LA TIENDA DE AMOR, ESPEJO DE LA VIDA HUMANA

LA TIENDA DE AMOR, ESPEJO D E L A V I D A H U M A N A (LBA, estr. 1 2 6 5 4 3 0 1 ) Omnis mundi creatura Quasi líber et pictura Nobis est et speculu...
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LA TIENDA DE AMOR, ESPEJO D E L A V I D A H U M A N A (LBA,

estr. 1 2 6 5 4 3 0 1 )

Omnis mundi creatura Quasi líber et pictura Nobis est et speculum. Los célebres versos de Alaín de Lille resuenan casi espontáneamente al terminar de leer la descripción de la tienda de don Amor en el famoso libro de Juan Ruiz. Toda criatura de este mundo es como un libro y una pintura que nos sirve de espejo (PL, t. 210, 579a). Esta imagen poética de la naturaleza como "espejo" es, tradicionalmente, una alusión explícita al hecho de mirarse el alma en el gran "libro" de la naturaleza, o sus representaciones en la obra de arte, "pintura" para contemplar su estado espiritual y compararlo con la obra del criador: "Si rectum cor tuum esset, tune omnis creatura speculum vitae, et liber sanctae doctrinae esset" (Imitatio Christi, II, 4 ) . Ajustarse a la naturaleza, que por carecer de libre albedrío no ha podido desviarse de la perfección original, es ajustarse a las leyes del creador. Y toda obra de arte, que no es más que un esfuerzo del hombre por representar la naturaleza despojada de sus limitaciones materiales, es esencialmente un espejo del alma. E n este, sentido toda obra artística encierra un contenido didáctico, un mensaje. Casalduero lo ha expresado felizmente al escribir: " E l sentimiento de la naturaleza, tanto en el Románico como en el Gótico, es específicamente simbólico y alegórico"; y por lo que se refiere concretamente al siglo xiv, en éste la naturalera era "símbolo de la vida moral" J . C A S A L D U E R O , " E l s e n t i m i e n t o de l a n a t u r a l e z a e n l a E d a d M e d i a espa ñ o l a " , Estudios de literatura española, 3? e d . , M a d r i d , 1973, p p . 12 y 25. E r su ú l t i m o e s t u d i o sobre e l Libro d i c e : " P a r a m í e l Poema p r e s e n t a l a estructura m o r a l d e l h o m b r e según l a d o c t r i n a d e l a Iglesia c r i s t i a n a . . . a l o m e n o s [éste es] e l ú n i c o s e n t i d o q u e y o p u e d o d a r l e y q u e hace d e l Poema u n s i g n i f i c a d e 1

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Es por esto que creemos que el pasaje de la tienda, como todo el material en el que está engastado, es una alegoría de la vida humana y, como se sabe, la alegoría en el Libro de buen amor es la clave para sostener o rechazar su carácter de obra didáctica. Se ha discutido ya tanto sobre la alegoría en el Libro de buen amor y su amplitud, que es difícil poner de acuerdo a los diversos contrincantes. Pero me parece que Thomas R. Hart se salió por la tangente al querer ver intenciones alegóricas en episodios tan realistas como las aventuras en la sierra; otros han pecado por defecto al negar, o minimizar, toda intención alegórica. Dejando aparte, por el momento, las razones por las que nuestros eruditos creyeron en las intenciones didácticas de Juan Ruiz, deseo limitar mi investigación tan sólo a una sección del libro donde no podemos dudar de sus intenciones alegóricas: la que se abre con la batalla de don Carnal y doña Cuaresma y termina con la descripción de la tienda de Amor (estr. 1063-1314). L a explicación de la alegoría de la tienda dada por el mismo poeta en las estrofas 1298-1300 disipa cualquier género de d u d a . Y por lo que se refiere a la disputa de don Carnal y doña Cuaresma, Juan Ruiz ni siquiera se detiene un instante en explicarnos su simbolismo, siendo tema de vieja raigambre medieval, que se remonta a la bien conocida Psycomachia de Prudencio. Dice, pues, el arcipreste que al acercarse el santo tiempo de Cuaresma decidió abandonar sus aventuras serranas para regresar a su tierra "por folgar algúnd quanto" (1067b), ya que de allí en ocho días era Cuaresma. Es decir, que quería pasar la semana de carnaval alegremente entre gentes conocidas . Estando en su casa 2

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c o m p r e n s i b l e d e n t r o de su é p o c a : e l G ó t i c o d e l p r i m e r tercio d e l siglo x r v " ("Sent i d o y f o r m a d e l Libro d e l A r c i p r e s t e d e H i t a " , CAH(l), p . 2 5 ) . Así l o h a n c o n s i d e r a d o t a m b i é n todos l o s críticos desde M e n é n d e z y P e l a y o ; cf. Antología de poetas líricos castellanos, S a n t a n d e r , 1944, t. 1, p p . 274275. L a s citas d e l Libro de buen amor se h a c e n p o r l a e d i c i ó n de J . C e j a d o r ( M a d r i d , 1913, 2 t s . ) , a n o ser q u e l a l e c t u r a d e l pasaje e x i j a e l r e c u r s o a u n a d e las l l a m a d a s e d i c i o n e s críticas, e n c u y o caso se dirá d e cuál d e ellas p r o c e d e . — C u a n d o este t r a b a j o estaba y a e n m a n o s d e l e d i t o r h a n l l e g a d o a m i con o c i m i e n t o l o s artículos de E D U A R D O F O R A S T I E R I B R A S C H I , " L a d e s c r i p c i ó n d e los meses e n e l Libro de buen amor", RFE, 55 ( 1 9 7 2 ) , 213-232; y d e N I C O L Á S E M I L I O Á L V A R E Z , " E l r e c i b i m i e n t o y l a t i e n d a de D o n A m o r e n e l Libro de buen amor a l a l u z d e l Libro de Alexandre", BHS, 53 ( 1 9 7 6 ) , 1-14. Estos est u d i o s sólo e n parte h a n p o d i d o ser t e n i d o s e n c u e n t a . 2

E l t e m a de l a b a t a l l a e n t r e d o n C a r n a l y d o ñ a C u a r e s m a h a sido t r a t a d o , e n t r e otros, p o r F . L E C O Y , Recherches sur le Libro de buen amor", París, 1938, p p . 244-248; M . R . L I D A , TÍO O Spanish masierpieces: The "Book of good love" and The Celestina", U r b a n a , I l l i n o i s , 1961, p p . 43-44; O . H . G R E E N , Spain in the Western iradition, M a d i s o n , W i s c o n s i n , 1968, t. 1, p p . 61-62; y, últimamente, p o r K . M . L A U R E N C E , " T h e battle between D o n C a r n a l a n d D o ñ a C u a r e s m a i n the l i g h t o f m e d i e v a l t r a d i t i o n " , LBAS, 159-176. 8

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"con don Jueves Lardero" llegó un mensajero con dos cartas de doña Cuaresma; en la primera de ellas se anunciaba " á todo pecador, / Á todos los arciprestes é clérigos syn amor" (1069^-c) que de allí en una semana ella saldría con sus compañas a pelear contra don Carnal que ya hacía un año que andaba suelto "vertyendo muncha ssangre" (107(M). Esta carta estaba fechada en Castro Urdíales, lugar donde Cuaresma tenía su sede, porque abundaba allí dor, / Á todos los arciprestes é clérigos syn amor" (\069b-c) que de safio entre Ayuno, emisario de Cuaresma, y don Carnal goloso . L a batalla duraría desde el miércoles siguiente (de ceniza) hasta el Sábado Santo (1075-76). Leídas las cartas, el arcipreste se dio por aludido: " V y que veníe a mí el un fuerte mandado: / Ca non tenía amor nin era enamorado / A mí é mi huésped púsonos en cuydado" (1077 b-d) ; y no sin razón, ya que la primera de las cartas iba dirigida "a todos los aciprestes e clérigos syn amor". Juan Ruiz, como tal clérigo, no tenía amor divino, ni estaba enamorado de mujer alguna, así que, sin duda, el desafío de Cuaresma iba dirigido también a él. Obsérvese con cuánta habilidad el poeta mezcla, para tergiversar, los términos "tener amor" y "ser enamorado", como si Cuaresma viniese también a desafiar a los que no están enamorados. Es una más de las falacias de este hábil dialéctico. Su compañero de mesa, Jueves Lardero, se levantó, le dio las gracias por el convite y le dijo: "Yo soy alférez de don Carnal y no te preocupes que me batiré con esta desdichada que todos los años me provoca". Juan Ruiz, al día siguiente, viernes, mandó aviso a don Carnal para informarle del desafío. No respondió al aviso, pero se presentó al martes siguiente con una gran mesnada. L o que sigue (10821127) es bien conocido, porque representa en las letras españolas 4

E l estilo d e estas d o s cartas, si b i e n a d a p t a d o a las e x i g e n c i a s de l a poesía, t i e n e u n a g r a n semejanza c o n e l estilo e p i s t o l a r e m p l e a d o e n las cancillerías eclesiásticas d e l t i e m p o . P o r d o n d e p o d e m o s c o n c l u i r q u e J u a n R u i z está parod i a n d o a l g ú n d o c u m e n t o d i s c i p l i n a r de su é p o c a . E n este s e n t i d o se p r o n u n c i ó ya M . R . L I D A , op. cit., p . 4 3 . L a s c a r t a s citadas p o r K . M . L a u r e n c e (art. cit., p p . 1 6 2 - 1 6 3 ) revelan, s i n d u d a , u n a tradición e n l a p a r o d i a epistolar m u y d i f u n d i d a e n t o d a E u r o p a , p e r o n o p u e d e n considerarse c o m o m o d e l o s de l a p a r o d i a d e J u a n R u i z . L a s " f ó r m u l a s " usadas p o r e l p o e t a castellano están a r r a n c a d a s d e las cartas escritas e n las c a n c i l l e r í a s d e T o l e d o , S a n t i a g o y d e a l g u n o s d o c u m e n t o s c o n c i l i a r e s españoles. E n este c o n t e x t o será interesante ver los d o c u m e n t o s d e l A r c h i v o Secreto V a t i c a n o y d e l C o l e g i o d e E s p a ñ a e n B o l o n i a q u e n o s p r o m e t e n l o s profesores E m i l i o Sáez y J o s é T r e n c h s , sobre los cuales h a n b a s a d o su i d e n t i f i c a c i ó n d e J u a n R u i z c o n J u a n R o d r í g u e z d e C i s neros, p e r s o n a j e d e l a l t o c l e r o q u e d e s e m p e ñ ó i m p o r t a n t e s cargos e n e l séq u i t o d e l c a r d e n a l A l b o r n o z e n A v i ñ ó n y R o m a . P a r e c e q u e nos estamos m o v i e n d o d e l "clérigo n o c h e r n i e g o " a l alto o f i c i a l de curia. C f . E . S Á E Z y J . T R E N C H S , " J u a n R u i z de Cisneros ( 1 2 9 5 / 1 2 9 6 - 1 3 5 1 / 1 3 5 2 ) a u t o r d e l Buen amor", CAH(l), 365-368. 4

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tanto una parodia de l a épica como del tiempo más sagrado del año litúrgico, la Cuaresma. Don Carnal acaba "doliente e malferido". U n fraile le confiesa y le impone una penitencia cuaresmal (1128-1172) . Sigue la interesante sátira sobre el Miércoles de Ceniza y la fuga de don Carnal de la cárcel el Domingo de Ramos, después de haber engañado a don Ayuno con el pretexto de ir a la iglesia para oír misa (1181). Don Carnal se fue a refugiar a la judería donde se hartó de carne y pan "cenceño"; y al día siguiente, lunes, el rabino Acelín le prestó su asno para huir de Toledo. (Preciosos detalles que nos ayudan a comprender la envidiable condición de los judíos toledanos en la primera mitad del siglo x i v ) . Una vez libre, don Carnal causó una gran carnicería en los alrededores de la ciudad hasta tal punto que "el rro^ín del rrabí con miedo byen andava" (1187¿£). Ahora es don Carnal el que desde su sede en Valdevacas, "nuestro lugar amado" (1197É£), desafía a doña Cuaresma para el próximo domingo, o sea el día de Pascua. Ésta, muy debilitada, prefiere huir vestida de romero (1205-6). Y el arcipreste remacha, no sin sorna: "¡Vaya é Dios la guíe por montes é por valles!" (1209d). Llegamos así a la víspera de Pascua. Mes de abril; primeros días llenos de sol y alegría; los árboles y las aves delatan este tiempo admirable y sobre todo los que atienden a Amor. Por el mundo corrió la voz de que dos emperadores habían llegado, don Amor y don Carnal. Aquel mismo día, según Juan Ruiz, carniceros, rabíes, triperas, pastores y zagales salen a recibir triunfalmente a don Carnal que, rodeado de vacas, toros, ovejas, carneros y cabritos, viene en su carro "cobierto de pellejos", llevando en su mano una amenazadora hoz con la que degüella a todos los animales que se le presentan al paso. Fue a posar a las carnicerías (matadero) donde continuó desollando reses a más no poder para desquitarse de cuanto había perdido en los meses anteriores (1224