ESTADO DE SANTA CATARINA

340 ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3...
0 downloads 0 Views 1MB Size
340

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

3.7 ARRANJO PRODUTIVO TÊXTIL-VESTUARISTA DA REGIÃO DO VALE DO ITAJAÍ Hoyêdo Nunes Lins∗

No diversificado mosaico sócio-produtivo que compõe o estado de Santa Catarina, a produção têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí perfila-se entre os integrantes de maior visibilidade. Isso reflete seja a importância regional, em termos socioeconômicos, das atividades integrantes da cadeia têxtil-vestuarista, seja a projeção que as respectivas estruturas locais lograram obter em escala de país. Com efeito, não há equívoco em afirmar, de um lado, que os segmentos industriais em foco conformam o centro de gravidade da socioeconomia do Vale do Itajaí e, de outro, que esta área desponta na produção brasileira de artigos têxteis e de vestuário. Modeladas ao longo de muitas décadas na forma de uma verdadeira aglomeração produtiva, as estruturas locais não deixaram de ser afetadas pelas mudanças de marco regulatório que marcaram o cenário brasileiro no ocaso do século XX. As novas condições de concorrência, consubstanciadas na abertura comercial do país e, a partir de 1994, na política de câmbio que escorou o Plano Real, impuseram uma marcada reestruturação produtiva na área (e como de resto na indústria nacional como um todo), com resultados consideráveis. Entre as conseqüências de maior relevo, cabe indicar a tendência de modernização do parque instalado, principalmente no que diz respeito às empresas mais importantes, para o que se revelaram cruciais não só as pressões competitivas de intensidade até então raramente vista, mas também – e como uma espécie de contrapartida – as melhores condições para as compras no exterior de máquinas e equipamentos, assim como de matérias-primas e insumos, nutrindo o avanço da competitividade. O presente estudo consiste em uma espécie de diagnóstico da situação da aglomeração têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí no período atual. O objetivo mais amplo é inspirar iniciativas de política que possam contribuir para o desenvolvimento do aglomerado. A estrutura do texto, nos seus grandes traços, é a seguinte: na próxima seção localiza-se e caracteriza-se o aglomerado em termos produtivos e institucionais; depois aborda-se o problema da capacitação tecnológica e das condições que sustentam a inovação; em seguida, focalizam-se questões ligadas à cooperação e à governança; por último, e em decorrência do ∗

Professor dos cursos de Graduação e Pós-graduação – Mestrado – da Universidade Federal de Santa Catarina.

341

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

que foi tratado nas partes anteriores, assinalam-se as vantagens competitivas e as principais carências e limitações das estruturas locais, com a indicação de áreas de incidência para possíveis políticas de promoção do desenvolvimento.

3.7.1 Localização e caracterização produtivo-institucional

3.7.1.1 Configuração e trajetória de constituição

O arranjo têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí abrange diversos municípios que se localizam principalmente na porção média do vale, conforme Figura 3.7.1. Prolongamentos do tecido produtivo são observados em direção tanto ao Alto Vale como para o Norte, e também rumo ao Itajaí Mirim, um pouco ao Sul. Blumenau desponta como cidade mais importante, devido ao seu tamanho e sobretudo pelo que representa em termos produtivos e institucionais, na aglomeração em foco, mas outras áreas urbanas marcam presença igualmente: é o caso de Brusque, às margens do Itajaí Mirim, de Jaraguá do Sul, ao norte, e de Rio do Sul, que polariza o Alto Vale do Itajaí.

Rio dos Cedros Doutor Pedrinho

Timbo

Jaragua do Sul Luiz Alves Pomerode

Benedito Novo Rodeio Ascurra Rio do Sul Apiuna

Blumenau Gaspar Guariruba Brusque Botuvera Indaia l

Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina.

Figura 3.7.1: Localização das áreas de produção têxtil-vestuário do estado de Santa Catarina – 2005

342

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Essas cidades maiores formam os pilares de uma malha urbana que inclui diversas pequenas aglomerações. Isso pode ser percebido na Tabela 3.7.1, que apresenta as populações dos municípios da Microrregião Blumenau – assim designada no Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (ATLAS..., 2003) –, acrescidas dos dados referentes aos municípios de Rio do Sul e Jaraguá do Sul, que pertencem a outras microrregiões.

Tabela 3.7.1 - População dos municípios do APL têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí e no estado de Santa Catarina – 2000 MUNICÍPIOS

POPULAÇÃO TOTAL

Apiúna Ascurra Benedito Novo Blumenau Botuverá Brusque Doutor Pedrinho Gaspar Guabiruba Indaial Jaraguá do Sul Luiz Alves Pomerode Rio do Sul Rio dos Cedros Rodeio Timbó

8.520 6.934 9.071 261.808 3.756 76.058 3.082 46.414 12.976 40.194 108.489 7.974 22.127 51.650 8.939 10.380 29.358

TOTAL SANTA CATARINA

POPULAÇÃO URBANA ABSOLUTO PARTICIPAÇÂO (1) 3.606 6.119 4.901 241.943 803 73.256 1.669 29.601 12.048 38.382 96.320 2.124 18.713 48.418 3.758 8.866 26.783

42,3 88,2 54,0 90,8 21,4 96,3 54,2 63,8 92,9 95,5 88,8 26,6 84,6 93,7 42,0 85,4 91,2

POPULAÇÃO RURAL ABSOLUTO PARTICIPAÇÃO (1) 4.914 815 4.170 19.865 2.953 2.802 1.413 16.813 928 1.812 12.169 5.850 3.414 3.232 5.181 1.514 2.575

57,7 11,8 46,0 9,2 78,6 3,7 45,8 36,2 7,1 4,5 11,2 73,4 15,4 6,3 58,0 14,6 8,8

707.730

617.310

87,2

90.420

12,8

5.356.360

4.217.931

78,7

1.138.429

21,3

Fonte: Atlas... (2003). (1) Valores em percentual.

Dos dezessete municípios que compõem a Tabela, nove tinham menos de treze mil habitantes no período de realização do Censo de 2000 e somente dois apresentavam população superior a cem mil. Sete ostentavam proporções elevadas de população rural, algumas girando em torno de ¾, todos estes casos aparecendo acima da incidência média de população rural em Santa Catarina como um todo, que é pouco maior do que 1/5 do total. Os quatro municípios mais populosos são, em ordem decrescente, Blumenau, Jaraguá do Sul, Brusque e Rio do Sul, a população do primeiro superando em cinco vezes a do último. A população total desse conjunto de dezessete municípios – que representam 5,8% do total de municípios do estado – correspondia, em 2000, a 13,2% da população catarinense. Esses municípios concentravam 17,25% do Produto Interno Bruto (PIB) catarinense em 2002, uma posição largamente caudatária do desempenho de Blumenau e Jaraguá do Sul, que juntos respondiam por 10% do total estadual. A maior parte dos municípios exibia um

343

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

PIB per capita superior ao de Santa Catarina como um todo. Jaraguá do Sul, Timbó, Pomerode, Brusque e Blumenau, nessa ordem, possuíam os maiores PIB per capita da área, superiores em todos os casos em pelo menos 25% à média catarinense, conforme Tabela 3.7.2.

Tabela 3.7.2 - Produto Interno Bruto e Produto Interno Bruto per capita dos municípios do APL têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí e no estado de Santa Catarina – 2002 (1) MUNICÍPIOS Apiúna Ascurra Benedito Novo Blumenau Botuverá Brusque Doutor Pedrinho Gaspar Guabiruba Indaial Jaraguá do Sul Luiz Alves Pomerode Rio do Sul Rio dos Cedros Rodeio Timbó TOTAL SANTA CATARINA

PRODUTO INTERNO BRUTO (2) ABSOLUTO PERCENTUAL 91.038 0,17 46.693 0,09 58.872 0,11 3.210.185 6,19 25.190 0,05 981.239 1,89 15.729 0,03 497.185 0,96 95.319 0,18 491.956 0,95 1.976.032 3,81 96.026 0,18 297.029 0,57 500.463 0,96 79.538 0,15 64.098 0,12 412.588 0,80 8.939.180 17,25 51.828.169 100,00

PRODUTO INTERNO BRUTO PER CAPITA (3) 10.409 6.525 6.352 11.627 6.864 12.087 5.064 10.042 6.879 11.421 16.813 11.413 12.864 9.378 8.814 6.007 13.330 10.310(1) 9.272

Fonte: IBGE (2005). (1) Média ponderada dos PIB per capita municipais. (2) Preços correntes em R$ 1.000. (3) Valores em R$ de 2002.

A história da indústria têxtil-vestuarista nessa área confunde-se com a dos fluxos migratórios de origem germânica registrados em Santa Catarina no século XIX, especialmente durante a sua segunda metade. Não parece equivocado associar o ponto de partida dessa trajetória industrial ao ano de 1880, quando foi criada, em Blumenau, a Cia. Hering, fruto de iniciativa de um imigrante alemão em cuja família todos os integrantes masculinos, em várias gerações, possuíam formação profissional em tecelagem (HERING, 1987). As décadas seguintes assistiriam a outras iniciativas do gênero na região, várias das quais resultando em organismos que continuam a funcionar atualmente na condição de grandes empresas. Os nomes são conhecidos: Karsten e Renaux, criadas no final do século XIX, e, entre outras, Cremer, Teka e Artex, surgidas na primeira metade do século XX. Mais recentemente, nas décadas de 1950 e 1960, novos atores – hoje na linha de frente da indústria

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

344

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

pelo porte dos empreendimentos e pelo papel desempenhado – adentraram o cenário têxtilvestuarista regional: Dudalina, Marisol e Malwee são os exemplos mais evidentes. Assim, em movimento que Mamigonian (1986) identificou como um “transplante” (desde uma Europa em convulsão política e econômica) de uma cultura fabril e empreendedora impregnada em diversos artesãos, operários e pequenos comerciantes, a indústria têxtil-vestuarista enraizou-se e cresceu no Vale do Itajaí. As relações do tecido empresarial com o país de origem dos principais fluxos migratórios que modelaram a ocupação da área – a Alemanha – estiveram longe de se mostrar sem conseqüências nesse processo, seja no tocante às compras de bens de capital, seja no que tange à atualização tecnológica. O avanço testemunhado teve, no intervalo entre as duas guerras mundiais, um importante período de consolidação, pois ocorreu aí o fortalecimento e a ampliação da presença dos produtos regionais em nível de país (SINGER, 1977). Na segunda metade do século passado, a progressão mudou de escala, pois algumas empresas passaram a exportar, inclusive para mercados mais seletivos. Na esteira desse desenvolvimento, e na medida em que o segmento do vestuário ampliou a sua presença no parque fabril, proliferaram as unidades produtivas de menor tamanho. A projeção das atividades da cadeia produtiva rumo ao segmento vestuarista pode ser notada mediante comparação entre os Censos Industriais de 1960 e 1985: ao mesmo tempo em que, para Santa Catarina como um todo, o gênero “têxtil” apresentou considerável decréscimo de participação no conjunto da indústria de transformação – tanto no valor da transformação industrial quanto no pessoal ocupado –, o gênero “vestuário, calçados e artefatos de tecidos” revelou um notável incremento. Isso derivou, de um lado, da incorporação de novas atividades por empresas que, ultrapassando a mera prestação de serviços para empresas maiores, passaram a fabricar malhas e artigos de vestuário diversos. De outro lado, refletiu dinâmica de spin-off pela qual antigos empregados instalaram negócios próprios de produção de artigos de vestuário, logrando progredir sobretudo por conta da abertura de lojas na região. Mais recentemente, na década de 1990, a indústria têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí protagonizou intensa reestruturação em resposta às novas condições de funcionamento impostas pela liberalização comercial. O aumento da concorrência nos mercados internos, devido à maior presença de produtos oriundos do exterior, e as dificuldades para exportar, provocadas pela política de câmbio que sustentou o Plano Real, resultaram em mudanças que foram documentadas em

345

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

diferentes estudos (entre outros, LINS, 2000a, b; CAMPOS, CÁRIO e NICOLAU, 2000). Até meados dos anos 90, teriam prevalecido condutas de cunho mais defensivo entre as empresas. Houve modernização das estruturas produtivas e organizacionais, com aquisição de máquinas e equipamentos no exterior e intensificação no uso de insumos importados, mas a busca de menores custos com base na redução dos contingentes assalariados parece ter sido a tendência mais forte. Não admira que, nesse processo, tenha crescido a terceirização produtiva, em movimento que provocou intensificação no uso de formas de trabalho que caracterizaram fortemente períodos anteriores da industrialização em diferentes latitudes, como o trabalho domiciliar e as cooperativas de trabalhadores (LINS, 2001,2003). Na segunda metade dos anos 90, as empresas – e em especial as de maior porte, incluindo várias de tamanho médio – adotaram comportamentos mais ofensivos, mirando mais intensamente em atualização tecnológica e alinhando-se com as tendências internacionais da competitividade nas atividades correspondentes, onde os avanços em moda e design constituem palavras de ordem. Assim procedendo, as principais empresas do Vale do Itajaí não destoaram do comportamento geral da cadeia têxtil brasileira, que testemunhou atualização

tecnológica

principalmente

nos

segmentos

de

fiação,

tecelagem

e

tinturaria/estamparia (GORINI, 2000). A Tabela 3.7.3 sintetiza essas questões. Baseada em dados fornecidos pelo Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (SINTEX) – que abrange, além de Blumenau, outros municípios do Médio Vale do Itajaí –, a Tabela mostra, entre outras coisas, um comportamento errático tanto da produção quanto do faturamento, uma trajetória dos empregos que é dramaticamente declinante até 1997, mas com recuperação posterior, uma grande expansão da produtividade e, no que diz respeito aos teares para algodão utilizados – que podem, de algum modo, ser tomados como representativos dos bens de capital em operação na área –, dois movimentos em sentido contrário: até onde as informações disponibilizadas permitem acompanhar, nota-se que a quantidade de teares com lançadeira teve trajetória francamente descendente, ao mesmo tempo em que a de teares sem lançadeira só fez aumentar. Ora, estes últimos apresentam-se como modelos de teares mais modernos, e portanto os números estariam a denotar uma tendência mais ou menos ampla de atualização do parque instalado.

Tabela 3.7.3 - Indicadores de desempenho das indústrias têxteis e vestuaristas do Vale do Itajaí – 1990, 1993, 1995, 1997, 1999, 2001 INDICADORES

1990

1993

1995

1997

1999

2001

346

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Produção (1) Emprego Toneladas/trabalhador Faturamento (2) Investimento (2) Teares para algodão c/ lançadeira Teares para algodão s/ lançadeira

102.000 51.000 2 1.733,9 95,0 1.090 869

96.000 48.000 2 1.287,3 90,1 649 1.024

120.000 41.000 2,9 1.760,0 174,0 1.106 1.298

107.000 38.000 2,8 1.917,0 70,0 540 1.458

245.280 46.000 5,3 1.950,0 150,0 .. ..

275.000 54.000 5,1 2350,0 160,0 .. ..

Fonte: SINTEX. (1) Valores em toneladas. (2) Valores em US$ milhões. Nota: Sinal convencional utilizado: .. Dado numérico não disponível.

Por conseguinte, ao longo de uma trajetória mais que secular, o Vale do Itajaí consolidou uma posição de indiscutível proeminência no universo têxtil-vestuarista catarinense. Ainda que as atividades de produção de artigos de vestuário marquem presença também em outras regiões do estado, conforme assinalado em Lins (2000a), dados recentes mostram que mesmo nesse segmento existe uma elevada concentração na área em foco. Com efeito, se na fabricação de produtos têxteis a Microrregião de Blumenau abriga 64,9% e 50,9%, respectivamente, dos empregos formais e dos estabelecimentos de Santa Catarina, nas atividades de confecção de artigos de vestuário e acessórios as proporções aparecem igualmente altas: 41,8% e 43,2%, na mesma ordem, de acordo com a Tabela 3.7.4.

Tabela 3.7.4 - A Microrregião de Blumenau na produção têxtil-vestuarista do estado de Santa Catarina – 2002 SANTA CATARINA ATIVIDADES

Fabricação de produtos têxteis Confecção de artigos de vestuário e acessórios

EMPREGOS FORMAIS (A) 49.654

ESTABELECIMENTOS (B) 1.197

63.744

4.225

MICRORREGIÃO DE BLUMENAU EMPREGOS ESTABELEFORMAIS CIMENTOS (C) (D) 32.241 609 26.651

1.827

C:A*100 D:B*100

64,9

50,9

41,8

43,2

Fonte: Campos, Stallivieri e Alt (2004), a partir da RAIS.

3.7.1.2 Caracterização sócio-produtiva e perfil da comercialização

O arranjo têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí abriga atividades vinculadas aos diferentes elos da cadeia têxtil. Realizam-se na área desde operações de beneficiamento de insumos até as de produção de artigos confeccionados, podendo-se observar, portanto, a presença das etapas de fiação (com fabricação de fios e linhas), tecelagem (de tecidos planos e malhas) e confecção (com ampla gama de produtos, abrangendo artigos da linha cama-mesabanho e diversos artigos para vestuário).

347

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Todavia, o grande destaque em nível nacional reside no desempenho das empresas que atuam nos segmentos de produtos para cama, mesa e banho. Dados apresentados por Ferreira (2000) apontam que, em 1999, nada menos que 70% da receita líquida dos principais fabricantes brasileiros com atuação nesses segmentos provinham de cinco empresas do Vale do Itajaí: pela ordem, Teka, Karsten, Artex, Buettner e Altenburg, todas de grande porte. Fortemente concentrado em Blumenau, esse subconjunto da cadeia têxtil oferece os seguintes tipos de produtos: colchas, lençóis, edredons e fronhas, no segmento cama; toalhas de mesa, guardanapos e centros de mesa, no segmento mesa; toalhas de banho e de rosto, roupões e tapetes, no segmento banho. Seus clientes correspondem a lojas de tamanhos variados (do pequeno varejo às lojas de departamentos), supermercados, meios de hospedagem (principalmente hotéis), restaurantes e hospitais e clínicas.

Tabela 3.7.5 - Atividades têxteis e vestuaristas na microrregião de Blumenau – 2002 ATIVIDADES TOTAL DA INDÚSTRIA TÊXTIL Fabr. outros artigos vest. e prod. malha Fabr. De art. de tecido p/ uso doméstico Fabr. De outros artigos têxteis Fabr. De outros art. têxt.– exceto vestuário Fabr. De tecidos de malha Fabr. De art. têxt. c/ tec. – exceto vestuário Acabamentos em fios Tecelagem de algodão Fiação de algodão Tecelagem de fios de fibras têxteis Fabr. De artefatos de tapeçaria Confec. de art. do vestuário e acessórios Conf. de peças do vestuár. – exceto roupões Fabricação de acessórios do vestuário Confecção de roupas íntimas TOTAL DAS ATIVIDADES TÊXTEIS E VESTUARISTAS

POSTOS FORMAIS DE TRABALHO 32.241

MICRO

PEQUENO

MÉDIO

GRANDE

TOTAL

443

120

32

14

609

4.652 4.103 6.460 2.277 2.015 2.655 2.137 3.750 935 234 126 26.651 25.160 556 857

19 19 44 31 105 25 78 59 5 15 16 1.572 1.464 16 80

8 4 13 9 17 5 18 22 7 1 2 214 195 8 10

5 1 3 2 4 2 4 4 1 1 0 37 36 0 1

2 2 3 2 0 1 0 3 0 0 0 4 4 0 0

34 26 63 44 126 33 100 88 13 17 18 1.827 1.699 24 91

58.892

2.015

334

69

18

2.436

NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS

Fonte: Campos, Stallivieri e Alt (2004), a partir da RAIS.

A estrutura empresarial do arranjo é heterogênea e composta de numerosos atores. Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), apresentados por Campos, Stallivieri e Alt (2004), informam que, em 2002, a Microrregião de Blumenau registrava o funcionamento de 2.435 estabelecimentos na produção têxtil e vestuarista, conjuntamente, ¾ dos quais nas atividades de confecção de artigos de vestuário e acessórios, conforme Tabela 3.7.5. As micro e pequenas empresas representam 96% de todos esses estabelecimentos, uma proporção que sobe para quase 98% quando se consideram somente as atividades de confecção de artigos de vestuário e acessórios. Observe-se que na produção têxtil três tipos de

348

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

atividades concentram mais da metade dos estabelecimentos: fabricação de tecidos de malha, acabamentos em fios e tecelagem de algodão. Quanto à concentração dos postos formais de trabalho, pouco menos de 60% do total encontra-se vinculado a somente quatro tipos de atividades, identificadas segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas: fabricação de outros artigos têxteis, fabricação de outros artigos de vestuário e produtos de malha, fabricação de artigos de tecido para uso doméstico e tecelagem de algodão. Na indústria vestuarista, pouco menos de 95% tanto dos estabelecimentos quanto dos empregos encontra-se relacionado à atividade de confecção de peças do vestuário. Como constatado, esse tecido empresarial ocupa milhares de trabalhadores. Conforme a Tabela 3.7.5, mostrada anteriormente, em 2001 o número atingia 54 mil nas empresas associadas ao SINTEX, um volume que se apresentava em recuperação desde uma fase de baixa (em termos de ocupação de mão-de-obra) que, apenas quatro anos antes, impusera um patamar de emprego bem inferior a 40 mil. Em 2002, como pode ser vizualizado na Tabela 3.7.5, o contingente tangenciava 60 mil, sugerindo um prolongamento do período de recomposição dos números empregados. A distribuição do emprego segundo os tamanhos das empresas mostra que as de grande porte absorviam mais de 1/3 do total do emprego formal em 2002; somadas às empresas de tamanho médio, estas firmas concentravam quase 6 de cada 10 empregados. Todavia, a variação entre 1994 e 2002 revela que os 5,6% de crescimento da totalidade dos empregos das indústrias têxtil e vestuarista devem-se tão-somente às micro e pequenas empresas, já que nas grandes o comportamento foi de redução dos efetivos, em 34,5%. A variação do número de estabelecimentos ocorreu na mesma direção: crescimento entre as empresas de menor porte e encolhimento nas de grande porte, de acordo com a Tabela 3.7.6. Tabela 3.7.6 - Produção têxtil-vestuarista na microrregião de Blumenau de acordo o tamanho das firmas, no emprego e nos estabelecimentos e comportamento - 1994-2002

Micro Pequeno Médio Grande

18,30 22,71 24,45 34,53

NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS EM 2002 (1) 82,72 13,71 2,83 0,74

TOTAL

100,00

100,00

PORTE EMPRESARIAL

EMPREGO FORMAL EM 2002 (1)

VARIAÇÃO NO EMPREGO 1994-2002 (1) 159,57 121,13 -0,61 -34,52

VARIAÇÃO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS: 1994-2002 (1) 139,31 138,57 4,55 -25,00

5,64

127,24

Fonte: Campos, Stallivieri e Alt (2004), a partir da RAIS. (1) Valores em percentual.

Cabe enfatizar ainda que as indústrias têxteis e vestuaristas representam, em conjunto, a maior fonte de absorção de mão-de-obra no Vale do Itajaí. Dados da RAIS, trabalhados por

349

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Mattei e Niederle (2004), são ilustrativos a esse respeito no que concerne a toda a mesorregião do Vale do Itajaí, integrada, além da Microrregião de Blumenau (Microrregião do Médio Vale do Itajaí), também pela Microrregião do Alto Vale do Itajaí e pela Microrregião da Foz do Rio Itajaí. Os dados mostram que, em 2002, o subsetor “indústria têxtil, do vestuário e artefatos de tecidos” empregava formalmente 68.390 pessoas. Isso era equivalente a 22,5% de todos os postos de trabalho formais existentes na área, independentemente do tipo de atividade, e representava nada menos do que 53,4% da totalidade dos empregos formais da indústria de transformação de todo o Vale do Itajaí, conforme Tabela 3.7.7.

Tabela 3.7.7 - Postos de trabalho formal na mesorregião do Vale do Itajaí – 2002 SUBSETORES Extrativa mineral Indústria de produtos minerais não metálicos Indústria metalúrgica Indústria mecânica Indústria do material elétrico e de comunicações Indústria do material de transporte Indústria da madeira e do mobiliário Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica Indústria da borracha, fumo, couros, peles e similares Indústria química, de produtos farmacêuticos e veterinários Indústria têxtil, do vestuário e artefatos de tecidos Indústria de calçados Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool Serviços industriais de utilidade pública Construção civil Comércio varejista Comércio atacadista Instituições de crédito, seguros e capitalização Comércio e administração de imóveis, valores imobiliários Transportes e comunicações Serviços de alojamento, alimentação, reparação e manutenção Serviços médicos, odontológicos e veterinários Ensino Administração pública direta e autárquica Agricultura, silvicultura, criação de animais, extrativismo TOTAL

NÚMERO DE POSTOS DE TRABALHO 829 4.608 6.927 5.736 2.583 3.492 11.467 4.749 1.561 5.033 68.390 87 10.892 2.485 7.769 48.466 9.913 3.964 21.381 11.200 25.887 7.165 8.811 26.166 4.271 303.884

PARTICIPAÇÂO (1) 0,3 1,5 2,3 1,9 0,8 1,1 3,8 1,6 0,5 1,7 22,5 0,0 3,6 0,8 2,6 15,9 3,3 1,3 7,0 3,7 8,5 2,4 2,9 8,6 1,4 100,0

Fonte: Mattei e Niederle (2004), com dados da RAIS. (1) Valores em percentual.

A mão-de-obra regional é consideravelmente alfabetizada, em termos comparativos, a julgar pelo fato de que somente dois municípios apresentam taxas de alfabetização menores do que a média catarinense. Contudo, esse dado deve ser colocado em perspectiva: quando se observa a média de anos de estudo da população adulta (pessoas com 25 anos ou mais), percebe-se que a maioria dos municípios do arranjo apresenta resultados inferiores à média

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

350

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

estadual. De fato, dos dezessete municípios, somente Blumenau, Brusque, Jaraguá do Sul, Rio do Sul e Timbó ostentam médias acima de 6,2 anos de estudo, número que corresponde a Santa Catarina como um todo, de acordo com a Tabela 3.7.8. No que se refere especificamente à mão-de-obra vinculada às atividades têxteis e vestuaristas, o estudo de Campos, Stallivieri e Alt (2004) revela que, conforme captado pela RAIS de 2002, somente 16,5% dos trabalhadores em empregos formais apresentam formação em nível de ensino médio completo ou superior a este; a maioria possui no máximo ensino médio incompleto. Esse quadro representa uma situação inferior do arranjo têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí, comparativamente a outros arranjos produtivos existentes em Santa Catarina.

Tabela 3.7.8 - Nível educacional no APL têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí e no estado de Santa Catarina - 2000 MUNICÍPIO Apiúna Ascurra Benedito Novo Blumenau Botuverá Brusque Doutor Pedrinho Gaspar Guabiruba Indaial Jaraguá do Sul Luiz Alves Pomerode Rio do Sul Rio dos Cedros Rodeio Timbó SANTA CATARINA

TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (1) 88,68 95,35 94,83 97,21 92,56 96,07 94,87 96,14 95,34 96,52 97,35 94,48 98,13 94,98 96,07 95,26 97,40 93,68

MÉDIA DE ANOS DE ESTUDO DAS PESSOAS DE 25 ANOS OU MAIS 4,60 5,31 4,88 7,13 4,47 6,58 5,06 6,02 5,37 5,76 6,89 4,99 5,84 6,35 5,11 5,57 6,34 6,20

Fonte: Atlas... (2003). (1) Valores em percentual.

Sobre os níveis de remuneração, deve-se destacar que a esmagadora maioria dos postos de trabalho formal – 83% – encontrava-se no intervalo entre 1,01 salário mínimo (SM) e 4 SM em 2002. Nesse intervalo, a faixa que concentrava o maior número de postos de trabalho era a de 2,01 a 4 SM, conforme Tabela 3.7.9. Isso contrasta com a situação encontrada por Campos, Stallivieri e Alt (2004) em outros arranjos produtivos catarinenses, como o de metal-mecânica, na área de Joinville, e o de cerâmica de revestimentos, na área de Criciúma: no primeiro, quase metade dos trabalhadores em postos formais de trabalho percebia mais de 4 SM; no segundo, pouco menos de 1/3 do contingente formalmente empregado situava-se nesse patamar de remuneração.

351

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Tabela 3.7.9 – Níveis de remuneração da produção têxtil e vestuarista na microrregião de Blumenau - 2002 FAIXAS DE SALÁRIOS MÍNIMOS % dos empregos formais

ATÉ 1 SM 0,68

DE 1,01 A 2 SM 35,86

DE 2,01 A 4 SM 47,12

DE 4,01 A 7 SM 12,10

DE 7,01 A 14 SM 3,41

MAIS DE 15,01 SM 0,84

Fonte: Campos, Stallivieri e Alt (2004), a partir da RAIS. (1) Valores em % da quantidade de Salários Mínimos (SM).

Conforme assinalado a respeito da Tabela 3.7.3, o faturamento das empresas associadas ao SINTEX mostrou-se oscilante ao longo dos anos 90. Houve tendência de redução na primeira metade da década e, posteriormente, observou-se trajetória de uma certa recuperação. Esse quadro revela-se corroborado pelos dados apresentados por Rocca (2003), correspondentes a algumas das principais empresas. De fato, Hering, Teka, Marisol, Artex (adquirida pela Coteminas em 2001) e Sulfabril amargaram queda nos respectivos faturamentos líquidos durante a década, dando sinais de recuperação somente nos últimos anos, embora essa reversão fosse acompanhada por elevados níveis de endividamento. Cenário igualmente pouco expressivo, em termos de faturamento, foi detectado também por Campos, Cario e Nicolau (2000), em pesquisa que envolveu três dezenas de empresas da área. Tal comportamento revela sintonia com o movimento da produção física na cadeia têxtil em todo o Estado de Santa Catarina: um percurso marcado pela oscilação, com sucessão de movimentos anuais positivos e negativos (ROCCA, 2003). O faturamento provém de vendas em mercados internos, essencialmente. Como de resto na indústria têxtil-vestuarista operando em escala de Brasil, em que a produção para consumo doméstico é amplamente predominante (cf., por exemplo, Monteiro Filha e Santos, 2002), no arranjo do Vale do Itajaí, a orientação nacional é a prevalecente. Apesar de as exportações catarinenses de têxteis representarem cerca de ¼ das exportações brasileiras correspondentes – evidenciando o papel exportador do parque catarinense –, só algumas poucas empresas possuem nas exportações a fonte de uma importante parcela do faturamento. Karsten e Buettner são destaques incontestáveis de acordo com a Tabela 3.7.10, ambas com presença no segmento de confeccionados referentes às linhas cama-mesa-banho. Mas a Cia. Hering quase dobrou a participação das exportações entre 1997 e 2001, num comportamento francamente ascendente que foi observado também na Teka.

Tabela 3.7.10 - Participação das exportações nas vendas totais das principais empresas têxteis-vestuaristas do Vale do Itajaí - 1997-2001 EMPRESAS

PERCENTUAL DAS EXPORTAÇÕES NO TOTAL DAS VENDAS

352

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

1997 10 19 2 49 27

Hering Teka Marisol Karsten Buettner

1998 7 20 3 44 30

1999 12 30 4 49 40

2000 19 29 2 48 39

2001 18 32 4 52 40

Fonte: Rocca (2003).

O segmento de confeccionados voltados às linhas cama-mesa-banho é o que ostenta o melhor desempenho exportador do arranjo e, por conseqüência, da indústria têxtil-vestuarista catarinense como um todo. Dados apresentados por Rocca (2003) mostram que, em 2000, o item “outros artigos têxteis confeccionados” – referentes às linhas de produto em questão – concentrou 54% das vendas externas de têxteis do estado, conforme Tabela 3.7.11. Merecem realce particular os produtos da linha banho, que penetram não só em mercados latinoamericanos, mas também na Europa e nos Estados Unidos. Aliás, em 2000, Estados Unidos, União Européia e MERCOSUL canalizaram, pela ordem, 34%, 20% e 29,5% das exportações totais de têxteis catarinenses e 39%, 27% e 23% das exportações de “outros artigos têxteis confeccionados”. Em 2004, as roupas de toucador/cozinha, cama, banho figuraram entre os grupos de produtos mais exportados por Santa Catarina, em sétimo lugar, atrás somente de carne de frango e suína, de móveis de madeira, de motocompressores, de motores e geradores elétricos e de produtos cerâmicos. Esse desempenho há de ser considerado em associação com o 2º lugar de Santa Catarina entre os estados que exportam produtos têxteis e do vestuário: em 2004, as vendas externas catarinenses somaram US$ 354,1milhões, sendo superadas apenas pelas vendas de São Paulo, que atingiram US$ 531,4 milhões (PÉ..., 2005).

Tabela 3.7.11 – Destino das exportações de produtos têxteis do estado de Santa Catarina – 2000 PARAGUAI 1.026,6 0 26,6 15,6 858,4 9,7 213,8 3,8 28,1 7.082,2 948,4 1.724,7

URUGUAI 448,3 0,02 21,5 7,5 18,7 0,8 22,5 147,1 48,9 9.146,8 1.278,2 3.443,2

MERCOSUL 3.001,9 0,02 392,1 38,0 882,1 32,1 658,7 590,9 309,6 37.230,5 8.679,4 37.098,3

UNIÃO EUROP. 1.536,7 0 5,7 98,4 32,8 0,3 1.191,6 59,6 4,2 9.415,6 4.287,3 43.502,1

EUA

CHILE

Algodão Outras fibras têxt. Filamentos sintét. Fibr. sint. ou artif. Pastas, feltr., cord. Tap./rev. piso têxt. Renda, bordados Rev. p/ uso térmic. Tecidos de malha Vestuário e aces. Ves./aces. ex. mal. Outr. art. têx. conf.

ARGENTINA 1.526,9 0 334,1 14,8 5,0 21,7 422,3 440,0 232,5 21.001,4 6.452,8 31.940,5

2.344,4 0 25,1 0 0 3,8 358,5 156,6 0 20.280,3 17.280,4 63.060,1

TOTAL

62.940,5

11.938,2

14.573,5

88.913,8

60.134,5

103.509,2

PRODUTOS

Fonte: Rocca (2003) com base em dados da SERPRO/SECEX. Valores em US$ mil FOB.

634,0 0 33,3 9,2 306,7 0 167,6 42,5 4,8 6.937,9 1.173,7 4.202,4

OUTROS PAÍSES 4.401,7 7,3 80,1 37,5 49,5 20,0 2.399,6 964,6 58,9 8.221,4 4.086,8 14.695,8

11.918,8 7,3 536,4 183,3 1.271,1 56,3 4.776,1 1.814,2 377,5 82.085,7 35.507,6 162.558,7

13.512,2

35.023,4

301.093,4

TOTAL

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

353

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

A Karsten apareceu entre as quinze maiores exportadoras do estado, enviando ao exterior, em 2004, produtos no valor de US$ 49,6 milhões. A Coteminas, presente em Santa Catarina por conta de uma recente associação com a Artex, exportou US$ 39,1 milhões, situando-se em 18º lugar no ranking (SALVO..., 2005); cabe mencionar que, na esteira dessa associação, a planta localizada em Blumenau passou a concentrar as suas atividades na fabricação voltada às exportações, implicando produtos de maior valor agregado (FERREIRA, 2000). A Karsten teve nos Estados Unidos o principal destino das suas vendas externas em 2004, representando 56% do total exportado; depois aparecem países europeus e, por último, países latino-americanos (PÉ..., 2005). Entretanto, na relação das 300 maiores exportadoras da região Sul do Brasil, a Karsten mostra-se em 79º lugar e a Coteminas, em 104º. Buettner, Cia. Hering e Teka encontram-se distanciadas: a primeira no 129º posto, com US$ 31,8 milhões, a segunda no 140º, com US$ 26,9 milhões, e a terceira no 147º, com US$ 25,4 milhões. Quase todas essas empresas – a Cia. Hering é a única exceção – apresentaram variação positiva das suas exportações entre 2003 e 2004 (CONCENTRAÇÃO..., 2005). Todavia, as exportações não se limitam a essas grandes empresas. Embora o destaque na matéria pertença indiscutivelmente a esse estrato empresarial, há exportadores situados fora desse círculo restrito. Campos, Cario e Nicolau (2000) detectaram desempenho exportador na amostra de 36 empresas por eles estudadas, transcendendo amplamente aquele pequeno grupo. E Lins (2000a) verificou a existência de prática exportadora mesmo entre pequenas e médias empresas da área, embora fossem minoritárias as firmas que assim procediam; neste caso, apareciam como exportadoras principalmente empresas de porte médio, as quais, de todo modo, vendiam por meio de representantes comerciais até para clientes nos Estados Unidos. Esse último comentário oportuniza a abordagem dos canais de comercialização no arranjo. Redes de estabelecimentos comerciais localizados em diferentes estados e regiões constituem as estruturas de vendas predominantes. São lojas tanto próprias quanto pertencentes a terceiros (maior parte das situações) – grandes redes de lojas, como Riachuelo, Pernambucanas, Renner –, abastecidas, neste segundo caso, a partir de encomendas, com forte atuação de representantes comerciais e vendedores em geral, mas sem exclusão das vendas diretas dos fabricantes às estruturas de varejo. Vendas em lojas próprias estão longe de constituírem exceção. O Vale do Itajaí apresenta várias estruturas criadas especificamente para isso, ao estilo dos centros comerciais, outlet centers e calçadões de negócios, os quais,

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

354

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

pontilhados de lojas pertencentes a fabricantes, têm cumprido um importante papel na canalização das vendas. Os surtos de instalação dessas estruturas de vendas acabaram resultando numa irrecusável proeminência do município de Brusque, embora outros locais do Vale se revelem igualmente dotados desse tipo de estrutura. O cruzamento do “turismo histórico-cultural” (escorado nas festas típicas promovidas no âmbito dos grupos sociais cujos antepassados colonizaram o Vale do Itajaí) com os interesses das indústrias têxteis e vestuaristas é evidente nesses exemplos. Na contramão dos movimentos de produtos têxteis e vestuaristas aparecem os relativos aos insumos e bens de capital utilizados pelos fabricantes. Sobre os insumos, cabe ressaltar desde logo que, não obstante o fato de estar quase toda a cadeia produtiva têxtil presente no Vale do Itajaí, as fontes de abastecimento encontram-se, no essencial, fora do arranjo. O algodão – matéria-prima principal, item que aparece em terceiro lugar (com 259 toneladas) entre as importações catarinenses que entraram pelo Porto de Itajaí em 2003 (SÍNTESE..., 2004)1 – é o caso mais eloqüente, mas o mesmo se aplica aos demais tipos de insumos, em particular às fibras sintéticas, que permitem uma maior agregação de valor aos produtos fabricados localmente: é sugestivo que, em 2003, os fios texturizados de poliéster tenham figurado em 7º lugar entre as importações catarinenses (SÍNTESE..., 2004). Numerosas empresas, mesmo entre as de menor porte – representando a maioria, segundo vários estudos (LINS, 2000a; CAMPOS, CARIO E NICOLAU, 2000; LOMBARDI, 2001) –, abastecem-se desses insumos em outros estados, São Paulo à frente, onde se encontram em operação filiais ou subsidiárias de empresas internacionais com atividades situadas a montante na cadeia têxtil. Compram mais insumos no interior do arranjo, proporcionalmente falando, as empresas menores, especialmente as pequenas confecções que fabricam artigos de vestuário. Tendo como fornecedores vários fabricantes locais, essas pequenas unidades produtivas adquirem artigos como tecidos planos, malhas, fios e aviamentos, por exemplo. O cenário é o mesmo no tocante às máquinas e aos equipamentos. Aqui, porém, as origens são não apenas extra-regionais, mas sobretudo estrangeiras. Com efeito, equipamentos essenciais ou auxiliares para fiação, tecelagem, beneficiamento e confecção provêm de diferentes países, tendo a maior presença desse maquinário sido estimulada pela conjuntura de

1

Claro que não é somente através dos portos que Santa Catarina mantém relações comerciais com o exterior. O estado apresenta armazéns alfandegados em três aeroportos: Navegantes (próximo à foz do Rio Itajaí, portanto, quase adjacente ao arranjo têxtil-vestuarista em foco), Florianópolis e Joinville. Os três são servidos regularmente por vôos cargueiros.

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

355

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

liberalização comercial que prevaleceu na década de 90, ensejando uma considerável reestruturação do parque têxtil catarinense, como já mencionado. As relações de que participam os atores do aglomerado, seja no escoamento dos produtos locais, seja no abastecimento em insumos, matérias-primas e bens de capital, possuem na logística de transportes e comunicações existente no Nordeste de Santa Catarina um importante sustentáculo. A área é servida nos sentidos norte-sul e leste-oeste por duas importantes rodovias, a BR-101 e a BR-470, respectivamente, a primeira apresentando-se duplicada, no seu segmento catarinense, em todo o trecho entre a Grande Florianópolis e a fronteira com o Paraná. Além disso, a área também conta, nas suas proximidades, com dois aeroportos (Navegantes e Joinville) e com dois importantes portos que possibilitam embarques para navegação tanto de cabotagem quanto de longo curso, um em Itajaí e o outro em São Francisco do Sul.

3.7.1.3 Caracterização do arcabouço institucional público e privado

O arranjo possui, articulado ao tecido empresarial, também um importante tecido institucional. Os integrantes pertencem tanto à esfera privada quanto à pública e atuam em coordenação, em educação e em apoio tecnológico. O SINTEX, já referido, e a Associação Comercial e Industrial de Blumenau (ACIB) despontam entre as instituições de coordenação, o primeiro, totalmente voltado para as indústrias têxteis e vestuaristas, e a segunda, não obstante uma atuação mais diversificada, com foco prioritário nessas indústrias, como seria de esperar em face do perfil produtivo regional. Ambos representam importantes espaços de articulação do empresariado e, embora sejam formalmente independentes, operam em sintonia na defesa dos interesses da indústria têxtil-vestuarista. Outros municípios possuem as suas próprias organizações/associações empresariais, como Brusque (Associação Comercial e Industrial de Brusque; Associação de Médias e Pequenas Empresas de Brusque) e Jaraguá do Sul (Associação Comercial de Jaraguá do Sul, por exemplo). Sindicatos de trabalhadores marcam igualmente o cenário institucional do arranjo, apresentando-se “especializados” conforme os segmentos produtivos (têxtil, vestuário) e com incidência municipal. Assim, por exemplo, há um Sindicato da Fiação e Tecelagem e um Sindicato do Vestuário em Blumenau; um Sindicato do Vestuário em Brusque; um Sindicato

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

356

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário, Fiação, Tecelagem e Artefatos de Couro de Jaraguá do Sul. No âmbito educacional, o grande destaque fica por conta da Universidade Regional de Blumenau (FURB), com considerável inserção no meio empresarial e com desempenho que transcende o ensino e alcança a pesquisa, em boa parte orientada aos interesses das empresas da região. De fato, a FURB possui desde 1972 o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de Blumenau (IPTB). Municípios vizinhos possuem igualmente estruturas de ensino superior que “dialogam” com a indústria têxtil-vestuarista: em Jaraguá do Sul existe a Fundação Educacional Regional Jaraguense (FERJ), que oferece cursos nas áreas de moda e tecnologia têxtil (SILVA, 2002), e em Brusque há a Fundação Educacional de Brusque (FEBE). Ainda na esfera educacional, porém sem o perfil de instituição de ensino superior propriamente dita, observa-se a atuação do SENAI, notável tanto em Blumenau quanto em Brusque, mas com centros educacionais também em municípios como Jaraguá do Sul, Rio do Sul e Timbó. A referência ao SENAI remete de imediato às atividades de apoio tecnológico, pois nas instalações dessa instituição são encontrados centros tecnológicos e infra-estrutura laboratorial de grande importância na área. O SENAI de Blumenau, que há décadas abriga a Fundação Blumenauense de Estudos Têxteis (FBET) – operando com o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento de Estudos Têxteis (CEPETEX) –, criou, em 1999, um Centro de Tecnologia do Vestuário (CTV). O SENAI de Brusque mantém o Laboratório de Ensaios Físicos e Químicos Têxteis (LEFQT), anteriormente conhecido como Laboratório de Fiação e Tecelagem (LAFITE). Aspectos da atuação dessas instituições serão abordados posteriormente, quando se falará sobre a capacitação tecnológica e as condições para inovação e, de outra parte, sobre cooperação e governança.

3.7.1.4 Nível tecnológico

O parque fabril apresenta, de uma forma geral, um nível tecnológico alinhado com o padrão internacional, principalmente no que concerne às atividades enfeixadas na cadeia do algodão, que são as predominantes. Esse alinhamento com o padrão internacional é verificado sobretudo nas empresas mais importantes, que puderam usufruir mais ampla e intensamente das condições favoráveis às compras de máquinas e equipamentos originários do exterior, no

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

357

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

âmbito da abertura comercial implementada durante a última década no Brasil. Assim procedendo, esses fabricantes prolongaram, no decorrer dos anos 1990, um tipo de conduta – aprofundando uma tendência já esboçada anteriormente – que na virada da década anterior caracterizava firmas como Malwee, em Jaraguá do Sul (GÖRGEN, 1992), e Hering, em Blumenau (DECKER, 1991). A redução da idade média das máquinas e equipamentos em uso e o aumento da proporção dos bens de capital com dispositivos eletrônicos perfilam-se entre os indicadores da atualização tecnológica protagonizada. No entanto, esse esforço modernizador não se restringiu às grandes empresas. Também no âmbito das PMEs do arranjo observaram-se investimentos que resultaram na incorporação de, por exemplo, teares computadorizados, máquinas com dispositivos microeletrônicos para tinturaria, ramas automatizadas, máquinas de costura, para bordar e para efetuar operações de acabamento, eletrônicas e inclusive programáveis, oriundos de países como Itália e Alemanha, entre outros. Entre as PMEs, tais compras tiveram lugar especialmente no segmento de empresas médias, embora caracterizassem da mesma forma algumas firmas de menor porte. Na base disso, encontravam-se as facilidades derivadas não só da conjugação entre redução de alíquotas de importação e política de câmbio, mas igualmente as condições de pagamento oferecidas pelos fabricantes (LINS, 2000c). A incorporação de bens de capital modernos e em linha com o padrão tecnológico internacional representou a principal forma de acesso das empresas às inovações da indústria têxtil-vestuarista. A importância disso é adequadamente aquilatada quando se leva em conta que na cadeia têxtil a tecnologia de processo é madura e encontra-se largamente incorporada nas máquinas e equipamentos. De fato, as atividades produtivas em questão são eminentemente absorvedoras de inovações determinadas em outros setores industriais e objeto de disseminação pelos fornecedores de maquinário e de matérias-primas e insumos (PAVITT, 1984). Deve-se assinalar que o que foi dito sobre a modernização do parque instalado no Vale do Itajaí não significa a constituição de um quadro tecnológico homogêneo, implicando da mesma forma e com a mesma intensidade o conjunto das empresas. Um traço importante da indústria têxtil-vestuarista, de uma forma geral, é a descontinuidade das operações ao longo da cadeia, e isso permite a convivência de unidades fabris não só com diferentes escalas produtivas, mas também com diversos níveis de atualização tecnológica. Daí não surpreender que o tecido empresarial do Vale do Itajaí ostente uma marcada heterogeneidade interfirma no tocante à capacitação tecnológica, uma estrutura que repete característica observada em escala

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

358

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

de país (HAGUENAUER et al., 2001). Há diversidade de situações tecnológicas mesmo no interior das plantas, pois até em nível de empresa ocorre a operação simultânea e articulada de aparatos produtivos de diferentes padrões tecnológicos. Mas as tentativas de alinhamento com a best practice internacional não se limitaram às compras de maquinário. Inovações organizacionais foram igualmente implementadas (e não só nas grandes empresas), com a introdução de técnicas modernas de gestão que possibilitaram um melhor controle sobre os processos produtivos, envolvendo iniciativas formais voltadas ao aumento de qualidade e produtividade e a intensificação das interações em diferentes níveis: com fornecedores de insumos e equipamentos – implicando essencialmente vínculos extra-regionais –; com capacidades produtivas externas, para fins de transferência de etapas dos processos produtivos; com integrantes da infra-estrutura tecnológica. As empresas do Vale do Itajaí protagonizaram movimentos também pautados na observação do que se pode designar como um novo padrão de concorrência na indústria têxtilvestuarista em nível mundial, em que sobressaem grandes avanços em design e estilo, enfeixados no crescente papel desempenhado pela moda na determinação do desempenho da indústria. Tais avanços são favorecidos pelo uso de novos insumos e pelas tecnologias do tipo CAD/CAM, que permitem melhorias em termos de qualidade, aumento na flexibilidade produtiva e uma maior diferenciação no leque de oferta. Entre as grandes empresas da área, o fortalecimento das atividades de P&D e a ampliação das infra-estruturas laboratoriais, mirando mais intensamente o design e o estilo – numa palavra, a criação, representando aumento do valor agregado aos produtos –, foi uma tendência coerente com a intenção de operar segundo o conceito de “moda como negócio” (VIANA, 2001a). A “personalização” dos produtos é prática que se insere nessa tendência. Entre as PMEs, as próprias condições de concorrência da década de 90 – quando a avassaladora presença de produtos asiáticos muito baratos estimulou várias empresas locais a diferenciar os seus produtos para evitar a concorrência externa e ingressar em faixas de mercado freqüentadas por consumidores de maior poder aquisitivo – funcionaram como lubrificantes do processo de enriquecimento das atividades de criação, mesmo que sob o signo da heterogeneidade nesse segmento de fabricantes. Assim, por exemplo, cresceu o uso de sistemas CAD também nesse estrato empresarial (LINS, 2000b), um movimento no curso do qual multiplicaram-se no Vale do Itajaí as griffes vinculadas às empresas de menor porte, as quais, não obstante o seu tamanho, mantêm equipes de criação que costumam cultivar e

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

359

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

mobilizar contatos inclusive internacionais (VIANA, 2001b). No mesmo diapasão, as empresas ampliaram os seus staffs nas atividades correspondentes.

3.7.1.5 Impactos ambientais

O Vale do Itajaí apresenta diversos problemas ambientais. Os principais “são, reconhecidamente, os impactos negativos provocados pelas enchentes nas áreas urbanas.” (MATTEDI, 2000, p. 224), ocorrências naturais que em certos momentos – como no início da década de 1980 – tornaram a área objeto de consternação em nível de país. Não admira, desse modo, que nas abordagens sobre o gerenciamento ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí seja dada grande ênfase à questão das cheias (FRANK, 1995). Entretanto, a problemática ambiental transcende o aspecto específico das enchentes, embora os diferentes focos de agressão guardem relação, em vários sentidos, com esta questão específica. A vulnerabilidade regional do ponto de vista do meio-ambiente tem, de fato, várias faces. Cabe mencionar, ...processos como a ausência de matas ciliares ao longo dos rios; a ocupação indevida das encostas; a descaracterização da paisagem natural do relevo por aterros; a intensificação do desmatamento; a ocupação dos fundos de vales; práticas agrícolas inadequadas; ausência de arborização nas áreas urbanas; a poluição das águas por dejetos industriais, agrícolas e domésticos; ocupação das faixas de proteção dos rios; padrões de utilização do solo inadequados, etc. (MATTEDI, op cit., p. 225).

Como se observa, as atividades industriais integram a relação das fontes poluidoras no Vale do Itajaí. Entre tais atividades, a produção têxtil-vestuarista aparece com destaque, seja porque se trata de setor com grande realce na estrutura produtiva da área, seja porque a natureza de várias de suas operações apresenta um elevado potencial poluidor. Daí que no Programa de Recuperação Ambiental da Bacia do Rio Itajaí-Açu, criado pela Fundação do Meio Ambiente (FATMA) de Santa Catarina já no final dos anos 1980, a redução da emissão dos efluentes do setor industrial – com atenção particular para o setor têxtil – tenha sido privilegiada entre as primeiras providências vislumbradas (ADAMI, 1994). Esse programa foi implementado progressivamente, no que se refere à incorporação das empresas nos procedimentos de prevenção. Isso resultou em numerosos sistemas de tratamento de efluentes implantados e até em casos de desativação dos setores poluentes em nível de planta, permitindo a redução da carga poluidora lançada pelas empresas. Contudo, o envolvimento nesse tipo de iniciativa é desigual no seio do tecido empresarial. Dados

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

360

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

apresentados por Campos, Cario e Nicolau (2000), referentes a uma amostra de 36 empresas, mostram que, em 2000, o controle ambiental – com vistas a atender à legislação – figurava como um objetivo importante ou muito importante para 85% das grandes empresas pesquisadas, mas para as empresas médias e pequenas essa percentagem caía para 29% e 40%, respectivamente. É sintomático que entre as empresas agraciadas com o Prêmio Fritz Muller – criado em 1982 pela Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina para homenagear anualmente empresas sediadas no estado com destaque no controle da poluição – apareçam com certa freqüência fabricantes têxteis-vestuaristas de grande porte instalados no Vale do Itajaí. Assim, nas edições dos últimos anos, empresas como Karsten, Hering, Malwee e Teka figuraram entre os ganhadores da premiação ou tiveram o reconhecimento oficial por meio de menções honrosas e indicação como “personalidades do ano” (cf. pode ser observado em www.fatma.sc.gov.br). As justificativas envolvem referências a medidas de aprimoramento nos sistemas de tratamento de efluentes líquidos, de redução nas quantidades de efluentes gasosos e de reutilização dos resíduos sólidos. De todo modo, a problemática ambiental ligada aos efluentes industriais permanece como assunto merecedor de um adequado equacionamento no Vale do Itajaí. Não permitem pensar diferentemente as várias iniciativas, protagonizadas no âmbito do arcabouço institucional local, voltadas à gestão do uso dos recursos hídricos, como se indicará posteriormente. Aponta na mesma direção a aparente prioridade localmente atribuída à construção de um aterro sanitário industrial que contribua para amenizar as agressões ambientais (LOMBARDI, 2001).

3.7.1.6 Incentivos públicos incidentes no arranjo

Em que pese a importância socioeconômica das atividades têxteis e vestuaristas desenvolvidas no Vale do Itajaí, não se pode referir a um processo de envolvimento conseqüente das administrações públicas locais nas questões que interessam a essas indústrias, apesar de a situação não ser uniforme com relação a tal assunto. Entrevistas realizadas junto a PMEs da área mostraram que os fabricantes, na sua esmagadora maioria, não consideram relevante o papel desempenhado pelas prefeituras municipais (LINS, 2000a).

361

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Todavia,

pesquisas

recentes

registram

o

envolvimento

da

Secretaria

de

Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Blumenau em iniciativas de certo destaque, abrangendo esquemas de cooperação de natureza multilateral com outras instituições, como se falará na seqüência. Em Jaraguá do Sul, especificamente, detectaram-se avaliações francamente negativas, já que o tipo de comportamento adotado pelo poder executivo, num certo período da década de 1990, havia até provocado a perda pelo município de um importante aparato de comercialização de artigos de vestuário, cujos investidores acabaram preferindo uma localização alternativa (LINS, 2000a). Em Brusque, diferentemente, Henschel (2002) verificou a reiterada ocorrência de uma atuação multidirecionada no âmbito da prefeitura municipal, ainda que não se possa dizer que o envolvimento do poder executivo tenha sido determinante na trajetória da indústria. Por exemplo, iniciativas públicas para desenvolver um turismo que combinasse atrativos histórico-culturais (com base em festas típicas) e o interesse pelas compras em estruturas de vendas ao estilo da “pronta-entrega” foram desencadeadas em sistema de parceria, a partir de demandas sociais (no caso, de associações empresariais). A presença do poder público no arranjo por meio de mecanismos de financiamento não é negligenciável. Campos, Cário e Nicolau (2000) indicam que as empresas de maior porte utilizam com uma freqüência relativamente maior as fontes públicas de financiamento, mesmo que o uso de recursos próprios – na opção por um autofinanciamento cujo estímulo maior parece vincular-se ao quadro de elevadas taxas de juros – seja referido muitas vezes pelas primeiras, quase tanto quanto pelas empresas menores. A Tabela 3.7.12 informa sobre as fontes de financiamento principais de que se valem as empresas, diferenciando-as por tamanho.

Tabela 3.7.12 - Principais fontes de financiamento utilizadas pelas empresas têxteis e vestuaristas do Vale do Itajaí - 2000 FONTES DE FINANCIAMENTO

Grandes empresas

Médias empresas Pequenas empresas

Sem importância Pouco importante Importante Muito importante Sem importância Pouco importante Importante Muito importante Sem importância Pouco importante Importante

RECURSOS PRÓPRIOS 7,7 0 53,8 38,5 14,3 42,8 14,3 28,6 0 0 35,7

BANCOS BANCOS DE COMERCIAIS DESENVOLVIOFICIAIS MENTO 53,8 23,1 23,1 0 23,1 46,1 0 30,8 57,1 42,8 0 0 42,9 14,3 0 42,9 0 61,5 61,5 7,7 30,7 7,7

BANCOS PRIVADOS

RECURSOS EXTERNOS

53,8 7,7 30,8 7,7 42,8 0 42,9 14,3 61,5 7,7 7,7

15,4 23,1 23,1 38,4 57,1 14,3 0 28,6 84,6 0 0

362

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Muito importante

64,3

7,8

23,1

23,1

15,4

Fonte: Campos, Cario e Nicolau (2000). Amostra de 36 empresas. Valores em percentual.

Bancos e instituições financeiras públicos, como o Banco do Brasil S.A. (BB), e instituições financeiras de fomento e desenvolvimento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Agência Catarinense de Fomento S.A. (BADESC), despontam nas indicações das empresas. Isso demonstra a atuação desses órgãos na distribuição de recursos dos programas de financiamento, como o Programa de Investimentos do BNDES e o Programa de Financiamento às Exportações (PROEX), do Governo Federal, e o Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense (PRODEC), do governo de Santa Catarina. Este último, frise-se, constitui o mais importante mecanismo estadual de estímulo aos investimentos. Criado na década de 1980, o PRODEC funciona através de incentivo fiscal, possibilitando às empresas a utilização de parte do ICMS devido em medidas de implantação, aumento e modernização de atividades produtivas, com prazos de fruição, carência e amortização definidos nos seus termos. Na década de 1990, o PRODEC foi setorializado, surgindo nesse processo o Programa de Desenvolvimento Têxtil Catarinense (PRODEC Têxtil). A Tabela 3.7.13 informa sobre as principais empresas têxteis-vestuaristas da área beneficiadas por esse programa no período 1998-2004, indicando, para cada caso, os municípios de localização, a quantidade de empregos a serem gerados e o montante do financiamento.

Tabela 3.7.13 - Principais empresas do arranjo produtivo têxtil-vestuário beneficiadas pelo financiamento PRODEC no estado de Santa Catarina – 1998-2004 RAMO DE ATIVIDADE Têxtil

NOME Inds. Têxteis Renaux S/A Marisol S/A Marisol S/A Pati Nicki Confecções Ltda. Altenburg Ind. Têxtil Ltda. Franlui Têxtil Ltda. Elástico Blufitex Ltda Marcatto Ind. de Chapéus Ltda. Ind.de Linhas Leopoldo Schmalz S/A A.M.C. Têxtil Ltda. Têxtil H.J. Hering Ltda. Fábrica de Tecidos Carlos Renaux S/A Textilfio Malhas Ltda. Hering Têxtil S/A ( Cia Hering ) A.M.C. Têxtil Ltda. Franke Douat Ltda. Diklatex Industrial Têxtil S/A

MUNICÍPIO

EMPREGOS A SEREM GERADOS

Brusque Blumenau Jaraguá do Sul Joinville Blumenau Itajaí Blumenau Jaraguá do Sul Gaspar Jaraguá do Sul Indaial Brusque Jaraguá do Sul Blumenau Brusque Joinville Joinville

125 350 920 204 54 56 14 80 993 102 36 37 11 3050 197 72 360

MONTANTE DO FINANCIAMENTO (1) 38.895.987,00 14.600.176,00 67.161.000,00 2.916.000,00 5.927.588,00 1.570.400,00 539.320,00 5.540.246,26 14.761.095,00 3.406.910,00 1.072.259,00 8.184.308,00 905.640,00 67.883.000,00 9.698.520,00 16.720.878,76 7.827.500,00

363

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Vestuário e Artefatos

Tecelagem Confec. Cofran Ltda. Malharia LC Ltda. Dudalina S.A. H.I. Indústria de Etiquetas Ltda. Fiobras Ltda. Sancris Linhas e Fios Ltda. Malwee Malhas Ltda. Cativa Têxtil Indústria e Comércio Ltda. Intimamente - Indústria e Comércio Ltda.

Camboriú Brusque Blumenau Pomerode Indaial Brusque Jaraguá do Sul Pomerode Brusque

150 14 82 62 52 50 197 215 41

1.963.000,00 2.786.890,00 3.372.965,00 2.713.000,00 2.068.280,00 2.433.773,00 21.645.548,00 3.257.034,05 2.184.273,33

Fonte: Secretaria de Planejamento do Estado de Santa Catarina / PRODEC. (1) Valores em R$ de 2004.

3.7.2 Capacitação tecnológica e para a inovação

As fontes e formas de capacitação tecnológica e para a inovação de que se valem as empresas têxteis e vestuaristas do Vale do Itajaí apresentam duas dimensões: são internas e também externas ao arranjo.

3.7.2.1 Fontes e formas de capacitação interna

Entre as fontes e formas internas figuram os esforços protagonizados ao nível das estruturas empresariais. Tais movimentos traduziram-se na criação e/ou ampliação de departamentos de P&D, sobretudo nas empresas de maior porte, onde se perscrutam, nos laboratórios e/ou estações de design, novas possibilidades de modelos e/ou combinações de cores e padronagens. A tendência de elevação dos gastos em P&D entre as empresas é ilustrativa dessa ocorrência, conforme Tabela 3.7.14. As tarefas correspondentes ocorrem em sintonia, o tanto quanto possível, com as tendências emanadas dos grandes centros da moda, como o eixo Rio-São Paulo, numa primeira aproximação, ou o eixo Paris-Milão-LondresNova York, num arco mais amplo e, certamente, de maior influência. De todo modo, cabe assinalar que essas unidades de P&D, por se dedicarem principalmente ao desenvolvimento de produtos (enfatizando a criação e a moda), utilizam com alguma freqüência os serviços tecnológicos disponíveis no tecido institucional.

Tabela 3.7.14 - Situação dos gastos em P&D das grandes e médias empresas têxteis e vestuaristas do Vale do Itajaí, conforme percentual captado - 2000 INDICADORES VARIAÇÃO DO INDICADOR P&D/FATURAMENTO ENTRE 1990 E 1999 - aumento significativo

PARTICIPAÇÂO DAS EMPRESAS (1) 47,05

364

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

- pequeno aumento - sem aumento - redução % DO GASTO EM P&D EM RELAÇÃO AO FATURAMENTO BRUTO DE 1999

29,41 17,64 5,88 1,8

Fonte: Campos, Cario e Nicolau (2000). Amostra de 19 empresas. (1) Valores em percentual.

Com efeito, também internas ao arranjo, e portanto objeto de combinação com os impulsos para capacitação incrustados nas compras de máquinas e equipamentos, mostram-se as fontes relativas aos laboratórios, centros tecnológicos e instituições de ensino e pesquisa que formam a trama de instituições locais. O SENAI aparece com destaque entre essas fontes internas (porém externas às empresas). Conforme já salientado, trata-se de instituição com presença em vários municípios do Vale do Itajaí, oferecendo cursos (de ensino técnico, de ensino superior de tecnologia e de educação profissional) e disponibilizando serviços técnicos e tecnológicos. Merece especial realce, na estrutura do SENAI presente no Vale do Itajaí, o Centro de Tecnologia do Vestuário (CTV), criado em 1999 como uma forma de desenvolvimento do já existente Centro de Educação e Tecnologia no intuito de fornecer suporte à indústria têxtilvestuarista da área, auxiliando-a na superação do quadro de crise instalado. Afinado, ao menos na sua filosofia de atuação, com as mudanças no paradigma têxtil-vestuarista em curso na esfera internacional – no bojo das quais a moda e as atividades que gravitam em torno das funções de criação assumiram um caráter absolutamente estratégico –, o CTV atua principalmente em educação profissional, segundo enfatizado por Rocca (2003). Com tal orientação, oferece cursos em nível de graduação (Bacharelado em Moda) e de pós-graduação (em Processos Têxteis, por exemplo), cursos superiores de tecnologia (Tecnologia em Vestuário, entre outros) e vários outros cursos técnicos, de aprendizagem industrial e de qualificação. Mas o funcionamento do CTV é multidirecionado. De um lado, presta assessoria técnica (como no desenvolvimento de modelagem e de encaixe com uso de CAD na produção vestuarista) e assessoria tecnológica (por exemplo, para a implantação das normas ISO 9001 e 14001). De outro lado, dá os primeiros passos em pesquisa aplicada, como em design para coleções de moda. Além disso, atua na difusão de informações tecnológicas, franqueando o acesso à sua biblioteca/videoteca, e presta serviços laboratoriais. Entre os usuários das diversas atividades desenvolvidas pelo CTV figuram empresas importantes do arranjo, como Karsten, Hering e Marisol, embora a associada concepção institucional contemple um arco de atuação com alcance inclusive nacional. Pode-se considerar que esse organismo representa

365

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

um importante impulso local no campo do desenvolvimento de produto, justamente na direção em que as empresas do arranjo canalizam o principal dos seus esforços inovativos, escoradas em maiores investimentos em criação e estilo. Cabe indicar que, em 2002, foi inaugurado, na esteira do funcionamento do CTV, um Centro de Tecnologia Têxtil (CETTEX) nas dependências no SENAI. O objetivo mais geral dessa iniciativa envolve instalar um foco de disseminação de conhecimento tecnológico para a produção têxtil, com as metas específicas de incrementar a qualidade e o valor agregado dos produtos da região. Encontram-se no CETTEX o Laboratório de Ensaios Tecnológicos e o Laboratório de Ensaios Químicos, integrantes de uma estrutura laboratorial em nível de SENAI regional que inclui também o Laboratório de Análise de Água e Efluentes Industriais (LANAE). Marcam presença, da mesma forma, dois outros aparatos básicos ao apoio técnico e tecnológico às empresas, prestando serviços há algum tempo no arranjo: o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento de Estudos Têxteis (CEPETEX), operando com a Fundação Blumenauense de Estudos Têxteis (FBET), e o Laboratório de Ensaios Físicos e Químicos Têxteis (LEFQT), localizado em Brusque. O LANAE dedica-se à realização de análises físicas e químicas em águas e efluentes, um tipo de atividade que cobre cerca de 80% das suas receitas. Entre os projetos mais importantes em desenvolvimento neste laboratório constam os de Emissões Atmosféricas e o Água-Tex. Com desempenho que parece estar estimulando a idéia de estender as instalações e os serviços associados para outros municípios do Vale do Itajaí, o LANAE avança no projeto de criação de um Núcleo de Tecnologia em Água, com foco na redução do consumo de água pela indústria, ampliando a sua reciclagem e reutilização. No bojo das atividades relacionadas, foi aprovado o Projeto de Racionalização do Uso de Água na Indústria Têxtil, numa parceria que abrange a Universidade Federal de Santa Catarina e também empresas como Karsten, Coteminas e Menegotti (ROCCA, 2003). O CEPETEX representa estrutura laboratorial que realiza, essencialmente, testes de resistência, alongamento e imperfeições em fios e fibras, além de classificar o algodão, com resultados garantidos por análises interlaboratoriais feitas na Testex (na Suíça, para fios) e na USDA (para algodão, nos Estados Unidos). Seus clientes não se restringem ao Vale do Itajaí, distribuindo-se

em

diferentes

estados

brasileiros.

Trata-se

de

estrutura

formada

institucionalmente no âmbito de uma parceria entre o SENAI, a FURB e a FBET, esta última representando, ela própria, uma importante estrutura de prestação de serviços técnicos – criada, registre-se, por um grupo de grandes empresas têxteis-vestuaristas locais – onde

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

366

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

fazem-se análises de fibras, elaboram-se laudos, realizam-se estudos e pesquisas de cunho científico e tecnológico e também desenvolvem-se experiências técnicas com produtos e processos. Ambos, o CEPETEX e a FBET, encontram-se instalados nas dependências do SENAI de Blumenau. O LEFQT, de sua parte, presta serviços na forma de análises em fibras, fios e tecidos. Credenciado pelo Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), realiza ensaios de gramatura de tecidos, determina o título de fios e efetua análises qualitativas e quantitativas de fibras e tecidos. Esse laboratório integra estrutura do SENAI no município de Brusque que também oferece vários cursos em nível técnico, devendo-se ressaltar os de Técnico Têxtil e de Técnico em Vestuário, com demanda crescente (ROCCA, 2003). A rigor, o papel do SENAI de Brusque parece ter sido básico na trajetória lograda pelas atividades de produção de vestuário locais. Ostentando iniciativas como a aquisição de sistema CAD/CAM, em meados da década de 1990, e o favorecimento do acesso das empresas interessadas nessa tecnologia – com repercussões sobretudo entre as de menor porte –, a agência teria favorecido a “proliferação de profissionais voltados à produção de malhas, à talhação, à modelagem, à costura, à implementação de sistemas computadorizados de aproveitamento de tecido ou malha (...).” (HENSCHEL, 2002, p. 55). A proliferação de empresas de menor tamanho, a reboque da formação técnica proporcionada localmente e favorecida pela existência de um mercado de maquinário de segunda mão, parece uma trajetória indissociável da atuação do SENAI em Brusque. A FURB, como instituição universitária, combina atividades de natureza educacional e atividades nos campos da pesquisa tecnológica e da prestação de serviços. Essa instituição oferece, de interesse para a indústria têxtil-vestuarista, formações em Química Têxtil, Moda, Estilismo e em Engenharia Química. No terreno da pesquisa e dos serviços às empresas, o seu desempenho tem a ver com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de Blumenau (IPTB), criado em 1972 e que desenvolve, em meio a fortes interações com os departamentos de engenharia da universidade, projetos de pesquisa direcionados à inovação de produtos e processos. Embora o principal dessas atividades de investigação científica relacione-se a áreas como o refino de petróleo, vários desses projetos mostram-se de interesse direto para a indústria têxtil-vestuarista. Vale destacar que a atuação do IPTB escora-se em infra-estrutura que dispõe de modernas condições laboratoriais, com equipamentos de última geração. As fontes e formas de capacitação que se referem à atuação de instituições locais aparecem indicadas de forma esquemática no Quadro 3.7.1, que lista a maioria dos integrantes

367

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

mais importantes da base institucional do arranjo (incluindo os que operam em coordenação e “auto-ajuda”), assinalando os respectivos campos de atuação com maior destaque.

INSTITUIÇÕES ACIB SINTEX Outras associações empresariais Sindicatos de trabalhadores SENAI (geral) FURB FEBE FERJ CTV/SENAI CETTEX/SENAI FBET CEPETEX LEFQT/SENAI IPTB/FURB LANAE/SENAI

Coordenação e/ou “auto-ajuda” X X

ÁREAS DE ATUAÇÃO Ensino (de vários tipos Ensino e e em vários níveis) pesquisa

Serviços tecnológicos e laboratoriais

X X X X X X X

X

X X

X X X X X X X

Fonte: Campos, Cário e Nicolau (2000); Henschel (2002); Lins (2000a); Lombardi (2001); Rocca (2003).

Quadro 3.7.1 - Integrantes selecionados do tecido institucional e áreas de atuação respectivas

3.7.2.2 Fontes e formas de capacitação externas ao arranjo Conforme sublinhado anteriormente, a incorporação de máquinas e equipamentos novos ao parque têxtil configura uma importante forma de capacitação tecnológica no arranjo do Vale do Itajaí. Trata-se, ao que tudo indica, da forma mais importante de absorção de inovações para os fabricantes locais. Isso tem a ver com a própria condição de absorvedora de inovações provenientes de outros setores industriais que a indústria têxtil-vestuarista ostenta, de uma forma ampla. Assim, a renovação dos bens de capital, traduzida, por exemplo, no aumento da proporção do maquinário com dispositivos de base microeletrônica, tem se revelado um instrumento privilegiado de capacitação tecnológica na área (RODRIGUES et al., 1996), ainda que tal processo não tenha realmente se disseminado entre os diferentes tipos de empresas. Este tipo de limitação é observado, assinale-se, na cadeia têxtil em escala nacional (GARCIA, 2000). A atualização no maquinário, articulada às possibilidades representadas pelo uso mais intenso de insumos modernos – tais como fibras, fios e tecidos sintéticos –, e acompanhada tanto pela progressão no uso de tecnologias CAD quanto pela decorrente multiplicação (e/ou pelo fortalecimento) dos laboratórios pertencentes às empresas – favorecendo e sustentando

368

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

desenvolvimentos no terreno da criação –, constitui um aspecto maior da capacitação em nível de arranjo. Não é desprovido de significado o fato de tal processo ter reverberado na esfera da mão-de-obra, provocando uma aparente maior freqüência a cursos para formação e/ou aperfeiçoamento/qualificação, oferecidos no âmbito do arcabouço institucional, pelo SENAI em primeiro lugar. Nessas circunstâncias, não admira que os vínculos com fornecedores figurem entre as principais fontes de informações para a realização de inovações, um vetor quase tão decisivo quanto as relações com clientes, segundo captado por Campos, Cário e Nicolau (2000). No que tange às relações com fornecedores, cabe mencionar a importância das interações com os de insumos químicos, que representam fluxos de informações tecnológicas relevantes para as operações de acabamento, estamparia e tingimento. Tais fluxos ombreiam-se em importância, na verdade complementado-os, com os que envolvem os fornecedores de máquinas e equipamentos. Essas fontes e formas de capacitação mostram-se externas ao arranjo, pois, como destacado anteriormente, os fornecedores situam-se, no essencial, em outras regiões do Brasil e (particularmente no que diz respeito ao maquinário) em outros países. Tais fontes externas englobam, igualmente, centros tecnológicos situados no exterior do arranjo, em certos casos situados no exterior do país, conectados por meio de acordos com instituições locais. O mesmo pode ser dito, no que concerne ao peso das fontes externas ao Vale do Itajaí, sobre os clientes, de um modo geral: conforme assinalado anteriormente, os destinos das vendas apresentam localizações amplamente diversificadas. A Tabela 3.7.15 reúne informações sobre as interações protagonizadas por uma amostra de empresas na segunda metade dos anos 90, diferenciando segundo a localização (se interna ou externa ao arranjo) dos interlocutores. Aparece com destaque o crescimento das interações com fornecedores de insumos, bens de capital e com clientes, situados fora do arranjo. Tabela 3.7.15 - Interações de grandes e médias empresas têxteis-vestuaristas do Vale do Itajaí na segunda metade dos anos 1990 PARTICIPAÇÂO DAS EMPRESAS (1) Forte dimin. Relações Diminuição no Estável Arranjo Aumento Forte aum. Relações Forte extradimin.

EMPRESAS E INSTITUIÇÕES Fornec. Fornec. Centros UniverMáq. e Insumos tecnológicos sidades equip.

Clientes

Concorrentes

0

30,8

0

8,3

6,2

6,2 31,3 50,0 12,5

15,4 38,5 7,7 7,7

0 20,0 60,0 20,0

0 50,0 41,7 0

0

15,4

0

0

Sindicatos e associações

Órgãos públicos

7,7

12,5

21,4

0 56,3 31,2 6,3

7,7 46,1 38,5 0

0 56,3 18,7 12,5

0 42,9 28,6 7,1

18,2

40,0

37,5

20,0

369

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 arranjo

Diminuição Estável Aumento Forte aum.

0 0 73,7 26,3

23,1 53,8 7,7 0

0 31,3 43,7 25,0

0 25,0 56,3 18,7

0 36,4 36,3 9,1

0 40,0 20,0 0

0 37,5 12,5 12,5

10,0 30,0 40,0 0

Fonte: Campos, Cario e Nicolau (2000). Dados referem-se a uma amostra de 19 empresas. (1) Valores de participação em percentual.

Outras fontes de capacitação-informação também merecem ser referidas, embora apareçam em posições claramente secundárias para as empresas. Para os produtores de maior porte, cujas estruturas favorecem uma certa assiduidade na freqüência aos grandes eventos – oportunidades em que são apresentadas as tendências do mercado –, as feiras e outros acontecimentos do gênero possuem alguma importância, seja no Brasil, seja (talvez principalmente) no exterior. Para as empresas menores, este é mais raramente o caso, inclusive porque os avanços nas tecnologias de comunicação possibilitam, de uma forma ou de outra, o acompanhamento dos processos em curso em diferentes latitudes. Já os veículos de informação na forma de publicações especializadas não gozam de realce particular, como mecanismos de difusão de informações e de fontes de capacitação, nas opiniões das empresas.

3.7.3 Cooperação e governança

No debate sobre as aglomerações produtivas, o termo governança tem sido geralmente utilizado para referir ao conjunto de atores e aos arcabouços institucionais presentes no território, assim como às regras que interferem nas interações internas – de certo modo “coordenando” tais vínculos – e afetam as relações com outros atores e territórios (cf., por exemplo, BENKO e LIPIETZ, 1995, e STORPER e HARRISON, 1991). O tema da cooperação situa-se de corpo inteiro nos campos da reflexão e da propositura de iniciativas com respeito à governança: de acordo com Gilly e Pecqueur (1995), a “proximidade institucional, (...) que assegura a coesão social dos sistemas produtivos locais, repousa em lógicas de ações coletivas baseadas em convenções e instituições locais criadas, adaptadas e/ou compartilhadas pelos atores.” (p. 307). Esse preâmbulo é suficiente para ressaltar que, na abordagem do binômio governançacooperação a respeito do arranjo têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí, diferentes tipos de atores locais fazem notar o seu envolvimento, fato que, não obstante, está longe de significar um quadro de homogeneidade no que se refere a tal assunto.

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

370

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

3.7.3.1 Principais atores participantes em atividades de coordenação e mobilização coletiva Não parece equivocado considerar que o perfil da governança no arranjo, favorecendo a configuração de alguns espaços para cooperação – seja interfirma, seja entre os tecidos empresarial e institucional –, é determinado predominantemente pelos organismos de representação e defesa dos interesses dos produtores. Trata-se, em primeiro lugar, do SINTEX e da ACIB, em Blumenau, e também da Associação de Médias e Pequenas Empresas de Brusque (AMPEbr), mesmo que outras estruturas de natureza semelhante operem em municípios vizinhos. O SINTEX, já mencionado anteriormente, congrega empresas distribuídas em quase duas dezenas de municípios do Vale do Itajaí e prioriza, no seu modo de funcionamento, a distribuição de informações relevantes para os associados, a manutenção e a operacionalização de comissões técnicas sobre questões específicas de interesse dos fabricantes, o acompanhamento da normatização técnica nos diferentes segmentos da cadeia produtiva e o apoio aos interesses patronais baseado no funcionamento de comissões de arbitragem voltadas para conflitos trabalhistas e comerciais. A ACIB, também já aludida, mantém diversos tipos de serviços para seus associados, promove vários tipos de atividades consideradas de utilidade para seus integrantes e defende os interesses das empresas em várias esferas, incluindo os diferentes níveis de governo. Mas esta instituição mostra-se igualmente “consolidada como entidade consultiva da administração pública, participante de várias comissões deliberativas do Executivo Municipal, principalmente no que toca às ações comunitárias e de incentivo ao desenvolvimento econômico do município”. (LOMBARDI, 2001, p. 136). A AMPEbr, de sua parte, tem operado como organismo de coordenação e defesa dos interesses do pequeno e médio empresariado brusquense, cumprindo um papel decisivo na promoção do segmento de vestuário municipal, como se sublinhará posteriormente. Atribui-se destaque a esses organismos porque, ao que tudo parece indicar, derivou de suas manifestações, pressões e iniciativas muito do que foi realizado no arranjo sob o signo da ação coletiva, pedra angular da governança. Embora não se possa descartar a presença de um certo voluntarismo específico em outras esferas – poder público local, instituições de ensino e pesquisa e centros tecnológicos –, em algumas iniciativas próprias que certamente se fizeram

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

371

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

notar em diferentes circunstâncias, as evidências disponíveis sugerem que o papel dos organismos de representação e defesa dos empresários, concentrando funções de coordenação e a prática da “auto-ajuda”, tem sido decisivo na trajetória do arranjo. Essa indicação não deve fazer pensar, é importante advertir, que aquelas entidades têm atuado de forma amplamente satisfatória. Significa tão-somente que estariam a pertencer ao seu leque de ações algumas das principais iniciativas protagonizadas na área. De fato, as empresas pouco cooperam por sua própria conta. Isso é devido, por um lado, à própria configuração dos setores em questão, em que a diferenciação de produtos é elemento básico da concorrência, pouco estimulando, em virtude disso, vínculos cooperativos horizontais, por exemplo. Mas esse traço é ainda potencializado por um individualismo exacerbado e pela predominância de espírito de rivalidade que dificulta interações mais conseqüentes, conforme detectado em vários estudos (FERREIRA, 2000; LINS, 2000b; LOMBARDI, 2001; MEYER-STAMER, 1999). Por outro lado, o fato de a maior parte dos fornecedores e clientes estar localizada no exterior do arranjo significa que as relações de cooperação de cunho vertical – que se intensificaram nos anos 1990 – representam o adensamento de vínculos sobretudo extra-locais, em vez de se materializarem numa maior cooperação local realmente “espessa”. Houve crescimento nas interações entre fabricantes e fornecedores de bens de capital e de insumos no interior do arranjo, mas, como já enfatizado na Tabela 3.7.14, a intensificação dos vínculos com fornecedores extra-regionais foi muito mais forte. Contribui igualmente para esse cenário de relações interfirmas majoritariamente rarefeitas uma considerável resistência das maiores empresas à desverticalização produtiva. Ferreira (2000) notou, estudando as principais empresas do segmento cama-mesa-banho, que isso decorre principalmente de problemas ligados ao controle de qualidade, já que em diferentes casos estaria a preponderar um sentimento de desconfiança acerca da eficácia das firmas subcontratadas em relação a esse controle. A isso adiciona-se o desestímulo alimentado pela frustração de tentativas no passado, como nas ocasiões em que se tentou – sem sucesso – instalar uma central de compras de algodão que operasse a contento e criar uma empresa que fornecesse fios de algodão aos produtores (FERREIRA, op. cit.) Não se pode também afastar a possibilidade de que um certo espírito de auto-suficiência, ao que parece típico do empresariado de origem germânica que atua no Vale do Itajaí, tenha influência. Ferreira (op cit.) e Lombardi (2001) chamam a atenção para esse aspecto, e impressões captadas mediante entrevistas com empresários estariam a indicar que tal fator não deveria ser desconsiderado:

372

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

perguntado sobre as razões pelas quais o empresariado do Vale do Itajaí mostra-se tão refratário às ações conjuntas, um destacado fabricante sublinhou que os empresários locais de origem alemã fazem questão de mostrar para seus pares que são capazes de vencer sozinhos (LINS, 2000a). Contudo, a prática da subcontratação cresceu no Vale do Itajaí. Diante das novas condições de concorrência impostas pela liberalização comercial dos anos 90, reduzir custos tornou-se providência irrecusável para muitas empresas, e a transferência de etapas dos processos produtivos para capacidades externas foi considerada medida capaz de gerar resultados nessa direção. Isso foi observado entre as pequenas e médias empresas: de 33 PMEs pesquisadas por meio de entrevistas nos municípios de Blumenau, Brusque e Jaraguá do Sul, nada menos que 21 (64%, portanto) terceirizavam processos produtivos, e 13 apareciam como tomadoras de encomendas, sendo que algumas operavam simultaneamente como subcontratantes e subcontratadas, conforme Tabela 3.7.16. Mas esse mecanismo de redução de custo foi utilizado também por grandes empresas: a Cia. Hering, fiel ao anunciado propósito de concentrar as suas atividades em funções “nobres” da cadeia produtiva (criação, marketing) e de distribuir a produção entre faccionistas capazes de fabricar com qualidade e no marco da flexibilidade2, “criou” um espaço de subcontratação que em alguns períodos se desdobrou entre o Vale do Itajaí e municípios do sul de Santa Catarina, envolvendo unidades produtivas também na região da Grande Florianópolis (LINS, 2002).

Tabela 3.7.16 - Subcontratação envolvendo PMEs têxteis-vestuaristas de Blumenau, Brusque e Jaraguá do Sul na segunda metade dos anos 1990 INDICADORES TOTAL DE EMPRESAS ENTREVISTADAS Número de empresas subcontratantes Atividades transferidas em subcontratação Costura Tingimento Bordado Acabamento Corte Estamparia Fiação Fabricação de acessórios Flanelagem Engomagem Vantagens da transferência de atividades em subcontratação Economia com salários e encargos sociais Menores gastos com maquinário e instalações Flexibilidade no uso da mão-de-obra e na produção Possibilidades de aumentar a produção sem maiores custos Número de empresas subcontratadas

2

NÚMERO DE EMPRESAS 33 21

19 5 4 4 3 3 2 1 1 1 15 6 4 3 13

Segundo assinalado em palestra proferida por um diretor da empresa na 5ª Reunião Especial da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ocorrida em Blumenau em setembro de 1997.

373

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 Atividades realizadas como subcontratada Costura Tingimento/estamparia Lavação/passadoria Tecelagem Corte Acabamento Fiação Flanelagem Principais vantagens da tomada de encomendas Amplo uso da capacidade instalada Garantia de negócios Maior faturamento Produção sem interrupção

6 4 3 1 1 1 1 1 7 4 1 1

Fonte: Pesquisa direta nas empresas.

Note-se que essa iniciativa da Hering deve ser vista em relação com a sua estratégia – que estaria a caracterizar igualmente outras grandes empresas da região, como a Marisol – de valorização de marcas baseada no lançamento de artigos que acompanham as tendências da moda no plano mundial (CARDOSO, 2002). Trata-se de encaminhamento de ações a partir das quais essas empresas, conhecidas no país inteiro muito mais como grandes fabricantes de artigos de vestuário com base em malha, possam vir a conquistar posições também como fazedoras de moda, ao invés de principalmente como fabricantes com grandes escalas de produção. Pode-se dizer que o caminho percorrido nessa direção por algumas empresas de maior porte, e também por certas empresas menores, parece promissor, a ponto de autorizar manchetes como “moda ganha status profissional em SC” (VIANA, 2001c). Cabe salientar que esse tipo de “movimento das grandes empresas é fundamental para a manutenção da governance da cadeia, na relação com os outros participantes. Neste sentido, está associado à formação de mercado através de marcas. (...) A necessidade de grandes empresas nacionais na ponta do mercado é absolutamente fundamental para o desenvolvimento sustentado da indústria têxtil-confecções local” (FLEURY et al., 2001, p. 57). De toda maneira, não se pode dizer que o aumento da subcontratação representou um maior grau de cooperação no Vale do Itajaí. As atividades subcontratadas dizem respeito, antes de tudo, à costura (Tabela 3.7.16, já apresentada), quer dizer, tanto à montagem de artigos de vestuário – com peças já cortadas nas empresas que transferem a produção – quanto ao acabamento de outros artigos têxteis confeccionados (toalhas, por exemplo). Assim, na maior parte dos esquemas de subcontratação, trata-se de vínculos pautados muito mais no interesse em descarregar em capacidades produtivas externas as vicissitudes representadas pela pressão da concorrência e pelas oscilações do mercado, sem representar formação de teia de relações efetivamente densas e, por assim dizer, estruturais.

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

374

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

Portanto, é na esfera de ação do SINTEX e da ACIB, muito mais do que na das relações individuais entre firmas, que aparecem situadas algumas das iniciativas de maior visibilidade no arranjo, no tocante à questão da governança. Campos, Cario e Nicolau (2000) identificaram o envolvimento de ambas as instituições em diferentes tipos de ações. São medidas, por exemplo, de cunho infra-estrutural, como a referente à construção de um aterro sanitário destinado a mitigar as agressões ambientais – particularmente preocupantes em virtude da configuração física regional, em que sobressai a “forma bacia hidrográfica” – provocadas pelos dejetos/efluentes das empresas (envolvendo substâncias como solventes e tintas em geral). São também ações de defesa dos interesses dos produtores junto ao poder executivo estadual que concerne à criação e regulamentação do já mencionado PRODEC Têxtil, um importante instrumento de incentivo fiscal especialmente para investimentos em modernização produtiva. Cabe assinalar ainda ações direcionadas às duas principais instituições de ensino superior e técnico-tecnológico da área – a FURB e o SENAI – objetivando a criação, pela ordem, de curso superior de moda e de curso técnico em vestuário. E deve-se mencionar igualmente a iniciativa para a criação de um Centro Internacional de Negócios, uma estrutura de promoção das exportações têxteis e vestuaristas com alvo privilegiado nas empresas de menor porte. Além desses movimentos, o SINTEX e a ACIB têm participado na promoção de eventos de interesse da indústria têxtil-vestuarista, tais como feiras e seminários, e têm igualmente apoiado e estimulado ações dirigidas ao aumento da cooperação interfirma em nível local. Integram as ações com esse perfil o estabelecimento de contatos e, mais do que isso, a contratação de instituições até de alcance internacional, como foi o caso do Instituto Alemão de Desenvolvimento (IAD) e, conforme destaca Lombardi (2001), da Câmara de Artes e Ofícios de Munique e Alta Baviera. O fortalecimento das atividades de ensino universitário e de natureza técnica e tecnológica que se revelam de interesse da indústria têxtil-vestuarista, envolvendo sobretudo a FURB e o SENAI, há de ser amplamente considerado em relação às demandas do tecido empresarial. Falar sobre o SENAI nessa ótica chega a ser ocioso, pois a própria instalação dessa entidade na região é indissociável da capacidade de organização demonstrada décadas atrás por um punhado de grandes empresas, mas vale ressaltar que, no que diz respeito a cursos de formação técnica, Blumenau e Brusque têm abrigado os de técnico têxtil, e Blumenau, Jaraguá do Sul e Rio do Sul, os de técnico em vestuário, todos com duração de

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

375

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

dois anos e incluindo um semestre de estágio supervisionado, com matrículas que tendem à expansão (Campos, Cario e Nicolau, 2000). No que se refere à FURB, Lombardi (2001) não deixa margem para dúvidas sobre a articulação entre as atividades desta e as necessidades e demandas do empresariado local: “em estreita correlação com a demanda de profissionais para o setor têxtil, a Universidade sustenta cursos de graduação específicos como Química Industrial, Moda e Engenharia Elétrica. As grades curriculares dos demais cursos, sem exceção, baseiam-se em disciplinas de interesse da economia local.” (p. 141). Essa mesma relação estreita transparece nas atividades de pesquisa dessa universidade. A estrutura existente faz sobressaírem o Instituto de Pesquisas Ambientais, cujo foco privilegiado é a questão das cheias no Vale do Itajaí; o Instituto de Pesquisa Social, instância de desenvolvimento de diagnósticos e análises sobre a economia local, com monitoramento dos movimentos em escalas mais amplas, de utilidade (ao que parece) para o tecido político-empresarial da região; e o Instituto de Pesquisa Tecnológica de Blumenau, já mencionado. As outras instituições de ensino universitário do Vale – a FEBE e a FERJ, referidas anteriormente – não apresentam formas de atuação, e muito menos graus de desempenho, comparáveis à FURB, embora ofereçam formações (em graduação e pósgraduação) relacionadas a temas de interesse da indústria têxtil-vestuarista. As atividades de pesquisa e de apoio técnico e tecnológico são igualmente caudatárias, no que apresentam de mais importante, da ação empresarial. Sobre a já aludida FBET, instalada na agência do SENAI de Blumenau e que abriga o CEPETEX, Lombardi (2001) escreve que as respectivas “atividades iniciaram em 1970, como iniciativa de cinco grandes grupos (...)” (p. 141), a saber, Karsten, Artex, Hering, Teka e Cremer. Em Brusque, o quadro não é diferente. Foi o engajamento do presidente da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux – uma grande e tradicional empresa têxtil desse município –, à frente da Federação das Indústrias de Santa Catarina na década de 1950, que resultou na instalação de uma agência do SENAI em Brusque (agência que, sintomaticamente, funcionou durante muito tempo na própria sede do Sindicato Patronal das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Brusque e Itajaí). Mais tarde, essa mesma liderança empresarial logrou criar o Laboratório de Fiação e Tecelagem (LAFITE), posteriormente transformado no já indicado LEFQT (HENSCHEL, 2002). Em Blumenau, o passo institucional talvez mais estratégico rumo ao alinhamento do arranjo com as novas tendências internacionais na produção têxtil-vestuarista – o relativo à instalação, no âmbito do SENAI, do já assinalado Centro de Tecnologia do Vestuário (CTV), idealizado para imprimir dinamismo nas atividades de criação (design, moda) –, beneficiou-se

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

376

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

amplamente do envolvimento das empresas: as dificuldades enfrentadas pelo SENAI para montar uma estrutura fabril adequada à formação de mão-de-obra têxtil foram contornadas mediante parceria com cerca de dez empresas, em cujas instalações passou a ocorrer a formação prática que complementa a formação teórica ministrada nas dependências daquela instituição (ROCCA, 2003). Claro que as instituições tecnológicas têm, elas próprias, um importante papel na governança. Conforme registrado por Rocca (2003), o CTV, após obter o seu credenciamento junto ao MEC em 2001, pode operar como centro de ensino tecnológico, função que cumpre paralelamente à de coordenação da Câmara da Moda, criada no âmbito da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Blumenau e que engloba várias outras instituições, como o SEBRAE, a ACIB, a FURB e a Associação das Micro e Pequenas Empresas (AMPE). As parcerias de que participa o CTV têm alcance inclusive internacional, como a que envolve o Instituto Europeu de Design, instalado na Itália, um atributo que contribui para que se possa considerar aquele centro tecnológico como um ator local de relevo, com tendência a ter essa condição ampliada e fortalecida. Entretanto, isso não deve ofuscar o fato de que as relações das empresas com as instituições que prestam serviços tecnológicos, incluindo os laboratórios e centros tecnológicos e a própria universidade, carecem de uma maior intensidade. Campos, Cario e Nicolau (2000) descobriram, para uma amostra de fabricantes, que as relações das grandes e médias empresas com esse aparato tecnológico local apresentam uma freqüência apenas regular, concentrando-se na demanda por testes e por procedimentos de certificação e, secundariamente, no desenvolvimento de novos produtos. Entre as empresas de menor porte, o recurso aos serviços prestados pelas instituições locais é bem menos freqüente. A maioria sequer recorre a tais serviços, seja para o que for, e as poucas que o fazem buscam somente informações. As instituições são procuradas, acima de tudo, pelo que proporcionam no campo do ensino, já que essas entidades tecnológicas também atuam na formação de mão-de-obra e em educação (FURB, SENAI). É importante ressaltar que a escassa demanda das empresas maiores pelos serviços tecnológicos e por parcerias com vistas à inovação, no âmbito do arranjo, prende-se à maior importância por elas atribuída a outras fontes de informações e ao papel de atores situados extra- regionalmente. Os fornecedores de bens de capital e de insumos despontam nesse conjunto, conforme já enfatizado. Tampouco é desprezível, na configuração desse quadro, a capacidade demonstrada pelas principais empresas em buscar apoio na forma de consultorias,

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

377

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

por exemplo, em outros estados ou mesmo no exterior. Adicione-se ainda o fato de que as empresas maiores parecem considerar insuficientes, para atender a algumas demandas específicas, as condições oferecidas pelas instituições locais, ao que se agrega, para explicar a pouca procura pelos serviços, a própria auto-suficiência de alguns produtores (op cit.). Não obstante o que parece ser um papel preponderante das instituições na canalização das interações e no “exercício” da governança, a trajetória local registra iniciativas interessantes de relações cooperativas interfirmas em áreas que se pode designar “não competitivas”. Vale destacar principalmente as medidas que resultaram no Centro Eletrônico Têxtil de Blumenau (CETIL), criado no começo dos anos 1970 para desenvolver softwares destinados à gestão empresarial na indústria têxtil-vestuarista (programas para gerar folhas de pagamento e planilhas de custos, por exemplo). A idéia inicial era canalizar etapas das atividades administrativas das empresas para o referido centro de processamento, uma proposta que nos seus primeiros passos despertou considerável ceticismo em diversos empresários, mas acabou bem sucedida. Realmente, dezenas de empresas encontram-se hoje vinculadas à instituição, várias delas com reconhecimento no campo dos programas para a produção industrial. O CETIL também foi importante fonte de spillovers locais, pois houve casos de funcionários que depois criaram as suas próprias empresas de softwares, em especial a partir do final da década de 1980. Empresas incubadas no sistema CETIL conseguiram granjear reputação nacional na produção de softwares aplicativos, o que contribuiu para projetar a região de Blumenau na esfera do gerenciamento informatizado com utilização em diferentes segmentos da cadeia têxtil (LOMBARDI, 2001).

3.7.3.2 Caracterização das ações coletivas protagonizadas

A conjuntura de crise para a indústria têxtil-vestuarista nos anos 1990 suscitou iniciativas interessantes no arranjo, promovidas sobretudo pelas instituições de coordenação. Como essas instituições representam e defendem os interesses das empresas, tendo em vista que as congregam e canalizam as suas demandas e necessidades, as iniciativas referidas aparecem como importantes ilustrações de ação coletiva no seio do empresariado. Dessa maneira, tais instituições podem ser vistas como espaços por excelência de colaboração inter-

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

378

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

empresarial, a qual, no plano das relações diretas entre as empresas, sem mediação institucional, tende a se revelar pobre, como já exposto. Entretanto, não se deve depreender disso que a década de 1990 assistiu ao pleno florescimento do sentido de cooperação interfirma por meio do papel cumprido pelas instituições. Indica simplesmente que a percepção sobre a magnitude dos desafios frutificou de forma até certo ponto promissora. As iniciativas apresentam-se variadas, envolvendo desde a busca coletiva de informações sobre experiências internacionais com vistas a nutrir medidas de promoção local, até a criação de infra-estrutura tecnológica e de formação de recursos humanos capaz de favorecer um melhor alinhamento do tecido produtivo com as tendências da indústria têxtilvestuarista no plano mundial. Tudo converge para o interesse em promover a evolução do arranjo rumo a um patamar de competitividade mais elevado. Em Blumenau, uma importante iniciativa, que transcendeu consideravelmente a escala individual no enfrentamento das dificuldades, foi registrada em 1996 (no auge da crise associada à concorrência dos produtos importados), com o envolvimento decisivo de uma expressiva liderança empresarial no meio têxtil-vestuarista regional. Descrito por MeyerStamer (1999), o movimento em questão consistiu primeiramente na organização de uma viagem de empresários locais à Itália para observar e obter informações sobre best practice na cadeia têxtil, “particularmente em termos de relações interfirmas e de um ambiente meso de suporte altamente desenvolvido” (p. 460). A partir desse contato com uma realidade setorial externa em que se observa atenção especial para os aspectos de competitividade que se impõem internacionalmente, firmas médias e grandes do Vale do Itajaí deram início a um processo de diálogo e interações com o objetivo de pavimentar o caminho em direção à “eficiência coletiva”, quer dizer, a uma situação na qual as economias externas (vistas como resultado incidental da proximidade entre os agentes) mostram-se acompanhadas, nas aglomerações produtivas, por ação conjunta, de natureza cooperativa (vista como um resultado não incidental, e sim como expressão de voluntarismo) (SCHMITZ, 1995). A identificação dos pontos fracos das empresas, a melhoria dos fluxos de informações entre fabricantes, a promoção de cursos de formação/aperfeiçoamento e o estímulo à cooperação entre as firmas, de uma parte, e a FURB, de outra, figuraram entre os primeiros passos ensaiados naquele sentido. A própria transformação do Centro de Educação e Tecnologia do SENAI de Blumenau em Centro de Tecnologia do Vestuário, já mencionada, merece ser registrada entre as iniciativas de cunho institucional implementadas para fortalecer o arranjo têxtil-vestuarista no

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

379

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

tocante à capacitação tecnológica e à capacitação de recursos humanos, mirando nas inovações e na melhoria da competitividade. Diversas medidas, protagonizadas no âmbito do SENAI de Blumenau, permeiam essa iniciativa: o aprimoramento da formação em estilismo, criação e desenvolvimento de moda; o convênio com o Instituto Europeu de Design, localizado na Itália; o avanço na criação de uma Modateca (acervo sobre moda) e da já assinalada Câmara da Moda, entre outras providências (VIANA, 2001c). Outros contatos com o exterior não devem ser desconsiderados. Lombardi (2001) registra que, em 1998, a abertura do 6º Congresso Nacional de Tecnologia da Confecção (CONTEC), realizado em Blumenau, contou com palestra de um especialista italiano – diretor da Associazione Impresariale di Milano – sobre o modelo de organização industrial que caracteriza a produção têxtilvestuarista em áreas como Milão e Prato, onde as empresas, entre elas numerosas PMEs, fabricam artigos de alto valor agregado, com elevado conteúdo em moda e estilo. Essa última iniciativa insere-se no rol de medidas protagonizadas por entidades como o SINTEX e a ACIB, objetivando intensificar o contato do tecido produtivo do arranjo com especialistas e, de um modo geral, com competências externas. É ação com natureza semelhante à das parcerias com o italiano Instituto Europeu de Design, com o Instituto Alemão de Desenvolvimento e com a Câmara de Artes e Ofícios de Munique e Alta Baviera, salientadas anteriormente. Ainda em Blumenau, iniciativas promovidas pelas estruturas institucionais, ou provocadas e encaminhadas no âmbito destas, materializaram-se, por exemplo, na criação da Expotêxtil (atualmente Textfair), uma importante feira que representa oportunidades de negócios principalmente para as PMEs. A criação de alguns espaços de vendas (outlet centers, centros industriais e comerciais, “calçadões” de negócios) que se prestam às necessidades das PMEs, absorvendo igualmente artigos de empresas maiores que aproveitam o “turismo de compras”, também merece registro no conjunto de procedimentos realizados com vistas a promover a comercialização. Embora boa parte desses espaços tenha deixado de existir em Blumenau, esse tipo de iniciativa deve ser mencionado até para estabelecer um contraponto (devido aos seus alicerces, ao que tudo indica, comparativamente mais frágeis) com o que se observou no vizinho município de Brusque). Com efeito, foi em Brusque que a conjugação de esforços para a criação de um aparato adequado à comercialização ganhou dimensões realmente amplas, muito mais conseqüentes do que na área de Jaraguá do Sul, outro município do arranjo onde outlet centers e outras facilidades do gênero foram instalados. Portanto, é principalmente em Brusque que podem ser

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

380

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

identificadas iniciativas de base institucional que se enfeixam na problemática da ação conjunta voltada à promoção das vendas, com reflexos na produção. Remonta aos anos 1980 o destaque de Brusque no comércio de pronta entrega de artigos de vestuário, despontando no Vale de Itajaí e em Santa Catarina. Esse comércio era caracterizado por numerosos pontos de venda, pertencentes a fabricantes, instalados ao longo da Rua Azambuja. Com pouco menos de dois quilômetros de extensão, essa rua liga a área central de Brusque ao Santuário de Azambuja, que forma parte de um complexo religioso – desdobrado também em outros municípios próximos, como Nova Trento, onde o processo de santificação de Madre Paulina consolidou o caráter de foco de peregrinação – que atrai fiéis em quantidades consideráveis. Os primeiros passos do comércio de pronta-entrega deveramse às iniciativas de algumas poucas empresas locais para explorar o potencial comprador do “turismo religioso”, movimentos que se traduziram na construção de um primeiro centro comercial já em 1980. A “explosão” desse comércio só ocorreria, contudo, no começo dos anos 1990: Henschel (2002) informa que entre 1989 e 1994 o número de pontos de venda passou de cerca de 100 para 1.500, na forma de lojas seja isoladas, seja no interior de centros comerciais. Na base dessa evolução, figurou amplamente o “turismo de compras” protagonizado por “sacoleiros” que adquiriam em grandes quantidades para posterior revenda em suas áreas de origem, dentro e fora de Santa Catarina. A movimentação apresentava grandes números: algo como 2.500 pessoas todos os dias, com ônibus que se contavam às dezenas. É sugestivo que rapidamente tenha sido criada uma Associação Industrial e Comercial da Rua Azambuja (AICA). A situação mudou completamente a partir da implementação do Plano Real, com a sua política de câmbio valorizado. Os “sacoleiros” passaram a enfrentar a concorrência de produtos importados de baixo preço nas suas próprias áreas de revenda e/ou passaram a poder comprar, eles mesmos, tais produtos estrangeiros, e reduziram paulatinamente a sua presença no comércio de pronta-entrega brusquense. Como a estrutura de comercialização montada na Rua Azambuja carecia de um melhor preparo e de infra-estrutura – pois a escalada das vendas permitira o funcionamento de várias lojas desprovidas de uma melhor profissionalização e sustentação, e também não representou barreiras para deficiências como falta de estacionamento e precariedade de diversos serviços – o setor de comércio não conseguiu reagir. Enquanto as vendas se multiplicavam, os problemas eram praticamente imperceptíveis (ou não se lhes prestava atenção), mas, quando a conjuntura foi revertida, tornou-se evidente que os alicerces das atividades comerciais na Rua Azambuja eram bastante frágeis.

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

381

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

O quadro tornou-se crítico quando um novo espaço de comercialização passou a ganhar vulto na área: o da Rodovia Antônio Heil, um pouco distante do centro da cidade, cujos primeiros passos no comércio de pronta-entrega haviam sido dados em 1991 por conta da instalação da Feira Industrial Permanente (FIP). Esse outro espaço já mostrava vitalidade mesmo durante o período de auge das atividades na Rua Azambuja. Foi a débâcle destas, entretanto – cujas condições contrastavam inapelavelmente com o que a primeira oferecia em infra-estrutura, espaço, facilidades sanitárias e para alimentação, além de melhor segurança –, que abriu caminho para que a área à margem da rodovia se erigisse e consolidasse como o principal reduto do comércio de pronta-entrega de artigos têxteis e de vestuário não só em Brusque, mas em todo o Vale do Itajaí. O papel das instituições de coordenação locais nesse processo merece realce, como documentado por Henschel (2002). Em 1995, quando o declínio das atividades da Rua Azambuja já se mostrava claro, a AICA programou uma convenção de guias de excursões (responsáveis pela organização de viagens de “sacoleiros” para a cidade) visando reconquistar-lhes a confiança e tentar encontrar coletivamente possibilidades de saída para a crise. A reconquista da confiança fazia-se necessária porque vários comerciantes, ao se verem duramente afetados pela retração das vendas, simplesmente deixaram de pagar as combinadas comissões aos guias. Isso ocorreu ao mesmo tempo em que os comerciantes instalados no novo espaço comercial, na Rodovia Antônio Heil, encontravam-se pagando comissões que em alguns casos alcançavam 12% do valor das vendas. Além desse problema, e não obstante as criticadas deficiências no atendimento aos clientes, as empresas da Rua Azambuja não vinham mostrando interesse pelos cursos de aperfeiçoamento de mão-de-obra oferecidos pela AICA. Como fator agravante, as empresas demonstravam falta de união na divulgação do comércio local como um todo e na adoção de preços diferenciados para vendas a atacadistas. Ao que tudo indica, a convenção realizada pela AICA não frutificou: de um lado, os clientes eram poucos e cada empresa só olhava os seus próprios interesses, disputando compradores cada vez mais raros; de outro lado, crescia a rivalidade entre os comerciantes da Rua Azambuja e os da Rodovia Antônio Heil. O pano de fundo tampouco ajudava: como aspecto dos desdobramentos da política macroeconômica vigente no período, crescia a inadimplência, um processo especialmente desestabilizador pelo fato de que a grande maioria dos pagamentos realizados no comércio de pronta-entrega brusquense envolvia cheques prédatados.

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

382

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

A rivalidade crescente e o agravamento da situação de crise culminaram, praticamente, na extinção do comércio na Rua Azambuja. Uma conseqüência disso foi a transformação da AICA em Associação de Médias e Pequenas Empresas de Brusque (AMPEbr), muito mais abrangente no seu funcionamento. Com a entronização do novo espaço de comercialização em situação de quase exclusividade, as rivalidades parecem ter regredido, e algumas ações de perfil coletivo mais conseqüentes puderam ser observadas. Deve-se assinalar, entre essas ações, sobretudo o Pronegócio, iniciado em 1997 e realizado em duas edições anuais, cada uma voltada para uma coleção específica de artigos de vestuário, outono-inverno e primavera-verão. Essa iniciativa ficou também conhecida como Rodada de Negócios, e o modus operandi tem sido o seguinte: compradores potenciais para produtos de Brusque são selecionados e convidados pela AMPEbr; os produtos expostos são fabricados por empresas escolhidas por equipe da Associação com base em participações anteriores no evento e também na situação ostentada pelos candidatos; os produtos são expostos no hotel reservado para o Pronegócio, o mesmo em que os compradores potenciais são hospedados. As compras ocorrem diretamente, sem intermediação, mas os fabricantes que conseguem vender pagam comissão à AMPEbr. Desde a primeira versão, o número de compradores e de firmas expositoras tem sido crescente, e o volume de negócios tem se expandido. Conforme contabilizado por Henschel (2002), do primeiro Pronegócio, em agosto de 1997, ao décimo, em fevereiro de 2002, o número de compradores passou de 32 para 150, o de fabricantes expositores/vendedores cresceu – embora em trajetória errática – de 83 para 97 e o de peças negociadas expandiu-se de 50 mil para 800 mil, em progressão, além de rápida, contínua. Portanto, a consolidação das instalações na Rodovia Antônio Heil como epicentro do comércio de pronta-entrega no município e na região, com as implicações decorrentes, parece ter impulsionado, de alguma forma, a colaboração entre empresas em Brusque, mediada por vínculos institucionais em que se destaca o papel da AMPEbr. Embora seja difícil argumentar sobre os nexos causais, vale assinalar, por exemplo, que em 1999 foi inaugurado um consórcio de exportação local que aglutinava 17 fabricantes de artigos de vestuário, com a meta, naquele momento, de vender para países como Bolívia e Chile. No ano seguinte, foi encaminhada a realização de convênio entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) para criar em Brusque uma turma do curso de pós-graduação em moda que essa universidade oferece, uma iniciativa que denota o entendimento, também nesse município (assim como em Blumenau) de que as

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

383

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

atividades de criação – envolvendo avanços em moda e estilismo – são nada menos que estratégicas para o desenvolvimento industrial local. Também em 2000, no bojo de uma parceria entre a Associação Comercial e Industrial de Brusque, a Câmara de Dirigentes Lojistas e a Prefeitura Municipal, concebeu-se projeto intitulado “Criar uma Vantagem Competitiva em Brusque”, coordenado pela Fundação Empreender, entre cujas tarefas básicas figurava a realização de um diagnóstico sobre as vantagens e deficiências do setor de prontaentrega local. Como se observa, o arranjo do Vale do Itajaí tem assistido a algumas iniciativas de perfil coletivo capitaneadas principalmente por integrantes do arcabouço institucional. Além do que se destacou nos parágrafos anteriores, caberia também referir aos esboços de ação conjunta voltada à criação de infra-estrutura, como a relativa os aterro sanitário para o tratamento de efluentes industriais e também aquelas referentes a projetos para racionalizar o uso de água pela indústria, já mencionados. Cabe enfatizar igualmente, reiterando posições manifestadas anteriormente, que os avanços nos centros tecnológicos e estruturas laboratoriais da área representam, de uma forma ou de outra, ações eivadas de um certo sentido cooperativo, visto que se destinam a suprir necessidades do coletivo de fabricantes e a contribuir para uma melhoria nas condições locais de funcionamento. Se a situação alcançada não autoriza um maior entusiasmo a respeito da qualidade e da abrangência das interações em nível de arranjo, inclusive porque o grau de cooperação entre as empresas é tão baixo que, por exemplo, a instalação de uma central de compras de insumos nunca pode ser concretizada (ROCCA, 2003), não há porque desconsiderar que o plano institucional tem constituído um espaço estratégico na região para canalizar as ações e promover as atividades locais.

3.7.4 Principais vantagens competitivas e entraves ao desenvolvimento

O arranjo têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí reúne várias condições favoráveis ao desempenho competitivo. Isso se depreende da destacada performance de algumas de suas principais empresas em mercados nacionais e internacionais. Entretanto, o cenário produtivo local é igualmente marcado por carências e limitações, representando problemas cujo equacionamento há de ser privilegiado em medidas de promoção industrial concebidas e implementadas tanto em escala de Santa Catarina quanto em nível regional. 3.7.4.1 Vantagens competitivas

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

384

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

As principais vantagens competitivas derivam da própria configuração sócio-produtiva observada, em que, na esteira de uma trajetória setorial mais que secular, uma constelação de empresas de tamanhos, características produtivas e níveis de capacitação diferentes aparece imbricada com um tecido institucional relativamente “espesso” e ativo, num quadro de grande proximidade geográfica. Como atributos locais, pode-se verificar, por exemplo, um mercado de trabalho que oferece diversos tipos de habilidades; vários serviços de apoio aos fabricantes; dinamismo institucional manifestado em inegáveis aprimoramentos e em avanço das atividades rumo a funções de sofisticação crescente; e possibilidades de complementaridade produtiva incrustadas na própria presença de numerosas firmas, cujas interações no interior do arranjo ostentam graus variados e são geralmente mediadas pelos integrantes do arcabouço institucional. O arcabouço institucional vinculado às atividades de ensino e pesquisa constitui, ele próprio, um atributo de considerável importância. A estrutura do SENAI, notadamente, com os progressos materializados não só no Centro de Tecnologia do Vestuário, mas também em outras iniciativas, merece ser assinalada como uma vantagem competitiva importante do aglomerado. O mesmo pode ser dito sobre o funcionamento da FURB, haja vista a inserção no tecido produtivo têxtil-vestuarista local que essa universidade registra ao longo da sua trajetória. O potencial existente em matéria de ensino e pesquisa autoriza considerar que um estreitamento cada vez maior dessa base institucional com a esfera produtiva há de figurar como um importante objetivo estratégico na área. Esse conjunto representa “estoque” de externalidades cujo papel tem sido fundamental no desenvolvimento do aglomerado: trata-se não somente de economias externas “estáticas” – ligadas, entre outras coisas, à redução de custos proporcionada pela proximidade –, mas também de economias externas “dinâmicas” – envolvendo processos de aprendizagem coletiva mais ou menos espontâneos e socialmente difundidos. Pode-se referir à existência, assim, de uma espécie de “atmosfera setorial”, impregnada de uma “cultura têxtil-vestuarista” cuja fermentação ocorreu ao longo de décadas. Um outro atributo local é o prestígio angariado pelos produtos têxteis-vestuaristas do Vale do Itajaí em diferentes mercados, o que é fato principalmente para os diversos artigos dos segmentos cama-mesa-banho. Para esses produtos, a expressão “Vale do Itajaí” simboliza, praticamente, uma certificação de qualidade.

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

385

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

No plano da logística envolvendo transportes e comunicações, o arranjo encontra-se em posição de contigüidade, ou pelo menos de proximidade, com importantes infra-estruturas. Em termos rodoviários, cabe referir sobretudo a BR 101 e a BR 470, a primeira apresentandose duplicada em toda sua metade norte, desde a capital do estado até o limite com o Estado do Paraná. No que concerne ao transporte marítimo, de cabotagem ou de longo curso (transoceânico e/ou intercontinental), as respectivas funções são cumpridas por dois portos caracterizados pela grande movimentação de embarque e desembarque: o Porto de Itajaí, muito próximo a Blumenau, e o Porto de São Francisco, localizado mais ao norte, porém em sítio praticamente adjacente à área têxtil-vestuarista. Para transporte aéreo, de passageiros ou de carga, a referência é o Aeroporto de Navegantes, também próximo de Blumenau, assim como o Aeroporto de Joinville. No seu todo, essa estrutura parece justificar a conclusão de que o arranjo encontra-se bem posicionado no tocante às infra-estruturas de transportes e comunicações, mesmo que as condições dos diferentes representantes dessas infra-estruturas sejam heterogêneas, existindo a necessidade de investimentos para melhoria e ampliação. Os portos e seus acessos (especialmente em São Francisco do Sul) fornecem, talvez, os melhores exemplos desse tipo de necessidade.

3.7.4.2 Carências e limitações

Não obstante a trajetória percorrida, o arranjo apresenta fragilidades. Estas revelam magnitude principalmente quando se considera a evolução dos modelos organizacionais e das estruturas de governança que têm marcado a cadeia têxtil-vestuário global nas últimas décadas. Esses modelos vêm sendo estudados por autores como Gereffi (1994; 1995) e Kaplinsky (2000), no marco de pesquisas sobre cadeias mercantis globais e cadeias de valor, e a utilização dos correspondentes termos de análise na abordagem de setores industriais brasileiros aparece em pesquisas como a realizada sob os auspícios da Fundação Vanzolini sobre as cadeias produtivas da indústria têxtil baseadas em fibras químicas (FLEURY et al., 2001). Fleury et al. (2001) ressaltam que a indústria têxtil-vestuarista brasileira vem se transformando profundamente num sentido já adotado por outros países, com as grandes empresas procurando se situar na ponta do mercado e reforçando a sua posição estratégica na

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

386

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

cadeia produtiva. Nesse movimento, tornam-se mais nítidas as funções desempenhadas por “produtores com marca”, por “comercializadores com marca” e por “grandes varejistas”. Os primeiros referem-se a grandes e médias empresas que tradicionalmente fabricam produtos completos, com sistemas produtivos integrados e estruturas verticalizadas que abrangem desde a compra de tecidos até a comercialização dos artigos (de vestuário, por exemplo). Os segundos são empresas donas de marcas reconhecidas, tradicionalmente concentradas em atividades de design e marketing e fortemente voltadas à moda – “formando” gostos nos consumidores –, mas sem envolvimento com a produção. Os terceiros referem-se a redes de varejo em que a comercialização de produtos têxteis-vestuaristas tem lugar, com hipermercados e supermercados participando crescentemente e, por via de conseqüência, apresentando envolvimento, eles próprios, nas cadeias têxteis. Os “produtores com marca” têm concentrado os seus esforços diretos em atividades como design, marketing e comercialização, com forte tendência a transferir a produção para capacidades externas. Para esses atores, a “questão estratégica é entender o cliente em todas as suas dimensões para poder avaliar gostos e tendências que permitam o design adequado e a disponibilização do produto no ponto de venda mais apropriado.” (FLEURY et al., op cit., p. 53). Avançar nessa direção reflete a tentativa de assumir papel de liderança na cadeia, criando possibilidades de governança com base no domínio e na utilização de informações essenciais à performance em tal escala. Todavia, isso depende de capacitação das empresas em termos de gerenciamento quer de marcas, quer dos canais de distribuição, assim como no tocante à operação de pontos de venda. No que respeita à órbita produtiva, implica capacitação em termos de gestão da cadeia de suprimentos, o que requer, além de densas interações multidirecionadas, um desenvolvimento de P&D que permita um adequado relacionamento com fornecedores. E é justamente nesse aspecto que parece residir o principal problema dos “produtores com marca” no Brasil: segundo Monteiro Filha e Santos (2002), o seu “desenho organizacional (...) difere do modelo internacional, apresentando ligações tênues e menos definidas.” (p. 127). Daí ser necessário incentivá-los a “desenvolver um modelo organizacional produtivo ‘puxado pelo mercado’ com possibilidade de contínuas mudanças em linhas de produto, marcas globais e regionais e exigindo gerenciamento em escala condizente, produção ágil, flexível e confiável em termos de entrega.” (op cit., p. 135). Os termos desse debate parecem úteis para balizar uma apreciação sobre o arranjo têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí, onde empresas como Hering e Marisol apresentam-se como grandes “produtores com marca”. Empresas como essas, segundo sugerido por Fleury et

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

387

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

al. (op cit.), estariam aderindo a um modelo de organização próximo aos moldes tratados anteriormente: no que tange à Hering, tal condição foi de alguma forma assinalada no corpo deste texto (seção 5.1). Utilizar esse referencial é importante porque, na produção têxtilvestuarista, a competitividade internacional parece estar cada vez mais condicionada pelo nível de incorporação, pelas empresas, de padrões de funcionamento em que o comando da cadeia situa-se nas atividades de design, marketing e vendas, com a produção ocorrendo em sistemas flexíveis e de repostas rápidas. Nessa perspectiva, uma questão básica é inquirir sobre o quanto as condições presentes no arranjo têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí favorecem a constituição de estruturas como as referidas – e, no mesmo diapasão, o quanto a área pode se beneficiar disso –, dando margem a formas de governança que possibilitam melhores condições competitivas para as grandes empresas e, a reboque destas, para os demais integrantes do tecido empresarial, acenando com geração de empregos, dinamizando a economia e contribuindo para o desenvolvimento local-regional. Ora, parece contribuir escassamente para a consolidação de uma estrutura de governança como a que tipifica o modelo organizacional indicado a limitada incidência de vínculos cooperativos no interior do arranjo. Como se notou, embora algumas interações sejam observadas, pouco se coopera localmente, praticamente inexistindo parcerias ou alianças estratégicas voltadas à produção, à comercialização e às relações com fornecedores. Assim, avançar rumo à constituição de redes integradas de empresas, à colaboração em áreas pré-competitivas que envolvam a exposição de produtos e a comercialização e ainda às compras conjuntas de insumos e matérias-primas, por exemplo, é orientação prioritária. Isso incluiria iniciativas coletivas voltadas à capacitação profissional e ao treinamento da mão-deobra, terreno em que os desenvolvimentos recentes nas instituições correspondentes (o SENAI em primeiro lugar) revelam-se promissores, necessitando, contudo a ampliação e o aprofundamento. A capacitação das empresas de menor porte, atores importantes nos modelos organizacionais em que a governança das grandes empresas se manifesta, entre outras coisas, pela terceirização produtiva, revela-se essencial no caminho apontado pelas mudanças recentes. Sobretudo no segmento de confecção, os investimentos em modernização tecnológica tendem a ser baixos nesse subgrupo empresarial, assim como é geralmente elevada a informalidade, que reduz a capacidade de investimentos e compromete a eficiência produtiva. Como o segmento de confecções é o que mais cresce em termos de comércio internacional, mostrando uma importância cada vez maior na cadeia têxtil-vestuarista

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

388

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

(PROCHNIK, 2002), promover a sua atualização tecnológica e sua modernização organizacional é nada menos que estratégico. De fato, se para as grandes empresas é necessário desenvolver a gestão da cadeia de fornecimento (com técnicas de supply chain management) e avançar na desverticalização dos processos de fabricação, para as de menor porte é fundamental um aprimoramento produtivo que possibilite participação em tais cadeias com respostas rápidas (técnicas de quick response) e de modo flexível. A grande maioria das PMEs do Vale do Itajaí certamente não logrou progressos suficientes em tais aspectos. Diante disso, no Vale do Itajaí mostra-se necessário fazer frente – para além das dificuldades vinculadas a níveis mais gerais de determinação, envolvendo, por exemplo, taxas de juro, câmbio, tributos e linhas de financiamento – a problemas como: a) escassa difusão, principalmente entre as empresas de menor tamanho, de conceitos modernos envolvendo produção e comercialização, sobretudo na perspectiva dos novos modelos de organização observados na cadeia têxtilvestuário, que implicam o envolvimento de PMEs em esquemas de supply chain com repostas ágeis e níveis de qualidade elevados; b) limitada disseminação, no coletivo de fabricantes de menor tamanho, do uso de máquinas e equipamentos tecnologicamente atualizados, um problema que estaria a requerer programas de apoio à modernização produtiva que inclusive contemplem o necessário financiamento; c) limitada presença de iniciativas de cooperação internas ao arranjo, com diferentes sentidos e objetivos, o que certamente dificulta a formação de estruturas de fornecimento lideradas pelas grandes empresas, com a participação de PMEs; d) tendência à verticalização produtiva nas maiores empresas, a despeito do crescimento da terceirização nos anos 1990, uma característica que não contribui para a formação de redes de empresas integradas; e e) aparente carência de programas locais para promover a competitividade com base na agregação de valor aos produtos, especialmente no segmento de confecções, para o qual o apoio ao incremento da qualidade e da produtividade e o estímulo à capacidade de inovar – redundando no lançamento freqüente de novos produtos – configuram procedimentos estratégicos no atual padrão de competitividade. Os integrantes do arcabouço institucional cujas estruturas foram objeto de ampliação e de fortalecimento no período recente – em particular no que se refere ao SENAI, com a criação do CTV – e também as entidades de coordenação e “auto-ajuda”, como o SINTEX e a

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

389

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

ACIB, podem ter papéis estratégicos no trato com esses problemas e no seu equacionamento. Todavia, é essencial incutir-lhes o entendimento, se necessário for, de que podem e devem atuar com esse tipo de orientação, tendo claro o significado das tendências que estão a nortear o funcionamento da cadeia têxtil-vestuário no plano internacional. 3.7.4.3 Políticas de desenvolvimento Promover o desenvolvimento da aglomeração têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí, objetivando principalmente uma maior e melhor inserção dos produtos locais em mercados nacionais e internacionais, implica a formulação de políticas voltadas aos diferentes tipos de empresas que formam o tecido produtivo local e ao problema das interações entre os tecidos empresarial e institucional. As grandes empresas que já ostentam desempenho exportador e penetram amplamente em mercados internos deveriam ser estimuladas a diversificar as suas pautas de vendas tanto externas quanto domésticas. Isso proporcionaria uma presença externa mais ampla do que a vinculada fundamentalmente aos produtos das linhas cama-mesa-banho, como tem sido o caso. Também no tocante aos mercados domésticos, essa diversificação precisa estar sintonizada com o aprofundamento das atividades de criação, em que moda e design aparecem como aspectos centrais. Só assim grandes empresas do Vale do Itajaí deixariam de ser efetivamente reconhecidas em escala de país, no que concerne ao segmento de artigos de vestuário, quase que tão-somente como grandes fabricantes de roupas de malha. Tal orientação significa, ao mesmo tempo, a busca de maior valor agregado para os produtos locais. Embora as grandes empresas tenham se modernizado nas últimas décadas, em termos tanto de máquinas e equipamentos – representando, portanto, capacitação tecnológica – como de organização administrativa e ao nível da produção, e tenham igualmente ampliado e fortalecido as suas atividades de criação, o papel a ser desempenhado pelas instituições locais na referida orientação há de ser essencial. Isso parece tanto mais verdadeiro tendo em vista os avanços registrados recentemente no tecido institucional presente no aglomerado. Desse modo, as iniciativas de promoção do desenvolvimento no Vale do Itajaí necessitam contemplar igualmente uma adequada aproximação, permeada de interações férteis e conseqüentes, entre a esfera empresarial e a esfera institucional dedicada sobretudo à pesquisa e ao ensino. Se uma tal aproximação revela-se importante no que toca às empresas de maior porte e de desempenho mais destacado, é nada menos que crucial para a capacitação das empresas

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

390

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

menores, cuja atuação é decisiva nos modelos organizacionais e nas estruturas de governança que marcam atualmente a cadeia têxtil-vestuarista em escala internacional. De fato, a participação dessas empresas nos esquemas de fornecimento rápido e flexível ao longo da cadeia depende da sua capacitação em diferentes sentidos, e o papel das instituições no sentido de favorecer-lhes as condições necessárias para tanto há de ter grande relevância. A capacitação necessita ser particularmente ampla e intensa, sobretudo, quando se trata de empresas de menor porte que almejam a inserção em mercados externos ou um melhor posicionamento em mercados domésticos: a diferenciação de produtos, com crescimento do valor agregado, é um requisito para tanto, o que depende de qualificação das atividades criadoras e de capacidade tecnológica. A ação pública, protagonizada em diversos níveis, deve ser necessariamente vista como um coadjuvante destacado nas iniciativas de promoção. Seu papel é imprescindível no estímulo e no financiamento da atualização tecnológica e organizacional das empresas menores geralmente pouco (ou quase nada) capazes de garantir por conta própria os meios para a sua modernização. Seu papel é igualmente essencial na formulação e implementação de programas – em parceria com atores não estatais (associações, sindicatos etc.) – de apoio à cooperação entre empresas e à aproximação entre o tecido empresarial e o tecido institucional voltado ao ensino e pesquisa. Com efeito, tendo em vista o grau de sensibilidade das estruturas locais às vicissitudes da macroeconomia – a valorização da moeda brasileira frente ao dólar no período atual representa mais uma evidência dessa sensibilidade e sobre seus efeitos –, não há como tergiversar frente à necessidade de um certo voluntarismo do setor público, em parceria com o setor privado, que se exprima na formulação de políticas de desenvolvimento para a área. Portanto, as políticas visando à promoção do desenvolvimento da aglomeração têxtilvestuarista do Vale do Itajaí devem ser desenhadas de modo a: a)

estimular as grandes empresas a diversificar os seus leques de oferta, dando ênfase às atividades de criação (moda e design), contemplando a ampliação do valor agregado;

b)

estimular as empresas de maior porte a envolver nos seus espaços de organização produtiva empresas locais menores aptas a participarem eficientemente da cadeia de fornecimento;

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

391

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

c)

promover uma efetiva aproximação, mirando no florescimento de interações férteis e conseqüentes, entre a esfera empresarial e a esfera institucional, dedicada sobretudo à pesquisa e ao ensino;

d)

promover a capacitação das empresas de menor porte para participar de esquemas de fornecimento rápido e flexível na cadeia produtiva e ampliar/fortalecer a sua presença em diferentes mercados com base na diferenciação de produto e na maior agregação de valor;

e)

buscar e disponibilizar meios, sobretudo financeiros, que contribuam para a atualização tecnológica e organizacional das empresas menores; e

f)

conceber e implementar programas de apoio e encorajamento à cooperação entre empresas (que resultem, por exemplo, em centrais de compras e – para as PMEs – em participações conjuntas em feiras importantes) e à aproximação entre o tecido empresarial e o tecido institucional ligado ao ensino e pesquisa (em especial o CTV/SENAI).

Tendo em vista o papel exportador de diversas empresas do aglomerado, iniciativas enfeixadas no aprimoramento da logística de transporte também se afiguram como de promoção do desenvolvimento na área. A presença de duas importantes estruturas portuárias nas proximidades do arranjo há de influenciar as decisões sobre esse assunto: melhorar tanto as estruturas em si quanto as condições de acesso a elas deve ser considerada medida prioritária na matéria. As indicações a seguir são permeadas desse entendimento. As melhorias nas condições de operação do Porto de Itajaí devem implicar: a)

o término das obras, com o início da utilização, do novo berço em construção pelo Terminal de Contêineres do Vale do Itajaí (TECONVI), representando significativo aumento da área para as operações de contêineres;

b)

intervenções de adequação do porto às novas necessidades de modo a aperfeiçoar a logística interna e melhorar as condições de operação, o que inclui investimentos em equipamentos para aumentar a capacidade de funcionamento e a eficiência; e

c)

providências para melhorar as conexões diretas do porto com os Terminais Retroportuários Alfandegados e a Estação Aduaneira de Interior, almejando uma maior eficácia das operações de carregamento; avenidas portuárias podem cumprir esse papel.

ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO

392

Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331

O acesso ao Porto de Itajaí para agentes distribuídos no seu hinterland mais ou menos imediato será significativamente favorecido caso as condições de tráfego da BR 470 sejam melhoradas. A duplicação dessa rodovia há de figurar no topo da lista de prioridades das iniciativas vinculadas à logística de transporte em Santa Catarina. A melhoria da situação dessa rodovia também é condição para que o projetado terminal portuário de Navegantes possa servir adequadamente à macrorregião em que se inserirá. Essa nova estrutura, cujo processo de criação já foi iniciado institucionalmente, vincula-se à PORTONAVE S.A. – Terminais Portuários de Navegantes. Sua implantação representará a ampliação e melhoria da logística de transporte no espaço adjacente ao aglomerado têxtil-vestuarista do Vale do Itajaí. Trata-se, assim, de iniciativa a ser estimulada e impulsionada. Igualmente importante para a aglomeração têxtil-vestuarista é o Porto de São Francisco do Sul, pois sua relativa proximidade pode lhe atribuir o caráter de opção para as empresas. Desse modo, são igualmente estratégicas as medidas que contemplam o aumento e a melhoria das possibilidades de operação desse terminal portuário. Particularmente gritante é a necessidade de solucionar o gargalo rodoviário pelo menos no trecho entre a BR 101 e o porto, o que confere enorme urgência à duplicação da Rodovia BR 280. Mas isso está longe de esgotar as limitações observadas. Ampliar e construir novos berços nesse porto, tanto quanto aparelhar os berços já existentes, e avançar na dragagem e no derrocamento da bacia de evolução, entre outras medidas, mostram-se iniciativas básicas.