ARTIGO. Conclusions. Background. Methods. Results

ARTIGO Caraterização do pé do idoso segundo a escala FPI e comparação entre géneros Martins AM.1*, Avidos L 2*, Milhazes F3 Licenciada em Podologia p...
3 downloads 0 Views 2MB Size
ARTIGO

Caraterização do pé do idoso segundo a escala FPI e comparação entre géneros Martins AM.1*, Avidos L 2*, Milhazes F3 Licenciada em Podologia pelo Instituto Politécnico de Saúde -Norte - Escola Superior de saúde do Vale do Ave, Famalicão, Portugal 2 Doutorada em Fisiopatologia do envelhecimento pela Universidade de Vigo, Docente do Instituto Politécnico de Saúde Norte – Famalicão, Portugal 3 Licenciada em Podologia pelo Instituto Politécnico de Saúde -Norte - Escola Superior de saúde do Vale do Ave, Famalicão, Portugal 1

*Estes autores contribuiram igualmente para este trabalho

Background Dada a elevada prevalência de alterações nos pés dos idosos e a repercussão que estas acarretam nas capacidades funcionais dos idosos, como a marcha e as atividades da vida diária, torna-se assim essencial o estudo do pé do idoso, no sentido de orientar a procura de estratégias preventivas concernentes a esta questão. Pouco se sabe sobre o efeito do envelhecimento na postura do pé do idoso. Este estudo teve como objetivo principal identificar as diferentes alterações entre o homem e a mulher na postura do pé e relacioná-la nos dois grupos, jovens e idosos.

Methods A postura do pé foi avaliada através do índice de Postura do Pé (FPI-6) numa posição relaxada em 240 voluntários (120 homens e 120 mulheres), fracionados em dois grupos, um grupo de estudo de 140 idosos (70 homens e 70 mulheres) e um grupo controle de 100 jovens (50 homens e 50 mulheres), o primeiro grupo foi constituído por utentes de lares e centros de dia e o segundo por alunos de um Instituto Politécnico. Em ambos os grupos foi feita uma comparação entre os pés e entre os géneros.

Results O Índice de Postura do Pé revelou diferenças significativas (p=0,00) entre as duas populações (jovens e idosos). Os pés dos idosos manifestam uma postura normal para ambos os pés (54,3%), seguido de pés supinados (pd=37,1%; pe=40,0%), enquanto os pés do grupo jovem revelam maior percentagem de pés normais (pd=71,0%; pe=65,0%), com alguns casos de pés pronados (pd=20,0%; pe=24,0%). Na avaliação dos participantes segundo o género, na população idosa, o género masculino é caraterizado por uma postura

6

do pé supinada (pd=58,6%; pe=62,9%), enquanto o género feminino revela postura normal (ambos os pés=77,1%). Já na população jovem, estas diferenças não têm estatística significativa (pd=0,017; pe=0,08). Ambos os géneros apresentam maioritariamente um pé normal, embora o género feminino tenha uma tendência para o pé pronado (pd=24,0%; pe=32,0%).

Conclusions Na avaliação do pé do idoso, através do Índice de Postura do Pé, o nosso estudo demonstrou que existem diferenças entre os géneros na população idosa. O género masculino apresenta uma postura do pé maioritariamente supinada, contrariamente o género feminino apresenta um pé com postura normal. Já no grupo de jovens foi possível observar que estas diferenças não são significativas, pois ambos os géneros apresentam um pé normal. De salientar que são as mulheres que manifestam maior percentagem de postura do pé pronada. Palavras-chave: FPI, Género feminino e masculino, Idosos Introdução O envelhecimento é o declínio progressivo, universal, que ocorre em todos os organismos durante o tempo, primeiramente na reserva funcional e depois na função. É heterogéneo, variando amplamente em diferentes indivíduos e em diferentes órgãos em um determinado indivíduo. Não constitui uma doença, contudo o risco de desenvolver uma doença é maior, frequentemente de maneira dramática, em função da idade. A composição bioquímica dos tecidos muda com a idade, a capacidade fisiológica diminui, a capacidade de manter a homeostase na adaptação aos agressores diminui, e a vulnerabilidade aos processos de doença aumenta1. Entre 1960 e 2001 o fenómeno do envelhecimento demográfico em Portugal traduziu-se por um decréscimo de cerca de 36% na população jovem (0-14 anos) e um incremento de 140% da população idosa (65 e mais anos)2. A percentagem de idosos mantém-se superior à de jovens e prevê-se que possa atingir os 395 idosos por cada 100 jovens em 2050, ou seja, quase quadruplica face a 2000, duplicando por volta do ano 20252. “Uma das modificações mais relevantes ocorre na composição global do corpo, caracterizada pela diminui-

7

ARTIGO

8 Caraterização do pé do idoso segundo a escala FPI e comparação entre géneros

ção da massa magra, aumento da proporção de gordura e diminuição de água no corpo”3. Consequentemente, estas alterações físicas causam diminuição do tamanho dos músculos, da força e resistência muscular, falta de flexibilidade e elasticidade, alteração no controle e rapidez dos movimentos3. As alterações músculo-esqueléticas que surgem com a idade são determinadas pelas alterações metabólicas e endócrinas que acompanham o envelhecimento. O enfraquecimento do tónus muscular e da constituição óssea leva a mudanças na postura do tronco e das pernas, acentuando ainda mais as curvaturas da coluna torácica e lombar. As articulações tornam-se mais endurecidas, reduzindo assim a extensão dos movimentos e produzindo alterações no equilíbrio e na marcha. A perda da mobilidade preocupa seriamente qualquer pessoa, e nesta fase em particular o idoso4. A diminuição progressiva na amplitude de movimento articular e o aumento da rigidez articular caracterizam o avançar da idade, contudo, é a idade do indivíduo a principal responsável pela composição da cartilagem. Compreendem-se assim o motivo de serem as doenças articulares as mais frequentes na velhice5,6. Considerando-se que o pé é o segmento mais distal da cadeia dos membros inferiores e representa uma parte relativamente pequena de base de apoio sobre a qual o corpo mantém o equilíbrio, parece razoável que mesmo alterações menores na biomecânica da superfície de suporte podem influenciar as estratégias de controlo corporal. Especificamente, as posturas de pé excessivamente pronada ou supinada podem influenciar a entrada periférica (somatosensorial), através de mudanças na mobilidade articular ou da área de apoio plantar ou, secundariamente, por meio de mudanças nas estratégias musculares para manter uma base estável de apoio 7 Um pé excessivamente supinado, caracterizado por um grande arco e hipomobilidade do médio pé, não pode adaptar-se adequadamente à superfície subjacente, aumentando a procura nas estruturas músculo-esqueléticas circundantes para manter a estabilidade postural e equilíbrio. Além disso, tem sido sugerido que o pé cavo tem menos informação plantar sensorial em relação ao pé normal ou em pronação. Por outro lado, a pronação excessiva é caracterizada por um achatamento do arco medial e um médio pé hipermóvel, mas pode também colocar maiores exigências sobre o sistema neuromuscular para estabilizar o pé e manter a posição em pé. Pesquisas confirmam que um pé em pronação excessiva tem altera-

ções na atividade muscular do tornozelo, joelho e anca 7. As alterações morfológicas, biomecânicas e funcionais dos pés que ocorrem com o envelhecimento podem produzir lesões e incapacidades8 dando ao pé um novo formato, que merece um estudo cuidadoso9.Na terceira idade, após anos de uso, os pés dos idosos apresentam um aspeto característico, uma vez que as alterações que ocorrem nos tecidos devido à senescência são capazes de alterar a morfologia do pé. Essas mudanças estruturais podem resultar em modificação na dinâmica do pé, resultando em sobrecargas específicas que causam lesão por esforço repetitivo10. As funções do pé dependem então da integridade anatómica e funcional de suas estruturas, que com frequência, são alteradas com o envelhecimento11. Estudos evidenciaram diferenças articulares e musculares em relação ao género. Verificou-se na mulher menor desenvolvimento muscular, mas maior mobilidade articular nesta em relação ao homem,12. Num estudo realizado com 300 sujeitos saudáveis, encontraram diferenças estatisticamente significativas entre o pé direito e esquerdo, nas suas dimensões, assim como diferenças significativas também nas dimensões do pé e tornozelo entre géneros, nos indivíduos testados13. Também Wunderlich & Cavanagh14 investigaram diferenças na forma e tamanho do pé adulto e relataram diferenças significativas numa variedade de parâmetros dimensionais entre a mulher e o homem. Os pés femininos eram menos largos nas regiões do calcanhar e do antepé que os masculinos. Frey15 também afirma que, em relação ao retropé, o calcanhar das mulheres é mais estreito que o dos homens. O autor refere ainda como as alterações estruturais do corpo feminino levam à pronação do pé e que, comparadas aos homens, as mulheres têm ombros mais estreitos, ancas mais largas e joelhos mais valgos, que induzem a pronação do retropé. Para os autores Ferrari, Hopkinson, & Linney16, os ossos do pé apresentam dimorfismo sexual, pois foram encontradas várias diferenças entre o homem e a mulher, principalmente no tamanho dos ossos. De um modo geral, e segundo os autores supra citados, no mesmo estudo, várias medições foram estatisticamente significativas entre homens e mulheres e pode conduzir a diferenças funcionais do pé entre os géneros. Havia uma tendência ao aumento da adução do metatarso e abdução do hálux no pé feminino, indicando assim que a mulher tem uma predisposição anatómica para a adução do primeiro metatarso e assim a

ARTIGO

9 Caraterização do pé do idoso segundo a escala FPI e comparação entre géneros

formação do hállux abductus valgus.

Metodologia Participantes Este estudo baseou-se no consentimento fundamentado e esclarecido, protegendo os direitos e liberdades das pessoas que participam nesta investigação. A postura do pé foi avaliada através do índice de Postura do Pé (FPI-6) numa posição relaxada em 240 voluntários (120 homens e 120 mulheres), fracionados em dois grupos, um grupo de estudo de 140 idosos (70 homens e 70 mulheres) e um grupo controle de 100 jovens (50 homens e 50 mulheres). O primeiro grupo foi constituído por indivíduos idosos, com idades compreendidas entre os 65 e 80 anos, residentes de lares e centros de dia e idosos que recorriam aos consultórios de podologia do concelho de Guimarães, Caldas de Vizela e Santo tirso. O segundo grupo foi constituído por alunos de um Instituto Politécnico, com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos, do Concelho de Famalicão. Os dois locais de recolha de dados localizam-se no Norte de Portugal. Em ambos os grupos foi feita uma comparação entre os pés e entre géneros, aos quais, foram aplicados critérios de exclusão como o uso de auxiliares de marcha, antecedentes de fraturas, utilização de próteses do membro inferior, patologias neuromotoras, artrite reumatoide e artrite gotosa, diagnosticadas ou evidentes e um IMC inferior a 25Kg/m². No grupo de idosos apenas foram selecionados indivíduos autónomos, avaliados pela escala de Katz17.

Procedimentos Os instrumentos de recolha de dados utilizados nesta investigação foram organizados em duas partes, uma inicial com um questionário, utilizando nos indivíduos idosos a escala de Katz17 modificada por Nursing18 que quantifica o grau de autonomia nas AVDs, seguido dos critérios de exclusão para as duas populações. Na segunda parte, e após a seleção dos participantes, registou-se numa grelha as variáveis dependentes, antropometria dos pés (comprimento e largura) com o auxílio do pedígrafo e a postura do pé, após observação segundo a escala do índice de postura do pé (FPI-6)19. As avaliações da população jovem foram realizadas numa

sala de aulas, enquanto a população idosa recorreu aos consultórios médicos de cada instituição e consultórios de Podologia. O índice de postura do pé envolveu a classificação de seis critérios de observação multidimensional e multiplanar dos sinais que evidenciam alterações de apoio do pé. Esta escala permite através da observação, com o sujeito em pé em posição relaxada, avaliar: o retropé através da palpação da cabeça astragalina, observação das curvaturas supra e infra maleolar e posição do calcâneo no plano frontal; e no antepé avaliar a proeminência medial astrágalo-escafoide, a congruência do arco longitudinal interno e a adução/abdução do antepé em relação ao retropé. Cada um destes critérios foram pontuados numa escala (-2 a+2) e a soma da pontuação classifica o pé num índice de postura normal, pronado ou supinado. Um pé normal classificado com valores entre 0 a +5, pronado de +6 a +9 e supinado de -1 a -4. Valores superiores a +10 foram classificados em muito pronado e valores inferiores a -4 em muito supinado (tabela 1). Tabela 1- The Foot Posture Index (FPI-6) Rearfoot Score

-1

0

1

2

Talar head palpable on lateral side/slightly palpable on medial side

Talar head equally palpable on lateral and medial side

Talar head slightly palpable on lateral side/ palpable on medial side

Talar head not palpable on lateral side/but palpable on medial side

Curve below the malleolus either straight or convex

Curve below the malleolus concave, but flatter/more shallow than the curve above the malleolus

Both infra and supra malleolar curves roughly equal

Curve below malleolus more concave than curve above malleolus

Curve below malleolus markedly more concave than curve above maleolus

More than an estimated 5° inverted (varus)

Between vertical and an estimated 5°inverted (varus)

Vertical

Between vertical and an estimated 5°everted (valgus)

More than an estimated 5° everted (valgus)

Forefoot Score

-2

-1

0

1

2

Talo-navicular congruence

Area of TNJ markedly concave

Area of TNJ slightly, but definitely concave

Area of TNJ flat

Area of TNJ bulging slightly

Area of TNJ bulging markedly

Medial arch height

Arch high and acutely angled towards the posterior end of the medial arch

Arch moderately high and slightly acute posteriorly

Arch height normal and concentrically curved

Arch lowered with some flattening in the central portion

Arch very low with severe flattening in the central portion – arch making ground contact

Forefoot Abd/ adduction

No lateral toes visible. Medial toes clearly visible

Medial toes clearly more visible than lateral

Medial and lateral toes equally visible

Lateral toes clearly more visible than medial

No medial toes visible. Lateral toes clearly visible

Talar head palpation

Curves above and below the malleoli

Calcaneal Inversion/ eversion

-2 Talar head Palpable on Lateral side/ but not on medial side

ARTIGO

10 Caraterização do pé do idoso segundo a escala FPI e comparação entre géneros

As observações dos pés em ambas as populações foram realizadas em ambiente descontraído, numa postura estática, com duplo apoio do membro no chão e com espaço suficiente para o investigador movimentar-se à volta dele e ter acesso constante para a visão posterior da perna e do pé. O participante foi instruído a ficar parado, com os braços pendentes e a olhar para a frente. Para relaxar pediu-se ao participante que andasse um pouco no local, antes de se colocar numa posição confortável. Durante a avaliação tivemos a atenção de garantir que o participante não se virasse, para tentar ver o que estava a acontecer, pois podia alterar significativamente a postura do pé. O comprimento e a largura do pé foram obtidos através das pedigrafias, com o auxílio de um pedígrafo, medindo a largura metatársica, que representa a largura máxima do antepé (1ª e 5ª cabeças metatársicas 20. O comprimento do pé é medido como a distância entre o ponto mais proeminente, na região anterior da tuberosidade da falange distal do hallux, seguindo a orientação do eixo longitudinal do pé (calcanhar - segundo dedo) 21.

Análise estatística Todos os dados recolhidos foram inseridos numa base de dados, no programa informático SPSS® (Statistical Program for the Social Science), versão 21.0. Inicialmente com a intenção de efetuar-se uma caraterização da amostra e das variáveis em estudo, recorreu-se a uma análise descritiva da amostra e das variáveis em estudo, mais especificamente à análise de frequências absolutas e relativas (percentagens) assim como ao cálculo de medidas de tendência central, nomeadamente a média e o valor modal, medida de dispersão resumido apenas ao cálculo do desvio padrão, e distribuição de frequências tanto absolutas como relativas. Foram feitas tabelas de dupla entrada para análise descritiva de variáveis. A aplicação do teste T Student foi a opção para avaliação das diferenças de médias para as variáveis de interesse. Para as variáveis qualitativas (escalas de avaliação e o género) recorreu-se ao teste Qui-Quadrado, para estudar a dependência e o grau de associação entre elas. Sendo que, o intervalo de confiança estabelecido foi 95% com nível de significância de 5%. Foi considerado significativo o P

Suggest Documents