ELAINE FIGUEIREDO ALBUQUERQUE

O GENERO MICROCERBERUS KARAVLAN, 1933 DA FAUNA

INTERSTICIAL DO LITORAL

SUL

DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO (ISOPODA-ANTHURIDAE)

Dissertação de Mestrado apresentada

i

Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Zoologia, da Universidade do Rio de Janeiro.

Ri·o de Janeiro 1971 /1-if

Federal

ORIENTADOR: Dr. Alceu Lemos de Castro.

,.

SUMÁRIO

AGRi\DE C I�lENTOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

I

INTRODUÇÃO............. .. ..... . .. .... ...... .... .. .. .... .....

1

Primeira Parte: METODOLOGIA I . O MEIO A. Fisiografia.......................................

4

B. Sedin1entologia.....................................

7

C. Hidrologia 1- Temperatura........................·•.·····

11

2- Salinidade: .................... � ...........

12

3- Oxig�nio dissolvido........................

14

II. TfCNICAS DE COLETA E ANÁLISE A. Coleta............................................

16

B . E x t r a ç ão d a f a un a......... .... .. .. ............ .. ..

2o

C. Anestesia, fixação e preservação. . ................

23

D. Triagem e coloração............................... Ew Preparação dos esp;cimes ................ ,, ... , .... F. Biometria.........................................



Segunda

24 25 27

Parce: MORFOLOGIA E SISTEMÁTICA

I. Microcerberus Karaman, 1933 A. Histórico.............................··············

28

B. Sistemática 1- Familia Anthuridae... ........................

36

2- Subfamília Microcerberinae. . . . . . .. . . . . . . .

3- Gênero Microcerberus .... . . . . . . . . . . . . . . . . . 4- Microcerberus magnus n. s p................ 5- Microcerberus ramos ae n. s p ...............

36 37 38 48

6- Micr-ocerberus parvulus n. s p .............. ·

58

7- Microcerberus bras iliens is n. s p ..........

68

II. POPULAÇÕES DE MICROCERBERUS KARAMAN, 1933 A. Variação anual da população de

Micr-ocerberus

ramos ae n. sp. na praia Ver�elha. . . . . . . . . . . . . . .

78

B. Distribuição das espécies do gênero Microcerbe rus Karaman, 1933 no litoral sul do Estado

do

Rio de Janeiro................................

82

III. ALGUNS DADOS BIOGEOGRÁFICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

85

CONCLUSÕES..............................................

88

RESUMO............ ......................................

92

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

93

PRANCHAS

I AGRADECIMENTOS � com grande prazer que exprimimos aqui, antes de

expor

nossas pesquisas, o nosso rtconhecimento a tod�s aqueles que, de um modo ou de outro, nos deram a sua colaboração: Dr. Alceu Lemos de Castro, Coordenador do Curso de

Pós­

Graduação em Zoologia da Universidade Federal do Rio de Janei ro e pesquisador do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que nos testemunhou sua confiança aceitando a orientação deste

traba

lho. Dr! Jeanete Maron Ramos, Titular de Oceanografia e

Dire

tora de Pesquisa da Universidade Santa Úrsula que, com seu en tusiasmo e experiência no campo científico, foi para nós

in

centivo e apoio valiosos. Dr. Hugo de Souza Lopes, pesquisador e Chefe dos Departa mentes de Biologia da Universidade Santa Úrsula, cuja

experi

ência em Zoologia nos foi preciosa na redação definitiva

des

ta monografia. Dr. Herman Lent, pesquisador e professor Titular de

Zoo

logia da Universidade Santa Orsula, e Dr. Arnaldo C. dos

San

tos Coelho, pesquisador do Museu Nacional do Rio de Janeiro , pelas críticas e sugestões apresentad�s. Dr! Jeanne Renaud-Mornant, pesquisadora do Museu de

His

tória Natural de Paris e Dr. Gustavo de Oliveira Castro,

pe�

quisador do Departamento de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelas sugestões em certas questões

metodo

II lógicas. Professora Thereza Christina Figueiredo de Brito

pesqui

sadora da Universidade Santa Ürsula, e Carlos Alberto Rego Mog teiro Araujo Lima, estagiário de Oceanografia e Biologia Mari nha da Universidade Santa Ürsula, pelo auxílio

nas

técnicas

de sedimentologia e dosagens hidrológicas. Queremos, enfim, agradecer a todos aqueles pesquisadores ou técnicos que, a título diverso, se interessaram por

nosso

trabalho. Não podendo enumerá-los todos citaremos apenas: Irmã Francisca Weishtlupl, Titular de Botânica da sidade Santa Ürsula, e Dr� Nicole Boury-Esnault,

Univer

pesquisad� va

ra do Museu Nacional de História Natural de Paris, pelas liosas traduções e aquisições bibliográficas. Aos amigos Jorge dos Santos Almeida, Joroslav Kaucky Marcioly Medeiros Bento que devemos a iconografia desta

e

memo

ria. Aos amigos Jorge Anizio Raymundo da Silva e Tania Nasser, cuja �juda eficaz muito contribuiu para a realização meterial desta dissertação. A todos os funcionários e técnicos do

laboratório

Biologia da Universidade Santa Ürsula, pela permanente e liosa cooperação durante todo o período de coletas,

de va

especial

mente José Zacharias Xavier, José Tavares Gomes e Antonio Car los Medeiros Simas. Este trabalho não teria sido possível sem a

colaboração

dos nossos amigos e colegas da Universidade Santa Ürsula e do

III

Museu Nacional do Rio de Janeiro, os quais serr�re nos encoraj� ram nas horas difíceis. Finalmente queremos deixar aqui consignado nossc agradeci menta à Universidade S�nta D�sula, onde foi realizada a parte desta pesquisa e ao Museu Nacional e Fundação Cruz pelo uso de suas bibliotecas.

maior Oswaldo

1

INTRODUÇÃO

-

No interior do meiobentos, a fauna intersticial .

sopsam1ca ocupa lugar importante, apesar de serem

ou

me os

poucos

trabalhos existentes em relação ao seu estudo qualitativo. de

Poder-se-ia explicar esta lacuna, em parte pelo fato

a fauna intersticial ser· constituida por grupos zoológicos, cu ja coleta e sistemática exigem técnicas delicadas e _ manipul� çoes numerosas . (SOYER, 1970). Embora mereçam referência especial os trabalhos de REMANE (195 1), ANGELIER (1953), DELAMARE-DEBOUTTEVILLE (1960) , RENAUD­ DEBYSER (1963), RENAUD-DEBYSER & SALVAT (1963), SWEDMARK(l964) o

e COINEAU (1970, 1971) sobre a fauna intersticial, eles se rientam para a Biologia e a Ecologia.

fau

No Brasil é ainda fragmentário o conhecimento desta na, tanto sob o ponto de vista sistemático, como do

fisiológi

co e ecológico. No que concerne aos isópodes intersticiais marinhos,

gr�

po que nos interessou de modo especial neste trabalho, as

p�

blicações se tornam ainda mais raras, havendo apenas um

traba

lho de REMANE & SIEWING (1953) que descreve uma espécie

nova

para a costa brasileira. Assim, visa o presente ao estudo morfológico e

sistemáti

co de um gênero de isópodes interstjciais marinhos- Microcerbe rus Karaman, 1933-, inicialmente assinalado nas águas subterr�

neas da Iugoslávia, e que constitui um grupo importante na

p�

.

2

pulação dos biótopos intersticiais litorais e continentais. Este g ênero responde particularmente bem

aos

critérios

de um modo de vida intersticial, apresentando &s adaptações c� racterísticas da microfauna e da meiofauna das ar.eias(DELAMARE -DEBOUTTEVIllE, 1960; SWEDMARK, 1964). Os espécimes de Microcerberus são as menores formas de

l

sópodes conhecidos. Apresentam o corpo muito alongado, em

me

dia 12 vêzes mais longo que largo, e seus pereópodes são

pr�

porcionalmente mais longos que os dos isópodes epÍgeos

vizi

nhos. Outra característica importante desses animais é a

total

despigmentação e o fenômeno de anoftalmia comum em animais que vivem na ausência de luminosidade. Devemos também referir-nos aos fenômenos de euritermia

e

euri-halinidade característicos desta fauna. A primeira espécie assinalada nas areias brasileiras Microcerberus delamarei Remane & Siewing, 1953, coletada

foi por

/ REMANE na praia de Amaralina, em Salvador (Bahia) e na Ilha Be la, São Sebastião (São Paulo). Segundo os autores, o

habitat

em ambas as praias era semelhante, isto é, lençol da praia

de

areia grossa, perto do limite da maré alta. Quatro novas espécies- Microcerberus brasiliensis ,

M.

magnus, M. parvulus e M. ramosae-, são agora assinaladas

para

a costa brasileira, em águas subterrâneas litorais e descritas por nos em trabalho já entregue para a publicação(ALBUQUERQUE, no prelo).

1

3

Na primeira parte desta dissertação, esforçar-nos por evidenciar a importância de alguns parâmetros

emos

ambientais

nn repartição dos isópodes intersticiais nos substratos móveis da região sul da costa do Estado do Rio de Janeiro. Estudaremos, de modo especial, os Microcerberus , do determinar os principais fatores ecológicos que

tentan

interferem

na sua repartição. Apresentaremos alguns métodos de coleta e análise

os

e

discutiremos, a fim de efetuar o estudo aprofundado das popul� çoes de Microcerberus , sob o aspecto qualitativo. Na segunda parte, faremos o estudo morfológico e a

des

crição detalhada das espécies de Microcerberus encontradas por nos, como também procuraremos analisar, em particular, a varia

f

çao anual ,..-----de população de Microcerberus ramos ae n. sp. as

Finalmente, tentaremos analisar as populações no seu pecto biogeográfico. As lacunas deste trabalho nos sao particularmente veis. No momento em que elaboramos todo o material

.

sens1

coletado

nestes Últimos três anos, observamos sob o plano ecológico por exemplo, que não fizemos senão levantar questões

microcli

máticas, que ,reconhecemos importantes e nao poderem ser genciadas,

negli

devendo constituir objeto de pesquisa posterior.

A riqueza da fauna intersticial e a dificuldade do estu do qualitativo nos fez limitar a pesquisa a um Único genero, em relação a uma faixa restrita da costa brasileira. ...

4 PRIMEIRA PARTE : METODOLOGIA I. MEIO A. FISIOGRAFIA prospectada está situada entre L2°S6'3011 e ° 23° O 2 ' 3 O" 1at . S . e O4 2 5 8 '3 O e O4 3°3 O '3 O 1 ong . W , 1 itora 1 A

area

II

11

sul do Estado do Rio de Janeiro, região intertidal. Foram escolhidas 10 estações (fig. 1) na zona de

reten

çao (SALVAT, 1964, 1966). SALVAT dividiu o litoral arenoso de uma praia em

quatro

zonas distintas, determinadas pelo horizonte de ressurgência, que correspondei zona onde a água, infiltrada na maré alta , ressurge durante a emersão, misturada ocasionalmente com guas litorais subterrâneas. (fig . 2): ·

-

a- Zona de areia seca - excepcionalmente atingida pela a gua; b- Zona de retenção

- o sedimento é atingido por

95%

das marés, perdendo a água

de

gravidade durante a ernersao, mas conservando a água de retenção; e- Zona de ressurgência - o sedimento é sede de uma tensa circulação de água

in

inters

ticial, tanto na maré alta, quan to na maré baixa. Esta zona responde ao nível de

cor

ressurge!!_

eia, onde toda a escavação

faz

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Remane da Piratininga esta água é dá álcool ranhuras ·c1arificado:19as (1956 , a) Karaman, 1955

Lábio -pleôpode 100 cm - . especimes

M. ples ai

REMANE de Piratinga esta água da alcool renhuras clarificadas (1956 a) KARAMAN, 1955 M. pleas i Labio pleôpodo 10 cm espécies

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I)

tf2 lo. MARICÁS

USU- ( Pt10) OUT /77

tr1

6 aparecer a napa de água a

menos

de 20 cm de profundidade; d- Zona de saturação -

o sedimento está

..

continuamente

saturado de agua, a

circulação do

da água é bem menos rápida que na zona de ressurgência.

Em coletas efetuadas a várias distâncias da zona de arre bentação na hora do mínimo �e maré baixa, verificamos ser a zo na de retenção a mais propícia às populações de Miarocerberus. Além das estações feitas no litoral do Estado do Rio

de

Janeiro, recebemos material de duas praias do litoral norte de São Paulo- praia do Segredo (São Sebastião) e s�co da (Ilha Bela)-, coletado por Renaud-Mornant, 1976.

NÍVEIS IIAREGRÁFICOS

ALTURAS DA ÁGUA

.. .. ..

MÃXIMO M MAffi ALTA 11iiD1A O! IIIARE ALTA

llfNINA DE IIARÊ ALTA

M{NUIO DE IIARÉ BAIXA

1 •

MÉDIA O! IIARi eAIXA MÁXIMO OE MARt IIAIICA

.,. Fia. 2 - PERFIL TOPOGRÁFICO DAS ZONAS DE: RETENÇÃO, RESSURGÊNCIA E SATURAÇÃO DE UII LITORAL ARENOSO ( SALVAT, 1986; GRAF. 1 J

Capela

7

B- SEDIMENTOLOGIA A maioria dos grupos que compoem a fauna intersticial ma nifesta uma especifici nade muito _íntima em relação a um granulomêtrico (COINEAU, 1970). Portanto, os espaços

tipo habitá

veis dependem do tamanho, da forma e natureza dos grãos de

a

reia. Em cada estação coletou-se sedimento que foi seco na tufa a 110 9 C. Submeteram-se 40 gramas de cada amostra a

es

trata

mentos para a retirada de sal, matéria orgânica e calcário,

u

tilizando 9 peneiras, que variaram d.e 2mm a . Q .. 06 2mm. Os sedimentos foram tratados segundo o método de

SUGUIO

(1973). Os intervalos para as classes granulométricas seguiram a escala de Wentworth e os resultados das análises foram lanç� dos em gráficos de curvas cumulativas construidos em papel milogarítmico, onde, nas ordenadas se colocaram as

se

percent�

gens acumuladas e, nas abcissas, os diâmetros das peneiras dis postos numa escala logarítmica. A classificação das areias foi baseada na média tica, calculada pela f6rmula Mz = 1973)

0 16

+

0 50 3

+

aritmé

0 84 (SUGUIO,

As curvas cumulativas das figuras 3 e 4 caracterizam

as

areias favoráveis à colonização de Microcerberus. Os animais se desenvolvem em areias médias e grossas, comforme podemos

veri

ficar na tabela I. Quando os elementos sao muito finos, os espaços intersti ciais deixam de existir e, conseqUentemente, também desaparece a fauna intersticial. , pois o empilhamento da areia,

reduzindo

1

o

O

20

30

40

50

60

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