitam estabelecer, com segurança, quando surgiram os primeiros casos de artrite reumatoide. Existiria já no século XVII? É possível, tendo em vista que Thomas Sydenham (1624-1689) já fazia referência a deformidades em pescoço de cisne nos dedos das mãos de reumáticos, alteração encontrada na artrite reumatoide, mas

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não patognomônica. Viana de Queiroz salienta que, à época, a febre reumática era muito prevalente e, por isto, essas lesões poderiam ser resultantes da síndrome de Jaccoud(2). Outra fonte que pode auxiliar a desvendar este mistério é a iconografia. Realmente em algumas pinturas podem ser vistas deformidades que lembram as encontradas na artrite reumatoide. Alguns exemplos: “Virgem” de Rogier van der Weiden (1400-1464); “Cristo benzendo São Pedro” de Jan Rombauts (1480-1535); “Retrato de um jovem” e “Madonna Bardi” de Sandro Botticelli (1445-1510); e “A família do pintor” de Jacob Jordaens (1593-1678)(6). Se essas pinturas representam, realmente, doentes reumatoides é possível aceitar que a doença já existiria, pelo menos a partir do século XV, mas a pintura mais característica, de Jacob Jordaens, é do século XVII. Viana de Queiroz(2) refere-se a uma teoria de Rothschild et al, publicada em 1992, que sugere que a artrite reumatoide nasceu na América e foi levada para a Europa no século XVIII. Nesse trabalho, os autores identificaram lesões ósseas características da doença em 36 esqueletos de índios americanos (ameríndios), do período compreendido entre 4300 e 5500 a.C. A doença ter-se-ia espalhado de uma região entre o Rio Verde (Kentuck) e um afluente do Tennessee para o resto do continente americano. Tinha como característica: ser erosiva, mais frequente no sexo feminino, afetando, em média, 12 articulações periféricas simetricamente, mostrando erosões marginais nos ossos do carpo, das metacarpo e interfalangeanas proximais e das metatarsofalangeanas, poupando as interfalangeanas distais e as sacroilíacas. Esta teoria pode ter fundamento, mas o assunto permanece em aberto. Tratamento Outro aspecto a ser discutido refere-se ao tratamento da artrite reumatoide.

Diante do desconhecimento do momento exato em que a doença foi identificada, fica difícil definir, com segurança, a época em que se iniciou o tratamento especificamente a ela dirigido. De qualquer forma, de um modo simplista, pode-se supor que consistiu, basicamente, na Idade Média, de sangrias e purgantes; a partir de 1876, salicilatos; em 1884, antipirina; em 1887, fenacetina; em 1893, piramido; em 1899, finalmente a aspirina. No século XX, até cerca de 1940: remoção de focos (19121940); vacinas (1915-1940), utilizadas, inclusive, por figuras importantes como Russel Cecil e Philip Hench; irrigação do cólon (1915-1940); enxofre coloidal (1917-1938); aminopirina (1927-1934); ouro (a partir de 1929)(1). No início do século XX havia uma variedade de propostas para o tratamento da artrite reumatoide, em sua maioria ineficientes e, eventualmente, prejudiciais, o que levou o famoso clínico R. L. Cecil a criar uma lista terapêutica satírica, para salientar a situação, que ia de A a Z: Aspirin, Bee venom, Climate, Diathermy, Exercices, Fever therapy, Gold salts, Hydrotherapy, Iron, Joint surgery, KI, Low-calory diet, Massage, Neo-salvarsan, Orthopedics, Psycotherapy, Questionable methods, Rest, Spas, sulphur, Transfusions, Ultraviolet light, Vaccines, vitamins, X-ray therapy, Young & Youman’s iodoxyl, Zero therapy (do nothing) & (and so on)(7). Uma revolucionária mudança no cenário aconteceu durante o 7th International Congresso on Rheumatic Diseases, em New York, em 1949, quando Philip Hench, depois ganhador do Prêmio Nobel, e seus colaboradores apresentaram os

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primeiros resultados do uso da cortisona no tratamento da artrite reumatoide. Esta descoberta constituiu-se em grande incentivo para o estudo das doenças reumáticas: “It led to research into the mechanisms of inflammation, the role of immunology, genetics, and biochemistry in the rheumatic diseases, and sparked many other studies of the etiology and pathogenesis of arthritis”(8). Após o aparecimento, em 1950, da fenilbutazona, o primeiro anti-inflamatório não hormonal, outros foram comercializados, como também entraram na terapêutica da artrite reumatoide medicamentos tidos como capazes de influenciar sua evolução, os chamados DMARDS (Disease Modifyng Antirheumatic Drugs) que incluem ouro, antimaláricos, D- penicilamina, azatioprina, ciclofosfamida, sulfasalazina, metotrexato, leflunomide, ciclosporina. Mais recentemente, uma nova perspectiva surgiu com os denominados “biológicos”, aquisição importante que pode abrir novos caminhos na direção da cura da doença. Referências 1

Seda H: A evolução do tratamento da artrite reumatoide, in História da Reumatologia (Viana de Queiroz M, Seda H, Editora Kaligráphos, Porto Alegre, 2007).

2

Viana de Queiroz M: História da artrite reumatoide alusiva a Sir Alfred Baring Garrod e a Jean-Martin Charcot (idem).

3

Jónsson H, Helgason J: Rheumatoid arthritis in na iceland textbook from 1782, Scand J Rheumatol 25: 134-137, 1996.

4

Seda H: A importância dos Garrod na evolução da reumatologia. No prelo.

5

Seda H: Aspectos históricos da osteoartrite/osteoartrose in História da Reumatologia (Viana de Queiroz M, Seda H, Editora Kalligráphos, Porto Alegre, 2007).

6

Castillo-Ojugas A, Castilo Aguilar S: La Reumatologia em el Arte, Editorial Médica Internacional S.A., Madrid, 1987.

7

Cecil RL: Rheumatoid arthritis: a new approach to the disease, JAMA 100: 1220-1227, 1933.

8

Smyth CJ, Freyberg BH, McEwen C: History of Rheumatology in the United States, Arthritis Foundation, Atlanta, 1985.

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foco

Em

Ambulatório da UEM foi criado em 1993 Exclusivamente para atendimento do SUS, o espaço foi ampliado em 2009, quando, de uma vez por semana, o atendimento passou a ser diário.

O

curso de Medicina da Universidade Estadual de Maringá (UEM) teve início em agosto de 1988 e a disciplina de Reumatologia, ministrada para o quarto ano, foi implantada a partir do segundo semestre de 1992, com a contratação do prof. Paulo Roberto Donadio. Um ano após, com a contratação do prof. Marco Antonio Araújo da Rocha Loures, foram iniciadas as atividades do Ambulatório de Reumatologia, todas as terças-feiras no período da manhã. Este ambulatório, exclusivamente para atendimentos do SUS, foi ampliado a partir de 2009, passando a ser diário, possibilitando a implantação do Programa de Residência Médica em Reumatologia em 2010, aprovado pela CNRM através do parecer 479/2010, de 16/12/2010. Na graduação, a Disciplina de Reumatologia é coordenada pelo prof. Marco Antonio Araújo da Rocha Loures, e a residência está sob a supervisão do prof. Paulo Roberto Donadio, que conta ainda com a valiosa colaboração dos professores Cássia de Fátima Monteiro Franchini e Felipe Merchan Ferraz Grizzo, e da ex-residente Eliane Alves de Freitas Souza, como voluntária. Integração Os atendimentos ambulatoriais são realizados todas as manhãs no Ambulatório de Especialidades do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM), para toda a gama de doenças da especialidade, distribuídas em atividades gerais e específicas, para artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico. Esta última atua de forma integrada com a nefrologia, com a participação do prof. Sergio Seizi Yamada. Também de forma integrada são feitos os atendimentos com a dermatologia, com a participação

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Equipe que atua no serviço de reumatologia da UEM, em Maringá (PR).

da profa. Fabíola Menegoti Tasca e da dra. Roberta Ayres F. Volpe, e com a pediatria. A média atual de atendimentos é de dez pacientes/dia. Os médicos residentes participam de atividade integrada semanal com o Programa de Residência Médica de Medicina da Família e Comunidade, discutindo casos de pacientes com as doenças reumáticas mais prevalentes, que fazem parte do dia a dia do clínico. As internações da especialidade são realizadas nas enfermarias da Clínica Médica do HUM, além de serem atendidas as interconsultas nas outras enfermarias do hospital. Estágios Além das atividades ambulatoriais e de enfermaria, os residentes desenvolvem estágios em serviços de Fisioterapia, Diagnóstico por Imagem e Laboratório de Imunologia, e os R4 passam 30 dias em outra instituição de ensino convenia-

da, geralmente em São Paulo ou Curitiba. Seminários, discussões clínicas e de artigos são desenvolvidas semanalmente. O primeiro médico residente, Marcelo de Loyola e Silva Avellar Fonseca, cursou o programa em 2010-11. Concluíram também Clarissa Sousa e Eliane Alves de Freitas Souza, e atualmente terminando o R4, Priscilla Heriny Versari Prajiante. Juliana Lustoza Mauad Forastiero, R4, e Felipe Cayres Nogueira da Rocha Loures, R3, são os atuais residentes. Em 2014 foi desenvolvido treinamento para clínicos da rede básica do município de Maringá (PR), com ênfase para as doenças reumáticas mais comuns e que podem ser avaliadas por estes profissionais, o que contribuiu de forma significativa para a redução da fila de espera por consultas da especialidade. O sucesso desta experiência foi estimulante para que seja reprisada com outras turmas.

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além

da

r E u m ato lo g i a

Corrida e exercício todos os dias, esteja onde estiver Em São Paulo, em viagens pelo Brasil ou pelo exterior, o reumatologista pediátrico Clovis Artur Almeida da Silva jamais deixa de correr ou fazer atividade física diariamente. Maria Teresa Marques Jornalista responsável pelo Boletim SBR

le corre quatro vezes por semana e faz bicicleta ou transport duas vezes por semana. E não importa se são tempos de cotidiano normal, se são férias ou se está em viagem a trabalho. Esteja onde estiver, ele procura a academia mais próxima para passar duas horas na esteira e no transport ou bicicleta. Isso de segunda a sexta. Aos domingos, ele corre cerca de 16 km na rua, mais especificamente no Parque Villa Lobos, em São Paulo. Só “descansa” no sábado, quando vai caminhar na rua. Esse é o reumatologista baiano Clovis Artur Almeida da Silva, que conta muito animadamente estar “viciado” em correr. Atualmente ele vive em São Paulo, onde veio fazer residência na Universidade de São Paulo (USP) e acabou ficando na capital (isso há 26 anos). Em 92, lembra Clovis, ele cumpriu residência em reumatologia pediátrica, sendo um dos pioneiros na área como residente. Depois passou num concurso para reumatologia pediátrica, tornou-se médico assistente, fez mestrado, doutorado, livre docência e por fim é hoje chefe do grupo no Departamento de Pediatria do Hospital das Clínicas. E desde 2013 é professor associado da Faculdade de Medicina da USP. Cotidianamente, ele passa o dia inteiro no Instituto da Criança, no Hospital das Clínicas, de onde sai apenas em torno das 18h, 19h. Nas terças-feiras está, à tarde, em seu consultório. Paralelamente, enfrenta o rigoroso e prazeroso dia a dia de exercícios físicos que começam muito cedo, já que ele levanta diariamente às 5h da manhã. E,

como já se notou neste texto, a corrida não é um simples hobby, mas uma séria paixão. “Eu sempre fiz atividade física, mas, por conta dos estudos universitários, deixei-a um pouco de lado”, lembra. Em 96, porém, durante o mestrado, ele resolveu voltar, até porque tem linha genética de diabetes e pressão alta e quis cuidar-se. Com 1,78m de altura, ele pesava 80 kg na época. Hoje pesa 65kg. “Quando recomecei, eu disse ao instrutor na academia: ‘Se eu passar seis meses aqui fazendo aeróbico, te dou um litro de uísque’”. O resultado é que a corrida foi entrando cada vez mais em seu dia a dia. A ponto de, desde 2000, ele participar da corrida São Silvestre, realizada na cidade de São Paulo anualmente. “A primeira vez em que cheguei ao final chorei de felicidade”, conta. Ele chama a São Silvestre de “o prazer do ano”, porque corre nela cantando, rindo ou ouvindo música.

Viagens Clovis, por conta da profissão ou férias, é viajante frequente ao exterior, mas isso em absoluto o impede de correr. “Passei três meses na Califórnia e corri todos os dias”, diz ele, contando que a primeira coisa que põe na mala é sua roupa de corrida. “Nem nas férias eu largo a atividade. É meu combustível para acordar”, conta. Ele chega a dizer a seus alunos que durante as corridas tem ideias para pesquisas. Clovis explica que se depara, no hospital, com frequência com casos de alta complexidade e, como chefe, tem de enfrentar tudo com firmeza. E conta para isso com a sua santa corrida de cada dia, claro. “O esporte me ajuda demais. É muito difícil me ver desanimado e sei que tiro minha energia da corrida”, diz. Ah, detalhe... Após os seis meses na academia, ele presenteou o personal, Ricardo, não com um, mas com dois litros de uísque.

A CHARGE DO PLÍNIO

E

Nas viagens, o cotidiano de exercícios físicos não muda. Aqui está Clovis em Sidney, na Austrália.

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