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Jonh Kuallqu´er

ANTES DA TERRA, VERA CRUZ. Edição - 2016

São Paulo-SP Editor Di Medeiros 2016

Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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NOTA SOBRE O AUTOR

Sem nome a zelar! Em tempos em que o individualismo é a base de quase toda organização social, da qual, hoje nos faz; indiretamente, em parcela, o estimular a lutar contra nós mesmos. Digo, serei um tanto quanto hipócrita e ingrato, por utilizar deste espaço; um não falar sobre mim, mas sobre nós.

Uma vez que notamos a existência do agora, deste exato momento em que estamos por perceber isto. Uma vez que a nossa vida é como esta linha, uma vez que cada um, cada indivíduo é igual a um parafuso dentro de uma engrenagem sistêmica... mesmo que a maioria não lembre, lembro; sem distinção, todos são “peças” fundamentais para o funcionamento da coisa. Seja bem-vindo!

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À vossa possível tragédia. Dedico!

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CAPÍTULOS I - Foi assim................................................................................................ 07

II - Caminhos para o sul ........................................................................... 20

III - Ironias à parte ..................................................................................... 34

IV - Terra sem vista ................................................................................... 48

V - Mistérios canibais ................................................................................ 60

VI - Cantoria dos silêncios ......................................................................... 72

VII - Utopia ................................................................................................ 84

VIII - A flecha dos corações ...................................................................... 98

IX - Última doutrina ................................................................................114

X - Em todo final há um princípio.......................................................... 124

XI - Aqui! ................................................................................................. 138

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Já se passaram três anos, desde que tive de abandonar a minha vida, já se passaram três anos, e todo dia é a mesma pergunta...

Aqui! Foragido por uma verdade, isolado no coração de uma floresta, como um animal dotado de razão, como um Neandertal da contemporaneidade.

Apenas com uma mochila, carregando meu vazio, fico na expectativa de reencontrar os meus amigos, mas sem lembrar a minha própria identidade.

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Foi assim ... Realmente! Ali se encontrava toda explicação, a linha tênue entre o simples e o complexo, traduzido pela inigualável sensação que pairava no envolver daquela atmosfera, para quem estivesse do lado de fora; um estranho e repentino pavor dominava a causar tremores no mais valente dos homens, para quem estivesse do lado de dentro, ao contrário, aquilo se transformava no mais lindo e esplendoroso paraíso na Terra, onde a leveza do ambiente; conseguia levantar até um moribundo, ou mesmo, alegrar o coração da alma mais deprimida de todos os mundos. No meio da mata Atlântica, próximo ao litoral de São Vicente, mais especificamente, na região conhecida como Reserva de Paranapiacaba, viveu o povo de Augami. Entre os nativos: era a menor e a mais respeitada tribo que um dia já existiu, com cerca de apenas quinhentos habitantes, Augami era o que se podia imaginar como a realização de uma sociedade utópica e modelo. O que é curioso! Por se tratar de um grupo de etnia indígena, mas que não carregou nenhuma influência regional e linguística, como o TupiGuarani ou Macro-Jê. Aliás, foi graças à descoberta do diário de um português da época, que mesmo sendo pouco, em bastante nos revelou que este povo era o único que aqui se organizava pela escrita, segundo laudo: notável e similar com as próprias inscrições da cultura fenícia... Por tanto, de forma clara e lúcida, voltando à questão do início, para os senhores, gostaria de deixar aquela mesma pergunta: “Como eles viviam sem precisar guerrear?”

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- Bem, meus amigos. Peço desculpas por minha rouquidão. – de um púlpito, olhando para um relógio do salão, informou o professor a findar. – Daremos uma pausa para um café. Obrigado!

- Só uma última pergunta! – exclamou um jornalista a indagar. – Professor, e quanto aos resultados dos testes com Carbono 14?

- Depois do intervalo. – educadamente, ao mesmo tempo em que saía dali, encerrou. – Direi depois do intervalo. Muito obrigado! ... Era uma ansiedade estonteante, cientistas de várias partes do mundo, especialistas nas mais diversas áreas do conhecimento, reunidos ali estavam, no salão de conferências da Universidade Federal do Rio de Janeiro, todos ansiosos em conhecer o desvendo daquele segredo... Era por isso, era por isso, que quanto mais à demora se alastrava, mais às dúvidas vinham. Pois, só de observar os constantes cochichos entre os presentes, era possível escutar: - Mas, como assim? Cultura Fenícia? Isso não é do tempo do Antigo Egito? O que isso tem a ver com os povos indígenas daqui? --- Uma sociedade utópica? Manipulação do invisível? Belo estudo! Então, era por isso que o Professor Antunes estava de licença.

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- Duas horas de falatório e até agora não vi nenhuma imagem do... --- Cara! Ouvi boatos de que foi uma equipe de dois cientistas e um policial que descobriu o local. Dizem; que os corpos que lá encontraram, estavam intactos, não se decompuseram em mais de quinhentos anos. Imagina? --- Estou louco para saber mais sobre o diário desse Português! ... Aquela tarde foi muito estranha, o clima estava muito sério, parecia alucinação, mas não era, era muito sério, tanto, que inclusive entre a cúpula organizacional da Universidade, circulavam boatos de que ali, acompanhando a divulgação daquela descoberta, haviam representantes e até mesmo alguns chefes de Estado... Oras! Quem poderia imaginar que tudo aquilo viria acontecer? Quem poderia imaginar que aquela notícia fosse de tamanha relevância?... Sim! Aquilo era um motivo de vitória!... Em um país onde as Universidades mais formam Quixotes, Sanchos e ególatras, onde o sucateamento e a mendicância são investimentos de possibilidade e autonomia, em um país onde existem chances para tudo ser melhor e organizado, cientista entusiasmado: aqui? Só mesmo um masoquista!... Perdão! Mas, voltando aos fatos, e até deixando a política de lado, digo, naquele momento, justo foi

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naquele intervalo, em que muitos saiam para espairecer, foi que tudo aconteceu... Em uma estranha movimentação de jornalistas, que ao vivo, correram para informar aquela mesma notícia: - Acabamos de receber uma informação. Morreu nesta de manhã o Tenente Policial - Armando Nogueira. --- Segundo fontes, Armando tinha 42 anos de idade, e era o Primeiro Tenente da Corporação do 23° batalhão da PM, qual um incêndio... --- Recentemente, Nogueira trabalhou em grupo de expedicionários que acabou encontrando vestígios de uma antiga civilização que pode em muito explicar a história das colonizações em nosso continente. --- Ao que tudo indica os exames preliminares da perícia: a hipótese de um suicídio não está descartada. --E foi assim, que tudo começou a desmoronar, pois quando o Professor Antunes ficou sabendo daquele ocorrido, imediatamente

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mandou adiar aquela conferência. Onde, por lá, desesperado, saindo com o carro na contramão, de longe, chegando à porta da casa do seu grande amigo. Observando os familiares, escutou: - O que aconteceu? Recebi um telefonema dele ontem à noite.

- Não sei papai! – em total estado de prantos, gritava a esposa de Armando. – Ele nunca faria uma coisa dessas! Nunca! Nunca! Nun ... Era perturbador! A bipolaridade de uma vida chega a ser assombrosa. Antunes, sem se conformar com aquilo, ainda em frente daquela casa, pela fresta da porta entreaberta, viu de relance, no que seria o chão da sala do seu amigo, a terrível cena de sangue que jamais uma mente conseguira apagar. E assim, então, em completo estado de confusão, perguntando para um policial que estava por isolar aquele local, pediu a informação: - Você pode me dizer para qual IML ele foi levado?

- Senhor? – e o policial, sério, como uma sofisticada máquina da indiferença, com um olhar de horizonte, confessou. – Desculpe, mas recebemos ordens para não conversar com ninguém.

- O quê? – voltou Antunes. – Como não falar? Diga! Onde ele...

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... Sem resposta, transtornado, de lá Antunes saia perguntando para todos os outros guardas. “Alguém pode me dizer para qual IML ele foi levado?”... Mas, como ninguém dizia, atravessou a rua, e dentro de um botequim, logo ele que não mais bebia, naquele instante, voltando, pediu um trago, e ao momento em que foi quitar o caixa, tirando do bolso a carteira, viu de imediato, no vibrar do seu celular, várias mensagens de Armando, tardiamente, todas com os mesmos exclamares: - Cara! Preciso falar com você! Atende seu porra! Tem gente nos seguindo! Você precisa sumir! ... Ao ler aquilo, sem compreender o que estava acontecendo, Antunes cruzou a rua, e para dentro do seu carro correu... Quando, já dentro do veículo, nervoso, de lá saiu por “cantar pneu”, e assim, chegado à rodovia, ao tempo de uns quinze minutos, instigado, parando no estacionamento de um hotel, pelo seu retrovisor procurou algum sinal de perseguição. Mas, como nada viu, rapidamente, com sua maleta saiu a providenciar um quarto, para um atendente, que animado de bocejos, explicou: - Ok!... Equipado com televisão e frigobar... A diária sairá por R$ 45,00... Seu quarto é no segundo andar... Apartamento n° 22... Pagamento adiantado, por favor!... Cartão de crédito? Senhor?... Senhor?... Está ouvindo?

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Após um longo silêncio, saindo dos pensamentos, voltou Antunes: - Oi? Não! Tudo bem! Pagarei em dinheiro mesmo. ... E de novo, após mais aquele momento, para por as ideias em ordem, Antunes chegara a seu aposento. Foi quando, trancando a porta, deitando-se na cama, ligou a TV, trocou os canais e viu o que parecia ser um programa policial, a citação e a imagem do seu nome... E a seguinte informação: - A polícia está agora no encalço do Professor Antunes Figueiredo. Pois, segundo registros da câmera de segurança da casa do tenente, Armando Nogueira teria sido cruelmente assassinado pelo professor de quem era muito amigo. Segundo as fontes... ... Aereamente, “fora do ar”, mas com um pequeno sinal de consciência, sem entender nada, aos pensamentos e gritos, desligou a TV por murmurar: “Eu? O quê? Não pode ser! O que está acontecendo aqui? Que porra é...” Até que, naquele instante, por um número restrito, soou em seu celular uma estranha mensagem de caixa postal. Numa voz que, distorcido pelo grave, avisou: - Antunes! Fuja do hotel! Quebre o seu celular! Eles estão aí! ...

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Insanidade! Tudo estava beirando à extrema insanidade, fora aquela vertigem, eram tantas perguntas sem respostas, aliado pelo silêncio da inquietude e do desespero, afinal: “Quem havia enviado aquilo? Como sabiam que ele estava no hotel? E a morte do seu amigo? As mentiras? As notícias? Por quê?” Foi quando, no momento em que Antunes se levantava, por uma janela fumê; pode avistar no corredor do seu apartamento, dois homens, que trajados por semelhante terno escuro, em sua direção, vinham como se não quisessem brincar. Então, de imediato, talvez por instinto de sobrevivência, poupando barulho, ali, naquele momento, Antunes se arrastou até chegar ao banheiro dos fundos, onde por lá, pelo buraco da ventilação atirou o celular... O que foi curioso!... Ainda mais por saber que naquele mesmo instante em que ele o fazia; como num script de hollywoodiano de ficção, já estando em frente ao quarto, aqueles homens, por algum motivo desconhecido, de lá desceram como se tivessem ido buscar o sinal do mesmo celular... E assim, após uns dois minutos, ao perceber aquilo, Antunes pegou os seus pertences, e pelo parapeito do corredor, em direção ao estacionamento pulou... E já, quando se levantava do chão para o seu veículo adentrar, numa típica forma de sequestro relâmpago, foi capturado por um homem que saia de dentro de uma Kombi, qual, pelas costas, imobilizando ao cobrir o seu rosto, ordenou: - Fique quieto seu asno! Eles irão nos escutar! – e assim, ao mesmo tempo em que era revistado, indagou o sequestrador. – Você quebrou o seu celular como eu havia lhe pedido?

- Espera! – resmungou Antunes. – Estou reconhecendo essa voz...

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Então, reclamando para o motorista, mandou a mesma: - Vamos depressa! Cara! Acelera aí! – voltando para Antunes. – Desculpe, deixe-me tirar este troço do seu rosto... Agora... Pronto!

Antunes: - Puta que pariu! É você mesmo! Armando! Cara! Que história de merda é essa? Estão falando que eu te matei!... Miguel?... Porra, galera! Sabia! Isso é pegadinha!... Cadê? Onde estão as câmeras?

- Não! – seriamente, dirigindo, interrompeu Miguel. – Sei que parece loucura! Mas também não estamos entendendo quase nada.

- Pois é! – Reforçou Armando. – Por sorte conseguimos interceptar o seu celular e te encontrar a tempo no hotel, e por falar nisso. – abrindo à janela do carro, atirou para o canto da estrada aquele aparelho de rastreio militar. – Pronto! Antunes, ouça! Ainda não sabemos ao certo, mas tudo leva a crer que esta loucura tem a ver com o resultado da nossa expedição.

- Espera aí! – protestou Antunes. – Como assim? Vocês beberam? Por que alguém faria isso?... Cara! Pare o carro! Temos que ir a público desmentir isso! Armando, a sua mulher esta chorando! O que a minha família irá pensar? Você não entendeu? Estão falando que eu...

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- Se acalme Antunes! – cortou Miguel. – Tudo que não precisamos é desse nervosismo. Aliás, se você soubesse o quão arriscado foi salvar a sua vida, você nos agradeceria.

- Miguel, não! – amenizou Armando. – Antunes, você tem que nos ajudar a entender o que está acontecendo aqui! Assim como você, também não estamos entendendo quase nada.

Então, após uma profunda respirada. Antunes: - Desculpem! Armando, somos amigos desde a pré-escola! Miguel, somos amigos desde o colegial!... Desde os tempos de Espírito Santo, desde São Paulo, sempre confiei em vocês. – exclamou – Mas, estão falando que eu sou um assassino! Como posso ajudar?

Confortou Armando: - Sim, eu sei! Também estão falando que eu morri, mas estou aqui! Você não deve nada para eles, você não deve nada para mim... Cara! Antes de qualquer coisa, temos que reler os documentos da nossa expedição!... Eles estão com você? Antunes, diga que sim!

Antunes: - Sim! Eles estão aqui, dentro desta maleta... Mas, antes que eu o faça, quem eram aqueles dois sujeitos que estavam no hotel? Por que eles pareciam querer me matar? Por que eles pareciam...

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Titubeou Armando: - Pois é! Ainda não sabemos ao certo...

Emendou Miguel: - Mas pareciam assassinos profissionais! Por isso que nós...

Voltando ao assunto, concluiu Armando: - Enfim, onde eu estava?... Ah, sim! Antunes! Temos que reler os documentos da nossa expedição? Você pode começá-lo?

Após concordar, Antunes indagou: - Ok! Mas, espera! Estamos indo exatamente para onde?

Explicou Armando: - Para o Sul, Miguel! Continue pela via direita, temos que chegar a São Paulo o mais rápido possível. Afinal, se foi lá que contraímos o problema; será por lá que iremos saná-lo. ... E assim, prosseguindo pela rodovia, com os documentos em mãos, por ordem de carta, data e transcrição, com a voz meio gripada, em tom moderado, Antunes começou a reler o diário encontrado na expedição.

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Caminhos para o Sul ... Já se fazem semanas que estou com o cu a coçar, tanto coça, que cá neste banquete, de forma discretamente animal, venho-me a esfregar por grandes partes do dia. Oras! Se ainda isto fosses o pior, o pior és que já desconfio que todos, e até o padre de nossa tripulação passas pelo mesmo desconforto... Bem! Segundo o mencionado, devemos mesmo és agradecer por tudo, até pelos infortúnios que nos cruzam o caminho, até mesmo por esta coceira dos fundilhos... Sabes! A coceira eis de ser um sinal, um sinal para que lembremo-nos de nossa condição, um sinal para que lembremo-nos de nossa possível falta de humildade. Perdão, pois creio que não competes ser assim uma boa forma de começar um diário. Afinal, hoje se faz uma semana desde que parti de Lisboa, e oito desde que tive de escrever minhas sinceras mentiras para não aterrorizar por demais a minha família. Pois! Além deste meu trabalho de grumete, em que tenho que ficar devolvendo às águas para o mar, nos porões desta nau, o que vens mais me tirando o sono de preocupação, mais do que os monstros marítimos, és o tal do fim do mundo... Imagines!... Não cabe a minha inteligência ficar agora achando que a Terra sejas redonda igual uma laranja, por que se assim for igual ao que disse o capitão; logo começaremos por descer a ladeira. Oras! O que também significa nos remeter a pensar no quão sacrificante serás a subida da volta. Pois bem! Não há um burro que duvide por cá, que o nosso trabalho serás em dobro. Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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- Pois é! – No volante, comentou Miguel. – Já tinha me esquecido do quão esse Gabriell era um figurão.

Armando: - É! A vida desse cara foi brava. – Rindo, continuou. – Sabe, um dia desses: eu estava assistindo um documentário na TV, que falava sobre como viviam os tripulantes dessas naus. Era terrível! Segundo o que assisti, os caras limpavam o rabo com uma corda.

- Ah! Eu já assisti isso. – Firmou Antunes. – Sem falar que a corda era de uso coletivo. Imaginem: “Já acabei! Quem é o próximo?”...

- Pois é! Isso, sem falar na falta dos banhos – Frisou Miguel – O que na época também devia ser normal, tai a coceira!... O que acha Antunes?

- Acredito que para alguns, isto ainda continua sendo uma máxima. – Olhando para Armando, brincou. – Não é Armando?

- Ora! Vão se ferrar seus goiabas! – Retrucou. – Peço perdão pelo meu mau cheiro, mas acreditem; essa é a essência natural do homem! Pois, se vocês acham o papel higiênico sofisticado, esperem pelo futuro. Vocês verão que o Armando aqui tinha razão!

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Por um instante, ali, para quem estivesse enxergando aquela cena, mesmo em tamanho turbilhão, podia-se notar aquilo que só uma mudança de foco podia propiciar... Eu, até poderia dizer em tese, que uma considerável parte das soluções dos nossos problemas; se encontra nas atenções que damos aos mesmos... Nas válvulas de escape sadia, por que não? ... Após refletir um pouco, volto! Deixe-me responder, talvez por que fosse provisório, pois, justamente foi quando aquela má lembrança cruzou-nos a mente de novo, foi que tudo ficou claro, alguns são programados para agir e não para temer... E assim, antes que o silêncio chegasse a tomar conta. Armando ordenou: - Miguel! Siga por mais 15 km aqui, e logo sairemos da área perimetral das equipes de primeira força...

- Como assim? – Indagou Miguel. – Primeira força? A nossa gasolina já esta no vermelho! Logo teremos que abastecer!

Voltou Armando a explicar: - É assim: nós da policia temos uma equipe de ação rápida. Uma vez calculado a área de uma ocorrência, temos em cada unidade de comando próxima; 7 minutos para efetuação tática. Em nosso caso, conforme calculei, a linha do Posto mais próxima esta numa desvantagem em torno de três a cinco minutos de nós, e até que a Blitz “nasça”; temos que estar longe. Reze pela gasolina!

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Antunes: - Sabe, estive pensando em outra hipótese. E, se as rodovias estiverem bloqueadas?

Armando: - Bom, se isto ocorrer; seguiremos a pé pelo corredor da Mata Atlântica.

Miguel: - Trilha? Você esta maluco! São quase 300 km!

Voltou Armando: - Se você não gostar de morrer. – Ironizou. – É uma idéia melhor não acham?... Bem, mas veremos isso depois! Ok?... Agora, temos que nos concentrar aqui, preciso auxiliar a direção, serei um copiloto do Miguel... Antunes: onde foi mesmo que paramos?... Por favor! Continue a leitura.

Emendou Antunes: - Tudo bem! Eu havia parado na parte: “Não há um burro que duvide por cá, que o nosso trabalho serás em dobro.”... Aliás! Isso me fez pensar: como o meio pode influenciar os nossos sentimentos, medo, alegria, afinal; se os costumes de um povo são algo que... Esquece!... Continuarei lendo o próximo dia.

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“Viva o rei de Portugal! Viva o alivio da morte!”... Essas foram às últimas palavras que escutei de um marujo, que cá; hoje morreu só por corrigir o vocabulário da boca de nosso grã capitão. Em uma semana, contando com este, já se foram lançados ao mar cinco tripulantes por causas de desacato e idiotice. Sabes! Tudo estas sendo o contrário do que sempre imaginei que fosses. Ah! Se pudesses mostrar a minha mãe, este meu verdadeiro trabalho, ela surtaria... Pois, o esforço é demasiado, a comida és pouca, quase não tem descanso, e quando há; para não ter os cofres ou a alma roubada, temos que dormir num estado de gato, com um olho aberto e outro fechado. Sabes! Jamais poderia imaginar que a vida aqui fosses tão dura, jamais poderia imaginar que não houvesses outro horizonte, se não toda miséria. Porém! Por outro, como não sou bobo, e até mesmo como forma de alivio. Hoje cedo, quando estavas acompanhando a missa, neste espaço abaixo, grafei o sermão do nosso santo padre; Até mesmo! “Até mesmo para os sorridentes que aplaudem suas conclusas boas venturas. Até mesmo para o bom gosto das piadas podres ou inteligentes. Por toda parte, por todo nada, tudo serás de passagem, o acumulo da riqueza, o acumulo da dor pela tristeza, o mérito, a honra, a vergonha, o medo, a beleza e a modernidade. Como mendigos que recusam suas esmolas, como crianças que abandonam seus brinquedos. Seja na vida como na morte. Compaixão: renascimento.” Depois dessa, depois deste meu segundo relato, depois de mais um exaustivo dia de trabalho, dormir: irei como um gato rei. Por fim, boa noite! Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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Bom dia! Deixa-me dizer, cá estou eu de novo a desejar para mim mesmo: bom dia! Sabes? Hoje tive um sonho que merece ser grafado, e por isso, antes que ampulheta acuse o meu tempo de trabalho, deixo aqui o acontecido: Sonhei que estavas em minha Terra, em Cascais, por andar a cavalo pela noite, quando de repente, minha mãe de longe gritou: - Filho! Venhas cá! Quero lhe apresentar Roberta! Então, com muita classe, voltei! Ao chegar por lá, amarrei meu cavalo em um desses pés de oliveira, e assim entrei em meu lar, atravessando a sala, cheguei à cozinha, eu a vi, pelas costas, com um porte tão bonito, que logo penseis comigo: “Minha nossa!” Foi quando mamãe: - Roberta, este és o meu filho!

Então, de costas, quando Roberta se viravas para mim; relinchou a piscar-me um olho. Pois bem, ao fim, descobri que Roberta (minha pretendente) tinhas a mesma fuça daquele cavalo do inicio que sonhei. ............................................................................................................ Por fim, mesmo não compreendendo nada, fois isso!... Agora, ir-me-ei ao trabalho, para a volta grafar mais sobre a vida. Até breve!

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Voltei! Em cacos, muído, cá estou conforme o prometido, mas agora; chego para falar um pouco sobre as minhas memórias... Bem! A primeira lembrança que me vens à cabeça quando penso em minha vida, és duma tarde em que estou abraçado junto de meu pai, meu pai: Heitor que era um soldado muito querido pela Corte do nosso grã Rei, foi um homem mui bom, mas que infelizmente nunca cheguei a conhecer bem... Exceto por aquele momento, em que devesse eu ter apenas uns três anos, em que segundo minha mãe, pode ter ocorrido no mesmo dia de sua despedida, pois afinal, doente meu pai se foi junto de mim: abraçado com seu filho caçula... Sabes! Esta história sempre me fez mui a pensar, que neste mesmo dia, em que ganhava minha consciência, meu pai perdera a dele; confiando a mim toda sua responsabilidade. Tornou-me o homem da casa. Então, passado mais dois anos, já com meus cinco, trabalhei ajudando minha mãe, vendendo doces, limpando o lar. Oras! Até a pouco; a minha vida se resumia a isso... Eu, minha mãe Rosa, e minha irmã Melissa, que nesse tempo, já estavas a se preparar a casar com o seu pretendido J. Pinto de Bragança. Mas, como nem tudo são flores, e pelo facto de nunca terem me contado nada até hoje, o que eu sei és que J. Pinto faleceu, e minha irmã ficou louca, triste por tanto tempo, a ponto de não mais querer levantar-se da cama... E assim, a minha mãe, agora tendo que cuidar também de minha irmã, trabalhando menos, se endividou a ponto de oferecer- me como garantia de pagamento conforme a necessidade da Corte do nosso grã Rei. E, hoje, cá passado dez anos, já com os meus quinze, aqui, trabalho para honrar o nome do meu pai, e da minha família; Meirelles! Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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Cortando a leitura, interrompeu Armando: - Ufa! Conseguimos Miguel, agora: só precisamos abastecer... Entre à direita, tem um posto nesta cidadezinha. ... Foi naquele momento, de olho em qualquer movimentação suspeita, Armando sugeriu para que Antunes ficasse no carro, e então, assim que saiam do veículo, na Rodovia Rio / Santos, na pequena cidade de Taquari, ao lado da Serra do Bocaina, no posto de gasolina e conveniência, olhando para os fundos, avistamos a inesquecível cena que só um gigantesco comboio militar podia propiciar... Ali, sem dúvida, foi o xeque mate em todas as nossas esperanças. ... Lembrou Armando: - A coisa esta mais séria do que parece! – Após um instante de silêncio. – Pessoal, mudanças de plano: seguiremos por trilha!

Miguel: - Puts! – Tirando do bolso um mapa rodoviário. Calculou. – Bem, Até a reserva de Paranapiacaba, serão exatamente 271 km. Temos que aproveitar para comprar o que pudermos na loja deste posto, água, alimentos, velas, repelente, facão, botas, capas de chuva... E, só para lembrar, acho que nenhum de nós terá um cartão de crédito em funcionamento, ou que não esteja monitorado.

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Armando: - Bom, eu tenho cinco reais aqui!...

E vocês? Quantos têm?

Procurando nos bolsos, Miguel: - Espera um pouco, estou buscando... Toma aqui, ó!

Esbravejou Antunes: - Porra! Sessenta e cinco centavos, cara? Por que você não se prostitui?... – Quando, ao revirar o casaco, concluiu. – Que ironia! Além da gripe, só tenho cinqüenta.

- Que maravilha! – Gritou Armando. – Temos ao todo: R$ 6,15. O que podemos fazer com R$ 6,15? Não cobre nem os itens básicos!

Sugeriu Miguel: - Podemos permutar? O que acham?

- Mas permutar o que? – Indagou Antunes. – O nosso sorriso de bosta? O meu cartaz de foragido? Vai ficar evidente!... Furto?

Armando: - Nem pensar! Nunca furtei e jamais voltarei a roubar.

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Rindo, proferiu Miguel: - Haha, sério isso? Logo você? Um policial? Quando

foi?

- Galera, porra! – Interrompeu Antunes. – Depois falamos da vida. Temos um problema aqui! Como iremos conseguir os utensílios?

Pensando, voltou Miguel: - Quem te viu, e quem te vê Antunes, até parece o Armando falando. A não ser que trumbiquemos sem querer trumbicar!

Armando: - Que diabo é isso, Miguel?... Trumbicar sem querer!

- Será assim! – Explicou. – Um distrai o atendente, enquanto o outro leva o que tem que levar... Mas, como forma de pagamento, no caixa; deixo o meu relógio, que deve valer uns duzentos reais.

Após pensar um pouco, Antunes: - Genial! Enquanto o primeiro gastará os R$ 6,15; o nosso segundo não levará nem R$ 100,00... Se for assim, de acordo!

- Consciência custa caro, não é? – Continuou Armando. – Bem,

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mas quando chegar o dia do juízo, explicamos isso melhor... Se for como o Miguel disse, também estou de acordo! Vamos lá? ... Deste modo, tudo seguiu conforme o combinado. No carro, de cadeira cativa, Antunes ficou acompanhando aquela atrapalhada... E quando, o fato havia passado, voltando para o mesmo automóvel, em grupo, decidiram por abandonar o veículo. Ordenou Armando: - Ok! Estamos abastecidos para prosseguirmos com a viagem... Com exceção das botas que não achei, e das três capas de chuva, temos: água, biscoitos, uma barra de chocolate, dois facões, um repelente, isqueiro, uma vela de sete dias e um revólver. Dúvidas?

- Vela de sete dias!?... – Rindo por algum pensamento, indagou Miguel. – Mas, com o que construiremos o nosso acampamento?

- Eu sabia que você iria perguntar isso! – Ironizou Armando.– Não sei Miguel! Você já reparou neste rolo ao seu lado?

- Puts, é verdade! Essa manta térmica deve servir mesmo, vamos deixá-la dentro dessa mochila! Como sempre, Armando: você esta um passo a frente. Já tem dias que ela estava aí, na verdade, eu tive que comprá-la para concertar umas goteiras lá de casa, e...

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Interrompeu Antunes: - Pessoal! – Indagou. – Este carro esta no nome de

quem?

- Ele é da empresa do meu cunhado. – Esclareceu Miguel – Bem, na verdade foi um empréstimo até que eu arrumasse o...

- Puta que pariu! – Emendou Armando. – Miguel, por que não pensamos nisso? Por quantos radares não devemos ter passado? Cara! Se a inteligência da policia souber disso, nesta altura; este carro já deve estar sendo procurado. Rápido! Temos que sair! ... E foi assim. Abandonando o veículo no estacionamento, no momento em que ninguém passava por perto, de forma desesperada e discreta, nos fundos daquele posto, Antunes, Miguel e Armando: entraram naquela intransponível floresta como se nunca mais para suas vidas fossem retornar... Sem passado, presente: carregando apenas a incerteza do medo, e da dor de não saberem o próprio fim. Condicionados a bussola de uma mochila, seguiam com um velho mapa rodoviário, em silêncio, caminhando por cerca de duas horas, abriram mato, fecharam mato, por quase um quilometro... E quando, já consideravelmente distante, dentro da reserva da Serra do Bocaina, por volta das dezessete horas, perto das pedras de um riacho, naquela primeira parada, por livre e espontânea vontade, com as cartas e a transcrição do diário; Antunes retomou a leitura.

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Ironias à parte ... “Caiu-me um dente da boca, caiu-me logo o da frente, terei que ser mais humilde, talvez um pouco prudente.” Alegria! Pois cá chegamos ao tão famoso Arquipélago de Cabo Verde, mais especifico, na Ilha de Santiago. Sabes! Já tinhas me esquecido de como eras ter os pés em solo firme. Sabes! Já tinha me esquecido de como eras ter um descanso. Livre, ao menos até amanhã, livre, ao menos enquanto. ... Interrompendo a leitura. Miguel indagou: - Antunes, a sua voz esta péssima, dê-me os documentos, descanse um pouco. Deixe-me continuar a leitura.

- Pô! – Entregando os, respondeu: – Obrigado Miguel! Minha garganta esta arranhada, isso por que logo cedo, antes de ir à conferência; tomei dois antigripais. Mas, por todo acontecido, acabei esquecendo o restante dos comprimidos no quarto do hotel.

Sentado em uma pedra, olhando para o curso do rio. Armando: - Ainda bem que estamos em horário de verão. Pelo menos, teremos mais umas duas horas para prosseguirmos com a trilha.

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- Aliás! – Já com os documentos em mãos. Sugeriu Miguel. – Pessoal, não sei por que não vamos direto ao ponto? Porque temos que ler isso desde o começo? Afinal, o mundo esta caindo em nossas cabeças, e até agora: o que achamos de importante aqui?

Dando fé, Antunes concordou: - Pois é! O Miguel está certo, se for para considerar o que temos neste DVD: tenho certeza de que todas as dúvidas se acabarão, porra! Por que ir mais afundo nisso, se podemos entregar nosso material para uma emissora? Ou para alguém da policia?

- Não! – Explicou Armando – O problema: não é em quem podemos confiar. O problema: não é um delegado, um repórter, ou qualquer outro alguém que tenha um bom coração. Galera! Não existe um por acaso, cientificamente: só temos que comprovar a teoria dos Augamis. Vocês não percebem? Esta havendo uma manipulação de massa! Tem peixe grande nessa jogada, e temos o dever de investigar isso a fundo.

Lembrou Miguel: - Bem, mudando um pouco de assunto; sinto que é hora de explicar o que aconteceu comigo, Antunes, antes de toda essa loucura começar, há umas duas semanas mais ou menos, logo quando terminamos a nossa expedição, no mesmo dia em que você anunciou para faculdade sobre o resultado da nossa descoberta,

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que por ironia seria hoje, assim, estranhamente, recebi o contato de um editor de uma revista internacional, e conforme o combinado; o esperei no escritório do meu cunhado para apresentar-lhe algumas cópias do nosso trabalho. – Com um olhar distante e horrorizado; contava Miguel. – Isso aconteceu na manhã de ontem, quando, já passado uma hora de conversa, ao se despedir de mim, não sei como e nem de onde, um tiro cruzou a janela, e o pobre rapaz...

Ao ver Miguel naquele estado, desconversou Antunes: - Bem, vocês acham que vai chover? Armando, por que você não conta o que aconteceu com você?

Cortou Armando: - Agora não! Desculpe, mas essa não é uma boa hora.

Interrompeu Miguel: - Vamos Armando, diz a verdade pra ele!

- Pessoal! – Voltou Armando. – Caso não consigamos fugir para longe, dentro de poucas horas; eles entrarão por essas matas, com sensores térmicos, cães, tropas, helicópteros e veículos não tripulados... Estaremos ferrados! Mais do que agora; estaremos completamente perdidos!

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Indagou Miguel: - Pelo amor... Espera!... Você disse termo visão?

Armando: - Sim! Por quê?

Continuou Miguel: - Armando, meu amigo! Acho que o nosso rolo de manta térmica conseguirá repelir o problema.

Antunes: - Grande Miguel! Mas, e a questão dos cães? Como resolveremos?

Armando: - Que se danem os cães! Antunes: você não ouviu a notícia boa?... Você não percebe que eliminamos uma preocupação?

Interrompeu Antunes: - Falando sério... Não!... Vocês não acham meio patético? Três marmanjos prateados andando no meio do mato? A não ser que vocês consigam subornar o Sol para fazer pouco brilho. Quero dizer, cara! Armando! Do que nos adianta esse sorriso, se ainda temos o problema dos cães. Não há o que comemorar aqui!

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- Tudo bem! Concordo! Tem o problema dos cães, sim! – Voltou Armando. – Mas, veremos isso com cautela! Agora, em relação às nossas mantas, digo: podemos confeccioná-las quando montarmos o nosso acampamento daqui a pouco. Pois, agora, só nos resta continuar com a nossa trilha... Miguel, você consegue caminhar e ler ao mesmo tempo? Hein?

Miguel: - Opa, tudo bem! Sem problema nenhum... Mas, e você Antunes: como vai a sua gripe?

Antunes: - Vai indo! Como diria a minha avó: “Gripe é pura psicologia.” ... E assim, prosseguindo por aquela trilha, com os documentos na mão, se levantando do descanso, atravessando as pedras daquele riacho, em fila indiana, no meio dos dois amigos, em tom moderado, Miguel reparou: - Pronto! Continuarei de onde o Antunes terminou. Espera! Talvez, seja melhor repetir o último trecho. Sem interrupção agora, continuando... Lá vai! ...

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Sabes! Já tinhas me esquecido de como eras ter os pés em solo firme. Sabes! Já tinha me esquecido de como eras ter um descanso. Livre, ao menos até amanhã, livre; ao menos enquanto Deus permitir.

Pois cá, neste lugar, nesta praia; fico a pensar em como serás os meus próximos dias. Afinal! Já chegamos quase à metade do destino. Ó! Meu diário: se soubesses e pudesses sentir as tantas histórias que passei por aqui, e que ainda e se quer pude contar a ti, garanto-lhe, que começaria a recusar com tanta repugnância que, vós criaria pernas e se atirarias ao mar. Ao fim, “Antes de tudo, valorizemos o nada!” Fois o que disses o nosso santo padre ao lembrar, que ainda que tenhamos passado pela fome e o cansaço; devemos mui que comemorar. Sabes! Em aproveito, gostaria a cá de terminar este assunto com a cópia de um sermão do mesmo, qual grafei nestes dias. Prece! “Senhor Deus, deixai-nos enxergar através dos teus olhos, a compreender que toda dor és passageira, e que tudo no fim tendes ao progresso divino. Ajude-nos pai, afim de que possamos ser mais úteis, unindo-nos como um todo; dai-nos o respirar de sua sabedoria, e ao lado de ti; a paciência para criarmos nossos filhos, na coragem e no perdão, com serenidade para melhorarmos este mundo, com a franqueza para mudarmos a nós mesmos. Permitindo-nos nascer de novo em cada novo segundo, que assim sejas. Amém!” Aqui termino.

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Rindo, ao mesmo tempo em que trilhavam, interrompeu Antunes: - Se Shakespeare estivesse aqui, com certeza, em Hamlet ele diria: “Há mais mistérios nesta história dos índios do que sonha nossa...

- Cara! Cala essa boca! – Pediu Armando. – Por favor? Vai Miguel, prossiga com a leitura.

Coçando as orelhas, solicitou Miguel: - Só um minuto! – Ao reclamar. – Não tem como pisarmos sem fazer barulho? Cara! Pisar em folhas secas chega a ser nauseante.

Emendou Antunes: - Nem me fale! E, estes mosquitos? Puta que pariu! Ate parece que estes mosquitos estão dentro dos meus ouvidos... Armando: por que não seguimos pelo descampado da mata alta?

Voltou Armando a explicar: - Tá maluco! Este é o melhor caminho. Digo, sem falar no risco de ficarmos em evidência, ali: teríamos o problema das cobras. Mantenhamos o ritmo! Temos que chegar antes do anoitecer.

Encerrou Miguel: - Ok! Sem mais... Continuando com a leitura. Prontos?... Bora!

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Retrato, toda metáfora és digna de um belo retrato, sabes meu diário, se deves isso a minha mania de desenhar nos versos das cartas que escrevo a minha família, o significado dos meus sentimentos vividos, modestamente; devo considerar-me um grã burro, pois creio de que nadas do que fiz até então, és digno de fidelidade de tudo que presenciei. Nenhuma dor pode ser de facto descrita. Bem, mas mudando de assunto, falando do queijo e não do presunto: hoje serás o nosso último dia em Santiago, ao que indicou o nosso capitão, mesmo só precisamos aguardar a melhoria da metade de nossa tripulação que, cá nos acampamentos dos montes estão a se recuperar de umas dolorosas feridas que começaram brotar. Mas, que segundo o nosso boticário: “Não a de ser nada!”, como ele mesmo disse: a doença és devido ao excesso da preguiça. Falta de ocupação... Ora! Quem diria que um dia falarias disso, mas sinto tanta faltas de Portugal, do colégio, sinto tantas saudades de minha casa, dos meus amigos, das ruas de Cascais. Sabes! Só hoje vejo o quão a escola eras valiosa. Enfim, de novo, mudando de assunto, gostaria de grafar um ocorrido deste entardecer, fois um curioso facto que aconteceu comigo, pois acreditas que encontraram no porão de uma das naus de nossa frota; uma velha que navegavas as escondidas em completo estado de fome. E como lei és lei, sob pena de execução, após a mesma desembarcar na ilha, foi entregue a uma prisão, que próximo ficas ao monte daqui, foi quando ao tempo que eu passava por lá, cruzando o momento daquela cena em que ela partia com a guarda, ela me viu, e numa completa explosão, como se fosses um vulcão acordando, soltou-se dos guardas e correu até agarrar-me pelos braços. Somente para dizer que, tudo estavas dependendo de mim, e que eu tinhas que preparar Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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o caminho para o despertar do escolhido. Mas como assim? Por que esta velha correu para falar-me isto? Até parece que a infeliz navegou até aqui somente para dizer tais palavras... Engraçado! Como mamãe sempre dizia: “Não devemos confiar em estranhos.” Por tanto, creio que não devo acreditar nesta também. Aliás! Triste foi ver às bordoadas que os guardas lhe deram rumo à prisão. Sabes! Já se comentam por aqui, que em matéria de loucos: o nosso Reino está virando grã exportador. Mas, como não sei o que isso significas, amanhã perguntarei o sentido isso ao velho Jó da ampulheta. Sabes! Em segredo, gostaria de grafar que, comparado aos meus dias de trabalho, com exceção dos nossos superiores, esta ilha nos vem sendo um lugar mui bom. Em matéria de qualidade, sem estragos, há comida, água, vinho, e muitos pães... Desde que chegamos, nunca mais avistamos uma só briga, o que também me faz lembrar que, ficar parado és mente vazia, e “Mente vazia és a oficina do diabo.” Desculpa! Não quero dizer uma afronta, mas serás o diabo um homem feliz? Digo, essa és uma pergunta de quem pelo menos nunca viu até agora em nenhum dos comboios; um único homem sorrir por servir o reino da hérnia e do demaseio de alguns... Aliás! Por que serás que Deus nos deu a fome? Embora eu aceite o sacrifício do boi! Qual és a lógica de um animal matar outro? O mundo parece cruel? Ou talvez, cruel sejas este meu pobre olho que enxerga o mundo! Afinal, tudo também podes ser uma questão de prisma. Serás o conhecimento um caminho para a nossa verdadeira liberdade? Não serás a palavra uma mentira igual? Pois bem, aqui termino com um não sei.

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- Viu só? – Exclamou Antunes. – Repararam na parte da velha?

Armando: - Espera! Sem querer ser chato, mas a velha não poderia ser uma louca? Quem garante? Estamos falando de alguém do século XVI!

Miguel: - Ainda é cedo para conclusões. Pois, se a idéia esta em não considerar as filmagens; ainda temos muito em que...

Interrompeu Armando ao indagar: - Calma! Tudo bem! Suponhamos que isso tudo seja real! Mas, e quanto a este lance de escolhido? É o que? Hollywood? O escolhido sou eu? O escolhido são vocês?... Qual é!

Voltou Antunes: - Armando, não estrague! Sei o quanto isso parece ridículo, mas temos que tentar pensar em todas as hipóteses possíveis! Não é?

Encerrou Miguel ao findar: - Bem, vamos parar com isso! Logo, logo vai escurecer, e já estou ficando meio vesgo. Temos que fazer um acampamento ainda, não temos tempo a perder... Atenção!... Continuando a leitura.

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A culpa és minha, a culpa és toda minha, pois não devias ter falado tais coisas, a culpa és minha! Eu atraí a maldição! A coisa ruim está aqui! A maldição dos mares se apossou de nós, e todos aqueles que se recuperaram na praia, já no mar, cá em dois dias, pioraram tanto, que suas feridas começaram a jorrar em puro sangue e pûs, são feridas para todos os lados: gengivas, línguas apodrecidas, olhos profundos, mortes sofridas... Não, não és uma rima, és o infortúnio, és o fim do mundo. Nosso padre morreu, nosso boticário se matou. Sabes! Preciso foi até fazer o remanejo entre as frotas para que continuássemos a navegar... Ao todo, só aqui nesta nau, já se foram setenta e cinco homens, setenta e cinco vidas, e com elas; o meu pobre e esperançoso sorriso. Enfim, não agüento mais trabalhar! Desculpe! Estas impossível grafar sem tremer ou chorar, pois, se pensarmos que a metade de nossa tripulação morreu para conseguimos chegar à metade do caminho, como serás que passaremos para outra metade?... Isso é humilhante!... Há quem diz que pelo menos teremos mais comida. E por respeito aos que foram, e por homenagem ao nosso grã padre. Aqui deixo a grafia de sua última oração, que em seu leito de morte, já mui debilitado, para nós pregou, ao titulo que invento: Neste momento! "Pai, interceda por nós! Aos homens que estão prestes a cometer loucura. Interceda por nós! Pai, aos seres que acham que não valem nada. Aos filhos que perderam a fé, aos desesperados, aos arrependidos, aos injustiçados que enxergam na dor um espinho sem fim. Interceda por nós, meu pai! Com abraço, ternura, consolo e a paz, em cada criatura, Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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e a mim, para que juntos possamos enxergar nos males, e em toda nossa cicatriz, o caminho para verdade, e a saída para estarmos em ti.”

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Terra sem vista ... Só sei que a terra não és redonda! Pois, conforme a cópia do mapa que grafei: já estamos a dez dias de nosso destino, e se quer pude sentir a descida da laranja... Sabes! Foi tanta desgraça, que agora começo a rir de nossa própria fraqueza. Olhando aqui, por este bordo, de madrugada, percebo o quão a calmaria dos mares e da vida és um engano, os olhos és um engano, vivemos ludibriados. Como vaga-lumes atraídos pela chama, não estamos nós aprisionados? Por nossa própria vontade? Ou por nossa limitada condição de sabedoria humana? Ó, Deus! Sei que não sou digno de questionar as suas vontades, mas por que nos arrancou o padre? Se ele era a sustentação que tínhamos aqui. Quem agora iras pregar os sermões? Quem iras perdoar os nossos pecados? E as confissões? Se até o nosso doutor boticário, que pelo medo de pegar a peste, também se matou. Ah! Se soubessem que eu fuis o infeliz contribuinte de todo este mau, porque grafei sobre a coisa ruim... Em consciência, além de esconder este diário até os meus últimos dias, levarei comigo esta cruz de todo infortúnio e pecado. ... Salientou Antunes: - Se vocês repararem no que ele disse em uma das cartas, vocês verão que ele esteve “vacinado” contra a doença do escorbuto. Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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Analisando o conteúdo de uma das cartas. Indagou Miguel: - Sim! Como era de se esperar, e até obvio: a doença que assombrou a tripulação era devido à falta de vitamina C. Mas, não compreendi Antunes, onde é que está escrito que ele estava vacinado deste mal? – Após observar. – Ah! Então quer dizer que...

Confirmou Antunes: - Exatamente! Um pote com geléia de laranja. Sorte?... Bem, mas agora mudando de assunto, vocês repararam na mudança comportamental do Gabriell?

Entrou Armando: - Não creio! Para mim, o que houve foi um misto de confusão de sentimentos, valores que se chocam, dado à situação que ele passou. É compreensível! Afinal, aceitar a morte é uma das coisas mais impossíveis.

Interrompeu Miguel: - Bem, é melhor pararmos a leitura por aqui, já está escuro, vai chover, e precisamos arrumar o nosso acampamento também. Ok? ... E ali, há uns três quilômetros da rodovia, perto da estrada Rio / Santos, próximo ao cume de uma serra, em baixo de uma árvore, já

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sob uma forte chuva: Miguel, Armando e Antunes, após conseguirem alguns galhos, montaram a estrutura de uma discreta barraca que, coberta por um grande pedaço de manta térmica, e muitas folhas... Fez-se o repousar... Porém, naquela mesma madrugada, após escutar um estranho e crescente barulho. ... Miguel: - Acordem! Vocês escutaram isso?

Quase dormindo, nervoso, resmungou Antunes: - É o temporal! Me deixa dormir! Estou gripado.

Levantou Armando: - Porra! Agora escutei! Esta aqui perto! Estão ouvindo o barulho nas folhas?... É um rosnado! Cassilda! Parece ser uma onça! Parece ser de uma onça pintada.

Saindo do transe, desesperado, interrompeu Antunes ao levantar: - Onça o quê? Rápido! Cadê o repelente? Digo: cadê o isqueiro?

De pé, chegando ao meio dos dois, Miguel: - Repelente? Antunes; o isqueiro está contigo!

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- Temos um revolver. – Frisou Armando. – Temos dois facões também, cara! Está chovendo muito lá fora, façam faíscas para iluminar bem. Prontos? Vamos gritar! Sairemos os três!

- Calma! Já achei o isqueiro. – Pediu Antunes. – Mas, dê-me uma faca também. Vamos os três?

Miguel: - Vocês têm certeza que isso funciona? Estou me borrando inteiro, por que não atiramos daqui. Ouça! Ela esta farejando ali! Ali!

Interveio Antunes: - Não! Não atira não! Pois, se for uma onça mesmo, é um animal sob risco de extinção.

Findou Armando: - Esta bem! Senhor Ecologia: se ela pegar um de nós, não seremos nós que estaremos extintos? Vamos logo! Vamos mostrar pra essa onça por que é que estamos no topo da cadeia alimentar. ... E assim, como um grito de guerra da Era Glacial, por volta das três da manhã, aos pulos e berros: Antunes, Armando e Miguel, como um grupo de Neandertais contemporâneo, como um bando de

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gorilas com alopecia, com murros nos peitos, da barraca saíram numa imponência tal que, quando Armando atirou para os céus; até o coitado daquele bicho fugiu em reconhecer o profissionalismo do instinto humano. Então, após o susto, voltando para a cabana, sob a posse do mesmo isqueiro, iluminando a si mesmo, Armando pegou os documentos, e por sua vez, continuou a leitura. ... Na tristeza encontrei o pensamento, e com ele a poesia. Cá intitulado: A opinião de hoje! “Serás pra vida toda? O tempo que lhe sobra agora? A garra por lutar a idéia? O riso pela piada tola? Serás pra vida toda? A energia para correr o dia? A teoria pronta para responder o meio? O modo que encara à vida? O medo que lhe trava à alma? A voz que lhe pede a briga? Serás pra vida toda? O luxo da prestação de seu relento? Os olhos que enxergam o agora? A morte que lhe engana o tempo? Serás? Serás um momento? Serás? Serás pra vida toda?” ... Ah! Como eu queria estar à cá somente para contar as boas novas. Sabes! Às vezes me pego a pensar; por que a minha vida não és como a dos outros cavalheiros? Por que Deus não acaba logo comigo? Pois, em segredo: daria eu a minha alma, ao troco de que pelo menos ninguém mais nesta Terra viesses a sofrer, daria eu a minha vida, para que pelo menos num dia do ano: todos ficassem em completa harmonia. Ó Deus! Poderíamos fazê-lo! Penses: se sujeitares a minha oferta; lembre-se que pronto estou em algum lugar ao Sul, lá pelos mares que levam para as novas terras, que o famoso e cá bem dito Capitão Gaspar de Lemos descobriu, e ansiosamente estás a nos esperar.

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... Lembrou Armando: - Acho melhor pouparmos o isqueiro! Continuaremos a leitura amanhã, aliás! Temos que pensar em nossa rota... Miguel: não era a sua Universidade que tinha uma Casa de Pesquisa por aqui?

- Sim! Mas, essa não é uma boa idéia: aquele lugar é monitorado via satélite. – Então, com um mapa na mão, mudando de assunto, Miguel indagou. – Armando, só um minuto, ilumine aqui... Olha!... O que acham de seguimos pelo rio do Funil? Ele poderá nos levar a São Paulo mais depressa. Não?

Bradou Antunes: - Pessoal! Rápido! Fechem o isqueiro!... Estão ouvindo?

Surpreso, Miguel indagou: - O quê? Aonde?

Voltou Antunes: - Ignorem o barulho da chuva, está bem ao fundo!... Escutaram?

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Armando: - Porra! – No escuro da barraca, espionando por uma fresta. – Será que não temos mais sossego? Deixa-me ver! – Após observar melhor. – Bem, não é de transporte, mas de reconhecimento, monomotor... Pronto, já vi! Trata-se de um helicóptero modelo Esquilo AS350B, pode ser do exercito, pode ser da policia. Miguel: você tem certeza que essa manta anulará a termo visão?

Explicou Miguel: - Sem dúvida! Sou um Geólogo Pós-Graduado em Paleontologia, trabalho com sensores: essas mantas servem para neutralizar a luz e o calor. Ainda, estamos dentro de uma camada grossa. Para a visão do helicóptero: a nossa barraca será apenas uma rocha com forma esquisita. Pois, como sabem, a natureza é excêntrica mesmo!

Zombando, ironizou Antunes: - Só falta você dizer que ela é formada em moda também. Qual é! Vamos falar sério! Uma coisa é certa, a essa altura eles já devem ter rastreado o nosso carro, e com toda certeza: já devem saber que passamos por aquela Vila.

Voltou Armando: - Bom, se isso servir de consolo, pelo menos não deixamos os rastros da trilha. – Continuando. – Agora, aproveitando que vocês tocaram no assunto de moda. É prioritário que criemos com o

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restante do rolo da manta que sobrou, uma roupa para que cada um de nós possa trilhar sem emitir as ondas de calor. O que acham?

Cortou Miguel: - Tudo bem! Eu os farei, mas Armando, fora isso. Só vejo duas opções aqui, a primeira é, aproveitamos o período de cheia para subirmos até o Norte da Serra, onde por lá, pelo rio do Funil desceremos até chegar a São Paulo.

- Ótimo! – Retornou Antunes. – Além de ser o caminho mais rápido, pelo rio; poderemos enganar a eventual entrada dos cães... Mas, qual seria a segunda alternativa?

Ainda, observando pela fresta do acampamento. Armando: - Morrer! Infelizmente, seguir pelo rio é a mais sensata das opções... Bem, se continuarmos com o atual ritmo: chegaremos até o fim da tarde de hoje. Afinal, são quase dez km de Selva.

Emendou Miguel: - Então, destes dez, nós já percorremos três... Faltam sete! – Após um tempo, mudando de assunto. – Cara! Depois daquela onça, e agora este helicóptero. Não conseguirei mais dormir, tá louco! É muita adrenalina para um homem só.

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- Pois é! – Lembrou Armando. – A última vez que senti isso, foi na escola, numa vez em que cabulei aula para assistir o show do Frank Sinatra. – E assim, bisbilhotando os céus daquela noite, numa espécie de nostalgia em meio à insanidade, olhou para lua e sussurrou. – “Moon River.” Que letra! Que música!

Entrou Antunes: - Eu recordo desse dia, bons tempos! Embora essa música seja do Andy Williams, e ela não tenha sido tocada nesse show, prefiro a versão do Louis Armstrong... Saca? Mas “Areia da ampulheta” do Raul Seixas; também seria uma ótima música para escutarmos.

Opinou Miguel: - Sei lá! Pensei em “Meu mundo caiu” de Maysa Matarazzo, mas “O segundo Sol”, na voz da Cássia Eller também poderia...

Cessou Armando: - Ah, qual é! Por favor! Você, hein? Não sei não Miguel? – Soltando um peido, continuou Armando. – Olha! Vamos mudar de assunto, pois a coisa esta ficando esquisita aqui. Agora é sério! Sem brincadeiras: como todos nós perdemos o sono, talvez, seja melhor voltarmos à leitura. Afinal, não estou mais vendo o helicóptero, e com este atual temporal: drone nenhum funcionará bem. Enfim, aonde esta a vela? Veja! Só agora lembrei que tínhamos comprado uma vela, é mole!?

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No meio da escuridão, Miguel: - Ascenda o isqueiro! Ilumine aqui! – Após Armando iluminar, revistando a mochila. – Não! Isso aqui é a maleta... Pronto! Já encontrei a vela.

Rindo, Antunes: - Porra! Vela de sete dias é sacanagem, até parece que somos macumbeiros... Armando: você continuará a leitura?

Armando: - Sim! Mas, por favor, passa-me os documentos. ... E com a vela iluminando o centro do acampamento. Armando, já com os documentos em mãos, “limpou a garganta”, e antes de continuar, folheou a última página ao lembrar: - Escutem! Repetindo o último trecho: “... bem dito Capitão Gaspar de Lemos descobriu e ansiosamente estás a nos esperar.” O relato do acontecimento deste dia acabou aqui. Bom, agora peço atenção de vocês, pois prosseguirei com a leitura, ok?... Carta datada, dia: 15/05/1502.

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Mistérios Canibais ... Como dirias o nosso santo padre: “Na vida, tudo se podes tirar de lição.” isto és uma grande passagem, e o presente és toda a explicação. Sabes! Só devemos aprender a ter fé, e exercitar a compaixão, isto és: mas como és difícil, difícil pedir, difícil dar o perdão... Bem, mas pelo menos, em matéria de alguma cousa, já até possos dizer que aprendi algo, na verdade, descobri que não existe monstros marítimos, e que frágil és toda condição do homem. Afinal, sempre hey de lembrar, dos que cá morreram sem nunca compreender o que foi essa realidade. Por fim, mudando de assunto, falando do queijo e não do presunto, cá venho contar uma nova. Sabes! Depois de tanto, finalmente aprendi o significado da palavra exportação, segundo o que me disses Jó, o velho vigilante da ampulheta, esta palavra significas: trazer para o lado de cá, ou sejas, és como brincar com a própria bosta que vem descendo do rabo, mas que por algum motivo a fazemos voltar para o lado de dentro... Percebes? Como a nossa língua és engraçada? Como uma palavra podes mudar o sentido de uma cousa? Insulte um estrangeiro que não compreende tua pronuncia, chame-o de paspalho que ele sequer irá ligar, mas se acaso souber o seu significado, quase sempre: vós estarás enrascado... Mas, por quê?... Com cuidado, percebas que tens o lado da entonação que precisas ver também. Assim, como outro dia mesmo, quando o meu chefe de porão recebeu a inesperada visita do nosso Segundo Capitão, que és um grã soldado por natureza, que falando pelo tom áspero; nos confundiu ao dar um simples parabéns... Irônico?... Talvez! Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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Terra à vista! Terra à vista! Terra à vista! Terra à vista! Não sei quantas vezes mais poderei grafar Terra à vista? Oras! Fois tanta tristeza, luto, espera, fome, cansaço e saudade, que cá: jaz-me a minha morte, ó rima! Ó sorte! Como existem aves de infinitos portes, cores, cantos e gritos. Isto és um paraíso! Ó, meu grã diário! Que céu azul é este? Se pudesses ver os montes? Se pudesses sentires o calor desta Terra? Se pudesses ver as florestas de mata verde e pura. Sabes! Por tanta beleza, não me estranhas o motivo que, por lá: em solo firme, o nosso Grã Dom Gaspar de Lemos ainda não fois avistado. Por fim, contando com esta noite de ancorada, e os dias que ficamos em Cabo Verde, ao todo, este lugar nos custou sessenta dias, e quase dois terços de nossa tripulação. Sabes! Desde a última tarde, conforme o apontado por nosso comandante que, já avistando alguns sinais, como algas nos mares e aves no céu, o sábio acertou em sua profecia, ao falar-nos que antes de amanhã estaríamos à cá, não deu outra: viva a voz de toda experiência! Sabes! Ainda és possível escutar, ecoando em meus miolos, ainda posso escutar os gritos de aviso do homem da torre. Desde então, a este bordo, espremido estou por grafar e ver tamanha maravilha que esta manhã nos revelou. Serás que morri? ... Voltou Miguel: - Apesar de ser engraçado, acho meio desnecessário algumas informações. Não tem como pularmos os assuntos que não são pertinentes a nossa causa?

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Opinou Antunes: - Discordo, pois é imprescindível que leiamos tudo. Nunca se sabe em que parte estará à verdade, por exemplo: se vocês notarem este último trecho, chega a ser rico os detalhes que ele descreveu. Leiam as cartas dos contemporâneos de Gabriell que estiveram aqui, com toda certeza: estamos com um documento verdadeiro.

Após um momento, indagou Armando: - Bem, mas, por que parece que esta faltando um pedaço do texto?

Explicou Antunes: - Pois é! Infelizmente não foi possível recuperar todo o material, além do que: mais de dois terços dos documentos ficaram intactos.

Interveio Miguel: - Desculpa interromper! Estive pensando, como não poderemos sair desta barraca para captar a água da chuva, chego à conclusão de que precisaremos de barro para diminuir o prateado das nossas mantas.

Rindo, Antunes: - Olha! Podemos aproveitar que estou meio gripado, e assim, com a minha fabricação natural de meleca: podemos rejuntar a terra com o tecido da manta. Que tal? É, ou não é uma boa idéia?

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Esbravejou Armando: - Ah! Cala essa boca! Que papo mais nojento cara.

Replicou Antunes: - Veja só quem fala? Cara! Se sairmos daqui para pegar água: quem garante que não seremos descobertos por algum helicóptero.

- É por isso! – Exclamou Armando. – Agora são quase quatro horas da manhã, e enquanto não terminarmos de fazer os coletes e os capacetes térmicos: não poderemos sair daqui, ouviram?

- Pois é! – Lembrou Miguel. – Ainda bem que estamos em horário de verão. De fato, só irá clarear daqui umas três horas.

Voltou Antunes: - Sou leigo no assunto, mas quem garante que as tropas de reconhecimento terrestre já não estejam vasculhando essa região?

Emendou Armando: - Não! Isto é praticamente impossível! Há um planejamento tático. Seja quem for o inimigo: eles só devem estar esperando o amanhecer para fazê-lo, por tanto, não podemos vacilar! Temos que andar logo com isso. Aliás! Vocês estão...

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Ao cavoucar a terra, em um canto dentro da barraca. Antunes: - Que se dane a água! – E despejando a única garrafa potável no chão. Resmungou. – Se de qualquer maneira, segundo o mapa: teremos que passar por duas nascentes.

Gritou Armando: - Não! Por que você fez isso? Seu asno! Não era preciso! Não precisamos passar por isso também... Puta que pariu!... E agora?

Acordando de seu próprio pensamento. Miguel Indagou: - O que ele fez?

Explodindo de raiva. Armando: - O imbecil jogou a nossa água fora!... Antunes: você esta de sacanagem? Cara! Como pode? Você é um professor! Você é um professor? Você é um burro! E agora? O que é que vamos beber?

- Armando. – Serenamente, retrucou Antunes. – Não sei por que você esta gritando?... Você já não está na policia. Lá fora todos querem nos cozinhar, não temos mais garantia de nada, não sei o que aconteceu com a minha família, e nem sei como será o nosso próximo minuto. Não me venha falar de economia! Pois, não temos condições nem para firmar um bocejo, ou para julgar a mais ridícula e insignificante peripécia de uma solitária formiga.

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Partindo pra agressão. Gritou Armando: - Fique tranqüilo com a sua família, seu filho da...

Interveio Miguel a clamar: - Calma! Brigar não vai adiantar em nada! Pois, é isso que eles querem! O inimigo quer nos ver separado.

Respirando fundo, Armando: - Tem razão Miguel! Vamos deixar essa garrafa lá fora. – E assim, de forma rápida e discreta, pondo os braços para fora do acampamento, findou. – Quem sabe: podemos captar a chuva.

Antunes: - Qual é! Vamos fazer tempestade só por um litro e meio d’água?

Retrucou Armando: - Você só diz isso por que ainda não esta com sede. Eu quero ver mais tarde, esse mesmo desdém; quando subirmos as serras.

Mudando de assunto, esfriou Miguel: - Olha! Será que na hora em que espantamos a onça, será que no meio daquela barulheira, não despertamos a atenção de alguém? Pois, pensa: o helicóptero chegou logo em seguida.

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Voltando a discussão. Findou Antunes: - Armando: enquanto não chegarmos à nascente, privar-me-ei de beber um só gole d’água. Ok?... Miguel: ao que você falou, creio que faz todo o sentido, o barulho do tiro, e de nossa gritaria deve ter ecoado por estes vales. O que acha, Armando?

Apesar de bravo, respondeu: - Sem querer ser grosseiro, eu não acho mais nada!

Ainda, tentando apaziguar. Tornou Miguel: - Bem, por que não comemos alguma coisa? Temos chocolate! Temos bolacha!... Cadê o pacote das bolachas?... Hein? Armando?

Armando: - Bom, façam o que vocês quiserem! Eu prosseguirei com a nossa leitura. – Então, virando a página, continuou Armando. – Começarei daqui: ... Passado um tempo, desde que tivemos que ancorar a meia terra, passado um mesmo, desde que tentamos fazer o nosso primeiro contacto com os povos deste lugar. Não sei nem como dizer, mas tentando: digo que cá estou em meio a desconfio. Pois, afinal já circulam boatos de que alguns de nossos homens que

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daqui desembarcaram para a praia, num demorado tempo de uma ampulheta, se quer voltaram para dizer olá. Sabes! Sinto que deixei novamente enganar-me pelos olhos! E para piorar, segundo o que relatou o nosso observador da torre central: esta gente anda nua, em completa desvergonha tal, que farias uma freira se matar. Cruzes! Não sei se isto és uma verdade, mas se for: preferirei o trabalho dobrado de ter que voltar remando a Portugal, do que conviver com esta pelada gente: sem Deus, principio e Moralidade... Sabes! Se eu pudesses; convocaria nosso Grã Rei para sentires este medo que, só quem esta a cá podes falar. ... Virando a página. Armando: - Ok! Continuando a próxima página.

Comentou Miguel: - Bom, pelo que eu entendi, eles chegaram a São Vicente. Mas, por que diabos a frota de Gaspar de Lemos não estava lá?

Explicou Antunes: - Por que eles não estavam em São Vicente!

- Veja! – Emendou Armando. – Observe o desenho da última carta, e me diga se eles não estavam na Baia de Guanabara?

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Espantado, Miguel: - Carapaça! Então, não me diga que eles encontraram os...

Antecipou Antunes ao observar: - Exatamente! Eles encontraram os Tupinambás, justamente; a tribo que viria ser “inimiga” dos Portugueses.

- Sabe o que é mais estranho? – Voltou Miguel. – É que agora estamos trilhando pelo mesmo caminho onde este povo habitou.

Interrompeu Antunes a exclamar: - Finalmente! Acabei de fazer a nossa lama. Pessoal! A nossa camuflagem esta pronta, se quiserem: posso prosseguir a leitura?

- Não, tudo bem cara. Obrigado! – Encerrou Armando. – Deixe-me terminar as três próximas páginas... Continuando. Lá vai! ... Ó meu diário! Se por um acaso, cá eu não grafar as próximas folhas. Em ti, podes concluir que pela mão do povo desta nova terra morri... Em verdade, além de mim, a metade de nossa companhia que sobrou fois escolhida para descer desta nau. Em missão de procura e contacto legal. Sabes! Em ânsia estou, pois logo estarei

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num barquete indo em direção a minha possível morte. Além de mim, levo comigo a oferta de um porco como sincera intenção de amizade das melhores. Vou! Por fim, caso eu vier falecer, anteciparei já, ao entregar para o meu capitão esta minha última carta que escrevi para Senhora Rosa. Minha mãe!

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Cantoria dos Silêncios ... Assim fois! Com uma punhalada n’alma, com todos os meus pertences jogados por directo e sem consentimento de minha vontade, até as cartas que um dia achei que minha mãe recebera, em gargalhos, pelo capitão da caravela central; recebi as de volta, e num típico e inesquecível sinal de “Boa Sorte!” lançaram-me ao mar. Oras! Mamãe! Desculpe-me este palavrão, mas enganado fui como um grã Filho da... Pois, pra quê? Pra quê eles ficaram com as minhas lembranças, se nunca haveriam por entregar a ti? Onde estás o interesse nisso?... Por quê?… Por fim, em prova, se acaso sobreviver eu ao que dentro dum momento irás acontecer, quando pisar-me naquela praia, por este barquete que navegas rumo à morte; deixo o registro dum rapaz que fois traído pela própria Pátria, e que viveu tentando fazer o melhor em prol da dignidade da sua família. Por tanto, além da oferta que carrego nos braços, na sacola, levo o último pote de geléia, qual lambuzo-me para esquecer este amargor. Agora, após este possível e último registro, guardo este diário. PS.: Sinto pena do porco! ... Indagando, frisou Miguel: - Quer dizer que os capitães que ficavam encarregados de entregar às cartas a família dos tripulantes, além de não fazê-lo; analisavam uma por uma, só para entender o estado emocional dos caras? – Resmungou. – Que sacanagem!

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- Pois é! – Explicou Antunes. – Este era um eficiente modo de se conter um motim, o que na época, dado as situações extremas em que uma tripulação passava; isso era muito comum!

Emendou Armando: - Pena que o Gabriell não mencionou se tinha outras pessoas levando ofertas para os índios, como espelhos, cães, galos, vinho...

Interrompeu Miguel: - Desculpa cortar Armando, mas como já terminamos de fazer o nosso equipamento térmico e as nossas camuflagens. Agora, quando retornarmos à trilha, já podemos ir coletando alguns galhos e cipós para construir a nossa jangada.

Findando. Solicitou Antunes: - De acordo! Mas alguém de vocês poderia fechar a mochila? Pois, as minhas mãos estão cheias de lama.

Se prontificando. Armando: - Tudo bem! – Fechando a mochila, lembrou. – Antunes: um dia você nos falou sobre o significado da palavra Paranapiacaba, o que era mesmo?... Era uma palavra do Tronco lingüístico TupiGuarani? Ou Macro-Jê?

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Explicou Antunes: - Dado a circunstâncias da importância regional dos Augamis, esta é uma palavra multi tribal, para alguns; significava “aquele que sofre.” Visto que naquela região, muitos peregrinos trilhavam para ser auxiliados ali... Já, para outros; significava “lugar onde se vê o mar.” que na verdade, este “mar” pode ser simbólico do renascer, do transformar do mundo e do coração...

Emendou Miguel: - Em ambos os casos, o significado é totalmente comprobatório.

Encerrou Armando: - Que maravilha Antunes! Isso pode nos ajudar em muito. Aliás! Como chegamos à metade da analise das nossas provas, além de lhe pedir o meu perdão por aquela discussão idiota, gostaria de lhe agradecer, afinal, sem você não estaríamos tão adiantados nessa investigação.

Antunes: - Que isso! Quem sou eu para perdoar alguém?... Mas, voltando ao assunto dessa investigação, ainda temos que continuar analisando todos os fatos e possibilidades.

- Lembrei! – Exclamou Miguel. – Lembrei de uma história.

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Voltou Antunes ao interromper: - Espera! Armando, você ainda não me contou o que aconteceu. Digo: antes de tudo isso começar, como foi? Como foi que você ficou sabendo. – Desconfiado, indagou. – Cara, por acaso tem alguma coisa que você não quer me contar?

Armando: - Não! Nada tão relevante quanto o agora. Conforme eu havia dito: tenha paciência Antunes! Pois, logo lhe contarei os detalhes de tudo que vi, e do pouco que sei.

Interrompeu Miguel: - O Armando tem toda razão! Antunes: é primordial que foquemos neste momento. Vamos rezar para que tudo fique bem. E aí! Prosseguiremos com a trilha?

Comentou Antunes: - Desculpem-me! Essa pressão esta me matando, afinal: eu só estava querendo...

Cortou Armando ao encerrar: - Bem, vamos ao que interessa. Temos que retomar a nossa caminhada. Afinal, só falta uma hora para clarear o dia, a chuva cessou, e não podemos mais perder tempo, ok?

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E desta forma, sem mais imprevistos, tudo aconteceu conforme o esperado. Pois, logo após desmontarem o acampamento, voltaram a caminhar. Por cerca de quatro horas interruptas, no meio daquela floresta, já pelo norte da serra, em direção ao Rio do Funil, trilharam: até que por volta das dez da manhã, cansados, principalmente pelo forte calor e a exaustiva subida. Com calos nos pés, num tom de voz quase asmático.

Antunes sugeriu: - Podemos parar um pouco... Para respirar?... Não agüento mais este calor!... Está impossível!... Não dá!

Miguel: - Pois é! Eu também não agüento mais!... Estes mosquitos são a prova de repelente, ou estes repelentes são um chamariz de mosquito?... Bom, se for um consolo, pelo menos ainda sobrou um pouco de água que conseguimos captar da chuva.

Armando: - Boa piada. Pessoal! – Recuperando o fôlego. Indagou: – Ufa! Também estou cansado, mas já estamos próximos do rio. Basta agüentarmos mais uma hora... E ai?... O que vai ser?

- Eu paro! – Deitando-se no chão, concluiu Antunes: – Morri!

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Dando fé, Miguel: - Só falta um velório!... Mas, e você Armando? Por que não aproveita para sentar-se um pouco, podemos conversar.

Indagou Armando, ao mesmo tempo em que se sentava no chão: - Conversar sobre o que?... Gnomos?... Miguel, se você quer trair a si mesmo, distorcendo o mundo que vê, só para suportar essa loucura toda, devo dizer: parabéns! Troféu asno dourado pra ti.

Estirado, olhando a copa das árvores, comentou Antunes: - Asno dourado?... Não entendi essa... Cara! Só fico imaginando o que já não aconteceu nessa floresta. Dinossauros, Índios, Bandeirantes, (igualmente a nós) todos deviam viver os seus momentos tão preocupados consigo... Este lugar não é incrível?

Em animo, emendou Miguel: - Isso por que só resta menos de 7% de sua cobertura original. É uma pena! Sem falar da vida animal, migratória e endêmica. Pois, se soubessem que em termos de diversidade de árvores; esta é a floresta mais rica do mundo, é até de se estranhar que ela também seja o segundo Bioma mais ameaçado do planeta.

- Realmente! – Profetizou Antunes. – Precisamos investir muito mais em usinas nucleares... Angra XIII, não é?

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Interrompendo, divagou Armando: - Imaginem um black out, de um mês, imaginem um black out em todos os grandes centros do mundo... imaginem isso em São Paulo, onde o lema do brasão da cidade, é: “Não sou conduzido, conduzo.” O que vocês acham que aconteceria ali?

Rindo, Antunes: - Que tragédia! Pois é! Essa frase já diz tudo, ela é a prova raiz da deformação da estrutura psicossocial... Mas, enfim: este é o preço da luz, o homem é um ser iluminado.

Concluiu Miguel: - Sem dúvida! E quando falam sobre o apocalipse zumbi, mal se tocam que, por fronteiras e bandeiras: já vivem no meio de um. Morremos, mas ainda não percebemos.

Interrompeu Armando: - Sem querer cortar, mas não tem como vocês falarem mais baixo? Pois, mesmo que estejamos escondidos e protegidos de qualquer grupo aéreo, ainda sim, tem o problema dos cães. Certo?

Miguel: - Tem razão! – Em tom mais baixo. Ironizou. – Desculpem, por mais maluco e paradoxal que seja; não resisti à grandeza de poder falar mal de nossa própria espécie.

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Emendando, confirmou Antunes: - Pois é! Há instantes estávamos felizes por ter feito uma grande descoberta. Mas pra quê? Pra de repente tudo cair?... Só fico imaginando no que meus conhecidos estão a falar de mim.

Amenizou Miguel a filosofar: - Engraçado e complicado, às vezes me pego pensando nisso também. Afinal, qual é o sentido disso tudo? Será que não estamos gastando tempo com besteiras? Qual é a razão do homem neste mundo? Brincar de Deus Burro? Fazer plástico? Inventar verdades? Fazer bombas? ... Ou serão as fezes?... Pensa, que loucura! Pois, do ponto de vista biológico: a complexidade não se torna possível pela “soma” da simplicidade em todas as suas formas? Basta ver o nosso corpo humano, complexo, mas que depende exclusivamente das bactérias e células. Não somos nós: outra célula no meio de um todo?... Ou, será que os motivos dessas conclusões não estão contaminados por minhas limitações?

Emendou Antunes: - Cara, Miguel! Você me lembrou de um livro que eu estava lendo, desculpe não lembrar o titulo, mas: o autor propunha exatamente isso que você citou. Uma analogia das questões sociais com as microbiológicas, na obra, ele comparava os índices de suicídio humano com o próprio mecanismo de apoptose celular, o que também nos faz remeter a idéia de que; os nossos próprios conceitos são um mecanismo para se organizar. Segundo ele: bem ou mau, tudo tem lei, tudo tem ordem, seja ela no micro, seja ela no macro... Mas, enfim: ainda prefiro acreditar que o sofrimento de hoje seja para alegria do amanhã, como conhecimento passado via mitose, e adquirido via interpretação predispositiva.

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Cortou Armando: - Sei lá! Vamos parar com este papo, pois não estou entendendo a metade do lixo que vocês estão falando... Tudo que sei, e como um policial, posso concluir que a maioria do povo só liga para o cérebro quando uma desgraça lhe cruza o caminho. Só percebem a vida, quando estão doentes, ou na véspera de morte.

Interrompeu Antunes: - Mas, só para finalizar o raciocínio, como diria um velho ditado: “O otimista acha que todo mundo vai comer merda.” Agora: perguntem sobre o pessimista!

Miguel: - Que besteira. – Em desdém, indagou. – Está bem: e o pessimista?

Voltou Armando a cortar: - Que vai faltar merda pra todo mundo? – Zombou. – Ah, qual é! Essa é mais velha do que a minha avó na torcida do Madureira.

Rindo baixo, concluiu Miguel: - Viva o pessimismo!... Sabe... E pensar que toda a desgraça esta ficando divertida, acho que nunca falamos de algo tão profundo. Sério!

Antunes: - Ué? – Medonhamente, gargalhando divertiu. – Mas, já não falamos das novas obras do metrô?

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De forma bi polar, findou Armando: - Tá legal! Sem gracinhas, acho que já conseguimos refrescar a cabeça... Vamos voltar à leitura?... Antunes: você pode continuar? Como está a sua gripe?

Acatando. Antunes: - Vai bem, obrigado! Acho que depois de tanto cansaço, acho, que até a gripe se cansou de mim. Está tudo beleza! Podem me passar os textos. Ok? ... E foi assim, sentados em um chão forrado de folhas, insetos, galhos e barro, com os olhos cansados, em completo estado de simetria, no silêncio: do caos à harmonia com o universo da mata... com as pernas estiradas: Miguel, Armando e Antunes, sem querer, mas de forma espirituosa, pareciam se ascender em completa paz. Por quase uma hora, de um inexplicável, misterioso e repentino silêncio, sob o recebimento de alguns feixes da luz de um sol do meio dia, que: atravessando as folhagens das copas frondosas, pareciam transformar aquele ambiente. Então, passado algum tempo, com todos os documentos em mãos, ainda: à uma hora do Rio do Funil, no coração daquela floresta, com a próxima carta nas mãos. Antunes retomou a leitura:

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Utopia ... A dor deves ser igual em todo canto do mundo. Ora, pois, penso! Se cá tomarmos um tiro, em Cascais ou em Santiago de Cabo Verde; não serás a mesma cousa? A dor não serás tal mesma?... Sabes! Ó meu diário, se soubesses como venho passado os meus últimos meses, desde que em terra firme, pelo mal entendido, desde que a metade de toda nossa tripulação fois expulsa, e ainda pelos meus próprios compatriotas; fuis esquecido e abandonado para cá ser feito criado de povo que se diz Tupinambá. Não sei se digo faltas de sorte, não sei se digo excesso de azar, talvez por minha pouca idade, pelo porco oferecido, ou pelo resto da geléia de laranja que eles devoraram, ainda não morri. Logo a mim, que sempre condenei a vergonha, agora, em dúvida pergunto, serás por que estou nu; tornar-me-ei um grã selvagem?... Ó céus!... Exceto quando me chamam de Iba, impossível és compreender o que esse povo tenta falar. És de mais estranho! Por que estou sendo tratado por demasia bem? Se até pelos meus próprios conterrâneos: jamais fuis tratado com tal honradez. Sabes! Mesmo que eu ainda trabalhe, comparado com minha vida nos porões das naus, isto aqui és mui pouco, pois ao meu reparo: eles só plantam o que comem, e não vivem para acumular. Por fim, só queria despedir-me por entender o que significa este Iba, mas como não; deixo aqui mais um registro, feliz, mas, muito incerto... PS.: Tenho que arranjar uma maneira de regressar a minha terra, possível, o mais depressa! Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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Observou Antunes: - É estranho! Pois, a partir deste ponto, as anotações no diário começam a variar em seu tempo... – Folheando as páginas – Há intervalos de meses, e até anos sem um único rabisco.

Questionou Miguel: - Bom, já tive um diário, e posso garantir que é comum ficar um tempo sem escrever. Mas, o que eu não entendo, e gostaria que você explicasse Antunes; é a tal da expressão Iba. O que é?

- Isso! – Emendou Armando. – Eu ia perguntar a mesma coisa.

Coçando o braço, Antunes: - Então, essa palavra pode ter vários significados, pode ser: coisa ruim, feio, imprestável. Mas pelo contexto, creio que os Tupinambás o chamavam assim, apenas por considerá-lo diferente.

- Você quer dizer: feio? – Indagou Miguel. – Imagine a cena!

Matando um pernilongo, findou Antunes: - É! Deve ter sido um choque cultural e tanto... Bem, mas continuando, a próxima página é datada após cinco meses do último registro que acabamos de ler... Atenção! Continuando.

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Tupã... Y... Guaraci... Iandê... Nítio... Abacaxi... Mandioca... Uquirimbau... Angûera... Yara... Até aqui, exceto pelo significado de Iba, em ordem: estas foram às palavras que aprendi. A primeira fois Tupã: Deus, depois fois Y: Água, que também podes ser Rio, depois fois Guaraci: o Sol, depois fois Iandê: que significas Você, depois fois de Nítio: que és Não, e dependendo da cousa podes ser: Não Há, depois fois Abacaxi: que és uma Fruta mui boa de comer, depois fois Mandioca: que és outro Alimento, mas que não me agradou tanto, depois fois Uquirimbau: que significa Grã Poder, depois fois Angûera: que és o Espírito do Demônio que Vaga, e por último, fois Yara: que quer dizer: Deusa que Controla as Águas... Sabes! Queria poder mostrar a minha mãe tudo o que cá venho aprendendo. Sabes! Igual quando o tempo está frio; pela boca aprendi a soltar fumaça, és como respirar vapor para soltar vapor, assim, por uma espécie de canudo enrolado, queima-se uma planta na ponta, enquanto a nossa boca ficas a puxar do outro canto. Isso faz passar o tempo depressa. Aliás! Até já possos concluir que, cá levo uma troca de conhecimento única, pois já se passaram quase cinco meses do calendário de minha terra, e agora, mais do que nunca, me senti tão cheio de vida. Realmente, estou aprendendo cousas que nenhum menino aprenderá em Cascais. Pois, se soubesses o quão és divertido subir nas árvores, até já sei cair-me sem machucar... Tudo és questão de repetição, no começo, andar descalço doía, mas agora, minha sola do pé está tão cascuda que já fico a questionar-me: sapatos pra quê? Podemos economizar! Depois de tanto, és comum chegarmos à conclusão, de que és preciso nascer nu para depois adquirir a vergonha... Por fim, serás que houve alguma distorção em Portugal? Pois, basta notarEscrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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me por outro prisma, para perceber que selvagem eras o modo em que levei a vida. Digo, tirando o amor dos meus familiares, dos conselhos do meu santo padre, e até dum pouco da nossa engenharia dos mares, começo a perceber a cá, com este povo, que não és preciso mui pra sorrir, embora ainda grite com minha consciência, de que nem tudo és perfeito, pois como em minha terra: Tupinambá também vive nas guerras, disputas e inimigos. Bem, mas mesmo que embora, lá ninguém devore estes últimos, aqui não há trabalho forçado. Sabes! Por fim, se existe mesmo um paraíso, não deves estar mui longe de cá. Volto, contrariando o trecho acima, mesmo estando eu a ser tratado mui bem, ainda sim, nada me tiras a idéia de poder voltar a minha casa. Isso és uma agonia! Pois, hoje, tanto és impossível falar no meu idioma, como saber para que lado devo percorrer. Sabes! Preciso encontrar algum conterrâneo, preciso encontrar alguma caravela. Pois, se esses matos não fossem por deveras perigoso para um homem só adentrar, seguiria eu para o lado que for; somente para minha casa retornar... Pois, como diria um velho ditado: “Quando vieres à dúvida, cala-te: até esperar a certeza.” E a certeza; és que devo mesmo esperar. Aliás! Até a pouco, pensei na idéia de subir a Serra para melhor avistar alguma nau no horizonte deste mar, até que por outro, lembrei que este povo não és amigo de Guarani, e mui menos de Aimoré, que são homens terríveis até para o demônio, e que devem estar em algum canto deste lugar... Por fim, por essas, e por outras: terminarei a minha grafia de mais um dia... Infeliz, mas vivo... Sinceramente, antes de tudo: meu Deus, muitíssimo obrigado! Até mais logo, até mais breve. PS.: Vou ver um velho índio pescar.

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Retornando a trilha, lembrou Armando: - Acho que já esta na hora de voltarmos a caminhar.

Miguel: - Bem lembrado! – Se levantando do chão. – Vamos Antunes?

Cabisbaixo, enquanto guardava o material da expedição. Antunes: - Tudo bem! Mas, estive relembrando, galera... – Então, ao notar que falava sozinho, por último, já com a mochila nas costas, de forma desesperada, gritando, correu em direção aos dois amigos. – Esperem aí! Vão me deixar falando sozinho mesmo? Esperem! Eu não sou o Rambo!

Enquanto isso, a uns dez metros, em voz média, zombou Armando: - Se você estivesse em uma missão militar, já teria que pagar quinhentas flexões por isso, ouviu: Sr Antunes Silvestre?

Junto de Armando. Miguel: - Armando, e aquela sua idéia? Ainda esta de pé?

Armando: - Qual? Você se refere a...

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~ 89 ~

Já perto do grupo, em tom mais baixo. Sustou Antunes: - Olha! Consegui estes galhos para ajudar na construção da nossa jangada. – Mostrando os. – Vejam! Mas ainda tem um problema.

Surpreso, Armando: - Qual?

Zombou Miguel: - Se for mais galhos; estamos no meio de uma floresta.

Divagou Antunes: - Não é isso! Aliás, vocês sabiam que também da pra construir uma embarcação com garrafas PET?

- Cara! – Esbravejou Armando. – Fala logo! Qual é o

problema?

Voltou Antunes: - Desculpe! Mas, teremos que arranjar cipó para fixar os galhos, e nivelar a jangada ao nosso peso.

Miguel: - Então é só isso? Aleluia! Pensei que teríamos que matar um leão.

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~ 90 ~

... Desde então, ali, passado aquele momento, já por volta das cinco da tarde, há uns cem metros do rio, Antunes, Miguel e Armando, como um grupo de índios espionando pelo meio da mata, concluíram que o melhor a fazer, seria esperar, esperar até que a noite chegasse. Afinal, naquele caminho: ninguém poderia ser notado por alguém. Então, no mesmo intervalo, sugeriu Miguel, para que ali, em revezamento de uma hora, vigiando, cada um esperasse a sua vez de dormir. Isso, até chegar à meia noite, qual seria o tempo para que todos terminassem aquela jangada e partir... Foi quando, interrompendo o sono, Antunes indagou: - Pessoal! Armando! Acho que já esta na hora de você me contar o que aconteceu. Vamos lá cara! Não agüento mais esperar por essa história.

Miguel: - É verdade! Acho que chegou à hora... Armando?

- Se assim deseja. – Começou Armando. – Antunes, ouça bem! Infelizmente, não sei nem como dizer... Mas, é isso... Infelizmente: nunca mais voltaremos as nossas vidas, nada mais será como antes, tudo acabou!... Pronto é isso! Já falei.

- O que? – Indagou Antunes. – O que você esta? Tá maluco!

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Cortou Miguel: - Acalme-se, cara! Por favor...

Replicou Antunes: - Não! Não! Como assim, acabou? Temos um tesouro precioso em nossas mãos. Temos a verdade aqui!

Voltou Miguel: - Sim! Mas por favor, se acalme.

Visivelmente irritado, Antunes: - Porra! Eu não estou nervoso! Estou? Eu só quero uma explicação descente. Armando?

- Tudo bem! – Explicou Armando. – Você tem todo o direito! Logo você irá entender, mas preste atenção, pois a história é um pouco longa. – E dessa forma, respirando fundo, continuou. – Antunes: há pelo menos umas duas semanas, antes de tudo isso acontecer, eu tinha uma leve suspeita do que estava rolando. Saca? Não sei se você lembra, mas no dia que você publicou um artigo, que dizia que noventa e oito por cento das tribos do nosso continente, por alguma razão desconhecida; construíam as entradas de suas aldeias sempre apontadas para mesma direção, ao sudeste da costa Brasileira. Lembra? Pois então! Acho que desde aquele dia,

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você começou a ser monitorado, digo isso, pelo fato de quando conversamos pelo telefone, escutei um chiado típico de rastreio mal feito, a principio, até achei que se tratava de mim, pois sou um policial, mas quando comecei a investigação, reparei que não era comigo, e então pensei: o Antunes? Mas por quê?... E assim, quando comecei a procurar pelo Sistema de Investigação Federal, por alguma denuncia contra ti, contra a faculdade, ou contra algum dos seus amigos; nada encontrei... Então, a partir deste principio, pedi a Secretaria de Segurança Pública; o acesso de algumas câmeras do seu bairro, mais especificamente, o acesso irrestrito dos postes da rua da sua casa. Foi um monitoramento a parte... Cara!... Quando eu vi, durante várias horas, de vários dias, o mesmo carro prateado acampado na sua esquina, com um homem a espreita, assim, após puxar a placa, e ver que nada constava de anormal, da própria central, chamei uma viatura para enquadrar o suspeito, mas o homem estava tão limpo quanto o céu, foi o que me chamou mais atenção, por que segundo o mesmo policial que era responsável por aquela abordagem, disse-me, que o sujeito era um estrangeiro, que ali estava por que esperava o horário de buscar a namorada na universidade...

Interrompeu Antunes ao firmar: - Desculpa interromper, mas é estranho, o pior é que eu havia notado esse carro, até achei que era o carro do filho do meu vizinho, o Senhor Gaspar... Bem, mas, por favor, continue Armando, o que mais que aconteceu?

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Então! – Prosseguiu Armando. – Após aquele homem sair, algumas horas depois; recebi a informação dos meus agentes de que a ficha do maluco não batia, na verdade: a ficha era de um Britânico residente no Brasil, que há muito tempo faleceu. Acredita? O RG do cara era clonado!... Por tanto, quando pedi para o delegado do meu batalhão, uma averiguação mais completa daquela situação, talvez no tempo de uma semana, encontramos aquele mesmo suspeito morto no escritório do cunhado do Miguel, o mesmo que havia se apresentado como um jornalista de uma importante revista internacional... Até ali, pude concluir que não se tratava de uma investigação Federal, mas sim de algo independente... Deste modo, pensando, cheguei à hipótese de uma grande organização internacional, até constar: de que todos os dados de captação criptográfica e quebra de sigilo telefônico que você estava sendo alvo, na verdade, saía de um endereço IP de Brasília... Pensei: Agência Brasileira de Inteligência? Que piada! Deixaram tantos rastros que até a minha avó na torcida do Madureira acharia... Bem, mas o verdadeiro fato é, quando percebemos que da nossa capital, diretamente: estava partindo informações ao seu respeito para vários centros importantes do mundo, como Nova York, Londres, Berlim, Tóquio, Paris, Sidney, Dubai, Pequim, fora outros que não recordo neste momento, nós ficamos completamente...

Interrompeu Antunes: - Espera um pouco! Mas, por que diabos você não me contou isso antes? Cara! Percebe a...

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Sustou Armando: - Antunes! Quando percebi a gravidade daquela situação, ficar quieto foi à opção mais sensata. Do jeito que te conheço: você iria se afobar em desconfianças e acabar piorando tudo. Desculpe, mas foi um risco necessário, pois, logo quando eu estava perto de entender quem estava por trás disso, percebo que também eu estava sendo monitorado...

Cessou Antunes: - Voltando um pouco, mas, por que diabos essas informações iam para as principais capitais econômicas do mundo? Armando?

- Justamente! – Voltou Armando. – Esse é o X da questão! Deixeme continuar com o relato, ok?

Cortou Antunes: - Só um momento! O que você acha que isso quer dizer?... Miguel?

Coçando o queixo, escorregando a mão até os olhos. Miguel: - Bem, é meio maluco o que irei dizer, mas existem várias teorias, digo, teorias de conspiração... Dizem que o nosso mundo se encontra nas mãos de poucas pessoas, poucas famílias, que como um jogo: controlam e regulam praticamente tudo, desde o simples padrões da moda e do costume, até as manipulações da economia.

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Em aparente desanimo, Armando: - Já pesquisei sobre isso, sinceramente; não acredito!

Voltou Antunes: - Porra! Não é tão maluco assim. Pensa! Isso faz todo o sentido! Digo, hipoteticamente, se tudo tem haver com o que descobrimos, se essa for à verdade; estamos com algo que eles querem ocultar... O que ainda não entendo, é...

Abrindo a mochila, pegando o material da maleta, cortou Miguel: - Desculpe a intromissão, mas acho que isso explica tudo. Galera! Depois que eu ler isto, vocês podem continuar com os seus relatos. Vejam! Esta é a última carta que o Gabriell escreveu para sua irmã. Isto pode explicar todo o mistério.

Escarnecendo, rogou Armando: - Lá se vai o meu sono. ...

E assim, sem mais delongas, colocando a carta sob um feixe de luz que atravessa as folhagens, serenamente, em um tom suave prosseguiu Miguel a leitura.

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A flecha dos corações ... Retornou Armando: - Miguel! Como assim? Esta era a sua conclusão?... Bebeu, foi?... O que têm demais nessa carta? O que você enxergou nessa droga?

Intercedeu Antunes: - Acho que entendi o que o Miguel quis dizer... Armando; aqui temos a prova viva de um garoto, que mesmo com todas as dificuldades, conseguiu encontrar as respostas da vida.

Sem procurar enfatizar, Miguel: - Bem, considerando que não terminamos a nossa leitura, e que ainda há muita coisa para se observar...

Obstruiu Armando: - Corta essa! Se você quer falar de hipótese espiritual, já vou logo lhe avisando; isso não é prova! Não valerá, e nem será reconhecida como tal. Por favor! Não vamos incitar a discórdia.

- Como assim? – Questionou Antunes. – Incitar a Discórdia? Tá maluco? Cheirou cueca! Por que não seria uma prova aceita?

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Explicando, concluiu Armando: - Cara! Não se esqueçam de que estamos no Planeta Terra, aqui é o ocidente, meu amigo; a única prova palpável é um Silicone GG...

De forma negativa, balançando a cabeça, cortou Antunes: - Você não esta entendendo! Não estamos querendo implantar uma religião, pelo contrário, só estamos propondo um alinhamento dos nossos pensamentos. Afinal, se o mundo esta na merda, é por que sintonizamos com ela, sintonizamos; mais nos problemas do que na solução, mais nas diferenças do que na semelhança. Não há quem entre nos conceitos de uma mentira e não sofra por isso.

Miguel: - Pois é! Eis a causa do sentimento vazio dos domingos... Cara! Já esta na hora de ajudarmos este mundo acordar, pois, mais quantos terão que pagar pela mentira? Pense nas crianças que estão nascendo? Se o meio não influência os seres, o que dizer dos homens bombas? Das guerras religiosas, econômicas e políticas? O que dizer dos padrões de beleza? Da anorexia?... Não é por tudo isso? Por toda essa competição sem nexo? Aliados ao próprio complexo de aceitação, natural ou não, da miopia de cada um, o fator “X” de toda essa Psíquica Desfragmentação Social?

- Exatamente! – Voltou Antunes. – Quantos ditos vencedores já não se mataram? O mundo precisa enxergar que...

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Nervoso, findou Armando: - Já chega! Vamos parar com isso! Ok?... Ainda não terminamos de reler os documentos, não podemos mais perder tempo com essas filosofias baratas sobre a calamidade... Agora, por favor! Deixeme retornar a história; de como consegui chegar até vocês.

Antunes: - Isso! – Alfinetou. – Conte como você foi assassinado.

Após uma grande bufada, voltou Armando: - Tudo bem, foi mais ou menos assim: passado um dia após as minhas investigações, acordando atrasado, quando ainda me arrumava para sair para o trabalho, antes de entrar no banho, para o piso poder esquentar, deixei o chuveiro ligado, e pelado, no lado de fora do Box, estava no vaso a cagar...

Miguel: - Ah, qual é! De novo, cara! Nós já compreendemos, pule essa parte, por favor!

Continuou Armando: - Perdão! Esqueci que você não tem intestino. – Explicando. – Mas, então, naquele banheiro, no sanitário, escutei o telefone da sala tocar, e como de fato estava atrasado, de lá pensei em gritar para

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a minha esposa, avisando a que podia se tratar de alguém do meu escritório, lá do DP. – E assim, sob uma repentina forte emoção, após um inaudível resmungo, continuou Armando. – Foi quando, eu ia abrindo a porta, quando ia fazendo, pela fresta; eu a vi agarrada aos beijos com um homem no meio da minha sala, dizendo: que o idiota estava no chuveiro, e que já era hora de matá-lo, cara!... O idiota era eu!... Aquela filha da!...

Num semi-estado de choque, Antunes: - Mas, o que? Não! Não pode ser! Por que ela faria uma coisa dessas? Eu a vi chorando na frente da sua casa, no dia que você morreu. Eu não entendo! Armando; você a conheceu na minha formatura, até onde sei; você sempre foi um homem fiel! Não?... Isso é uma...

Raivosamente, com os olhos em lágrimas, esbravejou Armando: - Uma Loucura? É isso? É isso o que você ia dizer?... Como vocês não perceberam que aquela maldita fazia parte do jogo?

Fechando os olhos, observou Miguel: - Então, Isso quer dizer que, eles já tinham tudo planejado! Desde aquele momento em que o Antunes estava na frente casa do Armando, eles já tinham tudo planejado, talvez, só não fizeram nada ali; por que sabiam que ele seria incriminado de qualquer maneira... – Concluiu. – Pois é! Até onde vai à falsidade humana?

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Esperem!... O que? – Retrucou Antunes. – Vocês estão malucos! Olha, Armando! Com o perdão da palavra, de verdade; sinto muito pelos seus chifres, mas não venha colocar a culpa em nós. Aliás, quem garante que isso não é uma coincidência, ou mesmo: uma distorção de sua cabeça? Quem garante que você não escutou errado? De repente, aquele homem podia ser um irmão distante!

- Um irmão que beija na boca? – Gritou Armando. – É isso?

Sem entender, aflito, segurando um riso. Voltou Antunes: - É! Vai saber?... Bem, mas que seja traição, é difícil aceitar; é! Mas, o quê você poderá fazer? – Amenizando. – Pelo menos vocês não tiveram filhos. Cara! Esquece isso! O mundo tem problemas maiores... – Mudou de assunto. – E Miguel; quanto àquela hipótese de investigação na época da formatura, impossível, pois ali nem sonhava na existência dos Augamis. Aliás! O único ser que me viu ali; foram alguns soldados na esquina da Rua do Armando.

Cortou Miguel: - Mas, e o cadáver? Armando, e quanto ao cadáver que estava...

Voltou Armando: - Parem! Por favor! Parem! Vocês estão me deixando confuso! – Após uma profunda respirada, continuou. – Antunes, talvez você

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~ 103 ~

tenha razão, os meus sentimentos podem estar deturpando essa investigação... Miguel; quanto à sua última pergunta, deixa-me continuar a história. Ok? – Prosseguiu. – Foi assim! Após entender que eu seria assassinado, pelo banheiro: tranquei a porta, vesti a roupa, e para não fazer barulho, aumentei a potência do chuveiro. – Estarrecido por lembrar, depois de um longo meio minuto, com a voz engasgada, com os olhos marejados, medonhamente, com a bunda do queixo em tremeliques, tentando disfarçar a dor, ria ao contar. – Então, pulando a janela, entrei no carro e parti. Assim: quando estava perto da central do meu DP, vi aquelas chamas... Cara!... Todos os meus amigos! Todos os meus companheiros do trabalho! Todos os casos de, não tenho como comprovar nada! – Visivelmente abalado, encerrou. – E assim, sem noção de rumo, corri para a pensão onde havia deixado o Miguel, onde por lá, até sem querer, constei pela Lan House; que todos os nossos registros profissionais e Civis foram excluídos do Sistema Federal.

Interrompeu Antunes: - Excluídos? Como? Se estavam me acusando na TV?... Tenho alunos! Tenho família! Todos podem comprovar que existo!

- Por favor! – Exclamou Miguel. – Estamos falando de um Sistema de Controle de Identidade Interno, o que significa; que se algo acontecer conosco, nenhum Ministério tomará nota, pelo menos, não com facilidade... Compreendeu? Somos indigentes!... Agora, basta entendermos o porquê de...

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~ 104 ~

Cessou Antunes a indagar: - Então, isso significa, que assim como Jesus, só que de imperfeições e ignorância, somos considerados inimigos do Estado só por que portamos um material com as verdades de uma cultura distante?... É isso?

Filosofou Miguel: - Pois é! Não faz sentido! Ainda sinto que há uma coisa maior por de trás disso... Certamente... Alguma coisa que traria muitos riscos... Mas, pra quem? Por quê?... Bem! A verdade é que...

- A verdade é que estou ficando com sede! – Emendou Armando a descontinuar. – Se pelo menos tivéssemos aquelas pílulas de cloro, agora: um de nós poderia passar o tempo transformando água podre em água pra beber. O que acham? – Sem esperar respostas, continuando, lembrou Armando. – Bom! Mas respondendo aquela sua pergunta, Miguel... Quanto aquele cadáver que “interpretou” o meu corpo, eu não sei, pois, como havia dito, fugi pela janela antes mesmo de saber o que viria acontecer. – Se policiando, em lapsos: resmungava a brigar consigo. – Só não entendo o porquê aquela desgraçada, não, agora não é hora pra isso, pois, temos que reler os nossos documentos! Temos que manter a postura, o foco e a mentalidade positiva! Temos que fugir para encontrar as respostas de todas as perguntas da vida... – E assim, após a concórdia do grupo, findou Armando. – Bem, conforme a última carta lida pelo Miguel; continuarei a leitura do diário... Ok?

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~ 105 ~

Cá! Perdi a noção do tempo. Pois, já não sei se fazem meses, anos, mas sei que muy passou, desde que grafei minha última carta a Melissa. Aquela; qual no verso fiz a imagem de um lançador, que censurado por um cuecão seminu, suaviza a vergonha que cá tenho encarado... Por fim, mudando de assunto, falando do queijo e não do presunto, pelo tanto da tempestade em minha alma, mesmo que ninguém venhas a saber, hoje, sentencio-me no direito de poder contar aqui, tudo o que de facto aconteceu, da alegria até a desgraça, tal como o coração à carapaça... Abaixo, explico melhor! Como já havias dito: Iba fois o meu nome para todos os Tupinambás, mas como tudo tens seu tempo, logo também passei a ser chamado de Kunumy, que és um tipo de fedelho que se preparas para se tornar homem... Sabes! Se não fosses pelo vento, se não fosses pela sorte, ou melhor, se não fosses por meu amigo Koaim, não sei o que serias de mim. Aliás! Koaim que só deves ter um pouco mais da minha idade, além de ser um grã professor das matas, e da graça, és um mestre na paciência de ensinar a fala Tupinambá. E tudo, não por que ele sejas pouco gago, mas por que és muy engraçado escutá-lo falando os palavrões de Portugal. Sabes! Em quase toda tarde, rimos da desgraça de sermos tão diferentes, mas de gargalhos, sermos tão iguais. Pois, pelo menos em questões de piada, até cá; tudo tens sido uma troca mutua. Por fim, como dizem, se Koiam serás um grã Tupinambá, és por que o altruísmo és do seu estar... Aliás, se vivo para escrever estas pobres memórias, em pleno e qualquer possível dia do ano de 1.503, se hoje sei catar mariscos, pescar a linho, utilizar a flecha, manipular as ervas, também a Deus, mas graças dou a este grã menino índio. Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

~ 106 ~

Tentarei ser o mais breve. Sabes! Por motivos que ainda desconheço, descobri que o mesmo povo que me acolhia, também fazia da vida uma grã e incompreensível guerra. Pois, fomos atacados, pelo povo Aimoré, fomos atacados... Velhos, crianças, e até o nosso Pajé fois ceifado pela ignorância de nossos inimigos. De novo! Levo a sensação de onde vou, faço presença e testemunha de ver as pessoas morrer... Meu Deus! Só não fuis também por que Koiam impeliu e aprisionou um invasor, qual, medonhamente fois para brasa e virou carne pra Tupinambá comer... Eu não o comi! Por fim, conforme o esperado, após um bravo ato, após tanto; meu amigo Koiam, tendo casamento arranjado, tornouse um Aua, homem guerreiro, que agora és conhecido como Koiambebê. Sabes! O que pra todos fois motivo de grã festa, para mim, fois à perda dum amigo que nunca mais tornarei a ver. Afinal! Kunumy não se mistura com Aua... Preciso retornar a minha casa. ... Interrompeu Miguel: - Este Koiam-bebê que o Gabriell se referiu: não seria aquele mesmo Cacique que liderou a Confederação dos Tamoios?

Explicou Antunes: - Bom, segundo as minhas pesquisas, existiram dois homens com este mesmo nome, o pai e o filho, o primeiro foi um grande guerreiro, já o segundo; foi o cacique que liderou a confederação. Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

~ 107 ~

Surpreso, Miguel: - Carapaça!... Mas, e ai? Qual deles você acha que é o nosso?

Antunes: - Bom, se for para levarmos em consideração as datas e os locais; este Cunhambebe seria o pai, que coincidentemente comandou a região por onde trilhamos agora. Era bastante Temível! Mas, nem tanto como o Cacique de Ubatuba, o seu filho, Cunhambebe “Jr”.

Rindo, empolgado, emendou Miguel: - É verdade, cara! Uma vez, li num desses livros de História do Brasil; que muitos colonizadores de Portugal tinham tremores só de ouvir esse nome. Sem dúvida, isso é muito esclarecedor.

- Pois é! – Findou Antunes. – Exatamente Miguel! Isso também pode explicar o porquê de ambos, tanto o pai quanto o filho; não suportarem os lusitanos... Notem!... Se desde cedo: o primeiro viu o amigo sendo abandonado pelo seu próprio povo, o que esperar que ele passasse de conhecimento para o seu filho?

Cortou Armando, ao ironizar: - Que os Portugueses eram justos. Qual é! Vocês me deixarão continuar a leitura, sim ou não?... Vamos deixar esses detalhes pra lá!... Sem Nerdismo!... Ok?

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~ 108 ~

Sugeriu Antunes. - Tudo bem! Mas antes que você continue. Deixe-me perguntar Miguel: como está indo à construção da nossa jangada? O que ainda falta? Quanto tempo você acha que podemos terminar?

Miguel: - Vejam! Tirando a parte que ainda precisamos fixar as amarras com cipó, está praticamente pronta.

Zombou Antunes: - Pronta? Só se estiver pronta pra afundar... Cara! Do jeito que isso está: não agüenta nem a mochila, quem dirá os três em cima?

Cortou Armando: - Está ficando ótima! Bom, agora, vamos nos concentrar neste próximo trecho dos documentos, digo: ainda há muito tempo para escurecer, e se formos colocar a questão da jangada, até que já estamos adiantados...

- Ok! – Encerrou Miguel. – Me desculpe Armando, vamos continuar a leitura... Pode prosseguir!

- Por mim, também beleza... – Emendou Antunes. – Continue!

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~ 109 ~

Após bufar, tornou Armando: - Ok! – Com as mãos no texto, antes de voltar à leitura. De forma sarcástica, bradou. – Obedecendo aos milhões de pedidos, lá vai! Espera! Só deixe-me voltar na parte em que vocês interromperam. Ok?... Pronto! Já encontrei!... Ouçam bem! ... Sabes! Ainda preciso retornar a minha casa, ainda preciso encontrar meus compatriotas que devem estar por algum lugar das margens deste mar. Ora, pois! Quem me dera fosse um homem invisível, adulto, com força e conhecimento Tupinambá. Passado o momento de Cascais, cá: começo a minha triste e infeliz conclusão, de que nunca mais sentirei tão bem quanto aqueles tempos em que morei com minha mãe. Por isso, em vontade, tomo, de hoje fugir para a mesma direção que a tempos as minhas noites de sonho rogam... Serás na madrugada! ... Avisou Armando: - Bem, este dia termina aqui! – Virando a página, após uma bisbilhotada. – Enfim, agora sim, entraremos no verdadeiro “X” da questão.

Emendou Antunes: - Ufa! Finalmente, chegamos nos Augamis. Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

~ 110 ~

Em dúvidas, indagou Miguel: - Mas, e quanto aos sonhos repetitivos que ele descreveu. Digo, entre aspas: “espiritualmente” não seria um chamado? Da mesma forma como em Cabo Verde, quando ele falou com aquela velha?

Interrompeu Armando: - Espiritualmente, lá vem de novo você com este papo? Depois falamos de nossas opiniões!... Atenção... Retomando a leitura. ... Sete dias! Fois preciso passar sete dias para que eu pudesses juntar a necessária coragem para seguir o meu destino. Sabes! Muy demorei, és verdade, mas, em consciência creio tomar a decisão certa. Pois, após tanto esperar, de madrugada, enquanto todos dormiam, aos interiores do mato adentrei, e para sempre deixei a vida Tupinambá... Ao torno de dez, ao torno de quinze dias, trilhando sem ter qualquer contacto com gente d’tribo... Em principio, o mais engraçado, salvo os goles d’água, fois ficar por cinco sem ter o que comer, em cansaço, caminhando, da natureza pude receber a coisa mais boa, o vento, a luz e as folhas secas; percebi a vida que nunca enxerguei como antes. Pura como a melhor das magias! Por fim, em registro, cá: gostaria de grafar o dia em que consegui pescar um peixe sem usar o linho, fois uma alegria. Ali! Sozinho de mim mesmo; pudes condecorar-me ao titulo de grã

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~ 111 ~

Aua... Sabes! Pois, se eu não comia carne humana, eras por que no meu mundo, tínhamos abolido tais costumes, ou por que; tínhamos acabado de criar um Aua de espécie nova... Afinal! Mesmo sabendo de que nada daquilo servias, e de que toda inteligência e filosofia: se perdia nas matas e nas questões de sobrevivência, ainda assim; ali podia inventar todo tipo de verdade, ditos, mentiras e ritos, que ninguém irias se importar. Afinal, como diria o meu antigo e falecido Pajé: “Sabedoria não se grafas, apenas se vive, apenas se passas.” Então, no fim daquela silenciosa noite, caminhando entre os mangues, fois que tudo aconteceu. Numa luz tão forte que cegava- me as vistas, numa força tão grande que fazia-me parar, num ar tão pesado que não se dava como respirar, por tempos, não sei como, nem de onde, apenas segui a imagem daquela velha, que com olhos quase fechados, em baixo de uma grã arvore, dentro de minha cabeça, por seguidas vezes, apontava para o mesmo lugar... Sabes! Ali, naquele momento, até pensei que fosses o demônio das matas, então, tentando gritar, impossível eras soltar um A, quando, de repente, saindo da claridade, devagar, pudes avistar em minha frente, uma flecha: que por directo entrou ao perfurar meu pobre peito. Sabes! Não eras um sonho!... Ali!... Só eras a minha vida que terminavas por começar.

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Última Doutrina ... Eras preciso acontecer tudo isso? Perder minha Pátria? O lar? Separar-me da família? Dos amigos? Somente para entender o que pra ti eras o necessário?... Ó Deus! Se acaso ainda não sabes, desde aquela infeliz flechada, até a pouco quando acordei, passaram-se dezoito anos, e hoje estou com trinta e três... Por que isto?... Se soubesses como estas o meu cabelo, se soubesses o tamanho de minha barba, do meu gigant bigode. Creio! Se minha mãe me visses assim, com toda certeza, ela mesma se julgarias minha neta! E minha irmã: uma bis!... Bem, virando a página, por este tanto, devo dizer que, se vivo fiquei, além de ti, devo dar graças a um índio velho, qual também neste tempo, observando meu diário, tomou o suficiente para aprender a falar o bom português... Sabes! O mesmo velho, que daqui não és de costume parecido, mas que ainda sim, vive seminu e tens o focinho de índio, além de lembrar- me o meu calendário, em nota, assim como o padre fazia, deu-me a seguinte grafia: “Muito além das palavras, viver és saber passar, aceitando o que não dá para mudar, mas sempre ajudando com o que se pode ajudar.” Sabes! Desde o tempo em que estive no vale dos sonos, cousas demais mudaram... Basta encararmos daqui, por de longe, em cima dest cume, para notarmos o quão os meus compatriotas avançaram por estas praias... Bem, sejas como for, de qualquer modo, se estou mesmo no ano de 1.531, lá em minha Terra, todos devem pensar que morri. Por isso, em pressa, vim a cá apenas para firmar o funcionamento destes pulmões. Dá-me a licença! Vou partir, digo, até um porvir... Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

~ 115 ~

Passando os textos para Antunes, interrompeu Armando: - Tome Antunes! Continue a leitura, preciso descansar um pouco.

Sucedeu Antunes: - Ok! – Já com os documentos em mãos. – Prosseguirei então...

Cortou Miguel: - Só um minuto Antunes! Preciso entender uma coisa... Este acordar que o Gabriell se referiu, não seria em sentido figurado?

Deitado, com as mãos entrelaçadas sobre a nuca. Voltou Armando: - Boa pergunta! – De olhos fechados. – Mas, por que seria?

Pensativo, exclamou Antunes: - Tem razão Miguel! Isso faz todo o sentido, afinal, foi no ano de 1.530 que o Reino de Portugal autorizou fazer do Brasil a sua colônia. Ali foi o início da verdadeira barbárie contra os Índios.

Emendou Armando: - Porra! Mesmo por que, naquela época; um estado de coma por tanto tempo assim, seria algo impossível. Aliás, nem sei por que estamos discutindo isso, pois se o ferimento foi no coração, isto só pode ser simbólico. Não?... Com certeza foi em sentido figurado!

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Cortando, insistiu Miguel ao indagar: - Mas, por que ele só acordaria aos trinta e três anos?

Confrontou Armando: - Espera aí! Alguma coisa esta errada!

Antunes: - Mas, o que?

Nervoso, ironizou Armando: - O que!? Quantos anos o Gabriell tinha no ano de 1.502?

Miguel: - Se não me falhe a memória... Quinze anos.

- Então! – Findou Armando. – Por que diabos, no ano de 1.531: o moleque teria trinta e três?

Antunes: - Pega leve! Você estava conosco no dia da escavação, de repente ele escreveu errado. Isso não é um problema cara, pelo menos não consigo enxergar como um, talvez, até poderia ser uma metáfora.

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~ 117 ~

Indignado, retrucou Armando: - Metáfora? Como assim? Estamos falando de um diário!

Emendou Miguel: - Mas, é o número trinta e três.

- Não é possível! – Vociferou Armando. – Vocês só podem estar loucos!... Quanto misticismo! Meu Deus! Quanta religiosidade!

Rindo, Antunes: - Tudo bem! Não vamos falar da Bíblia, do Alcorão, dos maçons, do Paralelo trinta e três, dos trinta e três Deuses Védicos, da pirâmide formada por este algarismo em Maia, nem do nosso esqueleto humano que possui trinta e três vértebras... Não vamos falar dos trinta e três ciclos lunares da gestação humana, da seqüência da volta de um DNA, ou de Buda: que atingiu a iluminação com esta idade, da morte de Cristo, e muito mais.

Observou Miguel ao findar: - Bem, há quem diga que este número simboliza o renascimento, mas como o próprio Armando disse: isto é apenas uma mera...

- Besteira! – Completou. – Acho que vocês não entenderam o

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espírito da coisa... Antunes, Miguel: já é a terceira vez que estou tentando explicar, que: não poderemos nos basear em religião, numerologia, misticismo para fundamentar uma investigação. Visite uma cadeia pra vocês verem quantos homens com trinta e três anos estão iluminados... É igual aos nomes, cara; existem criminosos com o nome de Jesus, existem ignorantes com o nome de Sócrates... Infelizmente, o fato é; se quisermos provar a verdade, tudo isso tem que ser comprovado de forma legal.

Indignado, Antunes: - Então, você quer dizer que não acredita em nada do que vimos?... É isso? Você não acredita?

Ponderou Miguel: - O Armando esta se referindo à comprovação social.

Enfatizou Armando: - Exato Miguel!... Antunes, galera, assim como vocês; também acredito nos Augamis, mas precisamos fundamentar as provas numa linguagem mais técnica e especifica do nosso meio social.

Matutando, notou Antunes: - Bom, temos a questão das alterações eletromagnéticas do local, mas, até que ponto isso teria haver com a existência dos Augamis?

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Tentando concluir, Armando: - Por isso! Esse é um dos motivos pelo qual devemos voltar pra reserva... Nenhum GPS funcionará naquele lugar, a área é muito extensa, difícil de monitorar. A nossa salvação está ali.

Miguel: - Mas, cara! Mesmo que todas as nossas provas estejam ali, isso é muito arriscado! É praticamente suicídio!

Retrucou Armando: - Suicídio? Miguel! Suicídio é ficarmos parado.

Amenizando, Antunes: - De certo modo, se for para levar em consideração tudo o que presenciamos em nossa expedição, talvez o Armando tenha razão, pelo menos; lá poderemos ter mais segurança. Por que pensem: são quase 350 hectares de floresta fechada, fora o mergulho para atravessar a montanha, são 30 minutos sem trilha, nem referência.

Mudando de assunto, indagou Armando: - Bem, mas como está a construção da nossa jangada?

- Quase lá! – Findou Miguel, antes de Antunes retornar a leitura.

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“Um Augami não tens nome, homem Augami se chama Augami, mulher Augami se chama Augami, assim como eu, cá, todos são Augami.” Sabes! Fois isto que me disses o velho, és uma cousa muy louca, e para não grafar um palavrão em minha língua mãe, pensarei um parecido em Tupi... Volto... Ó meu criador! Preciso saber parar essa saudade, pois, mesmo que tenham eles me ensinado a diminuir essa dor, ainda não vejo o resultado da luz destas máximas, em que primeiro; há de se aprender a calar o pensamento, para depois aprender a rogar os bons sentimentos, para depois voltares a não pensar mais em nada. Dizem as mesmas, que, dominar a mente és a parte de todo segredo. Sabes! O que segundo contou o velho, “Tudo estás em nossa cabeça, e para isso; basta lembrarmos que, a mesma que podes destruir, também podes se fazer operar os grãs milagres... Basta querer: e o insulto viras riso, e o que eras fogo ardido, torna-se frescor.” Bem, mas disso duvido, e por muito! Aliás, palavras bonitas, por vezes, em minha terra és um sinal de bruxaria, sem dúvida! Este povo seria atirado na fogueira e amaldiçoado até depois de morrer. Por fim, por tanto e tão pouco. Neste momento, terminarei minha grafia; somente por lembrar que, já não poderei retornar ao meu destino, pois ironicamente, primeiro, ficar devo para aprender o que disseram ser a minha última douctrina... Sabes! Ainda bem que mamãe não vistes nada do que passei até aqui, pois se ela soubesses de tudo que vi, nem sei como poderia fingir um enfeite. Por isso, meu Deus, devo-lhe agradecer, agradecer lhe devo por fazer de nossa vida uma cousa passageira... Bem, chegou à hora de carpir... Até mais breve. Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

~ 121 ~

Após tanto pensar, finalmente, nesta madrugada cheguei à grã conclusão. Sabes! Mesmo que embora qualquer um pense que nascemos para um dia morrer, quase ninguém compreende, que tudo estas mui além de nossa vontade... Ora! A sorte da vida és a própria interpretação. Bem, no aproveito desta deixa, sobre a educação Augami; gostaria a cá de partilhar o meu testemunho. Diferente de onde vim, aqui, todos os fedelhos crescem para compreender a natureza, o mundo e a si. És uma graça! Tudo és sincero por que não há cacetadas, uma vez que todos são aceitos desde o principio, todos se ajudam e se lapidam conforme as suas qualidades. Assim como os Tupinambás, meu Portugal também tens mui que aprender com este povo, qual melhor explico abaixo. Fois ali, naquele lugar parecido com uma capela, de pernas cruzadas, no chão, vendados todos estavam... Sabes! Confesso que a principio; não entendi do por que, mas por tal; conclui que se devias para valorizar a importância das vistas, e fois!... No mesmo e exato local, de forma revezada; em que tantos ficavam sem usar a fala, alguns poupavam os movimentos, e outros à audição, que em tempo durável eras tapada por uma gota de uma folha de oliveira... Isto, para os mestres, tal facto de sermos diferentes, frágeis, dependentes e limitados, és visto com grã alegria, pois esta seria a condição do individuo, mas não do unido... De modo que assim, naturalmente, como aquele dito, de que: “Fazer o mau para alguém és fazer para si mesmo.” todos aprendem a não competir, não invejar, nem se vangloriar, mas ao contrário, se ajudam por que sabem que são reféns da sanidade de cada, digo, mais do que as palavras, todos vivem como se fossem um... E isto: és mui lindo! Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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Em todo final há um princípio ... Por fim, compreendi o quão um momento és importante... Ora, pois! És por ele que daremos a resposta do ontem, és por ele que faremos a construção do depois... Basta pensarmos pra chegarmos a tal conclusão: Augami vive bem por que sabes tratar o coração. Assim, uma vez, igual ao que discursou meu santo padre: “Sejas como for, se tudo aconteces assim, às vezes; és por que temos que passar, para fazer dos nossos males um espelho, para que através dele; ninguém também venhas a tombar.” Afinal! Nenhum problema és novo, mas novo és a forma como eles se repetem... Dito isso, nesta linha, um ser só és livre quando de facto atinge a compreensão de si e do outro... Com virtudes e falhas: um ser nada mais és do que uma pequena e importante parte no meio de um todo. Aliás, basta uma pitada de mentira, e um curto tempo de uma ação mal pensada, para criarmos a dor e a discórdia por anos. Ó, grã rei de Portugal! Com um dito de nossa Terra, declamo-te aqui a tradução dos meus sinceros sentimentos, de qual, “Só lhe perdôo pelo mal que me fez, pelo bem que um dia fizeste.” Ou melhor, “Pelo bem que um dia fizestes ao meu pai.” Pois, voltando ao meu curso, e até por lembrar-me de tais, termino aqui por grafar alguns dos meus preferidos. “À morte não há casa forte.”...”Água e vento são meio sustento”... “Falar és prata, calar és ouro”... “A fome és o melhor dos temperos.” Por fim, exceto pela falta dos banhos, e até dum pouco da perspicácia Augami, sei que pelo menos em questões de bacalhau, não devemos nada a ninguém. Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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Lembrou Antunes: - Só faltam duas páginas para o fim... Alguém de vocês gostaria de comentar alguma coisa?... Armando? Miguel? – Abrindo a mochila, tirando um pacote de bolachas. – Vocês querem biscoitos?

Coçando o queixo, negou Miguel a observar: - Obrigado!... Bem, mas voltando, acho que nem precisamos discutir; que os pilares da cultura Augami estavam na educação. Isso é um fato! Porém, o que ainda me deixa intrigado, é: será que isso teria haver com a alteração eletromagnética daquela região?

De forma pessimista, Armando: - Não faz sentido!... Sou leigo no assunto, mas estamos falando de uma alteração de meio milênio? O que isso teria...

De boca cheia, interrompeu Antunes: - Claro que faz! Isso faz todo o sentido! Uma alteração de campo estático, em processo retilíneo e permanente, você não entende Armando, isso matará a morte.

- Pois é! – Rindo, voltou Miguel. – Se for conforme deduzi, um fator combinado em total freqüência e sincronia; essa alteração está explicada... Bem, mas em relação aos milagres, creio que só uma freqüência externa, do meio com a dos...

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~ 126 ~

- Íons negativos! – Empolgado, cortou Antunes. – Íons negativos!

Surpreso, Miguel: - Calma! Como assim? Íons negativos?

- Vou explicar! – Lembrou Antunes. – Você já deve ter ouvido falar sobre regenerações gênicas? O fato é: talvez o campo eletromagnético Augami não estivesse alterado, mas sim o nosso... Percebeu? Qual é o parâmetro que temos para medir ou apontar alguma coisa?... Oras!... E se for uma questão de prisma?

Franzino a testa, concordou Miguel: - Faz sentido! Pois, se já vivemos em poluição de ondas, e de íons positivos advindos dos aparelhos eletrônicos, sem falar de nossa mesma, padronizada e doentia vibração mental...

Tentando entender, arriscou Armando: - Espera aí! Mas, esse negócio explicaria o porquê aqueles corpos não se decompuseram nos últimos quinhentos anos?

- Não há dúvida! – Findou Antunes. – Os Augamis eram mais desenvolvidos do que nossa sociedade, pacíficos, espirituosos, só ajudavam o mundo. Isso explica o milagre dos corpos incorruptos.

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~ 127 ~

Emendou Miguel: - E explica que a decomposição instantânea só ocorreu quando entramos e “quebramos” a freqüência do campo ambiente.

- Que loucura! – Indagou Armando. – Mas qual é o fator lógico disso? Por qual motivo eles não se decompuseram?

Filosofou Miguel: - Bem, tudo o que sei, é que este fenômeno é muito raro, há registros em algumas figuras espirituosas, como monges, freis, freiras... Talvez, isso serve para tirarmos uma lição.

- Ah é? – Menosprezou Armando. – Qual seria essa grande lição?

- Sei que parece estranho. – Prosseguiu Miguel a explicar. – Mas, se for verdade o que estive estudando; é simples!... Se toda matéria é energia, e antes de sermos matéria; somos energia, quando morremos voltamos a ser energia... Certo?... Tudo caminha para consciência, a verdade é uma crença, e o corpo é uma impressão.

Emendou Antunes a filosofar: - O pensamento forja a espada, o pensamento forja a rosa. – Num insight. – Espera aí! Então, a energia não influência o meio?

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~ 128 ~

Precipitou Miguel: - Isso depende muito! Deixe-me explicar, segundo as minhas pesquisas, assim como o pensamento, todo fator é dependente de uma sintonia que influência é mais ou menos. – Terminando por concluir. – Daí se tira a importância da meditação e da prece, afinal, num mundo de vibração sofrível; estas são as formas de se sair da influência negativa... A fé é uma ciência incompreendida!

Após um imponente arroto, voltou Armando a reclamar: - Porra! Deu no saco... Não agüento mais esse barulho de cigarra. Só consigo pensar em café, sofá e rádio esportiva.

Miguel: - Então, pense que você está com a verdade!

- A verdade? – Sugeriu Antunes. – A verdade é que podíamos inventar o nosso próprio idioma, já pensou? Quem sabe até fundar o nosso País. Aliás, poderíamos Proclamar isso agora.

- Independência é morte!!! – Gargalhando, gritou Armando.

- Shiu! Vamos terminar a leitura, tudo bem? Miguel? Armando? – E, assim, com os documentos em mãos. Antunes prosseguiu.

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~ 129 ~

Se eu fosses um cão e tivesses um rabo, com toda certeza, agora, o balançaria de tamanha alegria. Afinal, por fim, chegou o dia, ou melhor, chegou o grã dia em que venho a cá me despedir... Sabes! Meu pobre diário! Vós que fois o meu maior tesouro, vós que fois o meu maior ouvido, bem deves saber o quão este povo és especial, por isto, como prova de minha gratidão e mudança, aos Augamis, vos entregarei para estudos de tristeza e loucuras iguais. Prosseguindo esta grafia. És engraçado como um povo que nunca soubes da existência de meu Deus, praticar toda justiça de Cristo, como podes isto? Como podes a consciência ser possível? Digo, mudando de assunto, falando do queijo e não do presunto, como rogaria minha avó se ainda fosses viva. “Se os indivíduos são justos, e se organizam para o mundo melhorar, justo haverás de ser o mundo.” Sabes! És como um bocejo no corredor lotado pela manhã, contagiante és toda bondade!... Por fim, abaixo, ponho-me a explicar o que aquele velho Augami ficou a ensinar-me nestes últimos. “Do que vale falarmos do silencio, se nunca silenciamos a boca, se nunca: o pensamento? Como então poder explicá-lo?... Se compreendesses que assim como a ti, outros têm dificuldades e defeitos, uma vez que dependemos de cada, não serias um dever ajudarmos uns aos outros? Oras! Então, por que raios competir?” E assim, seguindo a copia desta grafia, dizendo meu nome, o velho Augami prosseguiu. “Se vos acolhemos neste lugarejo, mesmo sabendo que nada tinhas a ofertar, o fizemos, por que igualmente ao sol, nós nada podemos julgar, a não ser fazer nossa parte, a não ser tentar melhorar. Por isso, faças desta boa palavra Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

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uma ação. Transformai o pranto em travessia; de bondade e compaixão. Aliás! Basta ter fé e tudo se tornará belo, e o grã problema se tornará um grão. Medite! Pense! Pregue a paz! Pois, antes sofrer uma injustiça, do que praticá-la e ter que enfrentar o tormento. Afinal! A consciência és o único caminho, e a verdade: és que fora dela não há sorriso, só mentira, tristeza e cinismo.” Sabes! Antes ficavas a pensar nisso; por que tantos vêm de longe para a cá? Por que os Augamis não cobram por teus milagres? És demais estranho! Afinal, a começar pelos velhos que estudam como se fossem tolos, ou pelo hábito do seu povo, de alimentar e beber mui pouco. Como conseguem? Como podem viver sem caçar, guerrear e ainda terem o respeito deste mundo? És como sentir alegria em meio à miséria e o isolamento. Porém, isto durou até a compreensão do término da última... Abaixo! “Um dia, toda maldade cairá como folha desnutrida e seca, isto és, na medida em que pararmos de nutri-la em nossos corações e pensamentos. Afinal, quando a grandeza se notar pequena, o ódio se tornas auxilio, a preguiça se tornas animo, o insulto se tornas riso... A confusão se tornas simples, o desespero se tornas calma, a dificuldade se tornas cura, e a carne se tornas alma." De novo, por fim, com exceção desta poesia Augami, nada mais levarei comigo, se não o entendimento de tudo que pudes testemunhar, de minha terra, das pestes, do mar, do abandono, e da vida Tupinambá. Sabes! Só espero que nenhuma flecha atravesse um peito para que este possa querer despertar... És mui doloroso, pois, isto és: tudo que venho a contar. Adeus! Escrito por Jonh Kuallqu´er - Antes da Terra, Vera Cruz. www.simplescomplexo.com.br

~ 131 ~

Fechando os documentos, lembrou Antunes: - Com exceção da próxima e última carta, o diário termina aqui.

Miguel: - Bem, creio que cada um já tem a sua conclusão, certo?

Ironizou Armando: - Se conclusão for uma série de dúvidas, pode apostar que sim.

- Quais são as dúvidas? – Enraivecido, questionou Antunes.

Voltou Armando: - Não! Não é mais relacionado à história, quero dizer, parece-me que estamos querendo provar alguma coisa pra alguém?

- Como assim? – Questionou Miguel. – Aonde você quer chegar?

Interrompeu Antunes: - Só um minuto! – Após um silêncio, ignorando. – Como vocês devem saber: a palavra Augami não possui significado aqui, mas, na Lituânia, por outro lado, a mesma quer dizer; crescimento.

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~ 132 ~

Surpreso, Miguel: - O que você sugere? Antunes?

Emendou Antunes: - Pensa! Se o Gabriell voltou mesmo para Portugal, quem garante que ele não foi pregar o que aprendeu pelo mundo?

Seriamente, exclamou Armando: - Então, também precisaremos chegar à Lituânia!... Mas, primeiro: como está indo a nossa jangada?

- Até me esqueci de avisar... Está prontíssima! – Avisou Miguel.

Voltou Armando: - Ótimo! Agora, é só esperarmos pela madrugada... Ah! E por falar em céus. – Curvando o pescoço para o céu, bisbilhotando entre as folhas, comentou. – Olha que noite mais estrelada! Cara, não tem como olhar para isso, e não lembrar que somos tão...

- Oshê! – Cortou Antunes. – Vocês escutaram isso?

- Isso? – Interrogou Miguel. – Pombas! Isso o quê?

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~ 133 ~

Explicou Antunes: - Um helicóptero!

Após escutar, cochichou Armando: - Não! Não é um helicóptero!

Retornando, Antunes: - Como não?

Confirmou Armando: - São dois!

Com os olhos arregalados. Miguel: - Agora escutei! Armando! Eles estão aqui perto! O que faremos?

- Temos que ficar aqui e aguardar! – Repetiu Armando. – Temos que ficar juntos! Só nos resta torcer para que nada...

Cessou Antunes: - Puta que pariu! Digam que vocês não escutaram isso? Por favor! Digam que vocês não escutaram isso também?

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~ 134 ~

Miguel: - Droga! Essa não!

Surpreso, tirando o revolver da cintura, resmungou Armando: - São os cães!... Eles não devem estar à uma hora daqui.

Voltou Miguel: - Temos que manter a calma! Porra! Temos que manter a calma! Antunes, Armando, vocês...

Tremulo de nervoso, zombou Antunes: - Aleluia! Miguel, você falou um palavrão? – Voltando. – Mas, sem brincadeiras, Armando; não podemos ficar parados, vamos atravessar o rio! Podemos correr! Vamos!

Descontinuou Armando: - Impossível! Tem um helicóptero sobrevoando este rio, eles devem estar vasculhando essa cachoeira... Temos que esperá-los sair!

Miguel: - Mas, se ficarmos aqui, os cães poderão...

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- Calma! – Tornou Armando. – Primeiro, temos que enterrar as nossas provas em algum lugar! Depois; temos que nos separar... Ouçam bem! Aconteça o que acontecer, a partir de agora; teremos que esquecer toda essa história... Talvez, seja melhor tentarmos viver nessas reservas, longe do contato humano, pelo menos até...

- Armando, espera! – Exclamou Miguel. – Mas, e se os cães nos encontrarem pelo cheiro? O que iremos fazer?

Bufando, coçando a cabeça, Armando ordenou: - Miguel; com exceção dos nossos itens térmicos, vamos espalhar as nossas roupas em direções opostas, isso deve confundir o olfato dos cães... Agora, com relação as nossas provas, não podemos correr o risco de perdê-las, pois, se achamos tudo isso pelo acaso, outros também poderão fazê-lo... E, como já sabemos de toda a verdade, sobreviver é a opção mais sensata. A partir de agora; o ano é zero, nunca nos vimos! Nunca nos conhecemos. Ok? ... E assim, juntos, após correrem para debaixo das raízes de uma gigantesca figueira, sob a iluminação de um isqueiro, em sussurros, terminou Antunes a leitura da última carta: - Tá legal! Antes que enterremos isso aqui, esta é a última carta... Prestem atenção!

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Aqui! ... “Quem sair por último é a mulher do padre!” E foi assim, com este grito de fuga, com estas palavras, foi que durante aquela madrugada, após o termino de nossa leitura, conforme os helicópteros saíam, ali, embaixo daquela enorme figueira, entre as raízes que se fazia uma gruta, após enterrarmos a possível maior verdade que o homem moderno pensou existir, saímos, e por um raio de aproximadamente dois quilômetros, por enganosos caminhos, espalhando as nossas vestes, deixamos o futuro, mas não a incerteza. Por isso, foi que perto de uma combinada nascente, ao norte da mata atlântica paulista, na divisa com o estado do Rio; nos despedimos... desde então, por quase quatro anos, sozinho trilhei por vagar aquele lugar, nas sombras, nos arbustos, apenas com minha manta bloqueadora de termo visão, e uma mochila vazia, vivendo a base de lesma e água podre, como um bicho desconfiado; passei por estranhar os céus, até ser pego pelo chão. Desde então, hoje, em completos cinco anos de toda essa história, e um ano desde fui capturado, confuso vivo de lembrança e confissão. Aqui, numa espécie de hospital psiquiátrico, onde pelo o uso da força, repetição e os sedativos; eles tentam me convencer de que tudo que contei não existiu. Ensinando-me sobre o amor, a liberdade e a vida individual, pregam a competição e a felicidade, com um constante uso de frases prontas; sustentam a barbárie, mas com a proeza de nada parecer Frio, calculista, dissociativo ou psicótico.

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Aqui, numa sala pintada de branco, sem janelas, e com uma luz que nunca se apaga; eles pedem os detalhes da escuridão, do medo e da esperança. Sabe! Confesso que após tudo isso, de expectativa; apenas torço para que alguém, um dia, encontre por aquilo que encontrei, revelando e continuando o que consegui, mas que infelizmente pouco revelei... sem provas, documentos ou espelho, confesso que já não sei se fui Miguel, Armando, Antunes, ou até a infeliz repetição de Gabriell. Por fim, como um Índio das matas da insanidade, como um europeu em meio a doutos canibais, entrego a ti; meu salvador, toda esta verdade que presenciei, nesta única e fixa certeza, de que Antes da Terra, Vera Cruz.

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