UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (UNIJUÍ) DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO (DACEC) CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO DE COOPERATIVAS A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO NAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS - ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS COMO FERRAMENTA DE APOIO ÀS DECISÕES: UM ESTUDO DE CASO FABIANE PADILHA DE OLIVEIRA1 Orientadora: Profª. Anélia Franceli Steinbrenner2 Resumo O presente artigo trata do uso da contabilidade como instrumento de gestão nas cooperativas agropecuárias, tendo como ferramenta a análise das demonstrações contábeis. Este estudo se justifica devido à representatividade das cooperativas nas economias tanto em nível mundial quanto regional e, também, no sentido de demonstrar o quanto as informações geradas pela contabilidade são relevantes e podem auxiliar os gestores de cooperativas na tomada de decisões. No referencial teórico foram abordados os tópicos pertinentes ao cooperativismo, à contabilidade e à análise das demonstrações contábeis. A pesquisa classificou-se como qualitativa, aplicada, descritiva, documental e foi realizada por meio de estudo de caso de uma cooperativa agropecuária de grande porte do estado do Paraná que disponibiliza suas Demonstrações Financeiras auditadas na internet, devido à dificuldade em obter dados das cooperativas regionais e com o grau de confiabilidade necessário para as análises. Os dados do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Sobras e Perdas foram analisados com elevado grau de detalhe tendo como consequência, após as análises, a descrição da situação econômico-financeira da cooperativa. O foco foi direcionado à análise por meio de índices, constatando-se que os gestores conseguem visualizar com clareza a situação econômicofinanceira da cooperativa, podendo ser utilizada como ferramenta para definição de estratégias futuras, para nortear as relações com o mercado, bem como para revisar processos internos e melhorar a sua performance, ou seja, as informações geradas pela contabilidade são relevantes para a tomada de decisões. Palavras-chave: gestão de cooperativas, contabilidade, análise das demonstrações contábeis, índices econômico-financeiros.

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Aluna do Curso de Pós-graduação em Gestão de Cooperativas – Turma 2013-2014. Contatos: (55) 8130-4239, (55) 9934-2340, [email protected] 2

Professora da disciplina: A Contabilidade em Ambiente de Cooperativas do Curso de Pós-graduação em Gestão de Cooperativas – Turma 2013-2014. Contatos: (55) 9149-9645, [email protected]

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1. Introdução Considerando a relevância das cooperativas nas economias mundial, nacional e do estado, como se verifica no levantamento efetuado no referencial teórico acerca do Cooperativismo, torna-se consideravelmente importante que os profissionais da contabilidade estejam preparados para atender às demandas, de modo que a gestão dessas entidades seja otimizada e esteja adequadamente alinhada ao que regem os preceitos legais, contábeis e tributários vigentes. Segundo artigo publicado pelo contador Branchi (2014), coordenador do Grupo de Estudos de Contabilidade Gerencial do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRC/RS), é essencial que as informações geradas pela contabilidade sejam tempestivas e consistentes, pela rapidez e agilidade que o mercado atual exige, por exemplo, na tomada de decisões no curto prazo e que estejam de acordo com projeções de cenários futuros e com vistas à continuidade dos negócios. Também comenta sobre os impactos da adoção das normas internacionais de contabilidade, que traz consigo aumento do nível de responsabilidade das empresas como um todo, tornando necessárias mudanças organizacionais que afetam diversos aspectos de seus ambientes internos e processos, e necessidade de uma contabilidade que vai além da simples apresentação e divulgação das demonstrações contábeis, passando a ter uma visão mais prospectiva e subjetiva no subsídio do processo de gestão dos negócios. Ele ainda destaca que é fundamental que o profissional contábil amplie suas habilidades, tenha entendimento dos negócios e participação ativa no processo de gestão, para atender de modo eficaz as demandas das entidades para as quais presta serviços. Entretanto, na prática percebe-se que, em sua maioria, os associados, especialmente das cooperativas agropecuárias e da agricultura familiar, possuem baixo nível de escolaridade e tem dificuldade em interpretar os números que lhes são apresentados. Portanto, além do trabalho do profissional contábil nas organizações cooperativas no sentido de que as informações geradas sejam úteis para a tomada de decisões, torna-se extremamente importante que seus gestores, na figura da diretoria e conselhos eleitos, tenham a capacidade de interpretá-las e utilizá-las de maneira adequada como ferramenta de apoio às decisões, devendo ser incentivada uma maior interação do contador com os gestores das cooperativas. Inicialmente tinha-se o objetivo de analisar relatórios contábeis de cooperativas da Região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, mas, devido à dificuldade de acesso aos dados e levando em consideração a confiabilidade da informação contábil, optou-se por uma cooperativa que tem seus demonstrativos contábeis auditados disponibilizados na internet, sendo que as técnicas podem ser aplicadas às demais. Diante da expressividade do cooperativismo em âmbito mundial a regional, das profundas mudanças a que as cooperativas estão sujeitas, da carência dos gestores das cooperativas em ter informações úteis que os auxiliem de forma efetiva na tomada de decisão, controle e planejamento das atividades, surgiu o seguinte questionamento para estudo: Quais as informações de cunho econômico-financeiro, geradas pela contabilidade, que podem ser utilizadas pelos gestores de cooperativas agropecuárias como subsidio à tomada de decisões? Esse artigo tem, portanto, por objetivo demonstrar que as informações geradas pela contabilidade, disponíveis nas demonstrações contábeis, especificamente o Balanço Patrimonial (BP) e a Demonstração de Sobras ou Perdas (DSP), podem ser utilizadas nas análises por meio de índices para subsidiar a tomada de decisão nas cooperativas agropecuárias. Para isso, buscou-se: 2

 Demonstrar conceitos de contabilidade e análise das demonstrações contábeis;  Calcular e analisar os indicadores econômico-financeiros com base nas demonstrações contábeis de uma cooperativa do ramo agropecuário, especificamente o Balanço Patrimonial e Demonstração de Sobras ou Perdas;  Propor iniciativas de “educação contábil-cooperativa” para promoção do aprendizado e entendimento das Demonstrações Contábeis e suas análises por parte de gestores e associados de cooperativas. 2. Referencial Teórico 2.1 Cooperativismo Segundo o Relatório de Atividades da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB - (2013), órgão máximo de representação do cooperativismo no Brasil, o cooperativismo é um modelo socioeconômico fundamentado na participação democrática, na solidariedade, na independência e na autonomia dos que se unem de forma voluntária em prol de um objetivo econômico e social comum, cuja meta é atender às necessidades do grupo e garantir o bem-estar de cada integrante, em que as decisões são coletivas e os resultados distribuídos com equidade, conforme a participação de cada um. Tem a honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação com o meio ambiente como valores essenciais na busca por resultados economicamente viáveis, ecologicamente corretos e socialmente justos. De acordo com BÜTTENBENDER; ROTTA; HOFLER, (2015), o histórico do cooperativismo remonta aos primórdios da humanidade uma vez que, desde que os homens começaram a organizar-se em sociedade, o espírito cooperativo faz parte das relações nas comunidades. O cooperativismo surgiu durante a Revolução Industrial, no Séc. XVIII. Àquela época, a sociedade passava por profundas transformações econômicas e sociais, e pensadores discutiram e defenderam formas de cooperação e associação como meio de combater as injustiças promovidas. Foi nos idos de 1844 que o cooperativismo encontrou a forma e a consistência que perduram até a atualidade. Na cidade de Rochdale, Manchester, Inglaterra, um grupo de 28 tecelões fundou uma sociedade depois de economizarem, durante um ano, uma libra cada um. Ao reunirem suas modestas economias, objetivavam melhorar suas condições de vida. O modo como funcionava a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, continha os princípios que constituem a base da doutrina cooperativista. Esses princípios, segundo os autores, abrangiam a livre adesão e demissão de sócios; um voto por pessoa; distribuição de ganhos proporcional às operações realizadas pelos sócios; vendas realizadas apenas à vista a fim de que os trabalhadores só assumissem responsabilidades com as quais pudessem arcar; dos ganhos, uma parcela seria destinada a um fundo para a educação dos membros cooperados; taxa limitada de juros do capital; e gestão democrática. Os autores comentam ainda que em 1895 o cooperativismo ganhou força no mundo, com a criação da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), órgão não governamental e independente cuja missão é representar, congregar e defender o movimento cooperativista. No Brasil, as primeiras experiências cooperativistas foram desenvolvidas pelos padres jesuítas, ainda no Séc. XVIII, mas foi somente nos anos 1900 que surgiram as primeiras cooperativas brasileiras, e no período entre 1950 e 1960 é que o cooperativismo ganhou força. Em 1969 foi criada a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que representa e defende os interesses do cooperativismo no país. 3

No Estado do Rio Grande do Sul, é o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Sistema OCERGS-SESCOOP/RS) que representam as cooperativas, e visualizam como objetivos estratégicos do Sistema Cooperativista, a implementação de boas práticas de governança e gestão nas cooperativas e relaciona isso com a transparência e assertividade na prestação de contas, que decorrem do adequado registro dos fatos e atos contábeis. O cooperativismo tem forte participação na economia do mundo, especialmente por seu caráter agregador de pessoas que buscam alcançar objetivos comuns, minimizando custos e maximizando resultados. Em nível mundial, a edição 2014 do World Co-operative Monitor – Monitor do Cooperativismo no Mundo, em tradução livre - de iniciativa ACI, mapeou o cooperativismo a partir de dados levantados no ano de 2012, considerando um total de 1.926 cooperativas em 65 países. O volume total de negócios foi de 2,623 bilhões de Dólares, dos quais 27% são do ramo da agricultura e agroindústria, que movimentaram 598,9 bilhões de Dólares em 2012. No Brasil, são 6,6 mil cooperativas, segundo o Relatório de Atividades da OCB (2013), tendo mais de 11 milhões de associados nos 13 ramos de atividade, dos quais pouco mais de um milhão são de cooperativas do ramo agropecuário. Em 2013, as exportações efetuadas por cooperativas brasileiras atingiram os 6 bilhões de Dólares, sendo 90% delas do setor agropecuário. No Rio Grande do Sul, conforme o relatório Expressão do Cooperativismo Gaúcho, publicado pelo Sistema OCERGS-SESCOOP/RS (2013), as 464 cooperativas ativas apresentaram um faturamento anual total de 28,2 bilhões de Reais e tem 2,5 milhões de associados. Destas, 148 são cooperativas do ramo agropecuário e o grupo de maior expressão econômica, tendo apresentado faturamento de 18,7 bilhões de Reais em 2013. Conforme o porte, as cooperativas gaúchas listadas nesse relatório estão distribuídas conforme o Quadro 1: Quadro 1: Porte das cooperativas de acordo com a receita operacional bruta anual Porte da Cooperativa

Nº de Cooperativas

% s/ Total

Micro e Pequena (até R$ 16 mi)

72

49%

Média Empresa (R$ 16 mi a R$ 90 mi)

37

25%

Média-Grande Empresa (R$ 90 mi a R$ 300 mi)

18

12%

Grande Empresa (mais que R$ 300 mi) 21 Fonte: Adaptado de OCERGS-SESCOOP/RS (2013, p. 25).

14%

De acordo com o site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2014), Caio Rocha, secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC), destacou a importância de um acompanhamento de perto dos projetos de lei relacionados ao cooperativismo para o setor, pois o associativismo e o cooperativismo têm contribuído cada vez mais para o desenvolvimento da agricultura brasileira. Para ele, é preciso ficar de olho no que é interesse do setor e permitir o desenvolvimento das cooperativas agropecuárias que, em muitas localidades, representam uma das poucas possibilidades de agregação de valor à produção rural, bem como da inserção de pequenos e médios produtores em mercados concentrados. O Quadro 1 corrobora com a fala do Secretário, pois mostra que no Rio Grande do Sul, 49% das cooperativas agropecuárias são de porte micro e pequeno, e quase 75% delas são de micro a médio porte. E são justamente essas as que mais carecem de que a contabilidade auxilie de modo eficaz e eficiente na sua gestão. Com as constantes mudanças na legislação, transição dos padrões contábeis brasileiros para os padrões internacionais e as leis de 4

transparência, todas as organizações devem estar preparadas para atender às novas demandas, e ter sua gestão o mais profissional e qualificada possível. Portanto, ressalta-se que a contabilidade tem papel fundamental nas cooperativas e deve ser tratada com a devida importância tanto pelos profissionais contábeis ao gerar as informações, quanto pelos gestores que poderão utilizá-las. Diante disso, cabe referenciar a importância da contabilidade não apenas para as empresas, mas também para as cooperativas, que são entidades com objetivos sociais com intuito de trazer benefícios aos seus associados, sem cunho capitalista, e que precisam adaptar-se e adequar-se às mudanças frequentes nas relações com o mercado. Na sequencia aborda-se os conceitos e objetivos da contabilidade e da análise das demonstrações contábeis. 2.2 Contabilidade Conforme definem a CVM e o IBRACON (apud. Padoveze, 2000, p. 43), A contabilidade é, objetivamente, um Sistema de Informação e Avaliação destinado a prover seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização. Os objetivos da Contabilidade, pois, devem ser aderentes, de alguma forma explícita ou implícita, àquilo que o usuário considera como elementos importantes para seu processo decisório.

Para que seja integralmente válida, a informação contábil deve ser desejada e útil para ser necessária. Essa necessidade é determinada pelos usuários dessas informações, sendo necessário saber o que eles esperam, necessitam e querem de informações para tomada de decisões. Os usuários da informação contábil são pessoas que se utilizam das demonstrações para acompanhamento das operações e da situação econômico-financeira das entidades. Outro aspecto importante é a necessidade de planejamento para que seja possível atender aos usuários tempestivamente com os relatórios solicitados. É necessário saber o nível de conhecimento dos usuários, para construir relatórios diferenciados para cada nível. Isso possibilita o controle posterior pois os relatórios terão maior possibilidade de serem aceitos e compreendidos pelos usuários. Corroborando com isso, Braga (2003) destaca que “a contabilidade é um meio de expressar planos administrativos e um instrumento para relatar os resultados da administração”; é instrumento para controle e planejamento, tendo a função de fornecer dados suplementares de modo sistemático e oportuno, facilitando a avaliação, seleção e subsequente análise das informações. A contabilidade, portanto, tem papel fundamental em todos os processos das entidades, desde a mensuração e registro dos dados com base nos atos e fatos ocorridos, até o planejamento, controle e avaliação de desempenho baseados nas análises das informações geradas pela contabilidade. As áreas abrangidas pela contabilidade são amplas e, dentre elas, estão a contabilidade financeira, que é a legal, que segue princípios, normas e legislação contábil; a contabilidade gerencial, que foca as informações mais direcionadas para os usuários internos; e a análise das demonstrações contábeis, que permite um panorama da situação econômicofinanceira das entidades. Dentro da contabilidade, a gerencial se diferencia da geral ou financeira, pelo simples fato de as informações geradas por ela serem voltadas quase que em caráter exclusivo aos usuários internos, ou seja, diretores e gestores. 5

Iudícibus (1998) refere que a contabilidade gerencial, num sentido mais profundo, está voltada única e exclusivamente para a administração da empresa, procurando suprir informações que se encaixem de maneira válida e efetiva no modelo decisório do administrador. Assim, ele afirma que todo procedimento, técnica, informação ou relatório contábil feito sob medida para que a administração decida entre alternativas conflitantes ou na avaliação de desempenho da entidade, recai na contabilidade gerencial. Os relatórios e análises financeiras geradas pela contabilidade financeira, desde que sejam refinados, servem à contabilidade gerencial como indicadores válidos de desempenho e podem ser utilizados na tomada de decisão. Portanto, para que exista a contabilidade gerencial, faz-se necessário o desenvolvimento de um Sistema de Informação Contábil Gerencial para que os dados da contabilidade financeira sejam adequadamente qualificados e segmentados de acordo com as necessidades dos usuários, na geração de informações que serão utilizadas tempestivamente no processo de tomada de decisão, sendo necessário que haja profissional capacitado para gerenciar este sistema. Iudícibus (1998) define um contador gerencial como um profissional com formação bastante ampla, inclusive com conhecimento, se não das técnicas, pelo menos dos objetivos ou resultados que podem ser alcançados com métodos quantitativos. Deve estar cônscio de certos conceitos de microeconomia e, acima de tudo, deve saber observar como os administradores reagem à forma e ao conteúdo dos relatórios contábeis. É imprescindível que o profissional contábil mantenha-se atualizado e informado acerca de mudanças e alterações legais, tributárias, contábeis, conjuntura econômica, tecnologia, bem como acerca das entidades para as quais presta serviços. Deve estar em constante aprendizado, para acompanhar o ritmo cada vez mais acelerado das mudanças. As técnicas de análise das demonstrações contábeis podem ser aplicadas tanto em informações geradas pela contabilidade financeira quanto pela contabilidade gerencial, portanto, devido ao acesso e à confiabilidade dos dados, foram utilizadas as demonstrações contábeis auditadas de uma cooperativa para aplicação das técnicas descritas na sequencia. 2.3 Análise das Demonstrações Contábeis Dentre as funções da contabilidade, destaca-se a preocupação com o registro das operações, identificando, organizando e compilando dados com base nos fatos econômicofinanceiros ocorridos e finalizando com a elaboração das demonstrações contábeis. São os dados das demonstrações, subsidiados por normas e padrões, que são utilizados para avaliar a situação econômico-financeira das entidades. A análise das demonstrações é que transforma os dados gerados em informações úteis à tomada de decisões, tanto de usuários internos quanto externos às entidades. Um ponto crucial antes de iniciar a análise das demonstrações contábeis, é verificar a confiabilidade destas informações. Sobre isso, Ferronato (2011, p.118) cita resumidamente os Pronunciamentos 31 a 38 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC): Pronunciamento 31: para ser útil, a informação deve ser confiável, ou seja, deve estar livre de erros ou vieses relevantes e representar com propriedade aquilo que se propõe a representar. Pronunciamento 33: para ser confiável, a informação deve representar com propriedade as transações e outros eventos que ela diz representar. Pronunciamento 38: para ser confiável, a informação constante das demonstrações contábeis deve ser completa, dentro dos limites de materialidade e custo. Uma omissão pode tornar a informação falsa ou distorcida e, portanto, não confiável e deficiente.

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Portanto, quando as demonstrações contábeis passam por auditoria, fornecem maior confiabilidade. Sob esses aspectos, percebe-se a importância das informações geradas pela contabilidade seguirem os preceitos ditados pelos princípios, normas e pronunciamentos contábeis, para utilização das análises das demonstrações financeiras como parte fundamental na tomada de decisões nas entidades. A Figura 1 ilustra o fluxo do processo contábil para geração das informações: Figura 1: Fluxo do processo contábil

Fonte: Matarazzo (2003, p. 16).

Segundo Souza (2009, p. 120), análise das demonstrações contábeis é “o método consistente de cálculos através de fórmulas, aplicados sobre dados extraídos das demonstrações financeiras e contábeis, que permitem uma avaliação da situação econômicofinanceira e patrimonial das entidades”. Padoveze e Benedicto (2014, p.3), definem análise das demonstrações contábeis como “um processo meditativo sobre os números de uma entidade”, de cuja avaliação dos dados utilizados o analista “extrairá elementos e fará julgamentos sobre o futuro da entidade objeto da análise”. Para eles, é importante para o gerenciamento empresarial a comparabilidade das informações em aspectos como a comparação com períodos passados, com padrões setoriais, com períodos orçados, com padrões internacionais e com empresas concorrentes. Além disso, consideram que a excelência da análise econômico-financeira relaciona-se com a qualidade e alcance das informações que se consegue gerar, valendo-se de cálculos matemáticos e traduzindo as demonstrações contábeis em indicadores econômicofinanceiros, sendo mais importante saber interpretar os indicadores e elaborar relatórios com os pontos fortes e fracos do processo operacional e financeiro da empresa, propondo alternativas de curso futuro (PADOVEZE; BENEDICTO, 2014). Numa visão mais direcionada às cooperativas do ramo agropecuário, no qual estão inseridas as da agricultura familiar, Crepaldi (2005) considera que para empresas rurais, em alguns ramos de negócios, são criados índices específicos de desempenho como, por exemplo, o de produtividade da terra em suas áreas disponíveis. Lembra que as contas e as relações escolhidas para as análises não são aleatórias, mas fruto da experiência, e que nada impede de que se criem outros índices conforme as necessidades das entidades. Nota-se aqui, que a análise das demonstrações contábeis é adaptável às necessidades dos usuários de acordo com o tipo de informação que desejam. O analista irá estabelecer relações entre contas e/ou grupos de contas de modo que as informações façam sentido para ele, tomando cuidado, também, com as influências externas à entidade analisada. A seleção dos indicadores a serem calculados e analisados, dependerá de qual será seu uso e objetivos, ou seja, quem são os usuários das informações e para que fim as desejam. Para Padoveze e Benedicto (2014) os principais interessados na análise são os gestores, além de outras empresas, pessoas e instituições com as quais se relacionam. 7

Matarazo (2003) reforça a importância da análise das demonstrações para usuários internos, afirmando que uma rigorosa análise das demonstrações contábeis é o começo do processo de diagnóstico de uma entidade, pois mostra seus pontos críticos e permite avaliar as medidas prioritárias para a solução destes. A análise das demonstrações contábeis como instrumento de gestão proporciona “aos administradores da empresa uma melhor visão das tendências dos negócios” visando “assegurar que os recursos sejam obtidos e aplicados, efetiva e eficientemente, na realização das metas da organização” (BRAGA, 2003, p. 179). Entretanto, é importante lembrar que a análise das demonstrações financeiras deve também levar em consideração informações externas à entidade, tais como, situação do mercado, políticas econômicas, etc. Braga (2003, p. 180) descreve que “os padrões internos servem para avaliar o comportamento histórico da empresa, em relação a ela própria, enquanto os externos possibilitam avaliá-la em relação a suas concorrentes no mercado”. Para o autor, “a observação periódica das situações da empresa e do mercado pode proporcionar uma visão aproximada da posição do empreendimento”, evidenciando situações que precisam e podem ser investigadas. Para que a análise das demonstrações seja de fato útil aos usuários interessados, o analista segue algumas etapas, começando pela identificação das informações desejadas pelos usuários internos e/ou externos, posterior seleção dos indicadores que atendam às necessidades e extração das informações com base nas demonstrações contábeis. Na sequência, compara e pondera os índices e informações gerados, para então chegar a um diagnóstico no qual se basearão as decisões. Destaca-se que o objetivo da análise das demonstrações contábeis é fornecer informações sobre a situação patrimonial, financeira e de desempenho de determinada entidade, utilizando diversas técnicas, tais como análise vertical, análise horizontal, análise dos indicadores de liquidez, de endividamento, de lucratividade e de rentabilidade, os quais são descritos na sequência. A análise vertical tem a finalidade de verificar a estrutura patrimonial e de resultado (sobras ou perdas) da entidade. É utilizada para avaliar a relação entre as contas de uma única demonstração contábil. Conforme Silva (2012), o primeiro propósito da análise vertical é mostrar a participação relativa de cada item de uma demonstração contábil em relação a determinado referencial. No balanço, por exemplo, é comum determinarmos quanto por cento representa cada rubrica e/ou grupo de rubricas em relação ao Ativo total. Iudícibus (2010, p. 86) complementa que “este tipo de análise é importante para avaliar a estrutura de composição de itens e sua evolução no tempo”. O propósito da análise horizontal é permitir o exame da evolução histórica de cada uma das contas que compõem as demonstrações contábeis (SILVA, 2012). A análise horizontal tem por finalidade verificar o comportamento do patrimônio e do resultado da entidade. É utilizada para avaliar a relação ao longo do tempo, de cada conta das demonstrações contábeis entre, no mínimo, dois períodos. Os valores da demonstração contábil de data mais remota são tidos como base, enquanto os valores dos anos mais recentes são expressos em percentagem, em relação ao valor do ano anterior (SZUSTER et al, 2013). Segundo Iudícibus (2010, p. 83) “a finalidade principal da análise horizontal é apontar o crescimento de itens dos Balanços e das Demonstrações de Resultados (bem como de outros demonstrativos) através dos períodos, a fim de caracterizar tendências”. Esse tipo de análise mostra o comportamento de cada um dos itens das demonstrações contábeis, período após período. Szuster et al (2013) ressalta que se deve ter um cuidado maior com esta análise, pois 8

ela ignora o impacto da inflação, devido a isso, antes de desenvolver os cálculos é necessário atualizar os valores objeto do cálculo, tendo por objetivo observar a evolução ou involução dos seus componentes. Para Padoveze e Benedicto (2014), as análises horizontal e vertical são importantes para possibilitar com mais clareza a identificação de pontos positivos e negativos, sendo a vertical caracterizada pela análise de estrutura ou participação, e a horizontal em mensurar a variação de crescimento ou decréscimo dos elementos das demonstrações contábeis. Para a análise das demonstrações contábeis, é necessário extrair as informações que sejam úteis de acordo com as necessidades apontadas pelos usuários, uma vez que a gama de possibilidades que a contabilidade produz em termos de dados e informações é enorme. Este estudo trata primordialmente do uso da informação contábil como instrumento na tomada de decisão nas cooperativas agropecuárias, ou seja, quais informações são úteis aos usuários internos da contabilidade, aos gestores dessas entidades. Matarazzo (2003, p. 147), refere que os índices que podem ser calculados com base nas demonstrações contábeis, são instrumento básico, e a técnica de análise econômicofinanceira mais utilizada, tendo como “característica fundamental fornecer visão ampla” da situação da empresa. Padoveze e Benedicto (2014, p. 147), mencionam que a análise por meio de índices consiste, basicamente, “em números e percentuais resultantes das diversas inter-relações possíveis entre os elementos patrimoniais constantes do balanço e da demonstração de resultados”. Eles recomendam que não se utilize uma quantidade muito grande de indicadores, pois o excesso pode prejudicar a análise. Geralmente os indicadores são segmentados em blocos, de acordo com os aspectos revelados por eles. Matarazzo (2003) os divide em: Estrutura e Liquidez, que evidenciam aspectos financeiros; e de Rentabilidade que evidenciam aspectos econômicos. Os indicadores de Liquidez avaliam a capacidade de pagamento da entidade, ou seja, a capacidade de saldar as dívidas no período analisado, devendo, segundo Padoveze e Benedicto (2014), ser analisadas as possibilidades futuras de geração de resultados positivos, aumentar ou diminuir ativos realizáveis e aumentar ou diminuir passivos exigíveis. No presente estudo foram pesquisados quatro indicadores de Liquidez mais usuais: os de liquidez corrente, seca, imediata e geral. Os autores Matarazzo (2003), Padoveze e Benedicto (2014) e Braga (2003), descrevem aos índices de liquidez, na mesma linha, considerando que a liquidez corrente tem como base os valores de curto prazo realizáveis e exigíveis dentro de um ano; a liquidez seca exclui os estoques dos ativos de curto prazo para a realização do cálculo em confronto com o exigível a curto prazo; a liquidez imediata se utiliza no cálculo apenas os valores em moeda, ou que podem rapidamente ser convertidos em moeda, em confronto com dívidas de curto prazo; e o cálculo da liquidez geral considera todos os ativos realizáveis e passivos exigíveis, tanto no curto prazo quanto no longo prazo. Com relação aos indicadores de Estrutura e Endividamento, os autores Matarazzo (2003) e Padoveze e Benedicto (2014) destacam que estes índices mostram o direcionamento das decisões financeiras da entidade, em relação à captação e aplicação de recursos, ou seja, a parcela de ativos financiada com capitais próprios e de terceiros. Os indicadores mais utilizados são os de endividamento geral e/ou participação do capital de terceiros, composição do endividamento, imobilização do Patrimônio líquido e/ou capital próprio e imobilização dos recursos não correntes. Segundo os mesmos autores, que convergem nos conceitos, o endividamento geral e/ou participação do capital de terceiros, verifica as condições de garantir as dívidas com os 9

recursos próprios, ou seja, a capacidade de garantir os capitais de terceiros tomados; a composição do endividamento objetiva apresentar o perfil da dívida, ou seja, qual a composição das dívidas/obrigações da entidade, se de curto ou longo prazo; o cálculo do grau de imobilização do Patrimônio líquido e/ou capital próprio demonstra o percentual de capital próprio investido em ativos fixos/permanentes; e o grau de imobilização dos recursos não correntes evidencia a parcela de capital próprio e capital de terceiros de longo prazo investidos em ativos fixos/permanentes. Já os indicadores Econômicos, conforme Matarazzo (2003) e Padoveze e Benedicto (2014), referem-se a analise da rentabilidade como método de avaliação do retorno dos capitais investidos na entidade. Os mais usuais são os coeficientes de margem líquida, rentabilidade e/ou giro do ativo e rentabilidade do patrimônio líquido. Os autores conceituam que a margem líquida mede o lucro líquido obtido em relação às vendas efetuadas num período; o índice de rentabilidade e/ou giro do Ativo, indica a produtividade do investimento, traduzida na agilidade com que os ativos são operacionalizados transformando os insumos em vendas; e o índice de rentabilidade do Patrimônio Líquido mostra a taxa de rendimento do capital próprio. Lembrando que, além desses, há outros indicadores que podem ser utilizados, optando-se por estes por serem considerados os mais usuais. Destaca-se, também, a análise do Capital de Giro da cooperativa com base no modelo chamado Análise Financeira Dinâmica, desenvolvido por Michel Fleuriet3 e referenciado por Almeida (2013) e Silveira (2010). Para essa análise, o Balanço Patrimonial é classificado em contas cíclicas que são as de natureza operacional, e contas erráticas, que são as demais do circulante. Portanto, as contas do Balanço Patrimonial ficam classificadas, no Ativo em: Contas Erráticas do Ativo ou Cíclicas Financeiras (ACF), Contas Cíclicas do Ativo (ACC) e Contas Não Cíclicas do Ativo (ANC); no Passivo em: Contas Erráticas do Passivo ou Cíclicas Onerosas (PCO), Contas Cíclicas do Passivo (PCC) e Contas Não Cíclicas do Passivo (PNC). O objetivo deste modelo, também descrito por Padoveze e Benedicto (2014, p. 262), é “oferecer um modelo de decisão completo para administração do capital de giro”. Assaf Neto (1998 apud PADOVEZE E BENEDICTO, 2014, p. 259), afirma que o capital de giro “constitui-se no fundamento básico da avaliação do equilíbrio financeiro da empresa”, evidenciado por fatores tais como, Capital Circulante Líquido (CCL), Capital Circulante Próprio (CCP), Saldo em Tesouraria (ST) e Necessidade de Capital de Giro (NCG). Silveira (2010) conceitua CCL como a diferença entre Passivo Circulante e Ativo Circulante que, quando positivo, forma uma fonte de recursos permanentes para financiar a necessidade de capital de giro; o CCP como a parcela do Patrimônio Líquido investida no Ativo Circulante; o ST como representando uma medida de margem de segurança financeira, ou seja, recursos de curto prazo que poderão sobrar ou faltar no caixa para cobrir as obrigações; e o NCG tomando-se, após a reclassificação do Ativo e Passivo em contas cíclicas e erráticas, o total dos ativos cíclicos menos o total dos passivos cíclicos para ter expressa a necessidade de capital de giro, ou seja, o valor necessário para a manutenção das operações da entidade. 3

“O Modelo Fleuriet é um olhar diferente sobre as demonstrações financeiras de uma empresa. Criado em 1978 pelo professor francês Michel Fleuriet, este modelo é uma abordagem não só de análise do desempenho econômico-financeira da empresa, mas também uma forma inteligente de administrar uma empresa com loco na sustentabilidade financeira e económica de curto e longo prazo” (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças). Disponível em: http://www.modelo-fleuriet.com/. Acesso: 15/05/2015.

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A partir disso, é possível calcular e analisar o Capital de Giro da cooperativa, conforme será demonstrado mais adiante, e classificar sua situação financeira de acordo com a estrutura que apresenta dentro das tipologias propostas pelo modelo, mostradas no Quadro 2. Quadro 2: Tipologias de situação financeira segundo o Modelo Fleuriet Tipo - 1

Tipo - 2

Tipo - 3

ST>0

ST>0

ST CCL > NCG Situação Financeira CCL>0 NCG>0 Sólida ST < CCL > NCG CCL>0

NCG0

NCG>0

Situação Financeira Insatisfatória

ST < CCL < NCG Tipo - 4

ST0 NCG>0 ST < CCL > NCG Tipo 2

Restrição Condição Tipologia

ST>0 CCL>0 NCG>0 ST < CCL > NCG Tipo 2

ST = -77.744 CCL = 252.310 NCG = 330.054 Lc= 1,47 Restrição Condição Tipologia

ST0 NCG>0 ST < CCL < NCG Tipo 3

Fonte: Dados da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial Ltda.

Observa-se, como nos demais indicadores, que ocorreu decréscimo no período analisado, tendo diminuído significativamente o Saldo em Tesouraria e, consequentemente, aumentado a Necessidade de Capital de Giro da cooperativa, coerentemente com o demonstrado anteriormente nas análises da liquidez. De acordo com as tipologias propostas pelo Modelo Fleuriet, em 2012 e 2013 a cooperativa apresentava situação financeira sólida, pois possuía Capital Circulante Líquido superior ao Saldo em Tesouraria, que era positivo, e à Necessidade de Capital de Giro, podendo dispor tanto do CCL quanto do ST para eventuais necessidades de capital de giro. Em 2014, a situação se alterou, passando a situação financeira insatisfatória devido ao Saldo em Tesouraria estar negativo e ao Capital Circulante Líquido inferior à Necessidade de Capital de Giro, ou seja, a princípio, há insuficiência de recursos operacionais para manutenção do nível atual de atividades, sendo utilizadas fontes de recursos de curto prazo como complementação. Quanto a analise de Insolvência da cooperativa estudada, utilizando a metodologia do Termômetro de Kanitz, foram extraídos os indicadores mostrados no Quadro 9 seguinte. Quadro 9: Indicadores de Insolvência pelo Termômetro de Kanitz Período 2012 2013 5,32 4,47 Fonte: Dados da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial Ltda. Indicador

Insolvência

2014 3,96

Observa-se que também o grau de insolvência da cooperativa aumentou gradualmente ao longo dos períodos analisados, coerentemente com o demonstrado pelos demais indicadores. Entretanto, seus índices se encontram entre 5 e 4, o que a coloca em situação de solvência de acordo com os parâmetros já demonstrados dessa metodologia de análise. 4.4 Parecer do Analista De modo geral, observa-se uma ligeira piora na maioria dos índices da cooperativa que são reflexos de operações de intercooperação e de altos investimentos em ativo imobilizado para aumento das capacidades produtivas e expansão dos negócios. Pela leitura dos indicadores, pode-se afirmar que cooperativa ainda apresenta adequada situação financeira, entretanto sua estrutura de capital está fragilizada pela elevada participação de capital de terceiros, que ocasiona diminuição considerável da margem líquida e rentabilidade. 21

Entretanto, levando em consideração os já referidos investimentos que estão sendo realizados, a situação tende a melhorar após a conclusão destes. Destaca-se o fato de a cooperativa estar passando por uma fase de expansão, utilizando-se para isso da intercooperação, ou seja, aliando-se a outras cooperativas com objetivos comuns para alcançar novos mercados e melhores resultados como um todo, tendo esses investimentos reflexos diretos nos indicadores. A piora nos índices no decorrer do período não significa que a cooperativa vá falir, mas que deve estar em estado de atenção e acompanhamento constante de suas demonstrações, principalmente dos indicadores relacionados ao grau de endividamento, para um direcionamento adequado das decisões. No geral, pode-se dizer que a situação da cooperativa é satisfatória, pois, dentre os principais pontos positivos, pode-se ressaltar a satisfatória situação de liquidez, ou seja, capacidade de pagamento de dívidas, melhoria na estrutura do capital próprio, ou seja, aumento de cotas de associados e, em todos os períodos, distribuição de significativos valores de sobras aos associados, demonstrando que realizou as ações de aumento de endividamento e imobilizado (capacidade operacional), no intuito de trazer benefícios futuros aos seus associados. 5. Conclusão Atualmente, as cooperativas estão inseridas no contexto competitivo de mercado, tendo alterado significativamente sua visão e participação no mundo dos negócios. A relevância econômica que tem o cooperativismo nos dias de hoje é reflexo das mudanças que ocorreram na economia e das adaptações que foram necessárias, e continuam sendo, pois a dinâmica econômica e social se altera a todo o momento, requerendo, de entidades e profissionais, atualização e busca constante de excelência. Falar em gestão de cooperativas é falar em tomada de decisões. É falar na premente necessidade de geração de informações que sejam úteis e tempestivas para a tomada de decisões, isto é: informações adequadas em tempo hábil para decidir os rumos e traçar estratégias coerentes e alinhadas tanto com o que a cooperativa almeja em termos de resultado, desempenho e performance, quanto com o que o mercado impõe em termos de benefícios e entraves. O presente estudo teve por objetivo demonstrar quais informações geradas pela contabilidade podem ser utilizadas pelos gestores como ferramenta de apoio à tomada de decisões. O que se constatou é que todas as informações geradas pela contabilidade tem utilidade para esse fim, entretanto, é fundamental que se saiba quem são os usuários, se internos ou externos, e quais são as informações que desejam, querem e necessitam. A partir disso é que serão selecionadas as informações que atendam às necessidades e sejam úteis aos interessados. Outro fator a considerar nessas inter-relações é a importância que tem o profissional contábil no sentido de interpretar adequadamente as informações e transmiti-las aos interessados. Tratou-se então, de referenciar a importância da contabilidade e da análise das demonstrações contábeis por meio de indicadores, onde se evidenciou que os principais interessados nas informações geradas pela contabilidade são os usuários internos, representados, nas cooperativas, por diretores, associados e gestores, corroborando com o objetivo do estudo. 22

Pelas análises vertical e horizontal, por meio de indicadores, de Capital de Giro e de Insolvência, foi observado que é possível extrair uma gama enorme de informações financeiras, econômicas, estruturais e um panorama geral do que pode ocorrer no futuro da cooperativa, baseados somente no Balanço Patrimonial e na Demonstração de Sobras e Perdas. Deve-se levar em consideração que há ainda outras demonstrações contábeis das quais se podem extrair informações importantes. Por isso a necessidade de saber o que os usuários desejam e querem saber das entidades, que informações da cooperativa pretendem visualizar ou avaliar, que tipo de decisões precisam tomar, se financeiras, comerciais, logísticas, de custos, de investimentos, e tantas outras possíveis. Outra observação importante é o caráter estático das análises efetuadas. Esses números e índices referem-se à situação da cooperativa naquele determinado período, e a análise de períodos consecutivos permite avaliar a tendência histórica ao longo do tempo. Entretanto, é necessário reforçar a importância da análise efetuada levando em conta não somente os números absolutos e indicadores, mas toda a conjuntura e contexto operacionais, econômicos, sociais, internos e externos. Que haja acompanhamento periódico das operações, por meio de sistema de informação contábil integrado e de controles internos que assegurem a integridade e confiabilidade das informações geradas, para que sejam utilizadas para decidir com certa segurança e em tempo hábil, os rumos e estratégias da cooperativa. Apesar dos fatores limitantes do estudo, como a impossibilidade de acesso a informações de cooperativas regionais, sendo necessário acessar demonstrações contábeis disponibilizadas na internet, e a não utilização de correção monetária dos valores para as análises, o estudo foi construído e alcançou seus objetivos no sentido de demonstrar que a contabilidade pode e deve servir como ferramenta de apoio às decisões nas cooperativas agropecuárias e que o profissional contábil deve estar preparado para atender às demandas de geração de informações e para participar mais ativamente da gestão dessas entidades que tanta importância tem na economia. Portanto, para alcançar a otimização da gestão e resultados, além do trabalho do profissional contábil nas organizações cooperativas no sentido de que as informações geradas sejam úteis para a tomada de decisões, torna-se extremamente importante que seus gestores, na figura da diretoria e conselhos eleitos, tenham a capacidade de interpretá-las e utilizá-las de maneira adequada. Também que os associados como um todo, tenham o máximo possível de entendimento do que é apresentado nas assembleias de prestação de contas anuais. Isso requer um trabalho que podemos chamar de “educação contábil-cooperativa”, que o próprio contador pode e deve desenvolver junto à organização para a qual presta serviços. Dentro dessa proposta de “educação contábil-cooperativa”, sugere-se que as cooperativas utilizem os recursos do Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social (FATES) não somente para atividades que tratam questões técnicas de plantio, produção, manejo e afins, mas que se trabalhe junto aos associados também o viés econômico e de gestão das cooperativas, inclusive a formação de novas lideranças visando perpetuidade e continuidade da entidade ao longo do tempo. Que se oportunize a todos aprender e compreender os dados apresentados nas assembleias de prestação de contas. Treinamentos podem ser elaborados pelos contadores da cooperativa em conjunto com a OCERGSSESCOOP/RS e/ou entidades que prestam assessoria em cursos e treinamentos na área de gestão contábil-econômico-financeira. Especialmente os diretores e conselhos administrativo e fiscal devem ter oportunidade de conhecer melhor a sistemática contábil da cooperativa, bem como princípios e práticas de gestão, já que são eles que administram e tem elevado grau 23

de responsabilidade em relação à gestão do patrimônio e recursos que não são somente seus, mas da coletividade que compõe a entidade. Isso vem de encontro àquilo que é finalidade do FATES: servir de subsídio para o custeio de políticas coletivas das cooperativas. Ainda, como sugestão de estudos futuros, sugere-se o mapeamento das cooperativas regionais e panorama da contabilidade no ambiente dessas cooperativas, com a possibilidade de replicar o estudo efetuado. 6. Referências ALIANÇA COOPERATIVA INTERNACIONAL (ACI). Exploring the Co-operative Economy – Report 2014. Disponível em: http://www.euricse.eu/en/worldcooperativemonitor. Acesso em: 20/03/2015. ALMEIDA, Maiko Albuquerque Paz et al. A Análise Dinâmica Segundo o Modelo de Michel Fleuriet: O Caso da Empresa Cemig Distribuição S.A. Disponível em: . Acesso em: 15/05/2015. BEUREN, Ilse Maria; RAUPP, Fabiano Maury. Metodologia da Pesquisa Aplicável às Ciências Sociais. In: BEUREN, Ilse Maria (Org.). Como Elaborar Trabalhos Monográficos em Contabilidade: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2008. p. 76-97. BRAGA, Hugo Rocha. Demonstrações Contábeis: Estrutura, Análise e Interpretação. São Paulo: Atlas, 2003. 221 p. BRANCHI, Roberto Zeller. O Desafio do Profissional da Contabilidade Gerencial. Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Dezembro de 2014 – Nº 21. Disponível em: . Acesso em: 11/03/2015. BÜTTENBENDER, Pedro Luis; ROTTA, Edemar; HOFLER, Cláudio Edilberto. O Cooperativismo e o Desenvolvimento no Âmbito da Região Fronteira Noroeste do RS. Disponível em: . Acesso em: 27/01/2015. CASTROLANDA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL LTDA. Relatório Anual 2013. Disponível em: . Acesso em: 11/03/2015. CASTROLANDA COOPERATIVA AGROINDUSTRIAL LTDA. Relatório Anual 2013. Disponível em: . Acesso em: 11/03/2015.

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