UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

Licenciatura em Educação Física

Fernanda Bueno Rodrigues

ANÁLISE DO PERFIL LIPÍDICO E DA GLICEMIA DE MULHERES PARTICIPANTES DE UM PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA MODERADA

Rio Claro

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FERNANDA BUENO RODRIGUES

ANÁLISE DO PERFIL LIPÍDICO E DA GLICEMIA DE MULHERES PARTICIPANTES DE UM PROGRAMA DE ATIVIDADE FÍSICA MODERADA

Orientador: Prof º Dr ºEduardo Kokubun Co-orientador: Alberto Chiyoda

Trabalho de Conclusão de Curso TCC apresentado ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Licenciatura em Educação Física.

Rio Claro 2009

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Dedico esse meu trabalho aos meus pais que

possibilitaram

a

minha

formação

acadêmica. A eles que sempre acreditaram na minha capacidade e determinação, e que sempre me apoiaram em tudo o que eu pretendo alcançar. Amo muito eles. Dedico também ao meu namorado que apoiou de mesma forma a minha conclusão na Licenciatura e aos meus amigos remanescentes da Família BEF03 que

também

estiveram

nesta

conclusão da complementação.

luta

pela

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente aos meus pais por me apoiaram a concluir a complementação em Licenciatura e a me incentivarem quando eu queria desistir. Agradeço a minhas irmãs Samantha, Amanda e Rafaelle por simplesmente existirem. Não poderei deixar de agradecer ao meu namorado que tem dividido comigo dois anos da minha vida e que também me incentivou e apoiou a conclusão da complementação em licenciatura e a qual me trouxe muitas risadas durante esses anos (e espero trazer muitas mais ainda). E, por fim, porém não menos importante, agradeço aos meus amigos Camila Curups, Mariana e Ricardão por dividirem comigo a agonia de demorar três anos pra concluir o curso de Licenciatura ao qual ainda estamos lutando (menos a Curups que é uma mestranda agora) para concluir. Agradeço também ao coleguinha Rodrigo e novamente ao Ricardão por me hospedarem em sua casa quando precisava e me fizeram sentir a vontade neste ambiente. Agradeço também meu co-orientador Alberto (Betão) pela ajuda.

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RESUMO Há muito tempo pesquisadores estudam os malefícios à saúde causados pelo sedentarismo. Atualmente a inatividade física representa um grave problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS (2009a), um estilo de vida sedentário é a principal causa de morte, doenças crônicos degenerativas e deficiências. Além disso, níveis insatisfatórios de atividade física associados a dietas hipercalóricas e com alto teor de gordura estão associados ao aumento de peso corporal, o que leva à desbalanços nos níveis lípedes circulantes, ou dislipidemia (DURSTINE, 2001). A disilipidemia está relacionada a alterações no metabolismo lipídico, incluindo níveis elevados de colesterol total, LDL colesterol, triglicerídeos e redução do HDL colesterol (DÂMASO, 2003). Em contrapartida, já é comprovado que a prática regular de atividade física aparece como uma ferramenta não medicamentosa na prevenção e tratamento de portadores de doenças crônicas. Estudos com indivíduos e grupos populacionais demonstram existir uma associação inversa entre os níveis de atividade física e a incidência de diversas doenças, como a hipertensão, a obesidade, os diabetes, a doença arterial coronariana e a depressão (NAHAS,2001). Sabe-se que a dislipidemia está associada a doenças de preocupação pública como obesidade, DM e doenças cardiovasculares. Por outro lado os benefícios da prática de atividade física já são consolidados. Assim, o objetivo deste estudo é verificar o efeito de um programa de atividade física moderado no perfil lipídico e na glicemia em mulheres acima de 50 anos através da análise do efeito de 7 meses de atividade física moderada nos seguintes parâmetros bioquímicos: colesterol, lipoproteína de baixa densidade (LDL), lipoproteína de alta densidade (HDL), triglicerídeos (TG) e glicemia. Conclui-se que o programa de atividade física generalizada duas vezes por semana com duração de uma hora pode ser de interesse para saúde pública, pois apresentou aumento nos níveis de HDL e uma tendência à queda da glicemia. Porém o trabalho apresentou também resultados não satisfatórios com relação ao colesterol total e ao LDL. Seriam necessários mais estudos que verifiquem a relação do exercício regular e da dieta com os níveis lipídicos e glicemia.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 07 2. OBJETIVO .......................................................................................................... 09 2.1. Objetivo Específico ...................................................................................... 09 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 10 3.1. Perfil Lipídico ......................................................................................... 10 3.2. Glicemia .................................................................................................11 3.3. Doenças Associadas às alterações lipídicas ........................................ 12 3.4. Benefícios da Atividade Física .............................................................. 13 3.4.1. Atividade Física e Perfil Lipídico ................................................... 15 3.4.2. Atividade Física e Glicemia ........................................................... 16 4. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 18 4.1.

Sujeitos ............................................................................................... 18

4.2.

Programa de Atividades ...................................................................... 19

4.3.

Técnica de Coleta de Dados ............................................................... 20

4.4.

Análise Estatística ............................................................................... 20

5. RESULTADOS .................................................................................................... 21 6. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 25 7. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 29 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 30 9. ANEXOS ............................................................................................................. 34 9.1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento .............................................. 34

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1. INTRODUÇÃO

Há muito tempo pesquisadores estudam os malefícios à saúde causados pelo sedentarismo. Atualmente a inatividade física representa um grave problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS (2009a), um estilo de vida sedentário é a principal causa de morte, doenças e deficiências. Aproximadamente 2 milhões de mortes ocorridas durante todos os anos são atribuídas à inatividade física. Estudos mostram que 1 a cada 10 pessoas com um estilo de vida sedentário morrem no mundo, tornando o sedentarismo um dos principais

fatores

de

risco

para

doenças

crônico-degenerativas

como

as

cardiovasculares, diabetes do tipo 2, obesidade, e os riscos vêm crescendo para câncer de colo e de mama, hipertensão, osteoporose, depressão e ansiedade (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2009a). Em cidades desenvolvidas ou em rápido desenvolvimento, os níveis de inatividade física são altos, mais da metade da população adulta é inativa. Dados da OMS revelam, por exemplo, que em São Paulo, aproximadamente 70% da população é inativa (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2009a). E em todo o mundo, esse valor varia de 60 a 85% (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2009a). Esse fato pode estar relacionado a mudança ocorrida com o avanço da tecnologia onde a população se torna acomodada, freqüentando fast foods, utilizando o carro como meio de locomoção por mais perto que seja à distância,

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elevadores, internet e a televisão, passatempo mais popular em todo o mundo, por exemplo. Além disso, níveis insatisfatórios de atividade física associados a dietas hipercalóricas e com alto teor de gordura estão associados ao aumento de peso corporal, o que leva à desbalanços nos níveis lípedes circulantes, ou dislipidemia (DURSTINE et al, 2001). A dislipidemia está relacionada a alterações no metabolismo lipídico, incluindo níveis elevados de colesterol total (CT), de lipoproteína de baixa densidade (LDL), de triglicerídeos (TG) e redução de lipoproteína de alta densidade (HDL) (DÂMASO, 2003). Em contrapartida, já é comprovado que a prática regular de atividade física aparece como uma ferramenta não medicamentosa na prevenção e tratamento de portadores de doenças crônicas. Estudos com indivíduos e grupos populacionais demonstram existir uma associação inversa entre os níveis de atividade física e a incidência de diversas doenças, como a hipertensão, a obesidade, os diabetes, a doença arterial coronariana e a depressão (NAHAS, 2003). Dentre as alterações causadas pela atividade física pode-se destacar: redução da circunferência abdominal e da gordura visceral, melhora a sensibilidade à insulina e diminuição as concentrações plasmáticas de glicose e triglicérides, aumento dos valores de HDL. Dessa forma, a atividade física reduz os fatores de risco para o desenvolvimento de DM tipo 2 e doença cardiovascular (McLELLAN et al, 2007). A incorporação de atividade física nos hábitos de vida é apontada como importante fator para a saúde por diversos órgãos internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o American College of Sports Medicine (ACSM), o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Segundo Palma (2000), pode-se relacionar a atividade física a alterações positivas para combater ou prevenir o aparecimento de diversas doenças tais como: doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes, osteoporose, entre outras. Assim, um estilo de vida ativo é um fator importante na qualidade de vida, sendo que aptidão física relacionada à saúde inclui elementos considerados fundamentais para uma vida com menos risco de doenças crônico degenerativas sendo assim, mais longa e autônoma (NAHAS, 2003). Para isso é preciso que haja a mudança de comportamento do ser inativo tornando-se um

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indivíduo fisicamente ativo obtendo vários benefícios, direta ou indiretamente, tanto na reabilitação quanto na prevenção de doenças crônico-degenerativas.

2. OBJETIVO

Sabe-se que a dislipidemia está associada a doenças de preocupação pública como obesidade, DM e doenças cardiovasculares. Por outro lado os benefícios da prática de atividade física já são consolidados. Assim, o objetivo deste estudo é verificar o efeito de um programa de atividade física moderado em parâmetros bioquímicos relacionados ao perfil lipídico e glicemia de mulheres com idade acima de 50 anos.

2.1. OBJETIVO ESPECÍFICO

Verificar o efeito de um programa de atividade física moderada nos seguintes parâmetros bioquímicos: colesterol, lipoproteína de baixa densidade (LDL), lipoproteína de alta densidade (HDL), triglicerídeos (TG) e glicemia, através da análise bioquímica de 3 coletas com intervalo de 7 meses entre elas

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. PERFIL LIPÍDICO

O perfil lipídico é definido pelas determinações do colesterol total (CT), lipoproteína de baixa densidade (LDL), lipoproteína de alta densidade (HDL) e triglicérides (TG) (POWERS; HOWLEY, 2005). As lipoproteínas são partículas ricas em lipídeos com uma capa superficial de proteína, lipídeos polares e um núcleo de lipídeos apolares, são responsáveis pelo transporte dos lipídeos no plasma. Existem quatro grandes classes de lipoproteínas: os quilomícrons que são as maiores e menos densas ricas em TG; as lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) que são de origem hepática; as LDL e HDL que são ricas em colesterol (DÂMASO, 2003; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2001). Os quilomícrons têm como principal função transportar os lipídeos da dieta, sobretudo TG, que serão estocados nos tecidos adiposo, muscular e hepático como fonte energética. O seu catabolismo inicia quando entram em contato com a enzima lipase lipoprotéica (LLP) que hidrolisa os TG dos quilomícrons liberando os ácidos graxos (AG) (NEGRÃO; BARRETTO, 2006; DÂMASO, 2003).

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Os AG provenientes da lipólise e dos quilomícrons que não foram oxidados, no fígado, serão reesterificados à TG e exportados na forma de VLDL (DÂMASO, 2003). A VLDL sintetizada no fígado está envolvida no movimento dos TG para os tecidos periféricos. Os TG são removidos da VLDL por meio da ação da LLP. As lipoproteínas de densidade intermediária (IDL) são resultantes deste catabolismo, e podem ser captadas pelo fígado ou sofrer ação da lipase hepática, transformando-se em partículas menores e mais densas, as LDL (NEGRÃO; BARRETTO, 2006). A LDL é a transportadora mais importante de colesterol para os tecidos periféricos. A síntese das membranas celulares e a síntese de hormônios esteróides no córtex supra-renal e nas gônadas são feita pelo colesterol da LDL, que transporta 70% do colesterol presente no plasma (NEGRÃO; BARRETTO, 2006). Sua remoção da circulação ocorre pela interação com receptores específicos, sendo o fígado o principal órgão responsável pela sua captação (BROWN; GOLDSTEIN, 1986). A HDL, que é originada principalmente no fígado, intestino e elementos de superfície provenientes da lipólise de quilomícrons e VLDL, é responsável pela retirada do colesterol em excesso dos tecidos, inclusive da parede arterial, para o fígado, onde é metabolizado. A HDL também capta o colesterol livre da superfície das lipoproteínas ricas em TG (NEGRÃO; BARRETTO, 2006).

3.2. GLICEMIA

Segundo Negrão e Barreto (2006), a glicemia é definida pela taxa de glicose no plasma. Essa concentração plasmática de glicose é o principal regulador da secreção de insulina, a qual ocorre num padrão bifásico, característico: a primeira fase, com secreção de insulina rápida e intensa (aguda), durando alguns minutos, e a segunda fase menos prolongada e menos intensa (crônica). Discreta elevação da glicemia estimula a secreção de insulina. Tal elevação sinaliza ao pâncreas para que ele libere insulina, que, por sua vez, atua para reduzir a glicemia por meio do aumento de captação celular (POWERS; HOWLEY, 2005). A diminuição da glicemia rapidamente reprime a secreção da insulina, reduzindo a entrada de glicose nas células e permite a elevação do glucagon e o consequente aumento da produção de glicose pelo fígado. Favorece, ainda, a proteólise e a

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lipólise nos tecidos musculares e adiposos, respectivamente, aumentando a oferta de aminoácidos, ácidos graxos livres e glicerol para o fígado, onde são utilizados na formação de glicose e corpos cetônicos que servem de substratos energéticos (NEGRÃO; BARRETTO, 2006).

3.3. DOENÇAS ASSOCIADAS À ALETRAÇÕES LIPÍDICAS E GLICÊMICAS

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2001), a dislipidemia recebe uma classificação laboratorial (hipercolesterolemia isolada, hipertrigliceridemia isolada, hiperlipidemia mista e HDL baixo isolado ou associada ao aumento de TG ou LDL) e etiológica (primária e secundária). A hipercolesterolemia isolada é o aumento do CT, em geral representada pelo aumento da LDL (NEGRÃO; BARRETTO, 2006; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2001). Um dos fatores envolvidos é a alta ingestão de gordura saturada e de colesterol que estão associados a valores séricos elevados de CT e LDL (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2003). O aumento dos níveis de LDL está diretamente relacionado a riscos cardiovasculares (POWERS; HOWLEY, 2005). Ao contrário da LDL, altos níveis de HDL aumentam a proteção contra as coronariopatias (POWERS; HOWLEY, 2005). A hipertrigliceridemia isolada é o aumento dos TG (NEGRÃO; BARRETTO, 2006; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2001). Acontece devido o aumento da síntese e/ou catabolismo ineficaz das lipoproteínas ricas em TG como os quilomícrons, VLDL e IDL, determinando um aumento da concentração e da vida média destas partículas no plasma (ESPONDABURU, 2006). Esse aumento dos TG afeta as etapas do transporte reverso do colesterol tornando-o menos eficiente. Este efeito resulta em parâmetros laboratoriais, principalmente em uma diminuição do colesterol transportado pela HDL (ESPONDABURU, 2006). A hiperlipidemia mista é o aumento do CT e dos TG (NEGRÃO; BARRETTO, 2006; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2001) que, segundo Powers e Howley (2005), além da hipertensão arterial, ajudam no desenvolvimento da aterosclerose, pois aceleram o processo de acúmulo de substâncias e bloqueio das artérias, lesionando o revestimento endotelial. Esse dano no endotélio englobará lipoproteínas modificadas originando as células espumosas, com isto mediadores

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inflamatórias serão liberados perpetuando a ampliação do processo e levando à formação da placa aterosclerótica (DÂMASO, 2003). A classificação etiológica das dislipidemias se divide em primária e secundária. A primária é de origem genética e caracteriza-se por aumento na concentração plasmática de lipoproteínas. A secundária é causada por outras doenças e uso de medicamentos (NEGRÃO; BARRETTO, 2006; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2001). Conforme Negrão e Barretto (2006) existem três grupos de etiologias secundárias: as dislipidemias secundárias a doenças, como Diabetes Melito (DM) tipo 2, hipotireoidismo, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, hepatopatias colestáticas crônicas, obesidade, síndrome de Cushing (hipercortisolismo), anorexia nervosa e bulimia nervosa; dislipidemias secundárias a medicamentos, afetada pelos medicamentos dos pacientes; e dislipidemias secundárias a hábitos de vida inadequados (dieta, tabagismo e etilismo). Isso mostra que a dislipidemia está associada a doenças de risco e ao estilo de vida. O DM representa uma dessas doenças e é decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da mesma de exercer eficientemente suas funções, caracterizando-se acompanhada

de

pela

presença

dislipidemia,

de

hiperglicemia

hipertensão

arterial

crônica, e

freqüentemente,

disfunção

endotelial.

(McLELLAN et al., 2007; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2003).

3.4. BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA REGULAR

Os benefícios da atividade física estão bem descritos na literatura, fazendo de sua prática um mecanismo essencial para a prevenção e tratamento de diversas doenças crônico-degenerativas. Órgãos de saúde como OMS, ACMS e CDC vem unindo esforços para aumentar a atividade física habitual e adesão e aderência a programas de atividade física. Estes órgãos recomendam a realização de pelo menos 30 minutos de atividade física (podendo ser formal ou de lazer, de maneira contínua ou acumulada em sessões de pelo menos 10 minutos), de intensidade no mínimo moderada (nível 12 na escala de Borg* – fig. 3), realizada na maioria dos dias da semana (de preferência todos), em que haja um dispêndio total de 700 a 1.000kcal (quilocalorias)

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por semana, como proposta para a manutenção da saúde e prevenção de uma grande variedade de doenças crônicas (PATE et al, 1995). Abaixo alguns dos benefícios que a atividade física regular representa (OMS, 2009b): •

Reduz o risco de morte prematura e de morte por ataque cardíaco, o qual é responsável pela morte de um terço de todas as mortes;



Reduz risco de desenvolver doenças do coração ou câncer de colo em até 50%



Reduz risco de desenvolver diabetes do tipo 2 em até 50%;



Ajuda a previnir/reduzir hipertensão, que afeta um quinto da população adulta no mundo;



Ajuda a previnir/reduzir osteoporose, reduzindo o risco de fraturas do quadril em até 50% em mulheres;



Reduz risco de desenvolver dores na coluna lombar;



Promove o bem-estar psicológico, reduz o estresse, a ansiedade e sentimentos de depressão e solidão;



Ajuda a previnir ou controlar vícios comportamentais, principalmente em crianças e jovens, como o uso do tabaco, álcool ou outras substâncias;



Ajuda no controle de peso e diminui o risco de obesidade em até 50%, comparado a uma pessoa com estilo de vida sedentário;



Contribui e mantêm a saúde dos ossos, músculos e articulações;



Pode ajudar no controle de dores, como na coluna lombar e nos joelhos.

Além disso, atividade física exerce uma ação favorável sobre o perfil lipídico, principalmente nos casos de hipertrigliceridemia, níveis diminuídos de HDL e alterações nas subfrações do LDL (LACOUR, 2001). Dentre as alterações causadas pela atividade física pode-se destacar: redução da circunferência abdominal e da gordura visceral, melhora a sensibilidade à insulina e diminuição as concentrações plasmáticas de glicose e triglicérides, aumento dos valores de HDL. Dessa forma, reduz os fatores de risco para o desenvolvimento de DM tipo 2 e doença cardiovascular (McLELLAN et al., 2007).

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Segundo Guedes e colaboradores (2007), a prática insuficiente de atividade física e as dislipidemias são consideradas fatores de risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares comparados a indivíduos mais ativos.

3.4.1. Atividade Física e Perfil Lipídico

Diversos

estudos

demonstram

que

para

diminuir

as

concentrações

plasmáticas de LDL e VLDL, e aumentar a de HDL é necessário adotar um estilo de vida menos estressante, ter uma alimentação equilibrada e realizar exercício físico regularmente (DÂMASO, 2003). De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2005), a prática de atividade física regular diminui os níveis de TG e aumenta o HDL. Os níveis de LDL total parece não ser alterado, mas provoca uma diminuição das partículas pequenas e densas de LDL e um aumento do seu tamanho médio (subfrações). A carga de treinamento necessária para obter esse benefício equivale a um gasto calórico equivalente a 23 kcal/kg por semana, o que para uma pessoa com 75 kg equivaleria a um gasto semanal de 1700 kcal. A mudança nas subfrações do LDL provocada pelo exercício é independente de alterações nos níveis de LDL total (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2005). Além disso, o treinamento físico desenvolve adaptações na densidade capilar, na estrutura protéica miofribilar e na sua composição enzimática da musculatura esquelética, causando maior eficiência na utilização de lipídios como substrato energético (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2005). Uma única sessão de exercício pode diminuir os níveis de triglicérides e aumentar os níveis de HDL de forma fugaz, desaparecendo o efeito num período em torno de dois dias. Isso ressalta a importância da realização regular de exercício físico no combate às dislipidemias. Programas de treinamento físico com um gasto calórico semanal de 1200 a 2200 kcal são suficientes para provocar um efeito favorável nos níveis de lípides séricos. Mesmo com mudanças mínimas no peso corporal, quanto maior o gasto calórico semanal, maiores os benefícios para a lipemia (LACOUR, 2001).

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Segundo Prado e Dantas (2002), como modelo de exercício físico aeróbio, aquele com intensidade moderada (50% a 70% do VO2máx,), com duração mínima de 30 minutos, pelo menos três vezes por semana. Por sua fácil realização, apresenta-se ideal para induzir modificações lipoprotéicas basais de qualquer indivíduo em diferentes faixas etárias, seja este normolipidêmico ou não. Porém, a associação da dieta e perda de massa corporal ao exercício aeróbio, parece ser fundamental para a obtenção de um bom perfil lipídico. Já a existência de poucos e controversos estudos envolvendo o treinamento de força, não permite afirmar ou até mesmo sugerir se há ou não alterações benéficas no perfil lipídico, principalmente quando relacionados às lipoproteínas. Mesmo assim, sua prática deve ser estimulada para qualquer indivíduo, pois sabe-se que a força muscular é considerada, atualmente, como importante componente da aptidão física relacionada à saúde.

3.4.2. Atividade Física e Glicemia Entre as principais ações da atividade física está a melhora nos níveis glicêmicos e na sensibilidade à insulina, os quais podem prevenir e/ou tratar os efeitos da resistência à insulina e doenças como o diabetes mellitus. Segundo Ciolac e Guimarães (2004), o efeito do exercício físico sobre a sensibilidade à insulina tem sido demonstrado de 12 a 48 horas após a sessão de exercício, porém volta aos níveis pré-atividade em três a cinco dias após a última sessão de exercício físico, o que reforça a necessidade de praticar atividade física com freqüência e regularidade. Outro estudo demonstra que indivíduos com resistência à insulina melhoram a sensibilidade à insulina em 22% após a primeira sessão de exercício e em 42% após seis semanas de treinamento, o que demonstra que o exercício físico apresenta tanto um efeito agudo como um efeito crônico sobre a sensibilidade à insulina (PERSGHIN et al, 1996). Evidências mostram os efeitos do exercício físico sobre a sensibilidade à insulina tanto no exercício aeróbio como no exercício resistido. O mecanismo pelo qual essas modalidades de exercício melhoram a sensibilidade à insulina parece ser

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diferente, o que sugere que a combinação das duas modalidades de exercício pode ser aditiva (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004). Castaneda e colaboradores (2002) apresentaram em seu estudo como resultado diminuição dos níveis de glicose sanguínea, aumento dos estoques de glicogênio muscular, redução da pressão sistólica e gordura do tronco, aumento da massa muscular e do nível de atividade física diária de diabéticos idosos de ambos os sexos, após 16 semanas de exercício resistido, o que resultou em redução da medicação em 72% dos praticantes, enquanto que indivíduos que participaram do grupo controle tiveram inalterados os níveis de glicemia sanguínea, pressão sistólica, gordura do tronco e atividade física diária, e diminuídos os estoques de glicogênio muscular, sendo que 42% tiveram a medicação aumentada. A literatura demonstra a importância das mudanças no estilo de vida, adotando-se novos hábitos alimentares e prática regular de atividade física, diminuem a incidência de diabetes do tipo 2 em indivíduos com intolerância à glicose além de ser considerada uma ferramenta importante no tratamento de indivíduos com diabetes tipo 2. A realização de pelo menos quatro horas semanais de atividade física de intensidade moderada a alta diminuiu em média 70% a incidência de diabetes do tipo 2, em relação ao estilo de vida sedentário, após quatro anos de seguimento (TUOMILEHTO et al, 2006). O treinamento físico melhora a sensibilidade à insulina e o controle glicêmico em diferentes populações, independentemente de sexo, idade e peso corporal (KELLEY; GOODPASTER, 2002). Em pacientes diabéticos tipo 2, a melhora na sensibilidade à insulina possibilita diminuição da dose ou até mesmo eliminação de hipoglicemiantes orais (FUJINUMA et al, 1999). Em pacientes diabéticos tipo 1 ou tipo 2 insulino-dependentes, a melhora na sensibilidade à insulina possibilita redução da dose e do número de aplicações de insulina. Essas adaptações, no entanto, podem ser perdidas caso o treinamento físico seja interrompido (FUJINUMA et al, 1999).

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Sujeitos A amostra foi constituída por 72 indivíduos do gêneros feminino (n=72), com média de idade em 63,04 ± 8,27, participantes do Programa de Atividade Física para Diabéticos e Hipertensos, oferecido pelo Núcleo de Atividade Física e Saúde (Nafes) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), realizado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Saúde Família (USF) da cidade de Rio Claro durante o período de 2003 a 2008. Todos consentiram em participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento (anexo 9.1). A grande maioria dos alunos são mulheres e idosas, e apresentam um ou mais fatores de risco, como obesidade, diabetes, hipertensão e depressão. Como este trabalho se trata de uma análise de dados do programa, informações como peso, altura e IMC (índice de massa corpórea) dos sujeitos não foram feitas simultaneamente as análises sanguíneas, sendo assim, não informado neste trabalho.

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Para este trabalho foram inclusos os alunos que possuíam os dados de acordo com os critério do trabalho: 3 coletas bioquímicas (glicemia, colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos) em intervalos de 7 meses.

4.2 Programa de atividades O programa envolve atividade física generalizada que compreende exercícios predominantemente cardiorrespiratórios (caminhadas e atividades lúdicas) e exercícios neuromotores (coordenação, agilidade, flexibilidade, equilíbrio e força) realizados duas vezes por semana, 1h por sessão. As estratégias para o desenvolvimento destas capacidades se fundamentam na elaboração de exercícios que empregam instrumentos e equipamentos de baixo custo e fácil manipulação, como garrafas plásticas com água, cordas, cones, cabos de vassoura, bolas de meia, borrachas cirúrgicas, bolas de borracha e colchonetes. As aulas são ministradas por profissionais e estagiários do curso de Educação Física (KOKUBUN et al, 2008). As sessões são divididas em fase inicial, principal e final. Na fase inicial são realizadas atividades de aquecimento e alongamentos leves. A fase principal é destinada à realização das atividades cardiorrespiratórias e neuromotoras com objetivo de aumentar e/ou manter algum componente da aptidão física. Por fim, são desenvolvidas atividades de volta à calma. As fases inicial e final devem juntas compreender aproximadamente 25% da aula, ou seja, 15 minutos em uma sessão com duração de uma hora (KOKUBUN et al, 2008). Em relação à intensidade, as atividades são orientadas com a finalidade de se manter em uma condição de sensação de esforço leve a moderado. Em momentos oportunos, os participantes recebem informações sobre como reconhecer a

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intensidade de esforço, bem como seus riscos e benefícios. Dessa forma, destacase que não é necessário realizar atividades físicas intensas e que atividades de baixa a moderada intensidade (40 a 70% VO2máx ou 50 a 85% FCreserva), quando executadas com regularidade, são efi cientes e asseguram resultados permanentes com menor risco para a saúde (ACSM, 1998).

4.3 Técnica de coleta de dados Foram realizadas três coletas de sangue em jejum, com intervalo de sete meses entre elas, para análise do perfil lípidico (colesterol total (CT), lipoproteína de baixa densidade (LDL), lipoproteína de alta densidade (HDL) e triglicérides (TG)) e da glicemia. Os dados analisados são pré existentes, empregados para controle dos efeitos do programa em fatores de riscos metabólicos. Para tanto, são colhidos dos pacientes 10 ml de sangue nas UBS correspondente ao local de sua aula e em seguida trazido à UNESP para verificação dos teores de glicemia, triglicérides, colesterol total, LDL e HDL. Os resultados são empregados para controle dos efeitos do programa em fatores de risco metabólicos. A coleta de sangue foi realizada pelas enfermeiras das UBS e USF e analisados no laboratório de Biodinâmica da UNESP através de kits comerciais.

4.4 Análise estatística Para analisar os dados foi empregada a análise de variância ANOVA One Way com teste pós-hoc de Newman Keuls, sendo o nível de significância adotado foi de p < 0,05.

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5. RESULTADOS

A Tabela 1 representa a média e desvio padrão do perfil lipídico e da glicemia encontrados nas três coletas.

1ª coleta

2ª coleta

3ª coleta

Glicose

88,24 ± 24,84

85,55 ± 29,81

83,43 ± 24,86

Triglicérides

130,46 ± 58,91

143,76 ± 73,36

131,09 ± 84,38

Colesterol

205,50 ± 41,67

204,85 ± 41,23

222,70 ± 41,70

HDL

41,89 ± 13,21

41,17 ± 16,83

50,27 ± 14,49

LDL

137,53 ± 35,60

134,92 ± 34,53

146,21 ± 40,02

Tabela 1,- média e desvio padrão do perfil lipídico e da glicemia nas 3 coletas.

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Foi encontrado um aumento significativo na análise do colesterol total (1ª diferente da 3ª; p