Escatologia Pr. Walter de Almeida Junior Introdução 1. Definições 2. O já e o ainda não 3. Escatologia e Hermenêutica I. Escatologia no Velho Testamento e no Novo Testamento 1. No Velho Testamento 2. No Novo Testamento II. Principais Conceitos Escatológicos 1. Pós-milenismo 2. Amilenismo 3. Pré-milenismo a. Dispensacionalismo b. Pré-tribulacionismo c. Mesotribulacionismo d. Pós-tribulacionismo e. Pós-tribulacionismo iminente f. Parcialismo III. Temas Escatológicos Preferidos 1. Morte, Imortalidade da Alma e Estado Intermediário 2. O Sinais dos Tempos 3. Arrebatamento da Igreja, Tribunal de Cristo e Ceia das Bodas do Cordeiro 4. A Grande Tribulação, a Segunda Vinda de Cristo e o Milênio 5. O Juízo Final 6. O Novo Céu e a Nova Terra Conclusão Bibliografia

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Introdução Historicamente, tem-se observado dois extremos em relação à escatologia, ou como diz Millard J. Erickson: duas tendências contrastantes. Um extremo é a preocupação demasiada com a escatologia, que chega ao ponto de que toda a abordagem teológica se torne escatológica. O outro extremo é “um medo da escatologia, uma aversão a ela ou, pelo menos, uma recusa em discutir o assunto”1. Erikson chama essa tendência de escatofobia. Nessa concisa apostila adoto o ponto de vista de que o propósito das verdades escatológicas na Palavra de Deus é nos consolar e nos dar esperança e segurança. Isso com base escriturística em 1Tessalonicenses 4.13-18, onde o apostolo Paulo revela o motivo pelo qual escreve sobre a segunda vida de Cristo (v.13), onde descreve a segunda vinda e dá segurança de que essa é uma verdade que acontecerá (v.14, 15) e aconselha a igreja do seguinte modo: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (v.18). “Às vezes, é fácil esquecer que as verdades escatológicas na Palavra de Deus, como o restante de sua revelação, tem o propósito de nos consolar e nos dar segurança”2. Tendo isso em mente, precisamos, para efeitos introdutórios, definir claramente alguns termos como teologia e escatologia, observar a tensão entre o já e o ainda não nas Escrituras e a relação da hermenêutica com a escatologia. 1. Definições a. Teologia – “A teologia é para todos. Com certeza, todo cristão precisa ser teólogo. Na verdade, de uma maneira ou de outra, todos nós já somos teólogos. É ai que está o problema. Não há nada de errado em ser um teólogo leigo ou teólogo formado, mas certamente ser uma mau teólogo ou um teólogo relapso é muito ruim. Portanto, todo cristão deveria ler livros de teologia”3. O termo teologia vem da formação de duas palavras gregas: theos que quer dizer Deus e logia que significa estudo. Então, “teologia no estrito senso da palavra é o estudo de Deus”4. Segundo Ryrie, logos (logia) é a expressão racional, os meios da interpretação racional da fé religiosa. Então, a teologia cristã, no seu pensamento, é a interpretação racional da fé cristã. Em sua visão, existem pelo menos três elementos incluídos no conceito geral de teologia: 1º) Teologia é inteligível – Ela pode ser compreendida pela mente humana de maneira ordena e racional; 2º) Teologia requer explicação – Isso, por sua vez, envolve a exegese (análise dos textos no original) e a sistematização das ideias; e 3º) A fé cristã tem sua base na Bíblia. Logo, teologia é a descoberta, a sistematização e a apresentação das verdades a respeito de Deus.5 1

Erickson, Millard J. Introdução a Teologia Sistemática, Vida Nova, 1997, p.481. Ibid., p. 482. 3 Ryrie, Charles Caldwell. Teologia Básica, Mundo Cristão, 2004, p.9. 4 Naves, Edison. Escatologia e a Vida de Santidade, Igreja Batista Maranata, 2009, p. 21. 5 Ryrie, p.15. 2

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Podemos ainda catalogar os diferentes tipos de teologia de várias maneiras: 1) Por época – por exemplo: teologia patrística, medieval, reformada ou contemporânea; 2) Por ponto de vista – por exemplo: teologia arminiana, calvinista, católica, barthiana, da libertação, etc.; 3) Por ênfase – por exemplo: teologia histórica, sistemática, bíblica, apologética, exegética, etc. b. Escatologia – Escatologia é uma palavra composta a partir de duas palavras gregas: escaton que quer dizer fim ou último e logia que significa estudo. Então, escatologia significa o estudo do fim ou o estudo (doutrina) das últimas coisas. Para Ryrie escatologia significa a teologia das últimas coisas e o seu estudo pode abranger todas as coisas que eram futuras em relação ao momento em que foram escritas, ou então, podem incluir apenas as que ainda são futuras em relação a nosso ponto de vista presente.6 O estudo da escatologia pode ser feito de diversas maneiras, por exemplo: 1) Separando o futuro individual do futuro mundial; 2) Catalogando o futuro para a Igreja, Israel, gentios ou o mundo; 3) Estudando os vários ensinamentos em ordem cronológica; etc. A maioria dos escatologistas parece combinar várias perspectivas de estudo. Eu também faço assim e pessoalmente acho mais proveitoso. Para Ryrie o estudo da escatologia, especificamente o conhecimento da profecia: 1) oferece alegria em meio a aflição (2Co 4.17); 2) limpa e encoraja a vida em santidade (1Jo 3.3); 3) é útil como todas as Escrituras, para muitas necessidades importantes da vida cristã (2Tm 3.16, 17); 4) apresenta fatos sobre a vida após a morte (2Co 5.8); 5) mostra a verdade sobre o fim da história (Ap 21.5); 6) dá prova da confiabilidade das Escrituras (2Pe 1.20, 21); 7) eleva nosso coração em louvor a Deus, que está no controle total e que cumprirá sua vontade na história (Ap 5.8-14).7 2. O já e o ainda não O caracteriza especificamente a escatologia do Novo Testamento é uma tensão subliminar entre o “já” e o “ainda não”. O crente, assim ensina o Novo Testamento, já está na era escatológica mencionada pelos profetas do Antigo Testamento, mas ainda não está no estado final. Ele já experimenta a presença do Espírito Santo em si, mas ainda espera por seu corpo ressurreto. Ele vive nos últimos dias, mas o último dia ainda não chegou. A tensão entre o já e o ainda não está implícita nos ensinos de Jesus. Porque Jesus ensinou que o Reino de Deus é tanto presente como futuro, e que a vida eterna é tanto uma possessão presente como uma esperança futura. Esta tensão, também permeia os ensinos do apóstolo Paulo. Para este apóstolo, a vida de Jesus se auto revela no tempo presente em nossa carne mortal (2 Co 4.10, 11), mas a presença desta vida nova é provisória e imperfeita, de modo que podemos falar 6 7

Ibid., p.77. Ibid., p. 510.

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tanto dela revelada, como podemos falar dela como escondida (Cl 3.3; Rm 8.19,23). Por causa disso, às vezes, Paulo escreve acerca da morada presente do Espírito numa linguagem alegre e triunfante (Rm 8.9; 2 Co 3.18), enquanto que outras vezes ele fala acerca do crente gemendo intimamente e anelando por coisas melhores (Rm 8.23; 1Co 5.2). Esta tensão também é mencionada nas epístolas não paulinas. O autor de Hebreus contrasta a primeira vinda de Cristo com a segunda: “Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (9.28). Pedro conecta a ressurreição de Cristo com nossa esperança futura: “que nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros” (1Pe 1.3,4). E João realça o contraste entre o que somos agora e o que deveremos ser: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2). Esta tensão entre o já e o ainda não é também encontrada no livro de Apocalipse. O livro do Apocalipse se refere tanto ao passado como ao futuro. Ele constrói sua expectação pelo futuro sobre a obra que Cristo fez no passado. Entre as várias referências do livro à vitória que Cristo conquistou no passado, podemos citar as seguintes: 1.18; 5.5-7, 9,10; 12.1-5, 11. Entre as referências deste livro à segunda vinda de Cristo encontram-se as seguintes: 1.7; 19.11-16; 22.7, 12, 20. O livro do Apocalipse, portanto, retrata a igreja de Jesus Cristo como salva, segura em Cristo, e destinada para uma glória futura, embora ainda sujeita a sofrimento e perseguição enquanto o noivo não vem. Por considerar um aspecto importante da escatologia, quero ver algumas implicações da tensão entre o já e o ainda não para nossa vida e pensamento de hoje: 1) Esta tensão já-ainda-não caracteriza o que geralmente denominamos de os “sinais dos tempos”; 2) A Igreja está envolvida nesta tensão; 3) Esta tensão deveria ser um incentivo para um viver cristão responsável; 4) Nossa autoimagem deveria refletir esta tensão; 5) Esta tensão nos ajuda a entender o papel do sofrimento na vida dos crentes; 6) Nossa atitude para com a cultura está relacionada com esta tensão. Resumindo, toda a nossa vida cristã deve ser vivida à luz da tensão entre o que já somos em Cristo e o que um dia esperamos ser. Olhamos, no passado, com gratidão, para a obra concluída e a vitória decisiva de Jesus Cristo. E olhamos para o futuro com ansiosa antecipação da Segunda Vinda de Cristo, quando instauraremos a fase final de seu Reino glorioso, e traremos à plenitude a boa obra que ele começou em nós.8

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Koekema, Anthony A. A Bíblia e o Futuro, Editora Cultura Cristã, 1989, p. 79-86.

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3. Escatologia e Hermenêutica Tenho observado que as divergências de posições na área da escatologia, especificamente, no que se refere aos eventos futuros, são mais hermenêuticas do que escatológicas. A palavra hermenêutica vem da palavra grega hermeneutike que, por sua vez, vem do verbo hermeneuo. Berkhof a define como “a ciência que nos ensina os princípios, as leis e os métodos de interpretação”9. Berkhof fala de três tipos de hermenêutica: a geral, a especial e a sacra. A geral se aplica à interpretação de qualquer obra escrita; a especial se aplica a determinados tipos de literatura, como: leis, história, profecia ou poesia; e a sacra “tem caráter muito especial, porque trata de um livro peculiar no campo da literatura – a Bíblia como inspirada Palavra de Deus”10. Tradicionalmente se aceita que a história da interpretação bíblica começa no Antigo Testamento, quando Esdras, juntamente com outros líderes, leu e interpretou a lei para o povo de Israel na volta do cativeiro babilônico – Ne 8.8 – “Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia”. “A Bíblia é a Palavra de Deus. Mas, algumas das interpretações derivadas dela não são. Existem muitas seitas, cultos e grupos cristãos que usam a Bíblia declarando que as suas interpretações são as corretas. Muito frequentemente, no entanto, as interpretações não apenas diferem dramaticamente umas das outras, como são claramente contraditórias. Isto não significa que a Bíblia seja um documento contraditório. Antes, o problema está naqueles que a interpretam e/ou nos métodos que eles usam”11. A Bíblia é divinamente inspirada, esse é o grande princípio que controla a hermenêutica sagrada. Ele não pode ser ignorado impunimente. Qualquer teoria de interpretação que o desconsidere é fundamentalmente deficiente e não pode ser útil para o nosso entendimento da Bíblia como a Palavra de Deus.12 A literalidade, o aspecto histórico gramatical e a teologia bíblica são elementos essenciais para uma interpretação correta e saudável para o entendimento das verdades reveladas por Deus na sua Palavra. Isto estabelece um limitador e inibidor para interpretações que dão vazão à fertilidade da mente do homem, que transforma a interpretação e comunicação de uma única verdade na possibilidade de variadas supostas verdades, como na interpretação alegórica da Escritura. Cabe aqui um esclarecimento: Não se deve confundir a múltipla aplicação da verdade com a múltipla interpretação resultante de um método espiritualizante que torna subjetivo o entendimento da verdade, isto é, o interprete dar o significado que ele quer à Escritura sem nenhuma forma de comprovação interna ou externa.13 9

Berkhof, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica, JUERP, 1985, p. 11. Ibid., p.11. 11 http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermA_02.pdf 12 Naves, p. 16. 13 Ibid., p.17. 10

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Assim, no estudo da escatologia, mas especificamente as profecias, a hermenêutica tem regras satisfatórias para o entendimento dos textos e que, quando se trata da linguagem simbólica, a própria Escritura fornece o significado dos seus símbolos, prevalecendo a regra maior: “A Escritura interpreta a própria Escritura”. Por isso defendo o método histórico gramatical literal, com suas figuras de linguagem, onde a simbologia também é uma das características, por reconhecer que este é o único método legítimo de se interpretar as Escrituras, usado pelos próprios autores sagrados quando se referiram a outros Escritos anteriores: “Dos trinta e nove livros do Velho Testamento, apenas nove não são expressamente mencionados no Novo”.14

I. Escatologia no Velho Testamento e no Novo Testamento 1. No Velho Testamento Para entendermos corretamente a escatologia bíblica, precisamos vê-la como um dos aspectos integrantes de toda a revelação de Deus. A escatologia não deve ser vista como algo encontrado apenas em livros tais como Daniel e Apocalipse, mas como permeando toda a mensagem da Bíblia. Devemos concordar, naturalmente, que os escritores do Antigo Testamento não nos fornecem ensinamentos claros a respeito das doutrinas a que chamamos de Escatologia Futura: vida pós-morte, Segunda Vinda de Cristo, juízo final e assim por diante. Mas há um outro sentido, segundo o qual o Antigo Testamento está orientado escatologicamente do princípio ao fim. Nós começaremos com a expectação do redentor vindouro. A narrativa da queda, encontrada nos primeiros versículos de Gênesis 3, é imediatamente seguida pela promessa de um redentor futuro no versículo 15: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Esta passagem, frequentemente denominada “a promessa mãe”, passa a determinar todo o Antigo Testamento. A partir deste ponto, tudo na revelação do Antigo Testamento olha para a frente, aponta para a frente, e ansiosamente aguarda o redentor prometido. Esse redentor vindouro, descrito em Gênesis 3.15 apenas como o descendente da mulher, é designado como descendente de Abraão em Gn 22.18 (cp. 26.4; 28.14). Gênesis 49.10, mais adiante, especifica que o redentor deverá ser um descendente da tribo de Judá. Ainda mais tarde, no curso da revelação do Antigo Testamento, aprendemos que o redentor vindouro será um descendente de Davi (2Sm 7.12-13). Após o estabelecimento da monarquia, o povo de Deus do Antigo Testamento reconheceu três ministérios especiais: os de profeta, sacerdote e rei. O redentor 14

Ibid., p. 20.

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vindouro era aguardado como sendo o auge e o cumprimento de todos os três ministérios especiais. Ele deveria ser um grande profeta: “O Senhor teu Deus te suscitará um profeta no meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim... (Moisés – Dt 18.15): “O Senhor jurou e não se arrependerá: tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.4). Ele também deveria ser o grande rei do seu povo: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei...” (Zc 9.9). Lado a lado com a concepção de que o redentor vindouro será um profeta, um sacerdote e um rei, porém, encontra-se em Isaías, igualmente, a visão de que o redentor será o Servo sofredor de Deus. O conceito de “Servo do Senhor” aparece frequentemente em Isaías, sendo que, algumas vezes, designa a nação de Israel e outras vezes descreve o redentor vindouro. Entre as passagens de Isaías que descrevem especificamente o Messias vindouro como o Servo do Senhor estão: 42.1-4; 49.5-7; 52.13-15, e todo capítulo 53. É especialmente Isaías 53 que retrata o redentor vindouro como o Servo sofredor de Jeová: “ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (v.5). De passagens como essas nós aprendemos que o redentor, cuja vinda o povo do Antigo Testamento aguardava, era considerado pelo menos no tempo dos últimos profetas, como alguém que iria sofrer por seu povo a fim de redimi-lo. Outro conceito da revelação bíblica no qual a perspectiva escatológica do Antigo Testamento está incorporada é o do reino de Deus. Apesar de o termo “reino de Deus” não ser encontrado no Antigo Testamento, o pensamento de que Deus é rei está presente particularmente nos Salmos e nos profetas. Deus é denominado, frequentemente, de Rei, tanto de Israel (Dt 33.5; Sl 84.3; 145.1; Is 43.15) como de toda a terra (Sl 29.10; 47.2; 96.10; 97.1; 103.19; 145.11-13; Is 6.5; Jr 46.18). É especialmente Daniel quem desenvolve a ideia do reino vindouro. No capítulo 2 de sua profecia, ele fala acerca do reino que Deus um dia levantará, que nunca será destruído, que quebrará todos os outros reinos em pedaços e que permanecerá para sempre. Mais um conceito veterotestamentário com implicações escatológicas é o da nova aliança. Como muitos eruditos do Antigo Testamento têm mostrado, a ideia da aliança é central à revelação do Antigo Testamento. Nos dias de Jeremias, entretanto, o povo de Judá havia quebrado a aliança de Deus com eles por meio de suas idolatrias e transgressões. Embora o tema principal das profecias de Jeremias seja o de condenação na ruína, ele efetivamente prediz que Deus fará uma nova aliança com seu povo: “Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam minha aliança”. (Jr 31.31-32; ver também 33-34). A partir do Novo Testamento (veja Hb 8.8-13; 1 Co 11.25) fica claro que a nova aliança predita por Jeremias foi instaurada pelo nosso Senhor Jesus Cristo.

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Proeminente entre os conceitos escatológicos do Antigo Testamento é a restauração de Israel. Após a divisão do reino, ambos, Israel e Judá, caíram mais e mais na desobediência, idolatria e apostasia. Por causa disso, os profetas pregaram que, devido à sua desobediência, o povo de ambos os reinos seria levado cativeiro por nações hostis, e ficaria disperso por terras estrangeiras. Mas em meio a essas predições sombrias há também profecias de libertação. Vários profetas pregam a futura restauração de Israel do seu cativeiro. Também encontramos, particularmente em Joel, uma pregação sobre o futuro derramamento do Espírito sobre toda a carne. As bem conhecidas palavras da profecia de Joel no capítulo 2.28, 29. A passagem de Joel 2, também, nos conduz a considerar outro conceito escatológico proeminente do período veterotestamentário, qual seja, o dia do Senhor. Embora o conceito do dia do Senhor tenha, frequentemente, uma conotação de tristeza e de trevas, há ainda outro conceito escatológico do Antigo Testamento, que tem um toque mais brilhante: o de novos céus e nova terra. A esperança escatológica do Antigo Testamento sempre inclui a terra. Outras passagens de Isaías mostram o que esta renovação da terra envolverá: o que é árido passará a ser terreno frutífero (32.15) o deserto florescerá (35.1), os lugares secos serão fontes de água (35.7), a paz volverá ao mundo animal (11.6-8), e a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar (11.9). Resumindo o que aprendemos a respeito da perspectiva escatológica do Antigo Testamento, bem no início, havia uma expectação por um Redentor vindouro que haveria de ferir ou esmagar a cabeça da serpente. Com o passar do tempo, houve um enriquecimento progressivo da esperança escatológica. Com certeza, os diversos itens desta esperança não subsistiram todos ao mesmo tempo, e eles assumiram formas variadas em tempos diversos. Mas se considerarmos estes conceitos de modo acumulativo, poderemos certamente dizer que em várias épocas o povo veterotestamentário aguardava, no futuro, as seguintes realidades escatológicas: 1) O Redentor Vindouro; 2) O Reino de Deus; 3) A Nova Aliança; 4) A Restauração de Israel; 5) O Derramamento do Espírito; 6) O Dia do Senhor; 7) O Novo Céu e a Nova Terra. Todas estas coisas avultam no horizonte da expectação: o povo de Deus do Antigo Testamento não tinha, naturalmente, ideia clara sobre como ou quando estas expectações seriam cumpridas. No que lhe tocava, estes eventos escatológicos aconteceriam todos a uma vez em algum tempo futuro, variavelmente denominado de “dia do Senhor”, de os “últimos dias”, de os “dias vindouros”, ou de “naqueles dias”. Com uma perspectiva caracteristicamente profética, os profetas veterotestamentários inter-mesclavam itens relacionados à primeira vinda de Cristo com itens relacionados à segunda vinda de Cristo. Somente nos dias do Novo Testamento viria a ser revelado que o que, no Antigo Testamento, era considerado como sendo em uma vinda do Messias seria cumprido em dois estágios: uma Primeira e uma Segunda vinda. O que

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por causa disso não era claro aos profetas do Antigo Testamento foi clarificado na era do Novo Testamento. Todavia, temos de reiterar que a fé do crente veterotestamentário era completamente escatológica. Ele aguardava a intervenção de Deus na história, tanto no futuro próximo como no distante. Foi, na verdade, esta fé-esperança que concedeu ao santo do Antigo Testamento a coragem necessária para percorrer o caminho posto perante ele. O décimo primeiro capítulo de Hebreus, ao olhar retrospectivamente para os heróis da fé, salienta especialmente este ponto. Ali é dito de Abraão: “aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (v.10). É dito acerca de todos os patriarcas: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas, vendo-as, porém de longe, e saudando-as...” (v.13). E sobre todos os santos do Antigo Testamento reunidos é declarado o seguintes: “Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé, não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por haver Deus provido cousa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” (vv. 39-40).15 2. No Novo Testamento No Novo Testamento, as bênçãos espirituais desfrutadas eram mais abundantes do que nos dias do Antigo Testamento: o conhecimento do plano redentor de Deus está largamente enriquecido, a fé do crente neotestamentário está muito aprofundada, e sua compreensão das dimensões do amor de Deus, conforme revelado em Cristo, está imensuravelmente fortalecida. Ao mesmo tempo, porém, a expectação do crente por bênçãos ainda maiores, no porvir, está igualmente intensificada. O Novo Testamento possui, assim como o Antigo, uma visão fortemente orientada para o futuro. Há uma convicção profunda de que a obra redentora do Espírito Santo experimentada agora é apenas um prelúdio de uma redenção muito mais rica e completa no futuro, e que a era que foi instaurada pela primeira vinda de Cristo será seguida de outra era, que será mais gloriosa do que esta talvez possa ser. Em outras palavras, por um lado o crente do Novo Testamento está consciente do fato de que o grande evento escatológico predito no Antigo Testamento já aconteceu, enquanto que, por outro lado, ele percebe que outra significativa série de eventos escatológicos ainda está por vir. Ao abrirmos as páginas do Novo Testamento, ficamos imediatamente cientes do fato de que aquilo que foi prometido pelos escritores do Antigo Testamento já aconteceu. A vinda de Jesus Cristo ao mundo é, de fato, o cumprimento da expectação escatológica central do Antigo Testamento. Apesar disto ser verdade, nós estamos igualmente cientes de que muitas das profecias dos profetas do Antigo Testamento ainda não foram cumpridas, e que uma porção de coisas que o próprio Jesus predisse ainda não foram realizadas. Concluímos, portanto, que se deve falar da escatologia do Novo Testamento tanto em termos do que já foi efetuado como em termos do que ainda deve acontecer.

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Transcrição direta, com interpretações, modificações e cortes pessoais, do Capítulo 1 – Perspectiva Escatológica do Velho Testamento, do livro “A Bíblia e o Futuro” de Anthony A. Koekema, Editora Cultura Cristã, 1989, p. 7-16.

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Observemos como o Novo Testamento indica que o grande evento escatológico predito pelos profetas do Antigo Testamento aconteceu, e que a consumação final da história está ainda por vir. 1) No Novo Testamento encontramos a percepção de que o grande evento escatológico predito no Antigo Testamento aconteceu. A vinda de Jesus Cristo para o mundo é interpretada no Novo Testamento especificamente como o cumprimento da profecia veterotestamentária. Por exemplo, no Evangelho de Mateus, o nascimento de Jesus da virgem Maria está apresentado como um cumprimento da predição encontrada na profecia de Isaías – Mt 1.20-23. Um grande número de outros detalhes a respeito da vida, morte e ressurreição de Jesus é citado como cumprimento das profecias do Antigo Testamento: seu nascimento em Belém (Mt 2.4-6; comparado com Mq 5.2), sua fuga para o Egito (Mt 2.14-15; Os 11.1), sua rejeição pelo seu povo (Jo 1.11; Is 53.3), sua entrada triunfal em Jerusalém (Mt 21.4-5; Zc 9.9), sua venda por trinta moedas de prata (Mt 26.15; Zc 11.12), ser pregado numa cruz (Jo 19.34; Zc 12.10), o fato dos soldados lançarem sortes sobre suas vestes (Mc 15.24; Sl 22.18), o fato de nenhum de seus ossos ter sido quebrado (Jo 19.33; Sl 34.20), o fato de que ele deveria ser sepultado com o rico (Mt 27.57-60; Is 53.9), sua ressurreição (At 2.24-32; Sl 16.10) e sua ascensão (At 1.9; Sl 68.18). Os escritores do Novo Testamento estão conscientes de que eles já estão vivendo nos últimos dias. Isto é, especialmente declarado por Pedro, em seu grande sermão, no dia de pentecostes, quando ele cita o seguinte da profecia de Joel: “estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda carne...” (At 2.15-17). As palavras: “nos últimos dias” (en tais eschatais hemerais) são uma tradução das palavras hebraicas acharey qhen que literalmente significam: posteriormente. Quando Pedro cita estas palavras e as aplica ao evento recém-ocorrido, o que ele está, de fato, dizendo é: “nós estamos nos últimos dias agora”. Encontramos em Paulo um conceito similar. Em uma de suas primeiras epístolas (Gl 4.4), ele indica que Jesus veio ao mundo na “plenitude dos tempos” ou “quando o tempo tinha plenamente chegado” (expressão grega é topleroma tou chronou). 2) No Novo Testamento encontramos ainda a compreensão de que aquilo que os escritores do Antigo Testamento pareciam representar, como um movimento único, deve agora ser reconhecido como envolvendo dois estágios: a era messiânica presente e a era do futuro. Em outras palavras, o crente da época neotestamentária, conquanto ciente de estar agora vivendo na era predita pelos profetas, percebeu que esta nova era inaugurada pela vinda de Jesus Cristo, era entendida como carregando no seu ventre uma outra era porvir.

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A escatologia do Novo Testamento, portanto, olha para trás, para a vinda de Cristo, que tinha sido predita pelos profetas do Antigo Testamento, e afirma: nós estamos agora nos últimos dias. Mas também olha para a frente, para uma consumação final ainda por vir, e por isso também diz: o último dia ainda está chegando; a era final ainda não chegou. Uma vez admitido que a escatologia neotestamentária olha tanto para o passado como aponta para o futuro, qual é a relação entre estes dois aspectos dessa escatologia? 3) A relação entre estes dois estágios escatológicos é que as bênçãos da era presente são o penhor e a garantia de bênçãos maiores no porvir. Antes de tudo, podemos ver esta relação ao observarmos que, conforme o Novo Testamento, a primeira vinda de Cristo é a garantia e penhor da certeza da segunda vinda de Cristo. Foi isso que o anjo destacou, ao falar aos discípulos quando da ascensão de Cristo: “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Este Jesus que entre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). O que é singular a respeito da escatologia neotestamentária, portanto, é que ela espera uma consumação futura dos propósitos de Deus baseada na vitória de Cristo, no passado. Concluímos, então, que a natureza da escatologia do Novo Testamento pode ser resumida sob estas três observações: 1ª) o grande evento escatológico predito no Antigo Testamento já aconteceu; 2ª) aquilo que para escritores do Antigo Testamento representava um movimento é visto agora como envolvendo dois estágios: a era presente e a era do futuro; e 3ª) a relação entre estes dois estágios escatológicos é que as bênçãos da era presente são penhor e garantia de bênçãos maiores no porvir.16

II. Principais Sistemas Escatológicos 1. Pós-Milenismo O Pós-Milenismo defende que o Reino de Cristo está se estabelecendo na Terra desde a ascensão de Jesus e que a era atual é o Milênio (não necessariamente de mil anos). Não entendem o Milênio de forma literal, ou seja, período de mil anos, mas vêem o Milênio como um grande período de paz. Segundo essa visão, a maioria das pessoas se converterá a Cristo o que resultará na cristianização da sociedade mundial. Os Pós-Milenistas acreditam que o Reino se estenderá gradualmente através da pregação do Evangelho, da conversão final da maioria das pessoas, não 16

Transcrição direta, com interpretações, modificações e cortes pessoais, do Capítulo 2 – Natureza da Escatologia do Novo Testamento, do livro “A Bíblia e o Futuro” de Anthony A. Koekema, Editora Cultura Cristã, 1989, p. 18-27.

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necessariamente de todas, e do aumento da justiça, da prosperidade e do progresso em todos os âmbitos da vida, à medida que a maioria crescente de crentes se esforçarem para ganhar o mundo para Cristo. Todos se converterão inclusive os judeus, antes da volta de Cristo, o que denota um certo Universalismo . Cristo governará nos corações dos homens, sendo isso o Reino de Deus. Não será um governo político. Usam como texto base para essa teoria Jo 14.16: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre." Como o nome indica e segundo essa visão, Cristo voltará a terra "depois dos mil anos". Depois de o Cristianismo ter dominado o mundo por muito tempo, Cristo voltará. Então haverá uma ressurreição geral, a destruição desta criação atual e a entrada no Estado Eterno. Os Pós-Milenistas diferem dos Pré-Milenistas e dos Amilenistas porque são otimistas em sua crença de que esta vitória se realizará sem a necessidade de uma volta cataclísmica de Cristo para impor justiça, mas que ela será o resultado da aplicação fiel do processo atual. Síntese Histórica Esta interpretação escatológica foi desenvolvida no século XVIII e ganhou seguidores principalmente entre as igrejas reformadas. O Pós-Milenismo só se desenvolveu como um sistema distinto da escatologia depois da Reforma. Antes disso, consistia de vários elementos que depois foram incluídos na mistura teológica do Pós-Milenismo Moderno. Pode ser dividido em dois tipos: Pós-milenismo Antigo e Pós-Milenismo Radical. 1) Pós-Milenismo Antigo – Fazem parte deste grupo os Puritanos e alguns escritores modernos. Esse grupo espera uma grande obra futura de Deus entre os judeus, que levará à conversão de muitos, senão de todos eles. Alguns, dentro da mesma linha, esperam um grande e poderoso reavivamento na igreja no final dos tempos, antes da vinda de Cristo, quando o evangelho uma vez mais frutificará tanto quanto no tempo dos apóstolos ou da grande Reforma Protestante do século XVI. A Igreja crescerá espantosamente ao ponto da “terra se encher do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar” (Hc 2.4). 2) Pós-Milenismo Radical – Surgiu mais recentemente, e parte dele é algumas vezes conhecido como "Reconstrucionismo Cristão" ou “Teologia do Domínio”. Este PósMilenismo mais radical espera não somente um futuro glorioso para a igreja, mas que tudo da sociedade e da vida humana esteja algum dia debaixo do domínio de cristãos, e que esta sociedade “cristianizada” será o cumprimento das promessas da Escritura com respeito ao Reino de Cristo. Esta forma mais recente de Pós-Milenismo espera que a realização principal de Deus será neste presente mundo, e que a mesma chegará não somente pela pregação do

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evangelho e o crescimento da igreja, mas pela “ação” e envolvimento cristão nas diferentes áreas da vida. Muitos que são desta convicção insistiriam que é essencial que os cristãos estejam envolvidos e eventualmente “tomem” as várias áreas da sociedade, reivindicando-as assim para Cristo e, como dizem, “coroem Cristo como rei em toda área”. A maioria dos Pós-Milenistas são também preteristas, ou seja, crêem que toda a primeira parte de Mateus 24.1-35, e a maior parte do livro de Apocalipse já se cumpriu. As profecias foram cumpridas na destruição de Jerusalém pelo exército romano em 70 d.C. As profecias com respeito ao Anticristo e a grande tribulação já tiveram o seu cumprimento. A visão que eles têm da igreja e do futuro da sociedade impede uma crença numa tribulação no final dos tempos e numa revelação do Anticristo. Os Pós-Milenistas quase sempre são chamados de Teonomistas. Eles crêem que a Lei de Deus, incluindo as leis civis do Antigo Testamento, será a base para esta futura sociedade cristianizada, este Reino de Cristo aqui sobre a Terra. Não o evangelho, mas a Lei será a força principal neste Reino, pois embora nem todos serão convertidos, mas todos se encontrarão debaixo da Lei de Deus e sob o “domínio” da Lei. O Pós-Milenismo foi a última grande posição teológica criada acerca do Reino Milenar. Durante o século XVIII e XIX, o Pós-Milenismo foi a principal concepção acerca do Milênio, quando as missões estavam em franca expansão. Homens como Jonathan Edwards, Charles Hodge e Loraine Boetner foram defensores do Pós-Milenismo. Muitos missionários foram influenciados por esta interpretação, bem como muitos hinos foram escritos inspirados por esta visão. Até a década de 1960 o Pós-Milenismo foi praticamente extinto. Porém, nos últimos 25 anos houve um ressurgimento do Pós-Milenismo em algumas áreas conservadoras através do movimento chamado "Reconstrucionismo Cristão". Similaridades do Pós-Milenismo com as outras correntes escatológicas 1) Amilenismo – Não vê um Reino futuro de Israel. Diferença: crê que a Igreja chegará a dominar o mundo e o poder da Igreja será o governo. Depois Jesus voltará a Terra para julgar os vivos e mortos, e então virá o Estado Eterno. 2) Pré-Milenismo – Crê em um período de glórias terrenas para a Igreja, como um novo Israel. Diferença: esse período será depois da Segunda Vinda de Cristo, e não antes, como no Pós-Milenismo. Principais Defensores – Agostinho, Loraine Boettner (principal proponente), A. Hodge, Charles Hodge, A. H. Strong, B.B. Warfield, Joaquim de Fiore, Daniel Whitby e James Snowden. Sendo seu principal proponente Loraine Boettner.17

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Gráfico Pós-Milenista

2. Amilenismo O termo Amilenismo é formado por três partes diferentes: prefixo grego "a" que quer dizer "não"; a palavra latina "mille", que significa "mil" (em grego "chilias") e "annus", outra palavra latina que significa "ano" (em grego "etos"). Portanto o Amilenismo, literalmente, significa "não mil anos". O Amilenismo ensina que o capítulo 20 de Apocalipse deve ser interpretado alegoricamente, ou seja, não haverá um milênio literal e o reinado de Cristo não seria físico, mas celestial, uma vez que o reino de Cristo ‘não é deste mundo’, mas Ele reina especialmente nos corações daqueles que o aceitam com Rei e Senhor. Trata-se de uma figura de linguagem que faz referência a um longo período de tempo onde Deus realizará todos os seus propósitos. Para o Amilenismo, Satanás está preso atualmente, no sentido de não poder 'enganar as nações' e impedir o avanço da pregação do Evangelho. Todos os eventos dos tempos do fim ocorrerão de uma só vez logo após a volta de Cristo. Os Amilenistas, em sua grande parte, crêem que Cristo pode voltar a qualquer momento. Síntese Histórica Segundo os defensores desta posição escatológica, o termo Amilenismo é de origem recente e tem sido usado desde a década de 1930, porém não se sabe quando surgiu pela primeira vez. O termo pode ser novo, mas as ideias defendidas por essa visão remontam aos primeiros séculos do Cristianismo. Os primeiros cristãos acreditavam estar vivendo os últimos dias e aguardavam a volta de Cristo para estabelecer um reino literal. Orígenes de Alexandria (185–254) trouxe uma nova interpretação, usando o método alegórico, espiritualizou o reino futuro e entendeu que ele seria a era da Igreja. O teólogo exegeta Ticônio (370–390) também era adepto da interpretação ‘espiritualizada’ das Escrituras, sobretudo o Apocalipse. Ticônio era antiquiliástico, sua

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interpretação sobre o milênio, excluía qualquer esperança de um reino terrestre futuro. Para ele, o milênio prometido no Apocalipse começou com a Igreja, e não haverá nenhum outro evento concreto desencadeado por uma catástrofe cósmica qualquer. A escatologia proposta por Orígenes e Ticônio influenciou e foi popularizada por Agostinho (354 – 430). Para Agostinho o milênio seria o período entre a primeira e a segunda vinda de Cristo e era literal, ou seja, ele cria que Jesus retornaria mil anos após sua ascensão. Mais tarde, esse ensinamento passou também a ser espiritualizado e passou a significar um período de tempo indefinido. Com Agostinho, o Amilenismo ganhou grande destaque, pois apesar de Orígenes ter estabelecido as base ao propor o método não literal de interpretação, foi Agostinho quem disseminou o conceito alegórico do milênio no que agora conhecemos como Amilenismo. Em sua famosa obra, 'A cidade de Deus', Agostinho propôs que a Igreja visível era o reino de Deus na terra e com base nesse ensinamento, ele desenvolveu sua doutrina do milênio. Ele ensinou que o milênio deve ser interpretado espiritualmente como cumprido pela Igreja. Foi ele quem defendeu a idéia do aprisionamento de Satanás como tendo ocorrido durante o ministério terreno do Senhor Jesus (Lc 10.18) e a primeira ressurreição seria o novo nascimento do cristão (Jo 5.25). Jerônimo (347–420) também foi um defensor do Amilenismo. Em seu comentário sobre o livro de Daniel, escrito um pouco antes do ano 400, Jerônimo ensinou que “os santos de modo nenhum terão um reino terrestre, mas somente um celestial; portanto, esta fábula dos mil anos tem que ser eliminada.” Grandes líderes da Reforma criam na escatologia Amilenista, por exemplo: Calvino (1509–1564) ensinava que Israel e a Igreja eram a mesma coisa e aguardava a Segunda Vinda para que ocorressem a ressurreição, o juízo e o estado eterno. Foi um grande crítico ao quiliasmo e o descrevia como 'ficção', 'sonho', 'blasfêmia intolerável', etc. No século XIX surgiu uma nova interpretação para o Amilenismo. Em 1874, B. B. Warfield, professor de teologia no Seminário Teológico de Princeton, passou a ensinar que o milênio é o estado presente dos santos no céu, conhecido hoje como Amilenismo Clássico. Os adeptos do Amilenismo diferem acerca do cumprimento do milênio, uns acreditam que o Milênio está sendo cumprido na Terra, Amilenismo Agostiniano, outros acreditam que está sendo cumprido com os santos nos céus, Amilenismo Warfield ou Clássico.

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1) Amilenismo Agostiniano – Entende que todas as promessas do Antigo Testamento, em relação ao Reino, foram cumpridas com Cristo reinando do trono do Pai sobre a Igreja na Terra. Esse ponto de vista é defendido também pela Igreja Católica. O Amilenismo Agostiniano prevê o completo domínio do bem sobre o mal, através da pregação do evangelho. À medida que o Reino de Deus está sendo expandido na terra, através da Igreja, a situação do mundo vai melhorando. 2) Amilenismo Clássico/Warfield - Crê que, desde a ascensão de Cristo no primeiro século, o Milênio foi estabelecido na Terra e durará por um período indefinido, chamado de 'o tempo da Graça'. Considera que o Reino de Deus é o domínio de Deus sobre os santos que estão nos céus, o Reino dos Céus. Ao contrário do Amilenismo Agostiniano, o Amilenismo Clássico não vê o futuro de maneira otimista para a humanidade. Para ele o presente irá piorar cada vez mais até a Segunda Vinda de Cristo, o qual virá para dar fim à apostasia. Esses dois pontos de vistas podem ser considerados ortodoxos, pois crêem na interpretação literal das doutrinas da ressurreição, juízo, castigo eterno e outros temas relacionados. Existe ainda outro tipo de Amilenismo chamado de Modernista, que é adepto da Teologia Liberal, que nega as doutrinas da ressurreição, do juízo, da segunda vinda, etc.18 Quadro e Gráfico Amilenista Arrebatamento Tribulação Ocorre depois da tribulação A igreja passa pela tribulação

Segunda Vinda Uma só fase

Profecias do Reino Messiânico

Profecias do Novo Testamento

Profecias do Antigo Testamento

Centralizadas em Cristo

Estão se cumprindo no presente

Já se cumpriram no passado, em Cristo

Principais fatos Escatológicos

Cumprimento O milênio é o reino celestial de Cristo nos céus sobre as almas dos Milênio: salvos. O Estado Eterno será introduzido na volta de Cristo, O Reino de Cristo e o Reino de Deus com os novos céus e nova terra. (Mt 25.34) O Israel de Deus (Gl 6.16) O novo Israel de Deus é a Igreja Método Espiritual e Preterista, Interpretação das profecias do Antigo Testamento as profecias já se cumpriram em Cristo. Interpretação do livro do Apocalipse Paralelismo Progressivo. A maior parte está se cumprindo. As duas Ressurreições (Ap 20.1-6) A primeira é espiritual, a segunda é corporal. (Jo 5.25-29; Ef 2.1-6)

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3. Pré-Milenismo Para Erickson o amilenismo é o sistema escatológico mais claro e simples dos vários sistemas, mas, o pré-milenismo é “uma perspectiva bastante popular, especialmente nos círculos evangélicos ou conservadores. De certa forma, essa concepção é clara, definida, simples e direta. A silhueta de seus aspectos principais é facilmente visualizada” 19. O pré-milenismo tem uma longa história, cujas raízes estão na igreja primitiva. É provável que tenha sido a crença dominante durante o período apostólico, quando os cristãos acreditavam fortemente na iminente volta de Cristo e no fim do mundo. Esperavam uma transformação cataclísmica, não uma chegada gradativa do reino. Essa esperança era extremamente intensa em certas ocasiões.20 No pré-milenismo há duas vertentes: o Pré-Milenismo Histórico e o Pré-milenismo Dispensacional Pré-Tribulacionista. 1) Pré-Milenismo Histórico – O pré-milenismo histórico afirma que após a Segunda Vinda de Cristo, ele reinará literalmente por mil anos sobre a terra, antes da consumação final do propósito redentivo de Deus nos novos céus e nova terra. Segundo o pré-milenismo histórico a situação do mundo piora cada vez mais até a volta de Cristo, quando Jesus implantará o seu reino, o Reino de Deus, um reino tipicamente eclesiástico, através do qual reinarão todos os salvos de todas as eras. Neste reino não haverá distinção entre Israel e Igreja, mas Cristo reinará sobre a Igreja Universal, composta tanto de judeus como de gentios.

19 20

Erickson, Millard J. Escatologia – a polêmica em torno do milênio, Vida Nova, 2010, p. 5. Ibid., p.115.

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Para o pré-milenista histórico as profecias do Antigo Testamento não são tão predominantemente literais, e por isso algumas profecias relacionadas a Israel, são aplicadas à Igreja neotestamentária. Desse modo creem os pré-milenistas históricos que certas profecias estão se cumprindo hoje na história da Igreja, porque para eles, Israel é a Igreja do Antigo Testamento, e a Igreja do Novo Testamento é o novo Israel de Deus. (Mt 21.43; 1Pe 2.9; Ap 1.6). Dr. George Eldon Ladd, pré-milenista histórico proeminente, afirma que: Apocalipse 20.1-6 retrata a Segunda Vinda de Cristo como vencedor vindo destruir seus inimigos: o Anticristo, Satanás e a Morte. Apocalipse 19.17-21 retrata então a destruição do poder malígno por trás do Anticristo – ‘o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás’ (Ap 20.2). Isto ocorre em dois estágios: 1º) Satanás é preso e encarcerado no abismo (Ap.20:1) por mil anos "para que não mais enganasse as nações"(Ap 20.3) como havia feito através do Anticristo. Neste ponto ocorre a 'primeira ressurreição' (Ap 20.5) de santos que participam do reinado de Cristo sobre a terra pelos mil anos. 2º) Satanás é solto de seus grilhões e, apesar do fato de Cristo haver reinado sobre a terra por mil anos, acha ainda os corações dos homens não-regenerados prontos a se rebelar contra Deus. Segue-se a guerra escatológica final e o diabo é lançado no lago de fogo e enxofre, ocorre então a segunda ressurreição, daqueles que não haviam sido ressurretos no milênio. Eles comparecem ante o trono de julgamento de Deus para serem julgados conforme as suas obras. 'Se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo' (Ap 20.15). Então a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo.21 "Assim Cristo alcança sua vitória sobre seus três inimigos: o Anticristo, Satanás e a Morte. Só então, subjugados todos os poderes hostís, o cenário está preparado para o estado eterno, a vinda dos novos céus e nova terra (Ap 21.1-4). Esta é a maneira mais natural de se entender Apocalipse 20"22, ensina Ladd. Em síntese, Ladd, deixa claro que o pré-milenismo histórico defendo os seguintes pontos: “1) Deus não tem dois povos separados com destinos distintos (a saber, judeus e gentios, ou Israel e a Igreja) mas somente um povo; 2) o Reino de Deus é tanto presente como futuro; 3) a Igreja já está desfrutando bênçãos escatológicas no tempo presente; 4) os sinais dos tempos têm estado presente desde o tempo da primeira vinda de Cristo, mas assumirão uma forma intensificada antes de sua Segunda Vinda; 5) a Segunda Vinda de Cristo não é um acontecimento em duas etapas, mas um evento único”23.

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Ferraz, Luiz Antônio. Estudos Escatológicos, IBPIBJP, 1985, p. 32, 36. Ladd, George Eldon. Apud, Robert G. CLOUSE, O Milênio, p. 17. 23 Koekema, p. 205. 22

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Gráfico do Pré-Milenismo Histórico24

2) Pré-Milenismo Dispensacional Pré-Tribulacionista – Embora o pré-milenismo, como já afirmei antes, tenha uma longa história, cujas raízes estão na igreja primitiva e tudo indica que essa era a interpretação escatológica da igreja nos seus primeiros três séculos de existência, o Pré-Milenismo Dispensacionalista Pré-Tribulacionista tem uma origem comparativamente recente. Embora tenha sido ensinado por teólogos cristãos desde o segundo século, o sistema teológico conhecido como dispensacionalismo, não teve seu início se não a partir de 1800. Há dois princípio básicos, que são determinantes para o pensamento pré-milenista dispensacionalista pré-tribulacionista: 1) A interpretação literal de profecias. Herman Hoyt, um dispensacionalista contemporâneo, desenvolve este princípio nas seguintes palavras: “Este princípio claramente declarado é o de tomar as Escrituras em seu sentido literal e normal, entendendo que isso se aplica a toda Bíblia. Isto significa que o conteúdo histórico da Bíblia deve ser tomado literalmente; a matéria doutrinária deve ser igualmente interpretada desta forma; a informação moral e espiritual também segue este padrão; e o material profético deve ser igualmente entendido desse modo. Isto não significa que não haja linguagem figurada utilizada na Bíblia. Mas significa, isto sim, que onde esta linguagem for empregada, é preciso interpretá-la figuradamente, pois, de outro modo, será uma aplicação indevida do método literal. Qualquer outro método de interpretação furta parcialmente, se não completamente, o povo de Deus da mensagem que lhe estava destinada”. 2) A distinção fundamental e permanente entre Israel e a Igreja. O dispensacionalismo crê que, através das eras, Deus está buscando dois propósitos distintos: um deles relacionado com a terra, com um povo terreno e objetivos terrenos envolvidos, que é a nação de Israel; enquanto que o outro está relacionado com o céu, com um povo celestial e objetivos celestiais envolvidos, que é o Cristianismo ou a Igreja. É de importância capital, para a interpretação das Escrituras, nesse sistema, a distinção estabelecida no Novo Testamento entre o propósito atual de Deus para a Igreja e Seu propósito para a nação de Israel. A era presente, de acordo com esse conceito, é o 24

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cumprimento do plano e propósito de Deus, revelado no Novo Testamento, de chamar um povo dentre judeus e gentios igualmente, para formar um novo corpo de santos. Na visão do pré-milenista dispensacionalista pré-tribulacionista, o período atual é chamado de "Era (Época) da Igreja" ou de "Dispensação da Graça", quando Cristo retornará, no arrebatamento iminente, de modo visível apenas para a Igreja e antes da Grande Tribulação. Neste retorno, também conhecido como a primeira fase da Segunda Vinda, ocorrerá a ressurreição dos cristãos mortos e a transformação dos cristãos vivos e ambos serão arrebatados e se encontrarão com Cristo nos ares. Durante a Grande Tribulação na Terra, os cristãos arrebatados estarão sendo julgados no "Tribunal de Cristo" e logo após será celebrada no céu as "Bodas do Cordeiro". Com o Arrebatamento da Igreja terá início na terra o período chamado de "A Grande Tribulação", com duração sete anos, de acordo com Daniel 9.24-27, nas setenta semanas de anos de Daniel. Neste período, o Anticristo se manifestará e governará o mundo. Ele fará uma aliança com o povo judeu, mas no meio dos sete anos, quebrará a aliança e passará a persegui-los, nesse momento os judeus aceitarão a Cristo como o Messias. Antes da segunda fase da Segunda Vinda de Jesus, haverá muitos sinais: a pregação do evangelho à todas as nações, apostasia, guerras, fome, terremotos, além da manifestação do Anticristo e do Falso Profeta, que junto com Satanás formarão a "trindade satânica". Durante a Grande Tribulação o evangelho será anunciado, mas a salvação será concedida com muitas tribulações, pois os santos que estiverem na Terra serão severamente perseguidos (Mt 24.13, 22; Ap 13.7-10). No final da Grande Tribulação, Cristo retornará, desta vez visivelmente (chamada de segunda fase da Segunda Vinda), ao mundo com sua noiva "a Igreja" e porá seus pés no Monte das Oliveiras. Ele restaurará a nação de Israel e julgará as outras nações e então terá início o Milênio com o reinado de Cristo sobre o mundo. O Anticristo e o Falso Profeta serão lançados no inferno, Satanás será preso, e os crentes mortos durante a Grande Tribulação serão ressuscitados para participar do Milênio. Será neste tempo que o tabernáculo de Davi será restaurado (At 15.16; Zc 6.13), e o próprio Jesus será ao mesmo tempo Rei, Sacerdote e Profeta (Mq 5.2; Zc 6.13). A natureza participará das bênçãos mileniais produzindo abundantemente (Is 30.23-26; 66.25). No Milênio, além de Israel e a Igreja, haverá outros povos que participação desse Reino, porém muitos dentre eles ainda serão incrédulos. Por causa disso, no final do Milênio, Satanás será solto e enganará muitos novamente, levando os rebeldes a guerrearem contra Cristo e Seu povo, porém todos serão destruídos e lançados no Lago de Fogo. Depois disso, haverá a ressurreição dos incrédulos (chamada de segunda ressurreição) e o Juízo Final, onde apenas os incrédulos serão julgados e lançados no inferno. Após o

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Juízo Final terá início o chamado "Estado Eterno", onde surgirá "os novos céus e a nova terra", onde os cristãos habitarão eternamente com Deus.25 Gráfico do Pré-Milenismo Dispensacional Pré-Tribulacionista

Pelo que vimos até agora, concisamente, as posições escatológicos estão divididas em três assuntos de igual importância para a escatologia – O Arrebatamento da Igreja, a Grande Tribulação e o Milênio. Mas, cabe aqui, um esclarecimento: cada sistema escatológico estabelece uma ordem dos acontecimentos de acordo com sua linha de interpretação das Escrituras e, assim, o roteiro escatológico pode ou não seguir uma sequência cronológica. Antes de entramos nos temas escatológicos preferidos, quero ainda definir alguns termos ou grupos que estão ligados diretamente aos assuntos: arrebatamento, grande tribulação e milênio. a) Dispensacionalismo – É o sistema que defende que a história da humanidade está dividida em sete épocas distintas. Definem as dispensações como sendo um período em que Deus agiu de forma peculiar na humanidade, terminando com um juízo sobre ela e dando início a uma nona dispensação.26 Koekema, em a Bíblia e o Futuro, afirma que uma dispensação é definida como um período de tempo durante o qual o homem é testado em relação à sua obediência a algumas revelações específicas da vontade de Deus. Embora em cada dispensação Deus revele sua vontade de um modo diferente, estas dispensações não são modos separados de salvação. Durante cada uma delas o homem é reconciliado com Deus de apenas uma forma, i.e., pela graça de Deus através da obra de Cristo que foi realizada na cruz e vindicada em sua ressurreição.27 25

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Os dispensacionalistas dividem as ações de Deus para com a humanidade em sete dispensações: 1ª) Dispensação da Inocência – Desde a criação de Adão até a sua queda – Gn 1.28-3.7; 2ª) Dispensação da Consciência ou da Responsabilidade Moral – Desde a queda até o final do Dilúvio – Gn 3.8-8.22; 3ª) Dispensação do Governo Humano – Desde o final do Dilúvio até a chamada de Abraão – Gn 9.1-11.32; 4ª) Dispensação da Promessa – Desde a chamada de Abraão até a promulgação da Lei – Gn 12.1-Êx 19.25; 5ª) Dispensação da Lei – Desde a promulgação da Lei até o dia de Pentecostes – Êx 20.1-At 2.4; 6ª) Dispensação da Graça ou Igreja – Desde o dia de Pentecostes até o Arrebatamento – At 2.4-Ap 20.3; 7ª) Dispensação do Reino – É o Reino Milenar de Cristo. Uma coisa a se observar aqui é que o Milênio é apenas uma dispensação ou época dentro do pensamento dispensacionalista. Este modo de ver a Bíblia, não é necessariamente a forma de ver de um pré-milenista ou pré-tribulacionista. O dispensacionalista é naturalmente pré-milenista, mas o pré-milenista prétribulacionista pode ou não ser dispensacionalista, porque o pré-milenismo entende que seu sistema transcende a visão simplificada das dispensações. De acordo com Naves, há coincidências entres as duas escolas, mas as construções são distintas.28 b) Pré-tribulacionismo – O termo origina-se da defesa de que, sendo a Tribulação a 70ª Semana de Daniel (Dn 9.24-27), profetizada para o povo de Daniel (Israel), a Igreja será arrebatada antes deste período começar. Essa posição entende que a Segunda vinda de Cristo será em duas fases distintas: a primeira fase visível apenas para a Igreja, nos ares, e a segunda fase, visível a todos, no Monte das Oliveiras, a parousia, termo que significa presença. Para o pré-tribulacionismo o ensino bíblico de que haverá um período futuro de tribulação sem precedentes que ofuscará todos os tempos de aflição é visto de forma tão intensa que não poderá ser confundida com a tribulação de forma geral. Essa grande tribulação “tem um propósito definido e duplo: 1) concluir “os tempos dos gentios” (Lc 21.24) e 2) preparar para a restauração e reunião de Israel no reinado Milenar de Cristo após o segundo advento”29. c) Mesotribulacionismo – É o ponto de vista de que a Igreja passará pela metade da Grande Tribulação ou a 70ª Semana de anos de Daniel 9. Essa posição sustenta que a igreja enfrentará a parte menos severa da Grande Tribulação, os três primários anos e meio, mas depois será removida do mundo. Assim, segundo a formulação dessa concepção, a igreja será tirada da terra antes que a ira de Deus seja derrama por completo. d) Pós-tribulacionismo – É o ensino que sustenta que a vinda de Cristo para a sua Igreja não ocorrerá até a conclusão da Grande Tribulação. Eles evitam o uso das palavras arrebatamento e transladação por duas razões: 1ª) porque nenhum deles é

28 29

Naves, p. 156. Erickson, Escatologia, p. 156.

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uma expressão bíblica; e 2ª) para não dar a entender que a igreja escapará ou será livrada da tribulação. Em geral, os pós-tribulacionistas, fazem uma distinção “entre a grande tribulação e a ira de Deus. A tribulação, que é parcialmente infligida pelos não cristãos e o diabo, será experimentada por todos que estiverem vivos e sobre a terra na ocasião. A ira de Deus coincidirá em parte com a tribulação, mas visa somente os ímpios, os santos de Deus serão poupados dela”30. e) Pós-tribulacionismo iminente – É o argumento que a vinda de Cristo será visível e iminente, mas que seguirá, não precederá, a grande tribulação, isto é, Cristo virá durante a Grande Tribulação, não será antes nem depois dela e será, nesse período, a qualquer momento. Seu principal proponente é J. Barton Payne, que argumenta essa posição em seu livro “O aparecimento iminente de Cristo” (The Imminent Appearing of Christ). f) Parcialismo – É o conceito do arrebatamento parcial, ou seja, “vê um segmento da Igreja arrebatado antes da tribulação e outro segmento que permanece na terra durante toda a tribulação. Assim, o arrebatamento é pré-tribulacional para alguns crentes e pós-tribulacional para outros”31. Portanto, para essa posição, “nem todos os crentes são arrebatados numa só ocasião, seja antes da grande tribulação ou depois dela, mas, os crentes são arrebatados em grupos e esse arrebatamento depende da condição do crente, se ele realmente está pronto para isso”32.

III. Temas Escatológicos Preferidos 1. Morte, Imortalidade da Alma e Estado Intermediário a. Morte O professor L.W.Kuilman, escrevendo na segunda edição da Christelijke Encyclopedie, faz a seguinte ponderação: “A questão sobre se a morte, como um fenômeno biológico, já ocorreu antes da queda do homem no pecado tem de ser respondida afirmativamente, com base na evidência fornecida pela ciência da paleontologia (a ciência de plantas e animais antigos) ... O estudo destas áreas de investigação [registros fósseis de plantas e animais antigos] nos leva a reconhecer que a morte biológica ocorria antes do homem ser criado. A morte biológica desse tipo, portanto, não deve ser identificada com a morte que ingressou no mundo como punição do pecado do primeiro casal humano”. Observando Gn 2.16,17, vemos que esta passagem, que contém a primeira referência à morte na Bíblia, ensina claramente a conexão entre pecado e morte. Deus ameaçou 30

Ibid., p. 180. Ibid., p. 202. 32 Ibid., p. 208. 31

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com a morte, como penalidade, por comer da árvores proibida. A expressão hebraica usada no texto (infinitivo absoluto seguido pela forma imperfeita do verbo finito), na verdade, significa: “você deverá certamente morrer”. Mas, que dizer da expressão: “certamente morrerás?” As palavras que a Bíblia usa para denotar morte, podem significar várias coisas. Que sentido terá a palavra aqui? O significado óbvio e primeiro do verbo hebraico muth é morrer de morte física. Quando este castigo e, mais tarde, mencionado em conexão com o processo que é resultado do pecado do homem, é a morte física que está descrita (Conf.: Gn 3.19). Portanto, o que quer que Gênesis (2.17) signifique, certamente está nos ensinando que a morte física, no mundo humano, é resultado do pecado do homem. À luz do restante das Escrituras, entretanto, a morte, conforme nesta ameaça aqui, deve ser entendida como significando mais do que a simples morte física. O homem é uma totalidade, que possui um lado espiritual tanto quanto um lado físico em seu ser. Uma vez que, de acordo com as Escrituras, o significado mais profundo da vida é a comunhão com Deus, o significado mais profundo da morte tem de ser a separação de Deus. A morte, conforme em Gênesis (2.17), portanto, inclui o que geralmente chamamos de morte espiritual, isto é, a quebra da comunhão do homem com Deus. Por causa do pecado de Adão, cada ser humano está agora, por natureza, num estado de morte espiritual (Conf.: Ef 2.1,2). Leon Morris expressa bem este pensamento: “Quando o homem pecou, passou para um novo estado, um estado simbolizado e, ao mesmo tempo, dominado pela morte. É provável que a morte espiritual e a morte física não sejam consideradas como separadas, mas que uma envolva a outra”. Em outras palavras, depois de o homem ter pecado ele, imediatamente, morreu no sentido espiritual e, por causa disso, ficou sujeito ao que chamamos de morte eterna separação eterna da presença amorosa de Deus. Ao mesmo tempo, o homem entrou num estado no qual a morte corporal se tornou agora inevitável. Analisando Gn 3.19, vemos que aqui é predito o destino do corpo de homem: uma vez que ele é feito de pó, terá de voltar ao pó. Aqui a morte está vividamente retratada, não como um fenômeno natural, mas como um aspecto da maldição que veio sobre o homem por causa do seu pecado. A conexão necessária entre pecado e morte não é ensinada apenas no Antigo Testamento, mas também no Novo. Romanos (5.12) é muito claro neste ponto: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram”. Embora seja verdadeiro que nesta perícope (5.12-21) a morte que Paulo está descrevendo inclua a morte espiritual, não se pode excluir, com acerto, a morte física do que ele quer dizer. Certamente, a morte física é mencionada tanto no contexto precedente (“fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho”, v.10) como no subsequente (“reinou a morte deste Adão até Moisés, v.14). Por causa disso, quando Paulo diz: “por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte”, a morte física está seguramente incluída. Na verdade, esta passagem é um eco óbvio de Gênesis (2.17).

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Tendo considerado a conexão entre a morte e pecado, prossigamos para atentar para a morte à luz da redenção. A Bíblia ensina que Cristo veio ao mundo para conquistar e destruir a morte. O autor de Hebreus escreve da seguinte forma: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse a todos os que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (2.14,15). Uma vez que foi através da tentação do diabo que a morte (do homem) veio ao mundo, pode ser dito aqui do diabo que ele tem o poder da morte. Cristo, entretanto, assumiu a natureza do homem e morreu por nós a fim de, pela morte, poder destruir a morte. Embora esta passagem não o diga textualmente, o Novo Testamento ensina claramente que foi através de sua ressurreição dos mortos que Cristo conquistou sua grande vitória sobre a morte: “Havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre: a morte já não tem domínio sobre ele” (Rm 6.9). A conquista da morte, portanto, deve ser vista como uma parte essencial da obra redentora de Cristo. Cristo não redime seu povo apenas do pecado; ele também o redime dos resultados do pecado, e a morte é um deles. E, assim, lemos em 2 Timóteo (1.10) que Cristo “destruiu a morte e trouxe à luz a vida e a imortalidade”. Por causa disto, o fato de que na nova Jerusalém não mais haverá morte é uma culminação adequada da obra redentora de Cristo (Ap 21.4). Para nós que somos cristãos, a morte não é um pagamento pelos pecados. Foi para Cristo, mas não é para nós. Uma vez que Cristo foi nosso mediador, nosso segundo Adão, ele teve de sofrer a morte como parte do castigo que nós merecíamos pelo pecado; mas, para nós, a morte não é mais uma punição pelo pecado. Para Cristo, a morte foi parte do curso de sua vida. Para nós, a morte é fonte de bênção. Nossa morte também será uma “entrada na vida eterna”. Estas palavras não pretendem negar que há um sentido no qual o crente já possui a vida eterna aqui e agora, mas, que, agora nós sentimos em nossos corações o início do gozo eterno. Mas o que gozamos agora é apenas o início. Entraremos nas riquezas plenas da vida eterna somente após termos passado através do portal da morte. Por causa disso, Paulo pode dizer: “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1.21), e: “preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2 Co 5.8). Tudo isso implica em que a morte, nosso “último inimigo” (1 Co 15.26), através da obra de Cristo, tornou-se nosso amigo. Nosso oponente mais temível veio a ser para nós o servo que abre as portas para a felicidade celestial. A morte para o cristão, portanto, não é o fim, mas um glorioso novo início. E, dessa forma, entendemos porque Paulo pôde dizer: “Tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus”. (1 Co 3.21-23)33

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Transcrição direta, com interpretações, modificações e cortes pessoais, do Capítulo 7 – Morte Física, do livro “A Bíblia e o Futuro” de Anthony A. Koekema, Editora Cultura Cristã, 1989, p. 89-95.

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b. Imortalidade da Alma Escrevendo sobre a imortalidade da alma, Koekema, em A Bíblia e o Futuro, p. 97 a 99, comenta que, segundo o Iluminismo, as três grandes verdades da “teologia natural”, que se podem descobrir pela razão, supostamente, eram a existência de Deus, a importância da virtude e a imortalidade da alma. Dizia-se que o conceito de imortalidade da alma era demonstrável pela razão, até que Immanuel Kant (17241804) submeteu esses argumentos a uma crítica devastadora. Mas, mesmo Kant, continuava a sustentar o conceito como um postulado da assim chamada razão prática. Que a idéia de imortalidade da alma, a saber, que após a morte do corpo, a alma ou aspecto imaterial do homem continua a existir, não é um conceito peculiar ao Cristianismo. Ele tem sido sustentado, de uma forma ou outra, por grande número de povos, incluindo os babilônios, os persas, os egípcios e os antigos gregos. Na verdade, o conceito de imortalidade da alma, que era tão fortemente defendido no século dezoito pelos líderes do Iluminismo, não era uma doutrina distintivamente cristã, uma vez que a “teologia natural”, da qual esta doutrina fazia uma parte, era considerada como sendo distinta e superior ao Cristianismo. Que conceito de imortalidade da alma foi desenvolvido, também, nas religiões de mistério da antiga Grécia, e recebeu expressão filosófica nos escritos de Platão (427347 a C.). No conceito de Platão, a imortalidade da alma está enraizada em uma metafísica racionalista: o racional é o real, e tudo o que seja não-racional tem uma realidade do tipo inferior. Por causa disso, a alma é considerada como uma substância superior, inerentemente indestrutível e portanto imortal, enquanto que o corpo é de substância inferior, mortal e condenado à destruição total. Koekema, em continuação no seu texto, levantar a questão: Será que as Escrituras em algum lugar, utilizam a expressão “a imortalidade da alma”? Ensinam elas que a alma do homem é imortal? Eles mesmo as responde do seguinte modo: Há duas palavras gregas que geralmente são traduzidas por imortalidade na versão portuguesa da Bíblia: athanasia e aphtharsia.  Athanasia é encontrada apenas três vezes no Novo Testamento: uma em 1 Timóteo (6.16) e duas vezes em 1 Coríntios (15.53,54). Na primeira passagem, a palavra é usada para descrever Deus, “o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais, nem é capaz de ver”. Obviamente, a imortalidade aqui significa mais do que mera existência sem fim. Significa imortalidade original, como distinta da concedida. Nesta passagem, Paulo ensina que Deus, como fonte da vida, é origem de todas as outras imortalidades. Neste sentido, somente Deus tem imortalidade; outros recebem imortalidade e a possuem apenas na dependência dele. Como Deus tem vida em si mesmo (João 5.26), assim também ele tem imortalidade em si mesmo.

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 Os outros dois lugares onde a palavra athanasia é usada, ocorrem em sucessão: 1 Co 15.53,54: “Porque o perecível tem de se revestir com o imperecível, e o mortal com imortalidade. Quando o perecível estiver vestido com o imperecível, e o mortal com imortalidade, então a palavra que está escrita se fará verdadeira: A morte foi tragada na vitória” (NIV). Paulo aqui está falando acerca do que acontecerá na hora da volta de Cristo (veja v.52). As palavras citadas acima se aplicam tanto à transformação dos crentes, que ainda estiverem vivos quando Cristo voltar, como à ressurreição dos mortos que, estará acontecendo. Uma vez que, conforme Paulo já dissera, o corruptível não pode herdar o incorruptível (v.50), precisa acontecer uma mudança desta espécie.  A outra palavra geralmente traduzida por imortalidade, aphtharsia, ocorre sete vezes no Novo Testamento. Ela é usada para designar o alvo que os verdadeiros crentes perseguem (Rm 2.7), e aquilo que Cristo trouxe à luz em 2 Timóteo (1.10). É usada quatro vezes em 1 Coríntios (15), o grande capítulo paulino a respeito da ressurreição. No verso 50, ela é usada para descrever aquilo que o corruptível ou perecível não pode herdar. No verso 42 é usada para comunicar o fato de que, embora o corpo seja semeado em corrupção, é ressuscitado em incorrupção. Nos versos 53-54, a palavra é usada para descrever a incorrupção ou imperecibilidade com a qual o corpo atual, aqui chamado de perecível, precisa revestir-se na ressurreição. Em nenhuma destas passagens a palavra é usada para a “alma”.  O adjetivo derivado, aphthartos é também usado sete vezes no Novo Testamento. Ele é usado para descrever Deus (Rm 1.23; 1Tm 1.17), o corpo ressurreto (“os mortos ressuscitarão incorruptíveis” 1Co 15.52), a coroa pela qual Paulo se esforça (1Co 9.25), a jóia imperecível de um Espírito manso e tranquilo (1Pe 3.4), a semente imperecível da qual fomos nascidos de novo (1Pe 1.23), e a herança incorruptível que está guardada nos céus para nós (1Pe 1.4). Em caso nenhum a palavra é usada para descrever a “alma”. Koekema, então, conclui que as Escrituras não usam a expressão “a imortalidade da alma”. Mas, afirma que alguns teólogos da Reforma usaram e defenderam a expressão “imortalidade da alma” como representativa de um conceito que não estava em conflito com o ensino das Escrituras. Ele cita então alguns desses teólogos:  João Calvino, por exemplo, ensina que Adão teve uma alma imortal, e fala da imortalidade das almas como uma doutrina aceitável. Ao mesmo tempo, entretanto, ele admite que a imortalidade não pertence à natureza da alma, mas é comunicada à alma por Deus.  Archibald Alexander Hodge, num volume publicado originalmente em 1878, apresenta vários argumentos em defesa da doutrina da imortalidade da alma.  William G.T. Shedd, numa obra originalmente publicada em 1889, tem o seguinte a dizer acerca da questão: “A crença na imortalidade da alma e em sua existência separada do corpo após a morte, era característica tanto da economia vétero [testamentária] como da do Novo [Testamento]”.

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 Louis Berkhof diz: “Esta idéia de imortalidade da alma está em perfeita harmonia com o que a Bíblia ensina acerca do homem...”; e então fornece vários argumentos, tanto da revelação geral como da Bíblia, para sustentar este conceito.34 Como estamos tratando de alma humana, para efeitos conceituais, cabe aqui o significado das palavras alma, espírito e coração. Antes, porém, é preciso esclarecer que há duas posições sobre a composição físico psíquico espiritual do homem. Uma, a tricotomia, que defende que o ser humano é formado de corpo, alma e espírito. A outra, a dicotomia, sustenta que o homem possui duas partes, a material (corpo) e a imaterial, sendo esta dividida em duas partes: a alma que está ligada aos nossos sentimentos, e o espírito, que tem consciência e possui o conhecimento de Deus.  Alma – No Antigo Testamento, em seu sentido básico, a palavra hebraico nephesh significa vida. Essa palavra é usada para designar o homem em seu estado original criado por Deus como alma (ser) vivente – Gn 2.7, e também é usada em alguns textos para se referir a outras formas de vida – Gn 1.20, 21, 24, 30; Lv 17.11; Êx 21.23; Js 2.13. O que observamos, é que no Antigo Testamento a alma não existe à parte do corpo, enfatizando assim a unidade do homem. No Novo Testamento temos similaridades e diferenças no uso da palavra alma, do grego psyche. Esse termo fala da pessoa de forma individual e completa, mas também pode referir-se à parte imaterial do homem – At 2.41; 27.37; Mt 10.28. Ela ainda “designa as pessoas no estado intermediário entre a morte e a ressurreição do corpo”35 (Ap 6.9) e é “o enfoque principal da redenção, embora esteja claro que o corpo físico sinta os efeitos da redenção”36 – Conf.: Hb 10.39; 13.17; Tg 1.21; 1Pe 1.9; 22; 2.11, 25.  Espírito – No hebraico ruach e no grego pneuma refere-se apenas à parte imaterial do ser humano, diferentemente da alma “que pode referir-se ao homem como um todo: aspecto material e imaterial”37. O espírito tem sua origem em Deus e todos os seres humanos tem um espírito – Nm 16.22; Hb 12.9. Sendo o espírito humano uma das partes da parte imaterial do homem, ele é o centro de várias características e atividades relacionadas ao mundo espiritual, pois foi formado de uma parte da essência (do sopro) de Deus (Ez 3.19; Pv 23.14; Sl 33.19). Embora a alma e o espírito possam estar, muitas vezes, “relacionados às mesmas atividades ou emoções, realmente parece existir uma distinção e um contraste entre alma e espírito”38 no pensamento das cartas do Novo Testamento, principalmente as paulinas – 1Co 2.14; 3.1; 15.45; Ef 1.3; 5.19; Cl 1.9; 3.16. Coração – O coração é um conceito muito empregado, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Sendo usado, em ambos, mais de 800 vezes, referindo-se ao 34

Transcrição direta, com interpretações, modificações e cortes pessoais, do Capítulo 8 – Imortalidade, do livro “A Bíblia e o Futuro” de Anthony A. Koekema, Editora Cultura Cristã, 1989, p. 97-99. 35 Ryrie, p. 227. 36 Ryrie, p. 227. 37 Ibid., p. 227. 38 Ibid., p. 228.

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centro e ao controle da vida, tanto física, psíquica quanto espiritual. Há apenas um número relativamente pequeno que se refere ao órgão do corpo como coração. E sua maioria, o termo coração é usado para aludir ao homem interior, a essência dos muitos aspectos de sua personalidade. Ryrie cita quatro desses aspectos: 1) O coração como o centro da vida intelectual – Ele sabe – Dt 8.5; adquiri o conhecimento da Palavra – Sl 119.11; é a fonte dos maus pensamentos e ações – Mt 15.19, 20; possui propósitos e pensa – Hb 4.12; pode ser enganoso – Jr 17.9; 2) O coração como o centro da vida emocional – Ele ama – Dt 6.5; reprova – Jó 27.6; se alegra e anima Sl 104.15; Is 30.29; pode ficar triste – Ne 2.2; Rm 9.2; possui desejos – Sl 37.4; pode ficar amargurado – Sl 73.21; 3) O coração como o centro da vida volitiva – Ele busca – Dt 4.29; pode ser mudado e endurecido – Êx 8.15; Hb 4.7; é capaz de escolher – Êx 7.22, 23; pode ser incircunciso – Jr 9.26; At 7.51 e; 4) O coração como o centro da vida espiritual – Em seu coração, o homem crê para a justiça – Rm 10.9, 10. Para o cristão, o coração é a morada do Pai – 1Pe 3.15, do Filho – Ef 3.17 e do Espírito Santo – 2Co 1.22. O coração do cristão deve ser puro e estar circuncidado – 1Tm 1.5; Hb 10.22, Rm 2.29.39  Koekema ensina que as Escrituras ensinam claramente que o homem é uma unidade, e que “corpo e alma” (Mt 10.28) ou “corpo e espírito” (1 Co 7.34; Tg 2.26) são inseparáveis. O homem só é completo nesta espécie de unidade psicossomática. Porém, a morte faz surgir uma separação temporária entre o corpo e a alma. Uma vez que o Novo Testamento, ocasionalmente, realmente fala das “almas” ou dos “espíritos” dos homens como ainda existindo durante o tempo entre a morte e a ressurreição, nós também podemos fazê-lo, desde que lembremos que este estado de existência é provisório, temporário e incompleto. Uma vez que o homem não é totalmente homem sem corpo, a esperança escatológica central das Escrituras, em relação ao homem, não é a simples existência continuada da “alma”, conforme o pensamento grego, mas é a ressurreição do corpo.40 Concluímos, então, que assim como a alma está intimamente ligada ao espírito, ao ponto de apenas a Palavra de Deus que é vida e eficaz poder fazer distinção entre eles, mas a sua área de atuação está ligada diretamente ao corpo, quando o corpo morre ela deixa sua atuação na área humana e se une à área espiritual do ser humano, o seu espírito. Nesse sentido, entendo que a alma não morre. c. Estado Intermediário Desde o tempo de Agostinho, os teólogos cristãos pensavam que, entre a morte e a ressurreição, as almas dos homens desfrutavam do descanso ou sofriam aflições enquanto esperavam ou pela complementação de sua salvação, ou pela consumação de sua condenação. Na Idade Média, esta posição continuou a ser ensinada, e foi desenvolvida a doutrina do Purgatório. Os Reformadores rejeitaram a doutrina do Purgatório, mas continuaram a defender um estado intermediário, embora teólogos como Calvino e Lutero, tendiam mais a considerar esse estado como de uma existência 39 40

Ibid., p. 228. Koekema, p. 107.

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consciente. Em sua obra Psycopannychia, Calvino ensinou que, para os crentes, o estado intermediário é tanto de bênçãos como de expectação, por causa disso a bênção é provisória e incompleta. Desde aquele tempo, a doutrina do estado intermediário tem sido ensinada pelos teólogos da Reforma, e se reflete nas Confissões da Reforma. Temos que admitir que a Bíblia não fala muito acerca do estado intermediário e que aquilo que ela diz acerca dele é contingente à sua mensagem escatológica principal sobre o futuro do homem, que diz respeito à ressurreição do corpo. Temos que concordar, também, que em lugar nenhum o Novo Testamento nos fornece uma descrição antropológica ou exposição teórica do estado intermediário. Entretanto, permanece o fato de que há evidência suficiente para nos capacitar a afirmar que, na morte, o homem não é aniquilado e o crente não é separado de Cristo. O ensino de Paulo em 1Co 15, não é claro o bastante para descrever, exatamente, como experimentaremos a nossa proximidade com Cristo após a morte. Não temos descrição da natureza desta comunhão; não podemos formar uma imagem de como será. Uma vez que não estaremos mais no corpo, deveremos ser libertos dos sofrimentos, imperfeições e pecados que afligem esta vida presente. Mas nossa glorificação não será completa até que tenha acontecido a ressurreição do corpo. Por causa disso, a condição dos crentes, durante o estágio intermediário, conforme é ensinado por Calvino, é uma condição de ser incompleto, de antecipação, de felicidade provisória. Mas, cabe aqui esclarecer que, a Bíblia não tem doutrina independente acerca do estado intermediário. Seu ensino sobre este estado nunca deve ser separado de seu ensino sobre a ressurreição do corpo e a renovação da terra. Por causa disso, Berkouwer diz que, o crente deveria ter não uma “expectação dupla” do futuro, mas uma “expectação única”. Aguardamos uma existência eterna e gloriosa com Cristo após a morte, uma existência que culminará na ressurreição. Portanto, o estado intermediário e a ressurreição devem ser considerados como dois aspectos de uma esperança única. Ao mesmo tempo, o ensino bíblico sobre o estado intermediário é de grande importância. Os crentes que morreram são “os mortos em Cristo” (1Ts 4.16); estejam eles vivos ou mortos, eles são do Senhor (Rm 14.8). Nem a morte nem a vida, nem qualquer outra coisa em toda a criação, será capaz de separá-los do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm 8.38,39). Este ensino deveria nos trazer grande conforto. Nos termos da imagem de 2 Coríntios 5.6-8, nossa vida atual é um estar ausente do Senhor, uma espécie de peregrinação. A morte, para o cristão, entretanto, é um chegar em casa. É o fim de sua peregrinação; é seu retorno à sua casa verdadeira. De acordo com o Antigo Testamento, a existência humana não finda com a morte; após a morte, o homem continua a existir no Reino dos mortos, geralmente

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denominado Sheol. George Eldon Ladd sugere que o “Sheol é a maneira veterotestamentária de afirmar que a morte não acaba com a existência humana”. Geralmente, Sheol significa reino dos mortos que deve ser entendido figuradamente como designando o estado de morte. Frequentemente Sheol é simplesmente usado para indicar o ato de morrer: “Chorando, descerei [Jacó] a meu filho até à sepultura (Sheol)” (Gn 37.35); “se lhe [Benjamim] sucede algum desastre no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza ao Sheol” (Gn 42.38). Em 1 Samuel 2.6, na verdade, fazer descer ao Sheol é equivalente a levar alguém ao estado de morte: “O Senhor é o que tira a vida, e dá; faz descer ao Sheol e faz subir”. As diversas figuras aplicadas ao Sheol podem todas ser entendidas como se referindo ao Reino dos mortos: é dito do Sheol que ele tem portas (Jó 17.16), que é um lugar escuro e triste (Jó 17.13), e que é um monstro com apetite insaciável (Pv 27.20; 30.15,16; Is 5.14; Hc 2.5). Quando consideramos o Sheol desde modo, temos de lembrar que tanto o piedoso como o ímpio descem ao Sheol na morte, uma vez que ambos entram no reino dos mortos. Os ensinos do Novo Testamento, neste assunto, não contradizem, antes, complementam e expandem os do Antigo Testamento. Hades é a tradução comum da Septuaginta para Sheol. Porém, o significado de Hades, no Novo Testamento, não é exatamente o mesmo de Sheol no Antigo Testamento. No Antigo Testamento, como vimos, Sheol indicava o reino dos mortos ou, ocasionalmente, a sepultura. Na maioria das vezes, a palavra Hades, no Novo Testamento, designa o reino dos mortos. Ela é usada nesse sentido em Atos (2.27, 31), no sermão de Pentecostes de Pedro: “porque não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção... [Cristo] que nem foi deixado no Hades nem o seu corpo experimentou corrupção”. Nesta passagem, Hades é a palavra grega equivalente a Sheol no Salmo 16.10, e indica simplesmente o reino dos mortos. Pedro vê essas palavras cumpridas na ressurreição de Cristo: Cristo não foi abandonado no reino dos mortos, nem sua carne experimentou corrupção. Hades é usado várias vezes no livro do Apocalipse e ali, também, significa o Reino dos mortos. Em 1.18, Hades é retratado como uma prisão com portas: “[Cristo] tenho as chaves da morte e do Hades”. Em 6.8, o Hades é novamente descrito como em relação estreita com a morte: “E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte: e o Hades o estava seguindo”. Em 20.13, o Hades é retratado como um Reino que entrega seus mortos: “Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados um por um, segundo as suas obras”. Esta última passagem levou Joachim Jeremias, em seu artigo sobre o Hades no Dicionário Teológico do Novo Testamento, a dizer que Hades, no Novo Testamento,

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tem de se referir ao estado intermediário, uma vez que é mencionado entregando seus mortos por ocasião da ressurreição. Porém, existe uma passagem do Novo Testamento, onde a palavra Hades é usada não apenas como uma designação do reino dos mortos, mas como uma descrição do lugar de tormento no estado intermediário: a parábola de Lázaro e o Homem Rico, em Lucas 16.19-31. Não é dito que Lázaro tenha entrado no Hades quando morreu, mas sim que ele foi “levado pelos anjos para o seio de Abraão” (v.22). Entretanto, é dito sobre o homem rico após sua morte, que “no Hades, estando em tormentos, levantou os olhos... Aqui, o Hades, representa o lugar de tormento e sofrimento após a morte, enquanto que o seio de Abraão é um lugar ou condição de existência feliz (Conf.: v.25). O Novo Testamento, assim como o Antigo, ensina que o homem não é aniquilado na morte mas continua a existir, seja no Hades ou em um lugar de felicidade às vezes denominado Paraíso ou seio de Abraão. E foi, o próprio, Senhor Jesus quem fez menção do paraíso em Lucas 23.42, 43, nas suas palavras ao ladrão arrependido: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”. A palavra paraíso é usada aqui e em duas outras passagens neotestamentárias: 2Coríntios 12.4 e Apocalipse 2.7. Na passagem de 2Coríntios, Paulo nos conta que ele foi arrebatado ao paraíso numa visão; a expressão paraíso é paralela a terceiro céu do verso 2. Aqui, portanto, paraíso significa céu, o reino dos mortos abençoados e a habitação especial de Deus. Em Apocalipse 2.7, lemos acerca da árvore da vida que está no paraíso de Deus, aqui novamente paraíso se refere ao céu, embora mais o estado final do que o estado intermediário. Concluímos que Jesus prometeu, ao ladrão arrependido, que este estaria com Ele na felicidade celestial naquele mesmo dia.41 Concluímos, então, que tanto o Antigo como o Novo Testamento, ensina que o homem não é aniquilado na morte, mas continua a existir, num estado intermediário, seja no Hades, os ímpios, ou no Paraíso, os salvos. Cabe aqui, um esclarecimento: Tentei até o momento ser o mais imparcial possível na apresentação desta matéria, mas, não sei se conseguirei continuar assim, pois os assuntos escatológicos que passaremos apresentar – os Sinais dos Tempos, o Arrebatamento da Igreja, a Grande Tribulação, a Segunda Vinda de Cristo, o Milênio, o Juízo Final e o Novo Céus e a Nova Terra – creio que são melhor e mais biblicamente explicados do ponto de vista Dispensacionalista Pré-Tribulacionista Pré-Milenista. 2. Os Sinais dos Tempos A expressão “os sinais dos tempos” é literalmente tirada da resposta de Jesus aos fariseus e saduceus em Mateus 16.1-4, onde Jesus chamou a atenção para uma deficiência deles: vocês conseguem prever o tempo pelo aspecto do céu, mas não conseguem olhar para o tempo e perceber que vários sinais já foram dados demonstrando a importância dessa época em que estão vivendo? Jesus quis dizer aos 41

Transcrição direta, com interpretações, modificações e cortes pessoais, do Capítulo 9 – Estado Intermediário, do livro “A Bíblia e o Futuro” de Anthony A. Koekema, Editora Cultura Cristã, 1989, p. 105-119.

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fariseus que Deus deu os sinais dos tempos, mas eles se recusavam a vê-los, isto é, desde o Antigo Testamento, Deus prometera a vinda do Messias e vários sinais indicariam essa vinda. “É naturalmente verdadeiro que “sinais dos tempos”, dos quais Jesus falou, também apontavam para o futuro. Mas, sua indicação primeira não era para o futuro, mas para o passado e o presente”.42 Um outro caso interessante e revelador sobre a compreensão dos sinais dos tempos foi o de João Batista em Mateus 3.11, 12, “quando anunciou que Jesus julgaria as nações ao se manifestar. Quando Jesus se manifestou, porém, esse juízo não foi executado. Por essa razão, quando João Batista estava preso, mandou seus discípulos perguntarem a Jesus: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” (Mt 11.3) Ele claramente não estava entendendo porque Jesus não estava estabelecendo o juízo. Ao que Jesus respondeu: “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço”. (Mt 11.4-6) João havia invertido os eventos que aconteceriam nas duas vindas de Jesus. Sua primeira vinda não foi para julgar o mundo, mas para oferecer e providenciar a salvação. O juízo é a atividade da segunda vinda”43. Koekema, defende a classificação dos sinais dos tempos em três tipos. “Embora seja difícil desenvolver uma visão sistemática desses sinais, poderá ser útil agrupá-los sob os seguintes três títulos: 1º) Sinais que evidenciam a graça de Deus – a Proclamação do Evangelho a todas as nações, a salvação da plenitude de Israel; 2º) Sinais que indicam oposição a Deus – a Tribulação, a Apostasia e o Anticristo; 3º) Sinais que indicam julgamento divino – Guerras, Terremotos e Fomes”44. Segundo essa interpretação, os sinais dos tempos revelam tanto a graça de Deus, como a oposição a Ele e o julgamento dEle. Em Mateus 24 e 25, denominado de “Sermão Escatológico ou Profético”, Jesus fala sobre os sinais que funcionariam como indicativos da proximidade do arrebatamento da igreja, da grande tribulação, da sua segunda vinda e do fim dos tempos. Esse discurso escatológico de Jesus, principalmente em Mateus 24.3-51 (Marcos 13.3-37 e Lucas 21.5-36), é uma passagem muito difícil de se interpretar. O que a torna tão difícil é que algumas partes do ensino se referem obviamente à destruição de Jerusalém, que está no futuro próximo, ao passo que outras partes do sermão se referem a eventos que acompanharão o arrebatamento, a grande tribulação, a sua segunda Vinda e o fim dos tempos. As circunstâncias do sermão são as seguintes: quando os discípulos mostravam a Jesus a construção do templo, Jesus respondeu: “Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra, que não seja derribada” (Mt 24.2). Quando Jesus se assentou no 42

Koekema, p. 147. Lima, Leandro Antonio de. Estudos Bíblicos sobre os Finais dos tempos, Editora Cultura Cristã, p. 39. 44 Koekema, p. 156. 43

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Monte das Oliveiras, os discípulos vieram a ele e disseram: “Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século” (v.3). Observe que a pergunta dos discípulos abrange três assuntos: 1º) Quando sucederão estas coisas? Obviamente uma referência à destruição do templo que Jesus tinha acabado de predizer, as coisas do presente na época e do decorrer da história da Igreja; 2º) Que sinal haverá da tua vinda? A segunda vinda de Cristo, depois do Arrebatamento e após a Grande Tribulação; e 3º) e da consumação do século? Uma referência ao Fim dos tempos. Ao lermos o sermão, porém, percebemos que os aspectos desses três assuntos estão mesclados; questões ligadas à destruição de Jerusalém, configurada pela destruição do templo, estão mescladas conjuntamente com questões relativas ao arrebatamento, a segunda vinda, a grande tribulação e o fim do mundo a tal ponto que, às vezes, é difícil determinar se Jesus está se referindo a um ou outro ou, talvez, a todos. Obviamente, o método de ensino aqui utilizado por Jesus é o da condensação profética, no qual os eventos colocados num tempo distante e eventos do futuro próximos são mencionados como se estivessem bem juntos um ao outro. Este fenômeno tem sido comparado com aquilo que acontece quando se olha para montanhas distantes; alguns picos que estão separados por vários quilômetros pode parecer estarem juntos. Os estudiosos do assunto divergem sobre a interpretação do sermão do Monte das Oliveiras, o Sermão Profético, se ele já foi parcialmente cumprido? A discordância polariza-se no seguinte ponto: Mateus 24.4-14 descreve características gerais do período da Igreja ou tão somente dos sete anos da Grande Tribulação? Esses versículos falam de “guerras e rumores de guerras” (v. 6); “fomes e terremotos” (v. 7); tribulação, martírio, traição, ódio, falsos profetas e corrupção (vv. 9-12). Apesar das discordâncias, entendo que, Mt 24.4-14 em comparação com as condições gerais, apresentadas em 1Tm 4.1-3, 2Tm 3.1-9, 1 Jo 2.18, 1 Jo 4.1-3, servem de alerta para a Igreja quanto a estarmos nos últimos dias. Mas, durante a Tribulação, as condições de Mt 24.4-14 serão sinais específicos dos tempos finais, e os judeus convertidos poderão localizar-se dentro da 70ª Semana de Daniel e perseverar até o final da Tribulação: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” – literalmente liberto do cárcere, quando da vinda do Messias (v. 13). 3. O Arrebatamento da Igreja, Tribunal de Cristo e Ceia das Bodas do Cordeiro a. O Arrebatamento da Igreja O arrebatamento da igreja “é o próximo evento do plano futuro, sendo a bendita esperança do crente o ser arrebatado para o encontro com Jesus nos ares. É uma remoção física, sem passar pela morte; é iminente o seu cumprimento, isto é, não há profecias a serem cumpridas antes dele e não há sinais que o precedam”45, a não ser o que já vimos em Mateus 24.4-14 e o aumento da apostasia e a preparação para a igreja ecumênica. 45

Naves, p. 193.

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O abandono da fé será uma característica desse período (2Tm 3.1), mas, a presença da apostasia não é uma indicação do final do tempo da igreja e sim o aumento dela o é. “A apostasia é tanto presente quanto futura. Quando chegar a seu ponto crítico, conduzirá ao reino do homem da iniquidade durante a tribulação”46 – 2Ts 2.3. Ryrie fala de três características dessa apostasia: 1ª) negação da doutrina Trindade – 1Jo 2.22, 23; 2ª) negação da doutrina da encarnação de Cristo – 1Jo 2.22; 4.3; 2Jo 7; e 3ª) negação da volta de Cristo – 2Pe 3.4. Ele também afirma que o abandono doutrinário sempre traz consigo o declínio da moralidade e mostra em 2Tm 3.1-5, as dezenove características desse declínio listadas por Paulo – egoísmo, avareza, arrogância, blasfêmia, desobediência aos pais, ausência de afeição, inimizade latente que impede os homens de concordarem entre si, calúnia, falta de domínio próprio, crueldade, inimizade com o que é correto, traição, obstinação, precipitação, imprudência, preocupação excessiva, amor aos prazeres e pretensa adoração sem vida piedosa.47 Com a apostasia crescente na igreja, o pano de fundo para a igreja ecumênica da tribulação, já está em andamento. “Essa preparação incluirá o esforço pela unidade da cristandade e também a ascendência de doutrinas que vários grupos apoiarão”48. O arrebatamento da igreja é a remoção de todos os crentes vivos, no instante do ressoar da última trombeta, para o encontro com Cristo, nos ares, com seus corpos transformados, juntamente com a ressurreição dos corpos dos crentes mortos, de todos os tempos até o momento do arrebatamento, tudo acontecerá num abrir e fechar de olhos. (Conf.: 1Ts 4.13-18) A palavra arrebatamento não aparece na Bíblia, mas é empregada corretamente para falar desse evento glorioso. A palavra grega harpazo que aparece em 1Ts 4.17, traduzida por arrebatados, significa arrancar ou levar embora. Em outras passagens onde esse termo aparece ele tem o mesmo significado, por exemplo: 1) em At 8.39, ela é usada afirmar como o Espírito Santo arrebatou Filipe perto de Gaza e o levou para Cesaréia; e 2) em 2Co 12.2-4, para descrever a experiência de Paulo sendo levado ao terceiro céu. Na Bíblia há cinco termos usados para se referirem tanto ao Arrebatamento da Igreja quanto à Segunda Vinda de Cristo. Esse termos são: 1º) Parousia – usado 24 vezes no Novo Testamento significa “presença, ao lado de”. É, na verdade, um termo genérico – 1Co 16.17; Fp 1.26; 2Ts 2.9. É usado em relação ao arrebatamento da igreja – 1Co 15.23; 1Ts 2.19; 4.15; 5.23; 2Ts 2.1; Tg 5.7, 8; 2Pe 3.4 e 1Jo 2.28. É usado em relação à segunda vinda de Cristo – Mt 24.3, 27, 37, 39; 1Ts 3.13; 2Ts 2.8 e 2Pe 1.16. Termo que enfatiza a presença corpórea de Jesus. Isto quer dizer

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Ryrie, p. 537. Ibid., p. 538. 48 Ibid., p. 538. 47

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que quando Jesus vier nas nuvens buscar a sua igreja, Ele não vira espiritualmente, mas fisicamente. 2º) Apokalysis – usado 18 vezes como substantivo e 26 vezes em forma de verbo, significa desvendar, descobrir, revelar e manifestar. É usado em relação ao arrebatamento da igreja em 1Co 1.7; Cl 3.4; 1Pe 1.7, 13. É usado em relação a segunda vinda de Cristo em 1Pe 4.13, 2Ts 1.7 e Lc 17.30. A ênfase está “mais na pessoa de Cristo na sua glória. Normalmente, o termo aparece neste contexto da manifestação da glória de Cristo na sua vinda, tanto para a Igreja como para Israel”49. 3º) Ephiphaneia – usado 5 vezes no Novo Testamento, significa manifestar, fazer brilhar, trazer a luz. É usado para se referir a primeira vinda em Lc 1.79; 2Tm 1.10. É usado em torno do tema arrebatamento da igreja em 1Tm 6.14 e Tt 2.13. É usado para se referir a segunda vinda de Cristo no contexto do reino em 2Tm 4.1. Sua ênfase está no aspecto pessoal e visível. 4º) Erchomenos – significa aquele que está vindo; aquele conhecido pela sua vinda ou aquele que vem. Tornou-se um título para o Messias em Mt 11.3. Foi usado pela multidão exultante em Mt 21.9. E, foi usado em Hebreus, para referir-se à segunda vinda de Cristo, citando Habacuque – Hb 10.37. 5º) Katabaino – significa deslocar para baixo, descer; indica uma direção no ato de vir. É usado para referir-se ao arrebatamento em Jo 6.38 e no contexto da primeira vinda de Cristo em 1Ts 4.16. “Cristo vem buscar o seu corpo formado, a sua noiva (Jo 14.3); será a reunião de todos os crentes da Igreja como um só corpo (2Ts 2.1); Ele transformará os crentes da Igreja, porque carne e sangue não podem herdar o reino de Deus (1Co 15.50); será o cumprimento da promessa da redenção do corpo, o consumar da nossa adoção (Rm 8.23) e será o completar da nossa salvação (1Pe 1.5)”50. As três passagens que falam sobre o Arrebatamento são: João 14.1-3; 1Coríntios 15.50-58 e 1Tessalonicenses 4.13-18. O Arrebatamento da igreja (tanto dos vivos como dos mortos) ocorrerá, assim creio, antes do período de sete anos da Tribulação, ou seja, antes da 70ª semana de Daniel – Dn 9.24-27. Algumas razões porque creio nessa posição: 1ª) A promessa de preservação “da hora da provação” de Ap 3.10, associada ao anúncio da segunda vinda de Jesus no v.11, sugerindo, com muita força, tratar-se do período da Tribulação. O fato de Jesus não ter voltado na geração da igreja a quem se dirigiu tal promessa demonstra que se trata de uma esperança dirigida a toda a igreja (cf. Ap 3.13). Deve-se notar que o texto de Ap 3.10 não diz que os crentes serão

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Naves, p. 200. Ibid., p. 205.

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guardados “na provação”, mas “da hora da provação”. Não significa fortalecer durante o sofrimento, mas evitar que se entre nele. 2ª) Em 1Ts 5.1-11, Paulo afirma que apenas os incrédulos serão alvos do “Dia do Senhor” (v.2), e não os crentes. Quanto a esses, “Deus não os destinou para a ira” (v.9). Apesar de esse texto poder ser compreendido, no âmbito geral, como a perdição eterna, o contexto imediato trata do juízo terreno chamado “Dia do Senhor”, o qual acometerá de surpresa os perdidos. Esse “Dia do Senhor” é associado ao período da Tribulação, para o qual, segundo o texto, os crentes não foram destinados. Além disso, o fato de esse texto (1Ts 5.11) ser imediatamente posterior ao que fala do “Arrebatamento” (1Ts 4.13-18), torna mais clara ainda a ideia de que a igreja, por meio do Arrebatamento, será poupada do período da Tribulação para o qual não foi destinada. 3ª) A completa ausência de menções da igreja nos relatos da Tribulação – Ap 4-19. Para não basear esse argumento apenas no silêncio da Bíblia, é claro o serviço prestado a Cristo naquele período, por parte de judeus, diferente do que ocorre hoje por meio da igreja – Ap 7.4-8; 14.1-5. 4ª) A menção, em 2Ts 2.1-9, da remoção daquele “que agora o detém” antes do "Dia do Senhor” e da revelação do “homem da iniquidade”. A iminência do Arrebatamento – “A doutrina da iminência é o ensinamento de que Jesus Cristo pode voltar e arrebatar a Igreja a qualquer momento, sem sinais ou aviso prévio. O Dr. Renald Showers define e descreve iminência da seguinte forma:  Um evento iminente é aquele que “ameaça acontecer breve; que está sobranceiro; que está em via de efetivação imediata; impendente.” Então, iminência tem o sentido de que algo pode acontecer a qualquer momento. Outras coisas podem acontecer antes do evento iminente, mas nada mais precisa acontecer antes dele. Se alguma outra coisa precisa acontecer antes que um evento possa acontecer, este evento não é iminente. Em outras palavras, a necessidade de outra coisa acontecer primeiro destrói o conceito de iminência.  Já que não se sabe exatamente quando um evento iminente acontecerá, não se pode esperar que um determinado espaço de tempo passe antes do evento iminente acontecer. Logo, devemos estar sempre preparados para que ele aconteça a qualquer momento.  Não se pode marcar ou implicar legitimamente uma data para seu acontecimento. Logo que alguém marca a data para um evento iminente ele destrói seu conceito de iminência, porque assim está dizendo que um determinado espaço de tempo deve transcorrer para que este evento aconteça. Marcar uma data específica para um evento é contrário ao conceito de que ele pode acontecer a qualquer momento.  Não se pode dizer legitimamente que um evento iminente acontecerá em breve. A expressão “em breve” implica que um evento tem que acontecer “dentro de curto

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tempo (após um determinado período de tempo especificado ou sugerido).” Em comparação, um evento iminente pode acontecer em breve, mas não tem que acontecer para ser iminente. Espero que entendam agora que “iminente” não é o mesmo que “em breve.” Várias passagens do Novo Testamento ensinam a iminência. Entre as mais citadas estão: 1 Coríntios 1.7; 16.22; Tito 2.13; Hebreus 9.28; Tiago 5.7-9; Judas 21; Apocalipse 3.11; 22.7,12,17,20.”51 Na sequência dos eventos escatológicos, dois deles subsequentes ao arrebatamento da Igreja acontecerão no céu: o Tribunal de Cristo e as Bodas do Cordeiro. Os eventos na Terra depois do arrebatamento da Igreja acontecem durante a Grande Tribulação. b. Tribunal de Cristo Estão determinados sete julgamentos para o futuro, que são considerados julgamentos escatológicos. Por sua ordem são: 1º) O Tribunal de Cristo – julgamento dos crentes da Igreja – 2Co 5.10; 2º) O julgamento de Israel, a Grande Tribulação, que é também a 70ª Semana de Daniel – Ez 20.33-38; 3º) O julgamento das Nações que ocorrerá quando Cristo na sua segunda vinda descer no Monte das Oliveiras – Mt 25.31-46; 4º) O julgamento de Satanás, que ocorrerá no final do Milênio – Ap 20.7-10; 5º) O julgamento dos anjos – ocorrerá no julgamento do Trono Branco – 1Co 6.3; Jd 6; 2Pe 2.4; 6º) o julgamento do Grande Trono Branco – será o julgamento dos incrédulos de todos os tempos após o Milênio – Ap 20.11-15; e 7º) O julgamento da criação – será a destruição da terra e céus para o surgimento do Novo Céu a da Nova Terra – 2Pe 3.10; Ap 21.1.52 Duas palavras distintas na língua original do Novo Testamento esclarecem bem o sentido da palavra tribunal: criterion, conforme está em Tg 2.6 e 1 Co 6.2, 4; e bema, encontrada em Rm 14.10 e 2Co 5.10. O termo criterion significa “instrumento ou meio para provar ou julgar qualquer coisa”, ou seja, “a regra pela qual alguém julga”, ou “o lugar onde se faz um juízo”, o tribunal de um juiz ou de juízes. O termo bema comumente significa uma “plataforma ou um banco de assento onde o juiz julga”. Havia naquele tempo os tribunais militares e, também, o tribunal (bema) da recompensa, especialmente utilizado nos jogos gregos de Atenas. Os atletas vencedores eram julgados perante o juiz da arena e galardoados por suas vitórias. Paulo usa a palavra bema para se referir ao julgamento do crente e nas suas palavras em 1Co 3.15, as obras serão testadas pelo fogo e, se permanecerem, serão recompensadas com galardões, mas, se elas se queimarem, sofrerá o crente um tipo de dano, mas o mesmo será salvo. Já em Ef 2.10, o apostolo “ensina que Deus preparou obras de antemão, para que andássemos nelas. Essas obras são o que fazemos depois que nos convertemos a Cristo, incluindo a nossa motivação de realizalas”53. 51

http://www.chamada.com.br/mensagens/biblia_futuro.html Naves, p. 177. 53 Ibid., p. 178. 52

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Os aspectos gerais do Tribunal de Cristo são:  O tribunal de Cristo para o crente não acontece logo após a sua morte, mas, se dará por ocasião de um tempo especial e determinado depois do arrebatamento da Igreja.  Não há texto específico que declare o local, mas o contexto bíblico indica que, uma vez a Igreja arrebatada até as nuvens e indo para o céu, a instalação do tribunal de Cristo, inevitavelmente, terá de ser no céu, nas regiões celestiais.  As pessoas julgadas nesse tribunal são os santos remidos por Cristo. O texto de 2 Co 5.1-10 fala daqueles que lutam nesta vida para alcançarem o privilégio de serem revestidos de uma habitação espiritual no céu. Não haverá discriminação nesse lugar. Só entrarão os salvos, os remidos. Não haverá lugar nesse tribunal para julgamento condenatório.  Então, não se trata de examinar quem será salvo ou não. A salvação do crente implica no ato especial da misericórdia divina mediante a aceitação da obra expiatória de Cristo e a sua manutenção enquanto ele estiver neste mundo. Todo crente está livre do Juízo se permanecer fiel até o fim (Rm 8.1; Jo 5.24; 1 Jo 4.17). Então, o julgamento não tratará da questão do pecado, de condenação, uma vez que o pecado já foi abolido na vida do crente e, por isso, ele estará no céu.  O apóstolo Paulo descreve em 1 Co 3.9-15, o cristão como um construtor que usa vários tipos de materiais numa construção. Assim, no sentido espiritual, o valor do seu trabalho vai depender dos materiais que usará para construir sua obra. Paulo adverte: “cada um veja como edifica” (1 Co 3.10). A construção do cristão precisa ser feita sobre um fundamento eficaz e correto, e com materiais de qualidade que dêem sustentação à sua vida espiritual.  Paulo declara ainda, que o exame das obras dos crentes será realizado perante o Filho de Deus (2 Co 5.10). O próprio Jesus falou que todo o juízo é colocado nas mãos do Filho de Deus. Faz parte da exaltação de Cristo depois de Sua conquista no Calvário receber do Pai toda a autoridade e poder para julgar.  O apóstolo Paulo, em 1Co 3.12, mencionou seis diferentes materiais que, figurativamente, representam os elementos que empregamos na construção de nossa vida cristã. Os materiais são indicados como ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno e palha. Os três primeiros são resistentes ao fogo do julgamento de Cristo. Os três últimos são frágeis e não resistem ao juízo de fogo.  Esse tribunal de Cristo avaliará os materiais que temos utilizado na construção do edifício da nossa vida cristã – 1Co 3.13-15. As obras feitas com madeira, feno e palha serão manifestas naquele dia, e o galardão será consoante à avaliação divina. Os materiais de madeira, feno e palha são inflamáveis e perecíveis, por isso, tudo o que for construído com eles não subsistirá.

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 As obras praticadas pelo crente serão submetidas ao julgamento naquele dia para se determinar se são boas ou más. A palavra “mal” na língua grega aparece como kakosou poneros, e ambas significam aquilo que é eticamente mal. Porém, a palavra poneros, além de denotar maldade, tem o sentido de se estar praticando alguma coisa de total inutilidade. Portanto, o que Paulo entendia como obras más era a prática de coisas sem utilidade alguma, feitas com materiais espiritualmente imprestáveis. (2Co 5.10) Em 1Co 3.14,15 está declarado que haverá dois resultados finais do exame, a prova do fogo, das obras manifestas: o recebimento e a perda da recompensa. Perda da recompensa – Esse fogo nada tem a ver com o fogo do Geena (lago de fogo). O fogo do tribunal de Cristo é figura da luz que revela as impurezas, ou seja, a purificação. Portanto, as obras feitas por impulso carnal e para a ostentação da carne não suportarão o calor do fogo de Deus, por mais bonitas que sejam, serão desaprovadas. Obtenção da recompensa – As obras praticadas com materiais indestrutíveis na prova do fogo serão dignas da recompensa final. O Novo Testamento apresenta várias recompensas, mas destaca algumas relativas às atividades especiais. O próprio Senhor Jesus, Juiz desse tribunal, é quem fará a entrega dos prêmios, galardões, recompensas (2Co 9.6). Ele declara a João, na ilha de Patmos, dizendo: “O meu galardão está comigo para dar a cada um segundo as suas obras” (Ap 22.12). O apóstolo Paulo declara, também, que todo crente receberá o seu louvor da parte de Deus (1Co 4.5). Tipos de recompensas – O Novo Testamento usa uma linguagem especial dos tempos do primeiro século da era cristã relativa ao tipo de galardão que os vencedores das olimpíadas gregas e romanas recebiam como prêmio. Havia coroas de vários materiais representando o tipo de vitória conquistada por aqueles vencedores (1Co 9.24, 25).  A coroa da incorruptível – 1Co 9.25 – A vida cristã se constitui numa batalha espiritual contra três inimigos terríveis: a carne, o mundo e o Diabo. Esta coroa é denominada, também, como coroa da vitória, porque se refere à conquista do domínio do crente sobre o velho homem. Para Naves, pelo contexto podemos entender que o crentes que receberão essa coroa serão aqueles que lutaram com perseverança e empenho na vida cristã.  A coroa da alegria – 1Ts 2.19; 20; Fp 4.1 – Esta coroa tem dois aspectos: o aspecto presente – o de ganhar almas para Cristo no evangelismo pessoal, um a alegria que só recebem os que conduzem pessoas a Cristo por meio do Evangelho; e o aspecto futuro – que é o galardão celestial por conduzir pessoas ao céu.  A coroa da justiça (2Tm 4.7, 8). “Linguisticamente, “da justiça” pode significar que a justiça é a fonte da coroa ou que a natureza da coroa é a justiça”54 de Deus em Cristo. É o galardão dos que sendo fiéis no trabalho do Senhor, se caracterizam, no 54

MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1674.

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seu caráter pessoal e no que fazem pelo Senhor, a persistência em aguardar a Cristo a cada dia, na convicção de que ele pode voltar a qualquer momento, mas são firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o ...trabalho não é vão. (1Co 15.57)  A coroa da vida (Ap 2.10; Tg 1.12). Como o próprio contexto das passagens declara, receberão a coroa os que suportarem com perseverança as provações, bem como aqueles que sustentarem a sua fé até a morte, os chamados mártires.  A imarcescível coroa da glória (1Pe 5.2-4). Creio, pelo contexto, que essa coroa é o galardão dos ministros fiéis que promoveram o reino de Deus na Terra, sem esperar recompensa material. O nome dessa coroa é uma combinação de algo terreno como algo celestial. Imarcescível era o nome de uma flor que não murchava e glória é o aspecto visível do Deus Todo Poderoso, seu esplendor. Essas coroas não serão para serem exibidas ou usadas para a ostentação dos crentes remidos e arrebatados, mas para glorificar aquele que os entregou. Um exemplo disso é que fazem os vinte e quatro anciãos em Ap 4.10,11. c. Ceia das Bodas do Cordeiro A palavra boda significa “celebração de casamento”, embora seja mais empregada, popularmente, para referir-se ao aniversário da união conjugal, tal como nas expressões bodas de prata ou bodas de ouro. A primeira vez que a palavra boda aparece na Bíblia é para relatar o casamento de Sansão – Jz 14.12. A Bíblia utiliza muitas vezes a figura da noiva e do noivo para referir-se ao relacionamento da Igreja com Cristo (Mt 9.15; Jo 3.29; 2Co 11.2; Ef 5.22-33; Ap 19.7-9; 21.1-22.7) e as Bodas do Cordeiro, o casamento de Cristo com a igreja, é a expressão máxima desta relação. Este conceito nupcial enfatiza tanto a lealdade, a devoção e fidelidade da Igreja a Cristo, quanto o amor de Cristo à sua igreja e sua comunhão com ela. Em Israel, o noivado é tão sério quanto o casamento. Na história bíblica a mulher comprometida em noivado era chamada esposa e, apesar de não estar unida fisicamente ao noivo, ela estava obrigada à mesma fidelidade como se estivesse casada – Gn 29.21; Dt 22.23,24; Mt 1.18,19. A Igreja é a esposa de Cristo porque está comprometida com Ele – Ap 19.7; 21.9; 22.17. As Bodas do Cordeiro acontecerá entre o Arrebatamento da Igreja e a Segunda Vinda de Cristo à terra, logo após Tribunal de Cristo – Ap 19.8. Este momento tão aguardado está inserido no espaço de tempo conhecido como “Dia de Cristo” – Fp 1.10; 2.16; 2 Ts 2.2. O início deste dia é referido na parábola das dez virgens: “Mas à meia-noite, ouviu-se um clamor” – Mt 25.6. É o fim e o princípio de um tempo (dia, dispensação, era). Nesse sentido, o Dia de Cristo abrange três fatos escatológicos especiais, os quais são: o encontro da Igreja com Cristo nas nuvens, o arrebatamento – 1Co 15.51, 52; 1Ts

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4.14-17; o Tribunal de Cristo – 2Co 5.10; Fp 1.10; 2 Co 1.14; Ef 5.27; e as Bodas do Cordeiro – Ap 19.7. O texto de Ap 19 apresenta Deus assentado no trono, relata o episódio das Bodas do Cordeiro e, em seguida, fala sobre a Segunda Vinda de Cristo sobre o cavalo branco. O texto de 1Ts 4.17 diz que seremos arrebatados para estar com o esposo e na parábola das virgens, as que estavam preparadas foram com o esposo, para as bodas – Mt 25.10. Entre os judeus as bodas duravam sete dias – Jz 14.12, 15, 17, 18; Gn 29.27, 28. As bodas do Cordeiro se prolongarão por sete anos, enquanto aqui na Terra acontecerá a grande tribulação. Esse evento acontecerá, indiscutivelmente, no céu – Ap 19.1; 21.9. Não haveria lugar mais adequado para esse acontecimento extraordinário. Deus preparou coisas excelentes para nós no céu e certamente a festa de casamento de Cristo com Sua igreja será um evento de inigualável esplendor e glória – 1 Co 2.9. Se aqui na terra aqueles que tem riquezas fazem festas magníficas para o casamento de seus filhos, imagine então a que fará aquele que é o dono de tudo – Dt 10.14; 1 Cr 29.11.55 4. A Grande Tribulação, a Segunda Vinda de Cristo e o Milênio

a. A Grande Tribulação A Grande Tribulação ou A Tribulação é o período de 7 anos compreendido entre o Arrebatamento da Igreja, antes da 70ª Semana de Daniel e da Segunda Vinda de Cristo, quando Deus tratará com Israel para restaurá-lo e derramará os seus terríveis juízos contra a humanidade perdida. Tribulação é o termo mais comum para se referir a esse período. Esse termo é usado em pelos menos dois sentidos na Bíblia: 1º) No sentido comum da palavra – João 16.21; At 7.10, 11; 11.19; 14.22; 1Co 7.28 e 2Co 8.13; e 2º) No sentido específico – Mt 24.21; Ap 7.14. Algumas expressões também são usadas para se referir ao período da tribulação, as quais são: Dia do Senhor – Is 11.10, 11; Zc 14.1; Ml 4.1, 5; Tempo de angustia – Jr 30.7; Dn 12.1; Dia de indignação ou ira – Is 26.20; 1Ts 1.10 e Ap 6.16, 17; No fim dos anos – Ez 38.8; Nos últimos dias – Ez 38.16; No tempo do fim – Dn 11.40; Consumação do século – Mt 13.39; e Os últimos tempos – 1Tm 4.1. As condições descritas em Mateus 24 sobre a Tribulação, precisam ser entendidas como julgamentos divinos e não como desastres “naturais”, seguindo o padrão de revelação estabelecido no Velho Testamento. Jesus disse que “... tudo isto é o princípio das dores, literalmente “dores de parto” (v. 8). No Velho Testamento a palavra hebraica para “dores de parto” é usada pelos profetas para simbolizar as terríveis 55

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calamidades associadas ao Dia do Senhor (Is 21.3; Is 26.17-18; Is 66.7; Jr 4.31; Mq 4.10), particularmente ao “tempo da angústia de Jacó” (Jr 30.6-7), ao qual Jesus faz referência em Mateus 24.21, quando descreve a Grande Tribulação. Então, a Grande Tribulação trata-se da época em que Deus começará a agir novamente com Seu povo Israel de maneira coletiva, levando o povo da Aliança ao seu destino final (v. 3), que é a vinda do seu Messias e o estabelecimento de Seu reino. O centro de todas as profecias de Mateus 24 e 25 é ocupado pelos sete anos que são os últimos da 70ª semana de Daniel – Dn 9.24-27. Mateus 24.15 (Conf.: Marcos 13.14) aponta para o texto de Daniel para esclarecimento da profecia feita no Monte das Oliveiras. Conclui-se que Jesus usa a profecia da 70ª Semana de Daniel como patamar para os eventos cronológicos apresentados em resposta às perguntas dos discípulos em Mt 24.3. Isso também acontece em Apocalipse 4-19, onde Jesus, o Autor da visão recebida pelo apóstolo João (Ap 1.1), concede-a com divisões estruturalmente semelhantes à 70ª Semana de Daniel. Colocando os textos lado a lado, descobrimos que o “princípio das dores” de Mateus 24.4-14 se ajusta ao juízo dos selos de Apocalipse 4-6, aonde ambos 1º) focalizam eventos terrenos; 2º) cabem na primeira metade da 70ª Semana de Daniel (Dn 9.27a); e 3º) culminam na profanação do Templo (o “abominável da desolação”) tanto em Mateus 24.15 quanto em Marcos 13.14, o ponto central da 70ª Semana de Daniel (Dn 9.27b). Em seguida, os eventos intensificam-se e conduzem às dores de parto finais de Mateus 24.16-26, que 1º) identificam-se com Apocalipse 7-19; 2º) enfocam a dimensão celestial; e 3º) culminam no surgimento do “sinal” celestial, que anuncia a vinda do Messias para julgar o mundo (Mt 24.27-31; Ap 19). Esses acontecimentos cabem na segunda metade da 70ª Semana de Daniel (Dn 9.27b), que termina na destruição do desolador do Templo (“o príncipe, que há de vir”, o Anticristo, Dn 9.26). Correlação Existe um paralelismo entre certos versículos de Mateus 24 e Lucas 21 com versículos de Apocalipse 6, conforme o quadro. Condição Evangelhos Apocalipse 6 Falsos messias/profetas Mt 24.5,11 v. 2 Guerras Mt 24.6-7 vv. 2-4 Discórdia internacional Mt 24.7 vv. 3-4 Fomes Mt 24.7 vv. 5-8 Epidemias/Pestilência Lc 21.11 v.8 Perseguição/martírio Mt 24.9 vv. 9-11 Terremotos Mt 24.7 v. 12 Fenômenos cósmicos Lc 21.11 vv. 12-14 Adaptado de “Chronology and Sequential Structure of John’s Revelation” em When the Trumpet Sounds (Thomas Ice e Timothy J. Demy).

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Apocalipse 6–19, texto que trata do período da Tribulação, descreve três sequências de juízos: selos, trombetas e taças, cada um em número de sete eventos. Se as três sequências se sucedem cronologicamente, se elas se sobrepõem, ou, ainda, se as trombetas e as taças são descrições dos selos, isso é matéria para muita discussão e muitas dúvidas. Os selos  Primeiro selo (Ap 6.1,2): cavaleiro no cavalo branco que sai para conquistar. Pode indicar, bem no início da Tribulação, o domínio crescente do poder do “homem da iniquidade”. Esse domínio acontece bem quando as pessoas falam em “paz e segurança” (1Ts 5.3);  Segundo selo (Ap 6.3,4): cavaleiro no cavalo vermelho portando uma grande espada, trazendo o fim da paz e guerra entre os homens;  Terceiro selo (Ap 6.5,6): cavaleiro no cavalo preto com uma balança na mão, a qual representa um forte racionamento de comida devido a uma fome rigorosa.  Quarto selo (Ap 6.7,8): cavaleiro, chamado Morte, no cavalo preto. Ele traz morte, por meio da guerra, fome e pestes, a 1/4 da população mundial;  Quinto selo (Ap 6.9-11): iniciam-se a perseguição e o martírio daqueles que testemunharam o nome de Cristo na Terra.  Sexto selo (Ap 6.12-17): haverá eventos catastróficos como um grande terremoto, o escurecimento do Sol e da Lua, chuva de meteoros, montes e ilhas removidos do lugar e algo nos céus que dará aos homens a ideia nítida do juízo que Deus lhes envia;  Sétimo selo (Ap 8.1-6): Um grande silêncio, por meia-hora, seguido por trovões e terremotos que introduzem os sete juízos denominados “trombetas”. As trombetas  Primeira trombeta (Ap 8.7): fogo misturado a sangue cai do céu e queima 1/3 da terra, das árvores e das plantas;  Segunda trombeta (Ap 8.8,9): algo de natureza inexplicável causa a destruição de 1/3 do mar, da vida marinha e das embarcações.  Terceira trombeta (Ap 8.10,11): 1/3 da água potável é afetado trazendo grande sede e morte aos homens;  Quarta trombeta (Ap 8.12,13): danos causados ao Sol, à Lua e às estrelas provocando perda de luz para a Terra tanto de dia como de noite;

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 Quinta trombeta (Ap 9.1-12): primeiro “ai”. Difícil de definir do que exatamente se trata o abismo e os gafanhotos, visto que Ap 9 é o capítulo que mais contém a palavra “como”, introduzindo símiles no lugar de uma descrição literal dos fatos. De qualquer modo, haverá, por 5 meses, um tormento indescritível sobre os incrédulos;  Sexta trombeta (Ap 9.13-21): segundo “ai”. Haverá a morte de 1/3 da população mundial.  Sétima trombeta (Ap 11.15-19): Terceiro “ai”. Há um anúncio de que o fim está próximo e que é chegado o momento do Senhor reinar na Terra. Mesmo assim, ainda haverá 7 taças da ira de Deus a serem derramadas, talvez, nas últimas semanas da Tribulação (Ap 16.1-21), sendo que todas as taças são derramadas ao mesmo tempo sobre a Terra (Ap 16.1). As Taças  Primeira taça (Ap 16.2): feridas terríveis acometem os incrédulos;  Segunda taça (Ap 16.3): destruição do mar e morte completa dos seres marinhos;  Terceira taça (Ap 16.4-7): toda a água potável será afetada trazendo um juízo tremendo pelo sangue dos justos que foi derramado;  Quarta taça (Ap 16.8,9): a intensidade dos raios solares é tão grande que passa a queimar os homens;  Quinta taça (Ap 16.10,11): algo descrito como “o trono da besta será afetado e seu reino ficará em trevas” causará ódio ainda maior dos incrédulos por Deus;  Sexta taça (Ap 16.12-16): o rio Eufrates secará. De certo modo, isso facilitará a travessia dos exércitos dos reis do Oriente (cf. Dn 11.44);  Sétima taça (Ap 16.17-21): completam-se todas as coisas e ocorre o maior terremoto de todos os tempos causando inúmeras destruições. Caem dos céus, também, pedras de cerca de 35 quilos provocando terrível destruição e blasfêmias contra Deus por parte dos incrédulos.

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Correlação Há correlação entre o discurso do Monte das Oliveiras (Mt 24-25) e a seção de juízos do livro do Apocalipse (capítulos 4-19) com as divisões estruturais da 70ª Semana de Daniel no Antigo Testamento. Lembre-se que essa “semana” profética representa sete anos. Primeira Metade da Semana Dn 9.27a Início, dores de parto (foco terreno) Ap 4-6 Juízo dos selos Mt 24.4-14; Mc 13.4-13; Sinais preliminares Lc 21.8-19 Segunda Metade da Semana Dn 9.27b Eventos principais Ap 7-13 Juízos das trombetas Mt 24.15; Mc 13.14-23; O abominável da desolação Lc 21.20-24 Conclusão da Semana Dn 9.27b Dores de parto finais (foco celestial) Ap 14-19 Juízos das taças Mt 24.29-31; Mc 13.24-27; A parousia (“presença física”) e o encerramento Lc 21.25-28 dos tempos finais Adaptado de The Desecration and Restoration of the Temple as an Eschatological Motif in the Tanach, Jewish Apocaliptic Literature and the New Testament (Randall Price). Outros eventos importantes durante a Grande Tribulação Os remidos Quando o quinto selo é aberto (Ap 6.9-11) iniciam-se a perseguição e o martírio daqueles que testemunharam o nome de Cristo na Terra. Sabendo que todos os crentes foram arrebatados antes da Tribulação, podemos notar esses que serão perseguidos crerão em Cristo durante aquele período. Portanto, o evangelho será pregado nessa época possivelmente pelos servos de Deus que foram selados. Trata-se de 144 mil judeus solteiros do sexo masculino, doze mil de cada tribo de Judá com exceção da Tribo de Dã e Efraim, e são chamados de “servos do nosso Deus”. (Ap 7.3-8; 14.1-4) Eles certamente não serão os únicos a pregar naqueles dias. Outros pregarão e serão perseguidos e mortos (Mt 24.9). Mesmo assim, o evangelho será pregado por toda parte e haverá conversões por parte dos judeus espalhados por todas partes (Mt 24.14).

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Ataque frustrado a Israel Durante o período de aparente paz (provavelmente no final dele), uma confederação do norte atacará Israel (Ez 38–39). Os possíveis participantes, segundo Ez 38.1-6, são Rússia (Gogue e Magogue), Irã (Pérsia), Sudão (Etiópia), Líbia (Pute), Ucrânia (Gômer), Turquia e Síria (Togarma). Esse ataque ocorrerá depois do tratado de paz, quando os israelitas habitarem sua terra tendo retornado do exílio mundial. Haverá protestos da parte do Ocidente e da Arábia Saudita (Ez 38.13). Essa coligação será derrotada por intervenção divina (Ez 38.21,22) e levará 7 meses para enterrar os mortos (Ez 39.12). Tal destruição dos inimigos causará um grande testemunho para o mundo e para os israelitas incrédulos (Ez 38.23; 39.7,13,21-24). É possível que esse evento tanto traga o “homem da iniquidade” para atuar dentro da Palestina como produza conversões entre os israelitas e a consequente perseguição do “homem da iniquidade” por desejar uma adoração que não pode mais ter devido à fé dos que creram. As duas testemunhas Durante a primeira metade da Tribulação, duas testemunhas desenvolverão uma atividade de proclamação como de profetas (Ap 11.3-13). Farão isso por 1.260 dias (primeiros 3½ anos da Tribulação) e parecem exercer poder sobre a natureza (vv.3-6). Cumprida sua tarefa e seu tempo, a besta (o homem da iniquidade) vai vencê-las e deixar seus corpos expostos em uma praça de Jerusalém (vv.7-9). Durante 3 dias e meio, haverá festa pela morte das testemunhas, mas, ao final disso, elas serão ressuscitadas e levadas ao céu. Um décimo da cidade será destruído causando a morte de 7 mil pessoas (vv.10-13). Atuação do homem da iniquidade (a besta) A primeira parte da Tribulação tem o “homem da iniquidade” como um líder capaz de resolver problemas entre nações trazendo-lhes paz. Entretanto, o evento descrito em Dn 9.27 demonstra seu real caráter e dá início à segunda metade da Tribulação. A partir de então, a besta se assentará no santuário de Deus e como Deus se apresentará, exigindo ser adorado (2Ts 2.3,4). Não é sem motivo que a besta se apresentará como Deus, pois Satanás lhe dará poder e autoridade (Ap 13.2), além de poderes sobrenaturais (2Ts 2.9). Durante essa época, a besta será “ferida de morte”, mas sua recuperação inacreditável fará com que seja seguida por muita gente, que também adorará a Satanás (Ap 13.3,4). Na sequência, nos próximos 42 meses (3½ anos), a besta agirá com poder e engano, perseguindo e vencendo os crentes e sendo adorada pelo mundo todo (Ap 13.5-8). Haverá também, por parte do homem da iniquidade e das nações que o servem, a perseguição e destruição da igreja apóstata/ecumênica (Ap 17.16).

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A segunda besta (falso profeta) Para promover seus intentos e a adoração a si, a primeira besta (o homem da iniquidade) faz surgir uma segunda besta (falso profeta). A segunda besta em momento algum promove a si mesma, mas ao homem da iniquidade (Ap 13.11-18). Tem a autoridade da primeira besta e realiza sinais (vv.12,13). Vai exaltar o fato de a primeira besta não ter sucumbido diante da ferida mortal (v.14). Fará uma imagem da besta e lhe dará vida (ou a aparência de uma imagem viva) a fim de atrair adoração (v.15). Finalmente, cria uma marca que somente os adoradores da besta receberão e com a qual poderão realizar operações comerciais (vv.16-18). A igreja apóstata/ecumênica No período da Tribulação, atuará uma igreja apóstata (será disso que trata a apostasia de 2Ts 2.3?) chamada de grande meretriz. Apocalipse 17 fala sobre tal igreja demonstrando se tratar de uma instituição rica (v.4), modelo de outras instituições ligadas a ela (v.5), que se alegra com a perseguição e morte das testemunhas de Jesus (v.6). Essa instituição tem uma abrangência mundial (v.15) e sucumbirá diante do homem da iniquidade e das nações a ele associadas (v.16). O Armagedom No final da Tribulação, reinos do Norte e do Leste virão sobre Israel, facilitados pela seca do Eufrates, à planície de Esdraelon, defronte ao monte Megido (do hebraico harmegiddô). Trata-se de um vale que mede cerca de 30 x 20 km. Outros locais de conflito serão Jerusalém (Zc 12.9; 14.12; 14.4) e Bozra – atual Petra – (Is 63.16). Essas três regiões compreendem o Norte, o Centro e o Sul de Israel, respectivamente. No meio da batalha, o Senhor Jesus voltará com seus exércitos celestiais e derrotará os exércitos terrenos (Ap 19.11-21). O morticínio será indescritível (Ap 14.20; 19.17,18).56 b. A Segunda Vinda de Cristo O Arrebatamento é a retirada da Igreja da terra para o céu, a da Segunda Vinda é a volta de Cristo à terra para resgatar Israel durante o Armagedom. A segunda vinda não vai surpreender quase ninguém. As Escrituras anunciam a segunda vinda de Cristo quando todos os sinais já tiverem sido cumpridos e todos souberem que Ele está voltando. A um Israel descrente, Cristo declarou: “Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas” – Mt 24.33. No entanto, a Escritura diz que o Messias virá quando o mundo estiver quase destruído pela guerra, fome e os juízos de Deus, e quando Israel estiver quase derrotado. Então, Deus declara: “olharão para aquele a quem traspassaram” (Zc 12.10b), e todos os judeus vivos na terra reconhecerão seu Messias que retornará 56

Baseado no livro Teologia Básica, de Charles Ryrie (Mundo Cristão). Material foi resumido e adaptado pelo Pr. Thomas Tronco da IBR.

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como “Deus forte, Pai da Eternidade” (Is 9.6): exatamente como os profetas previram, Ele veio como homem, morreu pelos seus pecados, e retornará, dessa vez para salvar Israel. Sobre esse momento culminante, Cristo declara: “Aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mt 24.13). Paulo adiciona: “...todo o Israel [ainda vivo] será salvo” ... (Rm 11.26). Somente uma vinda do Messias era esperada por Israel. Ele iria resgatar Israel e estabelecer Seu Reino sobre o trono de Davi em Jerusalém. Por essa razão os rabinos, os soldados e a multidão zombaram dEle na cruz – Mt 27.40-44; Mc 15.18-20; 29-32; Lc 23.35-37. Apesar de todos os milagres que Jesus tinha feito, os discípulos, da mesma forma, tomaram Sua crucificação como a prova conclusiva de que Ele não poderia ter sido o Messias. Os dois na estrada de Emaús disseram: “...nós esperávamos que fosse Ele quem havia de redimir Israel” (Lc 24.19-21) – mas agora Ele estava morto. Cristo os repreendeu por não crerem “tudo o que os profetas disseram!” (Lc 24.25). Este era o problema comum: deixar de considerar todas as profecias. Israel tinha uma compreensão unilateral da vinda do Messias que lhe permitia ver apenas Seu reino triunfante e o deixava cego para Seu sacrifício pelo pecado e continua assim atualmente. Até mesmo muitos cristãos estão tão obcecados com pensamentos de “conquista” e “domínio” que imaginam ser responsabilidade da Igreja dominar o mundo e estabelecer o Reino de Deus, para que o Rei possa retornar à terra para reinar. Eles se esquecem da promessa que Ele fez à Sua Noiva de levá-la ao céu, de onde ela voltará com Ele para ajudá-lo a governar o mundo. Como poderia Cristo executar julgamento sobre a terra, vindo do céu “entre suas santas miríades (multidões de santos)” (Jd 14), se primeiro não as tivesse levado para o céu? Na ocasião do Arrebatamento Jesus trará a alma e o espírito dos cristãos fisicamente mortos para serem reunidos com seus corpos na ressurreição, levando-os para o céu juntamente com os vivos transformados. Na Segunda Vinda Ele trará consigo de volta à terra os santos vivos, que já foram ressuscitados e previamente levados ao céu no Arrebatamento. Antes da volta de Cristo com os Seus santos, haverá o Tribunal de Cristo (2 Co 5.10; 1 Co 3.12-15) e a celebração das Bodas do Cordeiro com Sua Noiva (Ap 19.7). Os santos estarão vestidos de linho fino, branco e puro (Ap 19.8). Certamente eles devem ser também o exército vestido de linho fino, branco e puro (Ap 19.14) que virá com Cristo para destruir o Anticristo. Aqueles que estão com seus pés plantados na terra, esperando encontrar um “Cristo”, esquecem que o verdadeiro Cristo virá nos buscar para nos encontrarmos com Ele nos ares e nos levará para a casa de Seu Pai. Eles se esquecem também que o Anticristo estabelecerá um reino terreno antes que o verdadeiro Rei volte para reinar. Infelizmente, os que se empenham em estabelecer um reino nesta terra estão preparando o mundo para o reino fraudulento do “homem do pecado”. Não há forma de colocar dentro de um só evento o que os profetas disseram sobre a vinda do Messias. Simplesmente tem de haver duas vindas: primeiro como o Cordeiro

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de Deus, para morrer pelos nossos pecados, e depois como o Leão da Tribo de Judá, em poder e glória para resgatar Israel no meio da batalha do Armagedom. (Os 5.14-15; Ap 5.5) A mesma coisa acontece no Novo Testamento, o arrebatamento da Igreja é uma coisa e a Segunda Vinda de Cristo é outra. Note as muitas contradições, a menos que estes sejam dois eventos:  Ele vem para Seus santos e numa hora que ninguém espera; mas vem com Seus santos quando todos souberem que Ele está vindo.  Ele não vem à terra mas arrebata os santos para se encontrarem com Ele nos ares (1 Ts 4.17); por outro lado, Ele vem à terra: “naquele dia, estarão Seus pés sobre o monte das Oliveiras” (Zc.14.4), e os santos vem à terra com Ele.  Ele leva os santos para o céu, para as muitas mansões na casa de Seu Pai, para estarem com Ele (Jo.14.3); mas traz os santos do céu (Zc 14.5, Jd 14).  Ele vem para Sua Noiva num tempo de paz e prosperidade, bons negócios e prazeres (Lc 17.26-30); mas volta para salvar Seu povo Israel quando o mundo já terá sido praticamente destruído, em meio ao pior conflito já visto na terra, a batalha do Armagedom. Sim, há uma vinda do Senhor após a Tribulação: “Logo em seguida à tribulação daqueles dias... verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória” (Mt 24.29-30). A referência aos anjos “reunindo Seus escolhidos dos quatro ventos” (vv. 29-31) certamente não significa Cristo arrebatando Sua Igreja para levá-la ao céu, pois trata-se do ajuntamento do Israel disperso, de volta à sua terra quando da Segunda Vinda. Cristo associou o mal com o pensamento de que Sua vinda se atrasaria: “Mas, se aquele servo, sendo mau, disser consigo mesmo: Meu Senhor demora-se” (Mt 24.48; Lc 12.45). Novamente, essa afirmação não tem sentido se o Arrebatamento vem após a Tribulação. Não existe motivo maior para uma vida santa e um evangelismo diligente do que saber que o Senhor poderia nos levar ao céu a qualquer momento. Que a Noiva acorde do seu sono, apaixone-se novamente pelo Noivo, e de coração diga continuamente por meio da sua vida diária: “Vem, Senhor Jesus!”57 c. O Milênio Dois erros são comuns ao se tratar do reino de Cristo. Um deles é considerá-lo cumprido na primeira vinda de Cristo, já que as promessas a Davi não se cumpriram nessa ocasião (2Sm 7.11-16). Outro deles é considerar a soberania de Cristo, que reina sobre tudo, como o cumprimento atual da promessa do reino, já que o que foi 57

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prometido não é apenas seu reinado soberano sobre a criação, mas seu reinado sobre o trono específico de Davi (Lc 1.31-33). O fato é que o reino de Cristo ainda não aconteceu e a falta dessa compreensão é antiga (Lc 19.11). Por isso, entendemos que esse é um reino que ainda há de ser instituído, período que recebe o nome de “milênio”, ou “reino milenar de Cristo”. Apocalipse 20.2-7 diz seis vezes que o tempo do milênio é de “mil anos”. Apesar de estudiosos de outras linhas doutrinárias e hermenêuticas afirmarem que o termo “milênio” é simbólico e representativo, a repetição insistente da expressão “mil anos” demonstra sua literalidade e importância. Governo do Milênio Será uma teocracia, assim como havia em Israel entre a saída do Egito (1446 a.C.) e a instituição da monarquia (1051 a.C.). Jesus reinará de maneira visível sobre a humanidade (Dn 7.14) com poder absoluto (Ap 19.15). Haverá justiça completa (Is 11.4). Jerusalém será a sede desse governo (Is 2.3). A cidade será exaltada (Zc 14.10) e gloriosa (Is 24.23), para sempre segura (Is 26.1-4) e nela repousará o templo (Is 33.20). Um descendente de Davi será o rei, a saber, o Messias (Jr 30.9; Ez 37.24, 25; Lc 1.3133). A autoridade das doze tribos de Israel será entregue aos doze apóstolos (Mt 19.28). Haverá autoridade para outros príncipes (Is 32.1). A Igreja também terá participação no governo da Terra (Ap 5.9,10). Inicialmente são judeus e judeus-gentios redimidos que sobreviveram à Tribulação. Contudo, todos os recém-nascidos serão exatamente como os de hoje, necessitando de uma decisão pessoal, por meio da fé em Jesus, para serem também redimidos. A obediência política ao Rei não implicará transformação interior que vem da justificação. Assim, ser súdito e ser salvo, naquele tempo, serão duas coisas independentes. Esses, com corpos mortais, dividirão espaço com a Igreja ressurreta, em corpos glorificados e imortais (1Co 15.42-54). Características  Justiça — Jesus exercerá um governo justo (Is 16.5; 32.1) e as punições serão imediatas (Is 11.4).  Paz — Haverá paz e unidade entre as nações (Is 19.23-25). Jerusalém desfrutará uma paz que desconhece há muito tempo (Zc 8.4,5), paz que se estenderá a toda a Terra (Is 2.4).  Prosperidade — A Terra será próspera e farta de alimentos (Am 9.13,14) e até os desertos serão produtivos (Is 35.1-7).  Religiosa — O conhecimento do Senhor será amplo sobre toda a Terra (Is 2.2,3). O templo de Jerusalém (Ez 40–48) estará em funcionamento e sacrifícios serão oferecidos. Alguns dispensacionalistas acreditam que tais sacrifícios terão valor

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memorial, enquanto outros acreditam que farão purificação cerimonial. Haverá a observância de dias e festas (Ez 46.1-15; Zc 14.16).58 5. O Juízo Final Apocalipse 19 termina com a Segunda Vinda de Cristo e a Batalha do Armagedom, acontecimento que marcam o final da Grande Tribulação. Em Ap 20 temos a narrado da prisão de Satanás, o Milênio, a rebelião final de Satanás e o Grande Julgamento do Trono Branco que, cronologicamente se encaixam entre o final da grande tribulação e a criação do novo céu e da nova terra – Ap 21-22. O julgamento final ou juízo final é chamado de juízo do trono branco porque Ap 20.11 fala da visão de um “grande trono branco”, seguida da fuga da presença da terra e do céu. Ocorrerá depois do término do Milênio. Na Bíblia, este julgamento é explicitamente mencionado, pela primeira vez, por Daniel (Dn 7.9, 10), sendo algo que era de pleno conhecimento dos judeus, como mostra Marta, irmã de Lázaro, quando se dirigiu ao Senhor quando Este chegou a Betânia quatro dias após a morte de Seu amigo (Jo 11.24). A Bíblia fala de alguns julgamentos:  Julgamento das obras dos crentes, da Igreja — Esse julgamento ocorrerá logo depois do Arrebatamento. As passagens principais que falam desse julgamento são 1Co 3.10-15 e 2Co 5.10. É o “Tribunal de Cristo” julgará somente crentes, não para condenar qualquer um deles (Rm 8.1), mas para avaliar e premiar suas obras.  O julgamento de Israel, a Grande Tribulação, que é também a 70ª Semana de Daniel – Ez 20.33-38. Os aprovados desfrutarão das bênçãos da Nova Aliança (Ez 20.37) enquanto os reprovados não poderão entrar em Israel (Ez 20.38), mas serão lançados nas “trevas exteriores” (Mt 25.30).  O julgamento das Nações que ocorrerá quando Cristo na sua segunda vinda descer no Monte das Oliveiras – Mt 25.31-46. Joel profetizou que o local de tal julgamento é o “vale de Josafá” (Jl 3.2). Alguns acreditam que se trata do vale do Cedron. Contudo, pode ser uma referência não a um lugar, mas ao acontecimento, já que Josafá significa “Javé julga”.  O julgamento de Satanás, que ocorrerá no final do Milênio – Ap 20.7-10. Os santos participarão desse julgamento (1Co 6.3).  O julgamento dos anjos – ocorrerá no julgamento do Trono Branco – 1Co 6.3; Jd 6, 7; 2Pe 2.4;  O julgamento do Grande Trono Branco – será o julgamento dos incrédulos de todos os tempos após o Milênio. No final do reino milenar de Cristo, todos os incrédulos 58

Baseado no livro Teologia Básica, de Charles Ryrie (Mundo Cristão). Material foi resumido e adaptado pelo Pr. Thomas Tronco da IBR.

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mortos serão ressuscitados e julgados para condenação (Dn 12.2). Esse julgamento, também chamado de “ressurreição do juízo” (Jo 5.28,29), acontecerá diante do grande trono branco (Ap 20.11-15), onde Jesus será o juiz (Jo 5.22,27). Serão abertos livros das obras pecaminosas dos incrédulos, além do Livro da Vida, o qual não conterá o nome de nenhum deles. Serão condenados e lançados no fogo eterno (Mt 25.41). Esse é o fim da história. Ela dá, então, início à eternidade.  O julgamento da criação – será a destruição da terra e céus para o surgimento do Novo Céu a da Nova Terra – 2Pe 3.10; Ap 21.1.59 Apocalipse 20.1-15 é um relato muito claro sobre o Juízo Final: Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo. 6. O Novo Céu e a Nova Terra Os dois últimos capítulos de Apocalipse descrevem de forma radiante o destino final dos salvos. O novo céu e a nova terra criados em cumprimento as promessas de Deus, não possuem separação. A presença de Deus é plena em ambos os lugares e os redimidos desfrutam de todo o favor e graça que essa presença inspira. Esse é um lugar ausente de qualquer tipo de sofrimento ou macula. É um lugar de propósitos eternos e inabaláveis. Um lugar de descanso e atividade, porém, ausente de qualquer frustração ou limitação imposta pelo pecado. A descrição da cidade santa, a nova Jerusalém, é de tirar o fôlego. Deus é o Cordeiro são os personagens principais centrais desse cenário. A última revelação de Deus conduz todas as revelações anteriores a um clímax. Ela completa o propósito de Deus de reunir todas as coisa sob uma só cabeça – Cristo.60 MacArthur comentando Ap 21-22, diz: “Na abertura do capítulo, os pecadores de todos os tempos, tanto demônios quanto homens, inclusive Satanás, a besta e o falso profeta, estão no lago de fogo para sempre. Todo o universo foi destruído, e Deus cria um novo universo para que seja o lugar de habitação dos redimidos. Todo o universo, como o conhecemos agora, será destruído (2Pe 3.10-13) e substituído por uma nova criação, que durará para sempre. Essa é uma realidade do Antigo Testamento (Sl 102.25, 26; Is 65.17; 66.22), bem como do Novo testamento (Lc 21.33; Hb 1.10-12). Nesse ponto da cronologia de Apocalipse, os santo do Antigo Testamento, os santos da Tribulação e todos os convertidos durante o reino milenar serão incorporados na noiva 59 60

Naves, p. 177. Lima, p. 90.

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redimida e habitarão na nova Jerusalém. João descreve a consumação de todas as coisas em Cristo e a nova Jerusalém eterno”61. Após a dissolução do céu e da terra atuais, que passarão por um estrepitoso estrondo (Ap 20.11; 2Pe 3.10), no fim do milênio, Deus criará um novo céu e uma nova terra (Is 65.17; 66.22; 2Pe 3.13; Ap 21.1). Por meio de um ato definido de criação, Deus faz surgir um novo céu e uma nova terra. Neste momento a cidade santa, a nova Jerusalém desce e se insere num novo espaço, sim, no novo céu e na nova terra. A nova Jerusalém irá descer e se acoplará na nova terra criada por Deus. Apocalipse 21.1, 2 – “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo”. Então se cumprirá Ap 21.3 – “...Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles”. A criação do novo céu e da nova terra é o ato preparatório final que antecipa a eternidade. Nesse novo céu e nessa nova terra, junto com a nova Jerusalém celestial, habitará a Justiça – 2Pe 3.13 Já que as Escrituras revelam que a igreja estará com Cristo, conclui-se que a morada eterna da igreja também será na nova terra, na cidade celestial, Nova Jerusalém, preparada especialmente por Deus para os santos. Tal relacionamento seria a resposta da oração do Senhor aos que Deus Lhe concedeu: João 17:24 – “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste". Já que a glória eterna de Cristo será manifestada no reino eterno, no Seu governo eterno, é natural que a igreja esteja presente para contemplar a glorificação de Cristo para sempre. É praticamente impossível descrever quão maravilhosa será a cidade santa, a Nova Jerusalém. Não existe nada neste mundo a que se possa compará-la. Sua beleza está acima de qualquer coisa que vimos nesta terra. Algumas considerações descritas nas Escrituras sobre a Nova Jerusalém:  Não haverá mais maldições – Ap 22.3; 21.27.  Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro – Ap 22.3.  O Senhor fará da cidade a sua própria morada – Ap 21.3; 22:3.

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MacArthur, p. 1808.

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 A Cidade é composta com uma comparação de tudo que é de mais precioso na terra – Ap 21.11-21.  Nela estará a glória de Deus – Ap 21.11, 23; 22.5.  Nela não haverá noite – Ap 21.25; 22.5.  A luz do Senhor a iluminará – Ap 21.23; 22.5.  Ela será o centro do reino eterno – Ap 21.26; 22.5).  Ela iluminará todos os povos que irão trazer a sua glória – Ap 21.24, 26. As Escrituras mostram, também, alguns relances da vida na eternidade:  Uma vida de comunhão com Deus – 1Co 13.12; 1Jo 3.2; Jo 14.3; Ap 22.4.  Uma vida de descanso – Ap 14.13.  Uma vida de total entendimento – 1 Co 13.12.  Uma vida de santidade – Ap 21.27.  Uma vida de alegria – Ap 21.4.  Uma vida de serviço – Ap 22.3.  Uma vida de abundância – Ap 21.6.  Uma vida de glória – 2 Co 4.17; Cl 3.4.  Uma vida de adoração – Ap 19.1; 7.9-12. Estaremos totalmente ocupados com Aquele "que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai" (Ap 1.5-6). Deus será então tudo em todos, conforme está escrito em 1Co 15.28 – “Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”. E para sempre continuará o eterno e perfeito estado.62

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http://escatologiaestudos.blogspot.com.br/2013/02/11-nova-jerusalem.html

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Conclusão Quero terminar esse estudo da Escatologia bíblia como comecei, enfatizando que o propósito das verdades escatológicas na Palavra de Deus é nos consolar e nos dar esperança e segurança. Nossa base bíblica foi e é 1Ts 4.13-18, onde Paulo revela o motivo pelo qual escreve sobre a segunda vida de Cristo (v.13), onde descreve a segunda vinda e dá segurança de que essa é uma verdade que acontecerá (v.14, 15) e aconselha a igreja do seguinte modo: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (v.18). Faço desse texto paulino minha oração por você: Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras. 1Tessalonicenses 4.13-18 Pr. Walter Almeida Jr. ETBL, julho de 2013

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Bibliografia Berkhof, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica, JUERP, 1985. Erickson, Millard J. Escatologia – a polêmica em torno do milênio, Vida Nova, 2010. Erickson, Millard J. Introdução a Teologia Sistemática, Vida Nova, 1997. Ferraz, Luiz Antônio. Estudos Escatológicos, IBPIBJP, 1985. Hunt, Dave. TBC - http://www.chamada.com.br Koekema, Anthony A. A Bíblia e o Futuro, Editora Cultura Cristã, 1989. Ladd, George Eldon. Apud, Robert G. CLOUSE, O Milênio. Lima, Leandro Antonio de. Estudos Bíblicos sobre os Finais dos tempos, Editora Cultura Cristã. MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010. Naves, Edison. Escatologia e a Vida de Santidade, Igreja Batista Maranata, 2009. Ryrie, Charles Caldwell. Teologia Básica, Mundo Cristão, 2004. Tronco, Pr. Tomas. Estudo Baseado no livro Teologia Básica de Charles Ryrie (Mundo Cristão). www.chamada.com.br www.doutrinas.blogspot.com.br www.escatologiaestudos.blogspot.com.br www.geracaomaranata.com.br www.monergismo.com