Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva – NESC/ Faculdade de Medicina

Disciplina de Epidemiologia 2004

Inferência causal em epidemiologia: Modelos e critérios de causalidade

Definição de epidemiologia O estudo da distribuição e dos determinantes da ocorrência de doenças em populações Ð A intenção de estabelecer nexos causais está no cerne da epidemiologia

Modelos de causalidade Modelos são maneiras de pensar a realidade e expressam nossa imaginação sobre como o mundo deve funcionar Ð O mundo é uni ou multicausal?

Modelos de causalidade I Modelo do determinismo puro Ð Postula uma conexão constante, única e perfeitamente possível de ser predita entre dois fatores (A e B) Ð Modelo unicausal

Modelo do determinismo puro ƒ Postulados: ƒ Uma mudança em A sempre leva a uma mudança em B (causa suficiente) ƒ Uma mudança em B sempre é precedida de uma mudança em A (causa necessária) ƒ A é a única causa de B (especificidade da causa) ƒ B é o único efeito de A (especificidade do efeito)

Postulados de Henle-Koch ƒ Anos 1880’s Î fruto da revolução microbiológica: ƒ O agente deve estar presente em todos os casos da doença em questão (causa necessária) ƒ O agente não deve ocorrer de forma casual em outra doença (especificidade do efeito) ƒ Isolado do corpo e crescido em cultura, o agente inoculado em susceptíveis deve causar doença (causa suficiente) ƒ Nada sobre a especificidade da causa...

Postulados de Henle-Koch ƒ Críticas: ƒ Existe o estado de portador ƒ Certos fatores podem ter múltiplos efeitos ƒ Difícil crescer em cultura certos agentes ƒ Evidências empíricas da multicausalidade ƒ Impróprio para doenças crônicas

Modelos de causalidade II Modelo de causas suficiente e componente (Rothman) Ð D

E

C

G A

H

F

A

B

B

causa suficiente

causa componente

I

J

F

A C

causa necessária

Modelo de causas suficientes e componentes ƒ Implicações: ƒ Multicausalidade: cada mecanismo causal envolve a ação conjunta de várias causas componentes ƒ Força da associação: depende da prevalência das causas componentes ƒ Períodos de indução: para cada causa componente e não é específico para a doença ƒ Controle de doenças: pode se basear em causas componentes isoladas

Critérios de causalidade (Critérios de Hill) ƒ Força da associação: quanto mais forte uma associação, maior será a possibilidade de se tratar de uma relação causal Î depende da prevalência das causas componentes! ƒ Consistência ou replicação: se o mesmo resultado é obtido em diferentes circunstâncias, a hipótese causal seria fortalecida Î associações não causais podem ser consistentes e depende do contexto do estudo (população, métodos etc) ƒ Especificidade: causa levando a um só efeito e o efeito ter apenas uma causa Î quase inútil...

Critérios de causalidade (Critérios de Hill) ƒ Temporalidade: a causa deve sempre preceder o efeito Î consensual! ƒ Gradiente biológico: curva de dose-resposta Î pode decorrer somente de outras variáveis e nem sempre ela de fato existe

ƒ Plausibilidade: existe plausibilidade biológica para o efeito existir? Î depende do conhecimento acumulado até o momento...

Critérios de causalidade (Critérios de Hill) ƒ Coerência: ausência de conflitos entre os achados e o conhecimento sobre a história natural da doença Î conservador... ƒ Evidência experimental: estudos experimentais são de difícil realização em populações humanas...

ƒ Analogia: efeitos de exposições análogas existem? Î serve mais para quebrar a resistência a um novo conhecimento...

O método científico como fundamento O fundamento de toda pesquisa é o método científico, que se baseia na elaboração de conjecturas e a busca de evidências empíricas que possam contribuir para refutá-las (negá-las) ou corroborá-las (confirmá-las). Assim, busca de regras ou receitas para inferir causalidade confere uma objetividade pouco justificada a um processo que é, por definição, criativo e imperfeito. Assim, seu uso deve ser visto como uma estratégia subjetiva para facilitar a abordagem de um problema altamente complexo