A Filosofia e os 500 anos da Reforma Protestante

45ª Semana de Filosofia da UnB A Filosofia e os 500 anos da Reforma Protestante Pressupostos e desdobramentos RESUMOS 45ª semana de Filosofia da UnB ...
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45ª Semana de Filosofia da UnB

A Filosofia e os 500 anos da Reforma Protestante Pressupostos e desdobramentos

RESUMOS

45ª semana de Filosofia da UnB 5 a 9 de junho de 2017 Brasília-DF

A Filosofia e os 500 anos da reforma Protestante: Pressupostos e Desdobramentos

RESUMOS DAS MESAS DE COMUNICAÇÕES

Apoio

Realização Departamento de Filosofia

Decanato de Extensão

Universidade de Brasília Reitora: Márcia Abrahão Vicereitor: Enrique Huelva Instituto de Ciências Humanas Diretor: Mário Diniz Araújo Neto Vicediretor: Perci Coelho Souza Departamento de Filosofia Chefe: Erick Calheiros de Lima Vicechefe: Alexandre Costa-Leite Coordenação geral da 45ª Semana de Filosofia Agnaldo Cuoco Portugal Lauro Rocha Marcio Gimenes de Paula Marcos Aurélio Fernandes Maria Cecília Pedreira de Almeida Priscila Rossinetti Rufinoni Comissão Científica - Seleção de Comunicações Marcio Gimenes de Paula Marcos Aurélio Fernandes Coordenção geral das Oficinas – PIBID Benedetta Bisol Gigliola Mendes Indi Nara Corrêa Fernandes Lauro Rocha Pedro Gontijo Vinícius Souza Departamento de Filosofia - UnB 4ª edição, junho, 2017 Edição especial dos Cadernos do Encontro Nacional de Pesquisa na Graduação em Filosofia ISSN: 2446-7200 Campus Darcy Ribeiro - Brasília, de 5 a 9 de junho de 2017 www.semanafil.com.br

SUMÁRIO A EXTENSÃO DO DIVINO, UMA ANÁLISE DO ARGUMENTO ONTOLÓGICO DE GÖDEL EM S5u

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O ARGUMENTO TELEOLÓGICO: UMA PONTE POSSÍVEL ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO CRISTÃ

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CALVINO E O ESTADO

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CRÍTICA DA RAZÃO IMPURA: A NOVA CRÍTICA TRANSCENDENTAL DA FILOSOFIA REFORMADA DE HERMAN DOOYEWEERD

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A RACIONALIDADE DA CRENÇA EM DEUS SEGUNDO A EPISTEMOLOGIA REFORMADA DE PLANTINGA

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UMA BIO-COSMOVISÃO CALVINISTA: UMA BREVE ANÁLISE DO CALVINISMO E SEU DESENVOLVIMENTO NA TRADIÇÃO REFORMADA HOLANDESA

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“O TEATRO DA GLÓRIA DE DEUS”: PROVIDÊNCIA, COMPATIBILISMO TEOLÓGICO E TEODICEIA NA TRADIÇÃO REFORMADA

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A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO NA REFORMA PROTESTANTE

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ILUMINISMO DESPÓTICO: ESCLARECIMENTO E REFORMA COMO OUSADIA DO SABER. KANT LEITOR DE HORÁCIO

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A AMBIGUIDADE DA AUTONOMIA DA VONTADE NA FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES

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SCHILLER E A EST(ÉTICA)

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CONCEITO DE PESSOALIDADE ANIMAL E REGRAS PARA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

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INFLUÊNCIAS ALIMENTARES DA RELIGIÃO SOBRE A DIETA DOS FIÉIS: O CASO DA MISSÃO CATÓLICA NOSSA SENHORA DAS MERCÊS

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A TOLERÂNCIA DE LOCKE E O ESTATUTO DA FAMÍLIA

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A LIBERDADE CRISTÃ DE LUTERO

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ÉTICA E LIBERDADE EM M. LUTERO

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LIVRE-ARBÍTRIO E INTERIORIDADE: DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES ENTRE LUTERO E AGOSTINHO

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A RELAÇÃO ENTRE A LIBERDADE E A FELICIDADE NA REPÚBLICA DE PLATÃO

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VIRTUDE, DOENÇA E SINA: UMA ANÁLISE DE “O PROBLEMA DE SÓCRATES”

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KIERKEGAARD E O PONTO DE VISTA DE SÓCRATES CONCEBIDO COMO IRONIA

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SUBSTÂNCIA E UNIVERSAL NOS CAPÍTULOS 13-16 DA METAFÍSICA DE ARISTÓTELES

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A ESSÊNCIA DA ALMA EM SI MESMA E A SUA UNIÃO SUBSTANCIAL COM O CORPO NA SUMA TEOLÓGICA DE TOMÁS DE AQUINO

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A NATUREZA DA METAFÍCA DE TOMÁS DE AQUINO A PARTIR DA DISCUSSÃO DO CONCEITO DE SEPARAÇÃO

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ADOLF EICHMANN E DIETRICH BONHOEFFER: UMA ANÁLISE SOBRE A ÉTICA E A DOUTRINA LUTERANA DOS DOIS REINOS NO REGIME NAZISTA

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A BANALIDADE DO MAL E A NOÇÃO DE DEVER

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HANNAH ARENDT: A CONSTRUÇÃO DO PENSAR E SUA CONSEQUÊNCIA ÉTICA

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A PSEUDONÍMIA COMO INSTRUMENTO DIALÉTICO PARA O PROCESSO RELIGIOSO DO TORNAR-SE SI MESMO EM KIERKEGAARD

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INTERIORIDADE E FÉ: UMA ABORDAGEM DE SUA INTERRELAÇÃO A PARTIR DA OBRA TEMOR E TREMOR

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O ANTROPOTEÍSMO DE FEUERBACH EM 'A ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO'

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RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO: UMA CRÍTICA À DEMOCRACIA COM JACQUES RANCIÈRE E ELLEN WOOD

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CAPITALISMO E RELIGIÃO: MICHEL LÖWY E UM DOS MOMENTOS BENJAMINIANOS DE UMA LEITURA ALTERNATIVA SOBRE CONSCIÊNCIA E SOCIABILIDADE CONTEMPORÂNEA

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A IDEIA DE PROFISSÃO COMO VOCAÇÃO NO PROTESTANTISMO ASCÉTICO EM MAX WEBER

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LUTERO, DERRIDA E A DESCONSTRUÇÃO

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A FILOSOFIA CONTRA O CONSENSO FILOSÓFICO: SCHOPENHAUER, HEINEMANN E FEYERABEND ENFRENTAM O DISCURSO ÚNICO

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COMO (NÃO) SER GOVERNADO: FOUCAULT E A REFORMA PROTESTANTE

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LIMITES MATEMÁTICOS E GRANDEZAS INTENSIVAS NA ANALÍTICA DOS PRINCÍPIOS DA CRP

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O ARGUMENTO DA INDISPENSABILIDADE A FAVOR DO REALISMO MATEMÁTICO

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SEMELHANÇAS ENTRE AS ANÁLISES DA CAUSALIDADE DE DAVID HUME E NICOLAS MALEBRANCHE

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A SIMBOLOGIA MAÇÔNICA COMO FORMA DE ESTUDO DOS JOGOS DE LINGUAGEM DE WITTGENSTEIN

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SIMBOLISMO, SIGNIFICACIONISMO: A NECESSIDADE CÉTICA COMO PRINCÍPIO DO SABER NA FILOSOFIA DE HEGEL

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ESCATOLOGIA NA FILOSOFIA DA HISTÓRIA DE HEGEL SEGUNDO KARL LÖWITH

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REFORMA PROTESTANTE E AS AVENTURAS DO ESPÍRITO NA FILOSOFIA: NOTA SOBRE OLUGAR DAS IDEIAS DE HEGEL A MARX

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RAÍZES LUTERANAS DO PENSAMENTO HEGELIANO: UMA BREVE ANÁLISE

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A RELAÇÃO ENTRE LEI E VIOLÊNCIA TORNADA INVISÍVEL NO DEBATE SOBRE DIREITOS HUMANOS EM ARENDT

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A LIBERDADE PARA ALÉM DA FORMA JURÍDICA: A SINCRONIZAÇÃO DA HISTÓRIA E OS LIMITES DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

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GUERRA E JUSTIÇA: UMA DEFESA DA TEORIA DA GUERRA JUSTA

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DAS GUERRAS RELIGIOSAS EUROPEIAS DO SÉCULO XVI AO NOVO TEMPO DO MUNDO NO SÉCULO XX: A POLÍTICA NA ERA DA EMERGÊNCIA

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A PROBLEMÁTICA DO CORPO NA FILOSOFIA DE DELEUZE, E SEUS PONTOS DE ENCONTRO COM AS FILOSOFIAS DE ESPINOSA E NIETZSCHE

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A CONSTITUIÇÃO DA CONSCIÊNCIA MORAL (GEWISSEN) NOS TEXTOS CULTURAIS DE FREUD

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PODERÁ O EMERGENTISMO FORNECER UMA REPRESENTAÇÃO ADEQUADA DOS FENÔMENOS PSICOLÓGICOS?

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ITINERÁRIO FILOSÓFICO DO JOVEM GRAMSCI E A QUESTÃO DA NEUTRALIDADE ATIVA E OPERANTE

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GRAMSCI – REFORMA – RENASCIMENTO

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IDEALISMO E PROTESTANTISMO NO DISCURSO À NAÇÃO ALEMÃ DE FICHTE

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FILOSOFIA NO BRASIL: INTELECTUAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES

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ENSINO DE FILOSOFIA NO BRASIL: TRAJETÓRIAS EM CONSTRUÇÃO

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JEAN-JACQUES ROUSSEAU E SEU VÍNCULO SUSPEITO COM A REFORMA PROTESTANTE

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A QUESTÃO DA LIBERDADE EM ROUSSEAU E BENJAMIN CONSTANT

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UTILIDADE E AUTONOMIA EM ROUSSEAU

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Dia 6 de maio Auditório ADUnB 8h30-10h15 Mesa: Existência de Deus e Influências luteranas na filosofia A EXTENSÃO DO DIVINO, UMA ANÁLISE DO ARGUMENTO ONTOLÓGICO DE GÖDEL EM S5u Pedro Martins Pereira (FIL – UnB) Resumo: Há, na história da filosofia, uma discussão persistente acerca da motivação por detrás dos argumentos ontológicos. Alguns dizem, com certa razão, que estes argumentos buscam apena mostrar àquele que crê que em sua crença se faz imbuída, também, alguma racionalidade, não tendo, nem almejando ter, força para converter um ateu. Outros dizem, também de forma coerente, que os argumentos ontológicos, possuem sim, a potência necessária para mudar o posicionamento teológico de um interlocutor. De qualquer maneira, há algo que pode ser evidenciado como característica comum em ambas as concepções. Podemos dizer, sem medo de errar, que nos argumentos ontológicos, o rigor e aparente inquestionabilidade da demonstração, se colocam como valores. Deseja-se demonstrar um argumento válido, e, sobretudo, pela busca de suas premissas em derivações de análises fundamentais, cogente. No entanto, antes da existência das linguagens formais, até mesmo o significado de argumento válido era vago, e várias tentativas de dedução da existência de Deus tornaram-se motivo de discussão aparentemente infindável. Sabemos hoje, no entanto, que, dada um sintaxe bem definida, pode-se checar automaticamente a validade de um argumento. Entretanto, em relação aos argumentos ontológicos, uma série de questões adicionais são acrescentadas à discussão da verdade da prova, e são estas questões às quais se concerne tratar no presente trabalho. Questões tais quais qual a condição necessária e suficiente para que uma prova lógica demonstre a existência de um objeto, o que é, precisamente, afirmar a existência e sob que circunstâncias nos é lícito afirmar, em particular, a existência de Deus. Para dar sentido a toda esta discussão, devemos nos lembrar que, levando em consideração as críticas kantianas e pós-kantianas, a lógica se desenvolveu, e linguagens construídas especificamente para tratar de metafísica foram desenvolvidas. Dentre os sistemas enriquecidos em relação à lógica clássica, se faz notável a lógica modal alética, na qual estão definidos operadores duais para necessidade e possibilidade. Utilizando esse tipo de abordagem, a presente comunicação pretende discutir o argumento ontológico proposto por Kurt Gödel em 1970 e quais aspectos particulares deste o fazem notável em relação aos demais. Palavras-chave: argumento, deus, lógica, modal, ontológico.

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O ARGUMENTO TELEOLÓGICO: UMA PONTE POSSÍVEL ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO CRISTÃ Luiz Gustavo Oliveira dos Santos (PPGFIL – UnB) Resumo: Muitos autores modernos, mormente das áreas de metafísica e de filosofia da religião, têm revisto a relação entre religião e ciência, por meio das diversas vias argumentativas ― como a da chamada prova cosmológica e a teleológica ―, dando novo fôlego ao tema e ampliando as discussões. A tese advogada por eles revigora a polêmica em torno deste tema na filosofia, desafiando os defensores do conflito entre religião e ciência com a defesa do argumento teleológico, que consideramos ser um forte laço capaz de, antes, aliá-las e minar esse conflito. O argumento teleológico para a existência de Deus é uma das vias com maior potencial para propiciar uma ponte filosófica entre os saberes científico e religioso. Ele é um dos mais populares para se concluir em favor da existência de Deus. A ordem natural, interpretada como vigente no mundo, geralmente tem levado o ser humano a postular especulativamente a existência de um autor suprahumano, divino, para a mesma. Desde a Escolástica, os pensadores cristãos se apropriaram deste argumento e lhe deram cada vez mais força, na medida em que novos indícios da ordem natural eram descobertos pela ciência da época. Hoje, a ciência fornece numerosos dados que demonstram a “sintonia fina” presente na natureza, os quais servem de apoio, aos defensores do teísmo, para interpretar que há um desígnio inteligente na ordenação do universo. Os pensadores teístas cristãos abordam este argumento com muito interesse, apontando virtudes e fraquezas do mesmo e salientando sua adequação à ciência moderna. Um dos mais proeminentes autores sobre este assunto, Robin Collins, faz uma exposição atual deste argumento, chamando-o o “argumento do ajuste-fino” e apresentando-o como “um argumento científico para a existência de Deus”. Aproveitando diversos fatos da física atual que mostram estarem as constantes da física equilibradas sobre um fio de navalha para que a vida exista, visto que um mínimo desvio para mais ou para menos nestes valores a inviabilizaria, Collins procura mostrar em qual das hipóteses este ajuste-fino do cosmos é mais provável: na hipótese teísta ou na hipótese ateísta do acaso. Considerando o princípio cientificamente basilar chamado “primeiro princípio de confirmação”, o autor mostra que esses dados científicos do ajuste-fino cósmico são muito improváveis de ocorrem na hipótese ateísta do acaso, porém, bastante prováveis na hipótese teísta. Logo, deveríamos preferir a hipótese teísta à hipótese improvável do acaso. Embora não se prove a existência de Deus, mostra-se que é probabilisticamente preferível admitir que hipótese teísta respalda melhor o ajuste-fino do cosmos do que o faz a hipótese ateísta. Assim, uma ponte filosófica é viabilizada pelo argumento teleológico do ajuste-fino, que parte dos dados fornecidos pela ciência e chega à existência de Deus como hipótese preferível para explicá- los. Palavras–chave: ajuste-fino, ciência, desígnio, religião, teleológico.

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Dia 6 de maio Auditório ADUnB 10h30 – 12h15 Mesa: Calvino e filosofia na tradição reformada (I) CALVINO E O ESTADO Stephanie Gondim Becker (PPGFIL- UnB) Resumo: O intuito deste trabalho é apresentar uma análise sobre a origem do Estado segundo a doutrina do Reformador João Calvino. Na visão deste autor o reino de Deus e o governo civil têm funções e naturezas diferentes, porém permanecem compatíveis. Por isso, Calvino argumenta que a ordem social não pode ser ignorada ou vista como profana pelos cristãos. Logo, percebe-se que Calvino vê no próprio Deus a origem do poder do Estado. Segundo ele, a tese de que toda autoridade vem de Deus é correta e, mais do que isso, precisa ser a base para qualquer outra afirmação que seja feita sobre o assunto. Sob esta perspectiva, trata-se de investigar, a partir das bases calvinistas do Estado, se assistirá aos súditos o direito de rebelião ou de resistência em face do governante, algo de importância marcante para os grandes autores do pensamento moderno. Palavras–chave: Calvino, Estado, poder político, direito de resistência. CRÍTICA DA RAZÃO IMPURA: A NOVA CRÍTICA TRANSCENDENTAL DA FILOSOFIA REFORMADA DE HERMAN DOOYEWEERD Pedro Lucas Dulci (PPGFIL – UFG) Resumo: as pesquisas recentes no âmbito da história das ideias no Ocidente têm deixado claro que a Reforma Protestante foi determinante para a formação da fisionomia intelectual da modernidade – com ressonâncias até a contemporaneidade. Entretanto, isso não significa, necessariamente, que os Reformadores produziram Filosofia, no sentido técnico do conceito. Sabemos que a Igreja demandava urgentes medidas internas e externas dos reformadores, não deixando muito tempo e espaço para o desenvolvimento de sistemas de pensamento filosófico, propriamente dito. A história nos mostra que era muito mais comum os filósofos serem utilizados pelos reformadores para auxiliar na produção teológica – que, por sua vez, também devolvia a influência de suas pesquisas para os pensadores dos séculos seguintes. À revelia das inquestionáveis influências que a Reforma Protestante produziu no pensamento de John Locke, George Berkeley, Thomas Reid, Immanuel Kant, Søren Kierkegaard, e assim por diante, faltava à Reforma uma produção genuinamente filosófica que tivesse como ponto de partida as

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pressuposições bíblicas desveladas pelos reformadores em sua teologia. Justamente nessa lacuna surge o trabalho do intelectual do holandês Herman Dooyeweerd (18941977). Natural de Amsterdã, no Reino dos Países Baixos, Dooyeweerd foi professor de direito e reitor na Universidade Livre de Amsterdã, fundada pelo reformador holandês Abraham Kuyper (1837-1920). Na esteira intelectual aberta por Kuyper, mas consciente da necessidade de uma construção filosófica e não teológica, Dooyeweerd ocupou toda a sua vida com a construção e refinamento da corrente filosófica que foi chamada de Filosofia da Ideia Cosmonômica (De Wijsbegeerte der Wetsidee). Em sua monumental obra A New Critique of Theoretical Thought (1953-1958), Dooyeweerd filia-se à reflexão transcendental à luz dos desenvolvimentos kantianos, mas elabora uma das mais vigorosas críticas aos pontos de partida dogmáticos no pensamento filosófico. Partindo de uma breve reconstrução das contribuições filosóficas até o Idealismo Alemão, e mostrando os pontos cegos deixados por Kant em seu projeto crítico, Dooyeweerd constrói uma alternativa para a atitude teórica não-dogmática do pensamento. Sua proposta, ao mesmo tempo em que está já em estreito diálogo com as ciências contemporâneas: médicas, matemáticas, biológicas, físicas, etc., também não desconsidera as raízes religiosas da antropologia que a Reforma legou ao Ocidente. Nesse sentido, a presente comunicação tem o objetivo de apresentar as linhas gerais da nova crítica ao pensamento transcendental de Dooyeweerd, bem como explicitar os desdobramentos que esse projeto filosófico tem para toda uma postura teórica que leve em consideração os desdobramentos da Reforma Protestante. Palavras-chave: crítica transcendental, relação sujeito/objeto, ponto arquimediano, ontologia modal. A RACIONALIDADE DA CRENÇA EM DEUS SEGUNDO A EPISTEMOLOGIA REFORMADA DE PLANTINGA Bruno Lomas de Souza (PPGFIL – UnB) Resumo: A racionalidade da crença em Deus foi posta em xeque diversas vezes ao longo da história da filosofia e a partir de diversas abordagens. A crítica mais comum dirigida a ela é de que carece de evidência para ser sustentada racionalmente. Devido justamente à frequência com que essa crítica foi apresentada aos teístas, ela recebeu o nome de objeção evidencialista, e as acusações que seus proponentes fazem aos teístas vão desde irresponsabilidade epistêmica até desonestidade intelectual, chegando alguns, inclusive, a atribuir aos crentes uma espécie de deficiência mental. Na tentativa de responder ao ataque, muitos filósofos teístas buscaram apresentar evidências que justificassem sua crença em Deus, aceitando assim o princípio evidencialista e se esforçando por atender a sua demanda. Na segunda metade do século XX, contudo, o filósofo norte-americano Alvin Plantinga (1932- ) seguiu um caminho diferente em sua resposta à objeção evidencialista, questionando aquela demanda por evidência e defendendo a possibilidade de a crença em Deus ser justificada para o crente mesmo se

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este não for capaz de apresentar argumentos que a embasem. Essa é uma das teses defendidas na teologia reformada de Calvino, e uma vez que é a partir dela que Plantinga, na condição de filósofo protestante, desenvolve sua epistemologia, esta recebeu a alcunha de epistemologia reformada. O coração da epistemologia reformada é a tese que a crença teísta é básica para o crente, ou seja, ela está entre aquelas crenças que não precisam ser justificadas por evidência proposicional, servindo, ao contrário, de fundamento para outras crenças que o teísta sustenta. Uma vez que as crenças básicas são aceitas racionalmente sem evidência (ou por serem autoevidentes ou por terem qualquer tipo de característica especial que lhes concede sua basilaridade), Plantinga afirma não haver razão para acusar o crente de irracionalidade por acreditar em Deus, se for mostrada a possibilidade de essa crença ser básica. E para executar essa tarefa, ele analisa as principais correntes epistemológicas da atualidade e mostra suas deficiências, para então defender que uma epistemologia que inclui a crença teísta como básica, a saber, sua epistemologia reformada, se sai melhor do emaranhado de problemas epistêmicos. Assim, a basilaridade da crença teísta garantiria a racionalidade do crente que a sustenta. Estas são as linhas gerais da comunicação que pretendo apresentar no evento. Palavras-chave: Alvin Plantinga, basilaridade, crença teísta, objeção evidencialista, racionalidade.

Auditório ADUnB 14h -15h45 Mesa: Calvino e filosofia na tradição reformada (II) UMA BIO-COSMOVISÃO CALVINISTA: UMA BREVE ANÁLISE DO CALVINISMO E SEU DESENVOLVIMENTO NA TRADIÇÃO REFORMADA HOLANDESA Rhuan Lacerda de Souza (FIL – UnB) Resumo: Pretende-se realizar uma breve investigação de algumas das concepções mais importantes do pensamento do movimento de reforma calvinista e suas implicações filosóficas. Tendo como referencial teórico os escritos de João Calvino (1509-1564) e outros reformadores do período, as confissões reformadas do século XVI e XVII, além de considerar as contribuições posteriores oriundas do neocalvinismo holandês, especialmente nas obras de pensadores como Abraham Kuyper (1837-1920), Herman Dooyeweerd (1894-1977) e Herman Bavinck (1854-1921) delinearemos os pontos principais dessa bio-cosmovisão cristã (como alguns a têm chamado), ou filosofia teoreferente. Aplicando os princípios do Cristianismo a todos os aspectos da existência, o Calvinismo se propôs a ser uma visão abrangente do mundo e da vida com o fim de glorificar a Deus.

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Nas palavras de Kuyper, o Calvinismo tem respostas contundentes para as três grandes relações que norteiam nossas vidas: nossa relação com Deus, com o próximo e com o mundo. Se quiséssemos ir mais adiante, o próprio Calvino começa sua obra magna Institutas da Religião Cristã incluindo também como pré-requisito para qualquer reflexão humana um correto conhecimento do homem, acrescentando assim à relação tríplice de Kuyper a ideia do correto conhecimento de nós mesmos. Todas essas relações tem sido objeto de reflexão filosófica desde sempre e encontrado diversos posicionamentos conflitantes. Com fama de austero, o Calvinismo não é provido de numerosos admiradores, e nem tido, pelo menos comumente, como movimento de grande riqueza filosófica ou de especulação. O grande medievalista francês Étienne Gilson por exemplo, chegou a afirmar que era impossível o florescimento de filosofia no protestantismo reformado devido ao seus pressupostos fundamentais acerca da razão humana. Contudo, os pensadores neocalvinistas holandeses do século XIX não foram avisados da restrição que Gilson enxergou no movimento reformado. Com seu aspecto intramundano, o calvinismo holandês produziu não apenas grandes filósofos, como Herman Dooyeweerd, tido por alguns como o maior filósofo holandês de todos os tempos (incluindo Espinosa na disputa), mas políticos, artistas, pintores, músicos e cientistas. Todos estes ancorados, para utilizar uma terminologia Bavinckiana, em uma verdadeira filosofia da Revelação. Palavras–chave: calvinismo, Deus, neocalvinismo, reforma “O TEATRO DA GLÓRIA DE DEUS”: PROVIDÊNCIA, COMPATIBILISMO TEOLÓGICO E TEODICEIA NA TRADIÇÃO REFORMADA Guilherme Cordeiro Pires (DIR – UnB) Resumo: Este paper busca apontar as contribuições positivas que a tradição reformada pode trazer para o debate contemporâneo sobre o problema do mal. Ao invés das convencionais (e controvertidas) respostas lastradas no livre-arbítrio libertarista, buscase apresentar quais recursos o compatibilismo calvinista pode usar como uma resposta mais razoável ao problema do mal. Para tanto, faz-se necessário (i) estabelecer a legitimidade do uso de recursos confessionais e teológicos na formulação de respostas ao problema do mal; (ii) extrair o ensinamento sobre a determinação divina e a liberdade humana afirmado pelos reformadores magistrais e seus sucessores de tradição calvinista; (iii) apontar a incoerência da defesa do livre-arbítrio libertarista com esse ensinamento, bem como outros pressupostos teísta-cristãos assumidos pelos reformadores; (iv) por fim, apresentar outras linhas de resposta dentro da tradição reformada que podem suprir os defeitos presentes na defesa do livre-arbítrio. Segundo Adams (1988), argumentos de sucesso sobre o problema do mal, ao atacarem a coerência interna de um sistema de crenças religiosas, precisam se apoiar de alguma forma em premissas internas a esse mesmo sistema ou que ao menos sejam

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evidentemente aceitáveis pelos seus membros. Se é essa a natureza das objeções, também deve ser a das respostas. O sistema de crenças religiosas exposto pela Reforma magisterial, particularmente no ensino de João Calvino (1509-1564) e seus seguidores, afirmaria em uma fase confessional posterior que “desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas” (WESTMINSTER, 3.1) É evidente que tal declaração afirma uma espécie de determinismo teológico na medida em que “(i) os fatos sobre a vontade de Deus inteiramente determinam todos os outros fatos contingentes, e (ii) os fatos sobre a vontade de Deus irão explicar todo outro fato contingente” (WHITE, 2016, p. 75-76). Por outro lado, há de se admitir uma liberdade compatibilista na mesma declaração. Não só é esta interpretação da providência de Deus contrária ao libertarismo, mas também diversas outras doutrinas mais comumente aceitas por cristãos, conforme a lista de Alexander (2016), bem como objeções provenientes de argumentos compatibilistas usuais na literatura filosófica. Tal posição não apenas agrava o problema do mal? Defende-se que não, pois (1) um argumento moral para o teísmo cristão ainda é possível (COPAN, 2003); (2) uma liberdade compatibilista, se aceita, é suficiente para a responsabilidade de agentes morais por seus atos (BIGNON, 2015) e (3) uma rica resposta ao problema do mal pode ser feita sem recursos ao libertarismo. Essa resposta envolve: uma resposta de autoridade ou mistério semelhante ao conhecido na literatura filosófica como teísmo cético (HOWARDSNYDER, 2009); uma teodiceia da glória de Deus demonstrada na história (PLANTINGA, 2004; GREEN, 2016) ; e uma resposta existencial com o entendimento reformado sobre a união mística do crente com Cristo (ADAMS, 1989). Palavras-chave: compatibilismo, livre-arbítrio, problema do mal, teodiceia, teologia reformada. A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO NA REFORMA PROTESTANTE Thiago Paulino Jordão (PPGF – UNIFESP) Resumo: A singularidade da Reforma Protestante do século XVI, enquanto fenômeno de pensamento, não consiste em sugerir uma teologia original e inédita, mas em propor um retorno aos elementos basilares da fé - elementos estes que os reformadores acreditavam que a igreja havia perdido. Neste movimento de retorno, a filosofia de Santo Agostinho (354-430) é tomada pelos principais proponentes da Reforma (tais como Martinho Lutero, Martin Bucer e João Calvino) como ponto fixo, uma espécie de âncora à qual poderiam prender-se com a segurança de fixar sua teologia em um pensamento anterior aos desvios da igreja por eles apontados. Dentre estes reformadores, João Calvino destaca-se ainda mais por ter o bispo de Hipona como uma referência

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primordial - em sua principal obra, Intitutas, faz mais de 400 citações aos textos de Agostinho. Essa visão, no entanto, abre precedentes para o seguinte questionamento: até que ponto teria sido fiel a leitura que Calvino fez de Agostinho, em especial na sua teologia sobre a dupla predestinação dos homens, segundo a qual Deus destina, de antemão, uns para a salvação eterna e outros para a perdição eterna? A partir de então é possível delinear, de forma mais específica, a influência do pensamento de Santo Agostinho na Reforma Protestante para compreender se os reformadores teriam interpretado erroneamente a teologia agostiniana ou, ao contrário, se a Reforma seria um reestabelecimento, na igreja, dos princípios defendidos pelo bispo de Hipona. Palavras-chave: dupla predestinação, João Calvino, Reforma Protestante, Santo Agostinho. Sala de reuniões ADUnB

14h – 15h45 Mesa: Kant e Schiller ILUMINISMO DESPÓTICO: ESCLARECIMENTO E REFORMA COMO OUSADIA DO SABER. Kant leitor de Horácio. Mathias Alberto Möller (PPGF – UNIFESP) Resumo: A partir do mote iluminista 'Sapere Aude' recorrido por Immanuel Kant para sua definição de saída da menoridade, este trabalho visa apresentar a proposta kantiana de esclarecimento como busca pela sabedoria. Tomada como mote para a “Aufklärung” em Kant (1784), a expressão latina tem sua fonte atribuída a Quintus Horatius Flaccus (Venturi, 1959). No entanto, para além do aparente reforço para as teses de inspirações epicuristas e de retomada da tradição clássica, o uso do mote em latim impõe a pergunta sobre o significado dessa expressão retirada de um dos maiores poetas da Roma Antiga e proferida em tempos de decadência. Assim, para além de o pensar por si mesmo, uma certa retomada do debate original kantiano travado no 'Berlinische Monatsschrift', traz ensejo para a pergunta sobre a importância da formação do caráter para a proposta de 'Aufklärung'. Tal como denunciado por Hegel em seus escritos de juventude: “o entendimento é um servo da corte, de acordo com o humor de seu senhor dirige-se a seu dispor (...). O esclarecimento do entendimento faz mais esperto, porém não melhor” (HEGEL, 1986). Com efeito, apresenta-se aqui o conselho horaciano em tom imperativo como uma recomendação para se querer fortalecer o espírito com entendimento e virtude. O ousar saber (Wissen), portanto, passaria de um 'tenha coragem de conhecer' para um 'tenha coragem de buscar sabedoria' (Wesheit), e, desse

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modo, passaria para uma composição de entendimento (Erkenntnis) e virtude (Tugend) na formação do espírito, tal como apresentara Kant o caráter na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (2009). Ora, se a pergunta do concurso idealizado por D´Alembert a respeito da 'Aufklärung' sobre o ocaso da religião cristã, a Preisfrage de 1779, foi reformulada para ser lançada pelo Rei da Prússia com o apoio da Academia de Ciências de Berlim, a formulação inicialmente intencionada pelo rei filósofo Frederico era se seria permitido enganar um povo. Assim, a resposta à pergunta 'O que é o Iluminismo?' talvez também deveria aqui ser que: “a questão estava mal colocada” (Hegel, 2014). Agora, cabe, então, perguntar “se a ótica da Aufklärung pode dar conta da crise (...) do ressurgimento da barbárie no interior da própria civilização” (PRADO JR, 1976). Contudo, afinal, a questão central da Aufklärung se apresenta como um problema político. Palavras–chave: Kant, Iluminismo, Aufklärung, Horácio, sapere aude

A AMBIGUIDADE DA AUTONOMIA DA VONTADE NA FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES Isabella Holanda (PPGFIL – UnB) Resumo: No presente trabalho, será abordado o conceito e, consequentemente, os problemas associados à argumentação acerca da autonomia da vontade (Autonomie des Willens) na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes (Grundlegung zur Metaphysik der Sitten) de Immanuel Kant. A primeira parte da comunicação visa explorar no que consiste a vontade e a autonomia da vontade. A segunda parte, por sua vez, busca discorrer acerca da ambiguidade do conceito de autonomia da vontade na seção III da supracitada obra. Na primeira parte, discorreremos sobre a função da faculdade da vontade na filosofia moral de Kant. Mais adiante, será tematizada a autonomia da vontade definida sob os seguintes aspectos: i) autonomia da vontade como moralidade; ii) autonomia como distinta da heteronomia; iii) autonomia da vontade como liberdade em sentido prático. A partir dessas características da autonomia, Kant insere a hipótese de um (suposto) círculo vicioso. Desse modo, a autonomia expressaria duas facetas: como faculdade legisladora da moralidade, bem como, faculdade de executar os princípios morais. Essas duas concepções de autonomia acabam levando a uma ambiguidade na leitura da supracitada obra e Kant não explicita uma diferença terminológica entre elas. Concluiremos mostrando que essa ambiguidade em torno da autonomia oferece uma diferença importante: uma coisa é se determinar a partir da regra, outra coisa é agir de acordo com a regra. Com essa diferenciação, será possível, em parte, dissolver esse círculo vicioso proposto por Kant. Palavras-chave: autonomia, Kant, metafísica, moral.

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SCHILLER E A EST(ÉTICA) Mariana Coelho (FIL – UnB) Resumo: partindo da leitura e analise de textos kantianos e schillerianos serão apresentadas as noções modernas de juízo estético e de sublime mapeando genealogias teóricas da história e da crítica de arte a partir do espírito romântico que permeia a arte nos diferentes momentos da história – especificamente a partir do final do século XVIII, primeira e segunda metade do século XIX - e, ainda, que traz em seu cerne mudanças no pensamento ocidental inaugurando o mundo moderno. As noções modernas de juízo estético e de sublime abrem espaço no mundo moderno para uma arte que visa mesmo à elevação ética do ser humano, sendo o sublime considerado como algo que ultrapassa o ser infinitamente. Em uma busca pela ordenação dos sentidos, e sua relação com o belo, que a crítica estética aparece. Os românticos buscam uma síntese entre o eu e a natureza. Nesse contexto, Schiller estabelece na oposição entre classicismo e romantismo toda uma teoria estética sobre a fundamentação da natureza; a interferência e distanciamento do homem na sua natureza e a sensação nostálgica o torna insatisfeito com seu próprio tempo. A cultura o corrompe. Voltar ao seu estado natural é a intenção do homem moderno. Nesse contexto de inadequação social do ser humano, Schiller abre espaço para a crítica e até mesmo para uma ética do ser humano, mostra-se, em suas cartas sobre A educação estética do homem (1989), absolutamente insatisfeito com os rumos violentos que a Revolução Francesa do século XVIII tomava, ele próprio que inicialmente apoiou o movimento da Aufklärung. Schiller se vê em uma posição em que seria necessário buscar uma solução ética para o conflito ao acreditar que a educação através da arte harmonizaria os impulsos humanos – sensível e formal –, tornando o ser humano capaz em potenciais (político, social e moral) e, acima de tudo, livre. Palavras–chave: estética, moral, natureza.

Auditório APOSFUB 14h – 15h45 Mesa: Ética animal, alimentação, família - questões éticas CONCEITO DE PESSOALIDADE ANIMAL E REGRAS PARA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL Laís Oliveira Rios (IFILO – UFU) Resumo: O objetivo dessa comunicação é compreender, a partir de autores como Singer (2006) e Francione (2008), o conceito de pessoalidade e as implicações de sua aplicação as regras de experimentação, a partir de Spacek (2016). Tal conceito, o da pessoalidade, inicialmente era definido em bioética como a posse de autoconsciência e

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racionalidade uma vida biográfica. Singer (2006) é defensor desse conceito de pessoalidade e as implicações disso em sua filosofia é que determinados usos de animais são permitidos, se for o caso de esse uso buscar gerar melhores consequências, que compensem a substituição da vida de um ser que não é autoconsciente. Nesse sentido, Gary Francione contesta e entende que tais características não podem ser consideradas como válidas para definir que os animais não possuem interesses a serem considerados e, consequentemente, também não possuem direitos, pois grande parte das espécies ficariam fora da comunidade moral, estando nela apenas humanos e grandes primatas. A partir desta constatação, Francione propõe que o único critério para que os animais sejam considerados pessoas com interesses a serem considerados é a capacidade de ser senciente, ou seja, experimentar sofrimento e desejar não experimentar esse sofrimento. O compartilhamento dessa característica faz que seja necessário assumir que diversos animais podem ser considerados pessoas, e que para que o tratamento dispensado a eles das mais diversas formas seja ético, ele deve ser extinto ou regulado. No que tange a regulamentação do uso de animais para experimentação, o conceito de pessoalidade, como foi discutido por Francione, tem um grande peso, pois, em contraste a diversas áreas de exploração animal, a experimentação possui regras para seus participantes, porém tais regras ainda diferem entre participantes humanos e não humanos apesar ambos compartilharem entre si características que os definem como pessoas. É nesse sentido então Spacek (2016) considera que é necessário estender direitos aos animais que possuem características de pessoalidade, protegendo de fato suas vidas e sua autonomia, tal como as leis atualmente protegem a experimentação com humanos e não apenas contra crueldade e danos considerados desnecessários. Palavras–chave: pessoalidade, igual consideração de interesses, experimentação. INFLUÊNCIAS ALIMENTARES DA RELIGIÃO SOBRE A DIETA DOS FIÉIS: O CASO DA MISSÃO CATÓLICA NOSSA SENHORA DAS MERCÊS Maria Vitória Gonçalves Teixeira (IFAP) Resumo: Este trabalho relaciona práticas devocionais e suas aplicações no campo da vivência da Missão Nossa Senhora das Mercês em Macapá-AP pertencente ao Catolicismo Nacional com expressões da Reforma Carlista ocorrida no Brasil em 1945, enfatizando a questão da alimentação de pessoas ligadas a esta crença com traços doutrinários próximos das igrejas históricas da Reforma. Seus fiéis possuem práticas religiosas que remontam aos sete primeiros concílios ecumênicos, tendo rito e doutrina própria, além de ações administrativas independentes da igreja romano-papista. A referida missão entende que o jejum tem a ver com boas práticas alimentares a partir de seu doutrinamento, determinando os dias para segui-lo. Assim, jejum e dieta estão relacionados à qualidade de vida e filosoficamente a religião aborda questões ontológicas. Sabe-se que o jejum influencia o hormônio do crescimento (HGH), pois durante o período de 24 horas sem alimentar-se, o HGH aumenta em média 1,300% nas

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mulheres e quase 2.000% nos homens, protegendo a massa muscular e o equilíbrio metabólico. Cientificamente, os reflexos são positivos na saúde dos fiéis que tem um balanceamento das proteínas, vitaminas e calorias controladas pela prática semanal do jejum. Portanto, fé e razão caminham juntas como autocontrole e alicerce de piedade que remontam aos inícios da cristandade. Palavras-chave: Educação, Filosofia da Religião, Interdisciplinaridade, Pesquisa Aplicada. A TOLERÂNCIA DE LOCKE E O ESTATUTO DA FAMÍLIA Beatriz Falcão (FIL – UnB) Resumo: Este artigo possui a intenção de analisar o Projeto de Lei nº 6.583 de 2013 sob a perspectiva da tolerância, segundo Locke. O projeto em questão foi sugerido pela Frente Parlamenta Evangélica (bancada evangélica), e institui como família somente aquela formada por um homem, uma mulher e seus descendentes. A tolerância de Locke, por sua vez, insiste que não deve haver interferências entre assuntos das igrejas e assuntos de Estado, como os direitos civis e as liberdades individuais. Palavras–chave: Tolerância, Locke, Frente Parlamentar Evangélica, Estatuto da Família.

Auditório ADUnB 16h- 17h45 Mesa: Lutero e a liberdade A LIBERDADE CRISTÃ DE LUTERO Rogério Regis de Azevedo (FIL – UnB) Resumo: Neste texto procuramos mostrar que Martinho Lutero trata de uma liberdade, a liberdade cristã, e não de outra liberdade qualquer. Dizemos isso, porque liberdade “em todas as ordens da experiência humana, há e sempre pode haver mais ou menos liberdade de ação, de opinião, de discurso e mesmo de 'liberdade'” (CARRASCO, 2011, p. 11), ou da liberdade civil ou social que a natureza e os limites do poder da sociedade podem exercer com legitimidade sobre o indivíduo (MILL, 1997). Também não nos parece possível falar de liberdade sem que isso nos cause alguma confusão, considerando a transitoriedade, fluidez, sua efemeridade. Somos livres, mas certamente não definitivamente livres. Por conseguinte, este texto está limitado ao que diz Lutero sobre a condição do cristão e à sua fé relacionada às Escrituras (LUTERO, 2000). A

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liberdade cristã transcende à dependência dessas leis da natureza e se assenta na perspectiva do amor. Em 1Cor 9,19 temos: “Ainda que é livre em relação a todos, fiz-me o servo de todos a de fim de ganhar o maior número possível”; e em Rm 13,8: “Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei”. Em Gálatas 4,4: “Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei”. Notase que Cristo se sujeita aos ditames da lei mosaica. Esses textos, entre outros, suportam as duas teses colocadas por Lutero: (1) um cristão é um senhor livre sobre todas as coisas e não submete a ninguém; (2) um cristão é um súdito e servidor de todas as coisas e submete a todos. Daí se diz que a liberdade cristã está fundamentada na fé, constituindo uma ética baseada no amor e para servir uns aos outros (LUTERO, 1997, p. 25-27; 2000, p. 48). Palavras-chave: fé, justificação, liberdade, livre. ÉTICA E LIBERDADE EM M. LUTERO Suzyanne Valeska Maciel de Sousa (UFCG) Resumo: O presente trabalho visa abordar a construção de um novo conceito de ética no contexto da Reforma protestante, a partir da análise de uma contribuição do filósofo e teólogo Martinho Lutero como um antecipador das ideias que culminariam no movimento conhecido como “esclarecimento”. Para tanto, será considerada a obra “Da liberdade do Cristão” (1520) de Lutero como base para nosso estudo. Interessa-nos perceber como os escritos do autor apresentam uma nova visão de mundo e consequentemente uma nova ética, abrindo o horizonte para reflexões cada vez mais profundas. Ao evocar a ideia de liberdade de pensamento individual, Lutero rompe com os paradigmas da sociedade medieval que distribuía o conhecimento de forma hierárquica voltada para uma só visão de mundo, responsável por limitar impositivamente o livre exercício da razão. Dessa forma, a partir das ideias luteranas, dissemina-se um processo de racionalização que começa na religião, mas alastra-se social e politicamente, encontrando por fim o seu lugar privilegiado na ciência. O esclarecimento foi sem dúvida resultado de muitas críticas e reflexões elaboradas por diversos autores e filósofos posteriores, mas vemos em Lutero um antecipador dos ideais que viriam a originar o movimento. Palavras-Chaves: Lutero, Esclarecimento, Ética.

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LIVRE-ARBÍTRIO E INTERIORIDADE: DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES ENTRE LUTERO E AGOSTINHO Manuele Porto Cruz (PPGFIL – UnB) Resumo: O período compreendido como Reforma Protestante (1517-1648) foi de grandes conturbações políticas e religiosas. Martinho Lutero (1483-1546) surge como o grande proponente de mudanças, dentre as quais incluiriam aspectos especialmente relacionados à venda de indulgências, feito abusivo e comum naquele período pela Igreja Católica. Para ele, e para o humanista Erasmo de Roterdã (1466-1536), parecia que a salvação do homem não poderia ser algo negociável, muito menos vendável. Contudo, embora o tema lhes aproximassem e lhes colocassem contrários à Igreja Católica da época, parece que ao tratarem da questão da liberdade da vontade humana, Lutero e Erasmo se confrontavam. Erasmo possuía plena confiança na natureza humana e, além disso, admitia que a Graça brotava do interior da alma que a merece. Para Lutero, tal posicionamento se opunha diretamente às Sagradas Escrituras que diziam que os homens são “justificados gratuitamente pela Graça de Deus” (cf. Romanos 3,28), e essa gratuidade faria com que nada que o homem fizesse pudesse lhe auxiliar a favor do merecimento da mesma. Erasmo, apesar de aparentemente contrário à Igreja Católica, ainda retomava ao conceito de livre arbítrio, proposto pela tradição da Igreja especialmente na Patrística com Agostinho de Hipona (354-430). Embora Lutero tenha sido um monge agostiniano, não compactua totalmente com a definição de Agostinho, mas em outros aspectos parece se aproximar bastante de sua filosofia, como se dá especialmente com o caráter da interioridade. Embora os temas do livre-arbítrio e da interioridade pareçam temas de relevância estritamente teológica, eles se ampliam a aspectos humanos e influenciam diversos posicionamentos filosóficos modernos e contemporâneos. Neste artigo será tratado então o tema do livre arbítrio e da interioridade (como abertura ao tema da subjetividade) a partir da concepção proposta por Agostinho de Hipona em contraposição com aquela proposta por Martinho Lutero, suas principais diferenças e aproximações e algumas das influências que surgiram no período moderno e contemporâneo da filosofia. Para tal serão analisadas as obras O livre-arbítrio e A graça e a liberdade de Agostinho de Hipona e Da liberdade do cristão e A escravidão da vontade de Martinho Lutero. Palavras-chave: Agostinho, Interioridade, Livre-arbítrio, Lutero

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Dia 7 de maio Auditório ADUnB 8h30-10h15 Mesa: Sócrates, Platão e suas interpretações A RELAÇÃO ENTRE A LIBERDADE E A FELICIDADE NA REPÚBLICA DE PLATÃO. Sthefan Bruno Machado Ribeiro (FIL – UnB) Resumo: Platão (+-427/+-347 a.C) dedicou-se ao estudo da justiça em sua obra A República. Em torno dessa discussão da justiça, percebemos que algumas críticas e propostas foram realizadas: crítica aos sofistas e poetas, proposta de uma educação guerreira (referência a Esparta), crítica à democracia (referência a Atenas), proposta de um paradigma epistemológico e a função do filósofo como dirigente da polis e das almas para o cumprimento da justiça. Além disso, como pano de fundo, temos a impressão imediata de que a liberdade (ao molde democrático ateniense) parece-nos muito distante e a felicidade comprometida. Porém, para ultrapassarmos essa impressão imediata e superficial da leitura da obra, decidimos realizar a pesquisa científica para elucidar qual é de fato a posição de Platão na República. Desta forma, nosso tema da pesquisa é a "relação entre a liberdade e a felicidade na República de Platão", que advém de um questionamento importante: "como é possível, na República de Platão, o convívio entre um projeto de vida que visa a felicidade sem as tão almejadas e praticadas liberdades democráticas?" Após o tratamento acerca da paidéia dos guardiões, o controle da razão, a justiça, a crítica à democracia e à tirania, a continuidade entre ética e política e a ordem da cidade, concluímos que a liberdade (não democrática) é viável com o projeto de felicidade humana (na cidade e na alma) proposta na obra, portanto, reciprocamente, uma vida feliz é uma livre e uma vida livre é uma vida feliz. Palavras-chave: felicidade, justiça, liberdade, República. VIRTUDE, DOENÇA E SINA: UMA ANÁLISE DE “O PROBLEMA DE SÓCRATES” Bruna Morais Esteves (FAFIL – UFG) Resumo: Sócrates é um personagem constante nas reflexões nietzschianas durante toda a sua obra. Em Crepúsculo dos Ídolos (1888), "O problema de Sócrates" é a análise mais vasta do autor grego desde o Nascimento da Tragédia (1872). As doze seções do texto tem alusões a várias facetas do Sócrates de Nietzsche: o caricato filósofo moribundo e feio, o Sócrates platônico, o socratismo e o Sócrates irônico que o influencia em grande medida. Trabalharemos com a perspectiva rotulativa e sintomatológica de Nietzsche, uma tentativa de trazer para a sua filosofia a noção de tipo fisiológico, isto é, alguém

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como a etiqueta de uma sina, Sócrates era um "tipo" e entender a magia deste filósofo grego é investigar que sintomas escondem a moral socrática e por que ela se eternizou. Um irônico cheio de mistérios, ainda trágico, levado à sério não é pouco perigoso - o resultado da seriedade e fascínio com que a sociedade grega se lança para a racionalidade é a oposição ao que que há de mais fundamental dos instintos, a vontade de vida, que é a corrupção geral da doença na civilização. Tal declínio vital apresentou-se suficiente para, nas palavras de Nietzsche, determinar patologicamente toda a moral a partir de Platão. Pretendo delinear as noções de declínio fisiológico e sina na relação entre a sociedade ateniense e a racionalidade e também indicar a nuance entre Sócrates e socratismo, apontando uma incorporação de elementos socráticos na filosofia nietzschiana. O que se defende é que Sócrates, enquanto indivíduo doente, não foi o ponto mais frágil da civilização grega, mas os doentes de Sócrates sim. O que quer dizer isto? Que tipo de atividade vital a sociedade grega socrático-platônica e sua posteridade produzem? Palavras–chave: civilização, décadance, destino, socratismo, virtude. KIERKEGAARD E O PONTO DE VISTA DE SÓCRATES CONCEBIDO COMO IRONIA Lucas Gonçalves França Vasconcelos (PPGFIL – UnB) Resumo: Por meio de seu primeiro livro e conjuntamente sua tese filosófica acadêmica, O Conceito de Ironia constantemente referido a Sócrates, Kierkegaard faz uma análise do conceito de ironia ao longo da história da filosofia; conceito este que, segundo o autor, começou em Sócrates, numa época onde predominavam os sofistas. A introdução de Sócrates na história da filosofia, utilizando a ironia como complemento negativo dentro do contexto sofista, foi determinante para o que se ocorreu postumamente. O objetivo do projeto, dessa forma, é apresentar, por meio de aprofundamento bibliográfico, a compreensão kierkegaardiana da primeira parte do livro intitulada O ponto de vista de Sócrates concebido como ironia. Nessa parcela do texto, Kierkegaard discorre sobre as únicas fontes que se obtém ainda hoje do filósofo Sócrates, que são aquelas expostas por Xenofonte, Platão e Aristófanes - havendo um enfoque nas Apologias dos dois primeiros e na peça As Nuvens do último, com constantes comparações entre estas. Ademais, o trabalho, vale salientar, sempre visa abordar os principais aspectos da ironia socrática, tais como o seu demônio (daemon), a sua habilidade de deixar o diálogo inconclusivo (aporia) e a maiêutica. Ao final do projeto faz-se necessária uma abordagem a percepção de Kierkegaard da importância do elemento negativo, ou seja, Sócrates e sua ironia, na história da filosofia, demonstrando sua crítica à interpretação do filósofo alemão Hegel em relação a essa importância. Palavras-chave: ironia, Kierkegaard, negatividade, Sócrates.

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Auditório da ADUnB 10h30-12h15 Mesa: Aristóteles – Tomás de Aquino SUBSTÂNCIA E UNIVERSAL NOS CAPÍTULOS 13-16 DA METAFÍSICA DE ARISTÓTELES Bruno Apellaniz Rodrigues Falaschi (FAFIL – UFG) Resumo: Em seu livro sobre a Metafisica, mais precisamente nos livros VII e VIII, Aristóteles parece empreender uma busca sobre o que é a ousia das coisas. “Afinal, aquilo que não só há muito tempo como também agora e sempre se investiga e constitui impasse – que é o ente” (Aristóteles, 1028b 2). Essa questão proposta por Aristóteles pretende responder de que forma as ousiai existem, investigando o que é a substancia. Aristóteles lista quatro candidatos ao título de substância e restringe a investigação subsequente, a se realizar ao longo dos capítulos 13- 16, a apenas um deles: o universal platônico ou às Formas. Platão concebe a teoria das Formas para resolver um problema sobre aquisição de conhecimento. Segundo Aristóteles, Platão usa um conceito heraclítico de devir, e portanto, julga que não se poderia obter conhecimento a partir de objetos sensíveis, já que esses objetos estariam sujeitos a constantes alterações; e segundo Platão, não se pode obter conhecimento a partir de algo que está em constante mudança. Para Platão, se podemos conhecer algo (e isso não é colocado em discussão, pois Platão e Aristóteles julgam que é possível obter conhecimento), esse conhecimento deve vir de uma fonte eterna e imutável. As Formas seriam essas fontes de conhecimento, pois seriam como instâncias paradigmáticas dos objetos sensíveis. As Formas portanto seriam imutáveis, perfeitas e existiriam apenas no mundo das ideias. Os objetos sensíveis seriam como que reproduções dessas Formas eternas e imutáveis que existem no mundo das ideias, porém sujeitos ao devir heraclítico e assim não perfeitos. Platão julgava que assim poderíamos obter o conhecimento a partir das Formas, já que elas estariam separadas dos entes. As Formas universais seriam então as substancias primeiras, essência das coisas, causa e princípio de todo o mundo sensível. Assim, o propósito da presente pesquisa consiste em compreender a noção aristotélica de substância a partir do contraste que ela mantém com a noção de universal contra a qual Aristóteles argumenta em Metafísica Zeta 13-16. Portanto, qualquer proposta interpretativa que tenha por alvo desfazer essa inconsistência, como é o caso da presente proposta, deve empreender uma investigação minuciosa acerca do sentido de "substância" (ousia) nos capítulos 13-16 do Livro Zeta da Metafísica. Palavras -chave: Metafísica, Aristóteles, Universais.

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A ESSÊNCIA DA ALMA EM SI MESMA E A SUA UNIÃO SUBSTANCIAL COM O CORPO NA SUMA TEOLÓGICA DE TOMÁS DE AQUINO Neimar de Almeida (PPGFIL – UnB) Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar questões introdutórias a respeito da teoria da alma em Tomás de Aquino. Desse modo, procuraremos através da análise das questões 75 e 76 da I parte da Suma Teológica, identificar os pressupostos tomista para fundamentar e definir a essência alma. Após analisar no mais alto do mundo das formas, as inteligências ou substancias separadas da matéria, os anjos e, no grau mais baixo as formas totalmente inseridas na matéria, ou seja, aquelas nas quais a sua existência depende da existência da matéria, o Aquinate ocupasse da alma humana. Esta, para o doutor Angélico, não é nem uma forma separada e nem forma ligada, em sua existência, à existência de uma matéria. Ressaltamos que a noção de alma é mais ampla do que a de alma humana. Dessa maneira, para conhecer a sua natureza devemos, segundo Tomás, partir do pressuposto que ela é o primeiro princípio de vida de todos os seres vivos. Sendo o primeiro princípio da vida do ser vivo, a alma deve ser necessariamente imaterial. À alma humana deve-se acrescentar ainda que é subsistente, isto é, existe por si, pois realiza uma função que independe da matéria para existir, ou seja, o intelecto. Sendo imaterial e subsistente segue-se que é imortal. Apesar da alma humana existir por si, por sua natureza tende a unir-se ao corpo, pois só assim realiza suas funções completas. Por sua vez, essa união da alma com o corpo deve ser uma união substancial. Isto posto, temos como propósito examinar como Tomás de Aquino realiza a união de uma alma, que existe por si e separa, com uma matéria. Palavras–chave: alma, imaterial, imortal, substancial. A NATUREZA DA METAFÍCA DE TOMÁS DE AQUINO A PARTIR DA DISCUSSÃO DO CONCEITO DE SEPARAÇÃO Antonio Luiz Catelan Ferreira (PPGFIL – UnB) Resumo: A pesquisa tem por objetivo estudar o significado do conceito de separação para a metafísica de Tomás de Aquino a partir do Super Boetium de Trinitate e da história de sua discussão. Os estudos sobre esse texto, principalmente durante a segunda metade do século XX, suscitam questões e possibilidades para a compreensão do projeto metafísico do autor. Entre estas, destacam-se: a) a terminologia usada para descrever a operação do intelecto que se encontra na base da metafísica; b) a propriedade da descrição do acesso à separação em seu rigor lógico; e c) a dependência ou independência do juízo de separação relativamente à demonstração da realidade de um ser imaterial. A primeira delas é de natureza terminológica e questiona se a distinção feita entre a abstração e a separação por Tomás de Aquino pode ser adequadamente descrita pelo vocabulário dos três graus da abstração. A segunda questão interroga se a separação é uma intuição especial independente de qualquer procedimento científico, ou se é

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conclusão de uma averiguação científica. A terceira se refere à necessidade de uma demonstração prévia da existência de um ser imaterial como condição prévia e necessária para o juízo da separação. À luz dessas questões, se procurará avaliar a coerência de cada proposta com o que efetivamente se encontra no texto de Tomás de Aquino e que importância podem ter para a compreensão de sua metafísica em termos globais. Palavras-chave: Tomás de Aquino, metafísica, separação, Super Boetium de Trinitate.

Auditório da ADUnB 14h – 15h45 Mesa: Aristóteles – Hannah Arendt ADOLF EICHMANN E DIETRICH BONHOEFFER: UMA ANÁLISE SOBRE A ÉTICA E A DOUTRINA LUTERANA DOS DOIS REINOS NO REGIME NAZISTA Pedro Alcântara (PPGFIL – UFG) Resumo: No dia 31 de maio de 1962, Otto Adolf Eichmann, Tenente da SS e responsável pela engenharia de transporte e deportações que possibilitou a Solução Final nos campos de extermínio nazistas, caminhou cerca dos quarenta metros que cortavam a sua cela à câmara de execução rumo à morte sentenciada por crimes de guerra, crimes contra o povo judeu, crimes contra a humanidade, dentre outros. A postura de Eichmann aponta a característica típica de um novo criminoso e uma nova configuração de mal que surgira na modernidade, um criminoso que não se enquadrava em nenhum código moral e religioso existente na tradição ocidental. Em sua defesa, o criminoso ressaltava que não era digno de tal acusação pois era um cidadão respeitador das leis e um mero cumpridor de ordens. No dia 09 de abril de 1945, o Pastor e teólogo Luterano foi assassinado pelo regime nazista, acusado de conspiração contra o regime do Führer. A postura de Eichmann em dispensar seu juízo sobre o que certo e errado em detrimento à uma obediência cega pelas ordens do Führer – que possuíam valor de lei-, foi totalmente contrária à postura de Bonhoeffer, que teve uma postura totalmente ativa em relação à tentativa de bloquear o governo do regime nazista, ao ponto de participar de uma operação de conspiração para assassinar Hitler. Nossa pretensão é tratar da complexa relação entre lei e ética no regime nazista a partir do exemplo dos personagens citados acima, assim como pensar a possível influência da doutrina dos dois reinos de Martin Luther, aplicada à distinção entre a igreja e o Estado, na passividade e aceitação das barbáries cometidas pelo regime nazista por grande parte do povo alemão. Palavras-chave: Ética, Lei, Doutrina dos Dois Reinos, Regime Nazista.

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A BANALIDADE DO MAL E A NOÇÃO DE DEVER Indi Nara Corrêa Fernandes Colem (FIL – UnB) Resumo: Esta comunicação tem o propósito de apresentar de forma preliminar algumas considerações da filósofa e pensadora política Hannah Arendt acerca das noções de banalidade do mal e dever, trabalhadas na obra Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. Tendo em vista que com o termo banalidade do mal Arendt quer, em linhas gerais, afirmar a perda da capacidade de pensar, é objetivo deste trabalho investigar a tese apresentada pela autora, na qual Eichmann e muitos dos que participaram dos eventos totalitários de sua época não eram necessariamente maus, apenas não conseguiam pensar de forma crítica os acontecimentos em que estavam inseridos. Em um segundo momento, analisar de que forma Eichmann falhou ao utilizar-se do preceito kantiano de dever na defesa de seu julgamento, como justificativa para os seus atos. Para isso, faz-se necessário percorrer a obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes de Kant, com o intuito de entender, principalmente, a distinção feita por ele entre as ações praticadas por dever e conforme o dever. Desta forma, e por fim, retomar a argumentação de Arendt a respeito da obediência cega, que Eichmann atribui a Kant de forma errônea, e como ela se articula com sua falta de pensamento crítico. Palavras-chave: banalidade do mal, dever, pensamento crítico. HANNAH ARENDT: A CONSTRUÇÃO DO PENSAR E SUA CONSEQUÊNCIA ÉTICA. Patrick Saldanha (FIL – UnB) Resumo: O mal sempre foi um tema que intrigou as mentes humanas. Questões como: “Onde está o mal? Está dentro ou fora de nós?” sempre estiveram presentes nas mais variadas sociedades de nossa civilização. Entretanto, foi no séc. XX que Hannah Arendt analisa “o mal” que se torna uma ação banal na Alemanha de Hitler. É evidente que antes que uma ação seja realizada é necessário que haja um pensar anterior. Esse trabalho mostra como Arendt levanta outras questões a respeito do “pensar” que nos faz refletir sobre todo o processo mental e suas ações práticas. A filósofa nos mostra que a principal causa das ações que proporcionaram as atrocidades nazistas foi a simples “irreflexão” do pensar, por isso, entender como o pensar se constitui e, principalmente, como é possível à concretização de ações extremamente assombrosas é assunto de grande importância para a filosofia. Afinal, é apenas através do pensar crítico que conseguimos formar um indivíduo e, consequentemente, uma sociedade mais democrática.

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Auditório ADUnB 16h-17h45 Mesa: Kierkegaard e Feuerbach A PSEUDONÍMIA COMO INSTRUMENTO DIALÉTICO PARA O PROCESSO RELIGIOSO DO TORNAR-SE SI MESMO EM KIERKEGAARD. Paulo Henrique Lopes (PPCIR – UFJF) Resumo: O movimento existencial e paradoxal do tornar-se si mesmo constitui um dos eixos centrais do pensamento kierkegaardiano. Para o filósofo dinamarquês, que se reconhece, sobretudo, como um escritor religioso, que tem suas bases no protestantismo luterano, tornar-se si mesmo equivale a tornar-se cristão, uma vez que passa necessariamente por uma disposição (Stemning) religiosa que cabe ao indivíduo assumir. O presente artigo visa ocupar-se da estratégia estilística – precisamente sobre a questão da pseudonímia – com a qual Kierkegaard orquestra a sua produção diante deste problema existencial estritamente subjetivo. Para tanto, em um primeiro momento, o texto deverá considerar o contexto para o qual Kierkegaard fala: uma cristandade que deslocou os conceitos cristãos de suas respectivas disposições religiosas existenciais, para uma disposição meramente estética. Por sua vez, isto gera um problema formal para o filósofo dinamarquês, que será abordado em um segundo momento, a saber, como tratar a existência a partir de uma perspectiva subjetiva e religiosa aos que lidam com ela sob um viés objetivo e estético? Esta questão nos lança àquela da pseudonímia como um instrumento pelo qual o filósofo dinamarquês se consolida como um autor de autores, criando pseudônimos que retêm uma certa autonomia ao falarem a partir da (e para a) dimensão estética. Por fim, argumentar-se-á com base no Ponto de Vista de Minha Obra Enquanto Escritor e de fragmentos de seus Diários (a partir de seleção organizada e traduzida por Howard e Edna Hong), que esta estratégia formal se articula dialeticamente com o desenvolvimento de seu conteúdo, na medida em que se revela imprescindível para o exercício da tarefa religiosa que subjaz a toda a obra kierkegaardiana – tornar o indivíduo atento quanto à própria existência, isto é, ao desafio religioso de tornar-se si mesmo (cristão). Palavras-chave: cristandade, dialética, Kierkegaard, pseudonímia, tornar-se si mesmo. INTERIORIDADE E FÉ: UMA ABORDAGEM DE SUA INTERRELAÇÃO A PARTIR DA OBRA TEMOR E TREMOR Fernanda Winter (PPCIR – UFJF) Resumo: O filósofo dinamarquês, Søren Kierkegaard, através de seu pseudônimo Johannes de Silentio, propõe-se a refletir sobre a fé trazendo à baila a passagem de

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Gênesis 22, texto caro a toda a tradição judaico-cristã. De Silentio retoma a história da subida de Abraão ao monte Moriá para introduzir a partir dela uma nova perspectiva sobre o tema, em franca oposição àquela assumida por muitos de seus contemporâneos que, para sua consternação, estavam à frente da Igreja Estatal da Dinamarca. Kierkegaard parecia constatar não só na Igreja luterana dinamarquesa, como também nos diversos contextos teológicos e filosóficos que se ocupavam do cristianismo, uma tendência ao deslocamento dos problemas religiosos para a esfera ética ou estética, desconsiderando seu caráter propriamente existencial. O filósofo de Copenhague, ao contrário, quer trazer o religioso ao centro do próprio existir e, com isso, devolvê-lo ao âmbito da interioridade. O pseudônimo de Temor e Tremor elabora, destarte, um conceito de fé atrelado diretamente ao conceito de interioridade, pois, na leitura de Johannes de Silentio, Abraão é paradigmático para a compreensão da fé porque não se deixa compreender a partir das categorias da exterioridade, do universal. Partindo dessas premissas, este trabalho pretende expor o conceito kierkegaardiano de fé a partir de sua obra pseudônima Temor e Tremor, de 1843, procurando, deste modo, evidenciar seu caráter existencial em consonância com uma preocupação central do pensamento kierkegaardiano, a qual o filósofo reivindica como um aspecto propriamente cristão, a saber, a interioridade. Essa reflexão também quer, com isso, trazer contribuições para se pensar um conceito de religião. Palavras-chave: existência, fé, interioridade. O ANTROPOTEÍSMO DE FEUERBACH EM 'A ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO' Vítor Rodovalho Amaral (FIL – UnB) Resumo: A tese central de Feuerbach, da qual depende toda a “A essência docristianismo”, consiste na afirmação de que Deus nada é além da projeção dos atributos essenciais da natureza humana, isto é, um antropomorfismo que não tem consciência de sê-lo. A posição de Feuerbach poderia ser classificada como antropoteísta, a saber, a crença de que homem e Deus não possuem existências separadas, sendo Deus apenas uma objetificação inconsciente da própria essência humana, que é então tomada como se fosse uma essência distinta e independente. Feuerbach ancora a sua teoria da projeção na capacidade que o homem possui de relacionar-se com a sua essência como se ela estivesse fora dele, ou seja, como se ela fosse um outro, um tu. Disso decorre que o homem, através da religião, acaba por projetar ou objetificar a sua essência, e alienar-se dela pela ilusão de que essa essência estaria fora do homem em Deus, e portanto transcendendo-o. Assim, de modo geral, o objetivo central de Feuerbach na “Essência do Cristianismo” é esvaziar a religião de todos seus aspectos sobre-humanos e transcendentes, e explicá-la unicamente através da antropologia, de tal maneira que para Feuerbach o homem se torna o princípio, o centro e o fim da religião. Nesta comunicação pretendemos apresentar ao ouvinte os principais

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elementos da crítica feuerbachiana contidos em “A Essência do Cristianismo”, os quais se inserem sem dúvida, nos desdobramentos possíveis da Reforma Protestante. Palavras–chave: Antropoteísmo, Feuerbach, projeção.

Dia 8 de maio Sala Reuniões ADUnB 14h-15h45 Mesa: Capitalismo RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO: UMA CRÍTICA À DEMOCRACIA COM JACQUES RANCIÈRE E ELLEN WOOD Michelly Alves Teixeira (FIL – UnB) Resumo: Com os filósofos Jacques Rancière e Ellen Wood, mostraremos que existe uma contradição no discurso democrático dentro do contexto capitalista. Uma vez que o conceito de democracia é o “poder do povo” e o “governo pelo povo”, quando posto dentro do sistema capitalista, esse poder perde esse caráter. Para Rancière, o ódio à democracia, conceito que ele trabalha em um livro do mesmo nome, tem um significado único: a democracia é pertencente ao povo, mas a participação do povo é um incômodo, na medida em que não há inclusão social entre uma classe, nos termos do autor, submissa e outra soberana. Já para Ellen Wood, o capitalismo é, em sua essência, incompatível com a democracia, visto que o conceito de democracia moderna (cujos capítulos decisivos a autora situa na Revolução Gloriosa inglesa de 1688 e na Revolução Americana que resultou na independência dos EUA) é a reversão do governo de classe e da noção de democracia como poder popular. No primeiro momento, a comunicação apresenta uma crítica à democracia segundo Rancière, como um governo destinado aos interesses da classe burguesa. No segundo momento, na companhia de Wood, apresenta as implicações do sistema democrático que visa estabelecer um padrão de pensamento e deslegitima a noção de igualdade de voz como critério de inclusão social e na política. Palavras-chave: capitalismo, democracia, povo

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CAPITALISMO E RELIGIÃO: MICHEL LÖWY E UM DOS MOMENTOS BENJAMINIANOS DE UMA LEITURA ALTERNATIVA SOBRE CONSCIÊNCIA E SOCIABILIDADE CONTEMPORÂNEA Iasmin Leiros Sarmento da Silva (FIL – UnB) Maria Clara Rodrigues Rocha (FIL – UnB) Resumo: A comunicação expõe uma análise do filósofo brasileiro Michael Löwy sobre como, após Marx e Engels, a concepção sobre luta de classes precisou ser ampliada, pois haveria uma necessidade, posta aos pensadores no século XX, de alcançar os sujeitos sociais subsumidos, ou seja, postos sob o domínio do capital, tendo-se por base a sua própria realidade particular. Para alguns desses autores, o marxismo e a teologia da libertação colocaram-se como uma das vias para tecer esse diálogo. Para tanto, caminhos alternativos à militância política mais tradicional foram buscados. Dentre esses caminhos alternativos, destacam-se o que se vale das ideias de Bloch visando uma conciliação entre cristianismo e uma práxis e teoria revolucionárias. A meta desses esforços assumida como tarefa política era o despertar de uma consciência das massas acerca de sua situação e possibilidades de emancipação política e social. Com base nesse horizonte, a comunicação reconstitui o argumento de Benjamin que estabelece nexos entre capitalismo e religião, valendo-nos também da reconstituição apresentada pelo nosso filósofo brasileiro, visando mostrar como ele critica a religião apontando sua captura pela lógica capitalista quando é estruturada a partir do Calvinismo. Para tanto, e esse é o tema central de nossa apresentação, é necessário mostrar o solo weberiano assumido por Benjamin quando ele trata da origem do capitalismo, a fim de sustentar a sua tese do Capitalismo como Religião. Palavras-Chave: Benjamin, capitalismo, Michel Löwy, marxismo, religião. A IDEIA DE PROFISSÃO COMO VOCAÇÃO NO PROTESTANTISMO ASCÉTICO EM MAX WEBER Danillo César Resumo: Diante da constatação de um maior desenvolvimento capitalista nos países de confissão protestante, adjunto com a maior proporção de protestantes entre os proprietários de capital, Max Weber articula em seu texto A Ética Protestante e o “Espírito do Capitalismo” os elementos ou “afinidades eletivas”, que constituem aquilo que relaciona esse modo de produção à confissão religiosa supracitada. Como uma doutrina caracterizada pelo domínio eclesiástico pôde reunir os maiores articuladores do sistema capitalista da época? Essa é a pergunta que o texto pretende discutir. Necessário pois, circunscrever que tipo de capitalismo Weber refere-se, singularizandoo em seu elemento mais característico, a saber, a racionalização. Dessa forma, estabelecendo como que, da moral ascética do protestantismo, derivou uma ética para o trabalho, tão favorável ao capitalismo apresentado pelo pensador. O capitalismo, dessa

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forma, é constituído não apenas material e economicamente, mas também possuindo um “espírito”: uma atividade, que a princípio, poderia parecer puramente mundana é fundamentada e impulsionada por uma função religiosa. Disso, segue-se o conceito de ascese intramundana, quer dizer, uma moral de renúncia da vida que produziu uma ética do trabalho entranhada no mundo. Weber preocupa-se com a peculiaridade espiritual inculcada pela educação do protestantismo, pois que a confissão reformada parece, segundo ele, que favoreceu francamente o desenvolvimento do espírito capitalista. Trata-se pois, neste artigo, de demonstrar, consoante Weber, de que forma a ideia de profissão como dever foi derivada do protestantismo ascético. Palavras-chave: Protestantismo, Ascetismo, Capitalismo

Auditório APOSFUB 14h-15h45 Mesa: Schopenhauer, Derrida, Foucault LUTERO, DERRIDA E A DESCONSTRUÇÃO Fábio Borges do Rosario (PPFEN – CEFET-RJ) Resumo: Investigo neste trabalho as contribuições de Lutero para a espiritualidade e a sociedade contemporâneas, buscando no conceito de perdão, enunciado pelo reformador, a pista para entender a importância de seu pensamento na atualidade. Examino em qual sentido é emergente escutar Lutero, o esposo de Katharina Von Bora, num momento que vivencia-se nas sociedades ditas ocidentalizadas a consolidação da democracia liberal e a extensão de direitos a todas as singularidades humanas independentemente da cor, étnica, nacionalidade, gênero, expressão sexual, expressão religiosa, expressão política. Nesta trajetória encontro o pensamento de Jacques Derrida que afirmara em várias obras ser Lutero um desconstrutor da Igreja; verifico em que condições a assertiva pode ser compreendida; esclareço o conceito de desconstrução, rastro, herança, fidelidade e responsabilidade na transmissão da herança recebida, perdão incondicional. Mostro que a influência de Lutero na filosofia é reconhecida pelo filósofo francês quando analisou as obras de Hegel, Heidegger, etc., e nos momento que se dedicou a análise da atuação política de Tutu e Mandela. Assim como, busco uma possibilidade de leitura do legado de Lutero com e a partir de Derrida, cujo objetivo é entender que na escrita do reformador protestante a desconstrução aparece, o impossível chega e prenuncia que o perdão somente é efetivo quando incondicional e que o perdão incondicional é do campo do por-vir, o im-possível que chega. Palavras-chave: Derrida, Desconstrução, Lutero

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A FILOSOFIA CONTRA O CONSENSO FILOSÓFICO: SCHOPENHAUER, HEINEMANN E FEYERABEND ENFRENTAM O DISCURSO ÚNICO Michael Peterson Olano Morgantti Pedroso (Mestre em Filosofia pelo PPGFIL – UnB) Resumo: Sob um olhar retrospectivo, o movimento da Reforma Protestante, liderado por Martinho Lutero, foi um grito de protesto da cristandade contra os rumos adotados pela institucionalização do cristianismo. O caminho para Deus estava posto e pavimentado pela Igreja Católica e seus ritos, liturgias e leituras eram os únicos válidos para sacerdotes e fiéis atingirem a salvação. A busca pelo divino sempre foi um objetivo comum dos cristãos, mas com a Reforma, o método para tal foi posto em cheque. Analogamente, a busca pela certeza, por um conhecimento seguro, salvo exceções pontuais, tem pautado a filosofia desde os gregos e segue em vigor nos livros e debates filosóficos, ainda que assuma diferentes formas. Ocorre que também a filosofia teve seus Luteros e também ela refutou o discurso homogêneo como o único válido para suas investigações. A historicamente consagrada ênfase na diferenciação clara entre verdade e falsidade, tributária direta da dicotomia clássica logos-doxa, tem longa tradição e também defende uma ortodoxia metodológica. O presente trabalho identifica como críticos da metodologia única os filósofos Arthur Schopenhauer, Fritz Heinemann e Paul Feyerabend e tenta delinear suas contribuições para o debate contra a hegemonia de qualquer metodologia na filosofia. Palavras-chave: método, metodologia, consenso. COMO (NÃO) SER GOVERNADO: FOUCAULT E A REFORMA PROTESTANTE Jefferson Martins Cassiano (Mestre em Filosofia pelo PPGFIL – UnB) Resumo: O pensamento do filósofo Michel Foucault traz poucas referências sobre Reforma Protestante, porém isto não significa que o autor seja negligente a esteacontecimento decisivo da história do Ocidente. Foucault se refere a Reforma Protestante de modo pontual em seu pensamento, atribuindo-lhe uma importância fundamental para a formação das práticas de governo na Modernidade. Na concepção do autor, o protesto reformista iniciado por Lutero em 1517 não se limita a um conflito doutrinal, uma vez que se desenvolve em uma resistência contra a Igreja Católica acerca do que denomina de poder pastoral. Em dois momentos próximos, encontram-se as reflexões de Foucault sobre a Reforma Protestante apresentadas de maneira mais nítida. Trata-se das aulas de 15 de fevereiro e 08 de março de 1978, ministradas no Collège de France sob o título de curso Segurança,

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território, população (2008); e da conferência Qu'est-ce que la critique? [Critique et Aufklärung] (1990) proferida na Société Française de Philosophie em 27 de maio de 1978. Em ambas as ocasiões, Foucault destaca a importância da Reforma Protestante a partir da reflexão de uma questão pontual: como (não) ser governado. A tese de Foucault é de que as formas de racionalidade de poder atuante na Razão de Estado moderna provêm de uma apropriação, do desenvolvimento e da transformação das práticas de poder pastoral, integrando sob uma forma jurídica as técnicas individualizantes do governo das almas. Nesse sentido, o problema identificado por Foucault diz respeito à questão do governo de si e das práticas de conduta e contraconduta política. A Reforma Protestante inaugura a era dos governos, isto é, para o autor há uma explosão de técnicas sobre as formas de condutas em diversas práticas entre os séculos XVI-XVIII. O objetivo desse texto está orientado para os apontamentos destacados por Foucault para justificar sua tese. A hipótese a ser examinada considera que Foucault se serve da Reforma Protestante como referência histórica de fundamental importância para analisar de que maneira na Modernidade se desenvolve a relação entre artes de governar (como ser governado) e práticas políticas de conduta de si (como não ser de tal modo governado). Palavras-chave: Artes de governar, Conduta, Poder pastoral, Reforma Protestante.

Sala de Reunião ADUnB 16h 17h45 Mesa: Matemática, ciência, filosofia moderna, Wittgenstein LIMITES MATEMÁTICOS E GRANDEZAS INTENSIVAS NA ANALÍTICA DOS PRINCÍPIOS DA CRP João Renato Amorim Feitosa (PPGFIL – UnB) Resumo: O cálculo diferencial ou infinitesimal é o ramo da matemática que se preocupa com a variação e o movimento. Sabe-se que seu desenvolvimento teria se dado de maneira independente pelos trabalhos de Sir. Isaac Newton e Gottfried Wilhelm Leibniz no século XVII, tendo sido a notação de Leibniz aceita quase que universalmente (Ver: THOMAS, George Brinton - Cálculo- 1965). Tal técnica matemática permitiu uma série de avanços na ciência da época, com influências que se arrastam até os dias de hoje. Immanuel Kant desenvolveu boa parte de sua filosofia como uma tentativa de responder a problemas herdados pela tradição filosófica, sendo a metafísica LeibnizWolffiana e a física newtoniana duas correntes do pensamento anterior as quais Kant esteve muito atento ao elaborar a sua própria filosofia. Na Crítica da Razão Pura Kant pretende, entre outros objetivos, fornecer a base transcendental de justificação da validade objetiva de conhecimentos como a geometria e a física. Fazendo inicialmente uma

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dedução transcendental dos conceitos de espaço e tempo, Kant mostra que só quando pensados como intuições puras podem esses conceitos justificar a geometria pura e os axiomas gerais do movimento e da simultaneidade para posteriormente, e de maneira mais completa, fornecer uma explicação mais abrangente de como a faculdade de julgar se vale de alguns princípios no seu conhecimento a priori de objetos, na matemática e na dinâmica. O presente artigo tem por objetivo expor de maneira não exaustiva a noção intuitiva de limite no cálculo diferencial e mostrar a título de hipótese interpretativa que Kant pretendeu ter fornecido a base transcendental de justificação desse tipo de conhecimento na Analítica dos Princípios. Palavras-chave: limites, axiomas, antecipações, analogias, postulados. O ARGUMENTO DA INDISPENSABILIDADE A FAVOR DO REALISMO MATEMÁTICO Daniela Moura Soares (Professora substituta do IFMG) Resumo: A visão platonista da matemática — ou realismo matemático — consiste na conjunção das seguintes quatro teses: (a) há objetos matemáticos, (b) tais objetos são abstratos, (c) tais objetos existem necessariamente e independentemente de quaisquer agentes cognitivos capazes de os conceber e (d) as verdades da matemática são acerca destes objetos. Nesta comunicação, apresentaremos um argumento bastante promissor a favor da ideia de que temos de aceitar o realismo matemático, seja numa forma de platonismo de objetos, seja numa forma de platonismo de estruturas. Tal argumento corresponde àquilo a que chamamos argumento da indispensabilidade. A motivação de base para este tipo de argumento é essencialmente uma motivação naturalista, na medida em que procura justificar a existência de verdades matemáticas recorrendo ao papel central que a matemática tem em ciências empíricas como a física e a biologia, por exemplo. O objetivo central será o de mostrar que a maior parte das tentativas de resistir a este argumento — e estas tentativas são desenvolvidas majoritariamente por aqueles que acreditam que podemos fornecer uma explicação nominalista para a imensa aplicabilidade da matemática dentro das ciências empíricas — enfrentam sérias dificuldades. A formulação do argumento da indispensabilidade — originalmente formulado por Quine (1960) e mais recentemente por Colyvan (2001) — constitui o maior obstáculo para os defensores do nominalismo matemático. A ideia central deste argumento é a de que não fosse pela existência de verdades matemáticas, a enorme aplicabilidade que a matemática tem dentro das ciências empíricas não poderia ser explicada. A formulação deste argumento tem lançado as diretrizes de como ser nominalista em filosofia da matemática. O modo como se responde a tal argumento dependerá da aceitação ou rejeição da tese de que a matemática é indispensavelmente aplicável às ciências empíricas. A grande cisão entre as versões de nominalismo atualmente existentes baseia-se precisamente neste aspecto; àquelas formas de nominalismo que se recusam a aceitar a existência de aplicações indispensáveis da

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matemática nas ciências empíricas chamamos nominalismo do caminho árduo (hard-road nominalism), visto que os defensores desta alternativa — Field (1980), por exemplo — procuram desempenhar a tarefa árdua de mostrar que o uso da matemática nas teorias científicas mais fundamentais é perfeitamente dispensável, constituindo apenas um dispositivo de abreviação para muitos dos elementos constituintes destas teorias. Por outro lado, os nominalistas que aceitam a tese de que a matemática é indispensável à formulação das nossas melhores teorias científicas são denominados como defensores de um nominalismo do caminho fácil (easy-road nominalism), pois o desafio de explicar como podemos encarar a matemática como ontologicamente não comprometedora sem recusar a sua aplicação indispensável dentro das ciências empíricas parece algo menos controverso e mais facilmente alcançável. São vários os defensores desta alternativa, muitos deles sendo também defensores de alguma forma de ficcionalismo — Leng (2005, 2012), Balaguer (1996, 1998, 2009) e Bueno (2008, 2009), por exemplo. Tentar-se-á defender a tese segundo a qual nenhuma destas formas de nominalismo é plausível. Palavras-chave: ficcionalismo, indispensabilidade, nominalismo, platonismo SEMELHANÇAS ENTRE AS ANÁLISES DA CAUSALIDADE DE DAVID HUME E NICOLAS MALEBRANCHE Evandro da Rocha Gomes (PPGFIL – UnB) Resumo: A crítica à causalidade mais importante e influente da história da filosofia moderna é a de David Hume. Sua crítica se deve à própria discussão que ocorria em seu tempo. Ele não foi o primeiro a tratar da causalidade, de modo que com certeza foi influenciado por um de seus predecessores. Dentre eles, um filósofo se destaca: Nicolas Malebranche. Por que ele se destaca entre os demais? Porque, antes de Hume, ninguém deu mais profunda e sistemática atenção ao problema da causalidade do que Malebranche. Sua importância na história da filosofia se deve principalmente à sua análise da causalidade e à doutrina pela qual ele tentou responder as questões sobre o tema levantas em sua época, a teoria das causas ocasionais, ou ocasionalismo. Foi apenas com Malebranche que o ocasionalismo se tornou um sistema totalmente desenvolvido incorporando uma análise sofisticada da causalidade, uma teologia filosófica detalhada e uma solução positiva aos vários problemas metafísicos, físicos e teológicos acerca da causalidade natural. Hume frequentemente revela sua familiaridade com as ideias de Malebranche, e ele claramente se beneficiou com a leitura do trabalho do cartesiano. Não há lugar onde isso fique mais aparente do que na questão da causalidade. Sendo assim, pretende-se comparar as análises da causalidade dos autores no intuito de apontar semelhanças entre elas. Mais precisamente, tem-se como objetivo analisar que aspectos da análise da causalidade presente na obra de Malebranche, De la recherche de la vérité, assemelha-se aos aspectos presentes na análise de Hume presente nas obras An Enquiry Concerning Human Understanding e A Treatise of Human Nature. Por exemplo, ambos os

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autores enfatizam a centralidade da ideia de conexão necessária para nosso entendimento da causalidade, dois dos três argumentos utilizados por Hume contra a noção de que a vontade é uma causa também são apresentados por Malebranche e ambos os filósofos apontam que, no que diz respeito à ideia de causalidade, a experiência revela apenas sequencias de eventos, não exibe relações necessárias entre eles. Destacase, é claro, que nem todos os aspectos da análise da causalidade de Hume estão presentes na obra de Malebranche. Entretanto, pretende-se mostrar que a análise do filósofo escocês possui resquícios da análise do filósofo francês. Palavras-chave: causalidade, Hume, Malebranche, ocasionalismo A SIMBOLOGIA MAÇÔNICA COMO FORMA DE ESTUDO DOS JOGOS DE LINGUAGEM DE WITTGENSTEIN Ester Suane Lima Monteiro (IFAP) Ricardo Soares Nogueira (Professor de Filosofia do IFAP, Campus Macapá e Líder do Grupo de Pesquisa em Religiosidades Aplicadas às Humanidades) Resumo: A maçonaria como instituição secular utiliza-se de símbolos presentes nas artes e culturas tanto ocidentais quanto orientais para transmitir seus ensinamentos. Para os indivíduos que desconhecem o objetivo social da referida instituição, os preconceitos e estereótipos são inevitáveis. Contudo, a maçonaria tem contribuído para o avanço do conhecimento das sociedades ocidentais ao longo dos séculos e sua linguagem simbólica tem sido retirada do cotidiano axiológico destes mesmos povos. Assim, esta atividade de Pesquisa Aplicada visa acentuar as relações entre símbolos, arte e cultura partindo-se da instituição maçônica para análise filosófica da linguagem em Wittgenstein proporcionando uma interpretação crítica do fenômeno para contribuir com o discernimento das ideias no âmbito da divulgação filosófico-religiosa. Das artes até a cultura a simbologia é um espelho das maneiras linguísticas dos indivíduos se expressarem e a maçonaria enquadram-se em uma instituição que também lançou mão do recurso linguístico-religioso para transmitir seus axiomas, princípios, regras até alcançar sua teleologia. A maçonaria é toda simbólica no mundo hodierno e através do recurso linguístico disponível na própria instituição busca-se compreender como a arte está a serviço do conhecimento. Toda problematização aqui apresentada pretende dar uma conceituação para além do nominalismo, abrangendo a linguagem dos símbolos como transmissora de conhecimentos dedutivos e não dedutivos presentes no mundo da vida, onde a maçonaria não foge à lógica wittgensteiniana uma vez que este colabora com suas proposições assertivas sobre as coisas que podem ser falsas ou verdadeiras levando a uma linguagem um passo a mais, a uma linguagem lógica. A maçonaria ordena símbolos e imagens estilizadas de objetos estruturados para criar uma forma de linguagem escrita e decifrável cheia de conotações de aprendizagem de sua doutrina, algo já afirmado por Wittgeinstein como estrutura lógica. Como uma caixa de ferramentas, é assim que Wittgeinstein vê a linguagem como um jogo. Seu fim está na

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aplicação, na serventia a ela atribuída, ou seja, não basta ter a palavra, o signo, é preciso saber utilizá-la, reconhecendo suas contribuições e seus limites. Sendo a maçonaria uma instituição social, é aqui que aparece sua relação com os jogos linguísticos, pois para Wittgeinstein, os jogos de linguagem só adquirem significado a partir de seu uso social nos diferentes modos de ser e viver a fala. Eis a questão, fala como transcendência, maçonaria como instituição que busca a transcendência e linguagem religiosa como pano de fundo ao conjunto epistemológico proposto. Palavras-chave: Comunicação, Crença, Razão, Sincretismo

Dia 9 de maio Auditório da ADUnB 8h30 -10h15 Mesa: Hegel e o hegelianismo SIMBOLISMO, SIGNIFICACIONISMO: A NECESSIDADE CÉTICA COMO PRINCÍPIO DO SABER NA FILOSOFIA DE HEGEL Luiz Filipe da Silva Oliveira (PPGFIL – UFJF) Resumo: Na seção Consciência da Fenomenologia do Espírito parece que em seu verdadeiro sentido Hegel mostra que a consciência jamais expressa verdadeiramente aquilo que é por ela visado, e no processo de experiências jamais se encontraria uma correspondência entre significação e designação. Isto nos remete a uma problemática específica sobre a constante presença do símbolo e do signo no interior das experiências da consciência, enquanto representações que os sujeitos fazem do objeto. No seus Cursos de Estética Hegel introduz a noção de símbolo como aquilo que do objeto apreendido utilizaria apenas uma, dentre a multiplicidade de determinações independentes daquela designada, fazendo desta o significante da relação. A partir disto, consciência motivada por símbolos toma tal significante como o essencial do objeto. Esta definição nos levará a perceber que na Fenomenologia do Espírito enquanto na figura da certeza sensível há um simbolismo sem o saber de propriedades, na figura da percepção seu saber reconhece a multiplicidade de propriedades, mas não consegue apreendê-las coexistindo no objeto. Se no simbolismo há eleição de determinidades do objeto como representação do objeto mesmo, no significacionismo, ou seja, no saber baseado em signos, a eleição será de uma representação completamente contingente e arbitrária ao objeto mesmo. Na Fenomenologia do Espírito caráter arbitrário do signo, no interior da seção da Consciência, nos remete a problemática perpassada pela experiência da figura do Entendimento quando esta consciência faz postula um Interior além de si, puramente incognoscível, e o fenômeno como um ser não sendo, ou melhor, uma simples aparência de ser. Diante

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destas duas condições do conhecimento e a experiência trágica mostrada na Fenomenologia do Espírito pela consciência que as aporta, percebemos que não será por nenhum dos dois saberes que a consciência chegará ao saber mesmo, mas antes será necessário à consciência a incorporação dos elementos céticos ao próprio sistema do conhecimento. Em seu artigo Sobre a relação do ceticismo com a filosofia Hegel vai fazer um elogio ao saber do cético antigo que pondo em dúvida a validade do saber sensível voltava-se contra os dogmáticos ao mesmo tempo em que não se punha a negar por completo a possibilidade de se chegar a verdade, ou seja, são então voltados contra o dogmatismo do saber sensível da consciência comum. Assim nos parece convincente dizer que carecerá à consciência que preza pelo saber sensível, exposta no simbolismo, o momento de negatividade trazido pelo ceticismo antigo, ao mesmo tempo que falta à consciência movida por signos enxergar essa negação do sensível não como contraposta a razão e aferrando-se em categorias como Força tal qual a figura do Entendimento faz. É nossa intenção nesta exposição investigar se é possível, e, se sim, como o ceticismo é articulado enquanto momento ímpar para a realocação do saber da consciência e assim para o desdobrar da Razão dando as condições de possibilidade para uma contradição posta enquanto negação determinada, isto é, abandonando a negação simples, e dando as condições para a superação da unilateralidade do saber. Palavras-chave: Simbolismo, Significacionismo, Ceticismo, Consciência, Hegel. ESCATOLOGIA NA FILOSOFIA DA HISTÓRIA DE HEGEL SEGUNDO KARL LÖWITH Luciano Braz Neri (PPGFIL – UnB) Resumo: Muitos leitores de Hegel, ao falarem sobre a percepção hegeliana da História, não se focam tanto com o fato do protestantismo luterano ter sido o pilar central que guiou a sua Filosofia da História. Löwith, em contrapartida, já demonstra o contrário. Em sua obra De Hegel a Nietzsche, o autor apresentou que a filosofia hegeliana tem como “base histórica a religião cristã” (LÖWITH, 2014, p. 31). Ao passar pelas páginas do De Hegel a Nietzsche e O Sentido da História, fica nítido tal pensamento. Ao que Löwith indica, Hegel esforçou-se em unir o pensamento cristão com a filosofia, criando um pensamento escatológico como produto dessa junção. Para o autor, o Cristianismo hegeliano seria o fator catalizador para alcançar a liberdade e a existência absoluta do espírito enquanto que a Europa seria o ponto mais próximo dessa liberdade sendo a Reforma Protestante a “liberação dos 'grilhões das limitações espirituais'” (LÖWITH, 2014, p. 24.), ou seja, o que possibilitou um avanço do espírito em relação ao processo anterior, em relação ao catolicismo, foi a Reforma que é a favor da liberdade da fé. Essa ligação intima de Hegel com a religião fez com que Löwith interpretasse que a ideia de progresso existente no pensamento da filosofia da história hegeliana fosse escatológica, uma vez que o espírito alcançaria o absoluto e, então, consumaria o seu fim, logo esse fim é escatológico por natureza, é um fim aos moldes cristãos ao qual Hegel foi educado.

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Entretanto, após várias interpretações geradas por outros autores, inclusive Löwith, sobre a ideia de escatologia em Hegel, fica a dúvida se essa foi realmente a intenção do autor. O objetivo da nossa proposta é demonstrarmos como as interpretações sobre uma escatologia em Hegel vem sendo construídas com bases frágeis, havendo brechas sobre o verdadeiro conceito de fim e término da História em Hegel. Palavras-chave: escatologia, filosofia da história, fim da história, espírito. REFORMA PROTESTANTE E AS AVENTURAS DO ESPÍRITO NA FILOSOFIA: NOTA SOBRE OLUGAR DAS IDEIAS DE HEGEL A MARX Prof. Dr. Gilberto Tedeia (FIL/PPGFIL – UnB) Resumo: A comunicação é parte do projeto em andamento “Democracia como técnica de gestão de conflitos: tempo, história, lutas sociais e formação da subjetividade política”. De saída, refaz o estatuto da Reforma na filosofia de Hegel, tendo por fio condutor algumas passagens de Fenomenologia do espírito, visando explicitar a atitude da razão ante a Fé religiosa no projeto filosófico hegeliano, com destaque para a oposição entre intelecção e fé, modo pelo qual a religião é uma destacada figura da consciência de si e não é tratada como um adversário condenado como o “irracional” em mera alteridade oposta à razão. É por essa via que o autor se alça para além da leitura posta pela Aufklärung, tida como maculada pela superficialidade de um projeto filosófico que mergulharia a humanidade na finitude. Passo seguinte, após apresentar algumas das dificuldades enfrentadas por Hegel nos embates contra a ortodoxia religiosa, e as tentativas de Feuerbach de repor o absoluto hegeliano em uma dimensão humana, a comunicação conclui, na companhia da décima primeira das Teses sobre Feuerbach, de Marx, com alguns contornos postos ao lugar das ideias na sua relação com o mundo: o que significa dizer que a filosofia já nos deu a conhecer o mundo e nos restaria como tarefa agora a sua transformação? Palavras-chave: dialética, Hegel, Marx, lutas sociais, Reforma. RAÍZES LUTERANAS DO PENSAMENTO HEGELIANO: UMA BREVE ANÁLISE Arthur Nadú Rangel (Mestrando em direito – UFMG) Resumo: O trabalho proposto é uma volta às raízes do pensamento hegeliano, especialmente associada ao pensamento originário e sua fundamentação do absoluto. Hegel, influenciado pelas ideias protestantes e por sua formação luterana, usou da visão clássica reformista para a formulação de sua ideia de absoluto, onde as ideias de Lutero foram amplamente utilizadas em uma formação de seu pensamento. O caminhar para o

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absoluto, a identificação do absoluto e a própria figura divina, acessível a todos sem intermédio, são fundamentais para a lógica dialética de Hegel. Desta forma Hegel não existiria sem sua fundamentação na reforma protestante e principalmente nos pensamentos luteranos. A filosofia hegeliana do caminhar para o absoluto engloba o domínio da fé e a fé dialeticamente o faz com filosofia, onde a verdade é compreendida pelo conceito. Assim a reconciliação de Hegel com a história universal seria a própria visão da Trindade colocada por Lutero. Hegel vê a Trindade como o conceito que se torna absoluto. Assim Hegel trouxe o pensamento reformista para dentro da filosofia, suprassumindo a própria ideia da reforma em um pensamento onde a filosofia encontra a teologia. Assim, a própria história encontra sentido na filosofia hegeliana, em que através do pensamento luterano, Hegel reconcilia o homem com o seu criador (Deus). A separação dos reinos em Lutero (Graça especial e Graça comum) criou para Hegel a formalização da ideia de finito, trazendo a separação do próprio homem do absoluto. Desta forma, a filosofia hegeliana ao entender a essência da reforma, tenta reconciliar o absoluto e a separação com o próprio indivíduo. Hegel analisa a separação dos reinos em busca de uma compreensão necessária e identifica o Estado moderno concebido em uma separação reformista advinda do pensamento luterano, que baseado no acesso individual das pessoas às escrituras, isola o indivíduo em sua relação com o divino e com o Estado. Deste modo, o trabalho busca demonstrar através dos textos hegelianos a sua relação com o pensamento reformista e com a compreensão do mundo moderno. Hegel usando do pensamento reformista construiu sua dialética e formulou o funcionamento do pensamento e do conhecimento. Palavras-chave: Absoluto, Dialética Hegeliana, Hegel, Reforma Protestante.

Auditório da ADUnB 10h30 -12h15 Mesa: Violência e Guerra A RELAÇÃO ENTRE LEI E VIOLÊNCIA TORNADA INVISÍVEL NO DEBATE SOBRE DIREITOS HUMANOS EM ARENDT Sally Barcelos Melo (FIL – UnB) Resumo: O artigo a seguir apresenta o estado da pesquisa em andamento PROIC/PIBIC/UnB 2016-2017, sobre o tema Violência sob o véu da justiça: sobre a relação entre lei e violência tornada invisível. A comunicação apresenta alguns dos resultados da pesquisa, a qual tem por objetivo geral a investigação de dois momentos nos quais o fenômeno da violência é relacionado com a democracia e o Estado de Direito, mediante reconstrução conceitual dos usos da violência política e de justiça a fim de especificar formas de violência tornadas invisíveis por conta da relação com a lei e

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a ordem. Trata-se de um estudo de natureza teórica, realizado por meio de pesquisa bibliográfica sobre a perspectiva histórica de conflitos sociais como guerras e repressões governamentais, retoma o impacto do declínio do Estado-nação, o fim dos direitos do homem e o totalitarismo em Hannah Arendt. A exclusão, a desigualdade social e a ruptura político-social são resultantes desses conflitos permitem algumas notas sobre a história recente do uso da violência política como chave para tratar o conceito de justiça sob o Estado de Direito e alguns de seus limites postos pela dimensão político-social das democracias contemporâneas. Palavras-Chave: violência, vontade, democracia, direito, governo. A LIBERDADE PARA ALÉM DA FORMA JURÍDICA: A SINCRONIZAÇÃO DA HISTÓRIA E OS LIMITES DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO Thiago Ferrare (PPGFIL – UnB) Resumo: Havia um sentido para que Policarpo abandonasse a profissão de relojoeiro: “os relógios deste mundo não marcam a mesma hora” (ASSIS, 1997, p. 6) O caráter abstrato da marcação do tempo é visto pelo narrador como promessa de objetividade – “a única explicação dos relógios era serem iguaizinhos” (ASSIS, 1997, p. 6) A surpresa lhe vem da percepção de que a concretude das vivências determina a experiência temporal. Não há tempo abstrato, a história não existe enquanto pura forma. A concretude das vivências subjetivas determina a compreensão do mundo social, daí a necessidade de se pensar a distância que separa a imparcialidade do tempo de relógio e a verdade das experiências concretas: “tão certo pode ser o meu relógio, como o do meu barbeiro” (ASSIS, 1997, p. 6); não são iguaizinhos. Pode ser não é relativismo. Uma estratégia de elucidação deste ponto nos vem da análise e crítica da noção de fato do pluralismo razoável. A externalidade entre diferentes concepções de bem impele a teoria política liberal à aproximação entre razoabilidade e verdade. O espaço público é delimitado por critérios constitucionais de razoabilidade para além dos quais não se caminha: juízos enfáticos de validade se perdem na indiferenciação das vivências diante da história. Se a razoabilidade é o critério suficiente para as demandas por justiça, a verdade se dilui na relatividade das concepções de bem. O ponto é: a retórica relativista do Estado democrático de direito esvazia a política. O motivo? O não conhecimento da razão pela qual Policarpo mudou de profissão: os relógios do mundo não marcam a mesma hora. Compreendida nos marcos do pluralismo razoável, a sociedade civil é um vazio de narrativas concretas. As diferentes concepções de bem se isolam em posições sociais que não se situam no tempo histórico. “Em todas as lutas, estou sempre do lado do vencedor” (ASSIS, 1997, p. 11): a histórias tem lados e o liberalismo político não leva isso a sério. Palavras-chave: crítica social, Estado democrático de direito, pluralismo razoável.

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GUERRA E JUSTIÇA: UMA DEFESA DA TEORIA DA GUERRA JUSTA Pâmela Teles Bonfim (IFILO – UFU) Resumo: A reflexão sobre a problemática da guerra, bem como, a respeito do uso de força e violência constituem uma questão central e um desafio essencial para o pensamento moral e político contemporâneo. Nesse contexto, teorias a fim de condenar (pacifismo), amoralizar (realismo político), e justificar a guerra (teoria da guerra justa) apresentam-se, pois, como os aportes para elucidar a problemática que envolve o fenômeno bélico e, sobretudo, para determinar a sua natureza moral. Diante desse quadro, no que se refere à dinâmica entre guerra e moralidade, a discussão da teoria que une as palavras guerra e justiça é, acima das outras, a que ressoa como o discurso mais problemático, uma vez que, para muitos e contra as demais teorias citadas; as palavras moralidade, guerra e justiça não participam de uma mesma ordem de discurso e, portanto, em nenhuma hipótese a guerra e as formas de violência que derivam dela são morais e justificáveis. Partindo desse conflito, o escopo do presente trabalho é justamente propor uma defesa de teoria da guerra justa e, especificamente, tentar mostrar que tal teoria não corresponde a uma banalização e enaltecimento da guerra e do uso de violência, mas sim, a critérios consistentes que almejam distinguir a guerra de um crime e de expressões de injustiça e de violência extrema. Dessa maneira, pretende-se aqui: i) apresentar uma defesa da teoria da guerra justa e seu êxito argumentativo frente aos principais argumentos das teorias absolutistas; ii) elucidar como e quando o fenômeno bélico sublima-se como uma necessidade moral e não como uma glorificação da violência e; por fim iii) expor a utilidade dos instrumentos críticos que a teoria da guerra justa oferece para avaliar a justiça e a injustiça de um conflito emergente. Palavras-chave: defesa, guerra, justiça, moralidade. DAS GUERRAS RELIGIOSAS EUROPEIAS DO SÉCULO XVI AO NOVO TEMPO DO MUNDO NO SÉCULO XX: A POLÍTICA NA ERA DA EMERGÊNCIA Henrique Mascarenhas Sertão (FIL – UnB) Resumo: Pretende-se nesta comunicação tentar entender de forma geral o contexto da política no séc. XX. Apontando para suas consequências vislumbra-se um sentido que pode ser dado a partir das Guerras Religiosas europeias do séc. XVI. Para tanto, o primeiro momento da análise ampara-se na obra de Koselleck. O autor de Crítica e Crise propõe um nexo entre tais Guerras do séc. XVI e o Iluminismo. Mas a passagem de um a outro não é direta. Mediada pelo Absolutismo como resposta à crise destas Guerras, podemos ver Hobbes, seguindo a argumentação de Koselleck, como o pensador que conseguiu dar uma resposta às Guerras. Nesta direção, o surgimento do Estado moderno como resposta às guerras civis engendra o mecanismo do soberano como príncipe absoluto, uma vez que detém o monopólio para cumprir sua missão e

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responsabilidade absoluta, isto é: restabelecer a paz. A passagem do Absolutismo ao Iluminismo será vista como uma crítica interna possível devido à brecha deixada pelo Estado Absolutista na forma política proposta por Hobbes. Nesta perspectiva, soma-se a expansão marítima europeia, no momento em que este continente se afirmava cada vez mais como sistema-mundo, isto é, se mundializa. O nexo proposto nos permite, no segundo momento da análise, interpretar as duas Guerras Mundiais como desdobramentos de uma Grande Guerra Europeia cujo fim pode ser o ano de 1989, situando o Fim da História, nos termos de Fukuyama. Metodologicamente, nesta transição para segunda parte, segue-se os desdobramentos colocados por Paulo Arantes em O Novo Tempo do Mundo. A vitória do capitalismo com o fim da URSS, além de deixar um espaço a ser preenchido com outro inimigo, proclama a paz total. Ora, os dividendos desta pax faz com que os integrados, interpretando Umberto Eco à luz de Paulo Arantes, se transformem em apocalípticos (por indistinção entre esquerda e direita) e por sua vez se integram aos apocalípticos antigos, que esperavam a revolução redentora, isto é, a velha esquerda vencida estrategicamente após 1968; e curiosamente integra estes velhos apocalípticos na medida em que ambos, ao mesmo tempo, mudam de polo sem deixarem de ser o que eram. É justamente quando a tese de Koselleck parece operar. O autor de Crítica e Crise arrisca então a dizer que a lei daquela Guerra europeia ainda está vigente. Paulo Arantes, seguindo toda essa trama para investigar “a experiência política do pensamento numa era de expectativas decrescentes”, chama a atenção para um Novo Tempo do Mundo, caracterizando por sua vez uma Era de Emergência. Palavras-chave: novo tempo do mundo, Paulo Arantes, Reinhart, Koselleck.

Auditório ADUnB 14h – 15h45 Mesa: Deleuze, Freud, corpo e mente A PROBLEMÁTICA DO CORPO NA FILOSOFIA DE DELEUZE, E SEUS PONTOS DE ENCONTRO COM AS FILOSOFIAS DE ESPINOSA E NIETZSCHE Marina Barbosa Sá (IFILO – UFU) Resumo: O presente trabalho tem como objetivo explorar a temática do corpo na filosofia deleuziana. Para atingir esse fim, temos o intuito de investigar certos conceitos presentes na filosofia de Espinosa e de Nietzsche que são de grande importância para uma a filosofia do corpo em Deleuze. Faremos uma investigação acerca do corpo e dos afectos na filosofia espinosana, na qual iremos nos basear na leitura da obra "Ética" (1675). Nos focaremos nos pensamentos deleuzeanos, juntamente com Espinosa, acerca da ideia de potência, assim como na filosofia Nietzscheana das forças.

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Pretendemos também explorar a ideia da "ética dos encontros" sugerida por Deleuze, em seus diálogos com Espinosa e Nietzsche. Além de focar nos conceitos importantes para se pensar o corpo em Deleuze, e nos pontos de encontro entre as filosofias dos três autores; temos o intuito de nos concentrar na investigação do conceito prático denominado "Corpo sem órgãos", proposto por Deleuze e Guattari, e de compreender em que medida a criação de um CsO apontaria para uma valorização ética do intensivo. Afirmamos que a filosofia de Deleuze é de grande importância para se pensar o corpo na contemporaneidade. Palavras-chave: Afectos, Corpo, Corpo sem órgãos, Potência A CONSTITUIÇÃO DA CONSCIÊNCIA MORAL (GEWISSEN) NOS TEXTOS CULTURAIS DE FREUD Manuella Mucury Teixeira (PPGFIL – UnB) Resumo: O objetivo desta pesquisa é apresentar as condições que nos permitem pensar a constituição da consciência moral (Gewissen) nos textos ditos culturais de Sigmund Freud, o que compreende expor a gênese, os diferentes sentidos, funções e a especificidade teórica desse objeto. Os textos referidos são, em ordem cronológica: Moral sexual cultural e o nervosismo moderno (1908) Totem e tabu (1912), Considerações atuais sobre guerra e morte (1915), Psicologia das massas e análise do eu (1921), O futuro de uma ilusão (1923) e, finalmente, O mal-estar na civilização (1930). Escolhemos tal conjunto de textos porque entendemos que o campo de análise da cultura – aliado ao desenvolvimento da metapsicologia – é imprescindível para o entendimento mais abrangente do conceito de consciência moral. Mais do que isso: ele é a própria condição de possibilidade de sua formulação. Além disso, um dos aspectos centrais desta pesquisa concerne à reparação do que consideramos ser um descuido comum de interpretação da literatura secundária de Freud, qual seja, considerar como sinônimas as noções de consciência moral, ideal do eu e supereu. Por isso, será preciso desenvolver a distinção entre tais termos e estabelecer, assim, o lugar próprio da consciência moral no psiquismo humano, bem como o seu papel na cultura. Palavras-chave: Consciência moral, medo social, ideal do eu, supereu, cultura. PODERÁ O EMERGENTISMO FORNECER UMA REPRESENTAÇÃO ADEQUADA DOS FENÔMENOS PSICOLÓGICOS? Eric Moura Duarte (FAFIL – UFG) Resumo: Qual é a relação entre os fenômenos psicológicos e os fenômenos corporais? Essa pergunta é uma das formulações do perene problema mente-corpo. Tratar-se-ia de uma relação (1) dual, isto é, de fenômenos psicológicos como sendo formados por

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entidades imateriais (não físicas), de natureza distinta dos corporais? Seria, antes, uma relação (2) de redutibilidade, em que os fenômenos psicológicos se reduzem a fenômenos corporais? Ou ainda, a relação entre eles seria (3) uma relação de realizabilidade, isto é, os primeiros, como os segundos, de constituição inteiramente física, mas sem se reduzirem a eles? Tais são, resumidamente falando, as três mais conhecidas formas de posição geral sobre o problema mente-corpo: respectivamente, (1) dualismo; (2) fisicalismo redutivo; e (3) emergentismo, ou fisicalismo não redutivo. O emergentismo, sendo uma forma de fisicalismo, envolveria a tese de superveniência, mas sem aceitar a ideia de redução dos fenômenos psicológicos. Trata-se de uma tentativa de manter um meio termo entre dualismo e fisicalismo redutivo, baseado na intuição de que o todo não se reduz à soma de suas partes. Os fenômenos psicológicos, ou alguns tipos deles, segundo essa perspectiva, têm partes constituintes de natureza apenas física, mas sem ser totalmente redutíveis a elas. Isso é motivado pela ideia de que o todo de um fenômeno psicológico pode exibir propriedades que suas partes não possuem. Porém, seria coerente a combinação de monismo fisicalista com não redutibilidade? Como pode um fenômeno ser inteiramente dependente de outro e, ao mesmo tempo, ser autônomo com relação a ele? O emergentismo, a partir de autores como C. L. Morgan, frequentemente sustenta essa combinação de teses por meio da ideia de que os fenômenos psicológicos exercem uma causação descendente (downward ou top-down causation) sobre os físicos. Ou seja, um fenômeno psicológico, tomado como um todo, exerceria poderes causais novos, não possuídos pelos seus microconstituintes. A ideia de causação descendente enfrenta uma objeção central, chamada de argumento da exclusão causal, defendido por Kim. Segundo esse argumento, uma vez admitido que um fenômeno psicológico é determinado fisicamente, ele não possui poderes causais para além de seus constituintes microfísicos; do contrário, haveria uma sobreposição ininteligível de causas. Com base nisso, Kim sugere que o emergentismo acaba sendo uma forma de dualismo de propriedades. Há uma controvérsia na literatura sobre a plausibilidade desse argumento que na pesquisa pretendemos investigar. Palavras-chave: Emergentismo; Fisicalismo; Problema Mente-Corpo.

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Sala de reuniões da ADUnB 14h -15h45 Mesa: Gramsci e Fichte ITINERÁRIO FILOSÓFICO DO JOVEM GRAMSCI E A QUESTÃO DA NEUTRALIDADE ATIVA E OPERANTE Miguel Ivân Mendonça Carneiro (Mestre em Filosofia pelo PPGFIL – UnB) Resumo: A comunicação aborda o itinerário filosófico do jovem Gramsci rumo à aderência ao movimento operário turinense na construção da tese neutralidade ativa e operante em oposição aos reformistas do Partido Socialista Italiano, defensores da “neutralidade absoluta”. O debate filosófico da virada do século XIX para o XX, instigado pelo neocriticismo, reacende a filosofia prática ética e política. Ao seu recorte intelectual, Gramsci ocupar-se-á em oferecer a reflexão política a partir do agir humano e sua relação com a natureza e a história, práxis efetivada mediante o engajamento. Para os revolucionários que identificam “história” enquanto “criação do próprio espírito” rumo à ruptura definitiva – a própria revolução –, cabe substituir a “neutralidade absoluta” pela “neutralidade ativa e operante”. Nessa ambientação, Antonio Gramsci encontra-se no momento de novas construções filosóficas – sejam pelas provocações positivistas comtianas, seja pelas leituras da história promovidas por Karl Marx, Antonio Labriola e Benedetto Croce. Interessa ao filósofo sardo responder à questão por ele posta no artigo de 31 de outubro de 1914 - Neutralidade activa e operante acerca da qual deva ser a função do Partido Socialista Italiano na vida italiana. A conclusão analisa como a noção de responsabilidade do agir público permite ao autor propor aos trabalhadores a superação da dominação que padecem. Palavras-chave: ação, Gramsci, neutralidade, operários. GRAMSCI – REFORMA – RENASCIMENTO Rocco Lacorte (Professor do Departamento de Filosofia – UnB) Resumo: Este artigo pretende abordar a relação entre os conceitos de Reforma e Renascimento e umas das suas implicações nos Cadernos do Cárcere. O autor deles, Antonio Gramsci, afirma explicitamente, em um dos seus apontamentos, que as observações espalhadas nos vários cadernos podem constituir a base para um ensaio, o qual poder-se-ia intitular “Reforma e Renascimento”. Um dos lados essenciais da questão é representado pelo fato que, na Itália, sempre faltou uma Reforma de caráter amplo e profundo, isto é, “um movimento popular” que introduzisse as inovações sociais e culturais “de baixo”, como aconteceu em uma fase da Reforma luterana e depois, na fase da Revolução francesa até 1815. Gramsci investiga o nexo não realizado entre comuna medieval (no qual houve uma proto-Reforma, que todavia falhou) e

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Estado moderno na Itália e, passo a passo, constrói a sua leitura – aliás, alternativa à do filosofo idealista italiano Benedetto Croce – não apenas da história italiana, mas europeia e mundial, como historia de uma “revoluçãorestauração” ou “revolução passiva”, na qual as forças que conquistaram o poder se tornam capazes tanto de absorver os impulsos ativos voltados à mudança que vem dos subalternos (tornando-os “passivos”) quanto de elaborar e difundir sua hegemonia e desta forma enraizar a sua ideologia nas massas. Este último viés é representado pelo conceito de “Renascimento”, por meio do qual Gramsci expressa a separação “entre subalternos e classes dirigentes”. Portanto, Reforma-Renascimento se torna uma dupla lógico-histórica paradigmática para poder, ao mesmo tempo, pensar a “crise de hegemonia” na Itália, na Europa e no mundo, junto aos problemas históricos colocados pela revolução passiva, “enquanto reconstituição permanente de uma situação renascimental”, quer dizer, de “crise”. Para Gramsci, necessitamos de ambos para tentar lidar com essa crise: tanto do lado “quantitativo”, “político”, o da difusão extensiva da cultura para o povo, o “senso comum” – mas para transformá-lo – (“Reforma”), quanto do “qualitativo”, “filosófico”, o do aprofundamento crítico e da elevação cultural de massa (“Renascimento”). É a partir dessa necessidade que se torna necessário e possível compreender a equivalência entre os dois. Por isso a dupla Reforma-Renascimento remete ao modo concreto no qual pensar a relação entre filosofia e política, teoria e prática, intelectuais e povo e à possibilidade de “traduzir” reciprocamente uma para a outra. Todavia, apenas mediante a concreta realização pela massa da filosofia será possível realmente compreender tal equivalência: “se é verdade que trata-se de trabalhar para a elaboração de uma elite, todavia, esse trabalho não pode ser separado do trabalho de educação das grandes massas; as duas atividades, aliás, são na verdade uma só atividade, e é precisamente isso o que torna o problema difícil [...]: trata-se, em suma, de ter uma Reforma e um Renascimento ao mesmo tempo”. Desta forma, essa dupla remete à equivalência entre teoria e prática, teorizada pela filosofia da práxis, e pensada como o resultado de um processo histórico, enquanto expressão, no nível teórico, do pensamento de novas forças sociais que querem transformar o mundo, pois não podem ficar com a igualdade “em ideia” oferecida pelos dominantes. Por isso, Reforma-Renascimento se torna o paradigma pelo qual essa nova filosofia é pensada como resultado e, ao mesmo tempo, promotora de um vasto movimento de reforma intelectual e moral laica, pela “sua dialética cultura popular – alta cultura”, que “corresponde à Reforma + Revolução francesa, universalidade + política”. IDEALISMO E PROTESTANTISMO NO DISCURSO À NAÇÃO ALEMÃ DE FICHTE Romildo Gomes Pinheiro (Professor do Departamento de Filosofia – UnB) Resumo: A conferência-comunicação tem por objetivo discutir o lugar do protestantismo na obra Discurso à Nação Alemã, particularmente o sexto discurso. Nós pretendemos discutir esta questão seguindo três eixos de investigação: 1. A relação entre

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Idealismo e Protestantismo num contexto em que a identidade coletiva alemã se põe como problema no contexto de uma reflexão sobre a nacionalidade; b. Para Fichte, Lutero “não cessa de manifestar sua jubilação e seu triunfo, celebrando a liberdade conquista pelas crianças de Deus que não deviam mais procurar a felicidade fora deles e além da tumba, mas nele mesmos, na sua consciência imediata.” P. 141. Esta questão da “consciência imediata” é fortemente decisiva na definição filosófica do sujeito na modernidade na definição da Reforma como um evento incontornável; 3. Enfim, se neste segundo eixo Fichte interroga a liberação da consciência imediata e o efeito da reforma na consciência das massas alemãs, neste terceiro ponto trata-se de ligar a reforma às “classes instruídas” e, com efeito, ao próprio nascimento da filosofia alemã. Relação entre Reforma e Nascimento da Filosofia Alemã. Comparar esta questão com Gramsci discutindo as origens do idealismo alemão a partir da reforma. Palavras-chave: Fichte, Lutero, Idealismo Alemão.

Auditório APOSFUB 14h – 15h45 Mesa: Filosofia no Brasil FILOSOFIA NO BRASIL: INTELECTUAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES Saulo Fernandes (FIL – UnB) - Fábio Zózimo (FIL – UnB) Resumo: Desde a Grécia antiga os filósofos buscam uma identidade que faça reconhecer o seu trabalho, longe de ser uma estima honrosa por parte dos integrantes da pólis, mas com a real intenção de que todos os cidadãos reconhecessem a importância deste tipo de pesquisa e reflexão; no Brasil não poderia ser diferente e é de extrema importância que tomemos consciência da nossa própria filosofia, importa assim buscar reconhecer os grandes pesquisadores que muito contribuíram para o crescimento da discussão filosófica em terras tupiniquins. É certo que a história da filosofia não está finalizada; a todo instante, novas ideias surgem e no Brasil não poderia ser diferente. A existência de intelectuais no Brasil não é algo recente, dentre as diversas mentes brasileiras é possível destacar vários autores que auxiliaram para a divulgação e popularização da filosofia. Sabemos que a contribuição filosófica está para além de seus escritos, as reflexões em que em nós é despertada, muitas vezes, abalam a nossa estabilidade mental, nos retiram de nosso conforto e nos induz à reflexão da nossa condição pessoal, social, política etc., e por muitas vezes põe em xeque as nossas convicções acerca da existência, conduzindo-nos para uma nova forma de observar o mundo e seus matizes. De certo modo, saber o que estamos produzindo nos faz enxergar – ainda que seja uma visão distante e opaca – para onde estamos nos dirigindo. Palavras–chave: Filosofia, Brasil, História

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ENSINO DE FILOSOFIA NO BRASIL: TRAJETÓRIAS EM CONSTRUÇÃO Pedro Gontijo (Professor do Departamento de Filosofia e do PPGM – UnB) Resumo: Trata-se da análise da situação do ensino de filosofia no Brasil na pósgraduação, graduação e educação básica, propondo pensar alguns desafios e possíveis perspectivas. No que se refere à pós-graduação, trata-se referenciar o crescimento da pósgraduação em Filosofia no Brasil em mais de uma década que mostra um forte crescimento, mesmo não sendo resultado de planejamento governamental. Nesse crescimento pontuar o crescimento do interesse da Pós-Graduação em Filosofia para o Ensino de Filosofia, sobretudo com as iniciativas das Especializações em Ensino de Filosofia promovidas em chamadas da CAPES/UAB e oferecidas por diferentes universidades o recém-criado Mestrado Profissional em Filosofia coordenado pela Universidade Federal do Paraná e com polos em 17 instituições de Ensino Superior em diferentes estados brasileiros. Esse mestrado começou suas primeiras turmas neste ano de 2017. Ainda na Pós-Graduação, um desafio a se destacar no que se refere a uma possível disparidade entre a presença de mulheres e de homens na pesquisa em Filosofia. Na graduação, a situação da licenciatura, destacando o papel do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID da CAPES que possui previsão de encerrar o atual edital no início de 2018 e postular a importância deste programa na formação docente e desafios advindos dos seus resultados. Quanto ao Ensino de Filosofia no Ensino Médio trata-se de analisar dois temas, sendo o primeiro destacar aspectos relacionados ao Programa Nacional do Livro Didático – PNLD que está em sua terceira edição (para o componente curricular Filosofia) e, em segundo, destacar alguns desafios a partir da reforma do Ensino Médio em curso pelo Governo Federal, sobretudo, pelas indefinições e perigos relacionados ao Ensino Médio como um todo e, especificamente, o Ensino de Filosofia. Palavras-chaves: educação básica, ensino de filosofia, graduação, pós-graduação

Auditório ADUnB 16h 17h45 Mesa: Rousseau JEAN-JACQUES ROUSSEAU E SEU VÍNCULO SUSPEITO COM A REFORMA PROTESTANTE Junio Cezar da Rocha Souza (PPGFIL – UFG) Resumo: Os anos de 1763 e 1764 são marcantes para Rousseau em vista de duas publicações suas desse período: Carta a Christophe de Beaumont e Cartas escritas da montanha, respectivamente. São escritos de reação. Ao receber severas críticas de suas

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obras Emílio e Do contrato social, ambas publicadas em 1762, Rousseau resolve responder ao Arcebispo de Paris, Christophe de Beaumont, com uma contundente correspondência. Ele o faz igualmente ao procurador geral de Genebra, Tronchin, após este publicar as Cartas escritas do campo, crítica acerba às obras Emílio e Do contrato social. Os comentários de Rousseau na primeira obra, de 1763, reagindo ao Arcebispo de Paris, têm um tom de defesa da religião pessoal do autor que fora atacada frontalmente. Rousseau trata de temas como a criação, a revelação, os milagres e o pecado original. Embora Rousseau tenha discutido mais pormenorizadamente e com encorpado rigor o tema da religião no Emílio, na Carta a Christophe de Beaumont seu objetivo é se opor aos ataques ad hominem feitos pelo Arcebispo. Contudo, as noções apresentadas por Rousseau nesse escrito de circunstância colocam em suspeita seu vínculo com a Reforma Protestante, ligação reivindicada constantemente por meio das Cartas escritas da montanha, de 1764. Os temas religiosos são discutidos nesse texto, entrelaçados por outros assuntos que compõem toda intenção de Rousseau em sua defesa. Os dois textos, ao mesmo tempo que anunciam o vínculo de Rousseau com o calvinismo de Genebra e, consequentemente, com a Reforma Protestante, colocam em suspeita tal relação pelo distanciamento que Rousseau toma de alguns princípios reformados tão caros ao movimento do século XVI. O que pretendemos apontar nessa apreciação é a natureza do vínculo de Rousseau com a Reforma Protestante, dado o distanciamento tomado por ele na discussão de certas doutrinas cardeais do movimento, que colocam o aludido comprometimento em certa suspeita. Palavras-chave: reforma, religião, Rousseau. A QUESTÃO DA LIBERDADE EM ROUSSEAU E BENJAMIN CONSTANT Joézer Carvalho de Castro (FAFIL – UFG) Resumo: Benjamin Constant escreve no contexto turbulento da Revolução Francesa, cujos revolucionários tomaram as ideias de Jean-Jacques Rousseau para fundamentar suas ações. É de Constant a famosa distinção entre a liberdade dos antigos e a liberdade dos modernos. A liberdade dos antigos é a liberdade da ação política, da participação nos assuntos públicos, uma liberdade positiva. Já a liberdade dos modernos seriam as liberdades individuais, uma liberdade negativa que dá limites ao poder político. Com um claro posicionamento em favor da liberdade dos modernos, por acreditar que não cabe mais o modelo dos antigos na modernidade, Constant tece fortes críticas ao pensamento de Rousseau, cujo pensamento identifica ao modelo de liberdade antiga. Para Constant, durante a revolução, não apenas a práxis revolucionária, mas a teoria que a subscreve é patológica. Porém, fica o questionamento de até que ponto a crítica de Benjamin Constant tem fundamento. É esta a proposta de investigação deste artigo. Para tanto, algumas perguntas nortearão o debate. Primeiro, qual a noção de liberdade no pensamento de Rousseau? Até que ponto Rousseau se identifica com os ideais de

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liberdade dos antigos, e até que ponto ele se afasta desse pensamento e até se aproxima do pensamento moderno? Acreditamos que a chave para compreender essas questões está nas noções de subjetividade e autonomia, no pensamento de Rousseau, e também, o caráter normativo do Contrato Social, e o ceticismo de Rousseau para a aplicação do mesmo. Palavras-chave: Constant, liberdade, Rousseau, subjetividade . UTILIDADE E AUTONOMIA EM ROUSSEAU Felipe Matos Lima Melo (FIL – UnB) Resumo: trataremos aqui do que parece ser um conceito fundamental no pensamento de Rousseau, o conceito de utilidade. Logo no início do livro primeiro do Contrato Social (ROUSSEAU, 1978, p. 21), o filósofo afirma que, naquela investigação, procurará não separar “justiça e utilidade”, de forma a “unir o que o direito permite ao que o interesse prescreve”. Mas qual a importância desse conceito para Rousseau? Como devemos entender utilidade? Salinas (1996, p. 18), apresentando o método do pensamento do filósofo n'O Bom Selvagem, destaca a importância da utilidade para Rousseau, colocando esse conceito como um critério de orientação do pensamento e da atividade do filósofo. Segundo ele, esse termo deve ser tomado no sentido mais geral possível, integrando um campo moral. Além disso, pelas análises de Dalbosco (2011), é possível afirmar que a própria noção de autonomia (ou liberdade) depende de uma formação prévia, na qual o conceito de utilidade é fundamental. A exposição da noção de utilidade, sua integração com a moral e sua contribuição na formação da autonomia é o objetivo deste trabalho. Através de uma análise detida do livro III do Emílio (ROUSSEAU, 2004, p. 211-283) – onde o filósofo trata diretamente da utilidade -, somado a leituras complementares, procuraremos mostrar que a utilidade – transformada para o indivíduo na pergunta para que serve isto? – é uma forma de recolocar o homem (no caso do livro, a criança) no centro das suas preocupações, reorientando-o de acordo com seu instinto de autopreservação, o amor-de-si – aspecto moral da utilidade. Além desse ser o primeiro ponto para a aquisição da autonomia, o conceito de utilidade é pré-requisito para o desenvolvimento do conceito de conveniente e bom. Através dessa progressão (útil, conveniente e bom), o conceito de utilidade, que já tinha uma raiz moral, permite o desenvolvimento de conceitos morais mais complexos, como a bondade e a justiça. Procuraremos mostrar de que forma isso acontece. Por fim, salientaremos algumas consequências desses desenvolvimentos. Dentre esses, principalmente a possibilidade de emancipação que a utilidade (segundo a definição de Rousseau) concede às atividades técnicas, seja pelo trabalho, ou pelo contato com as necessidades básicas da vida, as quais permitem o homem entrar em contato com as próprias necessidades e com a forma mais alta de liberdade. Palavras-chave: utilidade, autonomia, conveniente, Rousseau, bom.

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