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POETAS POPULARES CONCELHO DE BEJA

BEJA 1987 (1989)

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Titulo Poetas Populares do Concelho de Beja Coordenação, apoio e colaboração Concelhia DGAEE (Direcção-Geral de Apoio e Extenção Educativa) ADPCRB (Associação para a Defesa do Património Cultural da Região de Beja) Câmara Municipal de Beja / Divisão Sócio-Cultural da Câmara Municipal de Beja Coordenação da recolha Abílio Teixeira, da Concelhia da DGAEE Arranjo gráfico, paginação, trahalho em processador de texto e revisões do original J. R. Gaspar, M. P. Salgado e F. Fanhais Introdução, selecção e intr. Anexos e Estudo final (Décimas) José Rabaça Gaspar Processamento de texto e impressão do original Amstrad PCV82S6 JORAGA Penedo Gordo Beja Direitos de Autor Câmara Municipal de Beja e Coordenação Concelhia da D.G.A.E.E. Autor da Capa e arranio gráfico Antonio Carrilho Tipoprafia Associação de Municípios do Distrito de Beja Editora Câmara Municipal de Beja

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POETAS POPULARES CONCELHO DE BEJA

BEJA 1987 /1989 CONCELHIA DGAEE (DIRECÇÃO-GERAL DE APOIO E EXTENSÃO EDUCATIVA) - REJA/1987

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ÍNDICE

Introdução .......................................................................................... 7 FREGUESIA DE ALBERNOA ............................................................2I Luís Correia ...............................................................................23 Perpétua das Dores Mateus .................................................................. 27 Isabel Guerreiro .....................................................................3I Bartolomeu Arsénio ............................................................................ 35 Ana Rita da Graça .....................................................................39 BEJA - SEDE DOCONCELHO (com 4 freguesias) ..................................... .....43 Maria Guiomar Rodeia Peneque............................................................. 45 Florival Peleja .................................................................................... 55 Carlota Ramos Caixinha ...........................................................61 Ana Maria das Neves .................................................................................................................. 71 Iolanda Guerreiro ............................................................................... 77 FREGUESIA DE BERINGEL ...........................................................81 Rosa Helena Moita Rodrigues .................................................83 FREGUESIA DA CABEÇA GORDA .............................................................. 91 Alfredo Sebastião José ....................................................................... 93 PENEDO GORDO (Freguesia de Santiago Maior- Beja) ............................... 111 Joaquim Silva ................................................................................. 111 FREGUESIA DE QUINTOS .................................................................... .117 Francisco Manuel Luis ...................................................................... 119 José Mestre .................................................................................... 123 FREGUESIA DE SANTA CLARA DE LOUREDO (BOAVISTA) .......................... 129 Maria Helena Severino ..................................................................... 131 Mário da Conceição .......................................................................... 133 Jose Joaquim Inácio ......................................................................... 139 Bárbara dos Santos Madeira .............................................................. 145 José Jacinto .............................................................................. 151 FREGUESIA DE S. MATIAS .......................................................... · .... · 155 Joaquim António Piriquito Junior. ............................................... ....... 157 Joaquim António Ruaz ................................................................ 163 FREGUESIA DE SANTA VlTÓRIA ............................................................ .167 Francisco de Encarnação .................................................................. 167 CONCURSO 85 - OBRAS OBRIGADAS A UM MOTE "Que importa perder a vida” ................................................173 João Batista Cavaco (Beringel) .......................................................... 175 Alfredo Sebastião José (Cabeça Gorda) ............................................... 179 José Jacinto (Santa Clara de Louredo / Bosvista) ................................... 180 Maria Guiomar Rodeia Peneque (Beja. Freg. de Santiago Maior) .............. 181 Ana Rita da Graça (Albemoa) ............................................................. 182 ANEXOS - (Nota explicativa) ........... ........................................................183 Quadras do Cancioneiro PopularPortuguês ............................................185 Poesia "0 PRETO", recolha de M. Joaquim Delgado ................................ 187 Lista de Poetas Populares de Albemoa, recolha de A. Barros .................... 188 BREVE ESTUDO SOBRE A ORIGINALIDADE E VALOR DAS DÉCIMAS ............. 189 Índice dos Poetas por ordem alfabética ................................................... 195 ÍNDICE GERAL DOS POETAS E POEMAS ................................................... 197

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INTRODUÇÃO José Rabaça Gaspar

A poesia inspirada Tem atraente beleza; Inspirações cativames Encerras tu, Natureza.

Em tudo sinto poesia Desde o insecto à planta... Tudo me diz sinfonia E tudo me prende e encanta.

Francisco da Encarnação Santa Vitória

Manuel de Castro Cuba

Alguns POETAS POPULARES do CONCELHO DE BEJA procuram uma forma de se fazer OUVIR. Este LIVRO, portanto é para OUVIR, caro leitor. Não, não procure o disco no final, nem a cassete inccluída, porque não tem. É isso mesmo. Isto é um LIVRO que você vai OUVIR se você é do Alemejo ou está no Alentejo e/ou é capaz de se deixar penetrar pelo "halo mágico" que envolve o Alentejo e produziu e produz: estes CANTADORES do CANTE alentejano que cantam com o ventre como que sugando a vida do seio da terra, como o trigo e as flores; estes CONTADORES de HISTÓRIAS que captam da Terra e da Vida e do Espaço a sua arte de encantar; e os DEZEDORES de quadras, de décimas, de poesia, que como os outros cantarn e encantam porque as criam, encarnam e/ou DlZEM como artistas e, com os outros, são expressão da CULTURA POPULAR do ALENTEJO. Os poetas populares, como, aliás, a cultura oral e tradicional, são como a terra, ou a água, ou o sol... Ou se ignoram e desprezam, embora toda a gente saiba que existem e se conte com eles como indispensáveis à vida da comunidade; ou são objecto de investigação e análise, até de estudiosos ou investigadores sérios, mas que depois usam a sua arte, depois de convenientememe "expurgada"-"seleccionada", para promoção, exibição ou proveito pessoal. Há tentativas no sentido de fazer mudar as coisas. Os artistas populares tomam consciência do seu valor e querem ser reconhecidos e respeitados, ouvidos e vistos como tal; O Património cultural duma determinada Região não é tesouro perdido à disposição de qualquer explorador com espírito patemalista ou intenções mais ao menos colonizadoras que dão bolinhas de vidro e panos coloridos em troca do ouro e das fabulosas riquezas indígenas. Estes parecem-me ser os pontos base, para alicerçar a introdução·que me pediram. Tratase pois de uma introdução/prefácio para uma recolha de POET AS POPULARES do CONCELHO DE BEJA que foi e está a ser realizada por um grupo de professores encarregados-eempenhados na ALFABETlZAÇÃO, neste concelho, desde 1979. São analfabetos esles poetas? Pode ser analfabeto quem sabe, assim, ler a realidade e quem sabe usar com esta arte a linguagem que têm à sua disposição? O que é ser analfabeto? Mais grave. O que é então alfabetizar? Se for para matar essa cultura e essa arte, então, podemos chamar-lhe - urn crime. Com esta inlrodução, a mim, compete-me abrir pistas ou sugerir linhas de leitura que possam ajudar os interessados a tomar parte nesta festa de poesia. Não aceitei propriameme o papel de juiz. Não tinha que ser rigoroso e exigente na selecção, armado de erudição e de saber dogmático. É um mundo especial esle o da poesia popular para nos atrevermos a ser juízes implacáveis que decidem com segurança o que é bom e o que não presta. Como diz a poeta Carlota Caixinha, de Beja: "Eu não quero ser poeta / Não tenho tal pretensão. / Apenas quero exprimir / A minha imaginação". E, como diz Francisco da Encamação, de Santa Vitória, que anda agora pelos 65 anos, em poema desta antologia e o poeta Manuel de Castro da Cuba que morreu por volta de 1973 com uns 81 ou 82 anos, estes poetas populares, como, aliás, os poetas, sentem, bebem, vêem a poesia nas "inspirações cativantes" que "encerras tu, Natureza", ou para melhor dizer: em tudo, "Desde o insecto à planta / Tudo me diz sinfonia / E tudo me prende e encanta".

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É este afinal, mais ou menos, o pensamento de todos eles. Cantam como as fontes; dão cor como as flares do campo; fazem poesia para dizer o que vivem... para dizer que vivem. A CULTURA E 0 ANALFABETISMO Estamos na região do país com a mais elevada taxa de analfabetismo, e num país em que o índice de analfabetismo ronda ainda múmeros escandalosos, para um pa´ss que, na era de quinhentos, foi "cabeça da Europa" e que em finais do século XX se empenha para entrar na Comunidade Económica Europeia! (Económica?!) Que vai ser deste paás e desta região, se não souber, se não puder afirmar os seus valores e a sua cultura? Que problemas e que esta pergunta levanta? O índice de analfabetismo oficial é, de facto, indicador da falta de Cultura? Indica, de facto, falta de capacidade para saber ler a realidade e intervir decisivameme no desenvolvimento? e de o fazer de um modo correcto sem agredir o mundo-universo que nos "foi dado de empréstimo" e vamos ter de iegar aos nossos filhos? E, no meio da complexidade deste problema, quem e que afinal tem autoridade e poder para dizer o quê? O que é e o que não é Cultura? O que tem e não tem valor? Normalmeme, como e verificável pela História, é a cultura dominante, são os que detêm o poder e por conseguinte dominam a cconomia (ou vice-versa), que dominam por sua vez a Cultura. Mesmo em regimes democráticos, em que receberam o mandato de a pôr ao serviço da comunidade, são eles que têm os instrumentos de recolha, de selecção, de estudo e de divulgação. Os instrumentos e os meios... A CULTURA POPULAR / SUAS LEIS E MECANISMOS Ora apesar de tudo isto, a CULTURA POPULAR TRADICIONAL, existiu, sobreviveu, manteve-se e reproduziu-se pelas suas próprias leis até que o ritmo do progresso e a ruptura da cullura erudita a ameaçou, como se pudesse prescindir dela, como se a Cullura pudesse sobreviver, se dividida! Aparece então com os românticos o grande grito de alerta para "salvar o grande livro nacional que é o povo e as suas tradições" no dizer do genial Almeida Garrett, esse mesmo que dizia: "Romântico?! Deus me livre de o ser!" e nos legou o Romanceiro e aquela "ingénua menina dos rouxinóis" incrustada nas "Viagens da minha Terra" que do Vale de Santarém e do pinhal da Azambuja espera a hora de tomar "outra vez o bordão de romeiro, e vá peregrinando por esse Portugal fora, em busca de histórias para te contar.”... Não será Garrett a continuar a Viagem. Já o fizeram muitos e muitos outros estão a fazêlo. Citamos Teófilo Braga e José Leite de Vasconcellos para citarmos só os que nos deixaram essa milagrosa panorâmica do grande Livro Nacional que está a ser organizada pelos seus continuadores e vão desde o Dr. Orlando Ribeiro, ao Dr. M. Viegas Guerreiro, ao Dr. A. Machado Guerreiro, aos Drs. AIda e Paulo Soromenho e Drª M. A. Zaluar Nunes. Quantos, na linha destes, estão a dar conta que nos está a faltar o ar e a água, e a terra!? Muitos já deram conta, e há muito tempo, que o Desenvolvimemo não se pode fazer sem a Cultura e que o Desenvolvimento e a Cultura não podem continuar numa corrida desenfreada sem darem conta que nao se pode progredir perdendo as raízes ou destruindo as fontes! O ALENTEJO E OS SEUS VALORES CULTURAIS Situando-nos aqui e agora, no Alentejo, em vez de palavras minhas, passo a citar Manuel Joaquim Delgado in "Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo" II vol. que na introdução p. 8 diz: "É a nossa província uma das mais ricas e características por sua fonte inesgotável de materiais folclóricos". Tão rica que podem ainda ser observáveis / audíveis no seu ambiente.

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Sublinha depois, esse autor, como a poesia e o cante estão ligados à vida "que não é senão manifestação externa da própria vida, forma de expressão dos sentimentos e pensamentos do povo que a cria, reflexos da alma que sente, pensa e quer". E não é só a poesia e o cante que reflectem a alma deste povo. São os provérbios, anexins, contos, lendas, adivinhas, romances, orações... a pronúncia especial de certos vocábulos, as expressões próprias... os nomes locais, os nomes de família, as alcunhas perpetuadas já oficialmente em muitos apelidos de registo... que revelam as caraclerísticas e as maneiras de ser de um povo e nos dão as bases para sabermos como se situam na realidade, como pensam e a analisam e como podem caminhar para o dcsenvolvimento. Vale a pena citar ainda mais urn parágrafo de M. Joaquim Delgado que nos alerta para o "misterioso" processo que é o registo das manifestações da Cultura Popular-oral. O QUE É SELECCIONADO, COMO E PORQUÊ? "É possível, em dado momento, inquirir do ror de produções que o povo há criado. Criações que serão recentes, umas; outras antigas, e que pela força da tradição chegaram até nossos dias por via oral, transmitidas de pais para filhos, de avós a netos, de geração em geração no decurso dos tempos. Passado, porém, esse momento, surgem novas criações, outras se perdem, (outras "esquecidas" se recuperam) tudo isto numa evolução contínua, que não cessa, e de que não se pode precisar bem nem o começo nem o fim. Eetee poder de criação contínuo, tão ligado está à vida que, integrando-se em si próprio, outra coisa não é senão aquilo que Bergson chamaria com justificada razão "L'evolution créatrice". Parece-me que não é demais citar M. Joaquim Delgado, quando se trata de uma colectânea de Poetas Populares do Concelho de Beja, pois, a meu ver, não Ihe tem sido dada a importância a que tem jus. Não é possível medir por enquanto, o valor da obra que tem levado a cabo, em recolhas, estudos, comentários e notas que este amante das tradições do seu povo tem feito sobre esta região. Será fundamental recorrer a ele quando se quiser ter uma visão completa deste fenómeno da manutenção ou desaparecimento das manifestações da Cultura Tradicional. Porque aparecem e desaparecem estas manifestações? Quem as regista e porquê? Quais as consequências destes registos e recolhas actuais? Ever como o poeta Joaquim Silva, do Penedo Gordo, em quatro décimas, prefere dizer duas do conhecido poeta Manuel de Castro, da Cuba, que ele aprendeu de cor e reproduz com fidelidade espantosa como se estivéssemos a ouvir o próprio autor! A que leis obedece este lipo de gravação, como o de Joaquim Cabaça, da Cuba que, em 80/81, 7 anos depois da morte do saudoso poeta da Cuba, diz as suas décimas de cor como se o estivesse ainda a ouvir: "Em todo o momento a gente o gostava de ouvir, fosse de noite, fosse de dia, fosse na taberna, fosse na rua, a gente "entretia-se" com esse homem aqueles "cadinhos" que não dávamos por mal empregados". Foi através dele que nos chegou a décima cujo mote escolhemos para abrir esta introdução. Urn pouco, como isto, aconlece com Alfredo Sebastião José, da Cabeça Gorda, que, para além de inúmeros poemas seus, repele, inventa, reproduz outros do Cancioneiro Popular ou de outros poetas, sem que seja muito possível discernir onde começa a originalidade ou a criatividade... e, sem nos podermos atrever a falar de plágio porque se trata de difundir e perpetuar a poesia popular que é património comum e não costuma ter honras de publicação... Podemos dizer que se trata do fenómeno da interlextualidade e/ou da divulgação acessível e possível aos que não têm acesso aos meios de comunicação, cujos mecanismos não dominam. A ALFABETIZAÇÃO / INSTRUÇÃO ou A ALFABETlZAÇÃO / CONSCIENTlZAÇÃO Já houve alguém - um ilustre alfabetizado que tinha muito para dizer e para escrever que afirmou não se atrever a escrever e a publicar, enquanto a percentagem de anaJfabetos fosse tão grande no seu país. Para que publicar, se a grande maioria não o podia ler?!

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Introdução - José Rabaça Gaspar

Perante esta colectânea de Poetas Populares do Concelho de Beja, feita a partir de um aturado trabalho de alfabetização, podemos talvez afirmar que estamos a tocar o cerne do problema. Nao se trata de dar voz a uns quantos Poetas Populares que, "coitadinhos" não têm acesso aos meios de difusão. Nao se trata de substituir o trabalho de abnegados carolas, aventureiros ou especialistas que esforçadamente recolheram e publicaram Poetas Populares. Quem somos nós para criticar o seu meritório trabalho? Trala-se da publicação de poemas de 24 poetas de 8/9 localidades / freguesias do Concelho de Beja: Albernoa, Beja (Santiago Maior e S. João Batista), Beringel, Cabeça Gorda, (Penedo Gordo), Quintos, Santa Clara do Louredo, S. Matias, Santa Vitória. Além das freguesias da cidade, Santa Maria da Feira e Salvador, faltam aqui ainda representantes de Baleizão, Mombeja, Neves, Salvada, S. Brissos, Trigaches e Trindade. Porque citamos os que fatam? Por causa do título desta colectânea e porque os poetas ora publicados não se consideram únicos nem suficientes. Porque é preciso e urgente que cada povo / região tome consciência dos seus valores culturais, as assuma e divulgue e, a partir daí, crie incentivos para um progresso / desenvolvimento devidamenle enraizado. Estes poetas que constam desta publicação, situam-se entre os 48 e os 86 anos. Cantam-nos histórias que vêm desde a prirneira Grande Guerra. A maioria são ja reformados, como que considerados já fora da vida activa e interventora, mas que são parte integranle e válida da Comunidade como reservas da memória e da sabedoria acumuladas ao longo dos tempos. São uma amostra das Bibliotecas vivas que andam espalhadas não só pelo concelho de Beja, como por todo o Alentejo e pelo país e pelo Mundo e é imperioso que essas Bibliotecas não ardam devoradas par incêndios que cada verão destróiem milhares de hectares de florestaa, ou são destruídas par buldozeres que desastradamente pretendem abrir caminhos de inviesado progresso. ESTE LIVRO - UMA HOMENAGEM AOS POETAS QUE SOMOS Desde os primórdios da nossa língua como nação que somos um país de poetas que vão de reis a campaneses abrangendo todas as classes sociais e temos a rara felicidade de ver isto incarnado no rei-poeta-lavrador dos cantares de amigo e que sabia sermos melhores que os poetas provençais. Perante esta mostra de 24 poetas com uma centena de poemas, em que predominam as décimas (52 décimas em 107 - vide estudo final) considerada a arte maior, pelo menos para os poetas populares situados mais ao Sul do país, não sei, sinceramente, o que mais devo salientar. Primeiro evidentemenle, a arte espontaneameme encantatória a atingir muitas vezes o génio/ingénuo da performance que muilos apelidarão de palavrório sem sentido, de gente do povo que se atreve a artes que não domina, e que muitas vezes tem de interromper o discurso e meter uma qualquer palavra só porque rima para obedecer mais à caída do que ao consoante. É ver quantas insinuações estão, por vezes, escondidas nessa aparente falta de destreza, onde afinal a vida se cruza na sua inextrincável e indizível complexidade. E que dizer da arte do povo que sabe como ninguém dizer o que Ihe convém e sabe o que os outros gostam/querem ouvir, sobretudo quando se sentem deles dependentes! E são eles, na sua grande maioria, considerados anaIfabetoos! Permito-me citar aqui a título de exemplo "o gravador" de Luís Correia, de Albernoa "onde eu gravo as propagandas / sejam feitas por quem for.”... e a liberdade poética de Ana Maria Neves, de Beja, que não obedece a estruturas formais, com métricas caóticas e rimas esporádicas, mas que, por exemplo em "O Jardim de Beja" desenha magistravelmente a variedade de canteiros, de flores... com arte semelhante à do jardineiro que sabe que a beleza não pode ficar encerrada oa monotonia de formas esteriotipadas...

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Introdução - José Rabaça Gaspar

Podíamos citar exemplos de todos, como por exemplo, Guiomar Peneque, de Beja, que vai desde a história da sua vida e da sua poesia, à sua viuvez e profissão, até passar pela cidade e pelas festas populares e chegar à emigração e à reforma agrária num ímpeto desesperadamente épico. Nem sequer nos atrevemos a excluir (não somos os donos dos poetas) o único pequeno poema de Maria Helena Severino, da Boavista "Eu quero quando morrer" em que se despede da vida, não temendo a morte "pois só morrendo se pode / viver o eterno sonho". E isto aos 22 anos!... Tern-me impressionado sempre a segura autoridade dos mestres que têrn feito recolhas e afirmam ter excluído poemas, por falta de qualidade, ou por serem demasiado autobiográficos! Juízo de quem? Cedencias a quem? É alias esse o segredo de todos. Cantando a sua autobiografia, a sua vida, sabem que cantam a vida dos que os ouvem. É a arte do imortal autor / artista / actor de "o poeta e um fingidor" - finge dor - que leva os leitores / ouvintes / espectadores a ler "não as duas que ele teve / mas só a que eles não têm"... É a poesia que "Assim, nas calhas da roda/gira a entreter a razão”... Se homenagear estes poetas é importante, conhecê-Ios e dá-Ios a conhecer é com certeza obra meritória, um serviço prestado à Comunidade. Esta introdução tem de sublinhar, por isso, o trabalho desinteressado dos professores / animadores empenhados na alfabetização que, ao descobrirem o Tesouro de Poesia, leitura, escrita, análise da sociedade e da vida que anda na boca do povo-poeta, não tem descansado até o dar a conhecer. Fica por isso, aqui, em segundo lugar, a homenagem a estes POETAS, em que a cultura dita erudita não matou a capacidade de ver, de olhos e ouvidos bem abertos, esse manancial de clareza, pureza, verdade e revolta com que os olhos desses poetas populares olham o mundo e a realidade que os rodeia, e o modo como exercem esta arte cada vez mais difícil de comunicar, encantando. Neste grupo de POETAS, além dos já citados, cabe evidentemente voc, caro leitor, que, mesmo que viva na cidade e absorvido pela engrenagem trepidante da vida, ainda sente, de vez em quando, ao menos em férias, o desejo irreprimível de regressar um pouco à sua terra e às suas raízes, para que, ao regressar, Iimpo e desintoxicado, a vida tenha outro sabor e outro sentido. Aqui fica, por tudo isto, a minha homenagem a TODOS OS POETAS que podem fazer esta terra mais humana e, de mãos dadas, construir o progrcsso urgente e gratificante sem ter de eliminar minorias e destruir os poetas. A HISTÓRIA DESTA COLECTÂNEA Como foram recolhidos e escritos estes poemas é uma história que compete aos professores que nela estiveram empenhados com a coordenação do professor Abílio Teixeira. É uma história bem simples e normal - dizem eles. Será importante contá-Ia porque a sua normal simplicidade talvez contenha o segredo que nos dê a conhecer a fronteira entre o paternalismo do instruído que dá uma ajuda à qual os analfabetos ficam veneradamente gratos e obrigados e o gesto libertador do animador que, comprometendo-se, "ensina a pescar" mesmo que tenha dado o peixe pescado, uma vez. É a diferença / ténue / infinita, entre o ensino – instrução – instrumentalização – domesticação, que cria dependências e a educação - tomada de consciência - Ieitura crítica da realidade que, dando origem à expressão-palavra, vai levar o seu autor/poeta a agir e intervir na sociedade e no seu meio, transformando-o e, por vezes, subvenendo-o. A mim, que não estive directamente empenhado neste trabalho e sou oriundo doutras serras e doutros montes, mas como professor de português aqui no Alentejo, cumpre-me tão só sentir o peso e tentar medir o valor e a dimensão deste trabalho a que muitos outros terão de se seguir, neste e noutros campos da Literatura Oral Tradicional. Cumpre-me dar conta da vacuidade e hipocrisia do ensino da Língua Materna armado de Gramáticas e Literaturas, sem ter em conta, como base fundamental, indiscutivel, as bases e

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os fundamentos da Língua Materna profundamente enraizados porque bebidoscom o leite materno. Durante quanto tempo ainda será possível ouvir, no ensino oficial, alunos responderem, quando se lhes pergunta pelas modas, pelo cante, pelas décimas, contos e lendas traclicionais... "Ah isso são coisas de analfabetos incultos que não têm nada a ver com a Escola"! Permito-me lembrar aqui a história / símbolo / figura que tem servido como base de discussão em vários encontros com professores com a missão de "ensinar" a Língua Materna e até serve para "chumbar" e marginalizar. Dão-nos uma flor, uma roseira; confiam-nos uma pequena árvore silvestre para que a tornemos mais bela e produtiva. Que fazemos? Que temos feito? Que tem feito a Escola, o Ensino Orieial? Corta-a. Desenraiza-a. Metemo-la talvez num belo vaso... "Isso não se diz! Isso não vale nada! Vocês são uns burros! Aqui só se fala mal!"... e depois... tentamos colar belos ramos preciosos da nossa mais hela literatura em hastes desenraizadas e mortas! Resultado? Embutidos preciosos numa estrutra que já não existe. Às vezes pérolas autênticas em armações de plástico ou de barro mal amassado que se esboroa. Não é simples o problema. Não basta armarmo-nos em cultores ou defensores do popular, como se aí estivesse a solução mágica dos problemas. Não há soluções mágicas, sobretudo nesta época em que os desafios do desenvolvimento são urgentes e as seduções de facilidades são tremedamente ilusórias e enganadoras. Mais complexo ainda o problema, quando cada um, na sua especialidade, se dá conta dos limites e incapacidade de, sozinho, encontrar soluções válidas e eficazes. Até para a Teoria Literária, dizem os entendidos, é preciso recorrer a especialidades que vão da epistemologia, à filosofia e psicologia e às ciências sociais, para eitar só os principais campos de inter-relação. É por isso que a hislória desla recolha, não é um princípio, porque muitos desde a Tradição ao Arquivo de Beja ja desbravaram muito terreno, mas não pode ser urn fim porque há um imenso trabalho a realizar e podia tomar forma no que chamámos o INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA / DESENVOLYIMENTO (IACD) e não pode nascer por decreto dos deuses, sob pena de ser mais um agente de colonização ou decoração do que de valorização e afirmação dos nossos valores culturais. Em que consistiria afinal um IACD? Encontrar, organizar e coordenar um grupo que abranja as várias especialidades do saber humano que, num trabalho cíclico, coordenado com associações, escolas, animadores locais, organize por sua vez um trabalho sistemático, cientificamente seguro, de recolha, estudo, divulgação, recolha, estudo... para que através dos elementos coligidos se possam ler correctamente as características reais duma região e de um povo e, a apartir daí, se abram caminhos para um acertado e global descnvolvimento sem ter de parar a vida que não pára, mas devidamente enquadrado ao ritmo do progresso que a Humanidade de Hoje precisa. Material de estudo para ponto de partida? Só o lavantamento do que há publicado desde a Tradição, de Serpa, ao Arquivo de Beja com os legados de Abel Viana e das recolhas e estudos de M. Joaquim Delgado, ao Cancioneiro Alentejano de Vítor Santos e diversas Monografias como a de V. V. Ficalho, de Francisco M. Machado que guarda nos seus arquivos ainda rnuitas preciosidades, e a "Literatura Popular do Distrito de Beja" da DGEA, como tantos e tantos... outros. 0 material de base para o arranque espera só por uma correcta metodologia... É urgente este trabalho no Alentejo para não se correr o risco de um genocídio cultural. Para não ser preciso fazer cedências humilhantes a povos e culturas ditas mais dcsenvolvidas. Sem ter de obrigar "povos" e "regiões" ditas "em desenvolvimento" (quais é que não estão?) a perder a sua identidade. O importante, como já disse, é que as populações tomem consciência dos seus valores e da sua cullura, até dos seus defeitos; se exprimam e progridam, reforçando e valorizando a sua identidade. Da variedade polícroma de cada região e de cada povo, A CULTURA UNIVERSAL, em vez de um padrão único, homogeneizante, monótono, aparecerá, nesta Era do Espaço, como um mosaico de espantosa beleza. Compete à Comunidade defender estes valores. É preciso que haja pessoas que o façam.

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Há trabalhos de tal envergadura que não basta boa vontade ou mesmo só a vontade para os fazer. Não podemos viver eternamente dependentes, à espera de milagres como os do Prof. J. Leite de Vasconcellos, Giacometti, ou entre nós, como os do Prof. Abel Viana, M. J. Delgado, etc. Cabe às Autarquias, Escolas, e Autoridades por imposição e missão; e às Associações, Grupos Corais e outros por vocação, uma responsabilidade inalienável. JUÍZO DE VALOR SOBRE ESTA COLECTANEA? ALGUMAS CARACTERÍSTICAS GERAIS E TEMAS PRINCIPAlS Tentar urn juízo de valor sobre esta colectânea é arriscado, embora, como é evidente não tenha feito outra coisa. É arriscado porque, quer se queira quer não, está-se constantemente a jogar com uma ambígua escala de valores, como gostos e sensibilidades diferentes... com o popular e o erudito como se fossem opostos... com o peso maior da oralidade que uma publicação à partida não contempla e por isso se apela para a criatividade e imaginação do leitor/ouvinte... Tentarei deixar aqui no final urn resumo das características gerais e uma espécie de índice dos principais temas e deixar o juízo de valor a cada um. Tada a colectânea foi gravada em diskette num processador de textos para arquivo, possíveis emendas que os autores reclamem, para futuros estudos que se julguem oportunos... ou modificação de paginação ou outros trabalhos que a leitura em visor permite e as possibilidades da máquina facilita. DADOS GERAIS 1. A colectânea está servida com três índices: Freguesias e poetas, p. 5; poetas por ordem alfabética, p. 195; índice geral com todos os poemas, p. 197. As freguesias do concelho que não estão representadas estão indicadas atrás, p. 11. 2. Estão aqui poemas de 24 Poetas, sendo 14 Homens e 10 Mulheres. A diferença não é significativa e não é de arriscar comparações sendo nítido que os despiques e rambóias são mais dos homens e o encanto perante a Natureza e o sofrimento tem nas mulheres mais sensibilidade, embora não exclusiva. 3. Os poetas têm idades compreendidas entre os 48 e 86 anos. Na sua maioria são reformados, alguns a viver em lares da 3ª ldade. Do significado disto e da importância das "velhas amas", dos avós, dos velhos contadores de histórias, que são referidas por grande número de grandes escritores como tendo exercido influência decisiva na sua arte podemos avaliar o poder e importância destes "avós" na formação da Língua dos "netos". CARACTERISTICAS GERAIS DOS POEMAS Total de poemas podemos considerar: 107, embora alguns sejam por exemplo quadras soltaS, ou conjuntos de estrofes não subordinados ao mesmo tema. I - ESTRUTURA FORMAL Desses 107 poemas: - 52 DÉCIMAS (Mote + 4 décimas - versos de 40/44 pontos; Ver Estudo final). - 34 poemas de QUADRAS (uns constituídos por quadras soltas: 20/25 sendo a maioria do Canc. Popular; e outras subordinadas a um tema que variam entre 3/4 e 10/11 quadras). - 4 poemas são de QUINTILHAS (dois são de 8 quintilhas; "0 Preto em regalia" tem 5 quintilhas e 4 quadras (?); e um de 4 quintilhas;

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- 3 poemas são de SEXTINAS (SEXTILHAS) (poemas com 6, 6, 7 estrofes, todas de Rosa Helena de Beringel); - 2 poemas são em OITAVADAS (OITAVAS) (um de 3 outro de 2 oitavas); - 12 são poemas de construção estrófica irregular, com estrofes que vão dos dísticos, tercetos, quintilhas, sextinas, oitavas, décimas, aparecendo mesmo urn monóstico, e sétimas e nonas e, estâncias que chegarn a 14 versos. Ver especialmente os poemas de Ana Maria Neves de Beja que, em todos os poemas usa o mais variado leque de estrofes com métrica e rima irregulares, liberdade poética pouco comum em poelas populares. 2 - ASPECTOS FÓNICOS (métrica e rima) MÉTRICA - A grande maioria dos versos das Quadras como das Décimas, são, como é TRADICIONAL, "O portuguesíssimo verso de sete sílabas" – a redondilha maior. E uma característica digna de nota a ter em conta como fenómeno linguístico, a "forte maneira como se encontra arreigada a REDONDILHA MAIOR na expressão popular" que além da poesia é usada quase na maneira comum de falar, verificável em muitos provérbios, expressões e até anúncios e reclames. Citando Afonso Lopes Vieira, isto já é sublinhado pela Drª M. A. Zaluar Nunes nas notas ao Cancioneiro Popular em Portugal. Acontece que em muitas quadras, e sobreludo nas décimas, aparecem versos hipérmetros (com sílabas a mais) e alguns, menos, com falha de sílabas. Este fenómeno é de somenos importância para os poetas populares, que suprem esta falha na musicalidade, com elipses ou prolongamento da entoação à medida que as vão declamando. Os que não obedecem a esta regra geral são dois poemas de Florival Peleja que utiliza quadras com versos de dez sílabas e outro poema com versos que vão de 9 a 13 sílabas, como acontece com Alfredo Sebastião José em "O António que marchara para a Guerra". O que acontece nas quadras e décimas acontece nas quintilhas e sextinas. Das sextilhas, só "O vagabundo" de Rosa Helena, de Beringel é de Redondilha Menor (cinco sílabas). As oitavas de Maria Guiomar Peneque em "Lusíadas do Alentejo" tentam evidentemente a cadência dos versos heróicos de dez sílabas, com o acento rítmico na 6ª e 10ª, mas vai frequentemente, como e natural, até às doze sílaabas. A RIMA - Como diz o Prof. João Correia "a rima domina o poeta, o popular como o culto, obrigando-o a criar palavras, a adulterar construções, a torcer sentidos". A rima mais frequente das QUADRAS é a popular cruzada no 2º e 4º versos, com o 1º e 3º beancos: ABCB. Só cinco poetas conseguem a chamada QUADRA QUADRADA de rima ABAB em diversos poemas, e mesmo nos MOTES das décimas, só as do Aleixo e Manuel de Castro são Quadras de rima ABAB. Nas QUINTILHAS, a rima normal e ABAAB, mas notam-se falhas. Só no poema dedicado a Beringel é que Rosa Helena consegue a rima perfeita desde o princípio ao fim. Nas três SEXTILHAS, que são também de Rosa Helena, ela consegue o jogo mais melodioso que consisle em ABBAAB. Nas OITAVAS, poucas e dispersas, não vale a pena assinalar as irregularidades. Nenhuma segue a escolha de Camões dos seis primeiros versos cruzados com as dois últimos emparelhados: ABABABCC. As DÉCIMAS, como consta do Estudo final, seguem a regra geral: ABBAACCDDC, havendo só a assinalar o caso de Ana Rita da Graça, de Albernoa que nas suas duas Décimas, usa o esquema rimático ABABBCCDDC. As considerações que se poderiam fazer a partir destes dados sobre a estrutura formal e fónica, só teriarn significado a respeilo de cada poema. Duma maneira geral, verifica-se que os poetas populares se exprimem preponderantemente através de quadras e décimas e com versos de Redondilha Maior, com a cadência mais ao gosto da musicalidade da nossa língua. Apesar de tudo, apesar do perigo da monotonia que se pode tomar cansativa, há uma razoável variedade. Podemos recorrer afinal à imagem sugestiva da planície alentejana: uns raros campos ou tufos de papoilas, azedas ou margaridas, a pincelar os extensos e ondulantes campos de imensas searas.

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Os TEMAS / algumas expressões e símbolos

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Tentar abordar os temas desta centena de poemas e um atrevimento, pois precisaria de outro lempo e outro espaço. Fica entretanlo um esboço dum futuro trabalho correndo o risco de não citar os poetas todos o que poderá parecer menos correcto. Apresento desde já as desculpas antecipadas preferindo pôr em relevo algumas expressões e símbolos que deixam adivinhar a frescura com que estes poetas abordam temas como: a ALFABETIZAÇÃO, a CRÍTICA SOCIAL, a EMIGRAÇÃO, a GUERRA e a PAZ, a HISTÓRIA DE PORTUGAL, a NATUREZA, o RELATO DE CASOS INSÓLITOS e os TOPONÍMICOS, os que são EXPRESSÃO DE SENTIMENTOS LÍRICOS, os AUTOBIOGRÁFICOS, a própria POESIA... POESIA o que é? Donde, e como vem a inspiração e para que serve? "Um poema inopinado / Encerras tu Natureza". "Os meus versos a ninguém / Conseguiram convencer / Só eu é que sinto bem / O que bem não sei dizer". Nos AUTOBIOGRÁFICOS cada poeta sabe que conta: "a vida do povo cantada pelo povo", como diz Alves Redol. "Descubro a qualquer pessoa": o nome, as agruras da vida, as rambóias pelas feiras e balhos, e a vida dos pobres... "Manifesto a toda a gente / ... Porque eu sempre fui roubado / Pelo fascismo avarento / Desde o meu procedimento / Até à data presente". "... como era... como sou... como estava... como estou". A ALFABETlZAÇÃO pode resumir-se em expressões como "Eu mal aprendi a ler... / Ao meu pai ouvi dizer / Tens qu'ir ganhar p'ra comer... / Fui umas cabras guardar”... Mas para quem "É pobre e não sabe ler", aprender é um ARCHOTE, "já não sou um moribundo"... "É sair da obscuridade... / Transformar a noite em dia /... Não sou pedra que rebola"... "Não tem limite de idade / Para se valorizar /"... "Eu sou um analfabeto... / Nao sou esperto nem bruto”... A CRÍTICA SOCIAL que aparece nos autobiográficos e nos anteriores, aparece também a retratar em três, quatro pinceladas: "No tempo de Zalasar/ Nesse tempo até os mortos / Era quem ia votar / Ninguém podia piar / Reinava este organismo.../ Punha a guarda perseguindo / Os que pediam esmola... / Alguns que tinham mais vista / A pide não os deixava / O patrão „té lhe chamava /Refilão e comunista / Muitas vezes terrorista”... Mas como era dantes, agora: "Há muito dinheiro mal gasto / Em apitos e flautas / Levam ouro e trazem latas... / Todos anos um padrasto / E todos se querem encher..." ou então "Há quem queira ser senhor / Da luz divina do sol..." mas para isso o poeta diz: ".. .Já eu tenho um gravador / Onde eu gravo as propagandas / Sejam feitas por quem for". E não se critica só o governo, mas também "A voz do sino indolente... / Repicadas vibrações / Só trazem desilusões / Ao triste povo indigente... Teu hino celeslial / Aviva-lhes dor aguda / Para eles tão absurda”... Vem também a sátira à má-lingua e às faladeiras "Eu sou Perpétua de nome / E perpétua no falar..." ...e as que se dedicam à má-lingua: "Parecem umas telefonias /, ...Qualquer daquelas senhoras / Parecem umas emissoras / ...São das tais estrelas de rabo / Que do céu chegam ao chão... Todas são abelhas mestras / Para mandar no exame... "; e a denúncia dos abusos dos senhores que abusaram das criadas e enjeitaram os filhos: "Sou bisneta dum Visconde / ...Enjeitaram o menino / Sendo pessoa nobre / Como se fosse dum pobre."; e o retrato do "homem carrasco" e do "homem fera"; e o retrato cheio de força, ternura, revolta, ódio (?) da "Mulher multi facetada / Mae, madrasta / amante e ama / Esfregão panela cama..." E a Reforma Agrária pode ser retratada em 4 versos: Antes eram "Cardos, coutadas, aramados, ortigões" mas "A gente transtagana num lampejo / De liberdade e justiça, torce a fome / E lança à terra que o suor ganhou... " E pode retratar assim a opressão dum povo: "A dor, o pranto, a opressão e a mágoa / Sentidas na carne criada a pao e água / Cheirando a alhos coentros e poejos / Da açorda toda a vida repisados..."; e podemos ver ainda pessoas que passam... "pisando a fome no chão". A EMIGRAÇÃO - "Abalei como emigrante /...Vejam o que um homem pena / Para a vida melhorar..."; um outro glosa a conheeido fado de frei Hermano da Ciimara; mas convém ver a mestria com que outro poema relata: "... parti... chorei... TRISTEZA.. SAUDADE... TORMENTO... AMBIÇÃO... ILUSÃO... NOSTALGIA... SAUDADE... regressei ... de alegria chorei..." em sete sextilhas.

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A GUERRA E A PAZ - "P'ra que existe tanta guerra? //...Deve-se à louca ambição / ...Em vez de distribuir pão / Semeia apenas rancor..." "Maldita seja a guerra / Maldita, cheia de horrores / ...Lágrimas, tormentos e dores / ...Perdição de muita gente" ... ou então o comovente caso do "António que marchara para a guerra / ...Levava o seu pombimho de correio / Para saber notícias de Leanora... "; ou o caso "Estando um preto em regalia / Num país altivo e forte...” ou o retrato de "0 exército dos 'tados unidos /Chegou todo em aviões”... e "A bordo dum submarino alemão / Estava o maior obuz do mundo/ ...Fazia tremer o chão são as imagens da Grande Guerra que ficaram no nosso imaginário. A HISTÓRIA DE PORTUGAL serve aqui para três ou quatro poetas falarem por exemplo dos Reis e dos cognomes dos Reis de Portugal, das Grandes Figuras, da Pátria, dos Descobrimentos e do 25 de Abril. "Houve ilustres portugueses / Que se notabilizaram / ...O primeiro rei de Portugal / Chamou-se "conquistador"... ou aparecem-nos avisos de uma Sibila: "Nesta terra Lusitana /Eu vejo dos altos montes..."e anuncia desconexas profecias. "Pelos mares flutuou / A bandeira portuguesa..."; e vem "O vinte e cinco de Abril / Desvendando sonhos mil.." que pela voz de outro poeta da Liberdade é "Como uma flor do Prado / Que dê cheiro a toda a geme..." A NATUREZA - "Inspirações cativantes / Encerras tu, Natureza / ...Um poema inopinado" ...e então os poetas cantam o Alentejo: "És obra da natureza / Que não se pode igualar / ...As searas a bailar / ...São como o mar baloiçando..."; depois interpelam o MAR: "sedutor... inconstante... Berço gigante... assobiando... ceifando vidas... Espelho de magia..." "A onda conta segredos /Se a tentamos apanhar / Esvai-se por entre os dedos... "e nas marés "Vai outras praias beijar..." ou "Fui-me um dia a ver o mar / ...Das ondas sempre a bater/ Em contínuo, sem cessar / Eu tenho ouvido contar.../ E há quem diga que não se pode pintar o vento mas o poeta diz: "Pus-me a espreitar o vento /Seus mistérios desvendando..." e dá-nos todo urn poem a de dança e movimento para nos mostrar que "Os ramos se iam beijando / Como pares de namorados...", tudo por artes do vento. Das Estações do Ano, estes poetas falam-nos d"o Outono e muito triste... / Árvores despidas / Folhas que morrem..." e "É tão linda a Primavera / ...cor... flor... espigas douradas... O campo só tem beleza / Para quem o sabe ver...” e um paeta de etrofes e versos irregulares, enche-nos a Primavera de flores, de aves, e jovens a falar de amores... com cor, som, amor... vida; e canta-nos a variedade dos canteiros e dos cantos do jardim de Beja com a variedade das estâncias e da métrica; aparecem-nos ainda "As papoilas encarnadas / A brilhar entre os trigais..." e o Sol nascente que "Dá vida, cor, calor" e o poente "Faz nuvem de toda a cor...”; e são cantadas as "Andorinhas negras", a Seca dos últimos anos em que "A Água é o sangue da terra..." e "As plantas sem alegria...", e se cantam ainda "O pastor", "O campo", "a enxada"... Os RELATOS DE CASOS INSÓLITOS, que apareciam em folhas volantes pelas feiras, os desafios e inlerpelações para DESPIQUES OU DESGARRADAS, têm aqui alguns exemplos e vale a pena salientar os que o poeta chama de QUADRAS DE UM SÓ PÉ, em que, com duplo jogo de Décimas ele se despede dos filhos e os filhos dele; noutro, o antigo namorado desinquieta a rapariga casada e a rapariga responde... numa aproximação de teatro em verso. Poemas que exprimem SENTIMENTOS são todos ou não fosse poesia lírica. Numa rápida leitura, talvez seja importante ver como são manifestados: A DESGRAÇA, A SOLIDÃO, A AMARGURA, A PERDIÇÃO, por exemplo, num fato roto; o imaginário das crendices populares trazendo-nos o diabo bêbado a fugir de medo, o tétrico espanto do terror que põe uma caveira a falar no cemitério onde também aparece urn esquelório que toma o tétrico, quase cómico não fosse a carga de ultrarromantismo...; o espanto perante os paradoxos da vida; mas também o fatalismo e o conforrnismo; o amor, a admiração, a comtemplação perante "As mais belas coisas do Mundo / Música, Luar, Mulheres e rosas..."; a solidão, amargura, trissteza, esquecimento, ingratidao... sinais de morte perante a velhice; mas também "Não tenho medo da morte / Nem ela de mim suponho..."; 0 sonho; a saudade e a ansiedade pelo regresso; a ternura pelos filhos e pela beleza; ...a raiva, a revolla até o ódio de morte frente às injustiças acumuladas; e até a ingenuidade atrevida, aliradiça, do velho poeta perante a graça simpática da enfermeira jovem; enfim... urn vasto mar de sentimentos como as searas do Alentejo.

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TOPONÍMICOS - Os poemas que falam das tenas, ruas e lugares, são evidentemente relratos do Alentejo, de Portugal, de Festas... Vale a pena assinalar talvez algumas imagens /signos do Alentejo: "O pastor, O rebanho e o cão" ... "Ó meu povo camponês / Levas a vida cansada / Agarrado a um arado / Ou ao cabo de uma enxada"... "Fui nova cortante enxada"... "O frio... O Calor"... a já citada "Carne criada a pão e água / Cheirando a alhos coentros e poejos / Da açorda toda a vida repisada..." ..."O teu cante compassado"... "As tuas casas caiadas / Parecem pombas pousadas / À beirinha da estrada /..." ... "O castelo de sonho / Em sonhos lembrado... e ainda as festas como o "O Mastro de S. João, onde aparecem barrtes, mentrastos perfumados, cana verde e faia, ginjas, seromenhos e popias caiadas..." Desejaria saber pintar, para tentar apanhar a alma deste povo. Como não sei, tento, à maneira dos poetas populares, em duas quadras com leixa-pren (a deixa), dizer o resto que não consegui: A poesia é popular Se canta a alma durn Povo; Quem 'na souber encarnar Vai criando um Mundo Novo.

Vai criando um Mundo Novo Par'integrar no Universo A Região, este Povo Que vive p'r'Aquem do Tejo. Penedo Gordo BEJA 1987 Maio/Junho José Rabaça Gaspar

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ALBERNOA ALBERNOA

LUÍS CORREIA PERPÉTUA DAS DORES MATEUS ISABEL GUERREIRO BARTOLOMEU ARSÉNIO ANA RITA DA GRAÇA

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Luís Correia - ALBERNOA

Nome - Luís Correia Morada - Albernoa Idade - 76 anos em 1987 (nasceu em 1911) Habilitações - Aprendeu a ler e a escrever com urn colega de trabalho. Lê bastante bem. Profissão - Trabalhador Rural

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Luís Correia - ALBERNOA

Mote Descubro qualquer pessoa Sem responsabilidade Onde foi meu nascimento E a minha natumlidade. Décimas Sou natural de Mombeja Beja seu concelho e distrito Será feio, será bonito? A mim não me mete inveja Se a sorte é que nos proteja Pode haver outra mais boa Na aldeia de Albernoa E a minha residência Com a pouca inteligencia Descubro a qualquer pcssoa. Há mais de quarenta anos Mudei de freguesia Onde estava não podia Descobrir certos planos Que ainda hoje não são enganos Porque há muita falsidade Ese não há mentalidade Não se chega à perfeição Digam se é assim ou não Sem responsabilidade. Eu poderei ser atrasado Em muitas sou concerteza Mas não conto por flneza Haver quem tenha avançado Porque eu sempre fui roubado Pelo fascismo avarento Desde o seu procedimento Até à data presente Manifesto a toda a gente Onde foi meu nascimento. Amigos e camaradas Operários, camponeses Nunca esqueçam as vezes Dos serões e madrugadas Com alfaias preparadas Às ordens da autoridade Mesmo sem haver vontade Antes de romper aurora Também não fica de fora A minha naturalidade.

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Luís Correia - ALBERNOA

Mote Na minha fraca memória Já eu tenho um gravador Onde eu gravo as propagandas Sejam feitas por quem for. Décimas A primeira a ser gravada Foi a do ehefe de Estado Fez urn país libertado Com um pouco mais que nada A guerra foi terminada Isto já está na história É uma nação de glória O povo foi p'ro comando Eu estou ouvindo e gravando Na minha fraca memória. Segundo as gravaturas Ouve-se constantemente Mas cada vez é mais diferente E aparecem mais torturas Há muita falta figura Frente no interior Há quem queira ser senhor Da luz divina do sol Para gravar o control Já eu tenho urn gravador. Alerta forças armadas Eu alerta também estou Se eu poder também lá vou Prestar a minha brigada Com ordem hem terminada Vencendo várias demandas Vigilando altas brandas Igualmente outros lacais São pontos dos principais Onde eu gravo as propagandas. Quem entrou para o comando Taambém mostra a ser perfeito Ó Estado, manda com jeito Que o povo vai ajudando Todos nos auxiliando Torna-se urn país de amor Mas para mim só tem valor Palavras lindas e discretas Umas leis justas e rectas Sejam feitas por quem for.

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Luís Correia - ALBERNOA

Décimas dedicadas ao 25 de Abril de 1974 Mote A 25 do 4 Cá no nosso continente Foi uma flor disposta Que deu cheiro a toda a gente. Décimas Já antes esta flor No país era habitada Mas para não ser cultivada Não mostrava a sua cor Bendita a hora ao dispor Com a terra fez contacto Neste pais democrato Não brilhava tal planta Mas a vontade foi tanta A 25 do 4... Oh! flor da saudade Com prazer e alegria Brilha de noite e de dia Afirmando a liberdade Aldeia, vila, cidade Sorrindo alegremente Mas há quem seja diferente Com diversas condições Há falta de opiniões Cá no nosso continente. Formaram varios partidos Como estão publicando Mas vamos nós combinando Para sermos mais unidos Ninguém preste a dar ouvidos Ao termos uma proposta Há uma seita que não gosta E só pcnsa em dar o fim Mas no centro deste jardim Foi uma flor disposta. A flor já vai brilhando E a rama permanecendo Os povos vão combatendo E o cheiro contaminando Mas assim de vez em quando Dá-se um eco resistente Vamos todos para a frente Fazer urn país sagrado Com uma flor do prado Que dê cheiro a toda a gente.

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Perpétua das Dores Mateus - ALBERNOA

Nome - Perpétua das Dores Mateus Morada - Albernoa Idade - 79 anos em 1986 (nasceu em 1907) Habilitação - Reformada. Foi costureira Naturalidade - Albernoa

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Perpétua das Dores Mateus - ALBERNOA

UMA HISTÓRIA QUE ERA PARA ESCREVER UMA CARTA E DEU UNS VERSOS... Havia uma rapariguinha com 16 anos que foi servir para casa do senhor Visconde, para a torre de S. Brissos... E o que foi que ele fez? Arranjou-lhe urn menino. E no fim não sabe que fizeram? A rapariga morreu e foram enjeitar o menino, dentro de uma alcofa, na aldeia de S. Brissos. Prentaram, à tramela duma porta, o menino que era filho do senhor Visconde. Mas a feitora teve pena e ficou com o menino. A rapariguinha morreu! Bom. O certo é que foi assim, e então essa mulher, coitadinha, criou o menino. Ele uma vez tratou de vir a Albernoa, sentou-se no pial de uma porta dumas senhoras que havia aqui - umas senhoras Saramagas. Eram duas raparigas já assim idosas e um irmão. E foi o menino sentou-se ali, dizem-lhe elas assim: - Olha lá, menino! Tu não és daqui da aldeia? - Não sou, não senhora, minhas senhoras. Não sou. - Então, donde é que tu és? - Eu sou de S. Brissos. - Então vieste com a tua mãe? - Não senhora. Então, eu não tenho mãe! - Não tens mãe? Então e pai? - O meu pai é senhor Visconde da Corte. - Ah! coitadinho! EE é. Não vês que é tal equal ele! ...Coitadinho! ...Olha lá menino, queres ficar com a gente? - Ora, fico. - Olha, mando-te fazer uns sapatos... mando-te fazer um fatinho... Tu ficas com a gente... Bom. Ao fim de três dias, a mulherr que criou o menino veio, mais outra vizinha. Vieram à pergunta dele... As senhoras disseram: - Sim senhora, tá aqui .. Olha lá, menino, atão mas tu queres ir com a tua mãe? ...Ou queres ficar com a gente? ... O mocinho... Coitadinho!... Diz ela: - Minhas senhoras, se quiserem ficar com ele, eu dou-lhe de melhor vontade, que eu tenho uns poucos de filhos... - Bom!... Sim senhora. E vai, e ficou. Ficou com elas. Ali foi criadinho... Criado com elas... Mas depois houve uma rapariga que foi p'r'ali... Já se sabe! ... Rapazes e raparigas!... O que é que se deu?... Casaram... E depois, o homenzinho, tinha aí uns quarenta anos, tinha dois cabrúnculos e morreu. ...e a minha mãe morreu, tinha eu três anos... e depois coitadinha... (Deixe lá ver se eu sei o que tou dizendo. Pode falhar o prioncípio...) E depois eu fui morar para Ervide!. ... Via além as terras dele... mas o visconde nunca casou... Deixou a fortuna a uma sobrinha, e essa sobrinha era a mãe do Visconde da Boavista e da mulher do senhor Luís Vilhena, e csses é que ficaram com a fonuna desse tal Visconde. Eu fui para Ervidel... Tive lá treze anos... E apois via a fazcnda. ...E o gajo passava sempre à minha rua... e eu cosendo à costura e dizendo: Ai... Olha. Hã! Olha lá tu! Ora se eu soubesse escrever, escrevia-te uma carta. Mas nunca escrevi. Mas fiz uns versos, assim:

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Perpétua das Dores Mateus - ALBERNOA

Há oito anos que penso Na maneira de pensar Pensei assim desta forma P'ra com Vª Exª falar

E um fulano António Rocha Da aldeia d'Albernoa E pergunte o comportamento A uma qualquer pessoa

Tou avistando as suas terras Dá-me pena e prazer Eu por mim não perco nada Em me dar a conhecer

Manuel Jorge da misericórdia Saberá lhe dar notícia Ou qualquer dos seus servos Que moram na Boavista

Eu sou bisneta de um Visconde Posso-me dar por feliz Pertenço à gentc nobre Deixem lá dizer quem diz!

Trabalhou p'ró Sr. Sousa Em vida de almocreve É um homem completo Qu'ós patrões nada deve

Quando o meu avô era filho Do Sr. Visconde da Corte Mas foi infeliz ao nascer Como posso de eu ter sorte?

E eu sou de boas famílias Com‟à' verdade não tenho falta Mas quem arranja bons empregos São esses que têm lata

Enjeilaram o menino Sendo pessoa nobre Puseram-no à esmola Como se fosse dum pobre

S'houver algum dos seus servos Que na minha conversa queira desfazer Dê-Ihe logo de resposta Nem só tu queres viver

E faleceu com 40 anos Minha mãe três anos fazia Nascem pessoas no mundo P'ra viver em agonia

S'eu Dver uma boa resposta Tenho prazer e glória Que todos nós q'remos viver Nesta vida transitória

Mas quem tem padrinho (não morre moiro...) Tudo quer ser baptizado Eu fiz este requerimento Peço que venha assinado

Cumprimentos aos meninos À senhora Viscondessa Também o Sr. Visconde E deseulpe Vª Exª

Eu peço apenas trababalho Se me quiser auxiliar O meu marido é competente De qualquer lugar ocupar

Eu por fazer estes versos Não padeço de doença Foi deixa do meu avô Que é de sua descendência Dê a ler a quem tem luz Não dê a algum tigelino Qu'eu não mereço censura Perguntar ó bom caminho

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Perpétua das Dores Mateus - ALBERNOA

QUADRAS SOLTAS

Eu sou Perpétua de nome E sou perpétua no falar E sou uma portuguesa Da nação de Portugal Às vezes dou atenção Às mulheres na ribeira Parecem umas telefonias Tocando na quinta feira Por certo não têm espelho Qualquer daquelas senhoras Que na vida de qualquer Parecem umas emissoras Ali não há defeitos Nem nas filhas e nem nelas Mas difamam outras donzelas Ou mesmo casadas são Mulheres de presunção Com elas não se comparam E dão a falar em latim O mais longe de claro Quem falar duma qualquer Reparem quem elas são São das tais estrelas de rabo Que do céu chegam ao chão Em havendo algum anúncio P'ra gabar qualquer pessoa Fiquem em duas ou três Mas que isso não se soa São scmpre de má língua Fazem mais de mil conversas Todas são abelhas mestras Para mandar no enxame Quando as coisas são mentira Ao mundo nunca difame!

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Isabel Guerreiro - ALBERNOA

Nome - Isabel Guerreiro Naturalidade - Albernoa Morada - Centro da 3ª Idade de Albernoa Idade - 79 anos (em 1987) Habilitação - Não sabe ler nem escrever Profissão - Reformada

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Isabel Guerreiro - ALBERNOA

QUADRAS SOLTAS 1 Em ouro, letra chinesa Teu nome mandei gravar Com pena d'oiro assentei Firmeza para te amar 2 Se eu quisesse amar bonecos Mandava vir de Estremores Vergonha me dava a mim Se eu contigo tinha amores 3 Nao sei se te diga adeus Se te diga vou-me embora Quem se despede vai triste Quem cá fica sempre chora 4 Mandei uma carta em branco Sem nenhuma letra dentro Podia-te fazer dar Mil voltas ao pensamento 5 Calem-se aí, ó meus netos Deixem cantar a avó Que é para ver se ainda canta Como algurn dia cantou 6 Se algum dia cantei bem Hoje quero, não pode ser É como aquele que quer Fazer força sem a ter 7 A alegria abandonou-me Pcrdi todo o meu prazer Em me ver abandonada Mais valia eu morrer 8 Dizes que não pode ser Erva fina dar pragana É muito má de encontrar Amor firme em terra estranha 9 Eu já vi nascer o sol Na manhã de S. João Era vésperas de Natal Quinta-feira d'Ascensão

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Isabel Guerreiro - ALBERNOA

10 Tu dizes que me não queres Eu acho-te loda a razião Como é que tu hás-de querer Aquilo que te não dão? 11 Manuela, tu passa bem Já não ouves minha fala Hei-de fazer-te uma ausência Como o fumo quando abala 12 Ausente mas sempre firme Meu amor não faz mudança Quanto mais ausente vivo Mais te trago na lembrança. 13 A mulher comparo eu Com a folha da cevada Por fora uma saia nova Por baixo uma esfarrapada 14 Eu já não tenho alegria Sou um vaso de paixão Anda cheio de tristeza O meu pobre coração 15 Eu já não tenho alegria Vivo no mundo sem gosto Nasce o sol, torna a nascer Para mim sempre é sol posto 16 Vistam-se os campos de luto E as estrelas ponham véu Este nosso apartamento Faz chegar o luto ao céu 17 Eu queria-te bem deveras Amava-te seriamente Conheci como eras falso Recolhi-me airosamente 18 Por cima se acerta o trigo Por baixo fica o restolho Quem namora sernpre alcança Uma piscadela d'olho

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Isabel Guerreiro - ALBERNOA

19 Antes que o lume se apague Na cinza fica o calor Antes que o corarção se arranque No coração fica a dor 20 Se eu quisesse bem podia Fazer o dia maior Dava um nó na fita azul Fazia parar o sol 21 Eu lenho 40 amores Só em 4 freguesias 10 em Serpa, 10 em Moura 10 em Quintos, 10 em Pias 22 Não há ribeira sem água Nem árvore sem a verdosa Nem donzela sem amor Nem velha sem ser manhosa 23 Hei-de amar o vale verde Enquanto verde estiver Ainda não fiz escritura Hei-de umar quem eu quiser 24 Se eu soubesse cantar bem Andava sempre cantando É melhor que nem andar Na vida doutrem falando 25 Eu um dia guardei porcos Oh! que dia tão tirano Andava lá um porco coxo Eras tu se não me engano.

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Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

Nome - Bartolomeu Arsénio Naturalidade - Serpa Morada - Lar da 3ª idade Albernoa Idade - 86 anos em 1987 (nasceu em 1901) Habilitação - Não sabe ler nem escrever Profissão - Trabalhador rural reformado

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Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

Versos que eu fiz quando abalei e fui emigrante... (Glosa do fado "SER FADISTA FOI MEU SONHO” de Frei Hermano da Câmara) 1 Emigrar era meu sonho Inda eu era criança Conhecer muitos países Passar una dias felizes E o maior sonho era França 2 Um dia chegou a hora Despedi-me e fui partir Deixei tudo o que gostava Só o destino guiava O que havia de seguir 3 Quando cheguei a fronteira Clandestina ia passar Deus traçou o rneu destino Com muito amor e carinho E livremente fui ficar 4 Quando cheguei a Paris Era tudo diferente Eu não sabia falar Nada pude perguntar Não entendia tal gente 5 E a saudade que senti Descreve-la eu não sei Tanta fortuna que vi E o mundo que conheci Nada vale o que deixei 6 E a vida do emigranle É só cheia de ilusão Ahandonar seu país Onde tem vida feliz E voltar com decepção 7 Oh meu belo Portugal Não há no mundo como tu Onde o sol é mais belo Seja de Verão ou de Invemo Tens um calor em comum 8 Oh meu belo Portugal! Ó cantinho da saudade Que o emigrante velhinho Já cansado e pobrezinho Chora a sua mocidade.

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Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

Quadras Soltas

1 Se as sentidos procurares Eu cá te vou explicar Primeiro sentido é ver Eu sem ver não passo amar

6 Eu semii amor no rio Para mais verde nascer A amizade que t'eu tenho Já tu não podes perder

2 Ao passar o barranquinho Parti a corda à viola Era outro que não via Coitado de quem namora

7 Mas se o beijo não se rega Deita-lhe água na raiz Nao te gabes que me deixas Que fui eu que te não quis

3 Hei-de amar o vale verde Enquanto tiver verdura Hei-de amar quem eu quiser Qu'inda não fiz escritura

8 Eu gosto muito de ouvir Cantar a quem aprendeu Se houvesse quem me ensinasse Quem aprendia era eu

4 Adeus ó cidade de Évora Adeus ó d'Évora cidade Adeus ó quartel dos cinco Onde passi'a mocidade

9 Quem canta seu mal espanla Isso aí não é verdade Minh'alma com a tua canta E eu choro de saudade

5 Adeus cidade de Beja Eram velas de navio As lágrimas eram tantas Sem chover encheu o rio

10 Se fores urn dia a Serpa Vai passar às passadeiras Vamos ao ramal da Graça Namorar as costureiras

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Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

11 Tenho 22 amores Contigo são 23 Uns falsos outros fingidos Só tu lindo amor, não és

16 Sexta-feira d'Ascensão Quinta-feira de comadres Foi a vez que eu ouvi Mais mentiras que verdades

12 Adeus que me vou embora P'ra terra das andorinhas Mete carta no correio Se queres ter novas minhas

17 Se em ser recto ofendo Não te quero ofender mais Se o bem-querer é dividido Nossos ciúmes são iguais

13 A estrela do norte é guia Dos marinheiros do mar Compara-te a ti com ela Que me fazes variar

18 Debaixo do chão mil metros Onde o sol não tem entrada Abre-se uma sepultura Eu morro d'apaixonada

14 Ó Serpa melhor das vilas Também d'algumas cidades Quem me dera já lá ir Para matar as saudades

19 Meu coração é de terra Hei-de manda-la cavar Para semear desejos Qu'eu tenho de conversar

1S Adeus que me vou embora Para a semana que vern Quem me não conhece chora Que fará quem me quer hem

20 Tinha eu 16 anos Quando ami uma infeliz Uni(mos) corações humanos Veio a morte, apartar quis

21 Ó tempo, já tive tempo Bem tempo de ser feliz Agora quero e não posso Quando podia, não quis.

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Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

Nome - Ana Rita da Graça Naturalidade - Albernoa Morada - Albernoa Idade - 59 anos em 1987 (nasceu em 21/11/1928) Habilitações – 4ª Classe Profissão - Costureira

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Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

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Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

Mote Comprar boneca que chora Para a menina brincar É o pão que deita fora Que a outras podia dar Décimas Ser criança e brincar É o começo da vida Mas quando vem a sonhar Já não encontra saída A sua sentença está lida E o seu sonho de outrora E a luta começa agora Pois a fome a vai render E nunca poderá fazer Comprar boneca que chora Tanto brinquedo caro Tanto bocado de pão Tanta gente de carro Pisando a fome no chão O mundo que é um vulcão E a chama não vai parar E o fogo sempre a girar Mas o rico não tem medo E há sempre tanto brinquedo Para a menina brincar O mundo só vai mudar Com o adulto em criança E aroda sem pre a girar A todos dando uma espcrança Não será lida a sentença E tu terás a tua hora Quem é forte também chora E tão mal que o mundo andou Gastando o que não ganhou É o pão que deita fora Morrem milhares de crianças Porque não as deixam viver Neste mundo cheio de crenças E a forne sempre a vencer Bastava o homem querer Para este mundo mudar Tanta árvore a plantar Diz o poeta na sua obra Tanto que a ti te sobra Que a outras podia dar. Poema dedicado aos "meninos pobres" ...

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Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA Mote É pobre e não sabe ler Não conheceu a Escola Não precisa de saber Dizia quem dava esmola

Décimas E o pobre nada dizia Pensava na triste sorte E consigo consumia Lutarei até à morte Pegava no seu archote Para alguma coisa ver Mas como compreender Que é uma vida sem luz E ele que tudo produz É pobre e não sabe ler Aos sete anos trabalhava O inocente pobrezinho Com sua idade brincava O filho do patrãozinho E o pobre pelo caminho Ao ombro sua sacola Para meter uma esmola Que alguém lhe quisesse dar Faz a vida a mendigar E não conheceu a Escola Desde criança que sofre A tortura do patrão Não é defeito ser pobre Diz aquele que não tem pão O mundo desde então Vem mudando sem querer E o homem com seu poder Consegue sempre mandar O pobre não vai estudar Não precisa de saber Mas um dia ao despertar Do seu sono tão profundo O homem pôs-se a chorar Contente do novo mundo Já não sou o moribundo Que andava com a sacola Já posso ir à Escola Gosto tanto de aprender Não tem falta de saber Dizia quem dava esmola

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Beja

BEJA

MARIA GUIOMAR PENEQUE FLORIVAL PELEJA CARLOTA RAMOS CAIXINHA ANA MARA NEVES IOLANDA GUERREIRO

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Beja

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Maria Guiomar Peneque - Beja

Nome - Maria Guiomar Rodeia Peneque Naturalidade – Beja Residência - Rua Pablo Neruda, 2 – Beja Idade - 60 anus em 1987 (nasceu em Março de 1927) Habilitações – 4ª Classe Profissão - Costureira

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Maria Guiomar Peneque - Beja

NOTAS BIOGRÁFICAS Meu Nome Maria e nome de virgem Guiomar - da minha madrinha Rodeia - sabe-se o que é Peneque... quem adivinha?... Naturalidade Eu sou natural de Beja Sempre aqui foi meu viver Solteira, casada, viuva E cá desejo morrer Idade Eu nasci em vinte e sete Na estação da Primavera Ja contei cinquenta e sete (em 1984) E d'outras mais estou à espera Pais Meu pai se chamou José Carpinteiro de Beringel Isabel, a minha mãe Camponesa de Portel Profissão Eu sou filha da pobreza Serei pobre a vida inteira Estudar... Não pôde ser! Sou apenas costureira Em Março de 1927, na capital do Baixo Alentejo, uma trabalhadora rural, casada com um carpinteiro, deu à luz um dos seus onze filhos. Ere menina e recebeu o nome de Maria Guiomar Rodeia Pcneque. Sete anos depois, a Maria Guiomar entrava na Escola Primária, onde, aos de, dez anos, viria a ser aprovada no exame da 3ª Classe. Três anos volvidos, a mãe decidiu que a Guiomar iria trabalhar como costureira numa alfaiataria. Depois... "Casei aos vinte e nove anos. Tive a prirncira filha aos trinta anos. Foi por causa dela me dar urn cravo encarnado, que urn dia me deitou pelo postigo da porta, estava eu a costurar, que me veio a inspiração e fiz a primeira quadra que e assim: Deste-me um cravo encarnado / Lancei-o pelo postigo Se continuas zangado / Farei o mesmo contigo. Daí para cá, há vinte e um anos, nunca parei. Aos trinta e seis anos, tive a segunda filha, a quem dei o nome de Florbela - em memória da poetisa Florbela Espanca - mas a menina morreu aos dez dias de nascida. “Sou pouco crente em espiritismo, mas qualquer coisa de anormal se passou comigo nessa altura...”

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CANTIGA DE AMOR Maria Guiomar Peneque – Beja

O ROUXINOL QUANDO CANTA JÁ DEPOlS DO SOL SE PÔR CONTINUA A DAR NOTÍCIA DAS RAZÕES DO NOSSO AMOR JÁ se foi minha alegria Só esta dor me quebranta Já não oiço quem parccia O ROUXINOL QUANDO CANTA Ó minha Estrela cadcnte Que tombaste com fragor 'Inda és meu sol nascente JÁ DEPOIS DO SOL SE PÔR Vai, MEU pobre, coração Em liberdade fictícia... E, da minha solidão CONTINUA A DAR NOTÍCIA A Deus que nos separou Peço perdão com fervor Da saudade que ficou DAS RAZÕES DO NOSSO AMOR

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Maria Guiomar Peneque - Beja

Mote PARA QUE SERVE TER OLHOS TER OLHOS E NÃO TE VER PARA QUE SERVE TER VIDA SEM RAZÃO PARA VIVER Décimas Dois olhos que Deus me deu Mais negros que a noite escura Choraram muita amargura No pranto que lhes correu Pelo bem que se perdeu Na minha vida de escolhos Dos irmãos que tive aos "molhos" Todos na vida perdi E, se nunca mais os vi PARA QUE SERVE TER OLHOS Pai e mãe, eu já perdi Foi chegada a sua hora Ainda a minha alma chora A tristeza que senti E pelo muito que vi Só dopois de ter perder... Tu bem me fizeste crer Que perdia um grande bem Para que serve, ó mãe TER OLHOS E NÃO TE VER...? Meu marido já não tenho Pais cedo a morte o levou A saudade me deixou Como pregada num lenho Em viver não faço empenho Sou como a ave perdida Por tanto desiludida Quando a sorte não existe E o nosso viver é triste PARA QUE SERVE TER VIDA? A saúde já é escassa A galope como o vento Assim vai correndo o tempo Entretanto a vida passa Só naa me deixa a desgraça Atrás de mim a correr Já não me posso esconder Vou parar, estou cansada A vida não vale nada SEM RAZAO PARA VlVER.

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Maria Guiomar Peneque - Beja

Mote SOU VIÚVA MAS NÃO PEÇO AOS SANTOS P'RA ME CASAR NÃO POSSO FAZER PROMESSAS SEM TER CERA P'RA GASTAR Fui solteira, fui casada Sempre pobre toda a vida A minha dor mais sentida Foi de não ser educada Na infância, mal estimada Depois... trabalhei sem preço Hoje, que pouco mereço Tenho urn desgosto profundo Pobre e sozinha no mundo SOU VIÚVA, MAS NAO PEÇO Só a negra solidão Vem bater à minha porta A fé em Deus me conforta E me alegra o coração E, rezo a minha oração Sempre que me vou deitar Não acabo o meu rezar Porque me deixo dormir E, assim não chego a pedir AOS SANTOS P'RA ME CASAR Se houver alguém que me queira Quer por bem ou quer por mal Terá o pobre mortal Que esperar a vida inleira... Cá p'ra mim não há maneira De me trocarem as peças A qualquer urn eu dou meças Aqui digo eu sem receio No casamento não creio NÃO POSSO FAZER PROMESSAS Ninguém deite mau olhado Não ponha lala nem pó A quem no mundo anda só Como um cão abandonado Pois - já dizia o ditado: "Mais vale só no Mundo andar Que do mau acompanhar" Eu, viúva quero morrer Do que promessas fazer SEM TER CERA P'RA GASTAR

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Maria Guiomar Peneque - Beja

OS PASSOS DA MINHA TERRA (A minha terra - BEJA)

Minha cidade velhinha Sempre em ti tenho vivido Do CASTELO à CAPELINHA Tudo meés conhecido SANTIAGO, SALVADOR SANTA MARIA, SÃO JOÃO Relíquias de um puro amor Que trago no coração Minha pia baptismal Está na IGREJA da SÉ Minha primícia de fé Na capela pequenina - Meu Senhor Jesus dos Passos Dos meus passos de menina Velha RUA de ALCOBAÇA Minha viela estreitinha Onde o meu bem ja não passa Como passava à tardinha Tuas pedras da calçada Têm ecos doloridos Onde soaram outrora Passos que me foram queridos Linda PRAÇA da REPÚBLICA Minha velha MOURARIA RUA DO ESQUÍVEL tão querida Onde esses passos ouvia Meu andar pela cidade Já não é o que era dantes!... Levados pela saudade Andam rneus passos errantes!

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Maria Guiomar Peneque - Beja

VIVA REJA E SÃO JOÃO (Receita para fazer um "MASTRO" alentejano) I

Para bem fazer umn "mastro" P'ra dançar o São João Faça assim, tal como eu faço P'ra manter a tradição II

Arranje cinco barrotes Quatro são da mesma altura O quinto, que fica ao meio Tem maior envergadura III

Faça os buracos no chão Mas, para isso afinal Peça a autoriza9ao A Câmara Municipal IV

Vá ao campo apanhar rama Mas, tome bem atenção!... Tmga só a que estiver Cá na nossa tradição V

Mentrastos e canas verdes Também ramagem de faia „Tenra-me os paus; espete-os bem 'Inda assim algum não caia...! VI

Lá no alto põe-se a esfera E a bandeira - enfeitadas Com ginjas e soromenhos Mais as popias caiadas VII

Agora é que chega a vez Da bonita compostura Com urn papel colorido Que lhe empresta formosura VIII

Bandeirinhas e correntes Entre grinaldas de rama Lindos mosqueiros pendentes Por onde a luz se derrarna! IX

E, por fim, toca a varrer Rega-se o chão bem regado Fica o ar a rescender A mentrasto perfumado X VIVA BEJA MINHA TERRA DESTA LINDA TRADIÇÃO! OH! QUANTA BELEZA ENCERRA UM "MASTRO" DE SÃO JOÃO!

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Maria Guiomar Peneque - Beja

ADEUS A BEJA (Dedicada ao bejense "Calquinha”)

Seguiu a rota distante Conheceu tempos de guerra Tern o selo de emigrante Quis voltar a sua terra: - Porrugal dos roseirais Alentejo - terra minha Beja dos louros trigais Da planície rainha. "Oh meu castelo de sonho” Sempre em meus sonhos lembrado! - Aqui me tens - corpo inteiro Frente a ti, bem acordado! Minha Beja velha e moça Caixinha dos meus segredos Minha querida Mouraria Oh quartel dos meus degredos!... - Dei de beber a saudade Com saudades vou patir Minha terra - sempre amada (enquanta vida me exista) - Não te digo adeus para sempre “Mas um breve - atá à vista"

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Maria Guiomar Peneque - Beja

LUSÍADAS DO ALENTEJO (À Reforma Agrária)

"As armas e os barões assinalados" Na heróica planície alentejana Eram - há pouco - latifúndios desprezados Onde - salvo excepções - só campeavam Cardos, coutadas, aramados e ortigões. E que dizer dos gados, santo Deus! Pobres, faminlos, horrendos camafeus Morrendo à míngua por vingança dos ateus. Searas havia que eram só p'ra caça... Mais sorte tinham as rolas e as perdizes Que tantos camponeses infelizes A gente transtagana, num lampejo De liberdade e justiça - torce a fome Lança à terra que o suor ganhou Duas, três, quatro vezes mais - o pão Que o patrão tantas vezes lhe negou. "Gritando espalharei por toda a parte" A dor, o pranto, a opressão e a mágoa Sentidas na carne criada a pão-e-água Cheirando a alhos coentros e poejos Da açorda toda a vida repisada. - "Se a tanto me ajudar o engenho e a arte" Mais vou dizer, sem que me canse ou farte - Desditosa gente, da minha terra amada!

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Florival Peleja - Beja

Nome - Florival Peleja Naturalidade - Santana de Cambas Residência - Rua de Timor 16, Beja Idade - 72 anos em 1987 (nasceu em 10/03/1915 Habilitação – 2º ano do Comércio Profissão - Reformado

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Florival Peleja - Beja

LOUCA HUMANIDADE P'RA QUE EXISTE TANTA GUERRA, TANTA DOR, TANTO TORMENTO, SE A VIDA AD CIMO DA TERRA DURA APENAS UM MOMENTO Neste mundo conturbado Onde só maldade existe A humanidade é triste Como pagando urn pecado Será este o pobre fado Que a vida terrestre encerra? Este mal que nos aterra Deve-se à louca ambição Por isso eu pergunto em vão P'RA QUE EXISTE TANTA GUERRA O homem no seu furor Provoca devastação Em vez de distribuir pão Semeia apenas rancor Dedica tado o labor A fabricar armamento Em cada dia urn invento Numa constante loucura Causando tanta amargura TANTA DOR, TANTO TORMENTO. Infeliz humanidade P'ra onde vais caminhando Rapidamente vais dando Termo à felicidade Já não há fraternidade A paz já mais se descerra Em seu lugar só há guerra O mundo vive sem norte Não sei se mais vale a morte SE A VIDA AD CIMO DA TERRA Neste egoísmo feroz Ha fome no mundo a rodos O pão chegava p'ra todos Se o homem não fosse atroz Que será feito de nós Com tão grande sofrimento É umn constante lamento Na sociedade perdida Para quê? Se a pobre vida DURA APENAS UM MOMENTO.

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Florival Peleja - Beja

A VIDA

A A A A

vida vida vida vida

é é é é

este esta este este

bem que nao tem nome dor que nos maltrata amar que nos consome inferno que nos mata

A vida e muito curta, ou prolongada Consoante a maneira de a viver Para quem tern alegria cia ela é um nada Mas comprida de mais para sofrer A vida é este mal que a toda a hora Estamos desejando ver findar Mas ao senti-la breve a ir-se em bora Tentamos, com afinco, prolongar A vida é urn tormento, é amargor A vida e urn calvário, é urn engano Mas é também a dádiva maior Que a natureza deu ao ser humano.

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Florival Peleja - Beja

AS MAIS BELAS COISAS DO MUNDO

Quem ouve um dia uma canção Cantada por um estro de talemo Jamais esquecerá a comoção Que a alma lhe sentiu nesse momenlo Quem numa nite límpida e serena Fitar a nostalgia do luar Decerto há-de sentir imensa pena Ao ver essa noite terminar Quem um dia sentir um beijo amante Duns lábios de mulher formosa e pura Não mais esquecera aquele instante Em que a beijou repleta de frescura E as rosas? Quem aspirar o seu perfume Encontrará embrieguez, frescor Sentirá depois feroz ciúme Da linda borboleta multicor Música, luar, mulher e rosas Maravilhas que não posso esquecer São, decerto, as coisas mais formosas Que a Natureza resolveu razer.

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Florival Peleja - Beja

O MEU SONHO

Eu sonho urn mundo novo, isento de maldade Em que os homens se estimem e dêem com amor Um mundo de ventura e etema felicidade Donde p'ra todo o sempre seja banida a dor Urn mundo onde as erianças aprendam a sorrir Sem preocupações p'lo dia de amanhã Etema primavera com rosas a florir Urn mundo onde a miséria seja palavra vã! Urn mundo em que haja paz em toda a terra Em que o ódio e a dor jamais tenham guarida Urn mundo em que a semente da miserável guerra Se mantenha p'ra sempre dos homens esquecida Eu sonho urn mundo novo repleto de alcgria Donde desapareça o mal que nos consome Urn mundo em que se possa gozar a luz do dia E onde jamais alguém possa morrer de fome.

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Florival Peleja - Beja

AS FLORES DO HOMEM

AURA, BERTA E ROSALINA EMÍLIA, ROSA E JOANA GENOVEVA E FELISMINA LÚCIA, BENTA E JULIANA Júlia, Cláudia e Adélia Eglantina e Maria Arlete, Dulce e Sofia Felicidade e Amélia Rita, Raquel e Ofélia Leonilde e Crisaltina Isabel e Marcelina Augusta, Marta e Amália Olga, Fernanda e Natália AURA, BERTA E ROSALINA Clarisse, Bernarda e Dora Angélica e Conceição Esmeralda e Assunção Dália, Celeste e Flora Brígida, Justa e Aurora Aurélia e Sebastiana Elvira, Adelaide e Ana Gilberta, Elsa e Gracinda Ivone, Márcia e Arminda EMÍLIA, ROSA E JOANA Ilda, Irene e Gabriela Felícia, Sara e Sabina Margarida e Miquelina Perpétua, Laura e Manuela Deolinda e Micaela Mónica, Otília e Silvina Jerónima e Josefina Patrícia, lsaura e Helena Carmen, Dália e Madalena GENOVEV A E FELISMINA Francisca, Inácia e Justina Gertrudes e Marieta Ema, Eulália e Julieta Florbela e Lodovina Filomena e Ricardina Clara e Feliciana Alice, Branca e Romana Ester, Esperança e Felisbela Estefânea e Anabela LÚCIA, BENTA E JULIANA.

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Carlota Ramos Caixinha - Beja

Nome - Carlota Ramos Caixinha Naturalidade - Freguesia de S. João Batista / Beja Residência - Rua de S. Gregrório, 33 - Beja Idade - 61 em 1987 (nasceu em 1926) Habilitações – 4ª Classe. Frequentou o CEBA da Capricho Bejense e fez a avaliação final em Junho de 1983 Profissão - Doméstica

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Carlota Ramos Caixinha - Beja

O OUTONO É MUITO TRISTE

O Outono é muito triste Vêem-se árvores despidas Por isso se pode ver A perca de muitas vidas As folhas são seres viventes Que morrem pelo Outono Se olhares bem para o chão Lá as vês ao abandono Essas folhas tão viçosas Em secas se transforrnararn Foi o Outono o culpado Elas em nada ficaram Vem o frio, vem o Inverno Ai dos pobres passarinhos Cai a parra da parreira E morrem tantos velhinhos.

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Carlota Ramos Caixinha - Beja

HÁ HOMENS QUE NÃO DEVIAM

Há homens que não deviam Construir a vida a dois Fingem ser tão carinhosos Mostram o que são depois Há mulheres muito infelizes Que não sabem o que as espera Pensam casar com um homem Descobrem que é uma fera Há homens que não deviam Nesta vida ser casados São mais estúpidos que os burros Precisavam ser piados Pois eu acho que esses homens Nunca deviam casar Pois deitem-nos para a selva Pr'os lobos os devorarem É o meu modo de pensar Será o de muita gente Desses não deixem nenhum Para não ficar a semente

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É TÃO TRISTE SER VELHINHO

É tão triste ser velhinho É a morte que demora Até se perde a figura Do que nós fomos outrora É o fim da nossa vida É o fim da ilusão Somos seres postos de lado Findou a nossa missão Cá esperamos a morte Para o fim ser completo Para ficarmos esquecidos Como o vento no deserto Neste deserto distante Por lá ninguém faz caminho Oh morte, não te demores! É tão triste ser velhinho!

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MENINO DO BAIRRO DA LATA

Menino do bairro da lata A tua vida é tão nua Sem camisa e de alpercatas Mendigando pela rua Serás homem amanhã Mas não terás profissão Paderás te transfonnar Em assassino ou ladrão Mas tu não és o culpado Dessa triste desventura Talvez deixassem morrer A tua alma tão pura Enquanto foste criança Cheio de fome e de frio Assim tu foste crescendo Tomando-te um vadio.

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É TÃO LINDA A PRIMAVERA

É tão linda a Primavera Ocampo muda de cor E chegam as andorinhas No campo há tanta flor Flores brancas e vermelhas Cor-de-rosa e amarelas Que têm tanta beleza Embora sejam singelas As árvores estão em flor Para o seu fruto nascer Ocampo só tem beleza Para quem o sabe ver No campo é que se produz

E do trigo se faz pão Lindas espigas douradas Para nossa alimenlação Há quem não goste do campo Não sei por qual a razão O campo nos dá a frula Horlaliça, carne e pão.

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Carlota Ramos Caixinha – Beja

VERSOS DEDICADOS À PAZ O mundo é de todos nós Não o podem destruir Estamos todos alerta Não o vamos consentir Ó povo de todo o mundo Aqui faço o meu alerta Há muitos adormecidos Certo povo nao csperta Por mais que o esclareçam Não são capazes de entender Pois se nós queremos a paz Temos nós que a defender Pois ninguém tem o direito Deste mundo destruir Que foi traçado por Deus Que não irá consentir Menina dos olhos tristes Porque te invade a tristeza? Vês teu futuro tão negro Aumenta a tua pobreza Não tens pão para comer Nem casa para morar Menina dos olhos tristes Tens que andar a mendigar As rosas têm espinhos São criadas ao relento As pétalas orvalhadas Sacudidas pelo vento Se o vento embala a roseira Vê-se a rosa balouçar As flores são muito belas São criadas ao luar As rosas tern espinhos Para a sua protecção A panhem-nas com carinho P'ra nao picarem a mão Só as flores são perfeitas Deve ter havido engano Pois o ser mais imperfeito Somos nós o ser humano Pois eu tenho tanta pena Que este mundo seja assim Se tudo fosse perfeito O mundo era urn jardim

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Carlota Ramos Caixinha – Beja

VERSOS DEDICADOS AO CAMPONÊS Ó meu povo camponês Levas a vida cansada Agarrado a um arado Ou ao cabo de uma enxada Com o teu rosto cansado Dás fim à tua fadiga Começas de manhazinha A cortar pão em espiga Essa espiga tão dourada Que dela se faz o pão Ó povo trabalhador Cantas a tua canção O povo que anda no campo Devia ser mais estimado É ele que produz a pão E anda mais arrastado Anda ao frio e ao calor Enfrentando a tempestade Pois deiem-lhe mais valor É esta a grande verdade O povo não se apercebe Da grande contradição Se nao fosse o camponês Nós não teríamos pão O nosso mundo está louco Ó meu Deus, grande loucura Este mundo tão imundo! Doença que não tem cura O povo anda tão louco Anda tão espavorido O próprio povo se vende Isto já não faz sentido Há gente que se embriaga Na ganância do dinheiro Jogam bombas, queimam matas Fazem do mundo urn braseiro Essse braseiro infernal Que outros vão apagar... Ó povo, ignorante Tu próprio te estás a matar.

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Carlota Ramos Caixinha – Beja

QUADRAS SOLTAS I

1 O dia de Santo António É dia de bailarico Andam as mças dançando E cheirando o manjerico 3 Acaba-se o Santo António E comça o São João Dançam as moças nos mastros E rebenlam balão

I Na solidão do meu quarto Tenho tempo p'ra pensar Sem ninguém m'interromper Ponho a mente a trabalhar

2 À noite fazem fogueiras Queima-se o alecrim Junta-se o rosmaninho Que também me cheim a mim 4 Acaba-se o São João E no fim é o São Pedro E as moças já não dançam Que dos moços têm medo.

5 Fazem as moças experiências Queimam os cardos nas fogueiras Na noite de São João... Se nada lhe bater certo Pois lá se vai a paixão II 4 O homem ludo constrói E faz a destruição Já é tempo de acabar Com tanta poluição

2 Gostava de ter cultura P'ra me saber exprimir P'ra escrever minha mágoa Que é tão grande o meu sentir

5 Aqui faço o meu alerta E vejam bem que é verdade Se não tiverem cuidado Acaba a humanidade

3 Sinto em mim uma revolta Sinto tristeza também Mas nada posso fazer Nem por mim nem por ninguém

6 O povo já está doente Com tanta poluição Anda tudo envenenado Com esta alimentação.

1 A vida é um grande engano Por mim não ando enganada Com ela muito aprendi E me sinto tão revoltada

III 2 Há tanta gente no mundo Que feliz podia ser Sem ter casa nem conforto E nem pão para comer 3 Mas há comida de sobra Mas é mal aproveitada Comida tão preciosa E para o lixo é deitada.

IV EU NÃO QUERO SER POETA NÃO TENHO TAL PRETENSÃO APENAS QUERO EXPRIMIR A MINHA IMAGINAÇÃO.

V A A A A

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VIDA VIDA VIDA VIDA

É TRAIÇOEIRA É BOA E MÁ TUDO NOS TIRA TUDO NOS DÁ

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Carlota Ramos Caixinha – Beja

QUADRAS DEDICADAS À MULHER

I Dizem que a mulher é fraca É fácil de manejar... É o homem seu carrasco Que gosta de a humilhar. II Ela não vai desisistir Da sua libertação Sabem que está aprovado Na sua constituição III Pois ela não está sozinha Tern muita gente a seu lado... Se esta luta for em frente Pois o homem está tramado. IV Pois o homem é o eulpado Desta grande decisão Ela luta e consegue Tem esse trunfo na mão V Pois ninguém vai impedir E essa luta continua Pois respeitem a mulher Quer em casa, quer na rua.

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Ana Maria Neves - Beja

Nome - Ana Maria Neves Naturalidade – Trindade Residência - Rua da Biscainha, 36, Beja Idade - 71 anos em 1987 (nasceu em 1916) Habilitações - Frequentou o CEBA da Capricho Bejense em 83/84 Profissão - Reformada

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Ana Maria Neves – Beja

PRIMAVERA

BEJA - 1983/MARÇO 21 - PRIMAVERA

O Inverno terminou E a Primavera a chegar E as flores a desabrochar As Dálias, as Túlipas e as Honenses e os Jasmins E quando a Primavera chega Tudo é assim. Os Malmequeres, os Jarros e as Rosas brancas São da cor da pureza Tudo nos dá a Primavera Criada pela Natureza E neste jardim tantas coisas mais As andorinhas a chilrear nos beirais E os Rouxinóis e as Pardais, logo ao romper do dia Com a sua suave melodia. Estar a ouvi-los sempre quem me dera... Tudo ista nos dá a Primavera! Naquele canteiro mais além Tantas e tão belas de variadas cores E no hanco do jardim, um casal de jovens A falar de Amores. E as Maravilhas e as Cravos E os Amores Perfeitos E as suas Chagas Tudo por Jesus foi feito. É UM PRAZER PARA MIM ENTRAR NA PRIMAVERA NO JARDIM.

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Ana Maria Neves – Beja

DIA DO PAI Beja . 1983 / Março / 19 - Dia do Pai

Dia 19 de Março E um dia de luz Dia de S. José Pai adoptivo de Jesus

E o meu querido Pai Que me criou com carinho e amor E a minha boa Mãe Que também não está esquecida Sua esposa e fiel companheira Na sua união me deram a vida

Abraçá-los hoje, quem me dera Para matar a saudade Eles já não pertencem à terra Estão no Reino da Verdade.

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Ana Maria Neves – Beja

O JARDIM DE DEJA

Este Jardim de Beja É histórico e de muito valor Logo a entrada uma placa Com a sua verdura e muito florida E no meio uma estátua erguida Figura de muito valor Mendes da Maia, O LlDADOR

Empunhando uma espada E metido na armadura E a sua batalha de Moiros venceu Porque Deus assim o quis... É uma grande figura, para o nosso país. E neste canteiro Nem parece verdade Todo feito em verdura O emblem a da Cidade Aos estrangeiros mete inveja Em letras gordas escrito: CIDADE DE BElA. Este canteiro é uma loucura É um amor Corn a sua verdura E as suas FLORES! E a sua Santa Isabel, Rainha das flores Com o seu olhar de ternura Com a calendário aos pés... Benditas as mãos que o fez Todas feitas em verdura A DATA, O DIA E O MÊS. E as árvores que há pouco estavam despidas E agora todas floridas, de cor-de-rosa vestidas! Deste jardim ainda há muito que falar Também há o CORETO Para a orquestra tocar E uma BIBLIOTECA Para aqueles que querem estudar. E logo de manhazinha Os passarinhos a cantar De arbusto em arbusto a esvoaçar... É uma alegria ouví-los a chilrear.

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Ana Maria Neves – Beja

O JARDIM DE DEJA

E O PARQUE INFANTIL... As crianças a correr e a saltar Umas no escorrega E outros a balouçar. Eo seu MONTINHO ALENTEJANO Que tanta graça lhe vem dar Venham ver... Na dispensa o alguidar Pam o pão amassar. A peneira para peneirar E a tábua para tender E também o seu forninho Para o pãozinho cozer. Tambem temos neste jardim Uma FONTE SANTA... Podem ver: Com o seu grande chafariz E na boca dos leões quatro Bicas a correr. E o seu grande LAGO Com os cisnes pretos E outros mais Todos a nadar No meio um repuxo Com a água a subir e a baixar E EU CONTINUO A ADMIRAR.

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Ana Maria Neves – Beja

recordação

Desta janela virada pró mar A minha vida e a tua Guilherme eu estou a recordar Como outrara em Sines Com os nossos filhinhos Tu e eu os enchíamos de carinhos... Mas ja tudo passoul Porque Deus te levou E eu sempre em ti a pensar Desta janela virada pró mar.

Depois de tudo que tenho passado Vim de novo para a escola Para aprender a ler... Vivo longe dos mous filhos Preciso de lhes escrever.

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Iolanda Guerreiro - Beja

Nome - lolanda Guerreiro Naturalidade – Beja Residência - Rua Dr. Aresta Branco, 50, Beja Idade - 56 anos em 1987 (nasceu em 18 de Junho de 1931) Habilitação – 4ª Classe Profissão – Reformada

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Iolanda Guerreiro - Beja

SÁTIRA AOS PROVÉRBIOS

"QUEM TUDO QUER TUDO PERDE" É urn ditado banal Ha gente que tudo quer E tudo tem, afinal! "QUEM TEM FILHOS TEM CADlLHOS" E quem será que os não tem Ter cadilhos por ter filhos É um mal que vem por bem. "QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA" Se fosse certo o ditado Não tinha perdido a esperança De te ter sempre a meu lado. "AMOR COM AMOR SE PAGA" Se isso fosse verdade Tanta coisa se evitava Nesta triste humanidade. "DEVAGAR SE VAl AO LONGE" É já um ditado antigo Tenho andado devagar E o que quero não consigo. "COM OS BONS TU SERAS BOM" Não aprovo este ditado Há tantas pessoas más Com tantas boas ao lado. "QUEM ESPERA DESESPERA" Não está certo o ditado Eu nunca desesperei Por tanto ter esperado. E há urn provérbio com que eu estou de acordo, porque é bem certo, infelizmente... "ESTA VIDA SÃO DOIS DlAS" É um ditado bem certo Quando julgamos viver Temos a morte bem perto.

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Iolanda Guerreiro - Beja

Quadras Mote: "TAMBÉM HÁ ROSAS SEM ESPINHOS" "Também há rosas sern espinhos" Essas são as mais formosas; Mas, para um bom cheirinho Prefiro as rnais espinhosas.

"Também há rosas sem espinhos" Essas não são da roseira; São regadas com carinho Criadas... de que rnaneira.

"Também há rosas sem espinhos" Eu não queria aereditar; No dia em que me casei Estava uma no altar.

"Também há rosas sem espinhos" Essas são as mais formosas; Arnor, dá-me os teus earinhos E, junto aos carinhos, rosas.

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Final - Beja

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Beringel

BERINGEL

ROSA HELENA RODRIGUES

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

Nome - Rosa Helena Moita Rodrigues Naturalidade – Beringel Residência – Beringel Idade - 52 anos em 1987 (nasceu em 27/02/35) Habilitação – 4ª Classe Profissão - Doméstica

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

MAR

Na praia a olhar o mar Comigo fico pensando Como é passível matar Quem nossas pés vai beijando Ó mar tu és inconstante Mudas em qualquer momento Só basta que num instante Te venha soprar o vento És como berço gigante Que balouça noite e dia Assobiando ofegante Sempre a mesma melodia Tantos harcos tens virado Em dias de tempestade Tantas vidas tens ceifado Sem teres dó nem piedade Nos dias de calmaria É diferente o teu agir És um espelho de magia Ondeo sol vai reflectir Vem a onda em nós tocar Vem-nos contar seus segredos Se a tentamos apanhar Esvai-se por entre os dedos Chega a hora de baixar Lá parte discretamente Vai outras praias beijar Vai conhecer outra gente Depois torna a regressar Sereno como abalou Vem ocupar o lugar Que há poucas horas deixou Ó mar, tu tens, a meu ver Uma certa sedução És para uns, o prazer P'ra outros, o ganha pão.

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

MEU ALENTEJO Alentejo, torrão querido Que urn dia me viu nascer Meu solo nunca esquccido Hei-de amar-te até morrer Alentejo, na verdade, Eu não consigo esconder Este gosto que me invade De a toda a hora te ver Há em ti tanta beleza Que encantas o meu olhar És a obra da natureza Que não se pode igualar Os teus campos têm vida Têm certa animação Na papoila colorida Salpicando o verde chão As searas a bailar Num ritual que não cansa Parecem nos convidar A entrar naquela dança São como mar balouçando Na onda que vai e vem Não há barcos navegando Mas tanta beleza tem O teu cante compassado Teus usos, tuas raízes São vestígios do passado Herança d'outros países As tuas casas caiadas Como a brancura do linho São pombas brancas pousadas À beirinha do caminho Quem nasceu neste cantinho Nunca o pode desprezar Tem por ele urn tal carinho Se partir, torna a voltar,

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

POEMA DEDICADO A BERINGEL

Beringel és hospitaleira És terra de trigo e pão Tens por tua padroeira A santinha milagreira Senhora da Conceição Ó linda aldeia afamada Tão engraçada e brejeira Tu estás bem situada Vives à beira da estrada Entre Beja e Ferreira Em Setembro estás em festa Toda a gente te vem ver Não há terra como esta Embora sendo modesta Tão bem sabe receber A tua igreja Matriz As tuas lindas Capelas Lá dentro algo nos diz Que nos faz sentir feliz Ao visitar qualquer delas Teus barros são afamados A toda a parte eles vão Por todos são procurados Por serem bem acabados Já andam de mão em mão Da terra vem teu sustento Teu povo é trahalhador Trabalha sem um lamento A toda a hora e momento A ela dá seu armor És uma aldeia velhinha Entre vinhas e trigais Do Alentejo és rainha Apesar de não ser minha Cada vez te quero mais És tão bela, és tão garrida És como lindo painel Tu não és terra escondida De todos és conhecida Linda aldeia de Beringel.

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

POEMA DEDICADO A PORTUGAL PORTUGAL, minha nação Meu cantinho acalhedor És a símbolo de união Dum povo trabalhador Tu tens nas tuas raízes Tantos heróis de valor (Que por todos os paises)? Te tecem tantos louvores Tens tudo o que a natueza De bom nos podia dar Tens encanto e tens beleza Tens lindo sol a raiar Podes não ter riqueza Que têmn outros países Mas tens a tua nabreza Que nas torna tão felizes Meu PORTUGAL és brejeiro Tens encanto e tens magia És urn país soalheiro Onde há paz e alegria Perguntem qual a nação Mais digna e mais leal E todos responderão Só pode ser PORTUGAL És cantinho hospitaleiro Por Deus és abençoado Por seres urn país ordeiro Por todos és respeitado Ó meu PORTUGAL amigo És toda a minha paixão Hei-de sempre estar contigo Meu pedacinho de chão Na Europa és urn cantinho Virado pr'o oceano Ó meu país tão velhinho Meu PORTUGAL lusitano.

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

POEMA DEDICADO À EMIGRAÇÃO Meu PORTUGAL eu parti Certo dia te deixei Por outras terras andei Outra gente conheci Por ficar longe de ti Tantas vezes eu chorei Ao partir senti tristeza Dentro do meu coração Mas parti sem dizer não Agora eu tenho a certeza Que esta terra portuguesa É a mais bela nação O meu pobre pensamemo Em PORTUGAL residia Só eu sei o que sentia Era tal o meu tormento Pensando a todo o momento Nesta terra que não via Se te pudesse lá ver Nesse país onde estava Quanta alegria me dava Mas não poderia ser Por ser muito o meu querer Com a saudade ficava Eu digo sinceramente Não foi por ter ambição Que deixei minha nação Se fui p'ra terra diferente Talvez fosse realmente Por ser grande a ilusão Em horas de nostalgia De tudo eu tinha saudade Da aldeia, da cidade Dos amigos que não via Do sol que nos alumia Deste país de verdade. No dia em que regressei Ao nosso país natal Minha alegria foi tal Eu nem sei como fiquei De alegria chorei Por voltar a PORTUGAL.

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

"VAGABUNDO" Pobre vagabundo Que na rua passa A nada acha graça Anda pelo mundo Quase moribundo Chorando a desgraça Pcdi a Deus que o leva Pró mundo de além Já não tern ninguém Se a morte for breve Ele fica leve Da vida que tem Ninguém lhe diz nada Ninguém o procura Nesta vida dura Tem o pó da estrada Na roupa suada E a sua amargura Cigarro apagado Na hoca perdido Está mais que ardido Está mais que chupado Foi na rua achado Já meio ressequido O fato rasgado Sem ter um botão Os pés pelo chão Chapéu desabado O rosto barbado E naco na mão Mãe não conheceu Não sabe se existe Já nada lhe assiste Nada tem de seu Somente sofreu Neste mundo triste Por todo este mundo Em qualquer lugar Pode-se encontrar Bem triste e imundo Tanto vagabundo Na rua passar.

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Rosa Helena Moita Rodrigues - Beringel

É triste não saber ler!... I É triste não saber ler Nem escrever nem contar Ter de aos outros perguntar O que um papel quer dizer E só ficar a saber O que lhe querem contar II Mesmo que tenhas idade É bonito ires aprender Verás quanto é bom saber Podes ter a liberdade Dc dizer isto é verdade Porque eu acabei de ler III E se alguém te censurar Por andares a aprender Tu não te importes saber Continua a estudar Deixando os outros falar O que interessa é saber ler IV Homem, mulher ou rapaz Que queira aprender a ler Não tem de se arrepender Não pense não ser capaz Se qualquer pessoa o faz O que é preciso é querer V Se tiveres boa vomade E aprenderes com alegria Não sentirás arrelia Porque aprender na verdade É sair da obscuridade Transfonnar a noite em dia VI Quando um dia souberes ler Tu verás quanto és feliz Hás-de dizer bem eu fiz Quando pensei em aprender Agora posso saber O que qualquer jornal diz.

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Cabeça Gorda

CABEÇA GORDA

ALFREDO SEBASTIÃO JOSÉ

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Cabeça Gorda

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

Nome - Alfredo Sebastião José Naturalidade - Cabeça Gorda Residência - Cabeça Gorda Idade - 83 anos em 1987 (nasceu em 1904) Habilitação – Analfabeto Profissão - Reformado

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

Apresentação geral e da 1ª Décima

Vai cantar Alfredo Sebastião José, freguesia da Cabeça Gorda, Beja, Baixo Alentejo, poeta analfabeto. “Tenho 79 anos.” (Isto passava-se em 1983). “Uma quadra que eu tiri que me pediram os soldados quando foram à guenra da França de 1914 a 1918. Foi o meu irmão Manuel Sebastião José, que Deus lhe perdoe, o primo Manuel Ventura, perdoe-lhe Deus, essa gente, que me pediram.” “Mas eu disse-Ihes: - Quem é que os estimou bem na guerra da França? Eles disseram: - 0lha Alfredo, foram os Brasileiros e foram os Escoceses, foram as Americanos e foram os Franceses. - Ah, então são esses que os estimaram é que apanham vivas. Já tem mais de 60 anos que eu tirei estas quadras. (70 em 1987?).

Mote VIV'ÓS NOSSOS BRASILEIROS VIV‟ÓS NOSSOS ESCOCESES VIVAS ÓS AMERICANOS VIVA T AMBÉM AOS FRANCESES I Quando foi a guerra da França Muitas tropas reuniram Muilas palavras se ouviram: - Viemos fazer vingança! Nós trazemos fé esp‟rança Junto aos nossos companheiros Sermos firmes e guerreiros Nestas linhas de defesa. Vamos gritar com grandeza: Viv'ós nossos brasileiros.

II Quando chegaram à primeira cidade Que iam atravessando Viram senhoras chorando Com carinho e saudade. Tenham dó e piedade De todos os portugueses Que se iam meter em fezes Lá p'rós campos de ninguém. Vamos todos gritar bem: Viv'ós nossos escoceses.

III O exército dos 'tados Unidos Chegou todo em aviões Com armads e munições Qu'até vinham destemidos. - Estamos em gurra metidos, Ouviram-se alguns fulanos. Deram dinheiro a seus manos, Soldados de Portugal, Chegou-se ao ponto final, Vivas ós americanos.

IV A bordo dum submarino alemão Estava o maior obuz do mundo, Isto é falar a profundo, Fazia termer o chão. Pracia mesmo um trovão, Têm-me dito os Portugueses, Juntarnente aos ingleses Lá no campo de batalha Romperam contra a metralha. Viva também os Franceses.

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Agora vão uns versinhos do António que marchara para a Guerra. Foi a Guerra de 1914 a 1918.

O António que marchara para a guerra Pelos bosques, por aqueles campos fora Levava o seu pombinho de correio P'ra saber notícias de Leanora. Quando António lá no campo de batalha Uma granada próximo dele caíu. Ao rebentar da espoleta Quando se deu a explosão Um estilhaço o pobre António feriu. Veio então um carro da cruz vermelha Que conduziu o António ao hospital, Dando gritos, dando ais, dando gemidos, Encontrava-se o António muito mal. Tando António no hospital, em seu leito, Viu cair ao seus pés um pombo morto. Atravessou o Algarve, Alentejo e Beira, Atravessou o mar e todo o Porto. Levava uma amável cartinha Dizendo: Leonora vai casar. - Eu não sei se tu nunca mais regressarás. Não tou resolvida a por ti mais esperar. O António ao ler aquela carta Chorou, gritou, inté de manhazinha. Deu António brevemente os seus adeus, Nesse dia assim pela tardinha. Pela sua doce e linda amada Tanto que o António grita, geme e chora. As últimas palavras que o António transmitiu. Morreu dizendo: - Adeus querida, amada Leanora!

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"Tu bebeste'la cardina" Este poeta analfabeto foi só quem teve a dita de vencer o diabo ou seja, o Satanás, ou o demónio, ou Lúcifer... «Eu levava um revólver cheio de balas e as outras na caixa, mas eu não me vali do revólver cheio de balas.» «Vali-me da cruz.» «Não têm ouvido dizer que o “diabo foge da cruz como a pedra foge da funda”»? «Assim é que eu o venci.» «Foi entremeio da Borralha e do Barrinho.» «O bicho prantou-se no meio da estrada com os dois cornos na cabeça e um rabo encaracolado.» «E o bicho também é um grande cantor»!

- «Sabem a letra que ele me cantou, no meio da vereda por onde eu havia de passar.» Cantou-me assim: Tu bebeste la cardina Para boa fala ter Aqui está quem tem palavra Sem a cardina beber. E eu respondi-lhe: Eu sim bebi la cardina Mas não 'tou encardinado Eu tenho no céu da boca Um santinho escriturado.

Começou a termer que nem varas verdes. O cabelo parecia sevelas! E apois canti-lhe assim: Eu faço o sinal da cruz Da cabeça até aos pés... Eu sou filho de Jesus E tu, diz-me de quem és?

Ainda aí tenho testemunhas que ouviram o mato estrelar.

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

E agora mais uma história que se passou na América do Norte com um preto que era português, doutor de mecinas e major d'aviação... Estando um preto em regalia Num país altivo e forte Seguia pelo passeio Sem o mais leve receio Lá na América do Norte. Mas logo apareceu um guarda Que ao seu encontro veio: - Saia já rapidamente Porque tal raça de gente Não pode andar no passeio. - Sou desta raça, Senhor, Mas tenho um valor profundo. Sou dum país de valor, Muito nobre e sonhador, Conhecido em todo o mundo. E o preto então se parou Com a sua delicadeza, Pois nada se demorou, Tirou do peito e mostrou A bandeira portuguesa... E juntamente à bandeira Tirou também o cartão, Era doutor de mecinas E major d'aviação. Rendeu-se o guarda à vidência Ao ver tão lindo estandarte E ao preto fez continência E disse-lhe: - Vossa excelência Pode andar por toda a parte. - Quando chegar um paquete, Sr. Guarda, à outra vez, Peça primeiro o bilhete, Não faça o que agora fez. - Sr. doutor, tolerai-me, Tenha compaixão de mim. Meu salvador, ajudai-me, Nunca mais precido assim. Deu ao guarda americano Uma lição de moral O senhor doutor de mecinas E major de Portugal.

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E agora vou cantar uns versozinhos que eu tiri aos BOMBEIROS do mundo inteiro: Brilhante sociedade Esta cantiga é distinta E viv'ós bombeiros de Beja E os de S. Pedro de Sintra Brilhante sociedade Esta cantiga é igual Vamos dar viv'ós hombeiros A todos de Portugal Brilhante sociedade Esta vai a mais profundo Viv'ós bombeiros de Portugal E os bombeiros de todo mundo. Brilhante sociedade Isto são letras queridas Eu dou vivas aos bombeiros Porque salvam muitas vidas. Albernoa e Salvada, Serpa, Beja e Vidigueira, Cabeça Gorda e Trindade, Algarve, Alentejo e Beira. Tudo são localidades Onde brilha a mocidade Algarve, Alentejo e Beira. Cabeça Gorda e Trindade, Viv'ós nossos comandantes E o governador civil. Viv‟ó nosso Portugal Mais o seu irmão Brasil. Marinha, aviação e exército, Viva a todos em geral, Mais o seu irmao Brasil Viv'ó nosso Portugal.

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A BEJA

Oh Beja, tu és tão linda És tão linda e tanto brilhas As aldeias do Distrito São as tuas maravilhas. Cabeça Gorda e Trindade Santa Vitória e Alvito São as tuas maravilhas As aldeias do Distrito. E vivas ós trabalhadares, Mais ós nossos engenheiros, Viv'a todos os doutores E também aos serralheiros. Viv'a classe operária Professoras e professores, Mais aos nossos engenheiros Vivas ós trabalhadares.

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

Agora vou cantar uma que eu tiri na feira de Beja, já há uns 30 au 40 anos. Esta ganhi 10 litros de vinho. Não me responderam às perguntas que lh'eu fiz... Mote: Eu sou um analfabeto E vós homem d'educação Mesmo assim ó camarada, Entremos em discussão. Qual foi o rei sábio e poeta Por alcunha o lavrador Era de grande valor, Esta procura é discreta, Eu por mim sou quase profeta Tenho o sentido discreto, Procuro-lhe com afecto Na presença desta gente E responda-me de repente, Eu sou um analfabeto. Quem era a mãe e o pai Desse brilhante sujeito Digam lá de peito a peito Qu'ela assim derivada vai. Não quero que de nenhum ai Aqui fiesta ocasião Que eu só tremo a um pimpão Cantor do nosso país Se acaso é que sabe, diz Vós homem d'educação. Era d'alta categoria Diga a era em qu'ele nasceu, A esposa com quem viveu E em que era ao trono subria. Acabava-se a pousia Lançando a mão da espada, Já está desembainhada, P'ró problema resolver. Estou pronto p'ra combater, Mesmo assim, ó camarada. Procurai vossa vidinha Qu'esta é a minha legítima O que é uma tromba marítima O Sr. não adivinha. O que tem de ser caminha. Quem era a companheira do pai Adão? O nome dos filhos de Noé como são? O que era carpinteiro? Eu cá estou posto em terreiro, Entremos em discussão.

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

Quadra de um só ponto: Mote EU EU EU EU

ASSIM ASSIM ASSIM ASSIM

NÃO NÃO NÃO NÃO

SEI SEI SEI SEI

CANTAR CANTAR CANTAR CANTAR

Décimas Diz-me donde eram as abelhas E em que terra foram nascidas Se são curtas ou compridas, Abaixa-me essas orelhas. Diz-me donde eram as telhas P'ra primeira casa se telhar E quem p barro foi cavar E em que telheiro foram cozidas E este poeta aplaudidas, Eu assim não sei cantar. Diz-me donde estava o vento No dia primeiro do mundo. Teu saber não tem segundo Andas em grande talento. Responde-me ao mesmo tempo Em que t'eu estou a procurar. Se souberes explicar As procuras que t'eu faço Dou-te a mão, estendo o braço, Eu assim não sei cantar. Diz-me quem foi que ensinou Noé a carapimeiro. Arrasou-se o mundo inteiro Quando a arca se fechou. Diz-me aonde ela passou E a que sítio foi parar. E diz-me aonde é o lugar Que eu hei-de ser sepullado. Tu és poeta aprumado Eu assim não sei cantar. Diz-me poeta sagaz Aonde é que estava a cruz. Quantas piadas deu Jesus Com as mãos presas atrás. De Lurdes é casa tenaz (?) Diz se sabes relatar Quem fez o primeiro altar Quem fez a primeira igreja. E aí está para que se veja Eu assim não sei cantar.

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

I Quando este poeta canta Diz bases fundamemais. No centro da sepultura Todos nós somos iguais. Além se acaba a esp'rança, Debaixo da terra dura. Todos nós semos iguais No centro da sepultura.

II Deus para nos ensinar Seis dias trabalhou E o sétimo descansou Para se purificar. Pai Eterno, seu conforto, Também foi purificado Ames de ser sepultado Vem a tumba leva 0o morto. I Procuri a paz no munda Fui ó cemitério e li Estava um letreiro dizendo Não há paz senão aqui. Pus um pé na sepullura Uma voz me respondeu Tira ó pé que estás pisando Um amor que já foi teu. Pus um pé na sepultura Uma voz me assirn falou Tira ó pé que estás pisando Menina que já te amou. II Fui ao largo dos finados Onde vi tantos jazigos, Vi mulheres e vi maridos, Pais e filhos sepultados, Donzelas e namorados, Toda a nossa parenteira. Vi os nossos na carneira, Nem mais p'ra lá pude olhar, Fui obrigado a falar: - Adeus mirrada caveira. III Ela me deu de resposta: - Tirana morte, custosa, Já fui do mundo uma rosa, Hoje de mim já ninguém gosta, Fui uma flor disposta, Muitos me qu'riam colher. Fui sol brilhante ao nascer, Aurora, cor e constância, E tu que estás na tua infância Não te espantes de me ver.

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

Fui de noite a urn cemitério Deu-me horror, joguei um grito, Óvi uma voz flaudida: - Não venhas a este sítio. Eu fui p'ra ver mãe e pai, Fui p'ra ver os meus avós. Assusti-me de me ver só, Di um gemido e um ai. - O que entra aqui, nada sai, Respondeu-me um esquelério, Isto é um caso muito sério, Não é próprio p'ra quem é vidente. P'ra visitar a minha gente Fui de noite ao cemitério. Oh morte, tirana morte. Que amorteces o sentido, Para causares tanta pena, Tatno ai, tanto gemido. Traidora tem uma prima Que usa da mesma vingança, Seja velho ou criança Todos os dias faz vindima. À desgraça se aproxima, P'ra quem tem a pouca sorte, E ainda estive em suporte, Vive sempre em agonia. Tudo há-de acabar um dia Oh morte, tirana morte.

I Quanto te têm bradado P'ra que não vás a correr, Os que desejam morrer Porque os não tens levado? Tu deixas urn desgraçado, Levas mulher ou marido, Tanto carinho perdido Na flor da sua idade, Pela tua ruindade Que amorteces o senlido.

II Muitas vezes um pai tem Um filho que é seu herdeiro E gasta muito dinheiro Para o educar bem, Ó despois a morte vem Leva o seu filho querido, Fica a nada reduzido Que nem mais se torna a ver, Vem a morte triste trazer Tanto ai, tanto gemido.

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda Vou agora dizer aqui duas glosas ou sejam duas quadras qu'eu tiri no tempo da miséria, a miséria em que a gente vivia noutro tempo, que não havia abonos p'ra filhos nem pr'a filhas, e eu tinha três filhos em criação e duas filhas e sem terem abonos, sem coisa nenhuma, e então via-me à rasca. Foi no tempo qu'eu tiri estas duas, Fui nove anos ceifar arroz p'ró rio Sado e o primeiro ano que fui, despedi-me dos filhos - é a primeira; e ó depois os filhos tiraram outra quadra, os quatro.

Mote ADEUS MEUS QUERIDOS FILHOS QU‟EU VOU FAZER ABALADA NÃO POSSO OUVÍ-LOS CHORAR DENTRO DA TRISTE MORADA

Décima Este ano é tão ruim Já vejo a esperança perdida E terminará nossa vida Que já temos quase no fim, Portugal era um jardim Os mais anos eram brilhos Tenho no mundo cadilhos Sem nada para lhes dar E desde já vou retirar Adeus meus queridos filhos. Eu, de vós me separar Levo dor no coração Levo remorso e paixão Por não poder remediar. Farto-me d'imaginar Tenho a ideia maçada. Vou seguir por esta estrada Saio de casa no verão Para ver se arranjo pão Eu vou fazer abalada. Eu Perço à humanidade Que socorra estes desgraçados Estão chorando esfomeados Acreditem que é verdade. Eu 'stendo a mão à caridade P'ra quem me pode auxiliar Ver se posso sustemar Aqueles meus rapazinhos, Tristes deles, coitadinhos, Não posso ouví-los chorar. Peço à avó e padrinhos Às suas tias e tios Que as estimem, levem brios D'acariar os sobrinhos, Lh'aibram portos e caminhos P'ra seguirem na jomada, Que a sorte já está talhada, P'ra que de vós tenharn dó, Que o paizinho os deixa só Dentro da triste morada.

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E então eles coitadinhos, comovidos com a abalada do pai p'ra tão loins, e então tiraram também a sua quadra falando uns com os outros. Cada um dá a sua fala no MOTE e cada urn tem a sua DéCIMA. NOSSO PAIZINHO ABALOU - diz o mais velho QUIS A GENTE ABANDONAR - diz o segundo VENHA A MORTE DE REPENTE - diz o que tá em Beja E EU QUERO-ME SEPULTAR - diz a rapariga que era de mama O mais velho fala p're segundo:

Zequinha, escuta lá bem Isto que t‟eu vou dizer O qu'havemos nós de fazer, Estamos no mundo ao desdém, Eu por mim digo porém Vamos ter à do avô Pera ver s'ele concordou Com nós que semos netinhos. Chorando pelos filhinhos Nosso paizinho abalou.

Agora fala o 2º p'ró mais velho:

Mano Tói vamos pedir Q'eu tenho muita fraqueza. Nesta nação portuguesa Nós teremos que seguir. O pai por penas sentir Saíu de casa a pensar, Tinha que o acompanhar No peito grande arrelia Tanto bem qu'ele nos qu'ria Quis a gente abandonar

Agora o que está em Beja diz assim tinha 4 ou 5 anos:

Eu vou deitar meus planos Que sou o mais pequenino Não posso ir correr destino Na companhia dos meus manos. Golpes fatais e tiranos Caírarn em cima da gente, Eu já m'encontro dormente Das fomes que tenho passado, Por issa tenho gritado Venha a morte de repente

Agora diz a rapariguinha que era de mama

Eu não tenho farinha torrada Nem açucar p'ra'doçar Tenho mama p'ra mamar Que não sustenta quase nada. Do choro já estou cansada E vejo perdido o meu lar. Coveiro eu vou-te bradar Que tragas o enxadão E faz sepultura no chão Eu quero-me sepultar.

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Agora vou então dizer duas num pé só. Era um rapaz com uma rapariga. Ele, depois d'ela casar - já há quinze dias que tioha casado com outro. - ainda a queria roubar ao outro... Ele tirou-lhe uma quadra e ela respondeu-lhe com outra e não foi com ele. ELE chegou-se ao pé dela e disse-lhe assim:

RAPARIGA, VEM COMIGO SERáS MINHA COMPANHEIRA. UNIMOS OS CORAÇÕES TÉ UM DIA QUE DEUS QUEIRA. Tu foste a crialura A quem tive mais amizade, Esse amor de certa idade Só tem fim na sepultura. Eu amei-te com fé pura E o mesmo valor te ligo, Tu serás o meu abrigo E eu serei o teu arnparo, Nao ponhas nisto reparo, Rapariga, vem comigo. Tu foste a mais querida Que eu neste mundo amei. Ainda hoje por ti darei Meu coração, minha vida, Minha alma arrependida Da nossa amizade primeira. Tu não sereis a herdeira Dos meus afectos, meus carinhos E seguimos novos caminhos, Serás minha companheira. Tu foste aquela quem Que acordou meu coração, Antes de tomar feição Neste mundo a mais ninguém. Vejo o mal depois do bem Fazer estas divisões Procurar separações Eu de ti e tu de mim, Mas agora, até ao fim Unimos os corações. Nunca pensei em esquecer Quem por mim tanto chorou, A sorte assim me dotou Vou meu destino correr, Pode o sol inda nascer Co'a rnesma luz verdadeira Uma esp'rança lisonjeira No meu peito existia: Viver em tua companhia „Té um dia que Deus queira.

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E agora, respondeu-lhe a rapariga:

RAPAZ, EU NÃO VOU CONTIGO PODES VIVER DES CANSADO TENS ENTÃO QUE TE ESQUECER DO NOSSO TEMPO PASSADO Eu tinha 16 anos Quando amei Teu coração, Mas p'ra minha recompensão Recebi falsos enganos, Esses cruéis desenganos, Outros carninhos eu pressigo E eu a verdade te digo, Desculpa se nisto ofendo. Desde já ficas sabendo Rapaz, eu não vou contigo. Eu com vida e tu com vida, Eu vivente e tu vivente, Quando estivestes ausente Fui eu mal correspondida. Dessa luz amortecida Tenho o meu peito gelado, Hoje vives desemparado E eu remediar não posso, Sepultaste o amor nosso, Podes viver descansado. Muitas lágrima chorei, Era de menor idade, Além da tua crueldade Dois anos 'inda esperei, Duas cartas te mandei Sem uma resposta ter. Condcnastes o meu ser. Não tens de quem te queixar. Já não podes renovar Tens então de te esquecer. Nasce o sol, torna a nascer, A nossa arnizade não. Esse amor, essa feição Já o tempo fez perder. Tudo acaba em morrer, É remessa de pecado, Não acudiste ao brado De quem por ti fez excesso, Esquece, qu'eu também esqueço Do nosso tempo passado.

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

Agora vou cantar uma quadrazita qu'eu tirei a uma enfermeira aqui do hospital de Beja, que era muito boa p'ra mim quando eu tive lá 25 dias internado no ano passado, por ela ser muito boa. Ela tinha 23 anos, coitadinha, mas eu tirei-lhe estas glosas, mas livre d'interesse porque ela é uma menina de 23 anos e eu já tenho 79.

LENA TU ÉS UMA JÓIA LENA, TU ÉS UM ENCANTE SE O TEU AMOR TE DEIXAR VEM PARA MIM NUM INSTANTE. Eu sou o homem no mundo Que te tenho mais amor. Minha brilhante flor Isto é falar a profundo Como eu não tens segundo Qu'eu levo os navios à bóia, Eu passi perto de Tróia E lá sofri um grande p'rigo. Dormindo sonho contigo Lena, tu és uma jóia. Tudo quanto tens é lindo No teu corpo delicado, Eu em ti estou encantado E por ti 'tou penas sentindo. Às vezes digo sorrindo Que és uma menina brilhante, P'ra mim és a mais galanle P'ra mim és a mais querida. Eu por ti dou alma e vida, Lena, tu és um encante. Quando entri nesta pensão Que avisti a Lenazinha E achi-a tão bonitinha E tomi-lhe muita afeição, Dentro do meu coração Eu não a pude levar Mas saí nela a pensar Por esse mundo ao desdém. Pensa em mim, em mais ninguém, Se o teu amor te deixar. Leva dias inteirinhos Pensando em ti, santinha Tens a feição miudinha E possóis uns doces carinhos. S‟eu trilhasse esses caminhos Era um homem constante, Queira Deus que vá avante Esta sincera amizade. Minha linda saudade Vem para mim num instante.

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Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda

Esta tiri eu porque era o melhor cantor em cantigas provisórias nos balhos.

VOU-LHES DIZER, MEUS SENHORES QUE FUI UM GRANDE CANTOR E AGORA DESPOlS DE VELHOTE APRENDI A TOCADOR. Cantava noites inteiras Nos balhos das raparigas E as minhas lindas cantigas Eram sempre das primeiras. Até às horas derradeiras Cantava p'rós meus amores Deram-me muitos louvores Por eu ser o campeão Nunca perdi na acção Vou-lhes dizer, meus senhores. Canti com os operários. Canti c'os trabalhadores. Eu fui um dos professores Di lições aos milionários. Estudi muitos calendários Cada um de sua cor Foi a ordem superior Qu'eu di à „ómanidade Acreditem que é verdade Que fui um grande cantor. Toco viola e rebeca Toco retinha e clarim Toco guitarra e bandolim Agó despois de careca Já toco melhor qu'o Zeca Porque Deus me deu este dote Toco sexifone e foxtrote E toco na minha buzina Toco banjo e concertina E agora despois de velhote. Toco flaita e corneta Toco ferrinhos e palitos Toco pif‟ro e muitos apitos Mas também toco trombeta. Toco na minha pandareta Que sou homem de valor E toco pratos e tambor Onde faço os meus aposentos Toco todos os instrumentos Aprendi a tocador.

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PENEDO GORDO (Freguesia de Santiago Maior - Beja)

Nome - Joaquim Silva Naturalidade - Penedo Gordo Residência - Penedo Gordo Idade - 48 anos em 1986 (?) Habilitação – 4ª Classe Profissão - Trabalhador rural

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Joaquim Silva - Penedo Gordo

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Joaquim Silva - Penedo Gordo

Mote DEU O 10 UMA FACADA NO 20 QUE ESTAVA DEIT DO O 30 BAILA O FANDANGO E O 40 BATE FADO Dé cimas Número 1 estava a dormir Número 2 estava também, Foi buscar o 3 a Belém E o 4 não quis cá vir, O 5 estava-se a rir E o 6 a tocar alvorada, Veio o 7 de espada Pôs corn o 8 no castelo E veio o 9 de Melo Deu ao 10 uma facada. O 11 ficou enraivecido Pôs com o 12 na baraIha, Veio o 13 de navaIha E o 14 ficou torcido, O 15 ficou vencido. O 16 ficou zangado, Veio o17 de cajado E o 18 é que venceu Mas o 19 é que bateu No 20 que estava deitado. 21 toca cavaquinho 22 toca rebeca 23 levado da breca Pôs com o 24 ao cantinho, O 25 mede o vinho, O 26 está vendendo, O 27 baila o tengo, O 28 ali ao pé. O 29 mói café. E o 30 baila fandengo. O 31 é adegueiro, 32 vende atum, 33 baila lindum, 34 é borracheiro, 35 é marinheiro E o 36 anda embarcado, 37 homem honrado E o 38 é mariola, 39 toca viola E o 40 bate fado.

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Joaquim Silva - Penedo Gordo

Quadras que o Manuel de Castro (Cuba) fez à vida da enxada, desde o seu início até ao fim, ditas por Joaquim Silva, do Pencdo Gordo: Mote: FUI NOVA, CORTANTE ENXADA, DESBRAVEI, CAVEI O CHãO. FUI SUCATA ABANDONADA. AGOR'ANDO NUM CANHÃO. Ainda me lembro de ser A pedra do mineral. Lembro-me da luta infernal Do braço p'ra me colher. Levaram-me a derreter, Fui em ferro transformada. Fui depois à martelada Numa bigorna estendida, Deram-me a forma devida, Fui nova, cortante enxada. Comprou-me um moço possante, Pôs-me um cabo de madeira, Lá fui na segunda-feira Nos braços desse gigante. Dcede esse dia em diante Foi a minha profissão Desbravar terras de pão, Relvas, vinhas e olivais, Vinte anos ou talvez mais, Desbravei, cavei o chão. Começava de manhã Scmpre em luta rigorosa. Mesmo em terra pedregosa Cada vez com mais afã. Trabalhei enquanto sã Ou poder ser consertada. Já rasinha e dilatada Deixei de ser ferramenta, Fui p'ró campo ferrugenta Fui sucata abandonada. Passei anos sem valor Com velhos ferros com'eu, Até que um dia apareceu Lá por casa um comprador. Meteram-me num vapor. Fui a nova fundição, Mas por meu triste condão Deixei de cavar na terra, Mandaram-me para a guerra Agor'ando num canhão.

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Joaquim Silva - Penedo Gordo Quadras que o Manuel de Castro, da Cuba, fez ao poeta António Hilário quando lhe faleceu a mulher.

Mote JÁ NÃO POSSO SER CONTENTE TENHO A ESPERANÇA PERDIDA ANDO PERDIDO ENTRE A GENTE NÃO MORRO NEM TENHO VIDA Quebrou-se o laço que era O meu enlevo de viver,

Quero e não posso esquecer A dor que me dilacera. Passa doce a Primavera Para mim é-me indiferente, Minha alma já não sente Perfumes dessa beleza. Galvanizou-se a tristeza, Já não posso ser contente. Em permanente tormento Noites e dias palpito; Descreio, não acredito No fim do meu sofrimento Se me vem ao pensamenlo A doce imagem querida Mais aumenta a dor sentida De crescente nostalgia. Não posso ter alegria, Tenho a esp'rança perdida. Taciturno, entristecido, Cabisbaixo, torturado, Ruminando amargurado, Vagueando compungido, Sem caminho definido, Sem rota nem oriente, Enfadado, inconsciente, Sem amparo e sem desejo, Alheio a tudo o que vejo, Ando perdido entre a gente. Não há nada neste mundo Que console a minha alma, O matírio desceu à palma O meu desgosto profundo, Sou errante vagabundo Sem conforto, sem guarida, Vivendo de dor vertida, Sem poder rir, nem chorar, Enquanlo por cá andar Não morro nem tenho vida.

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Joaquim Silva - Penedo Gordo

Mote FUI-ME UM DIA A VER O MAR FIQUEI MUITO ADMIRADO DE QUEM BRIGA Há TANTOS ANOS E 'INDA NÃO 'TEVE PARADO. Bendito seja o poder Do autor da natureza Que formou com tal grandeza Tudo o que eu estou a ver. Das ondas sempre a bater. Em contínuo, sem cessar, Eu tenho ouvido contar Desde a minha mocidade, E eu pr'a saber da verdade Fui-me um dia a ver o mar. Vi um actor de talento Pela praia a passear. Fui curioso a perguntar: - Quem fez este firmamento? Estava sério, sem fazer vento, Ares e mato, tudo parado, Até mesmo as folhas do prado Não se viam nem mexer, Mas as ondas sempre a bater. Fiquei muito admirado. Mesmo a actor me respondeu: - Sabedoria nunca sobra, Com respeito a esta obra Sabes tanto como eu. Esta resposta me deu Urn homem de tantos planos, Todos temos seus enganos E mais a história da vida. Ainda ninguém deu saída A quem briga há tantos anos. Se o mar um dia saísse Fora do seu natural, Seria um dia fatal P'ra tudo quanto existisse, Se o Deus o não oprimisse Ao seu lugar destinado, Tanto que tem trabalhado Depois que Deus o formou Ainda não se esgotou E 'inda não 'teve parado.

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QUINTOS

FRANCISCO LUÍS

JOSÉ MESTRE

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FRANCISCO LUÍS e JOSÉ MESTRE - QUINTOS

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FRANCISCO MANUEL LUÍS - QUINTOS

Nome - Frnacisco Manuel Luís Naturalidade – Quintos Residência – Quintos Idade - 67 anos (nasceu em 14 de Março de 1920) Habilitações - Sabe ler e escrever Profissão – Reformado

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FRANCISCO MANUEL LUÍS - QUINTOS

Mote EM CONSIDERAR EM CONSIDERAR EM CONSIDERAR EM CONSIDERAR

COMO COMO COMO COMO

EU EU EU EU

ERA SOU ESTAVA ESTOU

Tudo se ria de mim Pela minha má figura O povo em tudo murmura Agora não é assim Minha vida é urn jardim No rigor da Primavera Há mais tempo quem me dera Ter a mesma opinião 'Inda hoje me dá paixão Em considerar como eu era. Paródia e bebedeiras Foi o meu gozo ideal Eu fui o ponto final Que deu brado nas fileiras Nada me dava canseiras Mas agora tudo mudou Eu bem sei que alguém juntou Dinheiro à minha custa Hoje poupo e tenho alegria Em considerar como eu sou. Muita falta de visão Temos esse guia sem crença Sem gasto nem consciência Não juntava um tostão Que no apontar lá se vão Dez por cento que aumentava Mais tarde quando pagava Amigos era um inferno ?(era como se fosse um Inverno) Em considerar como estava Foi Deus a minha desgraça E a sorte para outro lado Estava talvez sepultado Muitos julgam que é chalaça Tromentos que um homem passa A quem culpas não dou Amigos já se acabou A galhofa e a fartura Estou cheio de loucura Em considerar como eu estou.

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FRANCISCO MANUEL LUÍS - QUINTOS

Mote NO TEMPO DO ZALASAR NÃO SE VIA NINGUÉM NA PONTE ANDA VA TUDO PEDINDO ESMOLA DE MONTE EM MONTE. Não havia reformados Esses que havia eram poucos Tinham que morrer aqueles Para eles meterem outros. Nesse tempo até os mortos Era quem ia votar Ninguém podia piar Reinava este organismo Quem mandava era o fascismo No tempo de Salazar. Nesse tempo era o agrário Que impunha as suas razões Só se via era os patrões Ninguém falava em salário A vida era urn calvário Do pobre ignorante Nunca vi no horizonte Ponto que estávamos sentindo Para o burguês era lindo Não se via ninguém na ponte. Tinha muito lavrador Isso não digo que não Era uma escravidão Do nascer até ao pôr O rico era um traidor Ainda se ficava rindo Punha a guarda perseguindo Os que pediam esmola ?(de bordão e de sacola) Andava tudo pedindo. Alguns que tinham mais vista A pide não os deixava O patrão só lhe chamava Refilão e comunista Muitas vezes terrorista São águas da mesma fonte Como caso consoante Andava tudo a lutar Cansados de mendigar Esmola de monte em monte.

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FRANCISCO LUÍS e JOSÉ MESTRE - QUINTOS

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JOSÉ MESTRE - QUINTOS

Nome - José Mestre Naturalidade – Quintos Residência – Quintos Idade - 62 anos (nasceu em 10 de Fevereiro de 1925) Habilitação - Sabe ler e eserever Profissão - Reformado

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JOSÉ MESTRE - QUINTOS

Mote EU TENHO RECORDAÇÃO AMIGO JOSÉ MARIA CONHECI-O CÁ NA FEIRA DIZENDO QUADRAS DE POESIA Nós fomos convidados Para uma anexão Ternos vinho carne e pão E fomos bem obsiquiados O senhor Ferro tem bons lados É o guia e o varão Expôs a tradição Com ideias subjegadas Acompanhando os camaradas Eu tenho recordação. Viva a cidade de Beja É a nossa capital Viva a Câmara Municipal Que a todos dá inveja Bons ideais a proteja Com prazer e alegria É a minha simpatia Com amor e saudade É a expressão da verdade Amigo José Maria. O trabalho camarário Tem dado muita vida É uma paixão sentida A pessoas sem salário Ternos urn bom munetário Presidente à nossa beira Tudo puxa pela carteira Com dinheiro para se manter Eu fiquei a conhecer José Maria cá na feira. José Maria é poeta Tem famosos poemas Vamos ter as nossas teimas Mas sempre em linha recta É uma palavra concreta Pela minha autoria Mostre-me a sua sabedoria E dê-me cá a sua mão Quero-lhe prestar atençao Dizendo quadras de poesia.

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JOSÉ MESTRE - QUINTOS

Mote A ESCOLA É MUlTO IMPORTANTE EU TENHO QUE APRENDER A LER DIZ 0 ANTIGO DlTADO ESTUDAR ATÉ MORRER Posso dizer a um individo Faça favor de me escrever Dou os segredos a saber E descubro o meu sentido Até posso ser iludido Por um qualquer mainante Há dias que sou estudante Faço força de aprender Eu próprio é que tenho que escrever A escola é muito importante. Sou adulto e analfabeto E ando agora a estudar Para poder recordar Para que seja mais discreto Ter o cérebro mais aberto Serve para homem e para mulher É esse o nosso dever Nesta minha opinião Estou agora em (opinião) missão (?) Eu tenho que aprender a ler. Tenho 57 anos Ando de noite à escola Não sou pedra que rebola Deito bem os meus planos Para livrar de falsos enganos Tenho que ser bem preparado Com a escrita a meu lado Com todos os pontos legais O saber nunca é demais Diz o antigo ditado. Quando eu pego no jornal Que me ponho a estudar Começo a observar Para conhecer o bem do mal Se a conversa é natural Até gosto muito de ler Sinto comigo este prazer Dum tão grande resultado E vale muito ser educado E estudar até morrer.

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JOSÉ MESTRE - QUINTOS

Mote HÁ MUlTO TEMPO QUE NÃO CHOVE E AS PLANTAS SEM ALEGRIA E DEVEMOS CONVENCER (comprecnder) SEM ÁGUA, NADA SE CRIA. O tempo é nosso rival E eu sinto essa mágoa E o sangue da terra é a água É a base principal Não ha quem possa retrubar É isso que me comove Nao há quem reprove Essa grande evolução E temos que pedir perdão Que há muito tempo não chove. Pouco tempo choveu no Natal Nada choveu em Janeiro... Há uma parte de Fevereiro Que vai procedendo igual E isto é só para matar. Se há um Deus não devia Com essa soberania Mandar essa sequidão... Diminuindo a produção E as plantas sem alegria... Acaba-se a eleclricidade E acaba-se o regadio E acaba-se a água no rio E acaba-se a capacidade E acaba-se a boa vontade... E por o caso não chover Acaba-se-nos o comer Que é o nosso encosto Tá mesmo à flor do rosto E devemos compreender (convencer). Ó meu Deus, não estou contente Estamos na terra castigados. Não há pastagens para os gados E nem comida para a gente. Devia mandar água sempre Como falta ela fazia... Vivíamos com mais regalias Para a nossa subsência... E é a devina pravidência Sem agua nada se cria.

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JOSÉ MESTRE - QUINTOS

Mote COM ESTA MINHA IDADE NUNCA VI UM TEMPO ASSIM A BASE DE NÃO CHOVER ESTÁ TUDO A LEVAR FIM. O que é feito de Portugal Com a sua população A terra não criou pão Estamos num golpe fatal É uma paixão infernal Estenda a mão à caridade Mesmo com o dinheiro não há-de Quem nos possa socorrer E não cheguei a conhecer Com esta minha idade. Temos o nosso estado Compra trigo ao estrangeiro Vai gastar muito dinheiro Que o escudo está a desvalorizar O país está empenhado E a reserva de ouro está no fim É essa conta assim Já está tudo reduzido É a base de não ter chovido Nunca vi nada assim. Há muilo dinheiro mal gasto Em apitos e flautas Levam ouro e trazem latas Está a nação em arrastos Todos os anos um padrasto E todos se querem encher O pobre está a sofrer E eles vivem à vontade E mais esta infelicidade É a causa de não chover. Manda dinheiro o amaricano Para a gente se governar E manda a bomba nuclear Para que um dia seja dono É esse o seu plano Penso eu cá para mim Estava um homem em Berlim Que é da mesma cercustância Por não vir água com abundância Está tudo a levar fim.

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FRANCISCO LUÍS e JOSÉ MESTRE – QUINTOS - final

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Santa Clara do Louredo (Boavista)

Maria Helena Severino Mário da Conceição José Joaquim lnácio Bárbara dos Santos Madeira José Jacinto

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Santa Clara do Louredo (Boavista) Maria Helena Severino Mário da Conceição José Joaquim lnácio Bárbara dos Santos Madeira José Jacinto

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Maria Helena Severino - Santa Clara do Louredo (Boavista)

Nome - Maria Helena Severino Naturalidade - Santa Clara do Louredo Residência - Santa Clara do Louredo Idade - 22 anos (em 1987) Habilitação – 2º Geral de Administração e Comércio Profissão

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Maria Helena Severino - Santa Clara do Louredo (Boavista)

EU QUERO QUANOO MORRER...

EU QUERO QUANDO MORRER QUE O SINO TOQUE BEM FORTE QUE TODOS PENSEM UM POUCO COMO É TRISTE QUALQUER MORTE MAS POR FAVOR, NÃO ME LAMENTEM E DEIXEM DE CHAMAR LENA NÃO QUERO QUE NINGUÉM CHORE NEM QUE DE MIM TENHAM PENA NÃO TENHO MEDO DA MORTE NEM ELA DE MIM, SUPONHO, POIS SÓ MORRENDO SE PODE VIVER O ETERNO SONHO.

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Mário da Conceição - Santa Clara do Louredo (Boavista)

Nome - Mário da Conceição Naturalidade – Trindade Residência - Rua da Liberdade, 13, Santa Clara do Louredo Idade - 64 anos (nasc. 1920/22?) Habilitação – 3ª classe Profissão - Reformado

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Mário da Conceição - Santa Clara do Louredo (Boavista)

Décimas dedicadas a alguns vultos heróicos da nossa história de Portugal. Mote HOUVE ILUSTRES PORTUGUESES QUE SE NOTABILIZARAM MUITAS VILAS E CIDADES NOUTROS TEMPOS CONQUISTARAM. Tenho primeiro a assinalar O filho do Conde D. Henrique Que em Valdevez e Ourique Soube o seu valor mostrar Tendo de contra a mãe lutar Sofrendo estes revezes Após vence os Leoneses Na batalha de Cerneja E duma tão nobre peleja Houve ilustres portugueses. Nasceu Camões sem igual Como príncipe de escritores E para sercm aviadores Gago Coutinho e Cabral Que sobre o céu de Portugal Todo o mar atravessaram Primeiros homens que voararn Dentro do nosso país E duma tal forma se diz Que se notabilizaram. Os grandes descobrimentos Devem-se aos antepassados Visto anotar-se em reinados Uns tais empreendimentos Cheios de audácia, de tormentos Vencem grandes tempestades As suas agilidades Foram bem apreciadas E são por outros retomadas Muitas vilas e cidades. Tiveram três invasões A sustentar com Castela Que segundo nos revelam Essas velhas tradições Actos de abenegações Muitos heróis praticaram Que o seu sangue derramaram Por tão sucessivas guerra Em que aos Mouros, imensas terras, Noutros tempos conquistaram.

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Mário da Conceição - Santa Clara do Louredo (Boavista) Décimas dedicadas a diversos cognomes que foram atribuídos a alguns reis portugueses.

Mote O PRIMEIRO REI DE PORTUGAL CHAMOU-SE (CONQUISTADOR) D. DUARTE O (ELOQUENTE) D. DINIS O (LAVRADOR). D. Manuel o (Venturoso) Lhe chamou a nossa história D. Joao l o de (Boa Memória) E D. Fernando o (Formoso) D. João III o (Piedoso) Creio chamar-se afinal D. Miguel o (Liberal) E D. Pedro o (Justiceiro) Sendo D. Afonso I O primeiro rei de Portugal. Filipe II o (Pio) Que nos foi de imenso agravo D. Afonso IV o (Bravo) Que como herói se distinguiu E como castelos erigiu D. Sancho I o (povoador) FiIho do grande Fundador Do território português Em que o pai por sua vez Chamou-se o (Conquistador). Pela forma exemplar D. Pedro V o (Esperançoso) D. Afonso VI o (Vitorioso) Por vitórias alcançar D. Luis o (Popular) D. Joao VI o (Clemente) Filipe I o (Prudente) Esse título lhe foi dado D. Sebastião o (Desejado) D. Duarte o (Eloquente). D. Joao II o (Príncipe Perfeito) Se chamou tal soberano D. Afonso V o (Africano) Que lhe coube por direito E por epíteto conceito D. Carlos o (Caçador) D. José o (Reformador) Por o serviço que prestou E, como terras cultivou, D. Dinis o (Lavrador).

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Mário da Conceição - Santa Clara do Louredo (Boavista)

Poema dedicado ao 25 de Abril de 1974 NO VINTE E CINCO DE ABRIL SEGUNDO FOI RELATA DO POR AS NOSSAS FORÇAS ARMADAS FOI FEITO UM GOLPE DE ESTADO. Pelas três da madrugada Tivemos informações Que de tropas, munições Estava Lisboa cercada Ficando um tanto alarmada Toda a população civil Desvendando sonhos mil Da extinta modalidade Que deu acesso à Liberdade No vinte e cinco de Abril. Acentuarn nos jomais Como a rádio esclarece Que os da PIDE DGS Foram grandes criminais Fazendo injúrias tais Tendo muitos matratado E por tal mal ter praticado Por políticas sugestões São detidos nas prisões Segundo foi relatado. Para a queda do fascismo Há muito se trabalhava De momento não se esperava Dum acto tão brilhantismo Graças ao militarismo Por as boas regras prestadas Que merecem ser gravadas Nas páginas da nossa história E foi conquistada a Vitória Por nossas Forças-Armadas. De toda a massa popular Nós queremos o povo unido Que jarnais será vencido Bern vos posso assegurar Que o regime Salazar Foi por certo derrubado Ficamos muito obrigado À Junta de Sal vação Que pr'a nossa libertação Foi feito um golpe de Estado.

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Mário da Conceição - Santa Clara do Louredo (Boavista)

Dedicadas a alguns feitos históricos. CONSTROEM-SE AS CAR A VELAS QUE ERAM BEM NECESSITADAS P'RA GLÓRIA DE PORTUGAL FORAM FROTAS PREPARADAS Pelos mares flutuou A bandeira portuguesa Como símbolo de grandeza Com que a pátria triunfou Nenhum país nos igualou Em proezas como aquelas Foi das nações, entre elas A de um valor mais distinto E no século XV (décimo quinto) Constroem-se caravelas. D. Dinis dcscnvolveu Nossa mercante marinha Visto que a nação não tinha Navios p'ra transporte seu Uma ordem estabeleceu Que árvores fossem plantadas Pr'a dessas serem tiradas Madeiras para construções E para diversas embarcações Que eram bem necessitadas. P'rós mares desconhecidos Nunca dantes navegados São marinheiros enviados Por D. Henrique escolhidos Dos êxitos obtidos Pela construção naval Dcvem-se ao grande imortal Que para essa arte estudou Quarenta anos trabalhou P'ra glória de Portugal. Vasco da Gama partiu De Lisboa a navegar Urn caminho pelo mar Para a Índia descobriu Como heróico conseguiu A mais dura das jomadas Nas águas nunca sulcadas Vence grandes vendavais Para este e outros mais Foram frotas preparadas.

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - José Joaquim lnácio

Nome - José Joaquim Inácio Naturalidade - Santa Clara do Louredo / Boavista Residência - Santa Clara do Louredo / Boavista Idade - 48 anos em 1987 (nasceu em 13/05/1939) Habilitação – Analfabeto Profissão

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - José Joaquim lnácio

Décimas dedicadas a Portugal. PORTUGAL TÃO PEQUENINO POR MUITOS ÉS ELOGIADO PELAS NAÇÕES ESTRANGEIRAS TU JÁ ESTÁS AMEAÇADO. Portugal é um jardim Diz a alta burguesia Só vive na galeria E não conhece o tempo ruim. E querem levar a paz ao fim Com um supremo devino Mas a natureza é que leva o destino E aquilo que tiver de ser E eu não te queria conhecer Portugal tão pequenino. Tens uns grandes capitalistas Portugal, à tua beira São esses que fazem a feira Com o suor dos melhores artistas. Umas ideias tão previstas Já as havia de ter importado, Com esse grande palavriado Levam-te a um tribunal E a causa do teu mal É seres tão elogiado. Lá vão para o estrangeiro De automóveis e aviões Esses grandes figurões Que são os donos do dinheiro Para aterrorizarem o povo inteiro Levando as suas bandeiras. Eles fazem grandes feiras Com o braço de quem trabalha Tu estás a cometer uma falha Pelas nações estrangeiras. Eles só querem gozar Em banhos e recreios E em grandes ou pequenos meios A nenhuns querem faltar Mas deviam se lembrar Do triste pobre desgraçado Qu anda aí sobesgado Para ganhar vintém E a recompensa logo te vem Tu estás ameaçado.

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - José Joaquim lnácio

Décimas edicadas ao lar que está em construção na Boavista. DÊEEM LOUVOR AO SENHOR PADRE MOREIRA TEM AUTORIA E CAPACIDADE ESTÁ CONSTRUINDO NA BOA VISTA UMA LAREIRA PARA RECOLHER A TERCEIRA IDADE. jÁ construiu em Albernoa E tern outro em Ervidel É um homem honesto e fiel P'ra acariciar qualquer pessoa. Tem uma natureza boa. Trabalha assim desta maneira E lá vai seguindo a carreira E segue-a sempre em recta linha E diz este Joaquim Zorrinha Dêem louvor ao sr. Padre Moreira. É um ser que nasceu p'ra trabalhar E tem mais que uma profissão E em qualquer ocasião Também pega na enxada e vai cavar E vai plantas plantar Tendo para isso possibilidade. Planta flores de melhor qualidade E vai fazendo vida assim Junto ao lar planta urn jardim. Tem autoria e capacidade. Em qualquer ocasião dá uma missa Pelos nossos antepassados. Pelos seus descendentes são lembrados E quem trabalha assim não tern preguiça. Se há alguém que lhe dá a cobiça A rezar pela padroeira Senhora Santa Clara é a primeira Está logo lá à entrada da igreja E muita gente alcança o que deseja Quando estiver pronta esta lareira. Já fez urn infantário na Trindade E agora um lar na Boavista. Assim vai fazendo sua conquista Sem o contrariarem na vontade Trabalha sem loucura e nem vaidade E assim vai seguindo este caminho. Acareia qualquer pobrezinho E assim vai defendendo a cristandade. Junto à Igreja deixa um cantinho Para recolher a terceira idade.

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - José Joaquim lnácio

Dedicads aos filhos do próprio autor. HOUVE ALGUÉEM QUE ME VEIO PEDIR COISAS QUE EU TINHA EM ESTIMAÇÃO EU DEI-AS DE BOA VONTADE E FIZ A MINHA OBRIGAÇÃO. Há um certo tempo passado Que eu as não dava a ninguém E hoje dei-as a alguém Que eu vejo o tempo chegado Porque vou estando velho e cansado E são horas de as dividir Não as posso mais possuir Que a lei da vida manda assim E as flores do meu jardim Houve alguém que me veio pedir. Eu tinha um jardim composto Com quatro flores em esquadria Que me davam prazer e alegria E um cravo para lhes dar mais gosto. Eu a todos beijava o rosto Com a mesma satisfação Dava a todos o mesmo quinhão O mesmo carinho e o mesmo amor. Hoje dei, sem ser par favor Coisas que eu tinha em estimação. A primeira a abalar Do jardim, foi a Maria. Diamantina segue a mesma via Depois de um ano se aproximar. Hoje é a Mariana e a Guiomar. Também estão dentro da idade, E assim separo a irmandade, Uns por aqui, outros por além, Mas eu não dou queixas a ninguém, Eu dei-as de boa vonlade. Filhas, busquem seus futuros! Vão lá seguindo seus carninhos. Lembrem-se de que deixam os troncos velhinhos Que já vão estando nos apuros Mas que desprezo um ar tão puro Foi de nascimento e criação Sem saber para onde vão Será melhor ou mais ruim? Eu já cumpri o meu dever até ao fim E fiz a minha obrigação.

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Dedicadas às endoenças. 5ª FEIRA DE ENDOENÇAS 6ª FEIRA DE PAIXÃO SÁBADO DE ALELUIA DOMINGO DE RESSUREIÇÃO. Vamos todos adorar Que é esse o nosso dever. Só Deus é que tem o poder De viver e ressuscitar. Eu vi igrejas armar. Eu vi coisas tão imensas Eu vi homens, eu vi crianrças Adorando o Salvador. Vi as trevas do Senhor, 5ª feira de Endoenças. Naquele dia amargurado Que o Senhor morto se achou, Tanto que a virgem chorou, Por ver seu filho crucificado. Eu disso não sou culpado, E respondeu mal a Abraão Tu és da mesma geração De urn malvado traidor E mataste nosso Senhor 6º feira de Paixão. Vai daqui Jesus dos malvados Que os teus bravos fariseus Mataram o nosso Deus, Necessitavam morrer queimados, Precisavam ser pendurados E arrastados pela rua A uma alma negra e crua Do demónio tentador... E que mataste Nosso Senhor Sábado de Aleluia. E assim que veio o terceiro dia Ouvi os galos cantar Ouvi o povo anunciar - Viva o filho de Maria! Já para o céu subiu Pela sua direita mão P'ra nos dar a salvação E a sua santa cadeira Ressuscitou nossa bandeira Domingo da ressureição.

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - José Joaquim lnácio

Dedicadas a uma rapariga que se afogou na Boavista. NO DOZE DO CINQUENTA E CINCO NO DIA SETE DO CORRENTE UMA JOVEM SE AFOGOU CAUSOU PENA A MUITA GENTE. Tinha dezanove anos de idade Diamantina Damião Fundou no peito uma paixão Que a levou à eternidade. Ela era a flor da mocidade Na vista do povo era um brilho Não se lhe conhecia urn mau instinto Para ninguém era maldosa... Sepultou-se uma flor formosa No doze do cinquenta e cinco. Cobria de luto seu coração Quando para o poço caminhava Pela triste ideia que levava De fazer para ela uma traição A papel e lápis lançou a mão Escrevendo ao pessoal mais pertencente Dizendo que ia morrer de repente E que de ninguém se despedia Que findava a vida nesse dia No dia sete do corrente. No dia do funeral Juntaram-se suas amigas Foi um grupo de raparigas Que lhe conduziu o corpo ao local... Chorava o povo todo em geral Pelo caso que se passou... E a Diamantina que não pensou Ali findava a sua espcrança. Ficou para o povo toda a lembrança. Uma jovem se afogou. Disditosa, Diamantina Já na terra não existe. Morreu de uma morte tão triste Aquela infeliz menina. Há um destino que domina A pouca sorte de qualquer vivente. E a morte, como é influente Pelas flores mais formosas, Roubou a rainha das rosas... Causou pena a muita gente.

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - Bárbara dos Santos Madeira

Nome - Bárbara dos Santos Madeira Naturalidade - Santa Clara do Louredo (Boavista) Residência - Santa Clara do Louredo (Boavista) Idade Habilitação Profissão

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - Bárbara dos Santos Madeira

Versos à minha vida. Eu encontro-me tão triste Pois eu não tenho ninguém. Só peço a Deus paciência E adoro a quem me faz bem. Estou inutilizada Eu nada posso fazer Pois as da minha família É que cram para me socorrer. Se eu hoje tivesse o meu filho, Nada seria assim... Eu peço do coração A quem tenha pena de mim. Eu fui uma boa irmã... Eu nunca estava parada... Agora infelizmente, A mim, ninguém me faz nada. A Casa do Povo nos dá Suficiente para comer... Mas o conforto faz falta, Ajuda-nos a viver. É tanta a infelicidade... Nem com os vizinhos tive sorte. Eu hoje digo, com franqueza: - "Eu só desejava a morte". Eu tenho a agradecer A quem me tem feito bem... Pois não há nada mais triste Que a gente não ter ninguém. Veio-me cá aos meus ouvidos Uma conversa em latim... A mim ainda ninguém disse: - "Ó tia venha para aqui". Não digo mal de ninguém... Eu só falo da minha vida. Ó terra que estás gastando Prenda de alma tão querida. Eu fui-me internar num lar Porque me vi sem ninguém... Mas Deus assim destinou Ainda para cá voltei Nós ficarmos sem ter mãe Isso era um corpo só... Quem me havia de dizer Que, de mim, ninguém tem dó.

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - Bárbara dos Santos Madeira

PÁTRIA

Quem estas poesias fez É uma mulher portuguesa... Não que elas tenham beleza Senão a que Deus lhes deu... Nesta nossa Pátria amada Onde existe o amor fingido Estejamos em sentido Pais viaja o inimigo Por cidades e campinas... Demos gorjeta aos ardinas Para espalhar o que se passa... Nesta terra lusitana Eu vejo dos altos montes A água limpa das fontes Que pertence a esta raça. Nesta Pátria de beleza Onde o sol passa baixinho Tratemo-nos com carinho Tratemo-nos com amor Brilhando como uma flor. Perfume de violeta Que foi criado por Deus Esse Deus criador Criando-nos como uma flor Dando-nos só uma cor. Se as cores forem demais Caímos como pardais Nas armadilhas tiranas... Nas margens do rio Guadiana Criam-se grandes trigais. No berço em que nós nascemos Sendo todos portugueses... Uns pobres... Outros burgueses... Nesta luta que travamos Querendo ser todos iguais... Mas Deus assim destinou O próprio filho não poupou. Nasceu pobre como os mais.

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ANDORINHAS NEGRAS

Venham andorinhas negras... Andorinhas do Além Mar Venham andorinhas negras No meu regaço poisar E comer as migalhinhas Que eu tenho para lhes dar. CORO: Andorinhas negras... Dispersas por esse ar. Andorinhas negras... Nas palmeiras a poisar. Andorinhas negras, parai! Ao meu regaço as chamarei Comamos do mesmo pão Vivamos da mesma lei. CORO... Andorinhas negras... Tão magrinhas e pobrezinhas, O que foi que lhes fizeram Alguém lhes comeu seu pão Ou foi outro pão que lhe deram? CORO... Andorinhas negras... Andorinhas que não têm amor Andorinhas negras... Que vivem só do calor!...

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POESIA ÀS PAPOILAS

As papoilas encamadas Como as rosas nos rosais. São tão lindas, engraçadas A brilhar entre trigais. Quando a brisa vem do Sul Luzem as espigas e elas... Brilham como, no céu azul, De noite brilham estrelas. Quando o trigo, ao sol se malha, E de Verão as raparigas, Enfeitam chapéus de palha Com as papoilas amigas. Há gente que nas papoilas, Tem uma certa devoção, Por isso vão apanhá-las, Quinta-feira de Assunção. CORO POIS SÃO LINDAS, DELICADAS, COMO AS ROSAS NOS ROSAIS, AS PAPOILAS ENCARNADAS A BRILHAR ENTRE OS TRIGAIS.

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - Bárbara dos Santos Madeira

POESIA AO SOL

GOSTO DO NASCER DO SOL DA VIDA COR E CALOR A TODA A PLANT A E FLOR QUE A TERRA BOA NOS CRIA... O SOL DÁ TODA A ALEGRIA DÁ VIDA, COR E CALOR. O PÔR DO SOL E BONITO FAZ NUVENS DE TODA A COR... DÁ COR ÀS ÁGUAS CORRENTES VAI ATÉ AO ORIENTE DESPEDE-SE DE TODA A GENTE DÁ VIDA, COR E CALOR. VAI-SE O SOL E VEM A LUA, MENINA ESTÁS À JANELA, LlNDOS CRAVOS ENCARNADOS É CERTO QUE A NOITE É BELA É BELA PARA OS NAMORADOS...

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - José Jacinto

Nome - José Jacinto Naturalidade - Santa Clara do Louredo (Boavista) Residência - Santa Clara do Louredo (Boavista) Idade - 53 anos em 1987 (nasceu em 13/05/1934) Habilitação - Sabe ler e escrever Profissão - Trabalhador rural

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - José Jacinto

Décimas ddedicadas à vida de emigrante: Mote ABALEI COMO EMIGRANTE PARA A VIDA MELHORAR. TENHO MUITO DE SOFRER PARA OS MARCOS GANHAR. Dexei a Terra Natal E passei pela Espanha A França e a Alemanha... Aqui cheguei ao final Lembrei-me de Portugal Que me estava tão distante Mas pensei no mesmo instante: - Tenho um contrato a cumprir – Não precisei de fugir Abalei como emigrante. Pelo Natal regressei Depois de uns cinco meses Casos que se dão às vezes - escutem que eu contarei – Quando as férias terminei Vim a Lisboa embarcar A Hendaya vim parar Mas ali deu-se uma cena: - Vejam o que um homem pena – Para a vida mclhorar. Quando o bilhete moslrei Disseram-me que não seguia Que não era para esse dia... - Calculem como fiquei – Pela carteira puxei Para o assunto resolver Mas nada pude fazer Porque não tinha dinheiro... Para vir p'ró estrangeiro Tenho muito que sofrer. Em Handaya andei perdido Com minha boina na mão Pessoas de bom coração Lá foram contribuindo Fui dinheiro adquirindo Para o bilhete comprar... Em Paris, teve que pagar Uma espanhola o transporte - Vejam bem a minha sorte Para os marcos ganhar.

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Santa Clara do Louredo (Boavista) - José Jacinto

Mote QUEM ME HAVIA A MIM DE DIZER VOU DEIXAR O ESTRANGElRO... DEIXEI MULHER E FILHINHOS SÓ POR CAUSA DO DINHEIRO. Quando me deito a dormir Começo logo a sonhar Que estou dentro do meu lar Até me começo a rir Tenho que esta lei cumprir Agora não posso perder Tenho que me convencer Ja terminei o contrato Pelos meus filhos me mato... Quem me havia a mim dizer. Abalei de Portugal Vim com esta ilusão Todos quantos aqui estão Padecem do mesmo mal Mas ganham mais eapital Recebem mais dinheiro... Apenas sou o primeiro... Que não faço uma hora E vou-me daqui emhora Vou deixar o estrangeiro. Três filhos na criação Abandonados pelo seu pai Mas este pobre aqui vai Com uma mágoa no coraração Para ganhar algum tostão Para os trazer vestidinhos Não lhes posso dar carinhos E nem os posso beijar... Quando estarei a abraçar... Deixei mulher e filhinhos. Em Lisboa ao embarcar Foi quando perdi a fé. Fiz a viagem de pé Que não apanhei lugar. Foram-me o lanche roubar Um velhaco traiçoeiro. Nunca mais vi o padeiro. Fiquei muito aborrecido. Não devia ter saído Só por causa do dinheiro.

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FINAL Santa Clara do Louredo (Boavista) Maria Helena Severino Mário da Conceição José Joaquim lnácio Bárbara dos Santos Madeira José Jacinto

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SÃO MATIAS

Joaquim Piriquito Júnior

Joaquim António Ruaz

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SÃO MATIAS Joaquim Piriquito Júnior Joaquim António Ruaz

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SÃO MATIAS - Joaquim Piriquito Júnior

Nome - Joaquim António Piriquito Júnior Naturalidade - São Matias Residência - Rua Dr. Covas Lima, nº 10, S. Matias Idade - 63 anos em 1987 (nasc. 1924/12/05) Habilitação – 4ª Classe Profissão - Trabalhador rural

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SÃO MATIAS - Joaquim Piriquito Júnior

Mote EU MAL APRENDI A LER NUMA ESCOLA PARTUCULAR QUANDO FIZ A QUART A CLASSE DEU-ME VONTADE DE CHORAR. Décimas Comecei na incerteza Na vida triste e sombria. Na classe que pertencia Ainda imperava a pobreza. Foi com imensa tristeza Que ao meu pai ouvi dizer - Tens que ir ganhar para comer... - Tem paciência, Joaquim... – Nesse tempo a vida era assim Eu mal aprendi a ler. Era um garoto franzino Com pouca saúde também Os meus irmãos com desdém Chamavam-me: - Menino fino. Por malfadado destino Tive que a escola deixar Fui umas cabras guardar Mas sempre num livrito li Para não esquecer o que aprendi Numa escola particular. Já homenzinho ingressei Num teatro de amadores - Imaginem meus senhores Como contente fiquei! Sempre com afinco estudei O papel que me calhasse Esperando que me deparasse Alguma oportunidade... Foi aos vinte e oito anos de idade Quando fiz a quarta classe. Surge o presépio sagrado Auto de meditação e fé... O papel de S. José Foi por mim interpretado. Depois de o ter terminado Um padre me veio chamar Para no palco me apresentar Como verdadeiro artista... Senti humedecer a vista... Deu-me vontade de chorar.

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SÃO MATIAS - Joaquim Piriquito Júnior

Mote SE TEVE A INFELICIDADE SE NÃO APRENDEU A LER VÁ À ESCOLA COM A TENÇÃO AINDA PODE APRENDER. Não precisa ser chamado Pode ir quando quiser, Seja homem ou mulher, Seja solteiro ou casado, Não deve estar envergonhado, Nem sentir inferioridade. Não tem limite de idade Para se valorizar... Deve agora aproveitar Se teve a infelicidade. O que hoje se pode fazer Para amanhã não se guarda. A D. Maria Eduarda Recebe-o com muito prazer. Quanto mais gente aparecer Com mais gosto ensina a lição. Para ser urn cidadão Livre de obscurantismo Libcrte-se do analfabetismo Vá à escola com atenção. Porque é que não aceitarnos Aquilo que nos querem dar? De quem nos quer ajudar Porque não nos aproximamos? Se indiferentes ficamos Que lhe pode acontecer? Pode mais tarde dizer: - Bastante pena eu tenho. Em ir à escola faça empenho Se não aprendeu a ler. Ainda pode possuir O que tanta falta lhe faz. Não diga que não é capaz De esse dom adquirir. Se chegar a conseguir Pode seus versos escrever. Deve de comparecer Na escola sem demora. Aquilo que ignora Ainda pode aprender.

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SÃO MATIAS - Joaquim Piriquito Júnior

Homenagem a António Aleixo Mote NÃO SOU ESPERTO, NEM BRUTO NEM BEM, NEM MAL EDUCADO SOU APENAS O PRODUTO DO MEIO EM QUE FUI CRIADO. Ao lembrar o personagem Que este mote escreveu A oportunidade que me deu Pard lhe prestar homenagem Com espírito de camaradagem Defendo o meu reduto Ao meu cércbro recruto Talento e sabedoria Para dizer como ele dizia: - Não sou esperto nem bruto. Não sigo suas pegadas Nem o posso igualar. Ao seu mote vou juntar Estas minhas simples quadras Humildemente rimadas Com este significado Para que não seja abandonado O Património Cultural. Sou um cidadão afinal Nem bem nem mal educado. Não posso rivalizar Com poetas deste quilate. Cometia um disparate Se nisso fosse pensar. Limito-me a valorizar O meu saber diminuto Para não ficar de luto Nem sequer mal cultivado. Do que tenho concretizado Sou apenas o produto. Falando de António Aleixo Grande poeta algarvio Quem me dera ter seu brio Circular no mesmo eixo... Quem não tern o apreteixo Dum cérebro privilegiado Como ele foi dotado... Eu não tiveesse condão Vou mantendo a tradição Do meio em que fui criado.

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SÃO MATIAS - Joaquim Piriquito Júnior

Mote PUS-ME A ESPREITAR O VENTO AMENAMENTE SOPRANDO. VI AS ÁRVORES EM MOVIMENTO PARECIAM ESTAR DANÇANDO. Vi em frente uma oliveira Com bastante ramaria Dançando também parecia Uma enorme figueira Ao lado de uma laranjeira... Um pessegueiro mais dolento... Veio-me logo ao pensamento: Que quadro tão maravilhoso! Como sou assim curioso Pus-me a espreitar o vento. Como é linda a natureza Como é sorridente e bela. Nao me canso de olhar para ela Contemplar sua beleza Com muila delicadeza Seus mistérios vou desvendando. Às vezes de quando em quando Como imperador me revelo... Verifiquei qu'o vento é belo Amenamente soprando. Os ramos menos desenvolvidos Imitam as mesmas danças... Pareciam as crianças Danrçando entre os mais crescidos... Pareciam tão divertidos Nesse preciso momento Quando eu estava atento A ver o que se passava... Tudo isto se me afigurava As árvores em movimcnto. Foi assim na solidão Curiosamente a olhar... Tudo isto me faz lembrar Aquela movimentação... Até me dava inspiração Que os ramos so iam beijando... Fui isto descortinando Dos raminhos engraçados Como pares de namorados Pareciam estar dançando.

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SÃO MATIAS - Joaquim Piriquito Júnior e Joaquim António Ruaz

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SÃO MATIAS - Joaquim António Ruaz

Nome - Joaquim António Ruaz Naturalidade - S. Matias Residência - R. Dr. Covas Lima, Nº 57 A, S. Matias Idade - 52 anos (em 1986) Habilitação – 4ª Classe Profissão - Comerciante

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SÃO MATIAS - Joaquim António Ruaz

Cena do Campo

I Sai o rebanho p'ró prado O pastor o vai guardando... Atrás vai o cão de gado Companheiro indispensável Que é para ir ajudando. II As ovelhas vão pastando E andam de lado p'ra lado... Encostado ao seu cajado O pastor o vai guardando Sai o rebanho p'ró prado. III Os pássaros dão alvorada De amannhãa cedo a cantar... Ainda de madrugada Sai o pastor da malhada P'ró seu rebanho guardar. IV Se a ovelha vai andando E o cordeiro fica atrasado... Ouvem-se os lobos uivando Enquanto o cão vai ladrando P'ró pastor ser avisado.

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SÃO MATIAS - Joaquim António Ruaz

Pensamentos I Se rico é ser alteza Ter saúde é ser abastado Ter miséria é ser aleijado E ser pobre por natureza Foi destino que Deus deu A quem sofre resignado... - Ao imitar o tormento meu – Fica livre de pecado Já basta o que sofreu. II Nos subúrbios da cidade Dormem sempre os regeitados De toda a socicdade... Por agirem com maldade Ou por o destino levados Na tristeza da solidão Todos esses seres são Vítimas da Humanidade. III Há quem fuja ao seu destino No caminho da verdade... Sem haver realidade O adulto e o menino Fica sendo um peregrino Longe da eternidade. IV Ser humilde e cumpridor Dos seus deveres naturais É aproximar-se mais Da vida no seu valor Nao fugindo às regras normais Que o homem tem ao seu dispor. V O valor aos principais Há sempre uns ou outros que dão... Não havendo menos, nem mais Não haveria distinção Seríamos todos iguais. VI De mais e menos de tudo um pouco O mundo está composto... Um é certo, outro é louco... Um tem gosto, outro desgosto... Segundo as estatísticas Quem tem estas características Bem se conhece no rosto.

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FIM SÃO MATIAS - Joaquim Piriquito Júnior e Joaquim António Ruaz

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SANTA VITÓRIA

FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO

Nome - Francisco da Encarnação Naturalidade - Santa Vitória Residência - Santa Vitória Idade - 65 anos (em 1987?) Habilitação – 4ª Classe Profissão – Trabalhador rural

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SANTA VITÓRIA - FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO

Versos soltos

I Os meus versos a ninguém Conseguiram comover... Só eu é que sinto bem O que bem não sei dizer. II (Num parque infantil)

Sois crianças Mal despertando Futuras esperanças... Asas voando. III (Em homenagem a duas professoras jovens cá da terra)

É missão prestigiada Têm a graça do Senhor Educar a pequenada Com carinho e com amor.

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SANTA VITÓRIA - FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO

POESIA Mote A POESIA INSPIRADA TEM ATRAENTE BELEZA. INSPIRAÇÕES CATIVANTES ENCERRAS TU, NATUREZA. Eleva o pensamento A um desconhecido tema... Depois surge o poema Obra de grande talento. Firme em fundamento É bastante admirada... Honra lhe é prestada Em prol da conjugação... Tem um especial condão A poesia inspirada. A maneira ponderada Tem um especial encanto... O autor supriu-a tanto Pois não lhe falta nada... Arte bem poetizada Deslumbra sua grandeza... De magnífica surpresa Satisfaz mil ilusões... Além dessas condições Tem atraente beleza. Nos silvados ao luar O rouxinol quando canta O seu gorgeio que encanta Faz o poeta inspirar... Oh! Natureza sem par De prazeres deslumbrantes Mostras cenas variantes Belezas inolvidáveis Estudos insaciáveis lnspirações cativantes. Nas ramagens verdejando Os inocentcs alados Os campos primaverados O camponês labutando O sol que vem apontando... Contada a sua pureza A terra, grande riqueza, O mar manso e agitado... Um poema inopinado Encerras tu, Natureza.

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SANTA VITÓRIA - FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO

A VOZ DO SINO INDOLENTE A VOZ DO SINO INDOLENTE RESSOA NA CAPITAL ABAFANDO AIS OPRIMIDOS QUE NÃO FESTEJAM O NATAL. Repicadas vibrações Da tua voz tradução São dadas como brasão Em nobres vastos salões... Só trazem desilusões Ao triste povo indigente Lembrando constantemente O seu viver gemebundo... Dá este efeito profundo A voz do sino indolente. Com brilhantes vibrações A tua voz orgulhosa Para uns és tão ditosa Trazendo mil atrações... São os escravos, os negrões Do paraíso terreal... Teu hino celestial Aviva-lhes dor aguda Para eles tão absurda Ressoa na capital. A tua voz tão distinta 'Companha risadas loucas Saídas de nobres bocas Longe da mesa farninta E ainda há quem desminta Casos tão escurecidos... E que o grupo dos subidos Não passa bizarramente Junto à tua voz dolente Abafando ais oprimidos. O alto patriotismo Desta tão grande nação Vê nascer com presunção Uma flor do empirismo Grande força do egoismo Derrubando o seu rival Do mundo lodo actual Vivendo na escravidão... Muitos há sem lar nem pão Que não festejarn o Natal.

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SANTA VITÓRIA - FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO

Poema deicado à PAZ Mote MALDITA SEJA A GUERRA TRISTONHO CATACLISMO... MALDITA CHEIA DE HORRORES SEM MORAL NEM CIVISMO... Além vai um regimento Rapazes novos possantes Levam nos peitos amantes Cada qual seu sentimento... Ferindo-lhes o pensamento Vai uma dor que os aterra Tudo neles se encerra Numa esperança sem norte Vão de encontro à morte... Maldita seja a guerra. Discute-se em parlamento O patriotismo ofendido... O povo sai convencido Para a guerra no merccimento (?) Zeloso no cumprimento Vai cair no abismo... Surge então o terrorismo Efeitos de maldição Malvadez, devassidão Tristonho cataclismo. A flor da juventude Alma da pátria amada A que não fica lá tombada Volta com pouca saúde. Oh! que perversa atitude Que traz tantos dissabores Lágrimas, tormentos e dores Baixeza da boa moral! És por tudo afinal Maldita, cheia de horrores. A França tem bem visíveis Nas camadas sociais Verdadeiras credênciais Retratos bem conhecíveis. São deixas inesquecíveis Das guerras, o fatalismo Cenas de romantismo Apenas pela tangente Perdição de muita gente Sem moral nem civismo.

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Final SANTA VITÓRIA - FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO

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CONCURSO / 85

subordinado ao mote: QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO, SE A RAZÃO MESMO VENCIDA, NÃO DEIXA DE SER RAZÃO? António Aleixo in "Este Livro que eu vos deixo" p.35) Participaram os poetas populares:

JOÃO BATISTA CAVACO, de Beringel ALFREDO SEBASTIÃO JOSÉ, de Cabeça Gorda JOSÉ JACINTO, de Santa Clara de Louredo (Boavista) MARIA GUIOMAR RODElA PENEQlJE, de Beja ANA RITA DA GRAÇA, de Albernoa

NOTA: Os poetas que concorreram têm outros poemas nesta antologia, à excepção de JOÃO BATISTA CAVACO, de Beringel, que cuncorre aqui com três poemas diferentes, glosando o mesmo mote.

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CONCURSO / 85

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CONCURSO / 85 - JOÃO BATISTA CAVACO, de Beringel

Nome - João Batista Cavaco (Mano Chico) Naturalidade – Beringel Residência – Beringel Idade - 52 anos em 1987 Habilitação – 4ª Classe Profissão - Motorista de táxi

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CONCURSO / 85 - JOÃO BATISTA CAVACO (Mano Chico), de Beringel

QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO, SE A RAZÃO MESMO VENCIDA, NÃO DEIXA DE SER RAZÃO. Isto a vida é uma ilusão Férias que vamos passando... Assim vão muitos lutando Para angariar seu pão. Há quem tenha compaixão E dor muito ressentida Ver a esperança perdida Por erros mal praticados... Mas, se deixa o nome gravado, Que importa perder a vida? O povo ser mais unido, Não haver ódio, nem rancor... Tratar-se com mais amor... Ninguém se achar ofendido... Tolerar... ser divertido... Ter, na vida, devoção... Usar de boa comunhão Para colegas e companheiros... Saber dar golpes certeiros Em luta contra a traição. O povo trabalhador Anda no mundo esquecido... Está, de novo, reprimido Por gente (?) que não tem valor... Governos, de várias cores, Sem ter peso nem medida, Trazem a malta desiludida, Sem mostrar algum interesse... Não se devia ver, mas vê-se, Se a razão, mesmo vencida... No redondel da nossa história Houve muitos acontecimentos... Alguns estão no esquecimento, Outros ganharam glória. Não sairá da memória O último, ainda em questão, Filmado na televisão E transmitido para a Europa, Que envolveu civis e tropa E nãa deixa de ter razão.

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CONCURSO / 85 - JOÃO BATISTA CAVACO (Mano Chico), de Beringel

QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO, SE A RAZÃO, MESMO VENCIDA, NÃO DEIXA DE TER RAZÃO. Diz-se que parar é morrer... É um ditado muito certo. Quem vê a morte de perto Tem razão para o dizer. É lutar para viver E é uma luta renhida... A morte nao esul esquecida... Ser rico ou pobre não importa... Depois de a vida, estar morta. Que importa perder a vida. Não devia de haver ciúme Em todo o ser vivente... Ser livre e independente Como o fumo que sai do lume... No fim, tudo se resume Em gestos de consolação, Amor, paz e gratidão... São obras de bem fazer E até se pede morrer Em luta contra a traição. Há gente boa e há daninha, Outra má e arrogante. Há outra, que, a todo o instante, Se mostra ruim e mesquinha. É esta a ideia minha Na azáfama vivida... É uma rosa florida Com tendência de murchar, Mas não devemos parar... Se a razão mesmo vencida... Numa angústia cerrada Vive o povo português Desejando ver outra vez Esta pandilha mudada. Deles não se espera nada, Sabe qualquer cidadão... Cada vez mais mal estão Os que têm que trabalhar, Que, por tanto lamentar, Não deixa (m) de ter razão.

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CONCURSO / 85 - JOÃO BATISTA CAVACO (Mano Chico), de Beringel

QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO, SE A RAZÃO, MESMO VENCIDA, NÃO DEIXA DE TER RAZÃO. HÁ muitos que temem a morte Julgando-a mal encarada... Para outros, não é nada. Desprezando a sua sorte... Interessa, é o bom porte E a morte andar esquecida... Se ela vier em corrida. Saber, porém, enfrentá-la; Mas, se puder, enganá-la... Que importa perder a vida. Na época que atravessamos Já não há sinceridade. Há falta de honestidade Para onde nos voltamos. Mas, porque não nos amamos E usamos bom coração... Dar aos que pecam, perdão, Usar e dar tolerância, Desprezar a ignorância... Em luta contra a traição. Nossa vida é um engano, Foge, sem se dar por isso... Seja branco, preto ou mestiço Todos são um ser humano... Ainda há muito fulano Que faz asneiras sem medida, Usando a mais atrevida Farsa de compaixão... E, quer por tudo ter razão... Se a razão, mesmo vencida... Se o pobre pensasse bem E se soubesse unir Até se podia rir Daquele que fortuna tem. Disse-o há tempos alguém Que ouve falta de união Ao acabar a escravidão, Na década dos setenta... Quem muita miséria enfrenta Não deixa de ter razão.

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CONCURSO / 85 - ALFREDO SEBASTIÃO JOSÉ, de Cabeça Gorda

QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO. SE RAZÃO, MESMO VENCIDA, NÃO DEIXA DE SER RAZÃO? Neste mundo onde habitamos E onde a paz anda perdida, JÁ Pouco ou nada ganhamos... Que importa perder a vida? Se o homem não conseguir Acabar com tanta maldição, Como podemos nós resistir Em luta contra a traição? Todos nós desejamos a paz, Ela que nos é tão querida. Nunca iremos voltar atrás, Se a razão mesmo vencida... Será o futuro a dizer Com castigos ou perdão, Se, como estamos a viver, Não deixa de ser razão.

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CONCURSO / 85 - ALFREDO SEBASTIÃO JOSÉ, de Cabeça Gorda

QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO. SE A RAZÃO, MESMO VENCIDA, NÃO DEIXA DE SER RAZÃO? Há tantos seres humanos Que não amam a liberdade, Por vingança ou por maldade Ofendem quaisquer fulanos... São esses os desumanos. Muitas vezes sem guarida Com a esperança perdida Pela própria natureza Em legítima defesa Que importa perder a vida? Vejo tanta criatura Que não tendo p'ra comer Que nada querem fazer Para uma vida mais pura. Vivendo na amargura Sem terem dinheiro, nem pão E são contra a oposição De quem os quer ajudar... Não é caso de admirar Em luta contra a traição. Nem sempre é conseguido Levar a cruz ao calvário Muitos pensam ao contrário Que d'outros é preferido Por vezes tempo perdido A Batalha meio perdida Não pode ser esquecida Seja ela como for Nunca perdeu o seu valor Se a razão mesmo vencida. Há tanta gente a lutar P'ra um mundo diferente Sabe-se que muita gente Que anda mesmo a empeçar Para não se realizar É essa a sua intenção Verem de novo na mão O que se chama Poder Par não chegar onde quer Não deixa de ser razão

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CONCURSO / 85 – MARIA GUIOMAR RODEIA PENEQUE, de Beja

QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO, SE A RAZÃO, MESMO VENCIDA, NÃO DEIXA DE SER RAZAO? Filha de madre fecunda Cais na terra fio de água Formaste rio de mágoa Mar de tristeza profunda; No teu peito chaga funda Cada dia mais sentida Porque te sentes despida De tanto que te faltou. - Ave que a asa quebrou "Que importa perder a vida" Nunca tiveste brinquedo Menina do olhar triste; De alegria nunca riste (Até de rir tinhas medo); Tu comias o segredo À dentada como o pão; Seres pedra-do-mija-cão Sempre foi a tua sina. - Vives, desde pequenina "Em luta contra a traição". Tiveste um sonho dourado: Cresceres e ser mulher E, num cantinho qualquer Fazer o teu Eldorado; Teres urn jardim perfumado Seres a rosa estremecida Mas...traiçoeira é a vida - Ao sonho tira a razão "Se a razão, mesmo vencida". Mulher multifacetada; Mãe madrasta amante ama Esfregão panela carna (Pode amar sem ser amada) Ser querida ou rejeitada Vir da lata ou do salão: Para a sua promoção Mais igualdade se quer! - Ser triste por ser mulher "Não deixa de ser razão".

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CONCURSO / 85 – ANA RITA DA GRAÇA, de Albernoa

QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO, SE A RAZÃO, MESMO VENCIDA, NÃO DEXA DE TER RAZÃO? A razão é muito forte Tu não a podes vencer Estarás até à morte E um dia terás de ceder; Há o direito de ser Há o direito à vida; Palavra tão esquecida Quando o homem faz a guerra, Para haver paz na terra Que importa perder a vida? Como podes ter razão Se não a podes comprar O mundo feito então Da injustiça a mandar, E como pode parar A chama deste vulcão Se o homem com a sua ambição Faz da morte uma corrida Eu daria a minha vida Em luta contra a traição. Toda a beleza da terra, Tu devias conhecer Nesta tão grande esfera Tudo pode acontecer A árvore do grande saber, A tua estrada da vida Tantas vezes sem saída E os teus direitos são? Não! Tu és filho da razão Se a razão mesmo vencida. A caminho da escola A estrada do saber Um livro vai na sacola... Criança, vais aprender Mas como compreender Se tudo istoé ilusão Se ele tem de ganhar o pão Para o seu pai ajudar Criança, o teu chorar Não deixa de ter razão. (Nota: os últimos sete versos desta última décima foram omitidos no livro impresso, em 1989, com data de 1987! Foi recuperada pelas fotocópias guardadas dos originais fornecidos pelo Abílio Teixeira.)

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ANEXOS O porquê os anexos - JRG

Pareceu-nos importante acrescentar alguns anexos a esta colecânea de POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA. O primeiro motivo é porque há poesias que podem parecer plágio de outras já recolhidas ou no CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS coligido por J. Leite de Vasconcellos, com coordenação de Maria Arminda Zaluar Nunes – Acta Universitatis Conimbrigensis, Por Ordem da Universirlade, 1ºv. 1975, 2ºv. 1979 e 3ºv. 1983; ou no subsídio para O CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO, com comentário, recolhido e notas de Manuel Joaquim Delgado, Instituto Nacional de Investigacão Científica, Lisboa, 1980 (2ª edição – 1ª de 1955). Outro motivo é porque alguns poetas já foram dados a conheeer noutras publicações (três que nós saibamos): em HÁ TANTA IDEIA PERDIDA...(2) – 2º ENCONTRO POETAS POPULARES ALENTEJANOS, Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça, Vila Viçosa, 1982, (em que participou Maria Guiomar Peneque de Beja, p. 155 - 158); e em DO LATIFUNDISMO À REFORMA AGRÁRIA - O CASO DE UMA FREGUESIA DO BAIXO ALENTEJO (ALBERNOA), de Afonso de Barros, ESTUDOS, Instituto Gulbenkian de Ciências, Centro de Estudos de Economia Agrária, Oeiras, 1986, em que o autor, em Anexo II, publica recolhas de sete POETAS POPULARES DE ALBERNOA, da p. 575 à p. 616, onde, entre outros, aparecem poemas de Luís Correia e de Perpétua das Dores Mateus. Com isto queremos pura e simplesmente evitar discussões inúteis sobre plágios ou repetições de temas mais favoritos dos poetas populares, ou, o que é mesmo o mesmo, mais de acordo com o gosto popular que estes poetas têm normalmente em conta; e, por outro lado, queremos sublinhar o facto de estes poetas populares se mostrarem conhecedores do que é mais divulgado do Caneioneiro Popular Português, como acontece em quadras, temas, etc. sem se preocuparem muito com os direitos de autor e sem perderem nada da sua criatividade e originalidade,

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O porquê os anexos - JRG

antes não se coibindo de mostrar abertamente as fontes donde recolhem a inspiração. Talvez seja importante referir, até para justificar a publicação desta colectânea POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA - que, infelizmente, e até para este caso, se verificar a marginalização a que normalmente tem sido votada esta região, nenhum destes poetas, apesar de a maioria ser de idade avançada, se encontrar nas recolhas: POETAS POPULARES ALENTEJANOS, recolha, organização e introdução de Modesto Navarro, Editorial Vega, 1980; POETAS POPULARES, Colecção Poesia, de Fernando Cardoso, s/origem e s/d, mas com prefácios de 1976 e 1977 e composição e impressão nas oficinas Gráficas Tecniset, Lisboa. Creio não podermos acusar qualquer destes investigadores de intencionalmcnte quererem marginalizar o Concelho de Beja. Resta-nos constatar que, para romper com o famigerado fatalismo de atraso cultural que normalmente se atribui ao Alentejo e em especial a esta Região do Baixo Alentejo, só há um caminho: Não podemos estar à espera que OS OUTROS revelem a nossa CULTURA; Ou somos nós a reonhecê-la e dar a conhecer e a afirmamos como parte integrante do património cultural do País e do Mundo, ou ninguém o virá fazer por nós. E, o que é mais grave, é que nesta corrida de integrações à escala Europeia e Universal, corremos o sério risco de sermos riscados do mapa, como se a NOSSA CULTURA não tivesse qualquer valor. Ora a quc qucremos al1rmar é: - que não ignoramos a CULTURA nacional nem a internacional; - mas também não queremos ser ignorados, nem pela CULTURA nacional, nem pela internacional. - Somos parte integrante do Mundo em que vivemos e temos VOZ activa na sua História.

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ANEXO I “Tu beste‟la cardina” – (Duas quadras do CPP, Lagos, semelhante à da Cabeça Gorda)

Duas quadras in CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS, coligido por J. Leite de Vasconcelos, coordenação de Maria Arminda Zaluar Nunes, II V., Acta Universitatis Conimbrigensis, Por Ordem da Universidade, 1979, p. 407, integradas no cap. XXVIII, SUPERSTIÇÕES, 1. Crenças Várias.

Tu bebeste'la cardina Para melhor falar ter; Aqui 'stá quem te injumina Sem em cardina beber.

Se eu bebi la cardina, Eu não 'stou encardinado, Pois tenho no céu da boca O Bom Jesus sacramentado*.

Pareceu-nos importante esta transcrição para comparar com as quadras do poeta ALFREDO SEBASTIÃO JOSÉ, (vide p. 96) da Cabeça Gorda, em que ele usa estas quadras recolhidas em Lagos, pelo Dr. José Leite de Vasconcellos, mas com alterações que as integram no seu universo cultural e no dos seus ouvintes; e além disso lhes acrescenta uma quadra original, integrando tudo num relato espantosamente vivo em que ele se convence e quase nos convence do ENCONTRO REAL QUE, ELE POETA, TEVE COM 0 DIABO, apresemando testemunhas e tudo... Cremos poder ser este um bom exemplo do poder de efabulaão dos poetas populares que ao mesmo tempo que são FAZEDORES e ou só DEZEDORES DE QUADRAS E POEMAS OU DÉCIMAS, são, também, afinal, uns espantosos CONTADORES DE HISTÓRIAS. *Diz a superstição popular que há pessoas que têm no céul da boca a forma dum crucifixo.

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ANEXO II O PRETO - “certo preto, grande esteio...”

Transcrição da poesia O PRETO, in “subsídio para O CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO, vol.II, comentário, recolha e notas de Manuel Joaquim Delgado, Instituto Nacional de Investigação Científica, 2ª edição. Lisboa, 1980, na p.113, na Terceira Parte, POESIAS DIVERSAS, em que M. J. Delgado diz nomeadarnente: "Ocupam papel de relevo na poesia popular os curiosos e engraçados romances em verso, que tratam, em geral, de cenas amorasas, episódios guerreiros e heróicos, aventuras e narrativas históricas". Este, é o relato de um episódio, por assim dizer, banal, mas que, no nosso universo de "colonizadores exemplares", interessava empolar e divulgar... Em nota, no final do poema, diz-se: "Poesia recolhida em Amareleja, Moura, de autor desconhecido". Infelizmeme, M. J. Delgado não nos diz de quem a recolheu e se essa pessoa conhecia ou não o poeta popular da Cabeça Gorda, Alfredo Sebastião José que já fazia poemas à I Grande Guerra de 1914 / 18, ou se os dois poetas recriam afinal um episódio divulgado na época... e cada um o modificou, um ponco à sua maneira, pois há quadras que são praticamente decalcadas. Parece-nos, entretanto, que num DESPIQUE, tão ao gosto destes POETAS POPULARES, o poema de Alfredo Sebastião José, se apresenta mais complelo e bem acabado, o que pode também deixar a ideia de que será ele o seu primeiro autor... Se o não é, o facto é que ele o recria e o diz com uma vivacidade e uma autenticidade espantosas, que cativam e seduzem as ouvintes... Este poema é constituído por 6 quintilhas, de versos de redondilha maior, e com uma rima perfeita ABAAB em todas elas. O de Alfredo Sebastião José é constituído por 9 estrofes, sendo cinco quintilhas e as restantes quadras. Os versos são de sete sílabas, mas o 1º verso das quintilhas fica em branco na primeira e na segunda estrofe, pois não rima com o 3º e 4° versos e a quadra que fica entre as quintilhas não tem a rima quadrada... Estamos perante retoques de mão erudita em poema inicialmente popular, ou estamos perante a apropriação feita por poetas populares de um poema que lhes chegou ou foi "fornecido / sugerido" pela poesia erudita / propagandista?...

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ANEXO II O PRETO - “certo preto, grande esteio...”

Certo preto, grande esteio, Num país altivo e forte, Sem o mais leve receio, Seguia pelo passeio Lá na América do Norte.

Alfredo Sebastião José - Cabeça Gorda Ver p. 97 E agora mais uma história que se passou na América do Norte com um preto que era português, doutor de mecinas e major d'aviação...

Diz-Ihe urn guarda, de-repente, Que ao seu encontro veio: "Saia já rapidamente, Não pode andar no passeio."

Estando um preto em regalia Num país altivo e forte Seguia pelo passeio Sem o mais leve receio Lá na América do Norte.

- Sou desta raça, senhor. Mas tenho urn valor fecundo: Sou dum país de valor, Muito nobre e sonhador, Conhecido em todo o mundo. Sua voz alevantou Para lhe dizer com tristeza: - "Vai já saber donde sou", E no peito lhe mostrou A Bandeira Portuguesa Diz-lhe depois em seguida Desta forma altivamente: - "Esta Bandeira tão querida Representa toda a vida E o valor da Lusa Gente". Rendeu-se logo à evidência Ao ver tão lindo estandarte... Ao preto fez continência E disse: "Vossa Excelência Pode andar por toda a parte. (Poesia recolhida em Amareleja, Moura, de autor desconhecido.)

Mas logo apareceu um guarda Que ao seu encontro veio: - Saia já rapidamente Porque tal raça de gente Não pode andar no passeio. - Sou desta raça, Senhor, Mas tenho urn valor profundo. Sou dum país de valor, Muito nobre e sonhador, Conhecido em todo o mundo. E o preto então se parou Com a sua delicadeza, Pois nada se demorou, Tirou do peito e mostrou A bandeira portuguesa... E juntamente à bandeira Tirou também o cartão, Era doutor de mecinas E major d'aviação. Rendeu-se o guarda à vidência Ao ver tão lindo estandarte E ao preto fez continência E disse-lhe: - Vossa excelência Pode andar por toda a parte. - Quando chegar um paquete, Sr. Guarda, à outra vez, Peça primeiro o bilhete, Não faça o que agora fez. - Sr. doutor, tolerai-me, Tenha compaixão de mim. Meu salvador, ajudai-me, Nunca mais precido assim. Deu ao guarda americano Uma lição de moral O senhor doutor de mecinas E major de Portugal.

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ANEXO III Uma LISTA de POETAS POPULARES DE ALBERNOA, numa obra de Afonso de Barros...”

Lista de POETAS POPULARES DE ALBERNOA Publicados em - DO LATlFÚNDIO À REFORMA AGRÁRIA (O caso de uma freguesia do Baixo Alentejo) - de AFONSO DE BARROS, edição de ESTUDOS, INSTITUTO GULBENKIAN DE ClENClA, CENTRO DE ESTUOOS DE ECONOMIA AGRÁRIA, OEIRAS, 1986, Anexo II, p.585. JOSÉ DOMINGOS PATROCÍNIO - Trabalhador rural, analfabeto, falecido em 1960. Os versos foram transmitidos por urn filho, também poeta popular, trabalhador rural reformado. Recolha efectuada em 1981. JOAQUIM JOSÉ DOMINGOS - Trabalhador rural, analfabeto, reformado da Casa do Povo. Nasceu em 1912. Recolha efectuada em 1981. LUÍS CORREIA - Reformado. Foi trabalhador rural e pedreiro. Nasceu em 1911. O único dos poetas populares vivos que tinha os seus versos em forma escrita. Recolha efectuada em 1981. (Nesta antologia, pp. 23 a 26) MANUEL DOMINGOS PECEGUINHA - Pequeno agricultor, ex-trabalhador rural. Nasceu em 1915. As décimas transmitidas foram feitas, de memória, nos anos cinquenta. Recolha efectuada em 1981. MANUEL ISlDRO DOS REIS. Operário em Beja e residente em Albernoa. Nasceu em 1939. Recolha efectuada em 1977. MANUEL JUSTO NOBRE - Cantoneiro. Nasceu em 1922. Recolha cfectuada em 1977. PERPÉTUA DAS DORES MATEUS - Reformada. Foi costureira. Filha de seareiro e viúva de almocreve-mestre. Nasceu em 1908. Recolha feita em 1978. (Ver nesta antologia pp. 27 a 30). Da NOTA INTRODUTÓRIA, p.13, transcrevemos a primeira frase: "É uma história de mudança a que aqui se conta." Da inltodução ao Anexo II - POETAS POPULARES DE ALBERNOA, p. 587, transcrevemos parte do 2º parágrafo escrito pelo sociólogo, após aturado e exaustivo estudo: ... "Excertos de versos de poetas populares, sobretudo de Albernoa, foram utilizados - desde motes de décimas e quadras a trechos de umas ou de outras como parte integrante do discurso construído através da complexa e amalgamada relação entre analista e actores sociais. Mas, para além dos excertos que se justificou e entendeu transcrever, a poesia popular alentejana, nomeadamente a recolhida em Albernoa, atravessou de forma subjacente este estudo ao haver representado contributo significativo para compreender a gente que protagonizou a história de mudança que se pretendeu narrar."...

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DÉCIMAS - BREVE ESTUDO FINAL - JRG BREVE ESTUDO SOBRE A ORIGINALIDADE E 0 VALOR DAS DÉCIMAS (Segundo JRG) DÉCIMAS: Nomes, características, importância... 1. - DADOS DE BASE 1.1 1.2 1.3 1.4

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Dados desta colectânea Estudos conhecidos Sua importância na poesia Portuguesa Sua originalidade e signo (indício), marca dum povo/região.

2. - Diversos Nomes - Complexas Características das "DÉCIMAS" 2.1 2.2 2.3 2.4

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Os NOMES OS Nomes - sua complexidade, simbologia, signilicação Da Forma à Musicalidade, e da Expressão à Mensagem Conclusões e Propostas

1.1 - DADOS DESTA COLECTÂNEA Nesta colectânea de Poetas Populares do Concelho de Beja, em 107 poemas de 24 poetas, 52, - metade! - são Décimas que glosam Motes (Quadras), encontrando ainda outras isoladas ou agrupadas. Esta forma de expressão poética tipicamente popular merece, certamente, um estudo mais aprofundado e completo a fazer posteriormente. 1.2 - ESTUDOS CONHECIDOS (na altura 1987 – por JRG) Há já algumas tentativas de esboço de estudos sobre as Décimas. - Maria Arminda Zaluar Nunes, in CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS, coligido por J. Leite de Vasconcellos, 1 vol. 1975, II vol. 1979, III vol. 1983; em especial na introduÇÃo, I vol. p. XIII e XXXVIII e II vol. p. 441 a 485. - Manuel Joaquim Delgado, in SUBSÍDIO para o CANCIONEIRO POPULAR DO BAIXO ALENTEJO, vol. II, terceira parte, p. 109 e p. 121. - Modesto Navarro, in POETAS POPULARES ALENTEJANOS, na introdução, p.18, e p. 255 citando João Sarmento e o poeta popular Gil Quintas. - Fernando Cardoso, in 1º, 2º, 3º e 4º vol. de POETAS POPULARES, em diversas inlroduções de vários poetas dezedores de Décimas. - Comissão Directiva do Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça, de Vila Viçosa, in HÁ TANTA IDEIA PERDIDA: (1) e (2) 81/82. - Joaquim Magalhães e Ezequiel Ferreira, in ESTE LIVRO QUE VOS DEIXO e INÉDITOS de ANTÓNIO ALEIXO. 1.3 - SUA IMPORTÂNCIA NA POESIA PORTUGUESA Tendo em conta o que acontece nesta colectânea e pelo grande númera de Décimas publicadas nas diversas colectâneas citadas; Tendo ern conta que esta forma característica de poesia popular não vem considerada em nenhum manual escolar dos diversos graus de ensino; Tendo em conta que diversas publicações de recolhas de Literatura Oral e Tradicional não consideraram este tipo especíco de poesia popular; (por ex. mesmo em "A TRADIÇÃO" não encontramos nenhuma);

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DÉCIMAS - BREVE ESTUDO FINAL - JRG Parece-nos oportuno, mesmo a propósito desta simples colectânea de POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA, chamar a atenção para o esborço de estudo que tentamos fazer a seguir. 1.4 - SUA ORIGINALIDADE e SIGNO/INDÍCIO, MARCA DE UM POVO/REGIAO As Decimas, para além da importância que, segundo a opinião de muitos. lhes é devida no âmbito da Literatura Portuguesa (Popular?) parece-nos poder afirmar, desde já, que são um caso único e portanto de uma ORIGINALIDADE indiscutível no panorama da Literatura Universal, como revelador de características singulares e pertinentes da maneira de ser portuguesa sobretudo das regiões mais a Sul deste País. 2.1 - OS NOMES DÉCIMAS; QUADRAS, Quadras de 40/44 pontos, Quadras de décimas; GLOSAS; CANTIGAS, Cantigas de 40/44 pontos; CANTO, Cante, Fado, Contos versados DEIXAS - Porque é a resposta a um desafio dado no Mote ESPINELA – Mais usado pelos falantes de língua espanhola, por Vicente Espinel, séc XV, se ter dedicado e procurou divulgar e aperfeiçoar as Décimas... Esta é a diversidade de Nomes por que sao conhecidas, nos diversos ambientes e meios, o que desde o início temos chamado Décimas. Vários dos autores atrás referidos têm considerado um ou outro NOME menos adequado. Parcce-nos, entretanto, difícil optar por um que possamos considerar absolutamentc carrecto / complelo /adequado. 2.2 - OS NOMES - SUA COMPLEXIDADE, SIMBOLOGIA, SIGNIFICAÇÃO. Parcce-nos poder afirmar, também, que qualquer dos nomes referidos tenta afinal exprimir algo da complexidade desta arte poética de caris genuinamente popular, ou melhor, genuinamente português (Sui?). CANTO (CANTE, FADO, CONTOS VERSADOS) - Este nome estará apropriado devido à sua musicalidade muito próxima do cante alentejano por os fazedores / dezedores as fazerem mais para serem ditas e ouvidas do que para serem lidas e por a maneira como as dizem obedecerem a determinadas entoações (prosódia característica); e ainda por tratarem temas como episódios trágicos ou narrativas simples ao gosto popular. CANTIGAS (CANTIGAS de 40/44 PONTOS) - Parece-nos mais rigoroso e suficienle o nome: Cantigas de 40 pontos embora no total apareçam de facto os 44 versos (mote constituído por uma quadra, seguido de 4 décimas glosando cada uma, um desses versos). Qual o mais correcto? O que é facto é que a patir dos 40 pontos podemos realmente reconstituir o MOTE. GLOSAS - É a forma de desenvolver um tema dado em poesia que vem pelo menos desde a época clássica. Será, portanto, um modo mais erudito de designação e que não deixa de ser tradicional (v. Camões).

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DÉCIMAS - Este nome dá, como é evidente, relevo ao facto de o mote se desenvolver em quatro décimas e, apesar de o escolhermos para título por ser mais usual nos meios onde ouvimos falar de poesia popular, não deixa afinal de ser tão in/completo e ambíguo como os outros. QUADRAS (QUADRAS DE 40/44 PONTOS, QUADRAS DE DÉClMAS) - O nome QUADRAS, considerado por alguns comentadores como o menos correcto e inadequado, parece-nos, entretanto, de entre todos, o mais significativo na sua ambiguidade e na sua aparente contradição. QUADRAS DE DECIMAS, na sua provocação paradoxal oculta porventura uma simbologia que escapa normalmente a uma análise superficial ou precipitada. QUADRA é, por conseguinte, o nome correcto porque 0 MOTE é geralmente uma quadra de redondilha maior (7 sílabas) tão vulgar e sempre nova na poesia popular portuguesa e divulgada em todos os cancioneiros... Esta QUADRA é geralmente QUADRADA porque tem rima cruzada (ABAB) que satisfaz tanto o gosto daquele que comunica como o ouvido daqueles que ouvem. Finalmente QUADRAS DE DÉCIMAS porque a articulação das quatro décimas são de facto uma Quadra e se fizermos apelo a urn visualismo auditivo podemos verificar que as décimas dispostas ern cruz de lados iguais (+) formam de facto um quadrado central cujos lados são os quatro versos da Quadra / Mote dando uma dinâmica circular a todo o poema, podendo permitir com o retorno, uma nova leitura, marca de criatividade do sonhado texto circular. 2.3 - DA FORMA À MUSICALIDADE. E DA EXPRESSÃO À MENSAGEM A partir dos diversos nomes que o povo dá a esta arte de se exprimir em poesia podemos afinal ter já uma ideia das características fundamentais das chamadas Décimas, Quadras..., Glosas, Cantigas... / Canto, Cante, Fado, Contos Versados, DEIXAS... que na prática terão, evidentemcnte, realizações mais au menos felizes, mais ou menos artísticas podendo até verificar-se "grandes embaraços de expressão, provenientes do desejo de se comporem tiradas de pretensa eloquência..." podendo mesmo mostrar "a marcada dificuldade da musa popular se espraiar em longas tiradas oratórias; havendo frequentes quebras na sequência do raciocínio...", como diz M. Arminda Zaluar Nunes na introduçãao do Cancioneiro Popular Português, coligido por J. Leite de Vasconcellos. Ora, do facto de existirem décimas falhadas, e apresentarem dificuldades na sua construção e articulação, não se pode concluir apressadamente que as QUADRAS DE DÉCIMAS não são de assinalável valor literário /artístico. No citado Cancioneiro P. P. aparecem 45 páginas de exemplos (II vol. pp. 441 - 485) que, como diz em nota a Drª Arminda Z. Nunes: "Dado o apreço em que tinha estas décimas, o Professor Leite de Vasconcellos conservava-as em maços à parte de outras composições". Sem pretender ser exaustivo, num trabalho como este que tern necessariamente de ser limitado, parece podermos afirmar desde já que não será por acaso que as Décimas são uma espécie de doutoramento entre POETAS POPULARES usado frequentemente em DESPIQUES (com Décimas preparadas ou escolhidas entre as melhores dos paetas em competição) e mesmo em DESGARRADAS, em que pelo imediatismo e improvisação é mais habitual usar uma só décima a responder ao desafio do outro contendor. Saber criar uma boa DÉCIMA, obrigada a MOTE, respeitando o CONSOANTE (tema, assunto), é, sem dúvida uma prova de consagração entre os POETAS POPULARES, como podemos ver pelas citadas colecções.

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A sua ESTRUTURA FORMAL é de uma igualmente rica complexidade que não é facilmente dominada por qualquer principiante. Não encontramos muitos exemplos de Décimas em autores eruditos talvez por a considerarem uma arte menor ou talvez por não se atreverem. Para não nos repetirmos desnecessariamente, a FORMA consiste: num MOTE de 4 PONTOS (QUADRA em geral QUADRADA de rima cruzada ABAB). glosada por 4 DÉCIMAS que formam um total de 40 PONTOS em que aparece um jogo de 4 rimas emparelhadas do 2º ao 9º versos, articulando-se o 1º e 10º versos que ficaram isolados, com rima interpolada com a parelha imediata, que se traduz em ABBAACCDDC. Seria importante criar um gráico ou gráficos significativos a partir por exemplo destes dados, para talvez se poder VER ou OUVIR (OUVER) A CIRCULATURA DO QUADRADO: 1ª DÉCIMA 1º v. Mote 4ª DÉCIMA

2ª DÉCIMA

4º Mote

2º v. Mote

v. 3º v. Mote 3ª DÉCIMA

para nos apercebermos da riqueza desta estrutura que o poeta organiza mentalmente com o jogo de rimas e entoações adequadas no dizer de cada verso para ter boa CAÍDA. A sua MUSICALIDADE, o jogo fónico, inseparável do que já apontámos para os aspectos formais, baseia-se essencialmente na melodia tão caracteristicarnente portuguesa da MEDIDA (MÉTRICA) de 7 sílabas, a Redondilha Maior, com o seu ritmo mais usual a fazer cair os acentos tónicos na 2ª, 5ª e 7ª embora aceite outroS ritmos binários ou ternários e, como é evidente, no jogo de rimas já repetido e na forma de dicção - entoação de cada Décima que à falta de gráfico podemos exemplificar assim do 1º ao 10º v.: 1

2

3

caída na entoação

4

5

elevação

6

7

8

9

10

entoação normal em retotono.

Aparecem variantes, ainda dentro deste aspecto formal e fónico, que não podemos aqui desenvolver, mas falamos ainda que brevemente das QUADRAS DE UM SÓ PONTO (em que as 4 décimas terminam no mesmo verso) e nas DÉCIMAS DE UM SÓ PÉ em que O mesmo MOTE ou QUADRAS PARALELÍSTICAS dão origem a duas ou mais séries de 4 Décimas criando todo um jogo dramático a aproximar-se do Teatro em

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DÉCIMAS - BREVE ESTUDO FINAL - JRG

verso das CEGADAS ou, como as dois exemplos de Alfredo Sabastião José que se despede dos filhos e depois os põe a responder (p. 104 / 107) ou o já conhecido despique entre a Oliveira e a Sobreira do Cancioneiro do Baixo Alentejo. O CONTEÚDO SEMÂNTICO não o poderemos analisar sem ser a partir de poemas concretos, mas podemos no geral verificar que o uso de termos e expressões características, na forma e com os "defeitos" que a pronúncia popular lhes confere, são, não só essenciais à sua musicalidade e estrutura formal, como são fundamentais para darem a estes poemas toda a riqueza potencial da sua estrutura simbólica e da sua arquitectura significativa que nos podem revelar a mentalidade, a maneira de ser e de estar na vida dum povo duma região. Sobre os TEMAS mais versados nas Décimas falamos no ponto 3 destas conclusões. 2.4 - CONCLUSÕES E PROPOSTAS 1- Parece podermos concluir depois desta tentativa de análise embora breve e por isso mesmo incompleta, que em si, e pelos exemplos de realização e pelo nível que atingiram em Poetas Populares como António Aleixo por demais conhecido e Manuel de Castro, da Cuba, que morreu inédito, para só falar dos que já tive oportunicdade de estudar com mais pormenor, e por alguns exemplos desta colectânea, podemos concluir, dizia eu, que AS DÉCIMAS SÃO UMA ARTE MAIOR a pedir que sejam consideradas e aceites como de NÍVEL LITERÁRIO que nÃo desmerece da Literatura Portuguesa, sem ser necessário falar da pretensa divisão entre Literatura Popular e Erudita. (Vide p. 144 "ENXADA" de M. Castro, como um prodígio de onstrução estrutura / mensagem). (A enxada que nasceu do mineral, do ventre da terra, toma a sua forma e trabalha anos, vira sucata e “ando agora num canhão”). Acabou? Ou vai “morrer” ou provocar a morte e voltar ao ventre da terra e reCriar um ciclo, uma nova Vida? 2 - Pela sua estrutura formal complexa, em articulação com a riqueza dos aspectos fónicos que vão da métrica tradicional, ao ritmo e à rima enriquecidos com as aliterações frequentes e a entoação ou caída usada no recitar / entoar de cada verso e conjunto de versos, atrevemo-nos a colocar AS DÉCIMAS, entre o encanto ingénuo, umas vezes superficial e muitas outras de uma profundidade assinalável, das CANTIGAS DE AMIGO - Paralelísticas, e o rigor expressivo e por vezes também, mero jogo de palavras ou conceitos, do SONETO CLÁSSICO. 3 - Pelos mesmos motivos apontados em 2, toda a ESTRUTURA DAS DÉCIMAS está perfeitamente adequada aos TEMAS que normalmente são tratados. São a expressão lírica de sentimentos, os mais diversos, do amor, ao ódio, à ternura, ao encanto, ao espamo perante a Natureza ou/e o Universo, ao desejo de justiça, ao desejo da morte, ao medo, à coragem, à solidariedade, ao cntusiasmo... São também comumente usadas para relato de casos dramáticos au episódios insólitos a ponto de alguns avançarem para a dramatização através do reagrupamento de vários conjuntos de Décimas... Cantam ainda figuras au factos históricos de interesse para a comunidade do seu meio ou do país ou do mundo, em esboços quase épicos... E quase todos os Poetas têm uma Décima em que pintam, cantam, contam a sua Autobiografia, que é geralmente mais o retrato da sua comunidade do que a deles próprios (espéciede AUTO-RETRATO dos PlNTORES / POETAS). 4 - As Décimas, como, aliás, toda a poesia e os diversos factores da Cultura popular, devem, têm de ser devidamente estudadas para se conhecer a verdadeira maneira de ser de urn Povo, nas suas qualidades e defeitos, queremos dizer características, que permitam à Comunidade, em conjunto, caminhar decididamente e acertadamente para um desejado e gratificante DESENVOLVIMENTO.

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FINAL / v DÉCIMAS - BREVE ESTUDO FINAL - JRG

As Décimas, pelos motivos apontados, terão de ser objecto de estudo cuidado de espeeialistas que vão da Linguística e da Análise Literária, à Filosofia e Psicologia, estudos estes que terão de ser completados ou complementados com o contributo das várias disciplinas que constituem as Ciências Sociais e da Hermenêutica. 5 - Por tudo o que atrás dissemos e pela sua típica originalidade, uma vez que nada de semelhanle se encontra na Literatura dita erudita, nem na Literatura de outros países, lamentamos que esta forma de poesia não conste de nenhum manual de estudo de nenhum grau de ensino, e por isso propomos que esta forma de expressão poética seja estudada nas Escolas; e consideramos urgente a divulgação das Décimas e imperioso o apoio e implementação do seu estudo aprofundado, como valor indiscutível da Cultura Portuguesa, digna de figurar no Patrimnio da Cultura Universal, sem ó que, ficará certamente mais pobre. Em vez de esperar par decisões das autoridades competentes, como soi dizer-se, compete realmente aos Alentejanos e aos interessados na divulgação da sua Cultura, trabalhar para que isto aeonteça. É já alguma coisa, é mesmo já muito, a publicação desta colectânea de POETAS POPULARES do CONCELHO DE BEJA, que vem assim enriquecer e continuar o esforço e o trabalho já iniciado por muitos outros. Fica a promessa de um trabalho mais desenvolvido, sabre este tema, logo que as minhas possibilidades de tempo e estudo o permitam e os estímulos e solicitações apareçam... José Rabaça Gaspar

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ÍNDICE por ordem alfabética dos POETAS e TERRAS NOME dos Poetas

IDADE 1987 79 7I 69 ?? 86 6I 72 66 67 56 79 52 63 53 48 48 53 62 76 60 22 65 79 52

ALFREDO SEBASTIÃO JOSÉ ANA MARIA DAS NEVES ANA RITA DA GRAÇA BÁRBARA DOS SANTOS MADEIRA BARTOLOMEU ARSÉNIO CARLOTA RAMOS CAIXINHA FLORIVAL PELEJA FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO FRANCISCO MANUEL LUÍS IOLANDA GUERREIRO ISABEL GUERREIRO JOÃO BATISTA CAVACO JOAQUIM ANTÓNIO PIRIQUITO JÚNIOR JOAQUIM ANTÓNIO RUAZ JOAQUIM SILVA JOSÉ JOAQUIM INÁCIO JOSÉ JACINTO JOSÉ MESTRE LUÍS CORREIA MARIA GUIOMAR RODEIA PENEQUE MARIA HELENA SEVERINO MÁRIO DA CONCEIÇÃO PERPÉTUA DAS DORES MATEUS ROSA HELENA MOITA RODRIGUES NOTA: Pela idade que vem a seguir aos nomes, compreendidas entre os 48 e 86 anos de idade. NOME dos Poetas

Residência Cabeça Gorda Beja Albernoa Santa Clara do Louredo (Boavista) Albernoa Beja Beja Santa Vitória Quintos Beja Albernoa Beringel São Matias São Matias Penedo Gordo / Beja Santa Clara do Louredo (Boavista) Santa Clara do Louredo (Boavista) Quintos Albernoa Beja Santa Clara do Louredo (Boavista) Santa Clara do Louredo (Boavista) Albernoa Beringel todos estes poetas têm idades (22 anos é uma excepção).

idade

ANA RITA DA GRAÇA BARTOLOMEU ARSÉNIO ISABEL GUERREIRO LUÍS CORREIA PERPÉTUA DAS DORES MATEUS ANA MARIA DAS NEVES CARLOTA RAMOS CAIXINHA FLORIVAL PELEJA IOLANDA GUERREIRO MARIA GUIOMAR RODEIA PENEQUE JOÃO BATISTA CAVACO ROSA HELENA MOITA RODRIGUES ALFREDO SEBASTIÃO JOSÉ JOAQUIM SILVA

69 86 79 76 79 7I 6I 72 56 60 52 52 79 48

FRANCISCO MANUEL LUÍS JOSÉ MESTRE BÁRBARA DOS SANTOS MADEIRA JOSÉ JOAQUIM INÁCIO JOSÉ JACINTO MARIA HELENA SEVERINO MÁRIO DA CONCEIÇÃO FRANCISCO DA ENCARNAÇÃO JOAQUIM ANTÓNIO PIRIQUITO JÚNIOR JOAQUIM ANTÓNIO RUAZ

67 62 ?? 48 53 22 65 66 63 53

Página

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Terras por ordem alfabética

Albernoa Albernoa Albernoa Albernoa Albernoa Beja Beja Beja Beja Beja Beringel Beringel Cabeça Gorda Penedo Gordo (pertence à freguesia de Santiago Maior, da cidade de Beja

Quintos Quintos Santa Clara do Santa Clara do Santa Clara do Santa Clara do Santa Clara do Santa Vitória São Matias São Matias

Louredo Louredo Louredo Louredo Louredo

(Boavista) (Boavista) (Boavista) (Boavista) (Boavista)

93

71 39 139 35 61 55 167 119 77 31 175 157 163 111 139 151 123 23 45 131 133 27 83

Pg

39 35 31 23 27 71 61 55 77 45 175 83 93 111 119 123 139 139 151 131 133 167 157 163

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Final v/ ÍNDICE por ordem alfabética dos POETAS e TERRAS -

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ÍNDICE GERAL Terra Índice Introdução

freguesia

Poeta

Poema

X Pág.

poetas

ALBBERNOA Luís Correia Descubro a qualquer pessoa Na minha fraca memória

X X

Perpétua das Dores Mateus Carta ao Visconde Quadras soltas

28 30 31 32 35

Isabel Guerreiro Quadras soltas Bartolomeu Arsénio Versos que fiz quando abalei e fui emigrante Quadras soltas

36

Ana Rita da Graça É pobre e não sabe ler Comprar boneca que chora·

X X

BEJA Maria Guiomar Rodeia Peneque Notas biográficas (poema) Cantiga de amor Para que serve ter olhos Sou viúva mas não peço Os passos da minha terra Viva Beja e S. João – o mastro Adeus a Beja Dedicado ao bejense "Calquinha Lusiadas do Alentejo À Reforma Agrária

X X

Carlota Ramos Caixinha

37 39 40 41 43 45 46 47 48 49 50 51 52 53

Florival Peleja Louca Humanidade P'ra que existe tanta guerra A vida As mais belas coisas do Mundo O meu sonho As flores do homem Aura, Berta e Rosalina

7 9 21 23 24 25 27

55 56

X

57 58 59 60 61

0 Oulono émuito triste Há homens que não deviam É tão triste ser velhinho Menino do bairro da lata É tão linda a Primavera Versos dedicados à PAZ Versos dedicados ao camponês Quadras várias Quadras dedicadas à mulher Ana Maria Neves Primavera Dia do Pai O Jardim de Beja Recordação Iolanda Guerreiro Sátira aos Provérbios Também há rosas sem espinhos BERINGEL Rosa Helena Moita Rodrigues Mar Meu Alentejo Poema dedicado a Beringel...

197

62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 76 77 78 79 81 83 84 85 86

Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012 Poema dedicado a Portugal Poema dedicado à Emigração Vagabundo É triste não saber ler

87 88 89 90 91 93

CABEÇA GORDA Alfredo Sebastião José À Guerra de 14/18 0 Amonio que marchara para a Guerra Tu bebeste a cardina Estando um preto em regalia Aos Bombeiros Oh Beja tu és tão linda Eu sou um analfabeto Eu assim não sei cantar Quando este poeta canta Procuri a paz no mundo Fui de noite a um cemitério Quanto te têm bradado Adeus meus queridos filhos Nosso paizinho abalou Rapariga vem comigo Rapaz eu não vou contigo Lena, tu és uma jóia Vou-Ihes dizer, meus senhores

X

X

X X X X X X

PENEDO GORDO Joaquim Silva

X Deu o 10 uma facada Fui nova cortante enxada (Castro) Já não posso ser contente (Castro) Fui-me um dia a ver o mar

QUINTOS Francisco Manuel Luís Em considerar como eu era No lempo de Zalasar

X X

Eu tenho recordação A escola e muito importante Há muito tempo não chove Com esta minha idade

X X X X

José Mestre

S. C. L. (BOAVISTA) Maria Helena Severino

94 95 96 97 98 99 100 101 102 102 103 103 104 105 106 107 108 109 111 111 113 114 115 116 117 119 120 121 123 124 125 126 127 129 131

Eu quero quando morrer

132 133

Mário da Conceição Houve ilustres portugueses O primeiro rei de Portugal O vinte cinco de Abril Constroem-se as caravelas

X X X X

134 135 136 137 139

Portugal tão pcquenino Dêem louvor ao Sr. Padre Moreira Houve alguém que me veio pedir 5ª feira de Endoenças No doze do cinquenta e cinco

X X X X X

140 141 142 143 144 145

José Joaquim Inácio

Bárbara dos Santos Madeira Versos a minha vida Pátria Andorinhas negras Poesia às papoilas Poesia ao sol José Jacinto Abalei como emigrante Quem me havia de dizer S. MATIAS Joaquim António Piriquito Júnior

198

X X

146 147 148 149 150 151 152 153 155 157

Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012 Eu mal aprendi a ler Se teve a infelicidade Não sou esperto nem bruto (Homenagem a António Aleixo) Pus-me a espreitar o vento

X X X

158 159 160

X

161 163

Joaquim António Ruaz Sai o rebanho para o prado Se rico é ser alteza

164 165 167 167

SANTA VITÓRIA Francisco da Encarnação

CONCURSO 85 Beringel

Cabeça Gorda Santa Clara do Louredo / Boavista Beja Albernoa

Versos soltos A poesia inspirada A voz do sino indolente Maldita seja a guerra “QUE IMPORTA PERDER A VIDA” (Aleixo) (Só no concurso)

JOÃO BATISTA CAVACO

ALFREDO SABASTIÃ JOSÉ JOSÉ JACINTO MARIA GUIOMAR RODEIA PENEQUE ANA RITA DA GRAÇA

ANEXOS

199

168 169 170 171 173 175

Isto a vida é uma ilusão Diz-se que parar é morrer Há muitos que temem a morte Neste mundo onde habitamos

X X X

176 177 178 179

Há muitos seres humanos

X

180

Filha de madre fecunda

X

181

A razão é muito forte

X

182

Nota explicativa Quadras do Cancioneiro Popular Português – La cardina Poesia "O PRETO" in MJDelgado Poetas Populares de Albcmoa – in A. Barros Breve estudo sobre as DÉCIMAS Índice Poetas por ordem alfabética Com os Poetas e Poemas

ÍNDICE

X X X

183 185 187 188 189 195 197

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Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012

ÍNDICE GERAL

FIM Da obra publicada em 1989 datada de 1987, ano da entrega do trabalho organizado e comentado por JRG.

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986

SEPARATA POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA de 1987 – DGAEE de Beja

POETAS POPULARES DE ALBERNOA (meados do Século XX)

I

numa obra de Afonso de Barros...

DO LATIFUNDISMO À REFORMA AGRÁRIA O CASO DE UMA FREGUESIA DO BAIXO ALENTEJO (ALBERNOA),

de Afonso de Barros,

ESTUDOS, Instituto Gulbenkian de Ciências, Centro de Estudos de Economia Agrária, Oeiras, 1986, em que o autor, em Anexo II, publica recolhas de sete POETAS POPULARES DE ALBERNOA, da p. 575 à p. 616, onde, entre outros, aparecem poemas de Luís Correia e de Perpétua das Dores Mateus.

http://catbib.cmbeja.pt/plinkres.asp?Base=EMPBMB&Form=COMP&SearchTxt=%22DE+Albernoa%22+%2B+%22DE+Al bernoa%24%22&StartRec=0&RecPag=5 Ver também um trabalho de Renato Miguel do Carmo - Sociólogo, doutorando do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, bolseiro da FCT : http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR46118386afc91_1.pdf

II

Repetição dos autores e poemas que aparecem nesta obra POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA – 1987 (1989)da p. 21 a 42

para assim organizar esta SEPARATA dedicada aos POETAS de ALBERNOA da segunda metade do Século XX Corroios – 2012 – José Rabaça Gaspar

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986

NOTA 1 – Aqui se tenta o desafio de o leitor poder passar dos POETAS, sua arte, símbolos, mitos, signos, aos sinais base, que revelam VALORES CULTURAIS, CARACTERÍSTICAS e POTENCIALIDADES de um POVO...

I DO LATIFUNDISMO À REFORMA AGRÁRIA O CASO DE UMA FREGUESIA DO BAIXO ALENTEJO (ALBERNOA),

de Afonso de Barros,

ESTUDOS, Instituto Gulbenkian de Ciências, Centro de Estudos de Economia Agrária, Oeiras, 1986, em que o autor, em Anexo II, publica recolhas de sete POETAS POPULARES DE ALBERNOA, da p. 575 à p. 616, onde, entre outros, aparecem poemas de Luís Correia e de Perpétua das Dores Mateus. Com 10 POETAS de ALBERNOA – (7 nesta OBRA + 5 em PPCB, com Luís Correia e Perpétua, nas duas recolhas)

JOSÉ DOMINGOS PATROCÍNIO – 2 DÉCIMAS JOAQUIM JOSÉ DOMINGO – 1 DÁCIMA LUÍS CORREIA – 6 DÁCIMAS (ver tb. In PPCB, p. 21 – 26, com 3 DÉCIMAS)

MANUEL DOMINGOS PECEGUINHA – 1 DÉCIMA MANUEL ISIDRO DOS REIS – 2 DÉCIMAS MANUEL JUSTO NOBRE – 2 DÉCIMAS PERPÉTUA DAS DORES MATEUS – com III séries de quadras (ver tb. In PPCB, p. 27 – 30, com “estória” + 17 quadras e 1 DÉCIMA)

II

Repetição dos poetas e poemas que aparecem nesta obra POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA – 1987 / 1989 para assim organizar esta SEPARATA dedicada aos POETAS de ALBERNOA da segunda metade do Século XX LUÍS CORREIA – 3 DÉCIMAS PERPÉTUA DAS DORES MATEUS – 17 QUADRAS – 1 DÉCIMA ISABEL GUERREIRO – 25 QUADRAS BARTOLOMEU ARSÉNIO – 8 QUITILHAS + 21 QUADRAS ANA RITA DA GRAÇA – 2 DÉCIMAS NOTA 2 – Assim parece que conseguimos, finalmente, quebrar o mito do LIVRO CIRCULAR. Com esta SEPARATA, o livro, POETAS POPULARES do CONCELHO de BEJA - 1987 – 1989, acaba, como começa, com POETAS de ALBERNOA!!!

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros) – 1986 (1977) Índice, Plano da OBRA para se perceber o lugar dos poetas

PLANO GERAL DA OBRA

DO LATIFUNDISMO À REFORMA AGRÁRIA O CASO DE UMA FREGUESIA DO BAIXO ALENTEJO (ALBERNOA), de Afonso de Barros Para se poder LER o papel dos POETAS neste TEMA e também em muitos outros...

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros) – 1986 (1977) Índice, Plano da OBRA para se perceber o lugar dos poetas PARTE I SOBRE A REFORMA AGRÁRIA 1. SOBRE O CONCEITO DE REFORMA AGRÁRIA - 19 1.1. - Obstáculos epistemológicos - 20 1.1.1. A propriedade - 20 1.1.2. A complexidade da reforma agrária - 23 1.1.3. A diversidade histórica da reforma agrária - 24 1.2. Elementos para a conceptualização da reforma agrária - 27 1.2.1. Objecto - 29 1.2.1.1. Estrutura fundiária - 32 1.2.1.2. Da estrutura fundiária à estrutura agrária - 33 1.2.1.3. Estrutura agrária - 35 1.2.1.4. Objecto mínimo e objecto máximo - 34 1.2.1.5. Mecanismos de captação do excedente agrícola - 36 1.2.2. Natureza - 39 1.2.2.1. A intervenção do Estado - 40 1.2.2.2. A reforma agrária como processo social - 42 1.2.3.0bjectivos - 45 Referências bibliográficas - 49 2. SOBRE A REFORMA AGRÁRIA EM PORTUGAL - 53 2.1. Introdução 53 2.2. O movimento de ocupação de terras - 59 2.2.1. Periodização das ocupações - 60 2.2.2. Os ocupantes - 67 2.2.3. Incidência das ocupações - 70 2.3. A institucionalização da reforma agrárja - 74 2.3.1. A acção legislativa - 75 2.3.2. A intervenção na propriedade fundiária: nacionalizações e expropriações - 82 2.4. As novas unidades de produção - 89 2.4.1. Dimensão e distribuição distrital - 90 2.4.2. Modalidades organizativas - 97 2.4.3.Natureza 106 QUADROS ANEXOS - 115 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 133 PARTE II UMA COMUNIDADE RURAL LATIFUNDISTA. FUNCIONAMENTO E REPRODUÇÃO DO SISTEMA LATIFUNDIÁRIO 1. INTRODUÇÃO - 139 2. O ESPAÇO - 147 2.1. Território 148 2.1.1. Delimitação - 148 2.1.2 Aproveitamento do solo - 151 2.1.3. Meio físico - 153 2.1.4. Povoamento - 155 2.1.5. Apropriação do território - 160 2.2. Contexto regional - 165 2.3. Relacionamento com o exterior - 183 3. A POPULAÇÃO - 191 3.1. Caracterização geral - 192 3.2. Êxodo, envelhecimento e crise de reprodução demográfica - 198 3.3. Estrutura sócio profissional e grupos sociais - 206 4. A ACTIVIDADE AGRÍCOLA - 221 4.1. Estruturas agrárias - 222 4.1.1. Propriedade fundiárla - 222 4.1.2. Explorações agrícolas - 227 4.2. Sectores de agricultura - 237 4.2.1. A agricultura latifundiária – 231 4.2.1.1. Explorações agrícolas e seus detentores - 238 4.2.1.2. Organização do trabalho - 248 4.2.2. A pequena agricultura - 269 4.2.3. Os sectores intermédios - 281 5. A ORDEM SOCIAL LATIFUNDISTA - 285 5.1. O poder local - 287 5.2. Desemprego e obras públicas - 296 5.3. A violência e o consentimento - 305 QUADROS ANEXOS - 317 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 345

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros) – 1986 (1977) Índice, Plano da OBRA para se perceber o lugar dos poetas

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros) – 1986 (1977) Índice, Plano da OBRA para se perceber o lugar dos poetas PARTE III DO LA TIFUNDISMO À REFORMA AGRÁRIA ALBERNOA 1977 – 355 1.1. Estruturas agrárias - 356 1.2. População - 366 2. DO 25 DE ABRIL ÀS OCUPAÇõES DE TERRAS. A INVIABILIZAÇÃO DO LATIFUNDISMO - 381 2.1. Desenvolvimento cronológico do processo social - 382 2.2. As principais transformações - 397 2.2.1. Organização de classe e organização popular - 398 2.2.2. Poder local - 403 2.2.3. Espaço - 407 2.2.4. Emprego, salário e regime de trabalho - 412 2.3. A desagregação da ordem social latifundista - 426 3. AS OCUPAÇÕES. A QUEDA DO I.ATIFUNDISMO - 431 3.1. Os acontecimentos - 432 3.1.1. Elementos contextuais - 432 3.1.2. A primeira fase: de 28 de Julho a 11 de Agosto de 1975 - 435 3.1.3. A segunda fase: Outubro de 1975 - 443 3.2. Protagonistas, intervenientes e apoiantes - 449 3.2.1. Os ocupantes - 450 3.2.2. Intervenientes e apoiantes - 463 3.2.2.1. As intervenções externas - 464 3.2.2-2. Os apoiantes internos - 471 3.3. A ruptura. A caminho de uma nova ordem social - 478 4. AS NOVAS UNIDADES DE PRODUÇÃO. A ALTERNATIVA AO LATIFUNDISMO - 489 4.1. Caracterização geral - 490 4.2. A exploração em comum da terra - 495 4.3. As cooperativas de produção agrícola - 504 4.4. A alternativa ao latifundismo - 510 QUADROS ANEXOS - 517 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 539 ANEXO: Estatuto das Cooperativas de Albernoa - 543 CONCLUSÃO - 565 ANEXO I METODOLOGIA: INQUÉRITOS E ENTREVISTAS - 575

ANEXO II POETAS POPULARES DE ALBERNOA - 585 ÍNDICE DE QUADROS, MAPAS E FIGURAS - 617 PUBLICAÇÕES EDITADAS PELO C.E.E.A. - 625

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Nota inicial da OBRA

A nota introdutória de Afonso de Barros

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NOTA INTRODUTÓRIA

Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Nota inicial da OBRA

Se este tempo se mudasse Que o Inverno fosse Verão O rico em trabalhador Sendo o pobre cidadão *

É uma história de mudança a que aqui se conta. Mudança vivida e protagonizada, ao longo do curto, mas extremamente denso período que vai do 25 de Abril de 1974 às ocupações de terras e à formação de novas unidades de produção, pelos homens e mulheres que integram a comunidade rural de Albernoa, aldeia incrustada na peneplanície alentejana, a sul de Beja, duramente tocada pela marginalidade que afecta o vasto espaço regional localizado entre o Tejo e a Serra do Algarve e pela ameaça de desertificação social que sobre este espaço impende. Mudança que profundamente atravessou e penetrou este espaço social onde dominava o sistema latifundista e que se traduziu em sequência de eventos que levariam à inviabilização deste sistema e à sua posterior queda, colocando a comunidade no incerto limiar de uma nova ordem social. Mudança que aqui se entende e aborda como processo social de transformação e não em rígida perspectiva diacrónica, de comparação entre duas situações - o antes e o depois - e de discussão da efectividade e genuinidade da alteração registada entre a segunda e a primeira situação. Enquadra-se o processo social que se vai relatar no âmbito de fenómeno designado e designável por reforma agrária. Trata-se, portanto, de transformação que abarca e tem por ponto nevrálgico as relações de propriedade e a forma de organização da actividade agrícola. Quer isto dizer que se lida com tema especialmente sensível. A propriedade fundiária, ao materializar-se sobre o próprio solo, assume relevância que vai muito para além de dimensão de natureza económica. Ao remeter para o elemento físico em que assenta - em sentido estrito - a vida do homem, a propriedade fundiária simboliza de algum modo o próprio direito de propriedade. Assim sendo, a transformação que incida sobre as relações de propriedade não pode deixar de assumir proporções de vasta amplitude, implicando processo de reorganização social com múltiplas dimensões, que precede e acompanha aquela transformação e a ela se sucede. A reforma agrária, enquanto transformação socialmente explícita das estruturas agrárias, é sempre o produto de contradições sociais consubstanciadas em conjuntura especialmente crítica e é sempre fenómeno gerador de efeitos sociais. Por isso a reforma agrária desenhase não apenas como int~rvenção do Estado mas também como processo social, avultando uma ou outra destas dimensões consoante as características e o tipo de reforma agrária em causa. Sem esquecer os aspectos relativos à intervenção do Estado, procura-se neste trabalho abordar a reforma agrária do ângulo do processo social. Trata-se de tentativa para olhar o conjunto de eventos que conduziram à modificação das relações de propriedade e do modo de organização da actividade agrícola tendo por campo de observação a sociedade rural e por perspectiva de análise os aspectos inerentes a essa sociedade. Trata-se, por conseguinte, de tentativa de olhar por dentro e de dentro o espaço social cuja transformação se torna como objecto de análise. Motivos epistemológicos, e não apenas pragmáticos ou de preferência metodológica, surgem, portanto, a justificar a opção pelo estudo de um caso. Ao centrar o campo de análise na comunidade rural e numa concreta comunidade rural está-se a privilegiar a unidade concreta onde primariamente se organiza e estrutura a sociedade rural. A visualidade que deste modo se constrói seria, no entanto, irremediavelmente distorcida e obscurecida caso se não cuidasse de adequadamente contextualizar o objecto de estudo recortado. Assim se justificam as referências e as incursões teóricas, espaciais e históricas que ao longo do texto e desde o seu início pautam a análise da história de mudança que se pretende contar. *Mote de décimas, transcritas em anexo, da autoria de José Domingos Patrocínio, trabalhador rural.

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Poetas Populares inseridos - explicação

POETAS POPULARES de ALBERNOA ANEXO II Na obra de Afonso de Barros

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Poetas Populares inseridos - explicação

A poesia popular constitui, como é bem sabido e houve ocasião de referir no corpo deste trabalho, uma das mais genuínas expressões da cultura popular alentejana. Produzida no interior do universo alentejano, em resposta a motivações e sentimentos próprios, surge como forma de expressão substancialmente isenta de enviesamentos que inevitavelmente perpassam o discurso emitido em circunstâncias de contacto intercultural, como é sem dúvida o caso do discurso provocado pelo sociólogo através dos procedimentos analíticos que integram a sua, ferramenta de trabalho ou, inclusivamente, mediante a sua simples presença, carregada de signos e marcas de outra cultura. A proposição brevemente enunciada é bastante para justificar, sem mais desenvolvimentos, que a esta forma de expressão tenha sido prestada atenção ao longo do texto que para trás se deixa. Excertos de versos de poetas populares, sobretudo de Albernoa, foram utilizados desde motes de décimas e quadras a trechos de umas ou de outras - como parte integrante do discurso construído através da complexa e amalgamada relação entre analista e actores sociais. Mas, para além dos excertos que se justificou e entendeu transcrever, a poesia popular alentejana, nomeadamente a recolhida em Albernoa, atravessou de forma subjacente este estudo ao haver representado contributo significativo para compreender a gente que protagonizou a história de mudança que se pretendeu narrar. Através da expressão poética pôde entender-se melhor a «contextura espiritual» (para utilizar de novo a expressão de Juan Diaz del Moral) dessa gente, ver com maior clareza a «bagagem que traziam para a luta», apreender melhor a influência das experiências passadas nos posicionamentos presentes. Por tudo isto, afigurou-se de interesse que, ao finalizar a narrativa, se desse a conhecer o resultado da recolha de poesia popular feita em Albernoa no decurso do trabalho de campo, para tanto transcrevendo os versos tidos por mais significativos no contexto deste trabalho. Como se poderá verificar são eles da autoria de pessoas idosas, quase todas elas retiradas da vida activa. Não se pense, porém, que aos mais novos fosse indiferente essa forma de expressão cultural. Foram em geral pessoas novas que prestaram auxílio na efectivação da recolha, indicando os poetas ainda vivos, pelos quais mostravam apreço e com interesse seguiam a declamação oral dos seus versos. Feitos por gente analfabeta, com apenas uma excepção, haviam estes versos sido elaborados mentalmente sem qualquer apoio escrito e apenas se encontravam registados na memória dos seus autores. Olhando a complexa estrutura das décimas, ter-se-á ideia do laborioso esforço requerido pela respectiva composição. Era trabalho demorado tecido pacientemente no silêncio da planície alentejana ao longo de semanas e mesmo de meses por homens e mulheres que tinham por distração os compridos serões dc Inverno, durante os quais iam compondo as décimas ou as recitavam. A rádio e, sobretudo, a televisão vieram modificar os hábitos e roubar os espaços inerentes à produção poética. Esta perdura, todavia, não só como testemunho de uma época já passada mas também como expressão de sentimentos, ideias e posturas em que muitos se reconhecem. Com a morte dos seus autores desaparecerá o registo dessa forma de expressão e perder-se-ão provavelmente os respectivos testemunhos. Exemplo triste disso mesmo é o que ocorreu com a morte daquele que era considerado o maior poeta de Albernoa, falecido há uns anos, e do qual nenhuns versos se conseguiram obter apesar dos insistentes esforços nesse sentido efectuados. Vai esta colectânea organizada por ordem alfabética dos autores. Os versos são transcritos segundo as próprias palavras dos mesmos ainda que estas não representem por vezes a forma correcta. As referências e alusões que contêm são em geral suficientemente claras, dispensando comentários e anotações, salvo num caso ou noutro em que tal pareceu indispensável, sobretudo no sentido de se efectuar o respectivo relacionamento com acontecimentos analisados no texto.

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986

ANEXO III (repetição da p. 188) Uma LISTA de POETAS POPULARES DE ALBERNOA, numa obra de Afonso de Barros...”

Lista de POETAS POPULARES DE ALBERNOA Publicados em - DO LATlFÚNDIO À REFORMA AGRÁRIA (O caso de uma freguesia do Baixo Alentejo) - de AFONSO DE BARROS, edição de ESTUDOS, INSTITUTO GULBENKIAN DE ClENClA, CENTRO DE ESTUOOS DE ECONOMIA AGRÁRIA, OEIRAS, 1986, Anexo II, p.585. JOSÉ DOMINGOS PATROCÍNIO - Trabalhador rural, analfabeto, falecido em 1960. Os versos foram transmitidos por urn filho, também poeta popular, trabalhador rural reformado. Recolha efectuada em 1981. JOAQUIM JOSÉ DOMINGOS - Trabalhador rural, analfabeto, reformado da Casa do Povo. Nasceu em 1912. Recolha efectuada em 1981. LUÍS CORREIA - Reformado. Foi trabalhador rural e pedreiro. Nasceu em 1911. O único dos poetas populares vivos que tinha os seus versos em forma escrita. Recolha efectuada em 1981. (Nesta antologia, pp. 23 a 26) MANUEL DOMINGOS PECEGUINHA - Pequeno agricultor, ex-trabalhador rural. Nasceu em 1915. As décimas transmitidas foram feitas, de memória, nos anos cinquenta. Recolha efectuada em 1981. MANUEL ISlDRO DOS REIS. Operário em Beja e residente em Albernoa. Nasceu em 1939. Recolha efectuada em 1977. MANUEL JUSTO NOBRE - Cantoneiro. Nasceu em 1922. Recolha cfectuada em 1977. PERPÉTUA DAS DORES MATEUS - Reformada. Foi costureira. Filha de seareiro e viúva de almocreve-mestre. Nasceu em 1908. Recolha feita em 1978. (Ver nesta antologia pp. 27 a 30). Da NOTA INTRODUTÓRIA, p.13, transcrevemos a primeira frase: "É uma história de mudança a que aqui se conta." Da inltodução ao Anexo II - POETAS POPULARES DE ALBERNOA, p. 587, transcrevemos parte do 2º parágrafo escrito pelo sociólogo, após aturado e exaustivo estudo: ... "Excertos de versos de poetas populares, sobretudo de Albernoa, foram utilizados - desde motes de décimas e quadras a trechos de umas ou de outras como parte integrante do discurso construído através da complexa e amalgamada relação entre analista e actores sociais. Mas, para além dos excertos que se justificou e entendeu transcrever, a poesia popular alentejana, nomeadamente a recolhida em Albernoa, atravessou de forma subjacente este estudo ao haver representado contributo significativo para compreender a gente que protagonizou a história de mudança que se pretendeu narrar."...

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 José Domingos Patrocínio

JOSÉ DOMINGOS PATROCÍNIO Trabalhador rural, analfabeto, falecido em 1960. Os versos foram transmitidos por um filho, também poeta popular, trabalhador rural reformado. Recolha efectuada em 1981.

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MOTE Se este tempo se mudasse Que o Inverno fosse Verão O rico em trabalhador Sendo o pobre cidadão

1 Vir o grande saliente Trabalhar na agricultura Fazia a mesma figura Que faz qualquer inocente Achava-se incompetente Onde se apresentasse E havendo quem se vingasse No que eles têm feito Perdiam todo o conceito Se este tempo se mudasse 2 O juiz mais os escrivões Doutores advogados Virem trabalhar tom arados Ser pedreiros ou abegões Desempenhar as missões À ordem do seu patrão Com esta modificação Como estamos a dizer Obrigavam-se a morrer Se o Inverno fosse Verão 3 Perdendo o papel de vista E a pena mais o tinteiro Já não apanhavam dinheiro Como tendo em camaristas Sendo apontados na lista Com um jornal inferior Vendo-se o explorador Pelos outros explorado Tornava-se um bem criado O rico em trabalhador 4 Se a pobreza não deitasse Tanta pinga de suor Talvez que tanto leitor Tanto tempo não estudasse Talvez não se castigasse A quem acariou o pão A quem ajuda a produção Tendo as terras cultivado Quem tanto tem trabalhado Sendo o pobre cidadão

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 José Domingos Patrocínio

MOTE Já fui agora não sou Já vi agora não vejo Já tive agora não tenho Com quem mate o meu desejo Fui criança e fui rapaz E já fui homem casado E hoje vejo-me neste estado O tempo é que tudo traz Compreendi como se faz O que por mim se passou Mas a desgraça se encarrcgou Em tirar-me o meu valor Urn fraco trabalhador Já fui agora não sou Enquanto eu trabalhei Alguna coisa ganhava Com que me administrava Foi assim que me governei Depois que a vista perdi Foi a faca e o queijo Hoje só tenho de sobejo Penas para a eternidade E quem a mim tinha amizade Já vi agora não vejo Morreu minha companhcira Eu fiquei na solidão Vivendo na escuridão Até um dia que Deus queira Clamo desta maneira Na vida não faço empenho Eu já perdi o desenho Que tinha para me emparar E quem fez gosto em me gozar Já tive agora não tenho Na flor da minha idade Perdi eu quem me adorava Quando eu nao avaluava A minha infelicidade Hoje já conheço a verdade Comigo próprio pelejo Já os meus filhos não beijo Como os usava a beijar E não tenho para disfarçar Com quem mate o meu desejo

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« A Albernoa é uma freguesia portuguesa do concelho de Beja, com 109,89 km² de área e 890 habitantes (2001) ou seja com uma densidade de 8,1 hab/km². »

«Albernoa foi honrada pela escrita de José Saramago, que em “Viagem a Portugal” dela disse: "Oh, senhores, vós que ao sol da praia vos deitais, vinde aos campos de Albernoa conhecer o Sol. Vede como estão secos estes ribeiros, o barranco de Marzalona, a ribeira de Terges, os minúsculos, invisíveis afluentes que não se distinguem da paisagem, tão seca como eles. Aqui se sabe, sem Ter de recorrer aos dicionários, o que significam estas palavras: calor, sede, latifúndio. Ao viajante não faltam luzes destas paragens, mas o que os olhos mostram é sempre maior e mais do que se julgava saber. Um milhafre atravessou a estrada em voo picante. Veio do alto caindo, parecia que tinha claro o alvo entre os restolhos, mas depois, com um golpe de asa, quebrou a descida, e, noutro ângulo deslizando, orientou o voo para além das colinas. Anda à caça, solitário na imensidão do céu, solitário nesta outra imensidão fulgurante da terra, uma ave de presa, força de sede e aço, só quem uma vez te não viu pode censurar-te a ferocidade. Vai e vive"» Ver in - http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=1565

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Joaquim José Domingos

JOAQUIM JOSÉ DOMINGOS Trabalhador rural, analfabeto, Reformado da Casa do Povo. Nasceu em 1912. Recolha efectuada em 1981.

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Joaquim José Domingos

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MOTE

Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Joaquim José Domingos

A nossa associação Amigos escutem-me bem Pobres é quantos vierem Ricos não queremos ninguém* 1 O Sr. José Maria É aqui o tesoureiro É quem recebe o dinheiro Cá da nossa companhia Ele esse emprego merecia Gabando-lhe a opinião Fizemos combinação Para o pormos nesse lugar Devemos de auxiliar A nossa associação 2 Tenho um favor a pedir Aos homens bem considerados Queiram ser associados Devemos todos unir Depois podemos seguir Aquilo que nos convém E não admira a ninguém Porque é tudo trabalhadores Até merecem louvores Amigos escutem-me bem 3 Contra os exploradores Temos nós que pensar E como se deve tratar Para com os lavradores Se eles não são merecedores De nada do que eles querem E vocês se não souberem Devem-se aqui dirigir Cá estamos para os instruir Pobres é quantos vierem 4 Acabe-se a burguesia Que eu não os posso avistar Só pensam em explorar O povo e a freguesia Só com tirania A quem a eles lhes faz bem E falam como lhes convém Estamos a par de saber Estou farto de conhecer Ricos não queremos ninguém *Aludem estes versos à tentativa de constituição de uma associação, com finalidades sindicais, efectuada nos anos trinta.

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Joaquim José Domingos

«Com efeito, Albernoa é um nome de origem árabe, que segundo Pinho Leal provém de barrelnaua, “campo do caroço”. »

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Luís Correia

LUÍS CORREIA Reformado. Foi trabalhador rural e pedreiro. Nasceu em (1901) 1911 O único dos poetas populares vivos que tinha os seus versos em forma escrita. Recolha efectuada em 1981.

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Luís Correia

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Luís Correia

MOTE Operários e camponeses Qual as nossas produções Só convertem em proveito Dos nossos falsos patrões 1 Desde há muita antiguidade Os nossos antepassados Foram sempre explorados Pela grande falsidade É grande calamidade Isto não é só às vezes Dias semanas e meses Sustenta-se esta canalha À custa de quem trabalha Operários e camponeses 2 Digam (a) quem nada produz Que fata faz para nós Eu só quero ouvir uma voz À base em que isto introduz O melhor ponto é a luz Que é donde parte as visões Com as poucas instruções Faz-se a conta mais bem feita Ao juntar de uma colheita Qual as nossas produções 3 Fechem as portas aos celeiros E avisem os encarregados Guardem esses cadeados Que eu só guardo os mealheiros São os cofres dos dinheiros Que roubam ao pobre sem jeito E haverá algum direito De lamberem o mel aos favos Produção de nós escravos Só convertem em proveito 4 Mas esse mel vai-se acabando E tudo o mais com abundância Terras a certa distância Deixam de as ir vestorando Que falta faz tanto malandro Numa qualquer das nações Só fazem más impressões Para quem tem filhos e filhas Servide-nos só de rodilhas Dos nossos falsos patrões

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Luís Correia

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986 Luís Correia

MOTE Ó 25 de Abril Dia da fraternidade Por todo o país inteiro Soa a voz da liberdade

1 Acabou a ditadura Da malvada burguesia Era de noite e de dia A fome e a escravatura Ainda há muita figura Que não mostra a ser gentil Com certeza há mais de mil Combate à contra de nós Mas levantemos sempre Ó 25 de Abril 2 Foi quem deu este prazer O 25 do quatro Neste país democrato Já nunca pode esquecer Agora estamos para ver A nova modernidade Se adoptam a igualdade E somos todos produtores Acabar com os senhores Dia da fraternidade 3 Ouviu-se no Continente A linda voz entoada A massa sacrificada Demonstrou muito contente Mas há muito pensar diferente Desvanece um companheiro O dito mais verdadeiro Adeus cada vez pior Mas pode ainda ser melhor Por todo o país inteiro 4 Melhoras vão-se esperando Para alguém são atrasadas Mas podem ser aproveitadas Por quem for utilizando E quem estiver cá vai notando Os ditos de antiguidade E quem tivesse a divindade De vencer essa carreira Por toda a nação inteira Soa a voz da liberdade

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MOTE Na aldeia de Albernoa Há cenas muito importantes Uma conquista formada Composta de ignorantes* 1

Em todo o Baixo Alentejo Em qualquer parte se diz Talvez que em todo o país Ninguém tenha o privilégio A contesta de um herege** Querendo contestar à toa Sujeitou-se à esmagoa De um povo em massa a romper Com mais forças a suster Na aldeia de Albernoa 2

Praças, cabos e sargentos Pessoas agraduadas Para evitar pancadas Mostrando os esmolumentos Enquanto estes momentos Em vários pontos falantes Soavam ecos bastantes Prendam esses criminais Em qualquer um dos locais Há cenas muito importantes 3

São cenas que não esquecem Nunca mais fazem mudança Ficam já sempre em lembrança Junto às outras que acontecem Era melhor que soubessem Que essa conta estava errada Que depois dela somada O total vai às censuras Só fazem ruins figuras Há uma conquista formada 4

Os tempos que já lá vão Não lhes vêm à memória Fazem parte da história Em qualquer ocasião Se tivessem compreensão Seriam mais elegantes Querem ser os triunfantes Levarem um povo à ruína Uma reles receita ladina Composta de ignorantes *Fazem estes versos referência à demarcação do logradouro (Vd. III 2.2.3.). ** Alusão à tentativa de oposição feita por um latifundiário à referida demarcação.

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MOTE Ó burguês diz-me se queres Entrar nesta batalha Mas não podes viver às tenças Do suor de quem trabalha 1 Põe as tuas mãos calosas Dá corpo à temperatura Desnuda a tua figura Que à minha custa não gozas E essas meninas vaidosas Que em tua casa tiveres Trabalhem sejam mulheres Produzam para comer E à vossa custa viver Ó burguês diz-me se queres 2 Não devia aconselhar-te Nem pedir-te opiniões A tua seita é de ladrões Antes a vida tirar-te Podes ainda lembrar-te Com juntar muita canalha O meu plano não falha E sei definitivamente Precipita a muita gente Entrar nesta batalha 3 Se tivesses compreensão E o melhor procedimento Não aguardavas mais tempo Acabava a reacção Mas tenho a convicção E tu falso burguês não pensas Contra a razão não avenças Como tens sempre tentado Assim és contrariado . Nem podes viver às tenças 4 A terra é de quem produz Não é de quicam não faz nada Ó burguês põe-te na estrada Que nem do Sol mereces luz A revolução introduz E a linha recta não falha Já não encontras a malha Sejam mercado ou em feira Aonde enchias a carteira Do suor de quem trabalha

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MOTE Havíamos de aproveitar Esta oportunidade Acabar com o fascismo E construir a igualdade 1 Camaradas que labutam Do campo nasce a nobreza E o burguês goza a riqueza É do suor que desfrutavam Quanto mais vão mais labutam E qualquer particular Não temos mais que pensar Ó povo ninguém se esqueça Tudo quanto nos interessa Havíamos de aproveitar 2 Não tenham dó da canalha Que nos tem explorado Vejam quem temos ao lado A favor de quem trabalha Venceremos a batalha Que há já mais facilidade Foi sempre a minha vontade No tempo que há decorrido Para nós foi oferecido Esta oportunidade 3 Dentro do vosso país Se é que está já dependente Quem pode mandar é a gente Sem fazer falta juiz Era o povo mais feliz Estando fora desse abismo Afastando o egoísmo De assuntos fundamentais Para nunca voltar mais Acabar com o fascismo 4 A palavra ameaçadora* Ninguém devia usar dela São precauções da cautela Duma ideia traidora Não há uma voz imperiosa Contra a voz da liberdade Basta a grande actividade Que o povo tem com razões De acabar com os patrões E construir a igualdade

*«A ameaça - explica o poeta - é um aviso ao inimigo, que o deixa prevenido»

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MOTE Eu só queria ter a dita De poder dar de sinal Ó Lenine põe-te a pau E o Fidel Castro e Cunhal 1 Vai estando chegada a hora E o meu plano não falha Pelo jeito da canalha Com certeza não demora Se o Estado se for embora Deixa uma falsa escrita Que cena tão esquisita Que o país vai receber Mas antes disso acontecer Eu só queria ter a dita 2 Pode haver um Salvador Que nos saiba defender Mas quem estiver cá chega ver A terra mudar de cor Com tinta do interior Por muita cena mortal Será o mais natural Que não haja salvação Quem não tenha ocasião De poder dar de sinal 3 O povo não tem visões E eu entro no mesmo quadro Não quero ser mais exaltado Do que às outras secções Mas há quem tenha razões E quem merece o 1º grau, Se o futuro não for mau Para bem dos inocentes Mas pelas manobras presentes Ó Lenine põe-te a pau 4 Este mal não tem melhoras Já não há quem nos defenda Se houver uma pequena emenda É com bastantes demoras Já vão picando as esporas E vão pondo o pé no pedal E nova serrilha e boçal Como já esteve outra vez Lenine traz o Marquês* E o Fldel Castro e Cunhal *Marquês de Pombal

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MANUEL DOMINGOS PECEGUINA Pequeno agricultor, ex-trabalhador rural. Nasceu em 1915. As décimas transmitidas foram feitas, de memória, nos anos cinquenta. Recolha efectuada em 1981.

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MOTE Carocha, porque és assim Porque fazes tão mal lidar Logo de manhã ao prender Eu não os posso aguentar 1 No puxe és boa companheira O que é teu ninguém to tira Até parece mentira Não te passar essa asneira Porque andares de feira em feira Nunca podes ter bom fim E já que te juntaram a mim Para comigo trabalhar Vou-te agora perguntar Carocha porque és assim 2 Tu andas bem arraçoada Comes de tudo à farta E armas às vezes zaragata Mesmo até sem haver nada Não te dão uma pançada Não te vejo maltratar Só te vejo acarinhar Com ternos carinhos doces E porque é que tu dás couces Porque fazes tão mal lidar 3 Olha lá tu ó bonita Cada um por si faz vasa Se tu gostas de servir a casa Eu por mim não vou na fita Se queres acreditar acredita Isto que eu te vou dizer Se tu fosses do meu parecer Não te pusesses de lado Já a gente o tinha matado Logo de manhã ao prender 4 O que eles nos têm feito E o que pensam em fazer Achas tu que deva ser Eu tratá-los com bom jeito É patadas pelo peito E por toda a parte onde calhar E se puder os dentes trinchar Não fico sem lhe morder A ver se eles me vão vender Que eu não os posso aguentar

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MANUEL ISIDRO DOS REIS Operário em Reja e residente em Albernva. Nasceu em 1939. Recolha efectuada em 1977.

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MOTE Diz-me tu ó lavrador Quem a ti te deu o ser Se não fosse o jornaleiro Não tinhas pão para comer 1 O que fizeste sofrer Tu devias de pagar Do povo para ti trabalhar Sem ganhar para se manter Não te importavas saber Tinhas a força a favor Fora o patrão e o feitor Pomos de lado esse gozo E porque foste tão criminoso Diz-me lá ó lavrador 2 Esta vida tens gozado À custa de quem trabalha Mas se este meu cálculo não falha Deves ficar arrumado Tens um pouco recuado Mas não dás o braço a torcer És obrigado a perder Se a gente se combinar E nem mais voltas a pisar A quem a ti te deu o ser 3 Muitas vezes abusaste De quem devias respeitar Mas podes vir a pagar Todo o mal que praticaste Estás cumpre desses cadastros O dono mais o rendeiro Pagavas tudo a dinheiro E estava a coisa resolvida Não fazias essa vida Se não fosse o jornaleiro 4 Fechavas o teu celeiro E ias para a praia gozar E nós ficávamos a penar No monte mais o caseiro Sem teres para o padeiro Eu ainda te queria ver Isto pode acontecer Se a coisa modificasse E se o trabalhador parasse Não tinhas pão para comer

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MOTE Ó Pereiras tomem sentido Com o Vale Fanado à frente A Chaminé de punho erguido E a Corte está permanente * 1 Fizemos a União Dentro do nosso quadrado E por não te teres aliado Continua a Revolução Diz o Montinho então E eu dos Grous não estou esquecido A Braciosa tem sido Uma daquelas dalém E eu vou-te dizer também Ó Pereiras tomem sentido 2 Sejam qualquer Comissões Devem de ser ajudadas Porque há falsos camaradas A jogar com os patrões São essas reuniões Que isto tem atrasado Que estão para o nosso lado Dizem certos cidadões Mas não vás nesses balões Ó Monte do Vale Fanado 3 Todos devemos pensar Ó povo de explorado Que as torturas do passado Ainda querem voltar Eu vou-os disto avisar Reparem tomem sentido Eu não me encontro vencido E na luta tenho uma fé Porque a malta da Chaminé Ainda está de punho erguido 4 Nunca falhem camaradas Que eu também não vou falhar Podem comigo contar Nas horas mais arriscadas O rebentar das granadas Pode morrer muita gente Mas morre o alferes e o tenente E aquele que não tiver sorte Lutamos até à morte Que a Corte está permanente *Têm estes versos por origem a constituição da União Cooperativa e o desinteresse que por esta manifestou uma das cooperativas locais (Vd. III 4.3.).

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MANUEL JUSTO NOBRE Cantoneiro. Nasceu em 1922. Recolha efectuada em 1977.

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MOTE Gostava de ver o País Todo ele com harmonia Acabar esta vingança Com uma Democracia 1 P'ra que será existir Com esta rivalidade Isto vem da antiguidade Devia-se destruir Podendo-se conseguir Era tudo mais feliz Busquem-lhe bem a raiz Devem o mal encontrar De todos com bom lidar Gostava de ver o País 2 Era um grande prazer Se tudo corresse normal Neste lindo Portugal Já dava gosto viver Todos de bom proceder Dava-nos mais alegria Tudo isso se fazia Acabando o malfeitor A gente é que deve pôr Tudo em boa harmonia 3 Não esquecendo o passado Está em causa o presente Não vejo ninguém contente Vejo tudo desorientado Nada se dá contentado Mesmo com esta mudança Foi coisa que veio de herança Mandada não sei por quem Era como estava bem Acabar com esta vingança 4 Filhos da mesma matéria Haver um pensar diferente Dividindo-se igualmente Dava-se fim à miséria Recebendo a mesma féria Essa era a ordem do dia Caminhando por essa via Ninguém tinha de dizer Gostava de a Nação ver Com uma Democracia

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MOTE Acabar Acabar Acabar Acabar

a a a a

discussão discussão discussão discussão

1 Eu já sei o resultado Que nos traz o discutir Se um começa a rir Está o outro desconfiado Tenhamos em preparado P'ra formar a Revolução Faz falta compreensão P'ra tudo se entender Seria isso um dever Acabar com a discussão 2 Coisa que não interessou A um pequeno companheiro Se é ou não verdadeiro O tempo testemunhou Quem em vida governa Por vezes perde a acção Quem quiser ter posição Tem que pôr isso de lado A um qualquer interessado Acabar com a discussão 3 Já tenho experiência Tirada mesmo por mim Às vezes chega-se ao fim Com aquela influência Tem que haver muita paciência P'ra- conservar a razão Eu deixei isso de mão Porque foi não interessa A lei pode vir, depressa Acabar com a discussão 4 Muitas vezes na taberna Debaixo da embriaguês É que ofendeu o freguês Essa malta mais moderna Já pouco saio da caserna P'ra livrar da ocasião Há quem faça profissão Desse trabalho... Dava-nos um grande trabalho Acabar com a discussão

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PERPÉTUA DAS DORES MATEUS Reformada. Foi costureira. Filha de seareiro e viúva de almocreve-mestre. Nasceu em 1908. Recolha efectuada em 1978.

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I Pcço licença a quem está Não me chamem atrevida Eu converso para se passar As mágoas da nossa vida

O rico que não trabalha Em casa tem bons móveis Contos de reis na algibeira E passeando em automóveis

Quem tiver conhecimento A razão conhecerá Não me chamem atrevida E peço licença a quem está

A minha ideia me acusa Em neste assunto pensar Como pode o triste pobre Ter amor em trabalhar

O trabalhador do campo Vida tão magoada A todos dá de comer E vai-se a ver não vale nada

Os ricos são produtores Sendo eles do come e dorme Os Pobres são comunistas Sendo os que morrem de fome

Fazemos ruins figuras P'ro rico boa fazer O pobre não vale nada E a todos dá de comer

Governador de Portugal Vossa Excelência autoriza Da verdade d'eu dizer Os gatumos estão no reino [podem-me mandar prender]

A Baixa do AJentejo Onde nós estamos vivendo Quem trabalha é que não come Atenção ao que estou dizendo Podem-me mandar prender Que isso conheço tão bem Quem não trabalha tem tudo E quem trabalha nada tem Não devia ser proibido Da verdade se dizer lnda rcpito outra vez Podem-me mandar prender

São esses que não trabalham Têm contos aos milhões Façam uma bancarrota Para saber quem são ladrões Eu não sei nem uma letra Nem com quem sabe tenho lidado Mas conheço a luz eléctrica Com que Portugal está iluminado As folhas de trigo foi O livro da minha lição O pobre é espremido Como seja um limão

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II Os lavradores fizeram queixa Ao ministro da Agricultura Mas fazem boa fibrura e pr'ás praias vão gozar O pobre não tem licença nem ao menos respirar Vestem portas e janelas De crepes e de rendas E os servos ficam despidos Mal empregada fazenda Nós abrimos as nossas malas Não vemos nada no fundo Triste o analfabeto Que está vivendo no mundo O passado é que dá luz A idade tudo discorre Gritam os bons corações Queremos regime melhor

Tu és rico e eu sou pobre Oiz-me lá como enricaste Ou és ladrão ao teu pai Ou d'alguém que o herdaste

Uma escrita perpétua Não se podc desmanchar Assim é o meu sentido Senhor doutor Salazar Eu não desejo de haver guerra Que eu não tenho amor ao sangue e coraçao de mulher Mas o rico que é tão traidor Para o pobre assim o quer Desculpam-se com o Governo Eu nao sei quem é culpado Eu dou a culpa à ganância De estar isto neste estado Eu sou perpétua no nome E sou perpétua no falar E sou uma portuguesa Da nação de Portugal

III Não me venham com cantigas Cantigas fazem tão bem E pessoa que é completa Decerto que nada tem

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Separata – Poetas Populares de Albernoa (A. Barros)- 1986

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II Repetição dos poetas e poemas que aparecem nesta obra POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA – 1987 / 1989 da p. 21 a 42 para assim organizar esta SEPARATA dedicada aos POETAS de ALBERNOA da segunda metade do Século XX LUÍS CORREIA – 3 DÉCIMAS PERPÉTUA DAS DORES MATEUS – 17 QUADRAS – 1 DÉCIMA ISABEL GUERREIRO – 25 QUADRAS BARTOLOMEU ARSÉNIO – 8 QUITILHAS + 21 QUADRAS ANA RITA DA GRAÇA – 2 DÉCIMAS NOTA 2 Assim parece que conseguimos, finalmente, quebrar o mito do LIVRO CIRCULAR. Com esta SEPARATA, o livro POETAS POPULARES do CONCELHO de BEJA, 1987 – 1989, acaba, como começa, com POETAS de ALBERNOA!!! Como sugerimos que acontece também com as DÉCIMAS Seria importante criar um gráico ou gráficos significativos a partir por exemplo destes dados, para talvez se poder VER ou OUVIR (OUVER) A CIRCULATURA DO QUADRADO: 1ª DÉCIMA 1º v. Mote 4ª DÉCIMA

2ª DÉCIMA

4º Mote

2º v. Mote

v. 3º v. Mote 3ª DÉCIMA

para nos apercebermos da riqueza desta estrutura que o poeta organiza mentalmente com o jogo de rimas e entoações adequadas no dizer de cada verso para ter boa CAÍDA.

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ALBERNOA

LUÍS CORREIA PERPÉTUA DAS DORES MATEUS ISABEL GUERREIRO BARTOLOMEU ARSÉNIO ANA RITA DA GRAÇA

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Luís Correia - ALBERNOA

Nome - Luís Correia Morada - Albernoa Idade - 76 anos em 1987 (nasceu em 1911) Habilitações - Aprendeu a ler e a escrever com urn colega de trabalho. Lê bastante bem. Profissão - Trabalhador Rural

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Mote Descubro qualquer pessoa Sem responsabilidade Onde foi meu nascimento E a minha natumlidade. Décimas Sou natural de Mombeja Beja seu concelho e distrito Será feio, será bonito? A mim não me mete inveja Se a sorte é que nos proteja Pode haver outra mais boa Na aldeia de Albernoa E a minha residência Com a pouca inteligencia Descubro a qualquer pcssoa. Há mais de quarenta anos Mudei de freguesia Onde estava não podia Descobrir certos planos Que ainda hoje não são enganos Porque há muita falsidade Ese não há mentalidade Não se chega à perfeição Digam se é assim ou não Sem responsabilidade. Eu poderei ser atrasado Em muitas sou concerteza Mas não conto por flneza Haver quem tenha avançado Porque eu sempre fui roubado Pelo fascismo avarento Desde o seu procedimento Até à data presente Manifesto a toda a gente Onde foi meu nascimento. Amigos e camaradas Operários, camponeses Nunca esqueçam as vezes Dos serões e madrugadas Com alfaias preparadas Às ordens da autoridade Mesmo sem haver vontade Antes de romper aurora Também não fica de fora A minha naturalidade.

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Mote Na minha fraca memória Já eu tenho um gravador Onde eu gravo as propagandas Sejam feitas por quem for. Décimas A primeira a ser gravada Foi a do ehefe de Estado Fez urn país libertado Com um pouco mais que nada A guerra foi terminada Isto já está na história É uma nação de glória O povo foi p'ro comando Eu estou ouvindo e gravando Na minha fraca memória. Segundo as gravaturas Ouve-se constantemente Mas cada vez é mais diferente E aparecem mais torturas Há muita falta figura Frente no interior Há quem queira ser senhor Da luz divina do sol Para gravar o control Já eu tenho urn gravador. Alerta forças armadas Eu alerta também estou Se eu poder também lá vou Prestar a minha brigada Com ordem hem terminada Vencendo várias demandas Vigilando altas brandas Igualmente outros lacais São pontos dos principais Onde eu gravo as propagandas. Quem entrou para o comando Taambém mostra a ser perfeito Ó Estado, manda com jeito Que o povo vai ajudando Todos nos auxiliando Torna-se urn país de amor Mas para mim só tem valor Palavras lindas e discretas Umas leis justas e rectas Sejam feitas por quem for.

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Décimas dedicadas ao 25 de Abril de 1974 Mote A 25 do 4 Cá no nosso continente Foi uma flor disposta Que deu cheiro a toda a gente. Décimas Já antes esta flor No país era habitada Mas para não ser cultivada Não mostrava a sua cor Bendita a hora ao dispor Com a terra fez contacto Neste pais democrato Não brilhava tal planta Mas a vontade foi tanta A 25 do 4... Oh! flor da saudade Com prazer e alegria Brilha de noite e de dia Afirmando a liberdade Aldeia, vila, cidade Sorrindo alegremente Mas há quem seja diferente Com diversas condições Há falta de opiniões Cá no nosso continente. Formaram varios partidos Como estão publicando Mas vamos nós combinando Para sermos mais unidos Ninguém preste a dar ouvidos Ao termos uma proposta Há uma seita que não gosta E só pcnsa em dar o fim Mas no centro deste jardim Foi uma flor disposta. A flor já vai brilhando E a rama permanecendo Os povos vão combatendo E o cheiro contaminando Mas assim de vez em quando Dá-se um eco resistente Vamos todos para a frente Fazer urn país sagrado Com uma flor do prado Que dê cheiro a toda a gente.

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Nome - Perpétua das Dores Mateus Morada - Albernoa Idade - 79 anos em 1986 (nasceu em 1907) Habilitação - Reformada. Foi costureira Naturalidade - Albernoa

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Perpétua das Dores Mateus - ALBERNOA

UMA HISTÓRIA QUE ERA PARA ESCREVER UMA CARTA E DEU UNS VERSOS... Havia uma rapariguinha com 16 anos que foi servir para casa do senhor Visconde, para a torre de S. Brissos... E o que foi que ele fez? Arranjou-lhe urn menino. E no fim não sabe que fizeram? A rapariga morreu e foram enjeitar o menino, dentro de uma alcofa, na aldeia de S. Brissos. Prentaram, à tramela duma porta, o menino que era filho do senhor Visconde. Mas a feitora teve pena e ficou com o menino. A rapariguinha morreu! Bom. O certo é que foi assim, e então essa mulher, coitadinha, criou o menino. Ele uma vez tratou de vir a Albernoa, sentou-se no pial de uma porta dumas senhoras que havia aqui - umas senhoras Saramagas. Eram duas raparigas já assim idosas e um irmão. E foi o menino sentou-se ali, dizem-lhe elas assim: - Olha lá, menino! Tu não és daqui da aldeia? - Não sou, não senhora, minhas senhoras. Não sou. - Então, donde é que tu és? - Eu sou de S. Brissos. - Então vieste com a tua mãe? - Não senhora. Então, eu não tenho mãe! - Não tens mãe? Então e pai? - O meu pai é senhor Visconde da Corte. - Ah! coitadinho! EE é. Não vês que é tal equal ele! ...Coitadinho! ...Olha lá menino, queres ficar com a gente? - Ora, fico. - Olha, mando-te fazer uns sapatos... mando-te fazer um fatinho... Tu ficas com a gente... Bom. Ao fim de três dias, a mulherr que criou o menino veio, mais outra vizinha. Vieram à pergunta dele... As senhoras disseram: - Sim senhora, tá aqui .. Olha lá, menino, atão mas tu queres ir com a tua mãe? ...Ou queres ficar com a gente? ... O mocinho... Coitadinho!... Diz ela: - Minhas senhoras, se quiserem ficar com ele, eu dou-lhe de melhor vontade, que eu tenho uns poucos de filhos... - Bom!... Sim senhora. E vai, e ficou. Ficou com elas. Ali foi criadinho... Criado com elas... Mas depois houve uma rapariga que foi p'r'ali... Já se sabe! ... Rapazes e raparigas!... O que é que se deu?... Casaram... E depois, o homenzinho, tinha aí uns quarenta anos, tinha dois cabrúnculos e morreu. ...e a minha mãe morreu, tinha eu três anos... e depois coitadinha... (Deixe lá ver se eu sei o que tou dizendo. Pode falhar o prioncípio...) E depois eu fui morar para Ervide!. ... Via além as terras dele... mas o visconde nunca casou... Deixou a fortuna a uma sobrinha, e essa sobrinha era a mãe do Visconde da Boavista e da mulher do senhor Luís Vilhena, e csses é que ficaram com a fonuna desse tal Visconde. Eu fui para Ervidel... Tive lá treze anos... E apois via a fazcnda. ...E o gajo passava sempre à minha rua... e eu cosendo à costura e dizendo: Ai... Olha. Hã! Olha lá tu! Ora se eu soubesse escrever, escrevia-te uma carta. Mas nunca escrevi. Mas fiz uns versos, assim:

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Perpétua das Dores Mateus - ALBERNOA

Há oito anos que penso Na maneira de pensar Pensei assim desta forma P'ra com Vª Exª falar

E um fulano António Rocha Da aldeia d'Albernoa E pergunte o comportamento A uma qualquer pessoa

Tou avistando as suas terras Dá-me pena e prazer Eu por mim não perco nada Em me dar a conhecer

Manuel Jorge da misericórdia Saberá lhe dar notícia Ou qualquer dos seus servos Que moram na Boavista

Eu sou bisneta de um Visconde Posso-me dar por feliz Pertenço à gentc nobre Deixem lá dizer quem diz!

Trabalhou p'ró Sr. Sousa Em vida de almocreve É um homem completo Qu'ós patrões nada deve

Quando o meu avô era filho Do Sr. Visconde da Corte Mas foi infeliz ao nascer Como posso de eu ter sorte?

E eu sou de boas famílias Com‟à' verdade não tenho falta Mas quem arranja bons empregos São esses que têm lata

Enjeilaram o menino Sendo pessoa nobre Puseram-no à esmola Como se fosse dum pobre

S'houver algum dos seus servos Que na minha conversa queira desfazer Dê-Ihe logo de resposta Nem só tu queres viver

E faleceu com 40 anos Minha mãe três anos fazia Nascem pessoas no mundo P'ra viver em agonia

S'eu Dver uma boa resposta Tenho prazer e glória Que todos nós q'remos viver Nesta vida transitória

Mas quem tem padrinho (não morre moiro...) Tudo quer ser baptizado Eu fiz este requerimento Peço que venha assinado

Cumprimentos aos meninos À senhora Viscondessa Também o Sr. Visconde E deseulpe Vª Exª

Eu peço apenas trababalho Se me quiser auxiliar O meu marido é competente De qualquer lugar ocupar

Eu por fazer estes versos Não padeço de doença Foi deixa do meu avô Que é de sua descendência Dê a ler a quem tem luz Não dê a algum tigelino Qu'eu não mereço censura Perguntar ó bom caminho

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Perpétua das Dores Mateus - ALBERNOA

QUADRAS SOLTAS

Eu sou Perpétua de nome E sou perpétua no falar E sou uma portuguesa Da nação de Portugal Às vezes dou atenção Às mulheres na ribeira Parecem umas telefonias Tocando na quinta feira Por certo não têm espelho Qualquer daquelas senhoras Que na vida de qualquer Parecem umas emissoras Ali não há defeitos Nem nas filhas e nem nelas Mas difamam outras donzelas Ou mesmo casadas são Mulheres de presunção Com elas não se comparam E dão a falar em latim O mais longe de claro Quem falar duma qualquer Reparem quem elas são São das tais estrelas de rabo Que do céu chegam ao chão Em havendo algum anúncio P'ra gabar qualquer pessoa Fiquem em duas ou três Mas que isso não se soa São scmpre de má língua Fazem mais de mil conversas Todas são abelhas mestras Para mandar no enxame Quando as coisas são mentira Ao mundo nunca difame!

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Isabel Guerreiro - ALBERNOA

Nome - Isabel Guerreiro Naturalidade - Albernoa Morada - Centro da 3ª Idade de Albernoa Idade - 79 anos (em 1987) Habilitação - Não sabe ler nem escrever Profissão - Reformada

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Isabel Guerreiro - ALBERNOA

QUADRAS SOLTAS 1 Em ouro, letra chinesa Teu nome mandei gravar Com pena d'oiro assentei Firmeza para te amar 2 Se eu quisesse amar bonecos Mandava vir de Estremores Vergonha me dava a mim Se eu contigo tinha amores 3 Nao sei se te diga adeus Se te diga vou-me embora Quem se despede vai triste Quem cá fica sempre chora 4 Mandei uma carta em branco Sem nenhuma letra dentro Podia-te fazer dar Mil voltas ao pensamento 5 Calem-se aí, ó meus netos Deixem cantar a avó Que é para ver se ainda canta Como algurn dia cantou 6 Se algum dia cantei bem Hoje quero, não pode ser É como aquele que quer Fazer força sem a ter 7 A alegria abandonou-me Pcrdi todo o meu prazer Em me ver abandonada Mais valia eu morrer 8 Dizes que não pode ser Erva fina dar pragana É muito má de encontrar Amor firme em terra estranha 9 Eu já vi nascer o sol Na manhã de S. João Era vésperas de Natal Quinta-feira d'Ascensão

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Isabel Guerreiro - ALBERNOA

10 Tu dizes que me não queres Eu acho-te loda a razião Como é que tu hás-de querer Aquilo que te não dão? 11 Manuela, tu passa bem Já não ouves minha fala Hei-de fazer-te uma ausência Como o fumo quando abala 12 Ausente mas sempre firme Meu amor não faz mudança Quanto mais ausente vivo Mais te trago na lembrança. 13 A mulher comparo eu Com a folha da cevada Por fora uma saia nova Por baixo uma esfarrapada 14 Eu já não tenho alegria Sou um vaso de paixão Anda cheio de tristeza O meu pobre coração 15 Eu já não tenho alegria Vivo no mundo sem gosto Nasce o sol, torna a nascer Para mim sempre é sol posto 16 Vistam-se os campos de luto E as estrelas ponham véu Este nosso apartamento Faz chegar o luto ao céu 17 Eu queria-te bem deveras Amava-te seriamente Conheci como eras falso Recolhi-me airosamente 18 Por cima se acerta o trigo Por baixo fica o restolho Quem namora sernpre alcança Uma piscadela d'olho

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Isabel Guerreiro - ALBERNOA

19 Antes que o lume se apague Na cinza fica o calor Antes que o corarção se arranque No coração fica a dor 20 Se eu quisesse bem podia Fazer o dia maior Dava um nó na fita azul Fazia parar o sol 21 Eu lenho 40 amores Só em 4 freguesias 10 em Serpa, 10 em Moura 10 em Quintos, 10 em Pias 22 Não há ribeira sem água Nem árvore sem a verdosa Nem donzela sem amor Nem velha sem ser manhosa 23 Hei-de amar o vale verde Enquanto verde estiver Ainda não fiz escritura Hei-de umar quem eu quiser 24 Se eu soubesse cantar bem Andava sempre cantando É melhor que nem andar Na vida doutrem falando 25 Eu um dia guardei porcos Oh! que dia tão tirano Andava lá um porco coxo Eras tu se não me engano.

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

Nome - Bartolomeu Arsénio Naturalidade - Serpa Morada - Lar da 3ª idade Albernoa Idade - 86 anos em 1987 (nasceu em 1901) Habilitação - Não sabe ler nem escrever Profissão - Trabalhador rural reformado

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

Versos que eu fiz quando abalei e fui emigrante... (Glosa do fado "SER FADISTA FOI MEU SONHO” de Frei Hermano da Câmara) 1 Emigrar era meu sonho Inda eu era criança Conhecer muitos países Passar una dias felizes E o maior sonho era França 2 Um dia chegou a hora Despedi-me e fui partir Deixei tudo o que gostava Só o destino guiava O que havia de seguir 3 Quando cheguei a fronteira Clandestina ia passar Deus traçou o rneu destino Com muito amor e carinho E livremente fui ficar 4 Quando cheguei a Paris Era tudo diferente Eu não sabia falar Nada pude perguntar Não entendia tal gente 5 E a saudade que senti Descreve-la eu não sei Tanta fortuna que vi E o mundo que conheci Nada vale o que deixei 6 E a vida do emigranle É só cheia de ilusão Ahandonar seu país Onde tem vida feliz E voltar com decepção 7 Oh meu belo Portugal Não há no mundo como tu Onde o sol é mais belo Seja de Verão ou de Invemo Tens um calor em comum 8 Oh meu belo Portugal! Ó cantinho da saudade Que o emigrante velhinho Já cansado e pobrezinho Chora a sua mocidade.

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

Quadras Soltas

1 Se as sentidos procurares Eu cá te vou explicar Primeiro sentido é ver Eu sem ver não passo amar

6 Eu semii amor no rio Para mais verde nascer A amizade que t'eu tenho Já tu não podes perder

2 Ao passar o barranquinho Parti a corda à viola Era outro que não via Coitado de quem namora

7 Mas se o beijo não se rega Deita-lhe água na raiz Nao te gabes que me deixas Que fui eu que te não quis

3 Hei-de amar o vale verde Enquanto tiver verdura Hei-de amar quem eu quiser Qu'inda não fiz escritura

8 Eu gosto muito de ouvir Cantar a quem aprendeu Se houvesse quem me ensinasse Quem aprendia era eu

4 Adeus ó cidade de Évora Adeus ó d'Évora cidade Adeus ó quartel dos cinco Onde passi'a mocidade

9 Quem canta seu mal espanla Isso aí não é verdade Minh'alma com a tua canta E eu choro de saudade

5 Adeus cidade de Beja Eram velas de navio As lágrimas eram tantas Sem chover encheu o rio

10 Se fores urn dia a Serpa Vai passar às passadeiras Vamos ao ramal da Graça Namorar as costureiras

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Bartolomeu Arsénio - ALBERNOA

11 Tenho 22 amores Contigo são 23 Uns falsos outros fingidos Só tu lindo amor, não és

16 Sexta-feira d'Ascensão Quinta-feira de comadres Foi a vez que eu ouvi Mais mentiras que verdades

12 Adeus que me vou embora P'ra terra das andorinhas Mete carta no correio Se queres ter novas minhas

17 Se em ser recto ofendo Não te quero ofender mais Se o bem-querer é dividido Nossos ciúmes são iguais

13 A estrela do norte é guia Dos marinheiros do mar Compara-te a ti com ela Que me fazes variar

18 Debaixo do chão mil metros Onde o sol não tem entrada Abre-se uma sepultura Eu morro d'apaixonada

14 Ó Serpa melhor das vilas Também d'algumas cidades Quem me dera já lá ir Para matar as saudades

19 Meu coração é de terra Hei-de manda-la cavar Para semear desejos Qu'eu tenho de conversar

1S Adeus que me vou embora Para a semana que vern Quem me não conhece chora Que fará quem me quer hem

20 Tinha eu 16 anos Quando ami uma infeliz Uni(mos) corações humanos Veio a morte, apartar quis

21 Ó tempo, já tive tempo Bem tempo de ser feliz Agora quero e não posso Quando podia, não quis.

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Ana Rita da Graça - ALBERNOA

Nome - Ana Rita da Graça Naturalidade - Albernoa Morada - Albernoa Idade - 59 anos em 1987 (nasceu em 21/11/1928) Habilitações – 4ª Classe Profissão - Costureira

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Ana Rita da Graça - ALBERNOA

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Ana Rita da Graça - ALBERNOA

Mote Comprar boneca que chora Para a menina brincar É o pão que deita fora Que a outras podia dar Décimas Ser criança e brincar É o começo da vida Mas quando vem a sonhar Já não encontra saída A sua sentença está lida E o seu sonho de outrora E a luta começa agora Pois a fome a vai render E nunca poderá fazer Comprar boneca que chora Tanto brinquedo caro Tanto bocado de pão Tanta gente de carro Pisando a fome no chão O mundo que é um vulcão E a chama não vai parar E o fogo sempre a girar Mas o rico não tem medo E há sempre tanto brinquedo Para a menina brincar O mundo só vai mudar Com o adulto em criança E aroda sem pre a girar A todos dando uma espcrança Não será lida a sentença E tu terás a tua hora Quem é forte também chora E tão mal que o mundo andou Gastando o que não ganhou É o pão que deita fora Morrem milhares de crianças Porque não as deixam viver Neste mundo cheio de crenças E a forne sempre a vencer Bastava o homem querer Para este mundo mudar Tanta árvore a plantar Diz o poeta na sua obra Tanto que a ti te sobra Que a outras podia dar. Poema dedicado aos "meninos pobres" ...

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 Ana Rita da Graça - ALBERNOA

Mote É pobre e não sabe ler Não conheceu a Escola Não precisa de saber Dizia quem dava esmola Décimas E o pobre nada dizia Pensava na triste sorte E consigo consumia Lutarei até à morte Pegava no seu archote Para alguma coisa ver Mas como compreender Que é uma vida sem luz E ele que tudo produz É pobre e não sabe ler

Aos sete anos trabalhava O inocente pobrezinho Com sua idade brincava O filho do patrãozinho E o pobre pelo caminho Ao ombro sua sacola Para meter uma esmola Que alguém lhe quisesse dar Faz a vida a mendigar E não conheceu a Escola Desde criança que sofre A tortura do patrão Não é defeito ser pobre Diz aquele que não tem pão O mundo desde então Vem mudando sem querer E o homem com seu poder Consegue sempre mandar O pobre não vai estudar Não precisa de saber Mas um dia ao despertar Do seu sono tão profundo O homem pôs-se a chorar Contente do novo mundo Já não sou o moribundo Que andava com a sacola Já posso ir à Escola Gosto tanto de aprender Não tem falta de saber Dizia quem dava esmola

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Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989 CONCURSO / 85 – ANA RITA DA GRAÇA, de Albernoa

QUE IMPORTA PERDER A VIDA EM LUTA CONTRA A TRAIÇÃO, SE A RAZÃO, MESMO VENCIDA, NÃO DEXA DE TER RAZÃO? A razão é muito forte Tu não a podes vencer Estarás até à morte E um dia terás de ceder; Há o direito de ser Há o direito à vida; Palavra tão esquecida Quando o homem faz a guerra, Para haver paz na terra Que importa perder a vida? Como podes ter razão Se não a podes comprar O mundo feito então Da injustiça a mandar, E como pode parar A chama deste vulcão Se o homem com a sua ambição Faz da morte uma corrida Eu daria a minha vida Em luta contra a traição. Toda a beleza da terra, Tu devias conhecer Nesta tão grande esfera Tudo pode acontecer A árvore do grande saber, A tua estrada da vida Tantas vezes sem saída E os teus direitos são? Não! Tu és filho da razão Se a razão mesmo vencida. A caminho da escola A estrada do saber Um livro vai na sacola... Criança, vais aprender Mas como compreender Se tudo isto é ilusão Se ele tem de ganhar o pão Para o seu pai ajudar Criança, o teu chorar Não deixa de ter razão. (Nota: os últimos sete versos desta última décima foram omitidos no livro impresso, em 1989, com data de 1987! Foi recuperada pelas fotocópias guardadas dos originais fornecidos pelo Abílio Teixeira.)

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FINAL Separata – Poetas de Albernoa em PPCB de 1987 - 1989

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Os 10 POETAS de ALBERNOA – (7 nesta OBRA + 5 em PPCB, com Luís Correia e Perpétua, nas duas recolhas)

I

Na OBRA de Afonso de Barros 1 - JOSÉ DOMINGOS PATROCÍNIO – 2 DÉCIMAS 2 - JOAQUIM JOSÉ DOMINGO – 1 DÁCIMA 3 - LUÍS CORREIA – 6 DÁCIMAS (ver tb. In PPCB, p. 21 – 26, com 3 DÉCIMAS

4 - MANUEL DOMINGOS PECEGUINHA – 1 DÉCIMA 5 - MANUEL ISIDRO DOS REIS – 2 DÉCIMAS 6 - MANUEL JUSTO NOBRE – 2 DÉCIMAS 7 - PERPÉTUA DAS DORES MATEUS – com III séries de quadras

II

Repetição dos poetas e poemas que aparecem nesta obra POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA – 1987 / 1989 para assim organizar esta SEPARATA dedicada aos POETAS de ALBERNOA da segunda metade do Século XX (3) - LUÍS CORREIA – 3 DÉCIMAS (7) - PERPÉTUA DAS DORES MATEUS – 17 QUADRAS – 1 DÉCIMA 8 - ISABEL GUERREIRO – 25 QUADRAS 9 - BARTOLOMEU ARSÉNIO – 8 QUITILHAS + 21 QUADRAS 10 - ANA RITA DA GRAÇA – 2 DÉCIMAS Com mais uma DÉCIMA no CONCURSO 85 Assim conseguimos, finalmente, quebrar o mito do LIVRO CIRCULAR. Com esta SEPARATA, o livro POETAS POPULARES do CONCELHO de BEJA, 1987 – 1989, acaba, como começa, com POETAS de ALBERNOA, com esta feliz coincidência de,a última participante do CONCURSO 85, ter sido o poema de ANA RITA da GRAÇA de ALBERNOA Aqui fica este LIVRO CIRCULAR – que ao ACABAR começa de novo... como sugerimos que acontece também com as DÉCIMAS

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Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012

ÍNDICE COMPLETO Terra Índice Introdução

freguesia

Poeta

Poema

X Pág.

poetas

ALBBERNOA Luís Correia Descubro a qualquer pessoa Na minha fraca memória

X X

Perpétua das Dores Mateus Carta ao Visconde Quadras soltas

28 30 31 32 35

Isabel Guerreiro Quadras soltas Bartolomeu Arsénio Versos que fiz quando abalei e fui emigrante Quadras soltas

36

Ana Rita da Graça É pobre e não sabe ler Comprar boneca que chora·

X X

BEJA Maria Guiomar Rodeia Peneque Notas biográficas (poema) Cantiga de amor Para que serve ter olhos Sou viúva mas não peço Os passos da minha terra Viva Beja e S. João – o mastro Adeus a Beja Dedicado ao bejense "Calquinha Lusiadas do Alentejo À Reforma Agrária

X X

Carlota Ramos Caixinha

37 39 40 41 43 45 46 47 48 49 50 51 52 53

Florival Peleja Louca Humanidade P'ra que existe tanta guerra A vida As mais belas coisas do Mundo O meu sonho As flores do homem Aura, Berta e Rosalina

7 9 21 23 24 25 27

55 56

X

57 58 59 60 61

0 Oulono émuito triste Há homens que não deviam É tão triste ser velhinho Menino do bairro da lata É tão linda a Primavera Versos dedicados à PAZ Versos dedicados ao camponês Quadras várias Quadras dedicadas à mulher Ana Maria Neves Primavera Dia do Pai O Jardim de Beja Recordação Iolanda Guerreiro Sátira aos Provérbios Também há rosas sem espinhos BERINGEL Rosa Helena Moita Rodrigues Mar Meu Alentejo Poema dedicado a Beringel...

288

62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 76 77 78 79 81 83 84 85 86

Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012 Poema dedicado a Portugal Poema dedicado à Emigração Vagabundo É triste não saber ler

87 88 89 90 91 93

CABEÇA GORDA Alfredo Sebastião José À Guerra de 14/18 0 Amonio que marchara para a Guerra Tu bebeste a cardina Estando um preto em regalia Aos Bombeiros Oh Beja tu és tão linda Eu sou um analfabeto Eu assim não sei cantar Quando este poeta canta Procuri a paz no mundo Fui de noite a um cemitério Quanto te têm bradado Adeus meus queridos filhos Nosso paizinho abalou Rapariga vem comigo Rapaz eu não vou contigo Lena, tu és uma jóia Vou-Ihes dizer, meus senhores

X

X

X X X X X X

PENEDO GORDO Joaquim Silva

X Deu o 10 uma facada Fui nova cortante enxada (Castro) Já não posso ser contente (Castro) Fui-me um dia a ver o mar

QUINTOS Francisco Manuel Luís Em considerar como eu era No lempo de Zalasar

X X

Eu tenho recordação A escola e muito importante Há muito tempo não chove Com esta minha idade

X X X X

José Mestre

S. C. L. (BOAVISTA) Maria Helena Severino

94 95 96 97 98 99 100 101 102 102 103 103 104 105 106 107 108 109 111 111 113 114 115 116 117 119 120 121 123 124 125 126 127 129 131

Eu quero quando morrer

132 133

Mário da Conceição Houve ilustres portugueses O primeiro rei de Portugal O vinte cinco de Abril Constroem-se as caravelas

X X X X

134 135 136 137 139

Portugal tão pcquenino Dêem louvor ao Sr. Padre Moreira Houve alguém que me veio pedir 5ª feira de Endoenças No doze do cinquenta e cinco

X X X X X

140 141 142 143 144 145

José Joaquim Inácio

Bárbara dos Santos Madeira Versos a minha vida Pátria Andorinhas negras Poesia às papoilas Poesia ao sol José Jacinto Abalei como emigrante Quem me havia de dizer S. MATIAS Joaquim António Piriquito Júnior

289

X X

146 147 148 149 150 151 152 153 155 157

Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012 Eu mal aprendi a ler Se teve a infelicidade Não sou esperto nem bruto (Homenagem a António Aleixo) Pus-me a espreitar o vento

X X X

158 159 160

X

161 163

Joaquim António Ruaz Sai o rebanho para o prado Se rico é ser alteza

164 165 167 167

SANTA VITÓRIA Francisco da Encarnação

CONCURSO 85 Beringel

Cabeça Gorda Santa Clara do Louredo / Boavista Beja Albernoa

Versos soltos A poesia inspirada A voz do sino indolente Maldita seja a guerra “QUE IMPORTA PERDER A VIDA” (Aleixo) (Só no concurso)

JOÃO BATISTA CAVACO

ALFREDO SABASTIÃ JOSÉ JOSÉ JACINTO MARIA GUIOMAR RODEIA PENEQUE ANA RITA DA GRAÇA

ANEXOS

X X X

176 177 178 179

Há muitos seres humanos

X

180

Filha de madre fecunda

X

181

A razão é muito forte

X

182 183 185 187 188 189 195 197

SEPARATA 10 Poetas Populares de Albernoa (7 poetas in OBRA de A. Barros e 5 (2 com poemas nas duas) in PPdoCB ALBBERNOA 10 Poetas Populares de Albernoa

203

Capa da obra de Afonso de Barros Plano desta obra Introdução a esta obra Poetas de Albernoa (os 7) introdução Lista e identificação dos 7 poetas

204 206 210 212 214 215

José Domingos Patrocínio Se este tempo se mudasse Já fui agora não sou

X X

216 218 221

A nossa associação

X

Operários e camponeses Ó 25 de Abril Na aldeia de Albernoa Ó burguês diz-me se queres Havíamos de aproveitar Eu só queria ter a dita

X X X X X X

222 225 226 228 230 232 234 236 239

Carocha porque és assim

X

240 243

Diz-me, tu ó lavrador

X

244

Joaquim José Domingos Luís Correia

Manuel Domingos Peceguinha Mauel Isidro dos Reis

290

168 169 170 171 173 175

Isto a vida é uma ilusão Diz-se que parar é morrer Há muitos que temem a morte Neste mundo onde habitamos

Nota explicativa Quadras do Cancioneiro Popular Português – La cardina Poesia "O PRETO" in MJDelgado Poetas Populares de Albcmoa – in A. Barros Breve estudo sobre as DÉCIMAS Índice Poetas por ordem alfabética Com os Poetas e Poemas

ÍNDICE do PPCBeja

In obra de A Barros

X X X

Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012 Ó Pereiras tomem sentido

X

246 249

Gostava de ver o País Acabar a discussão

X X

250 252 255

Manuel Justo Nobre

Perpétua das Dores Mateus

In PPCB repete

Os 5 Poetas de Albernoa Luís Correia

Quadras I Quadras II e III

256 258

In Cancioneiro Popular do concelho de Beja, 1987 / 1989

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Descubro a qualquer pessoa Na minha fraca memória

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Perpétua das Dores Mateus Carta ao Visconde (história...) Quadras Quadras soltas

270 271 272 273 274 277

Isabel Guerreiro Quadras soltas Bartolomeu Arsénio Versos que fiz quando abalei e fui emigrante Quadras soltas

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Ana Rita da Graça Comprar boneca que chora É pobre e não sabe ler Concurso 85 - “Que importa perder a vida...” - A razão é muito forte... ÍNDICE final

ALBERNOA (Este índice)

Os 10 POETAS

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Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012

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Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012

FIM DO LIVRO CIRCULAR POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA (1987 – 1989) – 200 páginas 7 poetas de Albernoa, in obra de Afonso de Barros DO LATIFÚNDIO À REFORMA AGRÁRIA (1985) – 30 páginas 5 poetas de Albernoa in POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA (1987 – 1989) (da p. 21 a 42) + (p. 182 com o concurso 85 com Ana Rita da Graça que, com a sua Décima, também fecha a primeira obra...) O LIVRO CIRCULAR

Corroios, Março de 2012 Esta separata com os 10 Poetas de Albernoa dará origem a um opúsculo de 88, 90 páginas, como homenagem a ALBERNOA seus Poetas e Gente... José Rabaça Gaspar

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Poetas Populares do Concelho de Beja – 1987 /1989 – joraga.net 2012 POETAS POPULARES do CONCELHO DE BEJA (com SEPARATA dedicada a 10 POETAS de ALBERNOA – com os 7 que constam de uma recolha de Afonso de Barros [obra datada de 1986] e 5 [2 constam nas duas recolhas] nesta obra de 1987 – 1989 – Poetas Populares do Concelho de Beja)

Corroios, Março 2012, JRG

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