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Sumário - Edição 28 Jan/Fev - 2018 www. virtualcult.com.br [email protected] SUMÁRIO - EDIÇÃO 28 REVISTA KUKUKAYA Editorial Oreny Jr...
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Sumário - Edição 28 Jan/Fev - 2018

www. virtualcult.com.br [email protected]

SUMÁRIO - EDIÇÃO 28 REVISTA KUKUKAYA

Editorial Oreny Jr.

04

Insegurança Pública - Novo Ano, Velho Caos José Antonio Aquino

05

Resenha Crítica da Obra “Blattodea” - Júnior Dalberto Sandemberg Oliveira

10

Entrevista Michelle Paulista

16

Perfis Literários - Wescley J. Gama Thiago Gonzaga

19

A Permanência do Fascismo Homero Costa

20

Bocadinho de Prosa - IV Clauder Arcanjo

25

Ícones do Riso Manoel Onofre Jr.

26

Os Temores da Morte e as Doenças da Alma na Poesia de Lucrécio Antonio Júlio

29

Paciência com Deus Josuá Costa

32

Algumas Reflexões Sobre a Educação Brasileira José de Castro

34

Cego de Amor

Weidde Andrino

38

Projetos Humanos Ana Luiza Rabelo A Biopolítica Imperialista da Globalização Neoliberal Francisco Ramos Limites Invisíveis - Grandes Momentos da Poesia Thiago Gonzaga (ORG)

39 40 42

Artista Plástico Homenageado Franz Kline

56

M Revista de Circulação bimensal. É uma publicação integrante do site: WWW.VIRTUALCULT.COM.BR.

Envio de Artigos: [email protected]

Diretor Geral Alfredo Ramos Neves Editor Oreny Júnior

Thiago

Gonzaga,

José

Antônio

Aquino

(Nenoca),Sérgio Santos, Aluísio Azevedo Jr. Marcos Medeiros, Marcos Guerra, Francisco Ramos, João Cavalcante, Luiz Carlos Petroleiro, Maurício Miranda, Valdecy Feliciano, Fátima Maria de Oliveira Viana, Márcio Dias, Herbert Martins, Manoel Onofre Jr. Getúlio Moura, José Araújo (Dedé Araújo) Professor Manoel Nazareno da Silva, Jardia Maia e Ozany Gomes.

as o que vem a ser literatura, senão um ajuntamento de emoções, transformado em palavras, palavras em textos, em expressões diversas, romances, contos, poesias, crônicas, prosas. Um eterno sentimento bíblio, de forma oral, escrita, visual, isso é literatura. Literatura é um prato de feijão com arroz saciando a fome do homem, é um livro chegando às mãos e aos olhos de um menino faminto por leitura. E o prazer da literatura é transformá-la em direitos, direitos aos cidadãos, um direito básico, básico como se alimentar, trabalhar, descansar e dormir, parafraseando o mestre Antônio Cândido. Cultivar a terra molhada, arar, plantar e colher, isto é literatura. Literatura é a loucura às machadadas de Raskolnikov. Literatura é o cio endiabrado de Diadorin em veredas e florestas de buritizais. Literatura é a fé cética nos revoltosos de Antonio Conselheiro. Literatura são as pelejas seridoenses de Ojuara. Literatura são as bruxarias do Cosme Velho, na beleza de Capitu e na inocência de Bentinho. Literatura é o mamulengo de Chico Daniel, são as contações de Dona Militana, o coco de Chico Antonio. Literatura é colecionar crepúsculos, numa eterna observância do nosso guardião mor, Luís da Câmara Cascudo.

São olhos, retinas deslizando sobre imagens, pulsando corações, desassossegando espíritos inertes, letárgicos, levando o homem aos mais longínquos lugares, reais, fictícios, isto é literatura. Ensopar o pão no café, imergir a colher num prato cheio de cuscuz com ovo, isto é literatura. E o direito à literatura, onde está? Está no interesse que o homem deve ter pela leitura, está no interesse que o autor deve ter em trazer, em pregar em salas de aulas, em auditórios, nas calçadas, nas ruas. E o prazer na literatura, onde está? Está quando um menino confronta-se com CABRA DAS ROCAS, O MENINO DE ASAS, O MEU PÉ DE LARANJA LIMA, VIDAS SECAS, DOM CASMURRO, A PRIMEIRA FEIRA DE JOSÉ, O MUNDO DE SOFIA, ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, CRIME E CASTIGO, OS SERTÕES, GRANDE SERTÃO, VEREDAS. A literatura deve ser a nossa lição diária de cada dia, sonhada, vivida, transcrita, dita, LITERATURA, salve-me deste mundo desvalido, ingrato, inumano, LITERATURA, dai-me a eterna vontade de aprender, de poder dividir de graça, o que de graça recebi, LITERATURA, bem dita sejas, amada LITERATURA.

O

ano de 2017 se en-

O ano novo se iniciou

cerrou como um dos

com a esperança de que uma

anos mais complexos

nova realidade fosse nessa área;

para a segurança pública no Bra-

Ledo engano. A dura realidade

sil. O absurdo crescimento dos

dos índices de violência revelam

índices de violência, em todos os

que não superamos a fase mais

seus aspectos, consolidou de

aguda do total descontrole dessa

uma vez por todas a mudança de

fundamental área de atuação do

hábitos do cidadão brasileiro. A

Estado Brasileiro.

* José Antônio Aquino Policial Federal Presidente do Sindicato dos Policiais Federais no RN Pós graduado em análise de sistemas – UFRN MBA – FGV Conselheiro do COEDHUCI

precaução, o aumento dos cuidados básicos com a segurança da vida e de seus bens tornou-se rotina, quando não, o medo, o terror, a fobia diante de dados de mortandade cada dia maiores, instalaram-se de vez no cotidiano do Brasileiro.

Os dados apresentados pelo Observatório da Violência mostram que no Rio Grande do Norte, a barbárie continua, o número de homicídios registrados totalizou apenas duas mortes a menos que idêntico mês de

2017.

Nunca é demais lembrar que no janeiro anterior

um agravante, enquanto nesses dois países

o massacre de 26 pessoas, conforme dados ofi-

tem se constatado uma redução no encarcera-

ciais, no presídio de alcaçuz contribuíra forte-

mento, no Brasil a quantidade de presos só au-

mente para elevar o quantitativo de mortandade

menta. Vale enfatizar que, segundo a agência

naquele período. Ou seja, como em .2018 não

Brasil mais de 40% dos presos brasileiros se-

ocorrera nada parecido, em última instância os

quer ainda foram julgados, são os chamados

assassinatos nas ruas potiguares infelizmente

“presos provisórios”.

aumentaram.

Resta-nos uma pergunta elementar: O que

Vale ressaltar que, conforme o Anuário

está acontecendo, aonde está o erro? O que

Brasileiro de Segu-

tem levado a tal caóti-

rança Pública, em

ca situação, quais as

2016 a violência e

perspectivas

criminalidade

ções?

no

País já haviam ceifado

a

vida

solu-

A priori, vale res-

de

saltar que sempre que

61.283 brasileiros e

os atuais gestores da

que tal número de

segurança pública em

homicídios colocava

seus mais variados ní-

o País entre as dez

veis são indagados so-

nações mais inse-

bre a contínua escala-

guras do mundo. Em

e

da de violência e mor-

função

tandade em que o País

de tal mortandade o

está inserido, respon-

Brasil se tornou um

dem o mesmo eterno

dos Países em que

mantra: “Falta de ver-

mais se mata na améri-

Infografía: El Mercurio | Fuente: Insight Crime

bas e pessoal”. Impressiona que nem

ca latina e no mundo. Vide infográfico abaixo.

mesmo nesta tosca resposta, haja qualquer mo-

Note-se a imensa diferença da taxa de homicí-

dernização.

dios entre Brasil, Argentina e Chile. Por outro lado, quando se observa os da-

Ocorre que, quem

se debruça sobre o

atual modelo de atuação dos Órgãos de Segu-

dos sobre as pessoas que estão sob custódia

rança Pública no

Brasil facilmente percebe

do Estado Brasileiro se verifica que nós temos a

uma

terceira maior população carcerária do mundo,

bremaneira

atrás apenas de Estados Unidos e China. Com

bre o avanço da criminalidade, senão vejamos.

série de absurdos qualquer reação

que impedem sodo Estado so-

A atuação das Polícias Brasileiras, subdivi-

A não ocorrência de uma atuação efetiva-

didas em Polícias ostensivas e investigativas

mente integrada, sob um mesmo comando, tem

provocou um absurdo sob o ponto de vista de

gerado um absurdo. As Polícias Militares pren-

gestão; O Estado para exercer seu exclusivo

dem, fundamentalmente em situação de flagrân-

direito de utilização da força, o tenha que fazer

cia, todavia a estrutura organizacional criminosa

de forma separada, distinta e praticamente sem

que tem dado suporte à prática criminosa, em

integração. A despeito dos inúmeros avisos dos

geral sequer é atingida. Com o agravante de

especialistas em tão delicada área, alertarem há

que os chamados “peixes pequenos”, na cadeia

tempos acerca de tão grave problema, O resul-

vão ou já estão servindo de exército para as

tado de tal erro estratégico está sendo sentido,

facções criminosas. Em última instância o pró-

literalmente, na pele pela Sociedade Brasileira.

prio Estado fomenta a força da criminalidade.

Enquanto o crime age de modo integrado as policiais, no Brasil, atuam segmentadas, na contramão do que é realizado pelos Estados em todo o mundo.

Por outro lado, as polícias investigativas brasileiras apresentam parcos índices de produtividade, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública a taxa de elucidação de ho-

É inadmissível, por exemplo que a atuação

micídios no brasil flutua entre 5 a 8%. Este fato

das polícias ostensivas ainda ocorra, no Brasil,

ocorre porque por questões meras de corporati-

sem que seja realizado previamente um efetivo

vismo os gestores de tais polícias decidiram, em

trabalho de inteligência policial que norteie a

uma decisão absurda, exigir que para a investi-

atuação do Estado de modo que o combate à

gação policial estivesse inserida sempre em um

criminalidade seja eficaz e certeiro. Como se

inquérito policial, sabidamente um expediente

pode compreender que a investigação criminal

burocrático, improdutivo e contraproducente.

no Brasil, seja exceção, ocorra apenas em algu-

Resultado: A investigação policial brasileira pra-

mas “ilhas” de excelência ao invés de como

ticamente inexiste. Já o inquérito policial tem

ocorre nos principais países do mundo, serem

funcionado fundamentalmente como “arma” de

os “carros chefes” das polícias investigativas. A

defesa mera de interesses classistas dos dele-

resposta a esse questionamento também é sim-

gados de polícia.

ples e objetivo: Esse erro de atuação policial existe por uma questão de má gestão e completo desvirtuamento do objetivo do órgão policial, que foi inflado com excesso de burocracia desnecessária, a chamada “Polícia Judiciária” que nada mais é do que um “elefante branco e perdulário”, servindo apenas a interesses classistas de seus gestores.

Daí se ter um dos fatos mais paradoxais, na área em tela, no Brasil; A despeito de se ter a terceira maior quantidade de presos do mundo, os índices de criminalidade continuam a aumentar. Ou seja, o Brasil prende muito, gasta muito com a atuação das polícias mas prende muitíssimo mal. Enquanto isso o Estado Brasileiro tem sido incapaz de realizar a persecução

criminal sobre os criminosos mais importantes.

Essa tese é facilmente comprovada. Em

não conseguem cumprir seu mister. E qual o

Janeiro deste ano o exército foi novamente

motivo? Também de forma direta se obtém a

convocado a reforçar o policiamento no estado.

resposta: O modelo excessivamente burocráti-

O próprio comandante da força fez o seguinte

co e pouco objetivo adotado na investigação

comentário: “Em um ano e meio, fomos empre-

policial nacional tornou-se, propositalmente,

gados três vezes no Rio Grande do Norte e,

moroso, ineficaz e totalmente obsoleto. A ges-

nesse espaço de tempo, não houve nenhuma

tão da investigação também é outro absurdo,

modificação estrutural no sistema de segurança

posto que a experiência policial, item funda-

pública naquele estado. E nós sabemos que

mental, é sub ou não aproveitada.

logo seremos chamados a intervir novamente”.

Enquanto, como vimos no parágrafo anterior, o

Logo em seguida, o Ministro da defesa,

crime se organiza e “se reinventa”, os gestores

Raul Jungman, afirmou que “Sistema de segu-

das policiais teimam em não querer modernizar

rança no País está “falido””, em uma explícita

a força policial do Estado, com o único objetivo

referência à ineficiência do atual modelo de se-

de amealhar “benesses” para suas categorias.

gurança pública brasileiro que tem se mostrado

Enquanto isso nossa população vai ficando a

incapaz de enfrentar a criminalidade.

cada dia mais refém do crime e presa em suas

Recentemente no Estado do Ceará, ocorreu uma chacina em que, a priori, foram mortas 14 pessoas em um mesmo local na cidade de Fortaleza, logo em seguida, em um presídio na cidade de Itapajé ao menos dez pessoas tiveram suas vidas ceifadas em um confronto entre

próprias casas, além de inflar inevitavelmente o chamado “custo Brasil”. A prova disso é que o

nosso País tem um dos maiores custos de transportes de carga do mundo, uma vez que o gasto com seguros é alto, uma vez que o roubo de carga no brasil é altíssimo.

grupos rivais. Já no Rio de Janeiro, o jornal “O

Um dos Países latinos que tiveram a cora-

Globo” estampou no mesmo período: “União de

gem de enfrentar os grupos corporativistas que

tráfico e milícia avança no Rio e é novo risco à

se instalam e sugam o

segurança no estado”.

modelo de polícia

Qualquer cidadão mediano em nosso País sabe que existe uma “guerra” entre grupos de criminosos em praticamente todos os Estados. Resta pois, uma elementar pergunta: Por que os Órgãos de segurança pública não conseguem debelar, inibir, se antecipando de modo a evitar o terror em que nossa sociedade está inserida? A resposta é óbvia e simples: Porque as polícias investigativas que atuam no Brasil

Estado e mudaram o

investigativa está o Chile

que, como vimos na segunda tabela deste artigo apresenta uma taxa de homicídios da ordem de 3,3

pessoas por

cada grupo de

100.000 habitantes, enquanto nossa triste nação se mantém refém

de um modelo caro e

ineficiente e vê a triste taxa de mortes

es-

tar na ordem de 29,7, infelizmente com tendência clara brar

lados

de aumento. Nunca

que no Chile

é demais lem-

verificam-se dois postu-

elementares de polícias de sucesso:

Ciclo completo de polícia e carreira única na

http://www.emol.com/noticias/

estrutura organizacional.

Internacional/2018/01/22/892136/Tasas-de-

Diante disso tudo, necessário se faz um grande esforço do conjunto da sociedade para que efetivas medidas buscando reformular por completo o atual modelo de atuação policial brasileiro de modo que o Estado possa recuperar o “terreno perdido”, sob pena de ser tarde demais.

José Antônio Aquino Policial Federal Presidente do Sindicato dos Policiais Federais no RN Pós graduado em análise de sistemas – UFRN MBA – FGV

homicidios-registran-altos-y-bajos-enAmerica-Latina-durante-el-2017.html https://g1.globo.com/politica/noticia/ comandante-do-exercito-se-diz-preocupadocom-constante-emprego-de-militares-emacoes-de-seguranca-publica.ghtml https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/ criminosos-invadem-festa-de-faccao-rivalmatam-varias-pessoas-e-ferem-dezenas-emfortaleza.ghtml

https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/ itapaje/2018/01/conflito-entre-faccoes-nopresidio-de-itapaje-deixa-pelo-menos-oitopr.html

Conselheiro do COEDHUCI

Referências: Obvio: Observatório da violência letal intencional no RN

http://politica.estadao.com.br/blogs/faustomacedo/ministerio-da-seguranca-publicapode-inaugurar-gestao-integrada/? amp&__twitter_impression=true (acessado em 28/01/18 às 21:15) http://www.emol.com/noticias/ Internacional/2018/01/22/892136/Tasas-dehomicidios-registran-altos-y-bajos-enAmerica-Latina-durante-el-2017.html (acessado em 28/01/18 às 20:05) Fuente: Emol.com - http://www.emol.com/ noticias/Internacional/2018/01/22/892136/ Tasas-de-homicidios-registran-altos-y-bajosen-America-Latina-durante-el-2017.html

https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/ itapaje/2018/01/nova-chacina-deixa-pelomenos-dez-mortos-na-cadeia-de-itapaje.html http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/ noticia/2017-12/populacao-carceraria-dobrasil-sobe-de-622202-para-726712-pessoas https://www.nexojornal.com.br/ expresso/2016/04/27/EUA-R%C3%BAssia-eChina-reduzem-taxa-de-presos.-Brasilaumenta https://oglobo.globo.com/rio/traficantesmilicianos-sao-responsaveis-por-80-doshomicidios-do-estado-22337797

http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/ noticia/2017/01/rebeliao-mais-violenta-dahistoria-do-rn-tem-27-mortos-dizgoverno.html

Dalberto, Junior Blattodea: contos / Junior Dalberto – 1. Ed. – Natal [RN]: CJA Edições, 2017

J

unior Dalberto, pseu-

Nietzsche, quando este afirma

dônimo

Alberto

em sua analogia psicanalítica

Barros da Rocha Juni-

de que somos um campo de

or, é escritor, dramaturgo, dire-

batalha, então, é a partir da ob-

tor teatral, poeta potiguar e po-

servação comportamental de

licial federal aposentado.

alguns personagens que essa

de

É premiado com quatro

analogia é feita. O uso do ver-

troféus Evoé – Festival de Tea-

bo Dizer, flexionado em seu

tro Exu Pernambuco em 2015 e

Imperativo Afirmativo pelo autor

indicado ao Botequim das Artes

do prefácio encerra uma leitura,

do Rio de Janeiro pelo texto

numa analogia que se manifes-

Bouderlaine. Premiado com o

ta semioticamente no verbo, de

Potiguar. Pós-graduado em Lei-

Troféu Cultura 2016 – Melhor

egocentricidade e imposição de

tura

FAL-

Espetáculo Potiguar por Ventre

relevância. A obra, em suma,

NATAL. Pós-graduado em Leitu-

de Ostras – Troféu Cultura

apresenta um conto de caráter

ra e Produção de texto pela

2014 – Destaque Literário Poti-

ficcional, mas com parâmetros

guar. Representou a cidade de

realistas, logo, perceptivelmen-

tral pela GIRART – CIA de Arte

Natal no III EELP – Encontro

te a psicologia Machadiana é

e Teatro. Cenografista e Figuri-

de Escritores da Língua Portu-

apresentada, quando é possí-

nista. Poeta e Ator e pesquisa-

guesa. Integrou a Caravana

vel atribuir a vida enquanto

dor em Literatura e Cultura Poti-

Literária Potiguar. Integra o

campo de batalha e do quanto

projeto Carrossel da Leitura e é

precisamos lutar para sobrevi-

autor de várias obras literárias,

ver,

as quais ressalto aqui Blatto-

teoria apresentada pelo perso-

dea, objeto de análise crítica,

nagem

tendo como prefaciador, o tam-

Memórias

bém escritor João Andrade.

Brás Cubas acerca do Humani-

Notadamente a preocupação

tismo, teoria cientificista que

do autor do prefácio em articu-

diz: Suponha que há um campo

lar uma relação da obra citando

de batatas além do vale e que

Sandemberg

Oliveira

de

Almeida — Graduado em Letras pela UnP – Universidade e

Literatura

pela

UFRN. Professor de Língua Portuguesa e Literatura. Diretor tea-

guar pelo NELCP – Núcleo de Estudo em Literatura e Cultura Potiguar - IFRN

assim, explica aqui a Quincas Borba, em Póstumas

de

duas tribos famintas precisam se alimentar e

dicionados a sofrer quando diante de algo que

descobrem esse lugar. As batatas apenas che-

nos tire o conforto, da necessidade que temos

gam para alimentar uma das tribos, que assim

do amparo alheio, sob o quanto a presença do

adquire forças para transpor a montanha e ir à

outro na nossa vida nos conduz à fortaleza hu-

outra vertente, onde há batatas em abundân-

mana. Em suma, esses apontamentos são rea-

cia; mas, se as duas tribos dividirem em paz as

firmados pelo autor, essa constante batalha

batatas do campo, não chegam a nutrir-se sufi-

que é viver, quando subjugados pela dor, pela

cientemente e morrem de inanição. A paz, nes-

perda, pelo ócio, incumbindo e mergulhando a

se caso, é a destruição; a guerra é a conserva-

alma no algoz perene do sofrimento, no mar

ção. Uma das tribos extermina a outra e reco-

cáustico do desassossego, quando é preciso

lhe os despojos. Então, aos vencidos, ódio ou

lutar.

compaixão; aos vencedores, as batatas e a

Arthur Schopenhauer dizia que lr é pen-

glória. Entendendo que essa atitude é denomi-

sar com a cabeça dos outros, assim, tão facil-

nada como atitude de luta pela sobrevivência,

mente encontramos outras leituras refratadas

puro existencialismo, é a partir da presença de

em Blattodea. Schoppenhauer alertava tam-

personagens que implicam na vida como uma

bém acerca de alguns tipos de escritores que

verdadeira batalha, numa linguagem fenome-

existiam: em primeiro lugar, aqueles que escre-

nológica, além de fazer alusão constante a Kaf-

vem sem pensar, logo, escrevem a partir da

ka a partir de uma relação entre as persona-

memória, das reminiscências, ou mesmo dire-

gens Gustavo, um viajante que se encontra en-

tamente dos livros dos outros. Esta classe é a

fermo após uma reação alérgica e Gregório,

mais numerosa. Em segundo lugar, há aqueles

personagem de Kafka em Metamorfose, quan-

que pensam enquanto escrevem. Pensam para

do este acorda na condição de uma barata gi-

escrever. Muito vulgares. Em terceiro lugar, te-

gantesca e passa a viver como inseto, assim,

mos aqueles que pensaram antes de começar

Blattodea, em sua epistemologia, significa ba-

a escrever. Escrevem simplesmente porque

rata já que pertence a uma ordem de insetos

pensaram. Muito raros. Assim, observo o en-

que inclui as baratas e as térmitas.

quadramento de Júnior Dalberto, seguindo a

Por mais que seja uma narrativa de ca-

ordem aqui apresentada por Schopenhauer co-

ráter ficcional, a linearidade de seu conto inse-

mo não só o que pensa, como também como

re o autor numa estética fortemente marcada

aquele que nos apresenta tantas outras leituras

pelo estilo realista, onde aborda questões exis-

e que nos possibilita buscar nesse horizonte

tencialistas como já fora dito, retratando perso-

vasto da literatura universal, um leque de opor-

nagens que apresentam comportamentos ine-

tunidades a serem desvendadas.

rentes às suas inquietudes, suas impessoalida-

Junior Dalberto, em Blattodea, faz refe-

des, ao estado de ser e de se ter do homem na

rência à angústia enquanto afeto que se mani-

sociedade. Os transtornos os quais somos con-

festa

na fronteira

entre o desejo (enquanto

sujeito que tem sonhos) e o gozo (suas realiza-

Alemanha, tem sua raiz no fato os livros serem

ções). Entra em questão elementos psíquicos

escritos para se ganhar dinheiro. Qualquer um

não são condizentes com a realidade da per-

que precise de dinheiro senta-se à escrivani-

sonagem Gustavo, quando fortemente identifi-

nha e escreve um livro, e o público é tolo o

cado no comportamento da personagem Della

bastante para comprá-lo. A consequência se-

barba, quando este passou pela experiência

cundária disso é a deterioração da língua. Po-

de haver contemplado sete tentativas de vida

rém, é notório que outros fatores, além dos

conjugal, mas sem sucesso, contando isso pe-

quais foram abordados por Schopenhauer, são

lo prisma da glória, suas atitudes são apresen-

notados no cenário da literatura potiguar que é

tadas como forma de justificar seu insucesso,

a necessidade de ter o nome no circuito ine-

mesmo não crendo, mas que se reafirmando

rente à literatura local, status, o que muito rati-

em frustrações não aceitas, mas canalizadas e

fica o que já abordava Schopenhauer, impli-

condicionadas na condição de gozo, enquanto

cando na necessidade de uma crítica aprimo-

vicissitude da glória, do mérito pelo persona-

rada e consistente que possa conduzir a litera-

gem.

tura potiguar para um alinhamento construtivisÉ importante ressaltar o registro do au-

ta.

mento quanto ao escritor de literaturas no ce-

As premiações, a vivência literária, os

nário potiguar, seja na poesia, na prosa, no ro-

degraus que foram perpassados, a história,

mance, nas crônicas, há sim um aumento con-

tudo isso unidos ao conhecimento adquirido

siderável de novos escritores que se inserem

pelo autor Junior Dalberto, como também de

nesses moldes. Contudo, a falta de uma crítica

sua consistência enquanto escritor, colocam-

responsável e concatenada com a nossa reali-

no num panorama que nos permite um olhar

dade da escrita sem que passe pelo viés do

mais aprimorado e atento, para que sua litera-

egocentrismo, sentimento este que ecoa e se

tura possa ser avaliada por esse leitor que

transmuta na condução da literatura potiguar,

muito se identifica com o que o autor escreve,

culmina em questionamentos que remetem à

quando também faz-se necessário considerar

adjetivação que colocam em questão a quali-

a condição desse leitor, conhecê-lo.

dade daquilo que se escreve na literatura em questão.

Schopenhauer ainda afirma que há uma grande quantidade de escritores ruins que

Mesmo diante dessa realidade a qual se

vivem exclusivamente da obsessão do público

insere a relação do escritor da literatura poti-

de não ler nada além do que foi impresso hoje

guar, do leitor e do objeto de ligação entre am-

e escrito por jornalistas e intitula a esses que

bos que é o livro, remete-me novamente a

apresentam

Schopenhauer, quando fez críticas a literatura

“Diaristas”. Mas quando nos encontramos di-

em seu panorama universal, na obra A arte de

ante da forma como bem escreve Junior Dal-

escrever, logo, para Schopenhauer, a condição

berto, um fato me chamou a atenção foi a re-

deplorável da literatura atual, dentro e fora da

lação, o ponto específico que permite o diálogo

tal

comportamento

como

entre "Pipa voada sobre brancas dunas",

Em Blattodea, não há como negar as vo-

“Reféns dos Andes” e “Blattodea”, onde a reali-

zes que ecoam no decorrer do texto, a forte

dade e o fantástico se entrelaçam formando um

presença de personagens inerentes à estilos

paralelo que muito transporta o leitor para uma

que se reafirmam seja ao apresentar comporta-

viagem dentro do universo interior.

mentos condizentes com a realidade do próprio

Como poderia ser possível entender o

autor, daí tamanha identificação que ratifica seu

escritor Junior Dalberto, quando a crítica con-

olhar enquanto romântico com tendência realis-

duz e condiciona aquele que escreve dentro de

ta, mas que em suma, essas vozes apenas de-

uma especificidade e categoriza-o. Mesmo en-

nunciam da importância da leitura dos clássi-

tre o pequeno número de escritores que pen-

cos, quando, em sua construção, Blattodea nos

sam seriamente antes de começar a escrever,

remete a literatura machadiana, mas sem o pe-

há extremamente poucos que pensam acerca

so de sua psicologia, ao novelismo de Camilo

do tema propriamente dito: os restantes pen-

Castelo Branco, o que não desmerece a atitude

sam simplesmente em livros, naquilo que os

criativa e criadora de Junior Dalberto, mas forta-

outros disseram acerca do assunto. Necessi-

lece sua obra por apresentar um embasamento

tam, quer isso dizer, do estímulo próximo e po-

literário.

deroso das ideias produzidas por outras pesso-

A metamorfose de Gustavo em Blattodea

as para conseguirem pensar. Essas ideias são,

se transfigura e se entrelaça na realidade do

pois, o seu tema imediato, de modo que ficam

autor. Kafka nos deixa confusos entre realidade

constantemente sob a sua influência e, conse-

e fantasia, e se o que oprime são as forças in-

quentemente, nunca alcançam a verdadeira ori-

ternas ou as forças externas ao indivíduo, logo,

ginalidade. A minoria acima referida, por outro

presumimos o ponto em que realidade e fanta-

lado, é estimulada a pensar pelo tema em si, de

sia se misturam, como assim nos apresenta o

modo que os seus pensamentos são dirigidos

autor de Blattodea. No mito da caverna de Pla-

imediatamente para ele. Só entre esses se des-

tão que extraímos o primeiro conceito interior-

cobrem os escritores que perduram e se tornam

exterior, as pessoas dentro da caverna só con-

imortais.

seguem pensar o mundo a partir das sombras

Só valerá a pena ler a obra daquele que

projetadas na parede pela luz da entrada da

escreve diretamente a partir da sua própria ca-

caverna. Assim, as personagens em Blattodea

beça. A busca por inspiração, a preocupação

se mostravam presos em suas cavernas interio-

enquanto escritor de procurar acentuar seu tex-

res, cada qual com seus medos e receios,

to e compô-lo são cuidados inerentes à literatu-

quando na protagonização de Gustavo diante

ra de Junior Dalberto, quanto vale à pena lê-lo,

da escuridão a qual estava submetido e sua

partindo do pressuposto do quanto o leitor mui-

transfiguração a partir do momento em que vol-

to irá se identificar com a sua obra.

ta a enxergar o mundo com os olhos e com a alma.

As marcas da oralidade e os costumes e

comportamento do cristão que age com fé. Uma

crenças do povo nordestino são bem acentua-

das frases sobre o tema afirma que "a fé é o fir-

das em A Saga do Cariri. Personagens que tive-

me fundamento das coisas que se esperam, e a

ram suas vidas marcadas por um encalço e que

prova das coisas que não se vêem". (Hebreus

entregaram suas dificuldades à fé em Padre Cí-

11:1)

cero, quando faz registro dos costumes dos ro-

Em A Saga do Cariri, o elemento é a fé,

meiros que imbuídos de fé percorrem quilôme-

são os costumes, as crenças, a oralidade e o

tros em busca de uma realização, de cura para

regionalismo que marca o povo do nordeste

seus enfermos e parte, em determinados mo-

brasileiro.

mentos do humor presente no comportamento

Não muito distante, mas bem acentuado,

de alguns personagens como: Kelly, Canindé,

a personagem Henrique que, depois de haver

Zuleide, Belo, sem deixar de ressaltar o bairro

caminhado por muito com o pó dos ossos do

da Cidade da Esperança, tradicional bairro onde

seu pai num saco preto, não abandonou os cos-

há registro de várias pessoas que realizam ex-

tumes da boemia e que, por um descuido, ao se

cursões para os fiéis de Padre Cícero.

ausentar se deu pelo desaparecimento do saco

Percebemos em A Saga do Cariri que ter

e, para seu infortúnio, por engano o filho da do-

fé implica uma atitude contrária à dúvida e está

na de um bar espalhou todo o pó sobre a sua

intimamente ligada à confiança. Em algumas

horta.

situações, como problemas emocionais ou físi-

O romantismo de Junior Dalberto agora

cos, ter fé significa ter esperança de algo vai

preenche o espaço em Blattodea e se apresen-

mudar de forma positiva, para melhor.

ta de forma lírica, absorta e única. É a sutileza

De acordo com a etimologia, a palavra fé

do fazer poético e a presença de um referencial

tem origem no Grego "pistia" que indica a noção

praieiro a partir de um desejo e de um romance

de acreditar e no Latim "fides", que remete para

que começou às margens da praia, com uma

uma atitude de fidelidade.

dose de poesia de Walt Whitman:

No contexto religioso, a fé é uma virtude

"Esta manhã, antes do alvorecer, subi

daqueles que aceitam como verdade absoluta

numa colina para admirar o céu povoado, E dis-

os princípios difundidos por sua religião. Ter fé

se à minha alma: Quando abarcarmos esses

em Deus é acreditar na sua existência e na sua

mundos e o conhecimento e o prazer que en-

onisciência. A fé é também sinônimo de religião

cerram, estaremos finalmente fartos e satisfei-

ou culto. Por exemplo, quando falamos da fé

tos?

cristã ou da fé islâmica. A fé cristã implica crer na Bíblia Sagrada, na palavra de Deus, e em todos os ensinamentos pregados por Jesus Cristo, o enviado de Deus. Na Bíblia há inúmeras referências ao

E minha alma disse: Não, uma vez al-

cançados esses mundos prosseguiremos no

Que fosse terno dizendo as coisas mais

simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem

caminho."

lágrimas Walt Whitman

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se conso-

“[...] Mergulho com minhas penas e bicos

mem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam

Embico

sem explicação.

O mar

Assim, Junior quis sua obra Blattodea.

A terra O ar

Um livro de contos, de histórias vividas ou con-

Lar

tadas, de uma maneira a reinventar a fantasia,

Mergulho minha alma

como assim ele nos bonifica em Uma História

Dentro das águas

Animal. A personificação de animais que se

[...]”

preparam para receber o menino Jesus, mas quando observamos cada animal presente, faz(Blattodea. Pág.124 – Gaivotas)

se também presente o orgulho, a ganância, a inveja e a mesquinhez do homem na terra.

A presença da intertextualidade, mesmo

Uma obra literária que nos permite trafe-

que de forma poética, conseguimos destacar.

gar pelo viés do Realismo machadiano, nove-

Em ambos, a presença desse Mar, desse ce-

lístico de Castelo Branco, pelos costumes e

nário mágico e cheio de mistérios que por mui-

crenças com bem nos apontava João Cabral

to encantou marujos, viajantes, moças e rapa-

de melo Neto em alusão a fé do povo, seus ví-

zes na presença de um sentimento maior aqui

cios, assim como na intertextualidade poética

apresentado em Ventre de Ostras.

de Walt Whifmam, sob a ótica crítica de Arthur

De um conto que exalta Kakfa, passan-

Schopenhauer.

do pelo regionalismo nordestino e desembocando em Malca, num conto que faz alusão ao trabalho da Polícia Federal nos aeroportos do Brasil. Nada escapa ao olhar precioso de Junior Dalberto. Então, é isso que um escritor atento faz: transforma o crivo do seu olhar atento em palavras a compor um texto. Como nos versos do eterno Manuel Bandeira:

Assim eu quereria meu último poema

REFERÊNCIAS Aguiar, Luiz Antônio, 1955 – Almanaque Machado de Assis : vida, obra, curiosidades e bruxarias literárias / Luiz Antônio Aguiar. – Rio de janeiro : Record, 2008. Schopenhauer, Arthur, 1788 – 1860 – A arte de escrever / Arthur Schopenhauer; tradução, organização, prefácio e notas de Pedro Süssekind. – Porto Alegre : L&PM, 2007.

Michelle Paulista além de pesquisadora e cronista é professora de língua portuguesa, literatura e produção textual. Doutoranda em Estudos da Linguagem - PPgEL - UFRN e diretora da Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Natal. Idealizadora e coordenadora do Projeto "Câmara no Enem", TV Câmara Natal. Assessora em revisão textual. KUKUKAYA - Natural de uma cidade onde

lizmente, não há um movimento pragmático de

dois grandes romances a retratam com as suas

valorização do que é daqui. Isso é facilmente

riquezas e ao mesmo tempo as suas mazelas

comprovado nos festivais e eventos em geral: a

sociais e políticas, que é Barro Blanco de José

prata da casa é remunerada muito aquém dos

Mauro de Vasconcelos e Macau de Aurélio Pi-

nomes nacionais e, além disso, o pagamento

nheiro. Como você analisa a Macau de hoje em

demora meses para ser efetuado. Digo isso a

relação a Macau desses dois escritores?

título de exemplo, mas um sistema literário, co-

MICHELLE

-

Acho que Macau não mudou

muita coisa, não. Talvez o “layout” da cena urbana, mas há “macauísmos”, como dizia Benito Barros, que permanecem da mesma forma. Velhos fazeres, velhos hábitos...

mo preconiza o mestre Antônio Cândido, é algo muito distante da nossa realidade. Além disso, sinto falta de iniciativas que amparem, valori-

zem e fomentem a literatura potiguar nas escolas. Na realidade, estudantes desconhecem as obras literárias de autores potiguares, tampou-

KUKUKAYA - No Estado do RN temos gran-

co há iniciativas sistematizadas nesse sentido

des escritores já tarimbados e outras revela-

nas esferas governamentais. O que existem

ções no campo da literatura e das artes, poderí-

são ações pulverizadas aqui e acolá, por parte

amos citar alguns já nacionalmente conhecidos

de algum professor.

como Câmara Cascudo, Ney Leandro de Castro e o saudoso Dorian Gray Caldas. O que está

faltando para escritores como Manoel Onofre Jr., Diógenes da cunha Lima, Thiago Gonzaga,

KUKUKAYA - Fale-nos um pouco sobre a Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Natal?

Junior Dalberto, Lívio Andrade e tantos outros

MICHELLE - É uma escola voltada para a for-

se despontem no cenário nacional, já que são

mação do servidor da Câmara, prioritariamente,

personalidades excepcionais dentro do gênero

mas expandimos esse atendimento a toda a

que os mesmos são inseridos?

população.

A Escola é um equipamento

educacional

da Câmara Municipal e repre-

MICHELLE - Acredito que falta a eles o que falta para todo artista potiguar, seja da escrita,

música ou artes plásticas: incentivos reais. Infe-

senta, para mim, um desafio fissional,

uma

pessoal e pro-

vez que está inserida numa

casa política e bastante plural. Contudo, consi-

precisam ser resgatados e lembrados na próxi-

dero que temos avançado e conseguido dar

ma edição do festival.

mais visibilidade à instituição, contando com a força do trabalho e a ajuda dos servidores e parceiros.

KUKUKAYA -

Há hoje algum projeto no

campo da literatura de incentivo e divulgação de escritores que você está inserida ou já pen-

KUKUKAYA -

Você compôs a mesa da

FLIN 2017 (Festival Literário de Natal) ao lado do Imortal Acadêmico Diógenes da Cunha Lima, debatendo o poeta e folclorista Veríssimo de Melo. Qual a importância de Veríssimo para a literatura potiguar?

sou em gestar algum projeto dessa natureza? MICHELLE - Esse é um sonho antigo. Gostaria muito de implantar nas escolas públicas um projeto de trabalho com a literatura potiguar,

junto a professores e estudantes. Inclusive, já tenho o nome: “Por mares nunca dantes nave-

MICHELLE - Esse foi um momento especialís-

gados”. Entretanto, não consegui adesão das

simo na minha carreira, como professora e pes-

secretarias de Educação, o que é uma pena.

quisadora. Abrir o FLIN

Há um projeto interes-

2017 foi um grande pri- “Veríssimo de Melo foi um grande ho- santíssimo de divulgavilégio, um momento ím- mem, deixou um legado imensurável ção de escritores conpar. Veríssimo de Melo em diversas áreas, como na Antropo- temporâneos, que é a foi um grande homem, “Caravana de escritodeixou um legado imensurável

em

diversas

logia, Literatura, Poesia, Folclore e Cultura em geral”. (Michelle Paulista)

res”, capitaneada por Thiago Gonzaga. Mas o

áreas, como na Antropologia, Literatura, Poe-

meu projeto visa o resgate da obra dos escrito-

sia, Folclore e Cultura em geral. Sua obra preci-

res potiguares “canônicos”, alguns já falecidos.

sa e deve ser resgatada e não apenas isso: precisa chegar às salas de aula da Educação básica. Essa é uma necessidade premente. KUKUKAYA -

Você acha que a próxima

FLIN deveria propor outras mesas para debater nomes da literatura potiguar e qual nome você imaginaria que daria uma boa rodada de batepapo? MICHELLE - Sem dúvida. Não faz sentido um

KUKUKAYA -

Como Michelle Paulista vê

os incentivos governamentais ou até mesmo os da iniciativa privada para fomentar e publicar escritores potiguares? MICHELLE - Considero-os tímidos e insuficientes. KUKUKAYA -

Você tem algum livro no

prelo? E se tem, qual a abordagem do mesmo?

Festival literário que não dê protagonismo aos

MICHELLE - Tenho um livro de crônicas e po-

escritores potiguares. Acho que nomes como

emas, mas ainda não consegui publicar. Está

Juvenal Antunes, Nilo Pereira e Gilberto Avelino

todo organizado e tenho a honra de ter o prefá-

cio de Manoel Onofre Jr.

KUKUKAYA

- Fale-nos um pouco sobre a

nha madrinha, Rosário Guerra. Entretanto, mi-

sua participação na coluna do site de notícias

nha mãe me proibia porque achava que muita

NO MINUTO.COM?

leitura “fazia mal”. Então consegui uma lanter-

MICHELLE - É uma das coisas mais prazerosas, no momento, pra mim. Antes eu publicava

na para ler escondida, à noite. Fui iluminada pelas luzes da lanterna e da literatura.

num jornal impresso, mas hoje conto com a co-

KUKUKAYA - E a Michelle Paulista, como ela

luna do portal, que me acolheu muito bem. Tra-

se vê inserida nesse cenário tortuoso e ao

ta-se

de

um

mesmo

espaço de di-

fascinante

vulgação

literatura

de

coisas ligadas à

Educação,

Digo

sou

te, as letras me

semanal-

salvaram.

geral-

São

os arranjos esti-

mente às se-

lísticos que per-

gundas feiras.

mitem,

Convido todos

diaria-

mente, que me

a acessarem a

recomponha do

“Entre

caos

lanternas e li-

cotidiano.

Acredito

vros”, no endereço

que

-

uma sobreviven-

Costumo publi-

coluna

poti-

MICHELLE

tras potiguares.

mente,

da

guar?

Cultura e Le-

car

tempo

que

sou uma militan-

http://

te das letras poFoto do acervo da Michelle Paulista. Na mesa da FLIN ao lado de Diogenes da

tiguares;

como

Cunha Lima - Membro da Academia Note-rio_grandense de Letras.

muitos colegas, busco me esta-

www.nominuto.com/entrelanternaselivros.

belecer como artesã das letras, é assim que me defino. Contudo, o cenário é adverso; publi-

Por falar na coluna, de onde surgiu esse no-

car um livro é uma odisseia. Então, responden-

me? Conto essa história numa crônica e é bem

do objetivamente à pergunta... sou uma pro-

curiosa. Quando criança, eu era fascinada pela

fessora, pesquisadora e artesã das palavras.

coleção do Sítio do Pica-pau amarelo, de Mon-

Assim, tortuoso e fascinante. Ser gauche na

teiro Lobato e pelos livros da biblioteca da mi-

vida, como dizia Drummond.

N

Thiago Gonzaga é escritor e professor. Mestre em literatura comparada pela UFRN, autor de “Os Grãos – Ensaios Sobre Literatura Potiguar Contemporânea”, “Presença do Negro na Literatura Potiguar” e outros livros.

atural de São Vicente “Para o escritor Wescley (RN), Wescley J. GaJ. Gama, em seu novo livro, ma reside há muitos “Com a Força das Folhas que anos na cidade de CurEstiverem Vivas”, a poesia está rais Novos. Escritor e poeta, faz diretamente relacionada ao seu parte da geração que traz nos chão de origem. versos uma tradição literária seburros com carga d´água ridoense que vem desde Zila passam sede no caminho Mamede e José Bezerra Goseco mes, passando por Luís Carlos O local da sua vivência, Guimarães, Nei Leandro de fonte inesgotável de poemas, o Castro, Moacy Cirne, Nivaldete Seridó, é cantado em versos: as Ferreira, Humberto Hermenegillembranças dos dramas da sedo, e mais reca, que agoniam centemente Iara periodicamente a Maria Carvalho, região; o fruto, a Luma Carvalho , água, o homem, Ana de Santana, os bichos, são inMaria Maria Gotermináveis matémes, Theo Alrias para a poesia ves, Jeanne Arade Wescley. A parújo, Muyrakitan tir de alguns dos Kennedy Maceseus poemas, condo, Valdenides seguimos penetrar Cabral, dentre nas paisagens do outros valores. interior do Estado, Vencedor numa parte da sua de vários conhistória, com seus cursos literários Wescley J. Gama : Foto Internet tipos humanos. neste início de A poesia de Wesnovo milênio, cley cumpre a sua Wescley J Gama é um dos admissão, que é representar fatos, ministradores do Grupo Casarão coisas e pessoas de forma artísde Poesia, ONG cultural que intica, servindo como registro de centiva a leitura, a literatura e a uma realidade, captando com música entre os jovens seridosensibilidade a paisagem seridoenses. Músico, compositor e ense...” militante cultural, além de escriEm sua estreia na ficção, tor e poeta Wescley gravou três o desempenho do autor não é Cds, “Chuva, Estiagem, Água, diferente. A ideia de sertão é Lampiões”. “Seridolendas”, e construída discursivamente ao “Campos Grandes Reunidos” e longo das narrativas de Wespublicou dois livros: “Com a Forcley, e todo esse pequeno/ ça das Folhas que Estiverem grande mundo ressurge em uma Vivas” (poesia) e mais recenteprosa intensamente poética, afirmente “Nove Contos Serramando, sem dúvida, uma das nos” ( Editora OffSet, 2017). principais referências literárias De um artigo, que tivemos da cultura seridoense contempooportunidade de escrever sobre rânea. um livro de sua autoria, destacamos o seguinte trecho.

N

o livro As lições do

quanto a sua permanência, ou

fascismo

(Graal,

seja, não circunscrito as experi-

1977), o filósofo

ências da Itália e Alemanha no

marxista

período de 1920/40.

Leandro

Konder chamou a atenção para o “alto teor explosivo” da palavra “fascista”. Escrevendo em

plena ditadura militar (19641985) afirmava que ela vinha sendo utilizada mais como arma política do que com o necessário rigor científico. Naquelas circunstâncias, considerava que o uso do termo da forma como

celente contribuição é o livro de Rob Riemen “O eterno retorno do fascismo” (Editorial Bizâncio, Lisboa, 2012) que, como indica o título, analisa a permanência do fascismo mesmo em países com democracias consolidadas, como na Europa Ocidental.

era

No livro Lições do fascismo

compreensível “para efeito de

(1970) o dirigente do partido co-

agitação, é normal que a es-

munista italiano Palmiro Togliatti

querda se sirva dela como epí-

afirma que o fascismo assume

teto injurioso contra a direita”,

diferentes formas, em diferentes

mas que era necessário “uma

países, porque seu credo não se

análise realista e diferenciada

fundamenta num único valor uni-

dos movimentos das forças que

versal. Lembra ainda que Musso-

lhe são adversas”.

lini ascendeu ao poder pela via

utilizado

* Homero de Oliveira Costa, Prof. do Departamento de Ciências Sociais da UFRN.

Nesse sentido, uma ex-

pela

esquerda

Não é nosso objetivo fazer uma ampla discussão sobre o fascismo. Já existe publicada, inclusive em português, uma extensa bibliografia, abordando os seus mais diferentes aspectos. O livro de Leandro Konder é um deles. Aqui, trata-se apenas de situar sumariamente

democrática e, portanto nas de-

mocracias representativas é possível que um fascista seja eleito. Como ele alerta, a chave do êxito do fascismo na Itália foi a crença na sociedade que as qualidades do seu grande líder iriam trazer ordem, prosperidade e segurança ao país. Para Robert O. Paxton, em Anatomia do fascismo

( 2007), da mesma forma que Togliatti, afirma

seria uma forma distinta de Estado, forjado em

que o fascismo assumirá sempre a formas do

condições peculiares da crise política durante a

seu tempo e da sua cultura e, portanto, não é

transição ao capital monopolista. Mostra o pa-

um fenômeno específico da Itália, alimentando-

pel do Estado fascista de reorganizar, pela re-

se do ressentimento (orientado para um inimi-

pressão e pela ideologia, o bloco das classes

go) e um líder carismático e autoritário ( “um

dominantes no poder, além das iniciativas que

mito”) que seja obedecido pelas massas. Rob

os fascismos alemão e italiano tomaram para

Riemen alerta para o fato de que quando se en-

assegurar a dominação do grande capital e das

trega o poder a demagogos e charlatães, que

alianças com a pequena burguesia.

usam os mass media para cultivar a crença de

que esse líder, o político que pretende ser contra a política é a única pessoa capaz de salvar o país, as instituições constitucionais e democráticas desaparecem tão

O fascismo portanto, não pode ser analisado como qualquer movimento conservador ou fenômeno autoritário, ele tem suas próprias características e assume formas distintas, mantendo o essencial,

depressa como a con-

que é a dominação do

fiança nas autoridades porque



grande capital.

ninguém

fascismo teve início na

acredita nelas.

É tante

Se o

Itália, num determinado

impor-

contexto histórico, resul-

compreender

tado, em grande parte

que o fascismo é uma

das

conseqüências

e

forma

específica

profundidade da crise

de regime político do

européia (antes e de-

Estado

capitalista.

pois a Primeira Guerra

Mas, não qualquer re-

Mundial) sua influência

gime, não qualquer ditadura, mas uma ditadura

(e permanência) vai muito além do seu contexto

contrarrevolucionária com características distin-

histórico e geográfico. Como afirma João Ber-

tas, por exemplo, das ditaduras militares na

nardo no livro “Os labirintos do fascismo: na en-

América do Sul nos anos l960-80, incluindo a

cruzilhada da ordem e da revolta” (2015), “a his-

do Brasil. No livro Fascismo e Ditadura (1970),

tória do fascismo

Nicos Poulantzas faz uma análise das forma-

que o fascismo é ainda

ções sociais da Alemanha e Itália e a constitui-

suspenso”. O livro,

como ele diz, não tra-

ção de um tipo de Estado de exceção - o fascis-

ta de uma história do

fascismo, “mas o de

ta – e a relação entre as classes sociais, deter-

apresentar

minante para a emergência (e explicação) do

que o

fascismo. De acordo com ele, o Estado fascista

tais e que

não está concluída poruma realidade em

a história dos

problemas

fascismo revelou plenamente como continuam hoje

por resolver”.

O fato é que hoje os sinais de fascis-

do por Geert Wilders, é no dizer de Rob Rimen

mos são evidentes em várias partes do mundo,

“o protótipo do fascismo contemporâneo”. Para

como o fascismo islâmico, o crescimento da

ele, não apenas o da Holanda, mas também de

extrema direita na Europa, e com partidos xe-

outros países “não são senão as conseqüên-

nófobos e neofascistas em outras partes do

cias políticas lógicas de uma sociedade pela

mundo, como na Áustria, Alemanha, Dinamar-

qual todos somos responsáveis”.

ca, Holanda, França e Itália.

Para ele, o fascismo contemporâneo

Mas se ele tem se apresentado de dife-

resulta, mais uma vez, de partidos políticos que

rentes formas e com influências distintas, há

renunciam à sua tradição intelectual, de intelec-

uma questão que,hoje, no caso da Europa, os

tuais que cultivam um niilismo complacente, de

une: a imigração. A oposição veemente a qual-

universidades que já não são dignas desse no-

quer aumento do número

me, da ganância do mundo de negó-

de imigrantes tem levado a

cios e de mass media que preferem

um crescimento do apoio a

ser ventríloquos do público em vez

eles em diversos países,

de o seu espelho crítico. São estas

criando a possibilidade de

as elites corrompidas que alimentam

ampliação de sua influên-

o vazio espiritual contribuindo para

cia.

uma nova expansão do fascismo Na

Itália,

(p.51)

por

exemplo, a Liga Norte é

Na Europa, em vários paí-

um partido claramente fas-

ses, grupos fascistas estão atacando

cista que tem se afirmado como uma das for-

imigrantes e os seus centros de acolhimento,

ças da extrema direita que ingressaram no Eu-

além

ro parlamento. Há outros como Forza Nueva e

governamentais que têm procurado ajudar os

CasaPound, que têm crescido nas eleições

que fogem de guerras (caso da Síria) e das

parlamentares, todos contra a imigração.

perseguições religiosas (como os que conse-

Na Áustria, o fascista Partido da Liberdade, conseguiu 20,5% nas eleições gerais de 2013. Na Holanda, o Partido pela Liberdade conseguiu 13,3% nas eleições européias. Esses dois partidos juntos se tornaram a terceira força política em seus respectivos países.

de

ataques

a

organizações

não-

guem fugir do Estado Islâmico). Como o número de refugiados cresce, a tendência, ao que parece, também é de crescimento da intolerância

e

da

violência.

Em relação à permanência do fascismo, Albert Camus faz uma alegoria do fascismo no livro A peste (1947) que se passa “em uma ci-

Em relação à Holanda, país de larga

dade comum (...) uma prefeitura francesa na

tradição democrática, o Partido fascista, lidera-

costa argelina”. O livro conta a história de uma

peste na cidade em que o médico Bernard Ri-

ra a gestação de um embrião fascista no Bra-

eux não se junta à celebração depois em que é

sil, como os que defendem a intervenção mili-

anunciado que o reino da peste havia termina-

tar, o fechamento do Congresso Nacional, a

do. No final do romance ele diz “Na verdade,

ditadura e a tortura.

ao ouvir os gritos de alegria que vinham da cidade, Rieux lembrava de que essa alegria estava sempre ameaçada. Porque ele sabia o que essa multidão eufórica ignorava e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e nas roupas, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lanços e na papelada. E sabia também que viria talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria

os

ratos

seus e

os

mandaria morrer numa cidade feliz” Para Albert Camus, o bacilo fascista

sempre

estará presente,

inclusive

nas democracias de massas e nesse sentido é de fundamental importância ficar alerta pa-

Como diz Roberto Amaral, o fascismo não começa pela sua exasperação, ele começa lento, com ofensas verbais, e depois evolui para agressões físicas e coletivas. Para ele, isso ocorre quando há um ambiente favorável

e se torna mais perigoso na medida em que os meios de comunicação são usados para destilar preconceitos e intolerâncias “dia e noite junto à população”.

O sociólogo Florestan Fernandes,

Na introdução do livro Como conversar

numa palestra na Universidade de Harvard

com um fascista (2016), de Márcia Tiburi, Ru-

em 1971 intitulada “Notas sobre o fascismo na

bens Casara afirma que o antídoto para o fas-

América Latina”, chama a atenção para os

cismo é a democracia e por isso “os fascistas

processos de “fascistização sem fascismo”, no

não suportam a democracia, entendida como

qual valores e idéias fascistas podem existir

a concretização dos direitos fundamentais de

nos mais diversos tipos de regime político, in-

todos, como processo de educação para a li-

clusive nas democracias. Ele se refere à longa

berdade, de governos através de consensos,

tradição de fascismo potencial na América La-

de limites ao exercício do poder e de substitui-

tina, no qual “uso estratégico do espaço políti-

ção da força pela persuasão e sugere con-

co”, mesmo nas democracias, “permitem dis-

frontar o fascista, desvelar sua ignorância, for-

torções que comprometem a possibilidade re-

necer informação/conhecimento, levar esse

al

de

um

interlocutor

à

exercício

contradição,

democráti-

desconstruin-

co”.

do suas certezas, forçando-

O

o

ambiente de

nhecimento é

e

limitado. Daí a

intolerância

importância da

na socieda-

difusão do co-

de brasileira

nhecimento

é uma porta aberta para o fascismo porque possibilita a ascensão da intolerância, da xenofobia, do racismo, da ho-

admitir

que seu co-

polarização política

a

em

confronto

como a tradição autoritária que condiciona o pensamento e a ação no Brasil”.

mofobia, nas ruas e redes sociais, e aí reside

Para enfrentar essa perigosa onda

o grande o perigo para a democracia: a forma

conservadora e autoritária é necessário que a

como os discursos de intolerância, ódios e

esquerda deixe de brigar consigo mesma e se

ressentimentos são aceitos por parcelas con-

unifique e se junte a todos os antifascistas e

sideráveis da sociedade. É um ambiente que

que assim possa se fortalecer e, quem sabe,

nutre analfabetos políticos e que é potenciali-

formar uma frente ampla, popular que reúna

zado com as redes sociais.

os setores progressistas e democráticos para enfrentar a ameaça fascista.

Vazio

Na comissura dos lábios, o indecifrável. No canto do olhar, a perdição. No ritmo das pernas, o

Como a própria definição o diz, o vazio é um lugar onde não existe nada, mas no interior do qual se espera que venha a acontecer tudo. (Lídia Jorge, em O organista)

abismo. Parou frente a todos. Estes, atemorizados e trêmulos, abaixaram-lhe a vista. Lá do fundo, da infância das primícias, um se alevantou. Na caminhada, desfez-se dos mitos e

A porta se abriu.

das lendas, como a querer (re)provar, e beber, o

Nos olhos dela, o vazio. Em sua boca, o va-

inominável e o infinito. Frente a frente com ela,

zio. No colo dela, as mãos cruzadas, a ofertar-lhe o

mergulhou no azul dos seus olhos, a beber do vi-

vazio.

nho da Quimera, envelhecido nos cântaros do semsentido. Aproximou-se, beijou-lhe a face fria e pres-

sentiu, cansado, que havia um perfume de esperança a escapar-lhe pelos cabelos lisos.

Ao perder de todo a Razão, acoitou-se, copulando com ela sob o império da Noite, no sereno da bênção das lágrimas da Alegria. Ele, fez-se lou-

Guardou, então, os seus pertences, pôs a mesa e a esperou.

co; ao tempo em que ela, travestida de escrava, assumiu a condição de Deusa.

Com pouco, ela entrou no interior da sala e pôs-se a dedilhar, oscilante, o velho órgão. Uma tocata e fuga. Em ré menor. A porta se fechou.

Deusa Ninguém levanta impunemente os olhos para uma deusa. (Cesare Pavese, em Diálogos com Leucó)

*Antonio Clauder Alves Arcanjo (Clauder Arcanjo) Em 2005 cofundou a editora Sarau das Letras e, paralelamente, produz e apresenta, na TV Cabo Mossoró, o programa cultural Pedagogia da Gestão. Membro da Academia Mossoroense de Letras (AMOL) autor dos livros de contos Licânia (2007) e Lápis nas veias (2009) dentre outros. Vencedor do Prêmio Geir Campos, da União Brasileira dos Escritores/RJ. Membro da Academia Norte-Rio_Grandense de Letras e-mail: [email protected]

Lo bueno si es breve, es dos veces bueno. Dito espanhol

M * Manoel Onofre de Souza Jr. Natural de Martins-RN , é magistrado e escritor, membro da Academia Norte-riograndense de Letras e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

uito já se disse,

na íntegra até os dias de hoje.

mas não custa

Apuleio pode ser considerado o

repetir que o ho-

patrono do Romance Universal.

mem é o único

Cremos que somente Miguel de

animal que ri. Obviamente, o riso

Cervantes, muitos séculos de-

nasceu com o homo sapiens. No

pois, é que se pode ombrear com

entanto, se procurarmos situá-lo

ele. Em se tratando, porém, de

na literatura, é indubitável que um

conto e novela, cabem os louros,

dos primeiros, senão o primeiro

sem dúvida, a Giovanni Boccac-

grande autor a explorar o riso, em

cio (1313- 1375). Com o seu mo-

sua obra, com engenho e arte, foi

numental Decamerão, Boccaccio

Aristófanes ( c. 448 a C – c 388-

é um dos escritores que prenun-

385 a C ). Autor mais representa-

ciaram a Renascença, lançando

tivo da comédia grega, Aristófa-

os alicerces da ficção moderna;

nes, construiu com um certo de-

suas novelas, mesclas geniais de

boche e muito sátira política, vá-

humor, erotismo e crítica social,

rias peças ainda hoje representa-

não

das em todo o mundo – As Nu-

tantos anos de sua primeira publi-

vens, Lisístrata, A

Revolução

cação ; pelo contrário, despertam

das Mulheres – que são clássicos

cada vez mais atenção dos estu-

inigualáveis. Numa destas, satiri-

diosos e leitores mais exigentes.

zou a figura de Sócrates, de tal

Outro ícone da literatura de hu-

modo que teria contribuído para a

mor, o enfant terrible François

morte trágica do grande filósofo.

Rabelais ( 1494 – 1553). Autor de

Muito depois dessa culminância, vamos encontrar outra alta manifestação de humor& arte, já em Roma, todavia não mais no teatro, e sim na ficção. É quando surge Apuleio ( c. 124 - c 170), autor de O Asno de Ouro, único romance latino a sobreviver

envelheceram,

decorridos

emblemáticos romances quando se trata do riso desbragado, associado à glutoneria e outros exageros, ele tinha para com os seus grandes ( sem trocadilho) personagens, a seguinte divisa: “ Comer, beber e ficar alegre”. É questionável a sua inclusão entre os renascentistas prototípicos.

Sacerdote católico e médico, além de escritor, Rabelais possuía outros dons dignos de nota, inclusive a língua ferina e o ceticismo. Quando estava para morrer, disse : “Vou em busca de um grande talvez”. Por fim, devemos também mencionar, como cultor da arte do riso em seus primórdios , o irlandês Laurence Sterne ( 17131768), autor do romance Vida e Opiniões de Tristam Shandy e outras obras, que inclusive, influenciaram bastante o nosso Machado de Assis. Sterne é considerado o precursor de um outro tipo de humor- humour – definido, de modo simplista, como aquele que não provoca gargalhadas, mas, apenas discretos sorrisos. É a antítese do riso rabelaisiano, por exemplo. Sterneanamente leve, sutil, irônico, mas como toda espécie de humor, permeado de crítica social.

alguns escritores que têm o humor como principal característica. Na prosa de ficção, por exemplo, Alex Nascimento (1947) e Carlos Fialho ( 1979), dois nomes em destaque. Dono de uma ironia mordaz, com enorme poder de sátira em seu prosear anárquico, Alex é autor de Recomendações a Todos e três outras obras , híbridas de ficção e crônica,

além de poesias, todas elas da melhor qualidade. Carlos Fialho, bem mais jovem, cultiva um humor á maneira de Luís Fernando Veríssimo e Mário Prata sem nunca deixar de ser ele próprio. Ao contrário de Alex, que deflagra o riso exuberante, Fialho provoca leves sorrisos, com seus contos, novelas e crônicas, na mesma linhagem de um Sterne, de um Machado de Assis. E note-se que tal qual estes clássicos, ele

faz crítica social , todavia, reporta-se, não raro, Na literatura brasileira, Machado de As-

sis talvez seja a maior referência quando se trata de humor. Mas, o seu humor faz o leitor rir mais com os olhos do que com os lábios. Riso descontraído e solto encontra-se é na Crônica, gênero literário que se desenvolveu e

a fatos atuais da comunidade onde vive, e não reluta em “dar nomes aos bois”. Ridendo castigat mores – poderia ser o lema de Alex Nascimento e Carlos Fialho, se por acaso fossem de usar lemas...

aprimorou-se, em nosso país, de modo surpre-

Ainda no campo da ficção, devo mencio-

endente. Luís Fernando Veríssimo, Stanislaw

nar Nei Leandro de Castro, autor de vários li-

Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), Jo-

vros de poemas, um de conto e quatro roman-

sé Cândido de Carvalho (a crônica e a histori-

ces, sendo que, em um destes, As Pelejas de

nha) e Fernando Sabino, entre outros nomes,

Ojuara, justamente considerado sua obra-

são expoentes. Millôr Fernandes, embora não

mestra, relata as peripécias hilariantes do seu

seja, propriamente, cronista, sobressai-se com

herói, ou melhor, anti-herói picaresco, Ojuara,

o seu riso cáustico, incomparável.

um Araújo pelo avesso....

A literatura do Rio Grande do Norte, co-

Seu humor é, quase sempre, grosso, de-

mo não podia deixar de ser, também conta com

bochado, de cunho fescenino. Creio que Boc-

caccio assinaria, com prazer alguns dos casos

que compõem a narrativa. Personagens, como o

pou da Academia Norte-rio-grandense de Letras,

seu Celso da Silva fariam inveja a Rabelais...

e teve certa projeção nos círculos literários nata-

Mas, além desse riso desbragado – como já tive

lenses, mas as novas gerações o desconhecem

oportunidade de dizer - , Nei Leandro demonstra

totalmente.

possuír uma outra veia de humor, quando, por exemplo, glosa a letra da valsa “Boneca” ou quando “explica” a origem da palavra revanche.

O bom- humor parece ser a nota predominante não só em sua produção poética, jornalística e comediográfica, mas também na sua pró-

Registre-se que o personagem Celso da

pria vida de homem simples e bom: vivia fazendo

Silva foi calcado numa figura real, o escritor e po-

blagues, contando anedotas – diz Veríssimo de

eta Celso da Silveira, por sinal, autor de amplo

Melo, em Patronos e Acadêmicos, vol. II. Se-

anedotário, publicado em plaquetes, e de poesias

gundo a mesma fonte, curiosamente, Virgílio não

fesceninas e humorísticas. Tal como Celso da

publicou livros, embora os tivesse, inéditos, como

Silveira, outro escritor veterano, José de Castro,

“Águas Passadas”, e “Despropósitos a Propósi-

produz textos curtos, porém de uma outra nature-

to”. Colaborava em quase todos os jornais de Na-

za, quase sempre aforismos, pequenos poemas

tal.

em prosa etc. José de Castro sabe, como poucos, brincar com palavras.

Para encerrar estas despretensiosas notas, nada melhor do que o seu soneto sobre o

Em 2016 organizei a coletânea Humor no

galo metálico da torre de Santo Antônio, quando

Conto Potiguar, publicada pela 8 editora, uma

o mesmo foi lançado por terra devido a um raio, “

amostra significativa dessa modalidade, reunindo

que por pouco não o fulminou” – no dizer bem –

contistas de várias gerações (em ordem cronoló-

humorado de Nilo Pereira.

gica): José Pinto Júnior, Augusto Severo Neto, Eulício Farias de Lacerda, Luís Carlos Guimarães, Bartolomeu Correia de Melo, Tarcísio Gurgel, Demétrio Diniz, François Silvestre de Alencar, Osair Vasconcelos, Clauder Arcanjo, Aldo

Eis o soneto: Lembrou-se enfim desta Natal a gente Que tu deves voltar, meu galo amigo, Às alturas da torre novamente. “Como a ave que volta ao ninho antigo”.

Lopes de Araújo, Cellina Muniz, Carlos Fialho, Thiago Gonzaga e Carlos Onofre. Destes todos, apenas Augusto Severo Neto, Carlos Fialho e Carlos Onofre adotaram o humor, como traço es-

Com tal noticia vais ficar contente. O ostracismo é um fatigante abrigo. E assim verás Natal bem diferente Desde a Ribeira à ponte sem perigo.

sencial, em seus escritos ; os demais incursionam, esporadicamente, pelos temas jocosos. E bem. Entre os nossos poetas nenhum fez poesia humorística como Virgílio Trindade ( 1887- 1969). Injustamente esquecido, Virgílio Trindade partici-

Penso que os galos todos, entretanto, Não trocariam teu zimbório santo Pelo livre terreiro das vizinhas. Pois vou jurar que nenhum deles quer Ficar como tu ficas, Chantecler: “Perto dos raios, longe das galinhas...”

S *Prof. Dr. Antonio Júlio Garcia Freire

Formação e pósgraduação em Filosofia; professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Pesquisador nas áreas de Metafísica, Estética e Educação. Foi um dos fundadores da banda Cabeças Errantes (anos 1980), ícone da cena musical alternativa de Natal

abemos que a alma (do

grego

tem

um

Epicuro, nascido nos fins do

psyché)

século IV a.C., foi o fundador da

significado

escola filosófica que leva seu no-

especial para as reli-

me, criando uma comunidade em

giões e para a Filosofia. Na anti-

nos arredores de Atenas conheci-

guidade, não raro se falava em

da como “o Jardim”. Entre os

uma “saúde da alma” vinculada à

principais pontos do seu pensa-

“saúde do corpo”. Para os epicu-

mento, elaborou um conjunto de

ristas antigos, o fundamento de

quatro

uma alma sadia estava intima-

(tetraphármakon), as quais se

mente ligado a sua imperturbabili-

constituem numa terapia para as

dade (ataraxía). Tal estado era

doenças da alma. Das máximas

associado invariavelmente a uma

epicuristas, uma é tratada amiúde

existência feliz (makários zèn),

pelo filósofo Lucrécio - discípulo

sendo então princípio e a própria

tardio do Filósofo do Jardim - em

realização da vida. Uma alma sa-

sua obra poética Da Natureza

dia, era por assim dizer, uma al-

das Coisas, poema composto por

ma feliz. Por outro lado, os temo-

seis livros. Trata-se do medo in-

res e medos insensatos eram

fundado da morte, uma vez que,

considerados as causas princi-

objetivamente para um epicurista,

pais da angústia e do desespero,

ela nada significa: não se deve

e que tinham como origem os ter-

temer o que não está presente e

rores imputados principalmente

quando estiver, não mais estare-

pela religião e por um modo de

mos aqui para senti-la.

viver que não levava em conta a

simplicidade, o comedimento e o viver “conforme a natureza”. Tal

Site: http://

era a causa de uma alma doente,

joaoligeiro.com.br

“perturbada”. Para alcançar a ataraxía, era necessário regular a conduta e os desejos, levar a alma a um processo de boas escolhas, recusando as vãs opiniões (kenón doxai) e os desejos des-

necessários.

máximas

Exceto pela sua única obra conhecida, pouco se sabe acerca da vida de Lucrécio, a não ser que o lugar de seu nascimento se deu provavelmente em Roma, vivendo ali até a sua morte, por volta do ano de 55 a.C. A lenda da sua loucura e suicídio foi amplamente explorada pelo cristia-

nismo posterior, sendo propaga-

da por São Jerônimo (347 – 420 d.C.) como a

ou a aflição (luctus) e o temor (metus). Este

prova do triste fim a que se chega um epicuris-

último - considerando o temor da morte - seria a causa de vários desvios morais. Segundo o filósofo latino, para que o homem possa livrarse de tal temor, faz-se necessária uma investi-

ta. As reflexões do terceiro livro se concentram nos temores infundados da morte e como tais temores são algumas vezes, as causas de males e doenças em vida, especialmente aqueles de natureza moral, como a ambição desmedida, a avareza, a

cobiça, a ausência de uma vida piedosa e do cultivo da amizade. Para entender como são vãos tais temores, Lucrécio argumenta que é necessário entender a natureza da alma: a alma é tão corpórea quanto o corpo-carne, mas é constituída de uma substância extremamente sutil. Os corpos (alma e corpo-carne) por sua vez, são constituídos de diminutas partículas, impossíveis de serem captadas pelos sentidos: os átomos. Se a alma é também um corpo, uma das proposições mais importantes da filosofia epicurista vem a ser justamente esta: sendo a alma corpórea, não sobrevive à morte do corpo. Pode-se perceber as implicações éticas dessa doutrina, tendo uma relação estreita com a concepção epicurista da morte. Sendo a alma uma espécie de corpo dentro de outro corpo, há uma relação de interdependência

Lucrécio - imagem da Internet

de um em relação ao outro. O fato de que a alma tem a habilidade de interagir com o corpo e de ser afetada por ele, é o que explica tal natureza. Lucrécio nomeia três doenças anímicas fundamentais: a intranquilidade (curas), a dor

gação da própria natureza da alma, livre das explicações fantasiosas e terríveis propagadas pela superstição e pela religião sobre o destino dos vivos. Essa reflexão

se constitui em uma verdadeira terapia da al-

cesso natural - não haveria motivo para temer

ma, em que o desconhecido pode ser desvelado e compreendido em toda a sua plenitude, sem a necessidade de recorrer a argumentos baseados no castigo, na culpa e no sacrifício a deuses e entidades sobre-

a morte. A morte como a completa extinção de uma combinação temporária de partículas atômicas, é talvez, a conclusão mais importante quando falamos da análise epicúrea da alma. Como corolário ético, Lucrécio afirma que não devemos, em nome de vãs superstições, deixar o medo da morte arruinar nossas vidas, já que o objetivo do homem é desfrutar de uma vida plena e feliz (makários zen). “A morte, portanto, nada é para nós e em nada nos toca, visto ser mortal a substância do espírito” (LUCRÉCIO, 1988, p. 73). Pensar a nãoexistência ou aquele que ainda não nasceu, também não deveria ser motivo de temor e angústia: a morte não é tão pior do que o fato de ainda não ter nascido. Passado e futuro seriam instâncias que teriam características semelhantes, ou um tipo de isometria. O medo da morte é irracional porque é baseado em proposições contrárias à natureza da alma e da própria constituição da natureza como um todo (phýsis). Para Lucrécio e toda a tradição epicúrea, o medo de um inferno após a morte é na verdade, o medo projetado dos terrores morais pessoais, adquiridos nesta vida e que são a causa das doenças anímicas. Para a tradição epicúrea, morrer bem é o ápice de uma boa vida, pautada pelo equilíbrio e tranquilidade da alma. REFERÊNCIAS

naturais. Uma vez que se puder compreender a natureza da alma, percebendo a sua constituição material, entendendo a sua finitude e o processo inerente de sua dissolução – um pro-

LUCRÉCIO. Da Natureza. Antologia de textos in Epicuro, Lucrécio, Sêneca e Marco Aurélio, São Paulo. Abril Cultural, 1988.

E

ntro numa livraria como

de - depois de passear pelas es-

entro num templo: com

tantes, as mais diversas, tomei

todo o respeito e admira-

emprestados alguns livros para

ção pelo conhecimento que ali,

pacientemente escolher qual deles

nas prateleiras, estão à espera de

faria companhia aos meus velhos

leitores

“conhecidos” autores que se de-

para

que

sejam

“adotados”.

bruçavam na minha cabeceira.

Tenho a impressão que cada au-

Cada livro “mostra” para mim, sua

tor,

lado,

parte mais visível (lombada) que é

“conversam” sobre o que trazem

o lado vertical do livro onde se li-

nos seus conteúdos e, quando a

gam capa e miolo que contém in-

nossa mão guiada pelo olhar, de-

formações como o título e o autor

les se aproximam, com a intenção

da obra. Como estava me testan-

de folheá-los, “dizem” tchau e se

do, nada li sobre aqueles escolhi-

desejam, boa sorte!

dos.

O que me leva a escolher um livro

Esse momento é cerimonioso.

a outro?

Um assento, uma cadeira qual-

estando

lado

a

CARLOS ALBERTO JOSUÁ COSTA

- Engenhei-

ro Civil, Escritor, Membro da Academia Macaibense de Letras)

Fico às vezes refletindo: tomo essa decisão baseado no meu estado de espírito, pela quarta capa onde um relato breve apresenta o tema, os personagens, e como eles se desenvolvem durante a história, ou ainda, pelo título? Não tenho uma regra para tal, mas certamente, cada um desses procedimentos será determinante para facilitar minha decisão. Recentemente

testei

quer, dá o amparo para prosseguir na decisão. Mas, de pronto retomei consciência do descaso que a totalidade das livrarias tem com os leitores burilados pela idade, que “adoram” descansar as pernas fo-

lheando e fazendo “amizade” com cada autor, e nada de um lugarzinho para tal. Em sinal de protesto, fui penosamente, devolvendo aos seus devidos lugares, justamente aqueles

minha

“resistência” numa livraria da cida-

que nada tinham com o menosprezo dos atuais livreiros da cidade.

Vingança? Não. Pernas sem condições de pau-

“Mas onde é que Deus está quando não há amor,

sadamente criar vínculos com o pensamento, a

quando só há crueldade, dor, pecado e sofrimento?”

mensagem, que o livro oferece.

“Sempre que seguimos no encalço de Jesus, aproxi-

Porém, um fato curioso me chamou atenção:

mamos os outros de nós, incluindo os que estão

ao reconduzir um dos livros a sua posição origi-

“afastados”, o Reino de Deus é alargado na terra”.

nal, eis que sua “vaga” estava ocupada por outro.

O autor, Tomás Halik, desenvolve o seu pensamento a partir de Lucas (19,1-10) que trata da história evangélica de Zaqueu, po-

Que atrevimento!

rém refletido sobre três aspectos: Horizonte (olhar paRetirei-o e devolvi o espaço ao

ra as margens), Perspectiva

seu dono primeiro. Mas, fiquei

(paradoxos da vida) e Estilo

novamente com um livro nas

(modo sapiencial de olhar a

mãos. Dissipei meu protesto –

vida).

afinal não levei minha bandei-

Diz ele: “Zaqueu é, aqui,

ra, e me fixei no título: PACI-

muito mais que ele próprio.

ÊNCIA COM DEUS – Opor-

Ele é símbolo de uma procu-

tunidade para um encontro, de

ra, de um desassossego. Ou

Tomás Halik, cientista social e

melhor, é símbolo de quan-

teólogo, nascido em Praga

tos vivem de maneira desas-

(1948).

sossegada em atitude de

Paciência com Deus?!

procura”.

A todo instante tenho clamado

Não é um livro de autoajuda,

pela paciência de Deus e não

mas de reflexão sobre o

“de lá pra cá”.

Cristianismo como herme-

As pernas deixaram de incomodar, a “revolta” sumiu e com um sorriso fui me acomodar num cantinho do

nêutica das luzes e sombras da vida, que tem na paciência sua grande regra.

balcão com o olhar vidrado na “Oportunidade para

Não sou de me apegar a certas ligações, mas foi co-

um encontro”.

mo se o Senhor me dissesse: “Desce da árvore do

A cada página aberta e escaneada pelo olhar acolhedor, apenas fragmentos de frases me absorviam. Vejamos algumas:

orgulho”. Sorri para a atendente do caixa, já com o livro na sacola e, como “humano” desassossegado retruquei: coloque umas cadeiras para os “velhinhos”.

A

educação brasileira, em termos de política educacional, está na contramão de muitos dos conceitos apregoados pelo saudoso mestre Paulo Freire, um dos únicos brasileiros que consta dentre os 100 estrangeiros estudados em universidades norteamericanas. E que, infelizmente, no Brasil é pouco valorizado.

*José de Castro, jornalista, escritor, poeta. Mestre em Tecnologia da Educação. Autor de livros infantis (A marreca de Rebeca, O mundo em minhas mãos, Poemares, Poetrix, Dicionário Engraçado, A cozinha da Maria Farinha, Poemas brincantes). Contato: [email protected]

Ele é autor, dentre outros, dos livros "Pedagogia do Oprimido" e "Educação como prática da Liberdade". Paulo Freire sempre nutriu um grande respeito pelo saber do outro e sempre defendeu o diálogo entre o saber do mestre e o do aprendiz. O respeito pela cultura do outro. O respeito pelo povo como produtor da genuína cultura.

No nosso país, ainda hoje há um grande desrespeito com os profissionais educadores. São tratados como profissionais de quinta categoria. São desrespeitados em seu saber e em sua dignidade. Paulo Freire sempre disse que os educadores também precisam ser educados. E quem educa o educador?

E eu acrescento as perguntas: quem respeita o educador? Quem o valoriza? No Brasil, o seu saber ainda é desprezado e remunerado de maneira vil. Há também pouco estímulo para que esses profissionais da educação básica continuem sempre estudando e aprimorando seus conhecimentos. Não há incentivo para que eles façam pós-graduação, por exemplo, pois isso pouco lhes acrescentará nos rendimentos. Todo esse descaso com os educadores reflete na escola, nos alunos e, claro, na qualidade da educação praticada. Mas a remuneração é apenas um dos lados da questão, pois há também uma grande falta de profissionalismo nas atividades de gestão escolar. Hoje, o instituto da eleição direta existente nas escolas não vem assegurando a eficiência e os resultados que se esperava, pois incorre nos mesmos vícios do processo eleitoral brasileiro, com o seu extremo clientelismo e outros desvios perversos. De outro lado,

as escolas

carecem de bibliotecas. Quando as têm, são meros depósitos de velhos livros didáticos ou de refugos editoriais. Não existe atualização de acervos e tampouco bibliotecários em quantidade para as atividades técnicas inerentes e, muito menos, profissionais agentes de leitura ou mediadores, como hoje são denominados. Geralmente, o professor que vai para a biblioteca é aquele que não tem mais condições de dar aula por algum problema de saúde. Então é designado para ser o cuidador dos livros. Ou seja, o nosso país carece de uma política para essa área, seja para os profissionais, para os livros, para a leitura ou para as bibliotecas. Se bem que no governo que está hoje provisoriamente afastado do poder houve um pontapé inicial com a elaboração de um "Plano Nacional do Livro e da Leitura - PNLL" e a exigência de planos correspondentes nos âmbitos estadual e municipal de todo o país. Mas isso ainda é coisa recente e, com o governo interino, não se sabe os rumos que essa política irá tomar. A verdade é que, apesar de tudo, ainda somos um país de não-leitores. Assim, penso que três passos iniciais poderiam ser dados para se tentar avançar um pouco na área educacional. Em primeiro lugar, cuidar do salário dos profissionais educadores. Melhorar a sua remuneração de maneira que eles não tenham mais que ser taxistas que correm de uma escola para outra,entre duas ou três, para auferirem melhores ganhos.

Uma proposta razoável seria a de se buscar uma aproximação do salário dos professores da educação básica com aquele que é praticado com seus colegas do ensino superior. Ou seja, buscar um pouco de isonomia salarial faria bem para os professores. Este seria um primeiro passo. Pois entendo que uma das condições primordiais para a melhoria da qualidade do ensino passa, sim, pelo bolso do professor. Uma remuneração digna lhe assegura melhores condições de vida, mais tranquilidade e melhores recursos para o exercício da sua profissão. Por exemplo, terá dinheiro para comprar livros, para investir em equipamentos de informática, para ter o seu carro, o seu transporte próprio e morar, se vestir e se alimentar melhor. Poderá cuidar melhor de sua saúde, do seu lazer e dar melhores condições de vida à sua família. Observe-se que não se trata de privilégios, mas, sim, de direitos essenciais de qualquer cidadão. Chega de dizer que magistério é sacerdócio, sacrifício, algo destinado a quem é idealista. Nunca ouvi dizerem isso com relação àqueles que buscam os cursos de medicina, engenharia ou direito, áreas que são muito cobiçadas. O que, infelizmente, não acontece com os cursos de pedagogia. Quem, em sã consciência, quer ser hoje um professor de educação básica? Só aqueles que não tiverem possibilidade de outra escolha, que forem forçados a isso devido a um processo seletivo excludente e desigual, que dificulta o acesso do cidadão

comum, do mais desfavorecido, aos melhores cursos das universidades. Ou então os cursos de pedagogia ficam reservados para aqueles que forem muito idealistas ou vocacionados. Mas não se deve tomar isso como regra, como único princípio definidor da escolha. Vocação chamamento - e gostar do que se faz é recomendável para todo ser humano. Mas nem sempre isso garante com tranquilidade o pão de cada dia.

do qualidade e nem eficiência ao sistema. O que não pode ser imputado apenas ao processo, muitas vezes, enviesado de escolhas. Existem outros aspectos que dificultam a vida de um diretor. E isso não é culpa de o processo ser ou não democrático, apenas. Mas, com certeza, o despreparo para o exercício da função tem sido

Assim, não só os professores das universidades, mas também aqueles que alfabetizam, que dão aulas para crianças, para adolescentes e para jovens merecem ganhar bem. Afinal, é bem mais árduo dar aula para crianças do que para adultos, por razões óbvias. Além do que esses profissionais precisam estar bem ou melhor preparados que os do terceiro grau, pois praticam uma educação básica. Ora, se processo educacional começar mal já na base, depois ficará mais difícil e mais caro para se consertar o desastre. É fundamental que a educação básica seja de qualidade. Aliás, ensino fundamental é um dos níveis da educação básica. A remuneração digna, então, seria um primeiro passo... Depois, viriam outros, como melhoria da gestão. Este poderia ser o segundo passo, o que significaria um esforço para a real profissionalização da condução gerencial das escolas, de forma que a sua missão educativa seja realizada a contento. Isso significaria colocar como diretores de escolas profissionais de carreira bem preparados para o exercício dessa importante tarefa, concursados de preferência. Não se trata de imitar, através da eleição direta, um arremedo de democracia como temos no viciado sistema político brasileiro, tão pródigo em promessas na hora de obter o voto e tão distantes de serem cumpridas após a obtenção da vitória nas urnas. Infelizmente, o processo de eleição direta nas escolas não vem asseguran-

um dos maiores entraves observados. Um terceiro passo poderia ser dado na direção de se valorizar o livro e a leitura, através da instalação e da manutenção de bibliotecas vivas. Nestas, deverão existir profissionais

bibliotecários e mediadores de Leitura bem preparados e remunerados à altura. Os acervos devem existir em quantidade e qualidade, sempre atualizados, de forma a construir o gosto e o prazer pela leitura. Além do que as bibliotecas precisam ser consideradas também como espaços privilegiados de aprendizagem.

seriam apenas um começo de todo um processo mais amplo. Isso implicaria na busca de outras medidas ou estratégias que poderiam ser implementadas, passos mais ousados, como, por exemplo, a adoção do sistema de escola de tempo integral. Mas isso já seria objeto de um outro artigo. Um país que tem como patrono da educação um intelectual como Paulo Freire, merecia cuidar melhor dessa área. Afinal, a educação não é um mero investimento, não é algo a ser contabilizado apenas como investimento em capital humano, como estratégia mercantilista. Educação é algo mais sério, mais profundo. É um mecanismo ou uma ferramenta permanente de formação de seres pensantes, críticos, que sabem fazer a leitura de si mesmos, de sua identidade, de sua cultura, ou seja, pessoas capazes de fazerem a leitura do mundo em que vivem. E que tenham a capacidade de compreender os mecanismos de funcionamento da sociedade em sua inteireza e amplitude política, econômica, cultural e filosófica. E que estejam sempre dispostos a aprender tanto quanto ensinar, o que significa um processo dialético: ensinar é também um ato de aprendizagem, de troca de saberes entre indivíduos que se respeitam. Além do mais é importante que se compreenda em profundidade o que significam as palavras da poeta Cecília Meireles num dos poemas do seu livro "Cânticos" quando diz: "hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender".

É claro que existem outros passos importantes a serem dados para se conferir mais qualidade e propriedade à educação brasileira. Os três aqui apontados, melhoria de salário, aperfeiçoamento da gestão e incentivo à leitura,

E, finalmente, é preciso levar a sério os ensinamentos apregoados por Paulo Freire, nos quais ele afirmava ao mundo inteiro a sua convicção de que a verdadeira educação deve ser vista sempre como uma prática do homem em direção à sua liberdade.

E

ra uma vez um se-

labrador guia...Que seria seu me-

nhor que não cuidou

lhor amigo até o fim da vida.

do

seu

glaucoma

preventivamente.

No fim da vida percebeu, que ficamos cegos para ela a vida toda.

Os médicos falaram para sua filha

E quando perdemos a visão de ver-

que começaria a perder a visão

dade...é quando acordamos para a

paulatinamente em três meses.

vida.

* Weidde Andrino -

Estudante universitário de História. Bilíngue. Poeta e escritor. “Ler livros nos faz descobrir a leitura do maior livro de todos, o livro de nosso próprio ser.” www.aliteraturado eu.blogspot.com.br

Quando soube disso, o senhor

Mas já era tarde...porém, não.

ainda aproveitou seu tempo em

Deus lhe deu a oportunidade de vi-

contagem regressiva, para aprovei-

ver bem mais intensamente...No

tar o verde das plantas e o azul do

fim...cego de amor pela...vida.

céu. Não ver nunca mais, era uma tristeza.

Contudo...aprendeu

“Apenas damos valor para algo,

a

quando perdemos esse algo. ”

aproveitar a vida bem melhor...e

Ditado popular.

não se importava. Comprou um cão

N

ós somos energia. Isto é fato concreto, provado e confirmado por estudiosos em todo o mundo. O que não atentamos, pelo menos não o suficiente, é que somos projetores da nossa energia, daquilo que criamos dentro de nós.

Projetamos sonhos para realizarmos, projetamos as alegrias e dores que sentimos dentro de nós, enfim, todo sentimento, toda reação criada por nós, é energia que transpõe o nosso ser físico e passa a fazer parte da nossa própria vida.

* Ana Luiza Rabelo -

Escritora e advogada. OAB/RN 8823 Fone: (84) 99981-2161

Sempre tem alguém que diz, antes mesmo de tentar, que aquilo “não vai dar certo”. E não vai mesmo! Com essa projeção de fracasso, de pessimismo, vai dar errado, com certeza! Outras pessoas projetam a negatividade sobre o outro: no dia em que eu vejo fulano (a), nada dá certo! E não dá mesmo, porque nós já dirigimos nossa energia nesse sentido, já ensinamos a ela a dar errado quando diante de certas circunstâncias. Assim não seremos capazes de agir, de realizar as coisas boas que a vida planejou para nós. Porque bloqueamos o que

vem de bom, bloqueamos, com a nossa energia “menos bonita”, os arco-íris que a vida nos dá. O que precisamos fazer é sermos fortes. Diante de tantas possibilidades de sermos criadores de ondas de energias, o que nos resta é a força, a força de comandar nossos pensamentos, nós mesmos e nossos destinos. O que precisamos fazer é escolher entre o que é negativo, o que nos faz mal e nos destrói e aquilo que é positivo, que nos empurra para frente, que nos ajuda a ser mais felizes. A vida é feita de escolhas, e é responsabilidade de cada um arcar com as suas próprias. Então, que de hoje em diante tomemos as rédeas dos nossos pensamentos para que possamos nos cercar do que é bom, do que é salutar, pois, se agirmos com medo, se agirmos com negatividade, tudo o que atrairemos serão consequências destes sentimentos. Seremos reféns do nosso próprio cérebro, criadores da nossa própria realidade. Cabe a cada um escolher qual será, como virá. Já dizem os espíritas: o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.

A

* Francisco Ramos Neves Dr. em Filosofia - Professor de Filosofia – UERN [email protected]

globalização neoliberal tem dificuldades intransponíveis para esconder a sua verdadeira face de velho imperialismo. O capitalismo não pode ser visto como o caminho necessário de uma evolução histórica que leva a um mundo melhor gestado por uma sociedade justa e humanamente viável. O movimento comunista, sob orientação marxista, ao pensar assim forneceu bases para a aceitação de uma política historicista conservadora, o que transmutou o ideal revolucionário em apatia socialdemocrata. Walter Benjamin em 1940 em suas “Teses sobre a filosofia da história” afirmava que nada fora mais corruptor para o movimento operário do que esta crença de que a humanidade caminhava naturalmente em um progresso a um fim prometeico e salvador. Com essa visão teleológica, a esquerda socialdemocrata fez acreditar, a partir do resgate da leitura de “O Capital” de Karl Marx, que o capitalismo é um mal necessário, algo inevitável, que deveria ser aceito como momento do desenvolvimento econômico, para ser suplantado e destruído para construção de uma nova sociedade, obedecendo as etapas lógicas de suas ideias. De acordo com esta concepção “etapista” o imperialismo seria a fase superior do capitalismo, como diagnosticava Lênin, líder bolchevique em seus escritos. Esta orientação mecanicista, como último suspiro do historicismo iluminista defen-

dia que esta condição econômica seria o elemento revolucionário que anunciaria a mudança sociedade. Marx foi superado a partir, também, desta fundamentação da teoria revolucionária. A sociedade capitalista se transmutou e não chegou ao seu fim, mesmo com a estonteante contradição existente entre avanço das forças produtivas e as relações sociais de produção. Vivemos com formas hiper avançadas de forças produtivas que incrementam a produção tecnológica de mercadorias na velocidade digital da informática, mas convivemos com relações sociais de produção prémodernas, quase medievais, baseadas em infindáveis bolsões de miséria e exclusões de toda ordem. Mesmo assim, o capitalismo não se desconstruiu. Ele disfarçou seu imperialismo com a imagem neoliberal denominando-a de globalização. A revolução social possível não pode partir desta lógica instrumental. Precisamos repensar e rediscutir o papel do Estado e sua importância para uma nova sociedade. O Estado não pode ser mais visto pela visão marxista, como mero instrumento de poder e dominação das massas pelas elites. O poder se redesenha como biopoder e se efetiva em uma relação, como nos ensina Michel Foucault, e que atualmente extrapola a esfera do Estado e se exerce na relação biopolítica entre grupos. O racismo de Estado é substituído por um racismo intergrupos.

O fundamental no momento é perceber que a globalização sob controle neoliberal não é o inevitável, muito menos a etapa necessária da evolução social moderna, poderíamos estar em outro estágio. A globalização neoliberal atua com características modernas, mas de acordo com a mesma estratégia do imperialismo, submetendo e destruindo a soberania dos estados-nações e subjugando-os ao seu núcleo mercantil de poder. Veja o exemplo da Grécia, que seguiu todas as receitas do sistema financeiro internacional neoliberal e se anexou ao bloco econômico europeu, como exigência globalizante. Agora quando não mais pode alimentar a fome de lucro do grande capital financeiro se encontra ameaçada por uma política eugênica contra sua população que será expurgada da comunidade do euro, como forma de aperfeiçoar o corpo neoliberal das populações europeias, extirpando a sua parte “doentia”. É esta a nova fase da biopolítica tão estudada por Foucault em suas obras, mas só que agora assume uma nova etapa. Hannah Arendt na sua obra “Origem do Totalitarismo” nos alerta que inclusive certos cientistas usaram a ciência para legitimar e justificar a ideologia racista, fazendo desta a principal arma da política imperialista. A tese do darwinismo social se aplica bem ao analisarmos o caso da Grécia. A lógica eugênica dos grupos fortes da Comunidade Europeia (autoproclamados de ‘raça pura’) implementam ações de ameaças e políticas de exclusão das nações (entendidas em Foucault e Arendt como raças) consideradas raças impuras e fracas. O que o imperialismo da globalização neoliberal tenta insanamente e desumanamente demonstrar é que a sobrevivência dos mais aptos da tese evolucionista de Darwin pode ser aplicada na “seleção natural” de raças puras. Seleção natural entre aspas para designar uma ideia de natureza politizada, conscientemente e instrumentalmente empregada, pois é uma seleção ideologicamente articulada por uma econo-bio-política de exclusão para o definhamento da parte do corpo social e político (bloco econômico), apontada como doentia, para evitar o declínio do corpo total considerado puro.

Segundo Arendt a bestialidade sempre esteve presente na eugenia e nega os princípios de igualdade e solidariedade que servem de base para construção das organizações nacionais de povos em sua união com outros povos, garantindo a ideia de humanidade. A Grécia já foi a bola da vez do biopoder do neoliberalismo imperialista está fazendo de tudo para sua própria extirpação, ao tentar se disciplinar e se regrar de acordo com os ditames do mercado financeiro neoliberal. Além do desemprego amplamente crescente os aposentados tiveram suas pensões reduzidas em cerca de 30%. O salário mínimo dos trabalhadores sofreu reduções drásticas e as políticas públicas para a educação e saúde estão se arrastando com apenas 40% dos recursos anteriores à crise. A fome que impera, a mortalidade que cresce, o que inclui altos índices de suicídio, atestam a nova lógica da biopolítica neoliberal, que é a lógica do fazer morrer e do não deixar viver, obrigando-nos a resgatar Foucault e repensar os seus conceitos para além do próprio Foucault. Nesta gestão da vida pela política, não é mais o Estado que exerce o poder soberano de matar como visto antes nas sociedades punitivas. As punições e o poder sobre a vida das pessoas eliminando-a são articulados e combinados com técnicas disciplinares de regulação por meio de diversos dispositivos de controle. O antigo direito de morte sobre a vida do indivíduo é exercido sobre a população não diretamente, mas por artifícios de sufocamento e esmagamento financeiro. O Estado na era do capital financeiro regido pelo neoliberalismo imperialista perde o seu papel soberano para a força centralizadora, manipuladora e vigilante de fortes grupos financeiros transnacionais. O que ontem ocorreu com outros países marginalizados e em crise como a Grécia, hoje ocorre com o Brasil pós-golpe de 2016. Atualmente o Brasil está sendo mais uma vítima da vez. Temática a ser tratada em outro artigo, onde discutiremos como a população brasileira está sendo a mais sofrida e silenciosa vítima deste biopoder em sua lógica eugênico-financeira imperialista sob a égide do Capital Financeiro.

Limites invisíveis

Grandes Momentos da Poesia Norte-Rio-Grandense

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ALEX NASCIMENTO ( SONETO DO LIVRO “ALMA MINHA GENTIL”, 1992)

O amor é uma cura sem doença, É um landau vermelho sem pneu, É uma face oculta em camafeu, É um rezar de tanto não ter crença.

É nunca perceber a diferença, É ser cristão contra um leão orfeu, É não cair diante da sentença, É não lembrar de quem nunca esqueceu. É tanger os limites da conduta, É confundir plateia e direção, É coquetel de vinho com cicuta, É ser original e imitação. Patogênico amor que bem disputa Pau a pau com o enfarte o coração.

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QUATRO POEMAS DE SOCORRO TRINDAD

PENSO… (Sandemberg Oliveira)

QUAL É A TUA, MARIA ANA? Até quando, Maria continuarás em cima do muro, assistindo a tudo como mera expectadora? (...............................................)

A janela aberta,

PRA VOCÊ, COM AMOR.

Pela rua lá fora...

Duas coisas tocam minha carne de mulher: o vestido e você.

A rua lá fora... fora de si... Um homem caminha... Sobe a ladeira, fora de si. Seu rumo incerto, Perdendo seu tempo, Pensando na hora, Fora de si... na rua lá fora. Nos sobe e desce

AMANTE

Das ruas incertas...

Gosto de ser a outra mas com outros....

Um homem caminha, Mas não sabe chegar... Não tem ponto fixo Sequer moradia...

FEMININO A boceta também é uma flor

Sem ter alegria O homem caminha Mas como chegar?

MARIA MARIA GOMES

Perdeu a visão e a audição... Pois vendo o que quer

BICICLETA DE DOMINGO

Como também ouvindo...

Alguém pode dar uma volta

Perdeu o seu rumo...

de bicicleta comigo? Vou no bagageiro, prometo, ao entardecer desse domingo.

E sem ter onde ir O homem caminha Na rua, lá fora e fora de si...

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PAULO DE TARSO CORREIA DE MELO

UMA CANÇÃO PARA ZÉ PRETINHO Zé pretinho foi o primeiro executado em Natal, na manhã de 23 de maio de 1843. Não sabemos onde nasceu, como vivia, idade, antecedentes, espécie de delito. A memória popular defende o acusado, na acepção de inocência total. Luís da Câmara Cascudo História da Cidade do Natal

Raramente a história fala

Quem era esse Zé Pretinho?

dos que não tiveram sorte.

Homem simplório sem dolo,

De Zé Pretinho ela narra

ou não pedia, adivinho,

que foi condenado à morte.

um copo de vinho e bolo.

Se nada se lhe atenua

Ou será que Zé Pretinho

o tempo sábio o redime:

bem sabia o que fazia?

não ficou o sobrenome,

Diverso pão, outro vinho –

também não ficou o crime.

blasfêmia ou eucaristia?

Diz-se que olhou a cidade entre inocente e escarninho, antes de última vontade: comer bolo e tomar vinho.

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MARIZE CASTRO DOIS HAICAIS DE JARBAS MARTINS

Até logo, Che.

A Revolução na esquina E a barba por fazer -0raro escrevo.Vivo. escrever é um verbo intransitivo.

VINHO

Se o queres seco para molhar a garganta eu o quero suave para reinventar essa chama se o queres branco para velar a virgem eu o quero vermelho do porto para aportar as paixões que me dividem

ÁRVORE Um era negro A outra é branca Um é negro Outra é branca Outra é negra

ADRIANO DE SOUSA BIOGRAFIA

Outro é branco Um não tem cor Eu sou negro A outra é branca.

aos 20 anos era um jovem poeta promissor aos 30 anos

Anchieta Rolim, do livro Contagem Regressiva, Sarau das Letras, 2013.

era um jovem poeta aos 40 já era

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CARMEN VASCONCELOS

CORUJAS Belo é não ter pátria. Morar em entrecascas, por aí…

NADA SERÁ EM VÃO (Alfredo Neves)

Porém, se te recordo, terra remota, É ao meu coração que retorno. E não me é dado dilapidar distâncias.

O mundo respira bombas, Os homens vomitam poder, Os loucos se amarguram,

A TEIA DA ARANHA A aranha mora na teia Construída com perfeição Na teia segura o luar Que vagueia Ou prende o azul que desmaia Do arco-íris passageiro. Na teia dissolve o tempo Resolve o alimento. A aranha mora na teia E nas entranhas da moradia A aranha captura A vida e a fantasia.

Anchella Monte, do livro A Trama da Aranha, Sebo Vermelho, 2001.

O mar rebelou-se no litoral E furacões passam errantes. Risos fartos se escasseiam, Carruagens não passam, Cães não ladram E o sol castiga a carne. Corpos não se veem, Bocas se desencontram E perdemos a fé na luta.

O rio , esse que corre Sem se importar, É o único que desemboca E nos traz esperanças.

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LÍVIO OLIVEIRA DE CRIANÇA PULEI E, APÓS O MURO,

VI QUE MEUS COMPANHEIROS… EU JÁ NÃO OS PODIA ALCANÇAR.

ANCHELLA MONTE O POEMA

O verso é livre arbítrio Escolha Palpite. Feliz ou infeliz O verso já existe Quase exato Antes do trato. O verso é promessa Do poema: Acerto ou Equívoco. O leitor é arbitro Do poeta que se enreda No poema.

O BARCO JANILSON SALES DE CARVALHO Sou um barco Na lama do rio Esperando a maré Meu tempo É o das águas Subindo e descendo O sol me seca A chuva me encharca Entre o quente e o frio Minha carcaça racha Em pequenas fissuras Ali as cracas se enfiam Em silenciosa invasão Acomodam-se no meu templo Seus pequenos movimentos Lembram-me que não estou morto Sou guarida As ostras grudam-se Na minha borda e no meu casco Aos poucos a lama me invade E deixo de oscilar com as ondas As águas circulam no meu ventre Sempre aberto Fissuras viraram brechas Onde peixes trafegam curiosos Enquanto a maré me encobre Depois que seca Caranguejos e siris Passeiam em meus restos Já misturados à lama e ao seu cheiro Não vou mais ao mar Ele vem a mim E conta em rugidos Segredos matutinos A lua me encontra no mesmo lugar Hoje sou uma estrela do lodaçal

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NOS TEMPOS DE MENINICE CLÉCIA SANTOS Quando chegavam as férias Nem mesmo amadurecia... Nossas malas, já fazíamos E rumávamos pro sertão de Caicó. Ainda lembro de vovô, tios, Tias, primos, primas, agregados... Até curiosos, se achegavam. Aquele cheirinho de terra batida A bicharada, o ar quente e puro. Tudo, tudo era prosa!! Lembranças que não voltam... Estão acesas apenas na memória.

Nos tempos de meninice Lá em algum espaço de Caicó!

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CANTOS NA MADRUGADA WILDMA ALVES Quero cantar a ti esta canção. Teus coqueiros,

O teu céu e mar, Fazem brilhar meu coração de mar sem igual. As últimas palavras de um poeta São o último suspiro de um sábio. O sol desaparece, Cai o anoitecer, A lua brilha, A estrela pisca, E meus olhos fascinaram-se ao te olhar. Eu queria ser uma borboleta, pousar no seu peito Sentir teu coração... Felicidade é igual a uma borboleta: quanto mais ela foge... Uma dia você se distrai e ela pousa em teu ombro. O verdadeiro amor é aquele que constrói pontes e derruba barreiras. Dizem que na vida quem perde o telhado ganha as estrelas. Sou como águia sempre vou voar bem alto... Se você quer saber o quanto eu te amo, é simples.

Multiplique as estrelas do céu pelas gotas dos oceanos. Porque nem uma coleção de estrelas teria tanto brilho quanto um sorriso teu. Posso conhecer todos os sorrisos do mundo, Mas apenas um tem a chave para o meu coração, teu. Da mais bela flor nasceu nosso amor. Meu coração tem dono. Vem me esquecer nesse outono. Deixar o sol entrar. Pode abrir as janelas.

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NORDESTINA

ah! mágoa antiga! pois, ainda menina, minha infância via copos cheios de cachaça para nublar pratos vazios ou para calar sempre tão velhos outros desafios. e enquanto vivo e vivi

renovam-se sempre dores mais e outras. as palavras rotas, gastas, soltas não secam a sede dos potes, secas úvulas. copos e gargantas, e o homem, forte homem espera ainda entre a fé e a crença, pele espetada de ossos

que acreditem que a seca não se cura com xaropes de emergência.

VICENTE VITORIANO, do livro OS VÉRTICES DO TRIÂNGULO, entre 1974 e 1983.

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FLOR PARTIDA Oreny Jr.

E as folhas secas entre as páginas de um livro dá voz geral aos sentidos imaginários, imaginários sem sentidos, germinando em doses cavalares de sólidas decomposições amarelecidas em dióxidos de óxidos, óxidos, ferrosos assim. Aflorando num dia qualquer da abertura vértice em uma página ajardinada pela moldagem cozinhada de uma marca qualquer, florescências. E o poeta cordial oferece a flor geral, não uma flor qualquer, uma flor que perdura por cinquenta e três anos no cálice inebriado de um mar em vórtice.

Por quanto tempo uma flor espera por um olhar qualquer, mas não um olhar qualquer, o olhar de Leda, quando a depositou sob os olhos pastoreantes tocando a flauta que a perderia na floresta das pétalas de quatro folhas. Flores que acalantam, poemas, dádivas, divas empalhadas em porcelanatos, rijas de dóceis doces sorrisos pelos jardineiros afoitos. Frutos em caules sob sombras dão o doce sabor para o melhor chocolate, servidos em dias frios com o olhar que enxerga a bifurca certeza do imprevisto encontro que marcamos sóbrios. Folhas não tão simples assim, rebelde, perde-se do ramalhete, por não ser uma flor tão simples assim, mas seria o marcador que lembraria a página seguinte ou o melhor texto, onde sublinhamos o melhor poema, o perfume da memória da nossa adolescência. Em noturnas colheitas despeço-me das solidões pelos tempos que tenho passado na espera do anjo avoante que me replantasse na aridez do seu sertão. Aos anjos, estrelas, às folhas, flores...

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A PRECISÃO DAS COISAS João Batista A imprecisão das coisas é fato decisivo na cartografia indecisa do cotidiano O que pulveriza a rotina? Por trás do silêncio Um amálgama de conflitos O que se esconde? O que se retrata?

eis a dança das najas cotidianas que soltam a peçonha do silêncio também a tagarelice, esse signo vulgar, não reúne as cores vivas da surpresa Vale o impreciso do silêncio como um preceito búdico que diz o branco do branco

O que escapa?

e o escuro em que somem

A tática do silêncio que julga

para reverberar tudo

mais a que fala O efeito do sentido quando o silêncio fala Hordas em maledicências vão tecendo a matéria vil de um silêncio sem motivo

os matizes na mistura da festa dos sentidos

JOÃO BATISTA DE MORAIS NETO, do livro O VENENO DO SILÊNCIO, 2010.

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O NAVEGANTE

Em meio a viagens errantes, Ancorando em diversos portos de obscuros mares,

O solitário navio vivenciava as mais assombrosas experiências:

Sombra e luz, Agonia e êxtase, Gravidade e leveza; Doença e saúde, Exílio e refúgio, Inferno e paraíso.

Nele não existia rota definida, Capitão nem marinheiros que o orientasse.

Ele era a sua própria bússola, Seu próprio leme, Seu próprio deus.

Após vários verões escaldantes, O solitário resolveu se apartar de mais um porto. Nele vivenciou experiências sublimes E sentiu demasiados prazeres arrebatadores Que o preencheu e o fez transbordar Igualmente as músicas do magnânimo Mozart.

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A âncora foi sendo içada lentamente. Entre o navio e o porto abriu-se um espaço Para que outro navegante pudesse ali se atracar.

Os céus se escureceram. Tambores rufaram das densas nuvens E raios caíram sobre o mar; Às águas se eletrizaram e o vento soprou intensamente.

A cada relâmpago que iluminava o momento de ruptura, O espaço entre o solitário e o belo porto aumentava. A tempestade que há muito tempo não caía sobre aquele mar, Fez com que o vento acelerasse a partida do solitário navio.

Da proa ele viu o magnífico porto diminuir.

Em seu coração de lata, Ficaram as ideias que ali foram criadas E a imagem das furiosas ondas batendo contra um obtuso recife

Que para trás ficou.

E assim se foi o solitário, Navegando em meio ao mar tempestuoso; Carregando em seu convés as experiências vivenciadas... Tiago Xavier - Mestrando em Filosofia pela UFRN.

O PROFESSOR COMO INTELECTUAL ORGÂNICO: UMA REFLEXÃO SOBRE A REALIDADE DA DOCÊNCIA BRASILEIRA

Francisco Marcos Alves1 Dr. Francisco Ramos Neves2

RESUMO: Na perspectiva da formação docente, Antônio Gramsci, em sua obra, caracteriza todos os homens como intelectuais, já que todo trabalho manual ou instrumental envolve uma técnica, uma atividade intelectual criadora, dividindo-os em intelectuais tradicionais e orgânicos. Os primeiros se caracterizam por seu apoio incondicional a classe dirigente de uma determinada sociedade; já os orgânicos são os que surgem no seio de todo agrupamento próprio da esfera produtiva que criam uma "consciência da própria função, não apenas no campo produtivo, mas também no social e no político. Sob esse enfoque, o presente artigo tem como objetivo discorrer acerca da necessidade de atuação dos professores como intelectuais orgânicos frente à proletarização da profissão, refletindo sobre a realidade da atividade docente no país. Trata-se de um trabalho bibliográfico, metodologicamente fundamentado no materialismo histórico dialético, particularmente nas formulações de Antônio Gramsci.

Palavras-chave: Formação docente. Proletarização docente. Intelectuais orgânicos.

ABSTRACT: In the perspective of teacher education, Antônio Gramsci, in his work, characterizes all men as intellectuals, since all manual or instrumental work involves a technique, a creative intellectual activity, dividing them into traditional and organic intellectuals. The former are characterized by their unconditional support to the ruling class of a given society; the organic ones are those that arise within any grouping proper to the productive sphere that create an "awareness of the function itself, not only in the productive field, but also in the social and the political. about the need of teachers as organic intellectuals in the face of the proletarianization of the profession, reflecting on the reality of the teaching activity in the country, a bibliographical work, methodologically grounded in dialectical historical materialism, particularly in the formulations of Antônio Gramsci.

OBRA DO ARTISTA PLÁSTICO

Keywords: Teacher training. Teacher proletarianization. Organic intellectuals.

1 INTRODUÇÃO

FRANZ KLINE